Reaça é corruptela para reacionário; em síntese, o sujeito que não concorda com a mudança das coisas – por meio ou não de “revoluções”. O reaça, portanto, pretende “deixar tudo como está” e REAGEM em face daqueles que “são contra tudo que está aí”.
Não tem nada a ver com direita, esquerda, socialismo ou capitalismo. Nem com este ou aquele partido. Reacionários querem deixar tudo assim, revolucionários querem mudar. São denominações redutoras, mas no Brasil não há mesmo muita sofisticação ideológica (tanto menos partidária) – mas os que geralmente usam o termo, como se sabe, não são dados a muita sofisticação teórica (e esses conceitos nível rudimentar de raciocínio).
Vejam, por exemplo, as atuais marchas contra a corrupção. Ao mesmo tempo em que revelam um pessoal a fim de mudar, também mostram, colateralmente, todos os partidários da manutenção das coisas. Não que sejam (todos) “a favor da corrupção”, mas também não aceitam questionamentos ao atual governo. É isso.
Há várias teses circulando na praça, e acho mais eficientes as jocosas, afinal, sempre dá certo descredenciar as coisas pelo humor. O problema é quando esses neo-reaças se levam MUITO a sério e começam a teorizar de verdade. Saia de baixo, amigo!
Um disse que isso não faz sentido, pois lutar contra a corrupção é uma demanda óbvia. Entenderam? Nem eu. Afinal, faz TODO O SENTIDO DO MUNDO num cenário em que corruptos e corruptores aprontam das suas e nada acontece. E dizer que “sempre foi assim” só acentua a idiotice do reaça dos novos tempos.
Alguns partem para aqueles moinhos de vento ideológicos, alegando que tais marchas são coisa da “grande mídia”, das “oligarquias” etc. Por não ser piada proposital, perde pontos na hora de convencer o interlocutor minimamente acostumado com a lógica, e o efeito humorístico se dá de forma indireta.
Ah, sim! Quase esqueço dos que questionam a SITUAÇÃO FINANCEIRA de quem sai para protestar. Pelas fotos que vi, não identifiquei ninguém que tenha recebido mais repasses federais que a UNE, por exemplo. Até 2009, os reaças da escolinha levaram quase R$ 5 milhões do governo federal; não são pobres, portanto.
Isso vale também para centrais sindicais e até mesmo blogueiros progressistas ligados ao governo. A reaçagem atual os autoriza – como a UNE – a falar em nome dos mais fracos, mas a verdade é que alguns já receberam seus milhões recebidos da administração federal.
Aí entra o raciocínio safado (nem todos são burros, existe a turma da má-fé): como não tem sindicatos, UNE ou progressistas-de-carteirinha (governamental), então os protestos são “de gente rica”. É mole?
Com oito anos já completos e a perspectiva de mais quatro no poder, não faz sentido que PT e petistas ainda façam papel de coitadinhos, pois não são. E, sim, há corrupção no Governo Federal, as marchas ou passeatas ou atos ou manifestações são todas contra isso.
Dê cá um abraço, meu amigo!
Você é a favor do governo ou contra-quem-é-contra? Então você é reaça, lide com isso. E capriche nas piadas, claro. É o que mais dá certo. Evidentemente, não cai bem quando tiram sarro de nariz de palhaço (eu também acho cafona), mas aplaudem ou ao menos endossam o camarada que ficou famoso por sair com mais 3 pessoas e um megafone pra falar contra a ~mídia má~.
Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
REFORMA POLÍTICA: EXEMPLO DO MAL QUE FAZ A POLITICAGEM
Entre a armação e a omissão
Querem um exemplo de politicagem que contribui para fazer esmorecer a crença dos cidadãos? Vejam a miséria que os petistas, sob o comando de Lula e José Dirceu, fizeram com a proposta de reforma política.
É evidente que ela é necessária ao país. Boa parte das barbaridades que existem no Congresso e mesmo no Poder Executivo deriva do sistema que temos.
O que fez, no entanto, Henrique Fontana (PT-RS), o relator, inspirado pelo Apedeuta e pelo “chefe de quadrilha”? Um texto com o propósito de eternizar no comando o seu próprio partido. Ele mandou o país e o futuro às favas e criou uma armadilha cartorial com o fito exclusivo de ampliar o poder do PT.
Os tucanos poderiam, de modo organizado, ter contestado a armação, propondo, então, um caminho alternativo. Na prática, o partido ignorou solenemente a questão. O único que se manifestou, abrindo, inclusive, um debate com Fontana em seu blog, foi José Serra.
