"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 14 de maio de 2013

O CORONEL USTRA: HERÓI DE SI MESMO E DOS TORTURADORES E OUTRAS NOTAS DO JORNALISTA HELIO FERNANDES

Com 59 anos, derrotado duas vezes em São Paulo, Mercadante quer ser presidente depois de Dona Dilma. Serra não deixa de ser presidenciável.




O coronel Brilhante Ustra (muito mais ustra do que brilhante) torturava por prazer. Guardadas as proporções, era como Pinochet (Chile) e o general Videla (Argentina), que gostavam de assistir torturas. Ustra torturava com as próprias mãos, no seu acervo de terrorista, mais de 50 mortos.

Agora se julga um “herói da Pátria”, queria defender o Brasil do pavor do comunismo. O Brasil nunca esteve perto disso, nem mesmo em 1935, quando Prestes veio da União Soviética (com Olga, a terrorista que invadiu uma prisão de segurança máxima, na Alemanha, para libertar o marido) para a revolução, um fracasso total.

Nunca estive preso com o coronel Ustra, ele só atuava em São Paulo. Mas seu “terrorismo” e o prazer pela tortura chegavam ao Doi-Dodi da Barão de Mesquita. Fui para lá, várias vezes, a ordem era cumprida: “Não podem torturar o jornalista, intimidação, ameaças, tortura física de jeito algum”.

Não pretendiam me preservar. Como eu era um nome nacional, se eu morresse, o que podia acontecer facilmente, tinham certeza de que a repercussão nacional e internacional derrubaria a ditadura.

Estive quatro vezes com o coronel Fiuza de Castro como comandante. Era filho do general Fiuza de Castro, que nomeado ministro da Guerra pelo presidente Café Filho, não tomou posse, o general Lott não deixou. Isso em 1955, nove anos antes do golpe.

CORONEL USTRA, HERÓI DOS TORTURADORES

Demoravam me fazendo perguntas tolas, eram uns idiotas, mas não deixavam de lembrar, em tom de ameaça: “Se o coronel Brilhante Ustra estivesse aqui, as coisas seriam diferentes”. Enquanto eu era interrogado, ouvia os gritos dos jovens entre 20 e 22 anos, que sofriam.

Eram todos de classe média alta, sabiam que chegariam os “pistolões”, teriam que soltá-los. Uma noite, o próprio ministro Orlando Geisel (que nominalmente era o chefe de tudo) chegou lá com o general Cordeiro de Farias. Este, quando foi governador eleito de Pernambuco, fez muitos amigos. O filho de um advogado tinha sido preso, ele telefonou para o ministro, que foi ao Doi-Codi. O menino já havia sido torturado, foi levado embora.

Estive lá mais duas vezes, o comandante era o coronel Ariel Paca. Foi diferente. De uma tradicional família de militares, estava constrangido no cargo. Nas duas vezes conseguiu me transferir para o HCE (Hospital Central do Exército).

O ambiente era de terror mesmo. Os policiais que me levavam, diziam: “Sofremos quando somos escalados para trazer alguém”. Parávamos numa pracinha enorme, os oficiais que estavam esperando, diziam às gargalhadas: “Então, doutor, o senhor escreve contra nós, mas acaba sempre aqui”. O que fazer? Eu tinha medo, mas não deixava que eles soubessem ou percebessem.

Esse é o retrato simplíssimo de um regime autoritário, arbitrário e atrabiliário, que durou 21 anos. E que agora o coronel Ustra quer transformar em lição de heroísmo.

ONTEM, DIA DA ABOLIÇÃO DA ESCRAVIDÃO, O ESCRAVIZADO MERCADANTE FEZ 59 ANOS

Eleito senador em 2002, tinha o futuro pela frente e a festa do suplente. Era tido e havido como ministro da Fazenda do eleito Lula, que maravilha viver. Não foi coisa alguma, o presidente eleito nomeou Palocci, desenterrado do lixo de prefeito, cheio de irregularidades (acabou demitido desonrosamente).

Foi feito líder do governo no Senado. Irritado, chateado, revoltado, pediu “demissão irrevogável”. Lula não aceitou e ainda tripudiou. “quem diz o que é irrevogável sou eu”. Mercadante continuou, o que fazer?

Em 2010, a segunda derrota para governador, voltou para Brasília, sem lenço e sem documento, apenas liquidar as coisas, retornar a São Paulo. Surpreendentemente, nomeado ministro da Educação. E mais do que isso: confidente de Dona Dilma e acompanhante obrigatório em todas as viagens dela ao exterior.

Agora, quando Lula procura quem indicar ou eleger governador de São Paulo, Mercadante se antecipa: “Não sou candidato”. Naturalmente, para quem já perdeu duas vezes. Mas ele tem outro plano já combinado com Dona Dilma, com base na reeleição dela.

Quando Dona Gleisi deixar a  Casa Civil para tentar o governo do Paraná, Mercadante ocupará o cargo, que acumulará com a coordenação da reeleição. Confirmada esta, em 2018, com 64 anos, será o mais previsível presidenciável do PT. Mas não esquecerá 2002.

E se lembrará sempre de 2018, se acumular outra derrota. Entre esquecer e não se lembrar, Mercadante só terá como consolação uma consulta ao Houaiss.

AÉCIO PREOCUPADO COM SÃO PAULO

Na verdade não consegue deixar de pensar em Serra. Considera que o ex-prefeito e ex-governador tem um potencial eleitoral enorme. Acha que ele perdeu a eleição para prefeito por acidente de percurso e não por falta de votos.

Só que não consegue ver Serra a seu lado em 2014. E já deu por encerrada, agora em 2013, a tentativa de atraí-lo.
Sua visão sobre Serra: ainda alimenta esperanças de aparecer como presidenciável. Assim, só voltaria a tentar se compor com ele no ano que vem. Outro grande problema: não tem o que oferecer a ele.

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 PS- Mafra, fui preso em 1963 (antes do golpe) por ter publicado uma circular “confidencial e sigilosa” do ministro da Guerra a 12 generais. Um desses 12 me deu a circular, como engavetá-la?

PS2 – Fui julgado pelo Supremo, me enquadraram na Lei de Segurança, pediram 15 anos de prisão para mim. O julgamento ficou 4 a 4, o presidente do Supremo, Ribeiro da Costa, desempatou a meu favor. (Podia desempatar contra).

PS3 – Por trás de tudo, o presidente João Goulart, que acreditava que a Tribuna da Imprensa ainda era do Carlos Lacerda.

14 de maio de 2013
Helio Fernandes

PROCURADORIA DA REPÚBLICA IMPÔS DERROTA AO PLANALTO NO CASO ROSEMARY


 É preciso destacar: a recente decisão da Procuradoria da República sobre a Operação Porto Seguro pegou de surpresa o Planalto, porque os articuladores da campanha contra Rosemary Noronha, ex-chefe do Gabinete da Presidência da República em São Paulo e amiga íntima de Lula, jamais poderiam esperar que o Ministério Público Federal (MPF) excluísse Rose da principal ação de improbidade administrativa movida contra os envolvidos na Operação Porto Seguro.

Mas o fato é que o MPF está exigindo a devolução de R$ 38 milhões aos investigados da Operação Porto Seguro, desfechada pela Polícia Federal e pela Procuradoria da República em novembro de 2012  para desarticular uma organização criminosa de venda de pareceres técnicos em órgãos federais. O procurador da República José Roberto Pimenta Oliveira está acusando 18 réus na ação de improbidade, entre eles 10 agentes públicos, mas Rosemary Noronha não foi denunciada.

