"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A DEFESA DA BOLSA DA VIÚVA




Está no Congresso uma proposta orçamentária que prevê um aumento de 14,7% para o Judiciário. Ela concede reajustes gerais que, no topo da pirâmide, elevam para R$ 30,6 mil mensais os vencimentos dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Chegando à base dos servidores, custará cerca de R$ 7,7 bilhões. (Com o reajuste, os ministros do STF ganhariam mais que seus similares da Corte Suprema dos Estados Unidos.)

Como em todas as reivindicações salariais, há argumentos em sua defesa, sobretudo para o pessoal do andar de baixo.

Caberá aos deputados e senadores fixar o percentual que julgam adequado. Infelizmente, um em cada dez parlamentares estão espetados em processos que aguardam julgamento no Supremo. Para enriquecer o debate, aqui vão trechos de uma recente decisão da juíza Juliana Montenegro Calado, da 1ª Vara Federal de Colatina (ES), envolvendo uma causa que acarretaria despesas para o erário:

"Há muito debatem os especialistas acerca da relação entre o direito e a economia, além do problema em como compatibilizá-los, uma vez que diferentes são as abordagens para a tomada das decisões: enquanto que o raciocínio econômico leva em questão os custos e a eficiência, o raciocínio jurídico observa a legalidade.

Essa relação entre direito e economia encontra-se intrinsecamente ligada quando se trata da implementação de políticas públicas pela administração, na medida em que as necessidades públicas são infinitas, mas limitados são os recursos materiais que poderão propiciá-las.

(...) O administrador terá que conviver fundamentalmente com a escassez de recursos e a impossibilidade prática de implementar todas as necessidades da população. É justamente essa situação que conduz às escolhas dramáticas do administrador, pois, no momento em que investe recursos numa determinada área, deixa de atender outras necessidades em áreas diferentes.

(...) A questão do custo dos direitos está intimamente ligada à ideia da reserva do possível, porquanto essa última expressão identifica o fenômeno econômico da limitação dos recursos disponíveis frente às necessidades a serem supridas. Não se diga com isso que o administrador está autorizado a invocar a reserva do materialmente possível sempre que deixar de observar a implantação de algum direito social, mas não se pode desconsiderar por completo a existência desta tensão no equacionamento entre limitação de orçamento e demandas sociais."

A juíza negou um pedido do Ministério Publico Federal para que o governo do Espírito Santo se abstivesse de mandar presos para a Penitenciária de Barra de São Francisco, onde 364 pessoas ocupam um espaço projetado para guardar 106, cabendo a cada uma delas uma área de 1,09 metro quadrado.

Pedia-se também uma fiscalização do estabelecimento, um plano para descongestioná-lo e a construção de outras unidades.

A juíza entendeu que não compete ao Judiciário "imiscuir-se na análise dos elementos de oportunidade e conveniência" que são prerrogativas do Executivo.

Uma perícia da Polícia Federal verificou que o presídio "não possuía, em suas unidades celulares, condições mínimas de salubridade para a existência humana".

Elio Gaspari, O Globo

MONUMENTO A MISTIFICAÇÃO É IMPLODIDO A TIROS


Um tiroteio [ontem à noite] envolvendo soldados do Exército, policiais militares e traficantes de drogas no Morro do Alemão, implodiu outro monumento à mistificação erguido por Lula, Dilma Rousseff, Sérgio Cabral e Eduardo Paes.

Graças à integração entre os governos federal, estadual e municipal, recita o quarteto há nove meses, ali começou, em 28 de novembro de 2010, a pacificação do Rio de Janeiro. Se é que começou, acaba de ser fulminada pela troca de chumbo de [ontem].

A falácia da cidade pronta para hospedar a final da Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016 foi reduzida a frangalhos pelo casamento da incompetência administrativa com o oportunismo político.

A ocupação do Morro do Alemão deveria ser a primeira de uma série de operações encadeadas, e concebidas para consolidar a presença do Estado numa zona de exclusão dominada por bandos fora-da-lei. Foi a primeira e última.

De lá para cá, não aconteceu nada. Ou quase nada: Dilma, Cabral e Paes festejaram a inauguração do teleférico que Lula prometeu. No dia da inauguração, ainda não funcionava. Nesta noite, deixou de funcionar para não entrar na linha de tiro.

No domingo, depois de um conflito com os moradores, os militares foram acusados de agir com truculência. Em resposta, o Exército divulgou um vídeo que mostra traficantes vendendo drogas com o desembaraço dos velhos tempos.

O tumor não foi devidamente lancetado, avisam as cenas. Os bandidos estão de volta. Foi por saber disso que Cabral e Dilma combinaram que as Forças Armadas ficarão por lá até junho de 2012. “Isso permitirá que trabalhemos com mais tempo o planejamento das próximas UPPs”, alega o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame.

As Unidades de Polícia Pacificadora são um bom prefácio. Se não vierem os capítulos seguintes, esses sim capazes de mudar a história, as UPPs são apenas uma fraude.

Na véspera do Sete de Setembro, o Brasil constatou que a polícia do governo Sérgio Cabral não tem musculatura para controlar a zona conflagrada. Depende do Exército para impedir que os traficantes voltem a proclamar a independência do Morro do Alemão ─ e reassumam o comando do que lhes pertence desde sempre.

Augusto Nunes

MANIFESTANTES NO MASP CANTAM O HINO NACIONAL CONTRA A CORRUPÇÃO

VIVA O POVO BRASILEIRO QUE LUTA CONTA A NEFASTA CORRUPÇÃO!

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ESQUERDA NÃO PARTICIPA DOS PROTESTOS CONTRA A CORRUPÇÃO. ELA É A PRÓPRIA.


Olha só esta gente diferenciada que odeia a corrupção do PT, lá no vão do Masp...



Nenhum sindicato, ninguém do PT, nenhuma ONG companheira, nenhum dos tais movimentos sociais.

Sabe por que a esquerda não participa das marchas contra a corrupção? Por que eles são a própria corrupção!

Veja aqui um show de fotos da primeira manifestação em São Paulo, no vão do Masp. A segunda sai às 15 horas, na Alesp, no Ibirapuera. Corra pra lá.

