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Vem aí um memorial: A propósito, Niemeyer acaba de receber uma encomenda
para criar um Memorial dos Presidentes da República. Lula deu a idéia a José
Roberto Arruda. E o governador do Distrito Federal encomendou o projeto ao
arquiteto. Lá ficarão todos os documentos amealhados pelos presidentes enquanto
ocuparam o cargo.
Em que pese o custo de construir um prédio desses, a
idéia é muito boa.
Seria muito útil saber que existe um lugar onde se
possa ter acesso às ordens de Getúlio Vargas durante o Estado Novo, às planilhas
dos "Cinco Anos em Cinco" do Juscelino Kubitschek, aos famosos bilhetinhos de
Jânio Quadros, à documentação que circulava pelo gabinete de Médici durante o
regime militar, às trocas de memorandos enquanto Tancredo estava no hospital
etc. Útil pra caramba.
O problema é combinar com os russos. Hoje, esses
documentos estão pulverizados pelo Brasil - em instituições determinadas ou sob
o colchão de alguém. Mal se sabe que tipo de informação foi mantida e que tipo
de informação foi parar no lixo.
Apenas para citar um caso recentemente
mencionado no noticiário, os papéis produzidos e manuseados por Fernando Collor
de Mello durante sua Presidência foram
negados ao Arquivo Nacional, como noticiou recentemente a Folha.
Passados quinze anos, muitos dos documentos mais sigilosos já poderiam ser
abertos.
O Arquivo Nacional mantém na internet um Centro
de Informação de Acervos dos Presidentes da República, com dados sobre onde
estão mantidos os papéis dos ex-governantes.
Suponha, por exemplo, que
você queira fazer uma pesquisa aprofundada sobre os planos econômicos da
redemocratização, do Cruzado ao Real. Para isso, você precisaria ter acesso aos
documentos utilizados por ministros e pelo presidente da vez para a discussão
das medidas. Supondo que tais documentos ainda existam, você precisaria visitar
pelo menos São Paulo, Juiz de Fora e São Luís - correndo o risco de bater com o
nariz em algumas portas e com a certeza de sair com a pesquisa
incompleta:
Fernando
Henrique Cardoso: Os documentos estão no Instituto Fernando Henrique
Cardoso, em São Paulo (SP). Há 10 mil fotos, 280 mil negativos, 2.500 fitas
cassete, 3.000 caixas de documentos textuais e 2.500 "documentos
tridimensionais". O acesso, porém, é restrito enquanto o instituto prepara sua
base de dados.
Itamar
Franco: O acervo está em poder do Fundo Itamar Franco, em Juiz de Fora
(MG). As fotos e objetos estão expostos em vitrines. Os documentos estão num
depósito separado, em caixas identificadas. Constam do acervo "diários oficiais,
correspondência oficial e a de populares que recebeu como presidente da
república (esta está sendo identificada para inserção em uma base de dados)". Se
você quiser pesquisar a formulação do Plano Real, vai encontrar pouco além da
correspondência.
Fernando
Collor de Mello: O acesso foi negado ao Arquivo Nacional. Não se sabe o
que há nele. O detentor seria o próprio Collor. Hoje, não há lei que obrigue um
ex-presidente a tornar públicos seus arquivos.
José
Sarney: Os documentos estão em poder da Fundação José Sarney, em São
Luís (MA). São 2 km de estantes, somando tudo. Constam ali "correspondência,
produção intelectual, documentos pessoais, recortes de jornais, anais da
assembléia". Pouca coisa do que interessaria a um pesquisador dos planos Cruzado
e Bresser, aparentemente.
Pois vejam como funciona nos EUA, que tem uma
lei de direito de acesso a informações públicas desde 1966. Desde 1978, com o Presidential
Records Act, é consenso que todos os documentos dos presidentes pertencem ao
Estado, e não ao político. Reparem que isso é quatro anos após a queda de Nixon,
em que o acesso quase acidental às fitas gravadas por ele forneceu provas
importantes no processo de impeachment. Há um site do Arquivo
Nacional americano que mostra onde ficam essas bibliotecas presidenciais. O
Registro Federal edita uma
publicação informando o que há nesses arquivos. Estão na internet instruções
para obter esses papéis. As mesmas regras e prazos valem para todos. Guias
online para a pesquisa informam que tipos de documentos estão disponíveis.
Atualmente, um dos maiores escândalos da política americana é a
revelação de que e-mails
da Casa Branca têm sido deletados com muita freqüência. Percebam: os e-mails
de um presidente e de seus assessores são considerados documentos públicos. Karl
Rove, o complicado ex-assessor de Bush, precisou explicar à Justiça por
que raios ele apagou várias mensagens. Disse que foi sem querer.
Querendo.
Alguém aí sabe o que os presidentes FHC e Lula fizeram com os
emails que mandaram e receberam? Não gostariam de saber o que havia nas caixas
postais de Eduardo Jorge e José Dirceu?
Sem o acesso às informações
realmente relevantes, o museu periga ser tão útil quanto este meigo
site feito pelo governo para informar as crianças sobre quem foram os
presidentes.
25 de dezembro de 2012
blog do Josias
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