Interessante notar que na Comissão de Ética da Presidência ocorre justamente o contrário: o Planalto mandou que fossem investigados apenas quatro dos envolvidos na Operação Porto Seguro, a saber: Rosemary Noronha, o ex-número 2 da Advocacia-Geral da União José Weber Holanda e os irmãos Paulo e Rubens Vieira, ex-diretores da Agência Nacional de Águas (ANA) e Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), respectivamente.

“VAZAMENTOS”

Rose, Weber, Paulo e Rubens Vieira são acusados de integrar uma quadrilha que negociava a compra de pareceres técnicos. Mas o principal alvo do Planalto é mesmo Rosemary, que tem sido vítima de seguidos “vazamentos” de informações por parte do Casa Civil, da Controladoria-Geral da União e da Comissão de Ética da Presidência, enquanto nada “vaza” em relação a José Weber ou aos irmãos Vieira. Parece estranho, não?

É esta flagrante perseguição do Planalto a Rosemary que vem deixando Lula indignado. Ele sabe que o alvo na verdade é ele, e não sua companheira de viagens ao exterior, a quem tem procurado ajudar na medida do possível, digamos assim.

Lula está revoltado, mas tenta manter a calma. Ele até achava que o Planalto ia parar com essas manobras, mas na semana passada a provocação continuou, com “vazamento” de notícias sobre Rosemary para o jornal O Globo. E se Lula explodir, ninguém sabe o que pode acontecer.
Bem. este é o quadro atual. O resto? “Depois eu conto”, como dizia o filósofo da crônica social Ibrahim Sued. Com exclusividade absoluta, é claro.

LEITE CONTAMINADO: INSEGURANÇA ESTENDE-SE À ALIMENTAÇÃO

                
Reportagem de Andréa Freitas e Flávio Ilha, O Globo, dia 10, confirma, com base em informação do próprio Ministério da Agricultura, a presença de formol em 28 mil litros de leite em postos de refrigeração do Rio Grande do Sul, de responsabilidade de quatro empresas.

Foram distribuídos ao consumo de forma criminosa. Crime hediondo, pela forma e pelo atentado à saúde humana. Informa o ministro da Agricultura, Antonio Andrade, que outros 600 mil litros que haviam passado pelo mesmo processo de industrialização foram recolhidos a tempo. Mas a sensação de insegurança permanece.

Ela, ao contrário de diminuir, aumenta até. Porque à insegurança nas ruas e nas praças acrescenta-se agora a da origem dos produtos consumidos pela população. Mais difícil inclusive de reprimir porque praticada em recintos fechados por pessoas insensíveis aos males que podem causar e estar causando. A prisão dos responsáveis é uma consequê3ncia. Não evitou o crime terrível. Mas deve servir de exemplo para que episódios iguaisa ou semelhantes não se repitam. 
Antigamente sabia-se da colocação de água no leite para fraudar os consumidores. A versão ganhou tanta repercussão através do tempo que a comercialização do produto viu-se obrigada a mudar a forma da embalagem para impedir violações fáceis  de ocorrer pela adição de água – vejam só – para que distribuidores aumentassem seus lucros inescrupulosamente. Mas nada supera a colocação de formol e ureia como aconteceu no Rio Grande do Sul. Formol, inclusive, uma substância capaz de causar câncer. Em que mundo vivem os adulteradores de um dos símbolos mais fortes da alimentação humana: o leite das crianças, o pão nosso de cada dia, expressão usada um cultos religiosos inclusive. 
INSPEÇÃO FEDERAL 
Acentua a reportagem que o Ministério da Alimentação e Produção Agrícola (este o seu nome atual) está recolhendo amostras de 90 laticínios que se encontram sob inspeção federal. Vão ser analisadas pelo Laboratório Nacional Agropecuário, seção do Rio Grande do Sul. Tem que haver um controle rigoroso, vidas humanas estão sob risco. Sete acusados da adulteração venenosa ainda se encontram presos. Duas suspeitas prestaram depoimento e foram liberadas. A operação policial tomou nome de leite compensado. Compensado para o pior sentido. O do crime. Ocorreu quando o produto industrializado foi ser transportado para locais de consumo. 
A reportagem de O Globo cita uma relação de fraudes anteriores no setor de alimentos, entre elas a ocorrida em 2007, Minas Gerais, com três marcas do leite longa vida. Mas quantos acontecem porque a busca do lucro ilícito é contaminadora, tanto quanto a contaminação que provoca. Nenhuma, entretanto, tão grave e agressiva quanto a adição de formol e ureia ao leite distribuído em cidades do Rio Grande do Sul, que pode ter se estendido a municípios de Santa Catarina e Paraná. Esperemos que não. 
Da mesma forma que não ocorram repetições e que a fiscalização e o controle não se restrinjam às etapas de  industrialização e refrigeração, mas, como os fatos comprovam, também no transporte. Porque, infelizmente, ações criminosas podem ser praticadas em todos os estágios que antecedem a comercialização. Sem controle, o consumidor está em risco. A insegurança cresce, passando das ruas para as mesas.
 
14 de maio de 2013
Pedro do Coutto

BAIXARIA ENTRE DEPUTADOS SUSPENDE SESSÃO DA CÂMARA SOBRE MP DOS PORTOS



Caiado, bem teatral

Um protesto do deputado Toninho Pinheiro (PP-MG) fez com que o presidente da Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), encerrasse mais uma sessão convocada para votar a Medida Provisória (MP) 595, conhecida como MP dos Portos. Em meio a uma discussão entre os deputados Antonhy Garotinho (PR-RJ) e Ronaldo Caiado (DEM-GO), Toninho subiu à Mesa da Casa e exibiu uma faixa cobrando a liberação de emendas para a saúde.

Henrique Alves advertiu o parlamentar mineiro que a atitude era antirregimental e que ele deveria descer. Depois, um segurança da Câmara tentou retirar o deputado à força. Na faixa, Toninho Pinheiro informava que governo empenhou R$ 8,3 bilhões em recursos de emendas parlamentares para a saúde, mas que os recursos não foram liberados.

A confusão teve início quando Garotinho usou a tribuna para acusar os autores dos destaques à MP dos Portos de estarem defendendo interesses particulares em detrimento dos interesses do país. Como resposta, o líder do DEM, Ronaldo Caiado, foi à tribuna e chamou Garotinho de “chefe de quadrilha”. Disse ainda que o ex-governador do Rio de Janeiro não tinha moral para lançar suspeição sobre todos os demais 512 deputados.

“Chefe de quadrilha tem que estar na cadeia e não no plenário da Câmara. Se fosse presidente da Câmara, mandava o serviço de segurança mandar este chefe de quadrilha para a cadeia”, discursou. Henrique Alves lamentou o nível do debate e pediu o restabelecimento do respeito ao Parlamento.
“É profundamente lamentável que esta Casa assista, de novo, a este espetáculo”, lamentou Alves.

Garotinho voltou a tribuna e disse que não se rebaixaria ao tom usado por Caiado e que suas acusações foram à emenda aglutinativa e não aos deputados. “Não usei nenhuma palavra de baixo calão”, afirmou Garotinho. O deputado rebateu as acusações de Caiado e disse que mora na mesma casa em que nasceu. Ele ainda insinuou que Caiado abandonou o ex-senador Demóstenes Torres, cassado por quebra de decoro.