PAÍS RICO É PAÍS SEM CORRUPÇÃO

Cerca de 25 mil pessoas, segundo cálculo do comando da Polícia Militar do Distrito Federal, participaram da Marcha contra a Corrupção na Esplanada dos Ministérios durante o desfile de comemoração do 7 de Setembro.

Organizado por meio de redes sociais na internet, o protesto atacou a absolvição da deputada Jaqueline Roriz (PMN-DF), o voto secreto no Congresso, os recentes escândalos de corrupção no governo da presidente Dilma Rousseff, a aplicação da Lei da Ficha Limpa, e até o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ricardo Teixeira.

A manifestação começou tímida na Catedral de Brasília, por volta de 9h, com duas mil pessoas, mas foi crescendo com a adesão de quem foi assistir ao desfile oficial do outro lado da rua.

A marcha andou por toda a Esplanada, passou pela Praça dos Três Poderes, e terminou em frente ao Ministério da Justiça.
"Nosso balanço é de pelo menos 25 mil pessoas, muita gente acabou aderindo", disse a major Ana Luiza, que faz parte do comando do efetivo da PM do DF no evento. Não houve incidentes.


Vestidos de preto e com narizes de palhaço, os manifestantes levaram instrumentos, faixas e cartazes com frases de protesto. Evitou-se o uso de referências partidárias.
"Voto secreto, não, eu quero ver a cara do ladrão", era um dos gritos em referência à recente absolvição, em votação secreta, da deputada Jaqueline Roriz pelos colegas de Câmara.

Ela sofreu processo por ser flagrada, num vídeo, recebendo dinheiro vivo do esquema de corrupção no DF. "A absolvição dela foi o estopim para essa marcha", disse o estudante Marcos Maia, 18, um dos organizadores do protesto.
A rede social Facebook foi a principal ferramenta de convocação do protesto, lembrou Luciana Kalil, 30, da organização da manifestação. Vestida de preto, a aposentada Alzerina Salles Pereira, 66, celebrou a marcha. "Aqui no Brasil o dinheiro sobra para poucos, enquanto muitos passam fome", disse.(Do Estadão).

GLÓRIA STEINEM REVELA O QUE É O FEMINISMO

Artigos - Movimento Revolucionário

Há alguns dias a HBO transmitiu um documentário especial em torno da vida da feminista Gloria Steinem. O documentário, com o título Gloria: In Her Own Words, põe em destaque a revolução feminista que ela ajudou a lançar.

Para além das normais mentiras que as feministas gostam de propagandear ("o mundo é injusto para as mulheres", "ter filhos não deveria ser parte integrante da identidade das mulheres", "casar torna uma mulher numa semi-pessoa", "o aborto é um direito fundamental tal como a liberdade de expressão", "as crianças sofrem de demasiada Mãezinha"), o documentário mostrou um pouco do tipo de pensamento que invade as hostes feministas.

Quando lhe perguntaram o que é o feminismo, ela disse:


O feminismo começa duma forma bem simples. Começa por ser o instinto básico duma criança pequena que diz "isto não é justo" e "tu não mandas em mim" e acaba por ser uma cosmovisão que questiona toda a hierarquia.

De facto, o feminismo é a ideologia de quem nunca chegou a crescer. A maior parte das feministas mais conhecidas tiveram lutas em torno desta questão uma vez que muito faltou à sua idade infantil para que a mesma possa ser classificada de "normal".

Gloria Steinem foi criada por uma mãe mentalmente instável que era incapaz de tomar conta dela.

Fui uma criança negligenciada. Eu nem pensei que eu existisse. Eu tinha receio de me tornar como a minha mãe.

Isto é muito informativo. Mas eis a parte mais importante:

E ser uma activista social pode ser uma droga que te impede que voltar atrás no tempo e olhar para ti mesma. Tentas sempre preencher este vazio.

Dito de outra forma: em vez de "preencher o vazio" de uma forma construtiva, ela determinou-se em mudar o mundo. É sempre mais fácil apontar as culpas aos outros e dizer, como ela disse nos anos 70, "Não estou maluca. O sistema é que está".

A Betty Friedan forneceu uma explicação semelhante numa edição posterior do livro The Feminine Mystique. Depois de explicar o seu ódio pela mãe, Friedan escreveu:

Foi mais fácil iniciar o movimento das mulheres do que mudar a minha vida pessoal.

De facto, adquirir uma perspectiva do movimento social mais significativo dos nossos dias nunca foi mais fácil.

Conclusão:

O movimento feminista nunca foi algo minimamente relacionado com a "igualdade". O seu propósito foi, é e sempre há-de ser, o de transformar a sociedade de modo que esta fique mais do agrado das feministas, mesmo que, devido a isso, a infelicidade feminina aumente.

O feminismo é assim, uma ideologia infantil (fundamentada numa abstração) que contradiz a realidade empírica e toda a história do homem.

Publicado no blog Marxismo Cultural -

FRENTE CONTRA A CORRUPÇÃO

Frente contra a Corrupção recolherá assinaturas para que condenados em 2ª instância respondam a processo na cadeia
Publicada em 06/09/2011

RIO - A Frente Suprapartidária contra a Corrupção se reuniu na manhã desta terça-feira com o presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), Maurício Azedo, para tratar do engajamento da entidade no movimento.

Durante o encontro, o senador Pedro Simon (PMDB-RS), um dos nove senadores que fazem parte da frente, disse que a ideia é recolher assinaturas, nos mesmos moldes do que ocorreu com a Ficha Limpa, para pedir ao Congresso Nacional que condenados em segunda instância respondam ao processo na cadeia.
Segundo ele, um projeto como esse só seria aprovado na Câmara e no Senado com o apoio popular e, por este motivo, há a necessidade das assinaturas.

MAIS ADESÕES

OAB, CNBB e ABI decidem em reunião apoiar Marcha contra a Corrupção, que acontece no dia 7 de setembro

INDIGNAÇÃO
Movimentos na internet contra a corrupção ganham força após decisão da Câmara de livrar Jaqueline Roriz de cassação

VOTE
Você vai participar de algum protesto contra a corrupção?