Sim, ele é presidente do Conselho Político do PSDB, mas, claramente, falava em nome pessoal, não do partido. Ao contrário até: Serra tentou levar o tema do voto distrital para os seus pares e foi, digamos assim, desestimulado. Afinal, o PSDB já está em 2014, né?, sabem como é… Nunca é cedo demais para antecipar uma derrota…
O texto de Fontana acabou sendo bombardeado pelo PMDB, que, por sua vez, quer outra reforma, tão ruim quanto a do PT, mas diferente porque o privilegia…
Ora, não venham cobrar dos brasileiros indignados com as armações de uns e as omissões de outros que se comportem como cientistas sociais… As marchas não querem acabar com políticos. Querem que eles sejam responsáveis.
Por Reinaldo Azevedo
VAI PRA CASA, BATTISTI! SUA CASA É UMA CADEIA NA ITÁLIA
Como vocês já devem ter visto, a Folha informa que o Ministério Público Federal no DF pede, em uma ação civil pública, a anulação da concessão do visto de permanência no Brasil ao terrorista italiano Cesare Battisti e a sua consequente deportação. O caso será julgado pela 20ª Vara Federal. Segundo o procurador Hélio Heringer, o STF (Supremo Tribunal Federal) concluiu que os delitos cometidos pelo italiano têm natureza comum, e não política. São, portanto, passíveis de extradição, segundo a Constituição brasileira.
A Procuradoria alega que o ato de concessão do visto ao italiano é ilegal e contraria “expressamente” o Estatuto do Estrangeiro –de acordo com a lei, é proibida a concessão de visto a estrangeiro condenado ou processado em outro país por crime doloso, passível de extradição segundo a lei brasileira.
Comento
São tantos os absurdos e tão clamorosos que cercam esse caso que, às vezes, o óbvio acaba ignorado — e o óbvio, muito bem lembrado pelo procurador Hélio Heringer, é que o Estatuto do Estrangeiro proíbe a concessão de asilo a um condenado por crime comum.
É bem verdade que Tarso Genro, o poeta da mão cheia, então ministro da Justiça, tentou descaracterizar o julgamento feito na Itália; decidiu ser corte revisora da Justiça italiana.
Ocorre que o Brasil não tem essa competência. A concessão do refúgio, pois, nasce de uma ilegalidade.
Heringer está de parabéns por ficar atento à lei, que é, seria desnecessário dizer, uma obrigação também do Supremo. Lembre-se ainda que o Tribunal decidiu que a concessão ou não de asilo é uma prerrogativa do presidente, mas ATENÇÃO: a ele cabia decidir segundo o Tratado de Extradição; não foi o que fez o Apedeuta. Ora, que se saiba, um Presidente da República não exerce soberania sobre às leis, e sim as leis sobre o Presidente da República.
Vai pra casa, Battisti! Sua casa é uma cadeia na Itália.
Reinaldo Azevedo
CONTRA A CORRUPÇÃO: SEM SINDICATOS, PARTIDOS OU ASSOCIAÇÕES, MAS COM GRANDE APOIO VIRTUAL
O Bom Dia Brasil de hoje lembrou bem: as manifestações contra a corrupção de ontem não tiveram participação de partidos políticos, de sindicatos ou de associações estudantis. E eu acrescento: a imprensa também não deu nenhum apoio, e até mesmo a igreja católica que, através da CNBB declarou apoio às manifestações, só o fez aos 45 minutos do segundo tempo – pegou mais carona que deu apoio.
É bom que se diga que tão importantes quanto a rua, são as pessoas espalhadas por todo o país, que pelos mais diversos motivos não podem ir aos locais programados, mas que agora fazem parte de uma sociedade em rede.
Ontem, enquanto trinta mil se espalhavam pelas avenidas, talvez milhões estivessem na mesma batalha e no apoio virtual irrestrito, que vai continuar hoje, amanhã e sempre.
Tem que continuar.
Por Ricardo Froes
PETRALHA QUER ACABAR COM AS MARCHAS, COM CENSURA NA REDE
Petralha com piti quer censura na rede para acabar com as marchas e ainda propõe trocar ministro
Davis Sena Filho, jornalista que foi assessor de imprensa em sindicatos (tá explicado), em um acesso de nervos destila seu ódio, no Blog da Dilma (em que outro lugar?), a nós, que queremos o fim da corrupção.
Para isso é preciso, em primeiro lugar, apoiar a roubalheira vigente – e ele apoia – e depois, para completar a sem-vergonhice, pedir a censura na internet – e ele pede.
Leiam partes do “poema” em prosa:
Não se via negros e nem pobres nas marchas. Não houve a participação de movimentos sociais, sindicatos, associações, estudantes e de trabalhadores rurais. São marchas promovidas pela internet por eleitores conservadores, de direita e que detestam os trabalhistas no poder.