Com o tumulto, Henrique Alves encerrou a sessão e convocou outra para as 17h30. Na abertura da nova reunião, o presidente da Câmara disse que houve equívocos por parte do deputado e da segurança da Casa, mas que isso não pode interferir no andamento dos trabalhos. Neste momento, os deputados retomam as discussões em torno da MP dos Portos.

ENTRE OS PAÍSES DO BRICS, BRASIL É O QUE TRIBUTA MAIS E CRESCE MENOS




Entre os países dos Brics, o Brasil é recorde de menor crescimento e de maior confisco tributário sobre o PIB. Com nossos estonteantes 35,78%, enquanto a Rússia registra 24%, a China, 21%, e a Índia, apenas 12%. Também somos recordistas em mordomias concedidas a quem ocupa altos escalões. Esses são os fatores que desequilibram drasticamente nossa economia.

O que tem que se entender urgentemente, acima de fatores de renúncias tributárias, manejados supostamente com finalidades “particulares” aqui, em Minas – que precisam, obviamente, ter nome, endereço e apuração revelados –, é a necessidade inadiável de desonerar a produção mineira e brasileira dos escorchantes impostos e da burocracia demoníaca.

Qualquer desoneração aumenta não só o consumo, como o emprego e os investimentos. Desonerar, aqui, no Brasil, significa importar menos e exportar mais, ter uma economia com mais lastro e sustentabilidade.

PRIMEIRO MUNDO

Precisamos, ainda, ficar, nesse momento, atentos às medidas que estão sendo tomadas no Primeiro Mundo. Os EUA iniciando um novo ciclo de industrialização, e a Europa concedendo qualquer facilidade para recuperar as empresas que migraram para o Leste Asiático. Com isso, já se encontram produtos com custo tributário menor na Itália e na Espanha do que aqui, ainda beneficiados por maiores produtividade e, quase sempre, qualidade.

As garfadas que deságuam no bolso do contribuinte, especialmente aquelas que ocorrem no meio da cadeia de produção, são, hoje, mais do que nunca, insustentáveis e excludentes. A prova está debaixo do nosso nariz. A desindustrialização ocorrida nos últimos dez anos é decorrência dos excessos do Estado sobre a produção de bens e já deixa o Brasil, nesse primeiro trimestre de 2013, com saldo comercial negativo, e, se não fossem as medidas protecionistas adotadas em profusão, no mercado interno, nenhum produto industrializado no Brasil conseguiria competir com o importado.

A União e os Estados têm o dever de rever, no que lhe cabe, em fórum aberto, imergido na maior objetividade, suas políticas tributárias. E devem ter coragem de assumir incentivos poderosos ao desenvolvimento, o mesmo que está muito aquém das médias mundiais e do imenso potencial, humano e material, que a Graça Divina concedeu, com deslumbrante generosidade, à nação mineira.
Precisam enfrentar, também, em nível de Congresso Nacional, os megaincentivos e as regalias que a União dispensa a todos, mas excluem Minas Gerais, com um acinte cada vez mais grave.
 

CISÃO FEDERATIVA


 
 
Definitivamente, algo não vai bem na Federação. A briga entre os estados pela partilha dos royalties do petróleo deu no que deu. Agora, as mudanças tributárias que significariam uma reforma, ainda que micro, caminham para o naufrágio. As bancadas do Norte, do Nordeste e do Centro-Oeste na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado romperam com a proposta de alíquota única de 4%, fixando-a em 7% para os estados dessas regiões, mais o Espírito Santo.
 O Ministério da Fazenda não gostou e o governo deve desistir da unificação. Ficaremos com a guerra fiscal. De onde vem isso? Dos séculos de desigualdade que as regiões mais pobres agora querem resolver na lei, mas na marra.
 
14 de maio de 2013
Tereza Cruvinel (Correio Braziliense)

O DESABAMENTO EUROPEU



       
A morte de Giulio Andreotti e a frustração dos franceses no primeiro aniversário de François Hollande, na chefia do Estado, podem significar o fim de um ciclo histórico na Europa, iniciado com o Tratado de Roma de 1957. A idéia de que a união dos países do continente em torno dos interesses econômicos comuns, e, para tanto, da renuncia de parcela de suas soberanias de forma a afastar, para sempre, os conflitos bélicos, parece agora desfazer-se como um castelo esculpido em neve.
Para o bem e para o mal, sobretudo para o mal, Andreotti já era uma personalidade pública, aos 25 anos, em 1944, quando se aproximou de De Gasperi, que foi um dos esteios da República Italiana, surgida depois da derrota do Eixo. Assim, como seu jovem seguidor, ele elegeu-se deputado dois anos depois, e se manteve no centro da vida política italiana durante 48 anos, até 1992.
Alcides De Gasperi foi um dos mais empenhados políticos na construção da unidade européia. Nascido no Tirol, sob jurisdição austríaca, De Gasperi foi cidadão austríaco e se elegeu deputado para o parlamento de Viena em 1911. Permaneceu leal à Áustria-Hungria até o fim da Primeira Guerra Mundial, quando a área em que nascera foi incorporada à Itália.
Elegeu-se então deputado, opôs-se ao fascismo, foi preso por Mussolini e, ao cumprir a pena, conseguiu abrigar-se no Vaticano, como funcionário da Biblioteca da Santa Sé. Com a derrota do fascismo, foi cooptado pelos americanos, com o apoio da Igreja, para se opor aos comunistas e socialistas. Nomeado primeiro ministro na transição, ainda sob a monarquia, em 1945, conduziu o plebiscito que optou pela República e continuou na chefia do governo.
Desde    1951, quando se concertou a Comunidade do Carvão e do Aço, até a morte, em 1954, a sua obstinação em prol da unidade do continente foi fundamental para a conclusão do Tratado de 1957.
DE VOLTA AO PASSADO
 
Passados 56 anos, a Europa parece retornar ao início do século 20, com o confronto geopolítico entre a Alemanha, a França – e o resto da Europa. Derrotada militarmente, a Alemanha busca, agora, na economia, o império político. Embora sua chefe de governo não disponha de qualquer virtude como líder, o apoio dos grandes bancos do mundo e das corporações industriais de seu país, que recuperaram  a forte presença internacional (Basf, Siemens, Krupp, Bayer e tantas outras) autoriza a sua arrogância.
A única esperança era a de que François Hollande (como agiram antes Clemenceau e De Gaulle) resistisse ao projeto de Berlim. Mas isso não ocorreu. Contrariando as razões da esquerda, sob cuja bandeira se elegeu, Hollande decidiu obedecer às ordens dos grandes banqueiros que dominam, com Mário Draghi, o Banco Central Europeu e acatar as exigências de “austeridade” de Frau Merkel. Ora, essa política, condenada por grandes economistas, como Paul Krugman, enfraquece todas as outras economias européias, enquanto favorece a Alemanha, em sua condição de país mais industrializado e mais capitalizado do continente.
Na França, prosseguiram as manifestações contra a política de cortes no orçamento social do governo Hollande. Do outro lado do Reno, Frau Merkel deve estar tranqüila: quanto mais instáveis a França, a Espanha, Portugal e Grécia, melhor. E muito melhor se a situação piorar ainda mais em Londres.
 