NO LIMITE DA ÉTICA
Conheça algumas das brechas de corrupção no governo

INFOGRÁFICO
Relembre os escândalos no governo Dilma

- Vivemos um momento diferente. A presidente (Dilma Rousseff ) está tomando posição. Antes, os escândalos vinham e nada acontecia. A presidente tem que avançar - afirmou Simon, em referência aos escândalos e à faxina iniciada por Dilma.

O encontro na ABI serviu também para divulgar o Movimento contra a Corrupção e a Impunidade, que organiza por meio das redes sociais as marchas que acontecerão nesta quarta-feira em Brasília, Porto Alegre, São Paulo e Cuiabá. O protesto no Rio acontecerá no dia 20, com concentração na Cinelândia.

Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), outro senador que compareceu à reunião com a ABI, concorda com Pedro Simon:

- Sem a mobilização da sociedade e sem a presença da juventude não vejo como o Congresso Nacional, o Judiciário e as instituições públicas fazerem algum tipo de mudança.

O presidente da ABI diz que só a mobilização do povo fará diferença para mudar a corrupção:


- Sem a mobilização popular, não vamos ter uma modificação essencial nesse quadro práticas fraudulentas na administração pública.

A frente participou à tarde, na Firjan, do lançamento do Manifesto do Empresariado em favor da Ética na Política , que contou com as presenças dos senadores que fazem parte do grupo.
Além de Simon e Randolfe, estavam presentes Eduardo Suplicy (PT-SP), Ana Amélia (PP-RS), Casildo Maldamer (PMDB-SC), Cristovam Buarque (PDT-DF), Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Marcelo Crivella (PRB-RJ), Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR) e Pedro Taques (PDT-MT).

Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/mat/2011/09/06/frente-contra-corrupcao-recolhera-assinaturas-para-que-condenados-em-2-instancia-respondam-processo-na-cadeia

A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL CONTRA A CORRUPÇÃO

7 de setembro de 2011: Marcha contra a corrupção em Brasília

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A Polícia Militar de Brasília estima que cerca de 25 mil pessoas participam nesta quarta-feira, em Brasília, de protestos contra a corrupção. Organizado por meio das redes sociais, o protesto ganhou adeptos ao logo da caminhada na Esplanada dos Ministérios. Na Praça dos Três Poderes, eles cantaram o Hino Nacional, protestaram e, ao retornar à caminhada, parte do grupo ficou no gramado principal do Congresso. A PM cercou os prédios da Câmara e do Senado. Alguns jogaram água nos policiais, mas não houve confronto. A manifestação é pacífica.

Os manifestantes levaram faixas, cartazes e fizeram muito barulho, mas não puderam chegar perto da pista onde ocorria o desfile de Sete de Setembro com a presença da presidente Dilma Rousseff e outras autoridades. Muitos usam camisetas pretas com diversos dizeres contra a corrupção e impunidade e nariz de palhaço. Participam do protesto pessoas de todas as idades, inclusive crianças.

Assinaturas – Frente suprapartidária contra a corrupção quer condenados em 2ª instância na cadeia

Entrevista – Silêncio do Palácio do Planalto em relação à frente de combate à corrupção é preocupante, diz Cristovam Buarque

Presidente da UNE - ‘Não estamos sugerindo participação especial em nenhuma das marchas contra corrupção’, diz presidente da UNE

O movimento teve apoio de entidades como a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que cedeu o trio elétrico. Eles saíram da catedral em direção ao Congresso Nacional.

Entre os principais alvos do movimento estão a deputada federal Jaqueline Roriz (PMN-DF), que escapou recentemente da cassação, e os "mensaleiros" dos governos petista, tucano e do DEM no Distrito Federal.

O presidente da Câmara, Marco Maia, considerou a manifestação contra corrupção normal. Para ele, faz parte do processo democrático inclusive a colocação de barreiras para que a presidente Dilma não visse o protesto.

- O governo tem sido o maior batalhador para que a malversação do dinheiro público seja investigada, seja atacada. Não tem nenhum constrangimento. Pelo contrário: reforça a política que o governo tem feito nestes últimos anos de combate à corrupção

Em dezembro, os organizadores pretendem realizar uma corrida contra a corrupção, em Brasília. Também estão nos planos ações para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a manter a Lei da Ficha Limpa. Os ministros vão julgar ainda a constitucionalidade das regras.

- Vamos dar o grito de um basta à corrupção. Lugar de político corrupto é na cadeia! Vamos fazer barulho para eles nos ouvirem. Aquela corja (de políticos) não nos representa. Não temos ligação com partido nenhum – disse um dos organizadores, em um carro de som.

Nos cartazes, a maioria escritos à mão, eles pedem: "Supremo condene os mensaleiros", "Pelo fim do voto obrigatório" e " Corrupto safado pede para sair".

O movimento está reforçado com um pequeno grupo de servidores da Universidade de Brasília (UnB) que estão em greve. Cerca de 50 policiais militares acompanham de longe.

Em São Paulo, ato aconteceu na Avenida Paulista

Em São Paulo, a marcha reuniu um público bastante diversificado, com rostos pintados, apitos, nariz de palhaço e faixas. Segundo a Polícia Militar, cerca de 500 pessoas participaram da manifestação.
Um novo ato está sendo planejado para o feriado de 12 de outubro.

A maioria era de jovens e estudantes, mas também apareceram para protestar pais com filhos, idosos e até moradores do interior paulista. A sogra do jogador Kaká e diretora da Dior no Brasil, Rosangela Lyra, participaram do protesto.

Os manifestantes começaram a chegar por volta das 9h e se concentraram no vão livre do Museu de Arte de São Paulo (Masp), de onde saíram em caminhada por volta das 10h pelas calçadas da Avenida Paulista. O ato durou cerca de uma hora e meia. De volta ao Masp, o grupo começou a se dispersar, encerrando a manifestação. Segundo a PM, não houve registro de ocorrência policial.

A maioria das pessoas ficou sabendo da caminhada contra a corrupção pelas redes sociais. Um dos participantes que estava à frente do protesto ajudando na condução, Saulo Vieira Justo Resende, de 28 anos, disse que não conhecia ninguém que estava ali até chegar nesta manhã ao Masp.