Alexandre Garcia, porta-voz da ditadura militar, de forma ufana, anuncia que a marcha não tem a participação dos estudantes da UNE, de sindicatos e de políticos. E completa sua sandice com uma total falta de senso crítico: “É um movimento realizado pela internet, espontâneo...” Não sei se ele é burro ou muito burro, porque ele elogia um movimento que não tem identidade.
Está mais do que na hora de o ministro das Comunicações Paulo Bernardo colocar a mão na massa e realizar a Confecom II e assim chamar a sociedade para o debate. Se ele ficar parado como está considero que é melhor trocar de ministro. Não podemos ficar na mão de uma imprensa direitista, empresarial, rica e poderosa, de passado golpista.
Pela efetivação de um marco regulatório para o setor de comunicação já!
Por Ricardo Froes
O ROMBO DA EDUCAÇÃO
O rombo da educação é o cabide de empregos de 46 bilhões de reais
Há uns dois meses, quis descobrir o total de funcionários do setor da educação no Brasil. O número de professores é bem conhecido dos pesquisadores, pois está na casa dos 2 milhões há alguns anos, mas não sabia quantos seriam os funcionários do setor que não são docentes.
Tenho um verdadeiro arsenal de dados estatísticos sobre a educação brasileira e internacional. Procurei em todos, inclusive em algumas sinopses estatísticas da educação básica, que são arquivos com mais de 200 planilhas, que informam até quantas turmas do ensino fundamental com menos de 4 horas/aula por dia há no Acre.
Mas o número de funcionários não aparece em nem um único documento. Não está disponível para consulta em lugar algum. Fiz então uma consulta direta ao Inep, órgão do MEC responsável por avaliações e estatísticas. A resposta solícita veio no mesmo dia: incluindo professores, são mais de 5 milhões de funcionários na área da educação no Brasil, pouco mais de 4 milhões deles na rede pública.
Fiquei embasbacado com esse dado. Não apenas pelo gigantismo do número total – seus 5 milhões de membros fazem com que essa seja a quarta maior categoria profissional do Brasil, atrás apenas dos agricultores, vendedores e domésticas –, mas especialmente pelo fato de termos 3 milhões de funcionários longe da sala de aula, um número 50% maior do que o de professores.
Imaginei que essa relação entre funcionários e professores seria menor em países com sistemas de educação mais eficientes. Dito e feito, até em um nível maior do que eu imaginara. Segundo os dados mais recentes do Education at a Glance, levantamento feito pela OCDE (disponível em twitter.com/gioschpe), a relação entre funcionários e professores em seus países-membros é de 0,43.
No Brasil, falando apenas do setor público, essa relação é de 1,48. Ou seja, enquanto lá há um funcionário para cada dois professores, aqui a relação é quase três vezes e meia maior. Isso significa que, se o Brasil tivesse a mesma relação professor/funcionário dos países desenvolvidos, haveria 706000 funcionários públicos no setor, em vez dos 2,4 milhões que temos.
Como é difícil imaginar que precisemos de mais funcionários que as bem-sucedidas escolas dos países desenvolvidos, isso faz com que tenhamos 1,7 milhão de pessoas excedentes no sistema educacional, recebendo todo mês salários que vêm do nosso bolso. S
e presumirmos que os funcionários recebem o mesmo salário médio que os professores (infelizmente não há dados oficiais a respeito do país todo, mas a conversa com alguns secretários da Educação me sugere que essa é uma hipótese válida), isso significa um desperdício de inacreditáveis 46 bilhões de reais, ou 1,3% do PIB, todo ano, o que certamente é mais do que todos os escândalos de corrupção da última década somados.
É simples chegar a esse número: basta saber quanto o Brasil investe em educação por ano e que porcentagem disso é investida em folha salarial. Ambos os dados estão disponíveis no Education at a Glance, e o cálculo completo está disponível no meu Twitter.
A importância desse dado, porém, vai muito além da simples montanha de recursos que são desperdiçados. Ele ajuda a explicar algo ainda mais importante para o futuro do Brasil: a razão pela qual nossa educação vai tão mal.
O primeiro fator impactado por essa gastança é o salário do professor. Esse dado explica como o Brasil pode, ao mesmo tempo, investir tanto em educação e ter professores tão insatisfeitos com o seu rendimento. (A propósito, cruzando os dados da OCDE com o PIB brasileiro, o salário médio mensal do professor na rede pública é de 2262 reais. Cuidado com os discursos do pessoal que fala do “salário de fome”.) Se se demitissem os funcionários excedentes e o salário deles fosse transferido aos professores, a remuneração destes aumentaria 73%, para 3906 reais mensais.