14 de maio de 2013
Mauro Santayana (JB)

O QUE FEZ JCS AROUCA PARA RECEBER INDENIZAÇÃO DE R$ 2.978.185,15 ?!

 E PENSÃO MENSAL DE R$ 15.652,69?

Simples: era filiado ao Partidão e tinha uma militância política muito intensa junto aos sindicatos, daí a “Comissão de Anistia”, através da figura magnânima do relator Márcio Gontijo, resolveu premiá-lo com a mega sena vitalícia que só os canalhas assumidos têm direito, e é claro que somos nós que pagamos.
 
*** *** ***
 
Uma notícia de amargar… Que bando de vigaristas! Vejam só os valores das indenizações e das pensões. Dinheiro do povo entregue às mãos de assaltantes, sequestradores, guerrilheiros, e terroristas. Enquanto a maioria da população brasileira for composta de uma massa ignara, amorfa e destituída de princípios e dignidade, estaremos sujeitos a presenciar estas aberrações, até quando? Só Deus sabe! Valor do teto do trabalhador aposentado – R$3.600,00.

Os dez anistiados mais bem pagos. Alguém importante falou, no passado próximo: “Esse não é um país sério!” Alguém se lembra quem pronunciou? Como disse Millor Fernandes ao recusar a indenização: não era ideologia, era investimento.

1) José Carlos da Silva Arouca Indenização: R$ 2.978.185,15 Pensão mensal: R$ 15.652,69. Relator: Márcio Gontijo
 
2) Antonieta Vieira dos Santos Indenização: R$ 2.958.589,08 Pensão mensal: R$ 15.135,65. Relator: Sueli Aparecida
 
3) Paulo Cannabrava Filho Indenização: R$ 2.770.219,00 Pensão mensal: R$ 15.754,80. Relator: Márcio Gontijo
 
4) Renato Leone Mohor Indenização: R$ 2.713.540,08 Pensão mensal: R$ 15.361,11. Relator: Hegler José Horta Barbosa
 
5) Osvaldo Alves Indenização: R$ 2.672.050,48. Pensão mensal: R$ 18.095,15. Relator: Márcio Gontijo
 
6) José Caetano Lavorato Alves Indenização: R$ 2.541.693,65 Pensão mensal: R$ 18.976,31. Relator: Márcio Gontijo
 
7) Márcio Kleber Del Rio Chagas do Nascimento Indenização: R$ 2.238.726,71 Pensão mensal: R$ 19.115,17. Relator: Márcio Gontijo
 
8 ) José Augusto de Godoy Indenização: R$ 2.227.120,46 Pensão mensal: R$ 12.454,77. Relator: Sueli Aparecida Bellato
 
9) Fernando Pereira Christino Indenização: R$ 2.178.956,71 Pensão mensal: R$ 19.115,19. Relator: Márcio Gontijo
 
10) Hermano de Deus Nobre Alves Indenização: R$ 2.160.794,62 Pensão mensal: R$ 14.777,50. Relator: Vanda Davi Fernandes de Oliveira

O ranking dos 10 mais da lista dos anistiados políticos soma R$ 25.439.875,94 em indenizações. A quantia é suficiente para instalar, por exemplo, 26 mil computadores em escolas públicas ou equipar 31 hospitais com aparelhos de tomografia. As cifras aparecem na folha de pagamento do Ministério do Planejamento. A identificação dos beneficiários exige uma demorada busca na coleção do Diário Oficial da União.Todas as indenizações foram aprovadas pela Comissão de Anistia. (Quem nomeou essa “Comissão de Anistia” ?)

O n° 1 da lista, José Carlos Arouca, recebe, regularmente, todos os meses os R$ 15,6 mil da pensão. (O que ele fez pelo Brasil para merecer tanto dinheiro ?) “Eu era filiado ao Partidão”, conta em tom orgulhoso, chamando pelo apelido carinhoso o velho Partido Comunista Brasileiro. “Tinha uma militância política muito intensa junto aos sindicatos”. Em 1999, 20 anos depois da anistia, Arouca se tornou juiz do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo. Aposentou-se em 2005 e, no mesmo ano, foi contemplado com a indenização milionária.

Terceiro do ranking, Paulo Cannabrava Filho, conseguiu R$ 2,7 milhões, além da pensão de 15.754,80 por mês. Presidente da Associação Brasileira da Propriedade Intelectual dos Jornalistas Profissionais, Cannabrava recebe o equivalente ao salário médio de um editor. Procurado por VEJA.com, exigiu que a pergunta fosse feita por e-mail. Atendida a exigência, respondeu com admirável concisão: “A VEJA digo: nada a declarar. Assunto encerrado”. Os beneficiários das boladas gostariam que o assunto fosse sepultado para sempre. Os brasileiros que pagam a conta discordam.

O quarto da lista, Renato Leone Mohor, também premiado com R$ 2,7 milhões, teve a reparação equiparada ao salário médio de um chefe de redação: R$ 15,3 mil. Encerrou o telefonema ao saber que conversava com um repórter de VEJA.com. “Este número é confidencial e não vou te atender, amigo”.

Entre os relatores, o campeão da generosidade com dinheiro alheio é o advogado Márcio Gontijo. Seis dos 10 nomes entraram no ranking graças ao parecer favorável do conselheiro perdulário. “Eu sou o conselheiro mais antigo da Comissão, muitos processos já passaram pelas minhas mãos”, desconversa Gontijo. E quais foram os critérios que ampararam a gastança? “Eu me baseio na lei”, acredito. Ninguém sabe exatamente a que lei se refere.
 
14 de maio de 2013
Giulio Sanmartini

MOMENTOS NOJENTOS DE UM BRASIL FEDORENTO - 3


Enquanto a ministra da Justiça de Israel, Tzipi Livni, anuncia ter instruído o ministério a preparar uma legislação ampla proibindo, por exemplo, que mulheres sejam obrigadas a sentar-se na parte traseira dos ônibus em bairros e cidades religiosas com o objetivo de fazer com que qualquer segregação em espaço público ou humilhação com base no gênero - práticas obrigatórias na igreja ultraortodoxa - seja considerada crime, deputados crápulas da Assembleia Legislativa do Rio sob o comando do deputado estadual Paulo Ramos (PDT) cria uma corrente de apoio ao “pastor” Marcos Pereira, da Igreja Assembleia de Deus dos Últimos Dias - que além de ser acusado de estupros, é suspeito de lavar dinheiro do tráfico, por meio de empresas abertas em nome de fiéis da sua  “igreja” e da compra de imóveis -, argumentando que a investigação da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod), que prendeu Marcos, é falha. Ramos questionará o trabalho da unidade junto ao procurador geral de Justiça, Marfan Vieira, ao lado de outros deputados. Um deles é Edino Fonseca (PEN). Assim como Ramos, ele diz que as mulheres que acusam o pastor de estupro são ligadas ao AfroReggae, ONG liderada por José Júnior, autor das primeiras denúncias contra Marcos.

Colega da Alerj, o deputado Geraldo Pudim (PR) deu apoio ao pastor comparecendo à Dcod na noite da prisão. Já o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados, defendeu-o no Twitter: “Imprensa tem provas contra Marcos Pereira? Talvez: um delegado sem crimes para investigar”.