- É uma iniciativa espontânea. Não tem organizador nem líderes. E queremos que continue assim – disse.

Algumas pessoas vieram de longe, como um grupo de estudantes do ensino médio, todos com caras pintadas, moradores de Interlagos, na periferia da zona sul da capital.

- Nós acordamos às 6h, pegamos um "busão" e viemos protestar – contou Juliana Aguiar do Nascimento, de 17 anos.

Formados principalmente no Facebook, os grupos no Brasil pretendem repetir uma tendência internacional, como no Chile e na Espanha, quando jovens foram às ruas este ano por diferentes motivos depois da convocação na internet.

Presidente da OAB diz que ‘país precisa é de vergonha na cara’

O presidente da OAB, Ophir Cavalvante, fez na manhã desta quarta-feira um discurso de militante no protesto contra a corrupção. Ophir defendeu que os brasileiros se engajem em ações contra a corrupção e a impunidade e usou um bordão do presidente do Senado, José Sarney.

- Brasileiros e brasileiras, sem querer parodiar qualquer político, o que esse país precisa é de vergonha na cara. O povo não tolera mais a corrupção e nem os políticos que fazem da vida pública uma extensão dos seus interesses privados. A indignação é geral em todo país. O povo tem que ir para as ruas. Hoje é o dia de dar o grito da independência: chega de corrupção – disse Ophir, em discurso no carro de som na concentração da Marcha Contra a Corrupção.

Ele afirmou ainda que o dinheiro público está indo para o ralo da corrupção, e, por essa razão, a "miséria descampa" no país.

- O povo tem que ir para a rua como foi nas Diretas Já, no impeachment de (Fernando) Collor. Temos que ser protagonistas e não coadjuvantes. Ladrão tem que ir para cadeia – afirmou o presidente da OAB.

O Globo Online

UMA ENTREVISTA SOBRE "DOSSIÊ GABEIRA"


UMA ENTREVISTA SOBRE "DOSSIÊ GABEIRA" : FAZER JORNALISMO É JOGAR PEDRA NA VIDRAÇA


O Jornal do Brasil de 13/09/09 publicou, em página inteira do Caderno B, uma entrevista sobre o livro "Dossiê Gabeira : o Filme que Nunca Foi Feito".
Eis a íntegra da entrevista ao repórter Bolívar Torres:

Como foi o contato com Gabeira durante as entrevistas? Alguma questão específica provocou mal-estar ou má vontade da parte dele? Qual foi a duração total das entrevistas?

"O projeto era o de gravar uma longa entrevista em regime de esforço concentrado: de preferência, de uma só vez. Assim foi feito. Durante seis horas - somente interrompidas por um breve intervalo para refeição - , bombardeei Fernando Gabeira com as perguntas sobre temas que me pareceram relevantes. A editora alugou por um dia uma suíte de um hotel em Ipanema. Um fotógrafo - Gilvan Barreto - documentou a cena.Dois amigos jornalistas - Ricardo Pereira e Jorge Mansur - gravaram em vídeo. Depois, fiz outras duas entrevistas com Fernando Gabeira, para complementar a apuração. Sou suspeitíssimo para falar, mas garanto que quem mergulhar nas páginas do "Dossiê Gabeira" fará uma viagem pelas últimas décadas da aventura brasileira"


O episódio do sequestro já foi abordada pelo próprio Gabeira em O que é isso, companheiro?, além da adapação para o cinema do livro e do documentário Hércules 56. Por que revisitar esse fato? Havia questões ainda mal-resolvidas? Na sua opinião, qual o peso do sequestro na trajetória de Gabeira? O que representa?

"Respondo sem a menor dúvida: todos,todos os fatos merecem ser revisitados - especialmente pelos jornalistas. Eu diria que é uma obrigação profissional. O jornalista que dá um fato por "encerrado" ou "esgotado" pode estar fazendo qualquer coisa - menos jornalismo. Porque uma das funções básicas do jornalismo é justamente o de remover as camadas que encobrem os acontecimentos. Nem sempre a missão é bem sucedida. Mas o simples fato de tentar já é essência do jornalismo. Há dezenas, centenas de questões a serem discutidas sobre um acontecimento tão importante quanto foi o inédito sequestro de um embaixador estrangeiro no Brasil. Jamais se tinha feito algo parecido. O sequestro foi o mais "espetacular" golpe contra o regime militar, naquele momento. Ou seja: é um fato interessantíssimo. Qualquer jornalista que julga que um fato interessantíssimo pode ficar "velho" ou "superado" ou "esgotado" deveria mudar de profissão, para felicidade geral de leitores, ouvintes e telespectadores".

Por que a opção de dar um recorte cinematográfico à série de entrevistas, com introduções que evocam o roteiro de um filme ainda não realizado? Seria uma espécie de resposta ao fato de Hércules 56 ter ignorado Gabeira?

"Não. Não tive qualquer intenção de responder ao documentário Hércules 56, um filme, aliás, bem realizado. Não sou nem nunca fui assessor de imprensa de ninguém - menos ainda de políticos, por mais respeitáveis que eles sejam. O meu partido é outro. Pertenço ao PPB, o Partido dos Perguntadores do Brasil. As referências "cinematográficas" apenas realçam o tom aventuresco de certas passagens, como, por exemplo, o tiro que Gabeira levou ao tentar, em vão, fugir dos chamados "agentes da repressão" em São Paulo. O livro começa com um tiro. É como se dissesse: o pau vai comer. A história que se vai retratar aqui não é brincadeira"

Você acredita que ainda hoje há uma mitificação em torno de algumas figuras dos anos de chumbo, algum tipo de aura que prejudique sua real compreensão? Ao fazer o livro, ficou com medo de alimentar o "mito Gabeira"?


"Não. Mas é possível distinguir dois momentos diferentes em relação aos guerrilheiros que combateram a ditadura. Num primeiro momento, especialmente depois da volta dos exilados, houve uma (compreensível) glorificação da resistência. Com o passar do tempo, figuras como o próprio Gabeira passaram a desenvolver uma visão crítica sobre a prática da luta armada. Um exemplo bem específico: hoje, Gabeira diz que vê o sequestro com os olhos do refém - não dos sequestradores"

Ainda nessa questão, fica claro no livro que o episódio do sequestro persegue Gabeira, e até hoje - mesmo depois de demonstrar arrependimento - está associado à sua figura. A incursão na ilegalidade, que se estende às aventuras guerrilheiras no exílio, alimentam essa romantização da sua figura?

