De lá para cá, mesmo com direitos políticos suspensos até 2015, Dirceu, ao contrário do que se poderia supor, só ganhou poder.
Aproximou-se da nata empresarial, para a qual presta serviços de consultoria, vendendo caro seu trânsito e influência. Embora visivelmente baqueado, não perde a pose.
Continua poderoso mesmo depois de condenado pela Suprema Corte. Dá ordens, manda e desmanda.
Na última semana de abril foi ele quem intercedeu em favor da governadora do Maranhão Roseana Sarney (PMDB) para que o PT suspendesse as críticas a ela nas inserções regionais do partido na TV.
Os 30 segundos de propaganda traziam elogios aos feitos de Lula e Dilma Rousseff em contraponto à triste realidade maranhense: “O Maranhão continua ostentando os piores indicadores sociais do país. Somos os piores na Saúde e na Educação. Vivemos num estado de profunda insegurança, medo e violência, que aterroriza todos nós. Com o PT, haveremos de inaugurar um tempo de mudança, renovação e esperança para o Maranhão”.
A filha de José Sarney não teve dúvidas: reclamou com Dirceu e, rapidamente, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, mandou suspender o comercial.
Parece uma questiúncula local, mas não é.
Dirceu dá as cartas em várias instâncias do PT. Em uma frente, percorre o País fazendo-se de vítima, encarnando o injustiçado por um julgamento político.
Na outra, interfere nas pautas do partido. Saem dele os discursos mais contundentes sobre reforma política - financiamento público de campanha e voto em lista - e de controle mais ferrenho da mídia, que o PT chama de democratização.
Chega ao cúmulo de querer escalar o papel dos ministros do Supremo Tribunal Federal, requerendo que o presidente da Corte seja afastado da função de relator no julgamento dos recursos do mensalão.
E, assim como fez no Maranhão, mete a mão também nas brigas locais.
Quando o País lutava contra a inflação galopante, buttons com os dizeres “Eu sou fiscal do Sarney” tomaram as ruas. Quem diria que 27 anos depois Dirceu passaria a ostentá-lo. Não como os brasileiros crédulos de 1986, que apostaram cegamente nas pirotecnias do Plano Cruzado. Mas para proteger o rei do Maranhão, que sobrevive da miséria de seu Estado natal.
Ao que parece a dívida com os Sarneys não é apenas alta. É impagável.
05 de maio de 2013
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília.
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