O segundo impacto é o poder político desse grupo. Se já seria difícil a algum político ir contra a vontade dos 2 milhões de professores, o que dizer então de um grupo que, na verdade, tem 5 milhões de membros, a grande maioria sindicalizada e politizada?
Não é de espantar que os políticos dispostos a encarar a briga com a categoria tenham sido invariavelmente derrotados. Não é de espantar, também, que a categoria consiga fazer greves tão volumosas e barulhentas.
A terceira realidade claramente descortinada por esses dados é a utilização política do setor de educação. Não é possível chegar a esse nível sem que haja um esforço deliberado de contratações desnecessárias. Contratações que só ocorrem porque os profissionais da educação são frequentemente utilizados como instrumento político de seus padrinhos. Muitos viram simples massa de manobra e fonte de votos, outros – especialmente nos cargos de direção e supervisão regional – acabam se tornando verdadeiros cabos eleitorais de lideranças regionais.
A quarta conclusão é ainda mais séria. Ela diz respeito à relação entre gastos com educação e a qualidade do ensino ministrado.
A maioria dos estudos sobre o tema demonstra não haver relação significativa entre o volume de recursos gastos em educação e a qualidade do ensino.
No Brasil, onde a maior parte do gasto é canalizada para aumentar o número de profissionais na rede e dar melhor remuneração àqueles que já estão nela, não é de surpreender que o constante aumento de gastos no setor nos últimos dez anos tenha sido acompanhado de estagnação.
Os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) foram piores em 2007, último ano disponível, do que em 1997. Se já é difícil promover melhorias nos países em que o recurso é bem aplicado, imagine no Brasil, onde o dinheiro financia um gigantesco cabide de empregos.
O mais desalentador é que, em meio a tão contundentes evidências de que o aumento dos investimentos não tem trazido resultados na melhoria do aprendizado dos alunos, testemunhamos a todo momento a patética pregação para aumentar o valor investido em educação dos atuais 5% do PIB para 7% (o que já seria um fenomenal aumento de 40%, ou 73 bilhões de reais por ano, em valores de 2010).
Não ocorre a ninguém que custa pouco o que realmente melhora o ensino: reformular os cursos universitários de formação de professores, profissionalizar a gestão das escolas, adotar um currículo nacional, permitir a criação de novas modalidades no ensino médio, melhorar o material didático e cobrar a utilização de práticas de sala de aula comprovadamente eficazes.
É preciso disposição para encarar as tarefas que exigem trabalho e coragem para enfrentar as resistências corporativas.
Mas sobre isso os bravos gastadores de plantão não querem nem ouvir falar. Não dá voto.
Não sei exatamente como se sentiram os passageiros do Titanic que ouviam a orquestra a tocar enquanto o navio fazia água, mas suspeito que a minha estupefação e desalento sejam parecidos com o sentimento deles. Com a agravante de que, cada vez que compro algo ou pago impostos, estou financiando o iceberg.
Gustavo Ioschpe
Fonte: revista “VEJA”
Há uns dois meses, quis descobrir o total de funcionários do setor da educação no Brasil. O número de professores é bem conhecido dos pesquisadores, pois está na casa dos 2 milhões há alguns anos, mas não sabia quantos seriam os funcionários do setor que não são docentes.
Tenho um verdadeiro arsenal de dados estatísticos sobre a educação brasileira e internacional. Procurei em todos, inclusive em algumas sinopses estatísticas da educação básica, que são arquivos com mais de 200 planilhas, que informam até quantas turmas do ensino fundamental com menos de 4 horas/aula por dia há no Acre.
Mas o número de funcionários não aparece em nem um único documento. Não está disponível para consulta em lugar algum. Fiz então uma consulta direta ao Inep, órgão do MEC responsável por avaliações e estatísticas. A resposta solícita veio no mesmo dia: incluindo professores, são mais de 5 milhões de funcionários na área da educação no Brasil, pouco mais de 4 milhões deles na rede pública.
Fiquei embasbacado com esse dado. Não apenas pelo gigantismo do número total – seus 5 milhões de membros fazem com que essa seja a quarta maior categoria profissional do Brasil, atrás apenas dos agricultores, vendedores e domésticas –, mas especialmente pelo fato de termos 3 milhões de funcionários longe da sala de aula, um número 50% maior do que o de professores.
Imaginei que essa relação entre funcionários e professores seria menor em países com sistemas de educação mais eficientes. Dito e feito, até em um nível maior do que eu imaginara. Segundo os dados mais recentes do Education at a Glance, levantamento feito pela OCDE (disponível em twitter.com/gioschpe), a relação entre funcionários e professores em seus países-membros é de 0,43.