"Há uma certa aura romântica em torno de guerrilheiros. Aventuras vividas nos anos de chumbo de combate ao regime militar terminam envolvidas por uma névoa de romantismo. Mas, com o tempo, é possível ver que o filme não é nem poderia ter sido tão romântico assim. Houve violência, derramamento de sangue, vidas perdidas, guerras sujas. O Brasil de hoje deve respirar aliviado, porque dificilmente um quadro daquele se repetirá"

Paulo Cesar Pereio disse: "Uma das virtudes medulares do Gabeira é a inteligência. Mas ele é paradoxal". Mas talvez seja justamente este o ponto mais interessante de Gabeira. Pelas entrevistas, fica claro que, desde os tempos da polarização cultural que se estabeleceu no Brasil nos anos 60 e 70, já era um personagem complexo, capaz de questionar as ideias feitas dos dois lados - mesmo estando comprometido com um lado específico. A principal característica de Gabeira, dentro da história da política do Brasil nos últimos 40 anos, seria a de apresentar um alternativa pluralista às radicalizações e certezas que o cercavam?

"Minha tendência é a de concordar com esta avaliação. Bem ou mal, com erros e acertos, avanços e recuos, a trajetória de Fernando Gabeira parecve apontar para a defesa de uma pluralidade que é sempre saudável e necessária"

Quando perguntado se se considera um "rebelde fracassado", Gabeira diz que não é mais rebelde, apenas fracassado. Para muitos, Gabeira é a esperança de uma renovação e modernização de uma esquerda mais pragmática no país. Será que esta modernização passa justamente por um reconhecimento do "fracasso", ou seja, de que não há caminhos épicos ou românticos na política moderna? Como este "arrependimento" movimenta, de modo geral, a geração de Gabeira nos dias atuais?

"Não saberia falar em nome da geração de Gabeira. Mas eu diria que,independentemente de qualquer coisa, a atualização das visões do mundo é uma tarefa indispensável. Não é fácil. Pode ser um processo doloroso. Por exemplo: não é fácil admitir que as utopias - que provocaram paixões políticas em tantos jovens militantes por tanto tempo - foram, nas palavras de Gabeira, "sanguinárias", porque terminaram justificando um enorme rol de violências. É esta a leitura que ele faz do Século XX, na entrevista que me concedeu: as utopias foram sanguinárias. Isso é dito por um ex-guerrilheiro que se empenhou em implantar uma "utopia" socialista. Posições assim despertam rancores, polêmicas, discussões. Tomara que o "Dossiê Gabeira" possa cumprir este papel: o de provocar um debate sobre a trajetória de uma geração que tentou mudar o Brasil"

Por outro lado, para além do pragmatismo, Gabeira também defende a ideia de que política sem esperança é "insuportável". Até que ponto Gabeira se equilibra entre o realismo e o sonho, entre o político e o artista?

"Não é só a política sem esperança que é insuportável. A vida sem esperança pode ser uma sucessão cinzenta de dias. É preciso sonhar com o possível - e o impossível. O fogo que alimenta esses sonhos é que move o mundo para frente. É preciso, apenas, estar atento para não repetir erros do passado. Neste sentido, o depoimento de Gabeira no livro pode ser super-didático. Em resumo, ele diz que, hoje, já não há grandes roteiros de transformação a serem seguidos. Ninguém precisa pedir a bênção a Karl Marx todo dia de manhã. Mas há espaço para sonhos que podem ajudar a melhorar a vida de cada um e de todos. A diferença é que ninguém precisa acreditar, por exemplo, que o Estado deve mandar na vida de todos, como uma parte da esquerda achava nos anos sessenta, setenta e oitenta. Igualmente, não se deve acreditar que o "mercado" é que deve reger nossas vidas. O segredo da sabedoria, hoje, segundo Gabeira diz na entrevista, é saber qual a melhor combinação que pode ser feita entre estado e mercado, em momentos históricos específicos"

Quando você chega à questão recente do uso indevido de passagens aéreas na Câmara, Gabeira diz que se sente mais leve, que perdeu o "figurino de reserva moral". Até que ponto o episódio pode mudar a imagem - e a carreira política - do político e intelectual?

"Fiz perguntas duras sobre o assunto. Perguntei o que qualquer cidadão comum perguntaria, se tivesse a chance de confrontar Gabeira sobre a questão do uso indevido de passagens áeras cedidas aos parlamentares pela Câmara dos Deputados. Gabeira reconheceu o erro, plenamente"

O que Gabeira tem ainda a acrescentar ao desacreditado cenário político brasileiro, com sua ainda - jovem - democracia?

"Só ele poderá responder. Prefiro pensar na contribuição, mínima que seja, que os jornalistas podem dar ao cenário brasileiro. Que contribuição pode ser esta ? Criar memória, por exemplo. Creio que toda profissão, todo profissional precisa de um lema para ir em frente. Escolhi um: "Fazer jornalismo é produzir memória". Há outros. Fazer jornalismo é desconfiar. Fazer jornalismo é ser impertinente. Fazer jornalismo é incomodar. Fazer jornalismo é não dar tapinha nas costas dos outros. Fazer jornalismo é não tratar o entrevistado como amiguinho (é o que a gente vê, lastimavelmente, na esmagadora maioria das entrevistas com celebridades de todos os tipos, em jornais, rádios, TVs, blogs, seja onde for). I´am sorry, mas meu time é outro. Fazer jornalismo é jogar pedra na vidraça. Fazer jornalismo é ter a ilusão de que vale a pena"

