segunda-feira, 23 de julho de 2012

TRADUZIR-SE

Ferreira Gullar, traduzido por ele mesmo

Como a poesia é necessária, no dizer de Rubem Braga, vamos saborear hoje uma obra do maranhense Ferreira Gullar, poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista e ensaísta.



TRADUZIR-SE


Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
alomoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?

Nenhum comentário:

Postar um comentário