Milhares de russos foram às ruas do país neste sábado, protestar contra as fraudes ocorridas nas eleições parlamentares da semana passada, quando o Rússia Unida, partido do primeiro-ministro Vladimir Putin, venceu o pleito mais uma vez. Há protestos por todo o país, desde a gelada parte oriental, até o sul da Rússia, regiões separadas por oito horas de diferença no fuso horário.
O maior protesto ocorre na capital, Moscou, onde um número de manifestantes entre 25 mil (segundo a polícia russa) e 40 mil ou 50 mil segundo observadores independentes protesta contra Putin nas praças da Revolução e Bolotnaya, ambas no centro da cidade e próximas ao Kremlin. Em São Petersburgo, segunda maior cidade da Rússia, próxima à Finlândia, cerca de 10 mil pessoas tomaram a praça do Pioneiro, também no centro da cidade.
A presença das massas nas ruas mostra que, pela primeira vez desde que se tornou a figura dominante na política russa, Putin enfrenta uma oposição real, formada não apenas por radicais que tradicionalmente protestam contra o governo. Esta tendência, que vinha sendo destacada por analistas, ficou clara neste sábado, como detectou a reportagem do jornal americano The New York Times.
Em pé embaixo da neve, Yana Larionova, 26 anos, disse não estar surpresa por ver multidões lotando as pontes para a manifestação na praça Bolotnaya, muitas delas usando fitas brancas [símbolo do movimento contra Putin] presas aos casacos.
“As pessoas estão simplesmente cansadas, eles [o governo] cruzaram todos os limites”, disse Larionova, uma corretora de imóveis. “Você vê todas essas pessoas bem vestidas, que ganham bons salários, indo para as ruas num sábado e dizendo ‘chega’. É aí que você sabe que precisa de mudanças”.
O governo russo tenta dissuadir as manifestações de inúmeras formas. Dmitri O. Rogozin, embaixador da Rússia na Otan, afirmou que os protestos são uma tentativa de “destruir” a Rússia, como ocorreu no fim da União Soviética.
O próprio Putin acusou os Estados Unidos de estarem por trás das manifestações, uma acusação que costuma tirar legitimidade dos protestos na Rússia.
Há também formas mais prosaicas de contrapor a oposição. Este sábado (e apenas este) foi declarado pelo governo dia útil para os estudantes. A sede do Yaboklo, um partido liberal, foi “atacada” por uma sequência de telefonemas automáticos que elogiavam Putin.
De acordo com o jornal britânico The Guardian, em Penza, a 625 quilômetros de Moscou, o governo local ofereceu entrada gratuita no zoológico para tentar evitar as manifestações contra Putin.
As tentativas não parecem surtir efeito. De acordo com o Moscow Times, um jornal publicado em inglês na Rússia e que costuma ser crítico ao governo, a manifestação em Moscou neste sábado têm a presença de inúmeros líderes oposicionistas de diversas vertentes políticas e grupos nacionalistas, comunistas e do Solidarnost, um movimento liberal, sem violência entre eles.
Em editorial, o Moscow Times diz que “em menos de uma semana, a Rússia mudou“. Para o jornal, seria impossível pensar em protestos como esses antes das eleições, que escancararam a insatisfação dos russos.
As pessoas estão cheias de mentiras, de truques baratos – o mais recente a extensão dos dias escolares para hoje – cheias da necessidade de suspender suas crenças quando as notícias chegam na televisão. (…)
As pessoas estão cheias de ter que se defender contra o governo e estão começando a exigir alguma coisa do governo. (…)
Uma mensagem que se provou imensamente popular [nas discussões do jornal pela internet] foi da usuária “lady_spring” na qual ela pede um protesto civilizado, educado. “Vamos mostra que não somos um multidão, somos um povo, cidadãos”, escreveu ela. Que os deixem demonstrar isso hoje.
10/12/2011 Redação ÉpocaMundo Tags: Rússia, The Guardian, The Moscow Times, The New York Times
Confira abaixo os vídeos com cenas dos manifestantes na praça Bolotnaya, centro de Moscou:

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