Conservadores americanos atacam Hollywood e dizem que os famosos marionetes fazem lavagem cerebral nas crianças
11/12/2011
“Os liberais de Hollywood estariam fazendo lavagem cerebral em nossas crianças?” A pergunta é do americano Eric Bolling, âncora do programa Follow the Money, que foi ao ar em 2 de dezembro no canal conservador Fox News. Nesse dia, os convidados da mesa debateram a questão apaixonadamente, instigados pelo lançamento do filme dos Muppets. O longa, que estreou com sucesso nos EUA final de novembro, tem como vilão um magnata do petróleo chamado Tex Richmen (trocadilho com “tax richmen”, taxem os ricos). Foi o suficiente para que os comentaristas da Fox acusassem a fábula infantil de espalhar entre os jovens americanos o comunismo e o ódio à indústria petroleira.
“É incrível o quão longe vai a esquerda para manipular as crianças. Hollywood, a mídia, a esquerda, todos odeiam a indústria do petróleo”, disse no programa Dan Gainor, do conservador grupo Media Research Center.
A obsessão dos conservadores contra Hollywood não é novidade. Há tempos que os republicanos mais radicais tentam denunciar aquilo que vêem como a “left wing” da indústria cinematográfica.
Para setores conservadores, a franquia Harry Potter, por exemplo, quer transformar as crianças em “bruxos”. Até o desenho animado Rei Leão entrou na mira da deputada republicana Michele Bachmann, que acusou a saga dos felinos fofos da Disney de fazer “propaganda gay”.
Os Muppets, porém, tiveram o azar de entrar em cena num momento de crise, no qual os princípios do capitalismo estão sendo duramente questionados pelos jovens. À direita, buscam-se culpados pela influência subversiva para as novas gerações. Assim, o sapo Kermit e sua Miss Piggy (uma porca-capitalista?) já são vistos como os responsáveis pelo movimento Occupy Wall Street.
“Não é à toa que temos um bando de garotos ocupando Wall Street, sendo literalmente doutrinados há anos por este tipo de coisa”, declarou Gainor, para quem Hollywood é uma máquina de lavagem cerebral potente, capaz de botar na cabeça dos mais jovens que as grandes corporações são malignas. E sua crítica não para nos Muppets.
Gainor aponta outros filmes que mancham a imagem da indústria do petróleo, como Syriana e Sangue Negro, além de Carros, da Disney, e “os filmes de George Clooney” em geral (ator e diretor conhecido por seu ativismo à esquerda).
“Nenhum desses filmes lembram o que o petróleo realmente significa para a maioria das pessoas”, continua, “como abastecer hospitais, esquentar casas, abastecer uma ambulância para lhe levar ao hospital”.
Ao atacar Hollywood, os republicanos não estão errando o seu alvo. Hollywood é, da fato, um meio composto por personalidades liberais, algumas bastante engajadas em setores ecológicos e direitos a minorias sexuais. Mas nem sempre foi assim.
Até o final dos anos 60, quando a contra-cultura ganhou espaço graças a filmes como Sem destino (1969), a meca do cinema era dominada por um período de censura e conservadorismo político.
Em pouco tempo, o vídeo com o debate contra Os Muppets ganhou a internet, transformando-se na síntese do que é visto por muitos hoje, como uma paranóia republicana.
Curiosamente, no mesmo momento em que um anúncio anti-gay do pré-candidato republicano Rick Perry se tornou o vídeo mais odiado da história do Youtube, com 300 mil deslikes em apenas dois dias.
Nesse sentido, a internet, composta por um público mais jovem, se mostra um espaço de reação ao radicalismo conservador. No Twitter, o influente blogueiro Oliver Willis fez um irônico trocadilho com o filme Os Muppets Conquistam Nova York (1984).
“Sr. Kermit, o senhor já foi comunista”, tuitou. “Sr. Kermit, é verdade ou
não que o senhor e seus camaradas tentaram uma vez ‘conquistar’ Manhattan?”
Opinião & notícia

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