No Brasil, falando apenas do setor público, essa relação é de 1,48. Ou seja, enquanto lá há um funcionário para cada dois professores, aqui a relação é quase três vezes e meia maior. Isso significa que, se o Brasil tivesse a mesma relação professor/funcionário dos países desenvolvidos, haveria 706000 funcionários públicos no setor, em vez dos 2,4 milhões que temos.
Como é difícil imaginar que precisemos de mais funcionários que as bem-sucedidas escolas dos países desenvolvidos, isso faz com que tenhamos 1,7 milhão de pessoas excedentes no sistema educacional, recebendo todo mês salários que vêm do nosso bolso. S
e presumirmos que os funcionários recebem o mesmo salário médio que os professores (infelizmente não há dados oficiais a respeito do país todo, mas a conversa com alguns secretários da Educação me sugere que essa é uma hipótese válida), isso significa um desperdício de inacreditáveis 46 bilhões de reais, ou 1,3% do PIB, todo ano, o que certamente é mais do que todos os escândalos de corrupção da última década somados.
É simples chegar a esse número: basta saber quanto o Brasil investe em educação por ano e que porcentagem disso é investida em folha salarial. Ambos os dados estão disponíveis no Education at a Glance, e o cálculo completo está disponível no meu Twitter.
A importância desse dado, porém, vai muito além da simples montanha de recursos que são desperdiçados. Ele ajuda a explicar algo ainda mais importante para o futuro do Brasil: a razão pela qual nossa educação vai tão mal.
O primeiro fator impactado por essa gastança é o salário do professor. Esse dado explica como o Brasil pode, ao mesmo tempo, investir tanto em educação e ter professores tão insatisfeitos com o seu rendimento. (A propósito, cruzando os dados da OCDE com o PIB brasileiro, o salário médio mensal do professor na rede pública é de 2262 reais. Cuidado com os discursos do pessoal que fala do “salário de fome”.) Se se demitissem os funcionários excedentes e o salário deles fosse transferido aos professores, a remuneração destes aumentaria 73%, para 3906 reais mensais.
O segundo impacto é o poder político desse grupo. Se já seria difícil a algum político ir contra a vontade dos 2 milhões de professores, o que dizer então de um grupo que, na verdade, tem 5 milhões de membros, a grande maioria sindicalizada e politizada?
Não é de espantar que os políticos dispostos a encarar a briga com a categoria tenham sido invariavelmente derrotados. Não é de espantar, também, que a categoria consiga fazer greves tão volumosas e barulhentas.
A terceira realidade claramente descortinada por esses dados é a utilização política do setor de educação. Não é possível chegar a esse nível sem que haja um esforço deliberado de contratações desnecessárias. Contratações que só ocorrem porque os profissionais da educação são frequentemente utilizados como instrumento político de seus padrinhos. Muitos viram simples massa de manobra e fonte de votos, outros – especialmente nos cargos de direção e supervisão regional – acabam se tornando verdadeiros cabos eleitorais de lideranças regionais.
A quarta conclusão é ainda mais séria. Ela diz respeito à relação entre gastos com educação e a qualidade do ensino ministrado.
A maioria dos estudos sobre o tema demonstra não haver relação significativa entre o volume de recursos gastos em educação e a qualidade do ensino.
No Brasil, onde a maior parte do gasto é canalizada para aumentar o número de profissionais na rede e dar melhor remuneração àqueles que já estão nela, não é de surpreender que o constante aumento de gastos no setor nos últimos dez anos tenha sido acompanhado de estagnação.
Os resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) foram piores em 2007, último ano disponível, do que em 1997. Se já é difícil promover melhorias nos países em que o recurso é bem aplicado, imagine no Brasil, onde o dinheiro financia um gigantesco cabide de empregos.
O mais desalentador é que, em meio a tão contundentes evidências de que o aumento dos investimentos não tem trazido resultados na melhoria do aprendizado dos alunos, testemunhamos a todo momento a patética pregação para aumentar o valor investido em educação dos atuais 5% do PIB para 7% (o que já seria um fenomenal aumento de 40%, ou 73 bilhões de reais por ano, em valores de 2010).
Não ocorre a ninguém que custa pouco o que realmente melhora o ensino: reformular os cursos universitários de formação de professores, profissionalizar a gestão das escolas, adotar um currículo nacional, permitir a criação de novas modalidades no ensino médio, melhorar o material didático e cobrar a utilização de práticas de sala de aula comprovadamente eficazes.
É preciso disposição para encarar as tarefas que exigem trabalho e coragem para enfrentar as resistências corporativas.
Mas sobre isso os bravos gastadores de plantão não querem nem ouvir falar. Não dá voto.