Brasil: país onde crentes filhos da puta roubam, estupram, matam e depois se escondem em nome de um falso deus. País onde os otários elegem petralhas e frequentam as seitas de bandidos que fazem mais “milagres” em uma sessão do que Cristo fez em sua vida inteira.
O pilantra:
 
14 de maio de 2013

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE




14 de maio de 2013

A FAMÍLIA SE TRANSFORMA

Curvem-se as nações ante o Brasil. Depois de o STF ter rasgado a Constituição de uma penada e com um neologismo torto – a homoafetividade -, instituído o casamento homossexual, o formato da família continuou evoluindo no país.

A bigamia, por exemplo, foi instituída há cinco anos, através de outro neologismo, o poliamor. Em 2008, em Porto Velho, Rondônia, uma mulher obteve na Justiça o direito de receber parte dos bens do amante com quem conviveu durante quase 30 anos. Ele era casado e morreu em 2007, aos 71 anos. O juiz Adolfo Naujorks, que concedeu à moça o direito de herança, baseou-se em artigo publicado num site jurídico segundo o qual uma teoria psicológica, denominada "poliamorismo", admitia a coexistência de duas ou mais relações afetivas paralelas em que casais se conhecem e se aceitam em uma relação aberta.

Ano passado, uma união conjugal entre três pessoas foi lavrada em um cartório em Tupã, interior de São Paulo. Segundo Claudia Domingues do Nascimento, tabeliã do cartório e redatora do texto, a escritura estabelece regras relativas aos bens dos parceiros, na hipótese de algum deles adoecer, morrer ou mesmo desistir da relação. “É como um contrato particular de compra e venda.”

A tabeliã afirmou que o trio tentou, sem sucesso, formalizar a escritura de união estável em outros cartórios. “Aí eles descobriram que minha tese de doutorado é sobre união poliafetiva [entre mais de duas pessoas] e me procuraram”, disse. Se antes era o Legislativo que determinava o regime legal do casamento, ao que tudo indica hoje tese de doutorado produz legislação. Segundo o UOL, o documento lavrado “pode ser a primeira escritura de união conjugal entre três pessoas no país”.

Já escrevi sobre o tal de poliamor. Apesar de ter vivido muito mais de duas relações paralelas, confesso desconhecer tal teoria. Em meus dias de jovem, chamava-se isto amasiamento, adultério, infidelidade. Ou ainda, vendo a coisa por outro ângulo, de donjuanismo. Ou casanovismo.

Mais adiante, anos 70 para cá, começou-se a falar em relação aberta. Tudo dependia do consenso do casal. Conheci casais que viveram unidos a vida toda, mantendo este tipo de relação. Era um relacionamento honesto, sem mentiras. Mas o Direito jamais reconheceu direito à herança por parte de quem não fosse a mulher legítima. Neste sentido, o matrimônio funcionava como proteção. O marido podia ser infiel à vontade, sem precisar dividir seus bens com a Outra, como se dizia então.

Poliamorismo soa mais elegante. Procurei a palavrinha nos dicionários. Não encontrei. Nem meu processador de texto reconhece a palavra, sempre a sublinha em vermelho. Fui ao Google. Já está lá. Escreve um jurista: “As relações interpessoais de cunho amoroso, por vezes destoam do padrão habitual da monogamia entre os casais formados por pessoas de sexos diferentes. Assim, encontramos relacionamentos afetivos que envolvem um casal, vale dizer um dos cônjuges e um parceiro ou parceira, os quais se desenvolvem simultaneamente. Ditas relações são denominadas de poliamorismo ou poliamor, e se constituem na coexistência de duas ou mais relações afetivas paralelas ao matrimônio”.

Os muçulmanos são mais práticos. Todo crente tem direito a quatro mulheres e estamos conversados. Não se fala em amor nem poliamor. Mas não precisamos ir até o Islã. No livro que embasa a cultura ocidental, temos o rei Salomão. “Tinha ele setecentas mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o coração”, lemos no I Reis. Poliamantíssimo, o sábio rei. Bem que gostaria de ter meu meigo coração assim pervertido.

Após a morte do empresário de Rondônia, a amante, que por lei não teria direito à partilha de bens, entrou na Justiça com uma ação declaratória de união estável, dizendo que dependia financeiramente dele e que compartilhou com ele esforço comum na formação do patrimônio. O pedido foi contestado pelos dois filhos do casamento, que pediram a condenação dela por má-fé e argumentaram que a lei nacional baseia-se no relacionamento monogâmico. Segundo trecho do artigo usado na sentença, "as pessoas podem amar mais de uma pessoa ao mesmo tempo".

Alvíssaras! Novidade na cultura ocidental. Finalmente o Direito contemporâneo reconhece que o tal de amor não precisa ser monogâmico. Mas minhas dúvidas permanecem. A sentença não estabelece quantas pessoas se pode amar ao mesmo tempo. Só duas? Ou vinte também vale? E o harém do rei Salomão? Pode? Tampouco esclarece se uma mulher pode amar dois ou mais homens. Pelo que se deduz da questão, quando um homem ama duas mulheres é poliamor. Já uma mulher amando dois ou mais homens, vai ver que é puta mesmo.

Segundo a tabeliã de Tupã, o trio é formado por um homem e duas mulheres, todos profissionais liberais, sem filhos, solteiros e residentes no Rio de Janeiro. “Eles se conhecem há muito tempo, e, desde 2009, passaram a viver uma relação estável.”

A tabeliã disse que existem muitas pessoas que vivem nessa situação, mas que não sabem que é possível formalizá-la em documento. “Eu estou surpresa com a repercussão desse fato. Estou sendo procurada por pessoas que vivem em condições semelhantes.” É o milagre dos neologismos. Se amasiamento, adultério ou infidelidade soavam mal, poliamor é louvável, digno e justo. O mesmo aconteceu com homossexualismo. Segundo o ministro Carlos Ayres Britto, do STF, homossexuais não mais existem. Agora são todos homoafetivos.

Os novos conceitos trarão insuspeitadas conseqüências jurídicas. Homoafetivos já podem casar. Homoafetividade exclui o tal de poliamor? Obviamente não. Se um homem pode amar duas mulheres, por que não poderia amar dois homens? Nada impede. Se obedecermos à boa lógica, em breve teremos três ou mais homens (ou mulheres, por que não?) registrando suas relações estáveis em cartório. O velho casamento católico vai virar partouse. Nada contra. Apenas constato.

Não bastasse este contributo tupiniquim ao Direito de Família, temos agora a filiação tripla. Leio no Estadão de ontem:
Primeiro documento do brasileiro, a certidão de nascimento tradicional traz a filiação da criança com o nome do pai em cima e, logo abaixo, o da mãe. As relações de afeto, no entanto, têm reconfigurado a estrutura das famílias e também a do documento oficial. Atentas a essas mudanças, decisões judiciais têm aberto caminho para que em um registro civil coexistam, sem conflitos, dois pais e uma mãe ou um pai e duas mães - são as famílias multiparentais.