Posted by geneton at setembro 13, 2009 11

SINOPSE DO LIVRO


"Um livro-entrevista que se lê como um romance" - é assim que o escritor Ignácio de Loyola Brandão define Dossiê Gabeira - o filme que nunca foi feito, livro que traz a íntegra de uma super-entrevista gravada pelo repórter Geneton Moraes Neto com Fernando Gabeira, um dos mais ativos, originais e polêmicos personagens da cena política brasileira nas últimas décadas. Sem medo de controvérsia, Gabeira faz uma autocrítica rigorosa de uma trajetória marcada por lances dramáticos, como o seqüestro do embaixador americano em 1969, a prisão e o exílio. Depois, faz um grande balanço sobre o fim das utopias e traz a discussão para hoje. Gabeira faz provocações e mantém o tom polêmico ao tratar de temas atuais. pergunta, por exemplo, por que é tão difícil organizar, no Brasil, homenagens a policiais mortos em serviço - um tema-tabu para militantes das causas dos direitos humanos.O depoimento traz revelações, como, por exemplo, o nome de um famoso ator da TV Globo que participou da operação para disfarçar guerrilheiros que tinham seqüestrado o embaixador - um golpe espetacular contra o regime militar brasileiro. Gabeira põe um ponto final numa polêmica : definitivamente, quem escreveu o manifesto lido nos rádios e nas TVs não foi ele, mas o atual ministro-chefe da secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, o jornalista Franklin Martins. Entre as histórias surpreendentes, estão os esforços - fracassados - do senador Antônio Carlos Magalhães, para obter, junto à embaixada dos Estados Unidos no Brasil, um visto que permitisse a entrada de Gabeira em território americano. Quatro décadas depois do seqüestro, o hoje deputado Fernando Gabeira não pode entrar nos Estados Unidos. O que Gabeira tem a dizer sobre a acusação que lhe foi feita por Glauber Rocha: a de que teria proposto o "suicídio" do cineasta brasileiro ? "Geneton não poupou nada, perguntou tudo", escreve Ignácio de Loyola. "Daí este livro oceânico, em que há Freud, Fidel, Glauber Rocha, Marx, Nelson Rodrigues, Vianinha, ACM, Sergio Fleury, o caçador de subversivos, Frei Tito, que se matou na França, Romeu Tuma (vejam como Gabeira convive na política com o homem que lhe fez perguntas na prisão), torturadores, Franklin Martins (o idealizador do sequestro do embaixador Elbrick, hoje afastado do ex-companheiro), Tarso de Castro, José Dirceu (epa!) e dezenas de outras figuras relevantes". Fernando Gabeira tem estado no centro da cena política brasileira desde os anos 1960. Primeiro como integrante da guerrilha urbana contra a ditadura militar, depois como um dos mais destacados personagens do período da anistia e da volta dos exilados, por fim como um dos mais importantes e respeitados políticos em âmbito nacional das últimas décadas. Dossiê Gabeira - o filme que nunca foi feito aproveita os 40 anos de um dos episódios mais dramáticos dos "anos de chumbo", o sequestro do embaixador norte-americano Charles Elbrick pelo grupo de Gabeira, os 30 anos da anistia e os 20 anos da queda do Muro de Berlim para fazer um retrato da história recente do Brasil na visão privilegiada de um de seus principais protagonistas. Tudo devidamente embalado por um tratamento gráfico ao mesmo tempo belo e de impacto, que joga com a cor vermelha - a cor da esquerda, do sangue e da paixão.O experiente jornalista Geneton Moraes Neto abre o livro como um filme policial, com a descrição da cena em que Fernando Gabeira é baleado em plena rua e, caído, espera pelo tiro fatal. O depoimento é marcado por afirmações de grande significado e poder de síntese - como "a revolução cubana era defensável porque tínhamos poucas informações sobre ela", "a notícia do suicídio do Frei Tito passou a ser um marco na minha avaliação sobre os fatos e as pessoas daquele período" ou "a leitura do Século XX é esta: as utopias foram sanguinárias porque deram sustento e fundamento teórico para uma série de crimes". O livro histórico de Geneton Moraes Neto é, em resumo, uma superentrevista com o jornalista que um dia virou guerrilheiro: três décadas depois da volta dos exilados, Fernando Gabeira revê aventuras, ilusões, sonhos e pesadelos da geração que agitou o Brasil.

AGENTE DA CIA QUE TENTOU MATAR SADDAM HUSSEIN

Agente da CIA que tentou matar Saddam Hussein faz “cálculo cruel” e conclui: “assassinatos políticos” são “justificáveis” quando evitam ou terminam uma guerra

05/09/2011 Geneton Moraes Neto, categoria Entrevistas

A Globonews exibe o terceiro programa da série DOSSIÊ GLOBONEWS:SEGREDOS DE ESTADO. Entrevistado: Robert Baer, o agente da CIA que, confessadamente, participou de uma conspiração para matar Saddam Hussein.

Espionagem internacional não é para amadores. Que o diga Robert Baer, o ex-agente da CIA que se envolveu em operações de alto risco no Iraque. Esteve pessoalmente envolvido na conspiração armada por militares iraquianos para matar o ditador Saddam Hussein. Considerado por fontes insuspeitas, como o jornalista Seymour Hersh, como “talvez o melhor agente de campo em atuação no Oriente Médio”, Baer foi acusado (pelo FBI!) de ter tramado a morte de Saddam. Teve de se explicar em Washington. Ou seja: Baer terminou envolvido numa intriga interna envolvendo CIA e FBI.

A entrevista com Robert Baer foi gravada na Califórnia. O ex-agente da CIA enfrenta as limitações na hora de falar: precisa submeter à agência, até o fim da vida, todo texto que escrever para publicação ( Baer é autor de livros como “See no Evil” e “The Company We Keep”, inéditos no Brasil mas facilmente acessíveis através de livrarias virtuais como a Amazon).

Por coincidência, um dia antes de gravar a entrevista para a Globonews, Baer tinha recebido uma ordem da CIA : estava proibido de publicar, na revista Time, detalhes sobre a operação que resultou na morte de Bin Laden. Assim foi feito. Quando acontece um grande caso, a revista recorre a Baer como uma espécie de “consultor”. A ordem da CIA chegou em forma de carta, endereçada à casa do agente- onde estávamos agora para a gravação da entrevista.