Não sei exatamente como se sentiram os passageiros do Titanic que ouviam a orquestra a tocar enquanto o navio fazia água, mas suspeito que a minha estupefação e desalento sejam parecidos com o sentimento deles. Com a agravante de que, cada vez que compro algo ou pago impostos, estou financiando o iceberg.
Gustavo Ioschpe
Fonte: revista “VEJA”
A REFORMA POSSÍVEL
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, deu uma declaração exemplar e emblemática acerca da Lei da Ficha Limpa: “É a reforma política possível no que tange à moralidade dos costumes políticos”.
Ele se referia à Lei Complementar 135/10, que completou um ano em junho e nasceu de uma surpreendente mobilização da sociedade.
Entretanto, o STF agiu contra o interesse da cidadania, ao deixar para depois de 7 de outubro a decisão sobre a constitucionalidade da lei. Em março, o Supremo derrubou a validade da ficha limpa para as eleições 2010, mas não analisou se a norma fere a Constituição.
Para valerem, as regras eleitorais precisam estar em vigor um ano antes das eleições. É o que determina o artigo 16 da Constituição Federal ao afirmar que: “A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.”
Portanto, o correto seria a Suprema Corte ter esclarecido as questões relacionadas à lei do Ficha Limpa antes de 7 de outubro para dar transparência ao processo eleitoral de 2012. No entanto, por razões que nunca ficam límpidas nem plenamente justificadas, o STF não se manifestou. Promete que irá decidir até final do mês. Menos mal.
A Lei da Ficha Limpa proíbe a candidatura de políticos que foram condenados em decisões colegiadas de segunda instância. Com mais de 60 ações questionando a validade da lei, dois pontos considerados polêmicos precisam ficar claros.
O primeiro diz respeito à retroatividade da aplicação da lei para políticos que já exercem mandato. O argumento é que uma lei não pode retroagir para prejudicar.
Os defensores da Lei do Ficha Limpa dizem que, na verdade, ela não está prejudicando, mas apenas incluindo novos critérios de inelegibilidade.
O segundo ponto é elucidar se ela não fere o princípio da presunção de inocência, uma vez que, em tese, condenados em segunda instância podem ser absolvidos em última instância. Sabe-se, porém, que a Justiça brasileira permite inúmeros recursos protelatórios e muitos crimes acabam prescrevendo.
Apesar da torcida da sociedade, que deseja impor barreiras aos políticos de ficha suja, a questão é juridicamente complexa e politicamente sensível.
Luiz Fux, ministro relator de uma das ações sobre o tema no STF, prometeu emitir um juízo até o final de outubro. Fux foi contundente ao afirmar que seu julgamento – na ação impetrada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sobre a validade da lei – vai dirimir todas as dúvidas existentes. Inclusive acerca das condenações anteriores à sua vigência.
Difícil acreditar que os demais ministros não peçam vista, empurrando a decisão para o fim do ano ou para 2012. Esperamos que não. Para o bem de todos, o alcance e a validade da Lei da Ficha Limpa devem ser esclarecidos o quanto antes.
Pois, considerando o desinteresse e a omissão do Congresso com a reforma política, a Ficha Limpa é a única mudança possível no cenário de curto prazo.
Murillo de Aragão
Brasil Econômico, 11/10/2011
Ele se referia à Lei Complementar 135/10, que completou um ano em junho e nasceu de uma surpreendente mobilização da sociedade.
Entretanto, o STF agiu contra o interesse da cidadania, ao deixar para depois de 7 de outubro a decisão sobre a constitucionalidade da lei. Em março, o Supremo derrubou a validade da ficha limpa para as eleições 2010, mas não analisou se a norma fere a Constituição.
Para valerem, as regras eleitorais precisam estar em vigor um ano antes das eleições. É o que determina o artigo 16 da Constituição Federal ao afirmar que: “A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.”
Portanto, o correto seria a Suprema Corte ter esclarecido as questões relacionadas à lei do Ficha Limpa antes de 7 de outubro para dar transparência ao processo eleitoral de 2012. No entanto, por razões que nunca ficam límpidas nem plenamente justificadas, o STF não se manifestou. Promete que irá decidir até final do mês. Menos mal.
A Lei da Ficha Limpa proíbe a candidatura de políticos que foram condenados em decisões colegiadas de segunda instância. Com mais de 60 ações questionando a validade da lei, dois pontos considerados polêmicos precisam ficar claros.
O primeiro diz respeito à retroatividade da aplicação da lei para políticos que já exercem mandato. O argumento é que uma lei não pode retroagir para prejudicar.