A idéia defendida por alguns juízes, promotores e advogados é de que disputas entre quem "cria" e a mãe ou o pai biológico da criança podem virar "filiação tripla" no registro civil. A solução já foi implementada em pelo menos sete Estados por meio de ações de adoção ou investigação de paternidade.
Rondônia parece estar inovando em matéria de Direito. Foi também lá que, em março de 2011, a família multiparental emplacou pela primeira vez, em Ariquemes, com um parecer da promotora Priscila Matzenbacher.
Um homem, cuja identidade não pode ser revelada, havia registrado uma menina como se fosse sua filha, mesmo sabendo que o pai era um ex-companheiro da mulher. Tempos depois, o pai biológico passou a se relacionar com a filha e entrou com ação para ter seu nome no registro. A promotora propôs o afeto: os dois deveriam ser postos na certidão. Em todos os casos, Priscila se baseia em avaliações psicológicas para identificar se a pessoa é tratada pela criança como outro pai ou mãe. "É diferente ser padrasto ou madrasta."

- O “mais” é melhor para a criança. A gente nem sempre tem de pensar em eliminar um pai ou mãe - diz a promotora, que já atuou em cinco casos de paternidade múltipla em Rondônia - dois tiveram autorizada a inclusão de outro pai. Em março passado, mais um precedente para o registro triplo, no Recife. Sem recursos para cuidar do filho, a mãe biológica deixou o encargo à mulher do ex-companheiro. A madrasta exigiu que o menino de 4 anos tivesse seu sobrenome. A saída foi o registro triplo.
Na mesma vara de família, no fim de 2012 um casal de lésbicas incluiu o irmão de uma delas na certidão do filho. A intenção era de que a criança tivesse também uma figura paterna. A advogada Vivian Guardian Medina buscava uma maneira de adotar o enteado sem afastar o nome da mãe, que morreu quando ele era bebê. Isso pareceu viável após o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhecer a união entre pessoas do mesmo sexo, em 2011. "Se podia haver dois pais e uma mãe em uma certidão, por que não duas mães e um pai?" Em setembro, foi expedida decisão, em caráter definitivo, da dupla maternidade e a certidão será alterada até junho.

Juízes, tabeliães e promotores estão modificando a gosto a legislação de família, sem ligar para esse papelucho supérfluo, a Constituição. Não bastasse isto, a Câmara Municipal de São Paulo promete um novo adendo à instituição. Há dois dias, eu comentava esta perversão urbana, a de considerar cães como gente. Cala-te, boca!

Conforme projeto de lei que já começou a tramitar, cães e gatos poderão ser enterrados em cemitérios públicos da cidade. É o que nos informa hoje Monica Bergamo, da Folha de São Paulo. Segundo o projeto, terão prioridade os "animais de estimação da família do concessionário da campa ou jazigo".

A proposta, publicada no Diário Oficial há alguns dias, é dos vereadores Ricardo Tripoli (PV) e Antonio Goulart (PSD). Eles afirmam que os bichos são hoje "membros das famílias humanas". Além do "extremo sofrimento da perda" quando eles morrem, as pessoas se desesperam sem saber para onde destinar o cadáver. Cemitérios de animais cobrariam "altíssimas taxas". Mais um pouco e a cachorrada terá direito a herança.

A família se transforma em Pindorama. Ama, com fé e orgulho, a terra em que nasceste! Criança! não verás nenhum país como este!


14 de maio de 2013
janer cristaldo

CARDOZO E MERCADANTE QUEREM APROVAR A LEI "JOSÉ DIRCEU". FUTEBOLZINHO NO PRESÍDIO E LEITURA DO LIVRO DE LULA PODEM CONTRIBUIR PARA REDUÇÃO DA PENA


A pedido dos ministérios da Justiça e da Educação, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) discute a edição de um ato normativo para incluir esporte, cultura e capacitação profissional entre as práticas previstas para a redução de pena, desde que "integradas ao projeto político-pedagógico da unidade ou do sistema prisional local e sejam oferecidas por instituição devidamente autorizada ou conveniada com o poder público para esse fim".
 
Em nota técnica enviada ao CNJ, os ministérios da Justiça, por meio do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), e da Educação alertam que, na maioria das vezes, somente as atividades formais de ensino são levadas em consideração pelos juízes para a concessão do benefício. A Lei nº 12.433, de 2011, que alterou a Lei de Execução Pena (nº 7.210, de 1984), estabelece um dia a menos de pena a cada 12 horas de frequência escolar (ensino fundamental, médio, inclusive profissionalizante, ou superior, ou ainda de requalificação profissional), divididas, no mínimo, em três dias. Mas não trata de atividades educacionais complementares, o que estaria gerando entendimentos distintos na esfera judicial.
 
Na proposta de "recomendação", que será editada para orientar magistrados de todo o país sobre a aplicação da lei federal, o CNJ aproveita para beneficiar presos que estudam por conta própria, ou com simples acompanhamento pedagógico, e estabelecer critérios para a redução de pena por meio da leitura de livros. As regras serão idênticas às estabelecidas em meados do ano passado para as penitenciárias federais. Se aprovada, essa orientação será assinada em conjunto com o Conselho Nacional de Educação (CNE), Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP) do Ministério da Justiça. O texto em análise está na pauta da sessão de hoje do CNJ.
 
As regras para as penintenciárias federais estão em portaria conjunta do Depen e da Justiça Federal. A norma estabelece a diminuição de quatro dias da condenação a cada obra lida. Caso o preso termine 12 livros ao longo de um ano, e comprove a leitura por meio de resenhas, deixará de passar 48 dias no presídio. Hoje, o detento também tem direito a reduzir um dia de pena a cada três dias de trabalho.
 
Pela portaria, o preso federal tem hoje entre 21 e 30 dias para ler uma obra - literária, científica ou filosófica. Ao fim do período, deve apresentar uma resenha. O texto é analisado por uma comissão, que observa aspectos relacionados à compreensão e compatibilidade do texto com o livro trabalhado. O resultado da avaliação é, então, enviado, por ofício, ao juiz de execução penal, que decide sobre a concessão do benefício. "É uma forma de tirar o estresse do sistema prisional", diz o diretor do Sistema Penitenciário Federal, Arcelino Damasceno.
 
Com a edição do ato normatitivo, o CNJ quer estimular a adoção de atividades educacionais complementares, principalmente em locais que não oferecem trabalho, qualificação profissional e nem mesmo estudo. "Hoje, apenas 20% dos 550 mil presos do país [incluindo os provisórios] trabalham e menos de 12% estudam. É um pingo no oceano", afirma o juiz auxiliar da Presidência do CNJ, Luciano Losekann, coordenador do Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas (DMF).
 
Para o jurista e promotor Renato Marcão, do Ministério Público do Estado de São Paulo, não há, porém, previsão legal para a remição de pena por meio de atividades culturais e esportivas - como Jiu Jitsu, Muay Thai e MMA (Mixed Martial Arts), adotadas em penitenciárias do Rio de Janeiro. "É um pouco demais. Daqui a pouco, o preso não terá que cumprir pena", diz o promotor.
 
(Valor Economico)
 
14 de maio de 2013
in coroneLeaks

PRIMEIRO ARTIGO DO LULA NO NYT E OUTRAS NOTINHAS DO CORONEL

 

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Petista reconhece que PT não tem nome para 2018.

O governador Jaques Wagner (PT-BA) disse, em entrevista à revista Veja São Paulo, que o PT deve apoiar o atual governador de Pernambuco, Eduardo Campos, à Presidência em 2018. Segundo ele, "é melhor entregar [o cargo] para um aliado do que perder para um adversário ou ex-aliado". "É disso que eu tento convencer o PT, mas não está fácil", afirmou. Para Wagner, "Eduardo pode ser a alternativa para 2018: o grupo se mantém na Presidência, mas com outro partido".
 