O cinegrafista Eduardo Torres estava se preparando para fazer imagens do ex-agente diante de um monitor que exibia a carta da CIA, já devidamente escaneada. Cuidadoso, Baer pediu que esperássemos por um momento. Usou, então, um pequeno pedaço de fita adesiva preta para encobrir, no monitor, o trecho da carta da CIA em que aparece o endereço da casa onde estávamos. Tratei de tranquilizá-lo. Disse a ele que não se preocupasse: não iríamos exibir, no programa, um endereço pessoal. Mas, cauteloso como qualquer agente que se preze, Baer preferiu se resguardar. Colou o minúsculo pedaço de fita adesiva sobre o endereço.

Baer não usa meias palavras. Diz que a invasão do Iraque, em 2003, foi uma “loucura”, uma “catástrofe” que alterará o equilíbrio do Oriente Médio pelas próximas décadas. As declarações do ex-agente da CIA contra a intervenção no Iraque poderiam ter saído da boca de um militante anti-Bush. Mas, fiel ao estilo direto e contundente, o agente faz, também, declarações que teriam lugar garantido num compêndio de falas ”politicamente incorretas”. Sem o menor temor de ofender ouvidos sensíveis, ele diz que assassinatos políticos são plenamente justificáveis quando são cometidos, por exemplo, para evitar uma guerra.

Cita logo dois exemplos: se Bin Laden tivesse sido eliminado logo depois dos ataques de 11 de Setembro, os EUA não teriam prolongado por tanto tempo as operações militares no Afeganistão. Idem com o Iraque : o agente garante que, se Saddam Hussein tivesse sido eliminado ainda nos anos noventa, os Estados Unidos não teriam invadido o país em 2003. Quantas vidas teriam sido poupadas ? – pergunta ele. Baer diz que o cálculo é “cruel”, mas se for para escolher entre uma guerra e um assassinato político, ele fica com segunda alternativa, sem discussão.

Entrevistados que falam sem rodeios são perfeitos para TV. Sou suspeito para falar, mas aviso, a quem interessar possa: quem quiser entender a lógica – às vezes “cruel” – de um agente secreto que ostenta uma extensa folha de serviços prestados à espionagem internacional deve ver a entrevista do ex-agente Baer. Vale a pena. É instrutivo. Ouvir a palavra de quem atuou na sombra por tanto tempo é sempre um bom exercício jornalístico.

Um pequeno trecho do que ele disse



Sobre a conspiração para matar Saddam Hussein: “Tentei matá-lo. Só lamento não ter conseguido. Porque não teríamos tido essas guerra desastrosa que temos no Iraque. A invasão do Iraque, em 2003, foi uma loucura, Nós – você, eu, todo mundo – vamos pagar por ela. Cem mil iraquianos foram mortos sem necessidade. O equilíbrio do Oriente Médio foi destruído. É uma catástrofe – ainda que consideremos apejas o número de mortos. E será uma fonte de instabilidade no Oriente Médio pelos próximos cem anos, graças a George W. Bush, a Dick Cheney ( vice-presidente no Governo Bush) e todo o resto. Aquilo foi uma loucura. Não há outra forma de descrever”.

“Dei sinal verde ( aos conspiradores). O objetivo era esse ! Nós sabíamos, na CIA, que os neoconservadores do Congresso estavam pressionando para aprovar uma invasão do Iraque – para derrubar o regime e mudar o país. Tal ideia era uma idiotice. Nós sabíamos. Ao mesmo, sabíamos que o problema era um homem: Saddam Hussein – e seus dois filhos. Deveríamos nos livrar de Saddam e deixar o regime lá. Claramente, ele era o objetivo. Tínhamos oficiais militares prontos para assumir depois de Saddam. Eu acho, até hoje, que a lógica toda de novs livrarmos de Saddam é ainda válida”. ( militares hostis a Saddam Hussein planejaram um golpe que foi mal sucedido. Baer teve encontros secretos com os conspiradores. Deu a eles sinal verde).

Sobre o efeito de assassinatos políticos: “Os assassinatos, segundo meus cálculos morais e o de outros, são justificáveis para terminar uma guerra ou para evitar uma. Isso é importante. Nós estamos falando de cálculos morais. Quando os EUA se veem na iminência de uma guerra, é muito melhor substituir a guerra por um assassinato. Bin Laden é um caso óbvio. Em outubro de 2001, deveria ter sido assassinado, provavelmente por via aérea, com bombardeiros B-1. Isso teria nos evitado a guerra no Afeganistão e no Paquistão. Não há justificativa para a Guerra no Iraque. Mas, se tivéssemos conseguido assassinar Saddam, poderíamos não ter entrado em guerra. Os Estados Unidos deveriam parar de ser a polícia do mundo e não cometer assassinatos ou invasões. Mas, se é preciso escolher entre assassinato e invasão, dado o número de vidas perdidas – é um cálculo bem frio – eu escolho o assassinato. Os dois assassinatos teriam deixado os EUA fora de duas guerras. O primeiro seria o de Bin Laden. Por que ir para o Afeganistão se ele já estaria morto ? O movimento estaria, supostamente, terminado. Ou então deveriam matar a ideia desse culto, dessa guerra contra o Ocidente. Mas não se pode matar uma ideia com uma invasão. O mesmo acontecia no Iraque. Saddam era o problema. Era imprevisível. A ideia era: se matássemos Saddam - e alguns de seus seguranças – mataríamos umas cinco pessoas, em vez de….quantos milhões de pessoas vão acabar mortas ? É um cálculo cruel, mas, para mim, faz sentido”.

EX-ESPIÃO AMERICANO REVELA SEGREDOS DE ESTADO

Ex-espião americano revela qual a palavra que usava assustar suspeitos durante interrogatórios no Afeganistão: “Guantánamo”

06/09/2011Geneton Moraes Neto, categoria Entrevistas

A Globonews leva ao ar DOSSIÊ GLOBOBEWS: SEGREDOS DE ESTADO, uma entrevista com Anthony Shaffer, o espião americano que, depois dos atentatos do 11 de Setembro, cumpriu duas missões no Afeganistão, na chamada “Guerra ao Terror”.

O coronel Anthony Shaffer se envolveu numa polêmica inesperada: quando voltou do Afeganistão, depois de participar de operações secretas contra a organização terrorista Al-Qaeda, resolveu publicar um livro. Como sempre acontece, o texto foi submetido previamente à aprovação do comando militar americano.