Os defensores da Lei do Ficha Limpa dizem que, na verdade, ela não está prejudicando, mas apenas incluindo novos critérios de inelegibilidade.
O segundo ponto é elucidar se ela não fere o princípio da presunção de inocência, uma vez que, em tese, condenados em segunda instância podem ser absolvidos em última instância. Sabe-se, porém, que a Justiça brasileira permite inúmeros recursos protelatórios e muitos crimes acabam prescrevendo.
Apesar da torcida da sociedade, que deseja impor barreiras aos políticos de ficha suja, a questão é juridicamente complexa e politicamente sensível.
Luiz Fux, ministro relator de uma das ações sobre o tema no STF, prometeu emitir um juízo até o final de outubro. Fux foi contundente ao afirmar que seu julgamento – na ação impetrada pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sobre a validade da lei – vai dirimir todas as dúvidas existentes. Inclusive acerca das condenações anteriores à sua vigência.
Difícil acreditar que os demais ministros não peçam vista, empurrando a decisão para o fim do ano ou para 2012. Esperamos que não. Para o bem de todos, o alcance e a validade da Lei da Ficha Limpa devem ser esclarecidos o quanto antes.
Pois, considerando o desinteresse e a omissão do Congresso com a reforma política, a Ficha Limpa é a única mudança possível no cenário de curto prazo.
Murillo de Aragão
Brasil Econômico, 11/10/2011
O QUE HÁ NUMA ESCRITA?
A todos nós foi dada a capacidade de falar. E a alguns a de escrever essa forma admirável de pensar. Nela, falamos sem produzir sons, mas desenhando símbolos. O lado de dentro importa mais do que o de fora. É normal escrever para si mesmo já o falar nos leva a um hospício. Na fala e na escrita há ouvintes e leitores, mas na fala o interlocutor deve estar presente, pois as palavras exigem o outro. Já na escrita, é preciso desenrolar o pergaminho, abrir o livro ou a carta para ouvir o seu autor (ou autores) e descobrir o seu espírito e as suas intenções. Ou imaginar o eventual leitor. Num caso, o som tem parentesco com o barulho e o caos; no outro, há aquele silêncio que é a marca maior do ato de escrever – essa nobre, essa soberana, essa orgulhosa e altruística ação que só nós, humanos, conhecemos, pois o escrever fica, mas o falar passa…
* * *
Nesta semana rotineira com correios e bancos em greve, fico fascinado com a novidade de que o universo se expande – tal como o capitalismo chinês – em alta velocidade. Os chamados astrofísicos são mitômanos levados a sério, enquanto os do cinema e da televisão são jogados no lixão dessa nossa “baixa-modernidade”, como me ensinou o Eduardo Portella. No caso dos astrofísicos, impressiona-me a sua obsessão com as origens do universo, algo que eles compartilham com os modestos pensadores tribais, os quais são parte de minha primeira vida como etnólogo, quando eu corria atrás de índios nas fronteiras de um Brasil que ainda não tinha conseguido morder o próprio rabo.
Ouvi, transcrevi e li à exaustão mitos de origem. Aliás, a mais celebrada teoria do mito – a do consagrado Claude Lévi-Strauss -, escrita no início dos anos 50 e desenvolvida na sua fabulosa tetralogia intitulada Mytologiques (publicada entre 1964 e 1971), os mitos existem para responder a perguntas sem resposta. Por que o mundo foi inventado? De onde veio a humanidade com a sua moral e os seus meios de sobrevivência? Como foi que os animais se distinguiram dos homens? Por que são necessários dois seres humanos para fazer um? De onde veio a morte se no início dos tempos a humanidade era tão imortal quanto os membros da Academia Brasileira de Letras?
Os contadores de mitos das sociedades sem escrita, sem constituição e sem cálculos complexos (até hoje estigmatizadas como “selvagens” e “primitivas”), dizem que o humano foi inventado num tempo imemorial, implantado pelas palavras de uma língua cuja origem é, por sua vez, contada num outro mito pois, conforme aprendi com Lévi-Strauss e, sorry…, com Thomas Mann, um mito pensa e remete a outro mito, tal como a música, os livros, os deuses, a poesia e o amor se pensam indefinidamente entre si. Assim, eles sabem como, mas não quando, o mundo surgiu. Já os nossos astrofísicos são mais apaixonados pelo quando do que pelo como.