  

Um exemplo de investigação conduzida pelo Ministério Público Federal do Pará.

 
O Pará é um dos estados onde o MPF é mais ativo contra os produtores rurais. E tem quem ainda defenda que o MPF é mais isento do que a Polícia Federal, por isso deve fazer investigações sem limite. Isto aí em cima é investigação, sobre um assunto dos mais relevantes para o futuro do país?
Atenção! O perfil acima, no Twitter, é institucional, representa o pensamento do Ministério Pùblico Federal do Pará. Pode? 

Lula diz que não pode falar sobre a Rose.

 
"Nenhum presidente pode escrever um livro de verdade. Porque um presidente não pode contar tudo o que aconteceu, nas relações dele no mandato, as conversas com outros chefes de Estado, as reuniões ministeriais, tem coisa que você pode contar, tem coisa que não pode contar. Seria uma biografia meia boca, daquelas "eu me amo", que só tem virtude. Então resolvi não fazer. É mais verdadeiro e menos pessoal do que aquelas biografias que ninguém vê, ninguém lê. Ninguém lê, eu acho"
 
Lula, ontem, em São Paulo, durante o lançamento de um livro que conta apenas uma parte da sua vida. Sem Rose, é claro.
 
14 de maio de 2013
in coroneLeaks

LUTA PELO PODER TIRA DO GOVERNO NOMES FORTES NOS MINISTÉRIOS

 
 

Nelson Barbosa (terno escuro) tinha acesso a Dilma, o que incomodava Mantega
Foto: Ailton de Freitas / O Globo
Nelson Barbosa (terno escuro) tinha acesso a Dilma, o que incomodava MantegaAilton de Freitas / O Globo
 
O governo Dilma Rousseff perderá até julho pelo menos três nomes fortes do segundo escalão, todos secretários executivos (vice-ministros), envolvidos em luta de poder na Esplanada dos Ministérios. O primeiro a formalizar a saída foi o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, que nesta segunda-feira pediu oficialmente demissão do cargo. Em seguida, vão se despedir os secretários executivos da Casa Civil, Beto Vasconcelos, e das Comunicações, Cezar Alvarez. A saída de Vasconcelos e Alvarez já era conhecida do Planalto, mas a decisão de Barbosa surpreendeu, embora fossem recorrentes as divergências dele com o ministro Guido Mantega (Fazenda). Outro que pode deixar o cargo é o número dois do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic), Alessandro Teixeira.
 
Canal direto com Dilma
 
De acordo com nota desta segunda-feira do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa deixará o posto por razões pessoais. Mas toda a Esplanada sabe que a situação dele no governo já estava delicada há algum tempo. Desde o início do governo Dilma, Mantega, nos bastidores, não escondia seu desconforto com o canal direto estabelecido entre Barbosa e a presidente. O secretário chegou a ser cotado para ser ministro da Fazenda de Dilma.
 
Mas, como defensor de um rigor maior na política fiscal do governo, Nelson Barbosa acabou perdendo espaço, na relação com a presidente, para o secretário de Tesouro, Arno Augustin, que tem posição mais flexível neste assunto. Além de ser gaúcho e já conhecido de Dilma, Augustin contou com apoio de Mantega para se tornar o rival número um de Barbosa.
 
Rumores de que Augustin poderia assumir o cargo de Barbosa foram descartados por interlocutores de Mantega. Ele continuará à frente do Tesouro e como interlocutor privilegiado de Dilma — já é dado como certo na equipe da campanha da reeleição.
 
Nelson Barbosa foi levado por Mantega, em 2003, para o Ministério do Planejamento, e na Fazenda ocupou outros postos importantes antes de ser alçado a secretário executivo. Em defesa de mais investimentos públicos para conter os efeitos da crise econômica, o chamado efeito anticíclico, ele se destacou no auge da crise de 2009 ao apresentar várias medidas adotadas pelo Banco Central para combater os efeitos das turbulências no mercado financeiro.
 
A presidente já havia sido informada do pedido de demissão de Barbosa, que, formalmente, dizia estar cansado após 10 anos no governo. Nos bastidores, porém, a informação é que a luta de poder se tornou mais intensa. “Oportunamente, o ministro Guido Mantega definirá o nome do novo secretário executivo. O atual secretário executivo adjunto, Dyogo de Oliveira, deverá assumir o cargo interinamente no lugar de Barbosa”, informou a nota da Fazenda.
 
Dos quatro secretários executivos que estão deixando o governo, Alessandro Teixeira era o com maiores chances de se tornar ministro. Já era dado como certo no cargo quando Fernando Pimentel deixar o ministério para concorrer ao governo de Minas Gerais. O maior impedimento para isso, no entanto, está na própria pasta: o ministro trabalha para destituir Teixeira do cargo.
 
O motivo seria, segundo fontes palacianas, o incômodo de Pimentel com o bom trânsito que seu secretário executivo tem junto aos grandes bancos e empresários. Por conta da disputa pelo poder, os dois têm brigado e a situação teria ficado insustentável. Apesar das pressões de Pimentel, Teixeira trabalha nos bastidores para continuar na pasta. Sua assessoria afirma que desconhece especulações sobre sua suposta saída.
 
Cursos no exterior
 
Vasconcelos e Alvarez decidiram deixar o governo para estudar no exterior. O substituto imediato de Gleisi Hoffmann na Casa Civil antecipou sua intenção à presidente Dilma em janeiro. Em reuniões palacianas, ministros já presenciaram divergências conceituais entre Vasconcelos e a titular. Ele costuma, inclusive, despachar com Dilma sem o conhecimento da ministra, o que causava ciumeiras.
 
Dilma nunca escondeu o carinho pelo assessor e o tem como de sua total confiança. Além de filho de um companheiro de luta de Dilma na época da ditadura, Vasconcelos a acompanha desde quando ela era ministra da Casa Civil. Dilma tentou demovê-lo da decisão de sair, mas não conseguiu. Ele deverá ser substituído pelo secretário executivo adjunto, Gilson Bittencourt, nome que Gleisi sempre quis para o cargo.
 
No início do ano, Alvarez informou ao ministro Paulo Bernardo (Comunicações) que estava concorrendo a um doutorado na Universidade da Pensilvânia, o que foi confirmado há um mês. Também nesta pasta, ainda que de forma mais discreta, havia divergências entre titular e o substituto imediato. Em 2011, houve uma tentativa de transferi-lo para a presidência da Telebrás, mas a repercussão negativa abortou o processo.