Título: “Operation Dark Heart” ( o título é uma citação indireta ao filme Apocalipse Now, a obra-prima de Francis Ford Coppola inspirada em “Heart of Darkness”/”O Coração das Trevas”, o livro de Joseph Conrad. A citação não foi gratuita : quando se embrenhou numa área remota do Afeganistão, no encalço de militantes da Al-Qaeda, Shaffer diz que se lembrou do filme de Coppola ).

Assim que o livro saiu, Shaffer teve uma péssima surpresa: o Pentágono comprou – e destruiu- todos os exemplares da primeira edição.
Um porta-voz se limitou a dizer que o texto trazia informações que poderiam comprometer a segurança nacional. Resultado: os poucos exemplares que escaparam da destruição terminaram leiloados na Internet por preços que chegaram a dois mil dólares exemplares. Viraram “relíquia”. Uma nova edição, cheia de tarjas pretas, foi lançada.

O livro descreve uma operação que, na avaliação de Shaffer, deveria ter sido realizada, em território paquistanês, contra uma base da Al-Qaeda. Estava tudo pronto para que um ponto de reunião de líderes da Al-Qaeda fosse bombardeado. Mas o comando militar americano não autorizou a incursão. Tempos depois, Bin Laden seria capturado em circunstâncias parecidas : numa incursão clandestina realizada em território do Paquistão.

O New York Times deu destaque à proibição do livro do espião. Disse que a “tática do Pentágono” era “destruir livros para guardar segredos”.


Shaffer já tinha virado notícia ao fazer uma declaração que causara alvoroço: disse que, um ano antes dos ataques do 11 de Setembro, encontrara, durante uma investigação feita nos EUA, uma foto de Mohammed Atta, o estudante egípcio que viria a liderar o grupo de terroristas que lançaram aviões contra o Word Trade Center e o Pentágono.
A investigação sobre Atta, no entanto, não teria sido levada adiante - o que configuraria um grave erro de avialiação dos órgãos de segurança interna dos EUA.

Convocado a depor no Congresso americano, diante da Comissão que investigava o 11 de Setembro, Shaffer manteve o que disse: o homem que ele vira numa foto um ano antes dos ataques era Atta, sim. Mas a Comissão não conseguiu uma prova definitiva de que o homem que viria a chefiar o bando de terroristas tinha sido identificado com tanta antecedência. Ficou, no ar, a polêmica.

Shaffer gravou a entrevista para a Globonews num domingo, em casa, nos arredores de Washington. Revelou qual a palavra que usava para assustar prisioneiros durante interrogatórios: Guantánamo, a prisão que os EUA abriram numa base militar para abrigar suspeitos de terrorismo. A base, como se sabe, fica em território cubano, numa área arrendada desde o início do Século XX pelo governo americano. O próprio Shaffer reconhece, na entrevista, que a reputação de Guantánamo é “péssima”. Assim, bastaria citar o nome da prisão para despertar medo nos interrogados.

Shaffer não se recusa a tocar num ponto delicado: o tratamento dado a prisioneiros. Em resumo, o ex-espião se declara contra o uso de métodos violentos, mas diz que, numa situação extrema, para evitar um atentado devastador, ele recorreria à tortura para arrancar informações de um suspeito que soubesse o que iria acontecer.

Um trecho da entrevista:



“Uma das melhores abordagens em qualquer interrogatório é usar o medo. E não técnicas violentas. Não sou a favor de interrogatórios violentos. Não apoio a tortura. Mas, se você identifica o medo de alguém, pode usar o medo como ferramenta. Usei, muitas vezes, a ideia de Guantánamo, uma prisão lendária e com péssima reputação na cabeça de qualquer um. A maioria não quer ir para lá. Durante os interrogatórios, em especial de indivíduos suscetíveis, que não queriam ir para Guantánamo, citar a prisão com certeza é uma boa ferramenta. É como dizer: “Se você não cooperar, se não sentirmos que você vai falar toda a verdade, vamos mandar você para Guantánamo!”. A ameaça é, claramente, bem mais eficaz do que o ato em si. Era o que usávamos. Interrogamos um cidadão americano que, obviamente, temia ir para Guantánamo. Usamos o medo em nosso favor. E ele acabou cedendo, porque teve medo. Isso é o que deve ser feito nos bons interrogatórios”.

O senhor torturaria alguém ?

“Se houvesse um perigo claro e iminente, ou se eu acreditasse que aquele indivíduo tivesse informações sobre atos que poderiam resultar na morte de dezenas de milhares ou milhões de pessoas, como um ataque nuclear, por exemplo, acho que sim. Se eu estivesse convicto de alguém tinha a informação, eu torturaria. Isso é muito simples. Em interrogatórios com tortura, as pessoas falam o que você quer ouvir, para fazerem com que você vá embora. Isso, no entanto, não quer dizer que elas saibam o que você quer saber! Só há uma possibilidade: só um ataque nuclear ou outro ataque potencialmente catastrófico justificaria o uso de tortura. Nunca vi algo assim em todos esses anos. Ouvi amigos e parceiros comentarem a respeito. É um cenário altamente improvável, mas é o único que, para mim, justificaria a tortura. Quero deixar claro que não somos treinados para torturar”.

“Com base em experiência própria, eu, francamente, nunca acreditei na necessidade de interrogatórios violentos quando você entende como é o sujeito que você interroga. Hoje, esse debate ainda continua. Não estou dizendo – quero que fique bem claro ! – que eu nunca torturaria alguém.. Mas não acredito que seja o caminho correto. Talvez por um momento, como Jack Bauer ? Não creio. Quero deixar claro, novamente, que não acho má ideia obrigar alguém a ficar acordado ouvindo músicas de Perry Como… Há coisas que incomodam muito o prisioneiro. Como incentivo para que ele fale, podemos usar melhoria das condições do cárcere, assim como os seus próprios medos. É só mantê-lo acordado, não deixar que as coisas fiquem agradáveis e ir devolvendo os privilégios conforme ele for cooperando. Nada além. Isso não é tortura. É criar incômodos até o sujeito começar a cooperar”.