segunda-feira, 29 de julho de 2013

RELEMBRANDO A ÚLTIMA ENTREVISTA DE MÁRIO QUINTANA

 

A serenidade, a fina ironia e a perfeição dos versos eram características marcantes de Mário Quintana. Sua criação poética de mais de 50 obras, é uma especial e expressiva contribuição para a cultura brasileira.
Traduziu em torno de 130 livros da literatura universal, clássicos de Virgínia Wolf, Balzac, Voltaire, Graham Greene e Marcel Proust, entre outros escritores consagrados e desconhecidos.

Quintana iniciou os estudos no Colégio Militar de Porto Alegre e foi balconista da pequena farmácia do pai. Logo depois foi trabalhar na Editora Globo e no Correio do Povo. Mesmo envolvido com as traduções e a concepção de suas próprias obras, jamais abandonou o jornalismo. Aconselhado por amigos, concorreu por três vezes a uma cadeira da Academia Brasileira de Letras. Mas em nenhuma delas foi eleito. Nasceu em Alegrete, em 1906. Faleceu em 1994.

Mário Quintana tinha três sobrinhas. Cada uma delas destinava oito horas do dia para acompanhá-lo. Era uma maneira de jamais deixá-lo sozinho nos momentos em que se aproximava o fim de sua vida. Durante dois meses falei com elas por telefone praticamente todos os dias. Rezávamos pela melhora do Mário. O poeta tinha que ter boa estampa no livro “Senhoras e Senhores”.

Fiquei ansioso à espera do momento adequado para ir retratá-lo em Porto Alegre. Eu corria contra o tempo. Primeiro, sabia do precário estado de saúde de Quintana. Segundo, estava expirando o prazo de conclusão da Bolsa Vitae, a fundação de São Paulo que me possibilitou fotografar, entrevistar e publicar o trabalho com grandes nomes da cultura brasileira.

OUVINDO O ADÁGIO

Numa sexta-feira, enfim, eu estava no hotel onde ele morava. Não era mais o Majestic. Era outro, de propriedade do craque do Inter, Paulo Roberto Falcão. Encontrei-o sentado à cama, ouvindo o “Adágio”, de Albinoni.

Antes de despedir-me, fiz as mesmas quatro perguntas que apresentei para todos os personagens anteriores. A diferença que estabelecia entre o jornalismo e a poesia. Disse-me que o jornalismo lhe permitiu estar em contato com esse mundo, e a poesia com outros.

Depois, o significado da fama. Uma ambígua mescla de gostosura e chatice. Em terceiro, ultrapassar os 80 anos. Respondeu-me que a idade é uma cruel invenção do calendário. E por último, o melhor momento de sua vida.
Mário Quintana finalizou: – Pois então não foi quando nasci?

29 de julho de 2013
Orlando Brito
(artigo enviado por José Carlos Werneck)

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