Policiando a Polícia
José Américo, governador da Paraíba (50 a 54) pelo PSD-PL, nomeou o tenente Luís de Barros delegado de polícia em Espírito Santo, onde mandava a família Ribeiro Coutinho, da UDN, seus adversários. O comando da Polícia Militar se reuniu e considerou o ato uma ofensa aos brios da corporação, porque o tenente era mal visto por eles. Escolheram uma comissão (o comandante e três coronéis) para irem ao governador manifestar o desgosto e a inconformidade da polícia.
José Américo os recebeu sentado, eles todos de pé em sua frente. Falou o comandante, coronel Ivo Borges:
- Governador, o ato de V. Excia. repercutiu muito mal no alto comando, porque o tenente Luís de Barros é execrado na Polícia Militar da Paraíba.
A nomeação não foi bem recebida, não pode ser executada.
***
JOSÉ AMÉRICO
José Américo levantou-se e ajeitou o cinto da calça com a mão direita, um hábito que ele tinha:
- Coronel Ivo Borges, mande formar sua polícia em frente ao palácio, em farda de gala.
- Pois não, governador. Para quê?
- É que eu quero, com um decreto, dissolver essa polícia de merda.
A comissão saiu e o tenente ficou delegado.
***
PETRONIO
Outra história. No dia 7 de abril de 77, o presidente Geisel fechou o Congresso por 14 dias e baixou o “Pacote de Abril”, que impôs a Reforma do Judiciário, criou os senadores biônicos e submeteu todas as campanhas eleitorais à Lei Falcão: os candidatos não podiam falar na TV, só a cara. Desci em Brasília, telefonei para Petrônio Portela, presidente do Senado pela Arena. Ele marcou um café da manhã bem cedo, na casa dele, no dia seguinte. Cheguei já com o gravador ligado, conversamos quatro horas. No dia seguinte, esta TRIBUNA DA IMPRENSA e o “Correio Braziliense” publicavam na íntegra a entrevista exclusiva, de duas páginas inteiras:
“Petrônio: Não aceito a Presidência da República porque não teria condições para o exercício do cargo”. Foi a última grande entrevista que ele deu. (Está em meu livro “Pais e padrastos da pátria”: “Petrônio, o profissional”.)
***
COMO NO PIAUÍ
Começou lá de trás, desde os tempos de estudante no Rio (de 47 a 51), ligado à esquerda e líder na Faculdade Nacional de Direito e na UNE. Deputado em 50 e 54, prefeito de Teresina em 58, governador em 62:
“Eleito governador pela UDN, encontrei o funcionalismo com três meses de atraso. Minha preocupação era deixar uma obra administrativa em um estado cujos governantes eram obrigados a mergulhar numa rotina de nomear e demitir professores e delegados. Fiz um plano de austeridade administrativa muito grande, com o objetivo de no primeiro ano sanear as finanças”.
“Isto me valeu uma impopularidade terrível. Logo no começo do ano a Polícia Militar, através de seus comandos, foi à minha presença pedir aumento, o que foi terminantemente negado por mim, com o fundamento de que não era possível aumentar os vencimentos deles, quando não havia recursos para aumentar o de todo o funcionalismo”.
***
CHAMOU O EXÉRCITO
“Misturado com a política partidária, criou-se uma situação de sublevação no estado e ameaçadora à minha própria segurança pessoal. As ameaças se multiplicavam, o quartel da PM se transformou em um parque de comícios da oposição. A associação comercial mandou uma comissão ao meu gabinete oferecendo apoio para aumentar os impostos e dar o aumento da PM. A minha resposta foi não. Absolutamente não. O problema era de resguardar a autoridade. E a polícia não teria privilégios”.
“A coisa tomou um aspecto belicoso tal, que fui obrigado a solicitar força federal ao ministro da Guerra e ao ministro da Justiça, para garantir o governo ameaçado. Vinte e quatro horas depois, chegava a autorização para a tropa federal, que cercou o quartel da Polícia Militar. Isto foi em agosto de 63, o presidente era João Goulart, ministro da Guerra o general Jair Dantas Ribeiro. O da Justiça era Abelardo Jurema”.
A crise acabou. A Polícia também precisa ser policiada.
Sebastião Nery
Nenhum comentário:
Postar um comentário