14 de maio de 2013
Luiza Damé, Júnia Gama e Gabriela Valente - O Globo
(Colaboraram CristianeBonfanti, Eliane Oliveira e Mônica Tavares)

"BRASIL PRECISA DE MAIS LOBÃO E DE MENOS CHICO, PROPAGANDISTA DO REGIME"

O Brasil precisa de mais Lobão, o roqueiro, e de menos Chico Buarque, o propagandista do regime
 
 

 
Não li o livro do cantor e compositor Lobão. Chama-se “Manifesto do Nada na Terra do Nunca”. Talvez não o lesse em outras circunstâncias. E não vai aqui juízo de valor nenhum. É que já cheguei à fase das releituras. “Arrogante! Reinaldo quer dizer que leu tudo ou que leu o bastante e que já está na segunda rodada…” Errado! Essa ambição, eu tinha aos 20 anos…
Aos 51, a gente descobre a absoluta incapacidade não de ler tudo o que há (isso, desde sempre, esteve fora do horizonte); a gente descobre que não terá vida o bastante para ler tudo o que quer. A menos que se seja, como Rousseau, na definição de Fernando Pessoa, um “suíço, castelão e vagabundo”, que entrega os filhos para a assistência pública. Assim, é raro, sim, que eu leia coisa nova.
Prefiro voltar às  que me escaparam nos livros que já conheço. Só por isso, então, talvez eu deixasse Lobão de lado. AGORA EU VOU LER. Chegam-me links de críticas de tal sorte cretinas a seu livro, com tal dose de violência, de preconceito, de burrice, de vigarice, de fascismo mesmo, que vou ler, sim! Não sei o que ele diz lá. Talvez eu discorde de um monte de coisa. É provável que sim!
O que eu sei é que alguns patrulheiros — muitos deles compõem a súcia de vagabundos e preguiçosos sustentada por estatais — resolveram deixar o livro de lado para atacar o autor.
 
“Ah, mas também, onde já se viu falar aquilo de Chico Buarque?…” Pois é. Eu defendo que as pessoas façam uma livre apreciação até sobre Jesus Cristo. O Chico Jabuti estaria um degrau acima do Salvador? Eu sei a patrulha de que fui alvo quando afirmei que Niemeyer era metade gênio (o arquiteto) e metade idiota (o comunista de butique). E olhem que alguns amigos meus protestaram.
Há quem considere o arquiteto ainda pior do que o “pensador” porque preso a uma visão stalinista do homem, da cultura e da arquitetura. Parecia que eu tinha roubado o pirulito da boca de uma criança pobre… Assim, vou ler o livro de Lobão. Agora eu considero que isso é um ato de resistência aos fascistas do estatismo.
 
Hoje, no Globo, o economista Rodrigo Constantino, que também não tem medo de comprar briga, escreve um artigo intitulado “Mais Lobão e menos Chico Buarque”. Assino embaixo. Segue a íntegra.
Não se trata de uma apreciação estética, de uma valoração da obra de cada um — porque aí se mergulha nas dissensões de gosto. Esse é outro debate. Trata-se de reconhecer que o Brasil contemporâneo é carente de vozes que contestem o poder e o establishment. Já há artistas demais na fila para tocar instrumentos de sopro para o governo. Falta quem toque guitarra, violino, violoncelo… Segue o artigo de Constantino.
 
*
A bundamolice comportamental, a flacidez filosófica e a mediocridade nacionalista se espraiam hegemônicas. Todo mundo aqui almeja ser funcionário público, militante de partido, intelectual subvencionado pelo governo ou celebridade de televisão, amigo. É o músico Lobão com livro novo na área. Trata-se de Manifesto do Nada na Terra do Nunca, e sua metralhadora giratória não poupa quase ninguém.
 
Polêmico, sim. Irreverente, sem dúvida. Mas necessário. As críticas de Lobão merecem ser debatidas com atenção e, de preferência, isenção. O próprio cantor sabia que a patrulha de esquerda viria com tudo. Não deu outra: fizeram o que sabem fazer, que é desqualificar o mensageiro com ataques pessoais chulos, com rótulos como reacionário ou roqueiro decadente. Fogem do debate.
 
Lobão tem coragem de remar contra a maré vermelha, ao contrário da esquerda caviar, a turma radical chic descrita por Tom Wolfe, que vive em coberturas caríssimas, enxerga-se como moralmente superior, e defende o que há de pior na humanidade. No tempo de Wolfe eram os criminosos racistas dos Panteras Negras os alvos de elogios; hoje são os invasores do MST, os corruptos do PT ou ditadores sanguinários comunistas.
 
O roqueiro rejeita essa típica visão brasileira de vitimização das minorias, de culpar o sistema por crimes individuais, de olhar para o governo como um messias salvador para todos os males. A ideia romântica do Bom Selvagem de Rousseau, tão encantadora para uma elite culpada, é totalmente rechaçada por Lobão.
 
Compare isso às letras de Chico Buarque, ícone dessa esquerda festiva, sempre enaltecendo os humildes: o pivete, a prostituta, os sem-terra. A retórica sensacionalista, a preocupação com a imagem perante o grande público, a sensação de pertencer ao seleto grupo da Beautiful People são mais importantes, para essas pessoas, do que os resultados concretos de suas ideias.
 
Vide Cuba. Como alguém ainda pode elogiar a mais longa e assassina ditadura do continente, que espalhou apenas miséria, sangue e escravidão pela ilha caribenha? Lobão, sem medo de ofender os intelectuais influentes, coloca os pingos nos is e chama Che Guevara pelos nomes adequados: facínora, racista, homofóbico e psicopata. Quem pode negar? Ninguém. Por isso preferem desqualificar quem diz a verdade.
 
Lobão, que já foi cabo eleitoral do PT, não esconde seu passado negro, não opta pelo silêncio constrangedor após o mensalão e tantos outros escândalos. Prefere assumir sua imbecilidade, como ele mesmo diz, e mudar. A fraude que é o PT, outrora visto como bastião da ética por muitos ingênuos, já ficou evidente demais para ser ignorada ou negada. Compare essa postura com a cumplicidade dos intelectuais e artistas, cuja indignação sempre foi bastante seletiva.
 
Outra área sensível ao autor é a Lei Rouanet, totalmente deturpada. Se a intenção era ajudar gente no começo da carreira, hoje ela se transformou em bolsa artista para músicos já famosos e estabelecidos, muitos engajados na política. Lobão relata que recusou um projeto aprovado para uma turnê sua, pois ele já é conhecido e não precisava da ajuda do governo. Compare isso aos ícones da MPB que recebem polpudas verbas estatais, ou que colocam parentes em ministérios, em uma nefasta simbiose prejudicial à independência artística.
 
O nacionalismo, o ufanismo boboca, que une gente da direita e da esquerda no Brasil, também é duramente condenado pelo escritor. Quem pode esquecer a patética passeata contra a guitarra elétrica que os dinossauros da MPB realizaram no passado? Complexo de vira-latas, que baba de inveja do império estadunidense. Dessa patologia antiamericana, tão comum na classe artística nacional, Lobão não sofre. O rock, tal como o conhecimento, é universal. Multiculturalismo é coisa de segregacionista arrogante.
 
No país do carnaval, futebol e novelas, onde reina a paralisia cerebral, a mesmice, o conformismo com a mediocridade, a voz rebelde de Lobão é uma rajada de ar fresco que respiramos na asfixia do politicamente correto, sob a patrulha de esquerdistas que idolatram Chico Buarque e companhia não só pela música.
 
Em um país de sonâmbulos, anestesiados com uma prosperidade ilusória e insustentável; em um país repleto de gente em busca de esmolas e privilégios estatais; em um país sem oposição, onde até mesmo Guilherme Afif Domingos, que já foi ícone da alternativa liberal, rendeu-se aos encantos do poder; o protesto de Lobão é mais do que bem-vindo: ele é necessário. Precisamos de mais Lobão, e menos Chico Buarque.
 
14 de maio de 2013
Blog Reinaldo Azevedo - Veja Online