Para qualquer ser humano, pensar em termos de nano-segundos é impossível, do mesmo modo que é humanamente inconcebível imaginar uma unidade temporal para além de 10 mil anos. Pois, tirando os poetas que, como diz Kundera, dizem tudo, ninguém pode ter um sentimento de milhões de anos. Só uma fórmula matemática traduz esse tempo intemporal. Mas entre a fórmula científica e a fórmula que eu ouvia de Tia Amália quando iniciava suas histórias – “Isso aconteceu no tempo que os animais falavam…”, eu acho mais razoável e – sorry novamente – até mesmo mais racional, ficar com Titia…
* * *
Fiz uma conferência e ganhei uma caneta-tinteiro. Na viagem de volta, preso na dura solidão coletiva de um avião lotado pelo duopólio aéreo instituído no lulo-petismo, escrevi o meu velho nome. Fui imediatamente remetido a Juiz de Fora e a uma humilde escola do bairro dos operários, quando a professora nos iniciou na nobre arte de escrever à tinta. Tomei contato com as penas de metal que, na ponta de um cilindro de madeira da pior qualidade (providenciada, é claro, pelo Ministério da Educação e Cultura), serviam como instrumentos de escrita depois de serem mergulhados nos frascos cheios daquele misterioso líquido azul-marinho.
A mestra explicava que escrever à tinta beirava o “eterno”. Com o lápis tudo podia ser apagado como se não tivesse existido, exatamente como as palavras faladas a serem levadas pelo vento. Mas com a tinta, esse material perigoso (e marcante) que agora teríamos que usar, as coisas ficavam. Qualquer descuido, caía um pingo no papel, manchando-o e dele tirando a pureza feita em branco; por outro lado, se a “pena” ficasse saturada, a escrita transbordava o papel. Fomos depois apresentados a um personagem importante: o mata-borrão que como um guardanapo à boa mesa, acompanhava o ato de escrever à tinta.
Escrever à tinta dá asas à fantasia de imortalidade. É a antessala do livro, do decreto, da placa de bronze e do “documento”. Pois entre nós – humanos -, a execração, o ódio, e o insulto cabem também ou até mais no papel do que na fala. A fala, sendo curta e exigindo a pessoalidade, tem mais limites do que a carta escrita com maldade e ódio, vingança e ressentimento. Ademais, a “escrita”, como os decretos e as leis, pode ser anônima ou coletiva. Pois como aprendi com aquela humilde professora, o que falamos fica na memória, mas o que foi escrito permanece. Seja como um ato de amor ou como prova de arrogância e de transtorno mental. Cuidado, dizia ela, com o que você escreve à tinta – com aquilo que, impresso, não pode ser apagado.
Roberto DaMatta
Fonte: O Estado de S. Paulo, 12/10/2011
* * *
Nesta semana rotineira com correios e bancos em greve, fico fascinado com a novidade de que o universo se expande – tal como o capitalismo chinês – em alta velocidade. Os chamados astrofísicos são mitômanos levados a sério, enquanto os do cinema e da televisão são jogados no lixão dessa nossa “baixa-modernidade”, como me ensinou o Eduardo Portella. No caso dos astrofísicos, impressiona-me a sua obsessão com as origens do universo, algo que eles compartilham com os modestos pensadores tribais, os quais são parte de minha primeira vida como etnólogo, quando eu corria atrás de índios nas fronteiras de um Brasil que ainda não tinha conseguido morder o próprio rabo.
Ouvi, transcrevi e li à exaustão mitos de origem. Aliás, a mais celebrada teoria do mito – a do consagrado Claude Lévi-Strauss -, escrita no início dos anos 50 e desenvolvida na sua fabulosa tetralogia intitulada Mytologiques (publicada entre 1964 e 1971), os mitos existem para responder a perguntas sem resposta. Por que o mundo foi inventado? De onde veio a humanidade com a sua moral e os seus meios de sobrevivência? Como foi que os animais se distinguiram dos homens? Por que são necessários dois seres humanos para fazer um? De onde veio a morte se no início dos tempos a humanidade era tão imortal quanto os membros da Academia Brasileira de Letras?
Os contadores de mitos das sociedades sem escrita, sem constituição e sem cálculos complexos (até hoje estigmatizadas como “selvagens” e “primitivas”), dizem que o humano foi inventado num tempo imemorial, implantado pelas palavras de uma língua cuja origem é, por sua vez, contada num outro mito pois, conforme aprendi com Lévi-Strauss e, sorry…, com Thomas Mann, um mito pensa e remete a outro mito, tal como a música, os livros, os deuses, a poesia e o amor se pensam indefinidamente entre si. Assim, eles sabem como, mas não quando, o mundo surgiu. Já os nossos astrofísicos são mais apaixonados pelo quando do que pelo como.
Para qualquer ser humano, pensar em termos de nano-segundos é impossível, do mesmo modo que é humanamente inconcebível imaginar uma unidade temporal para além de 10 mil anos. Pois, tirando os poetas que, como diz Kundera, dizem tudo, ninguém pode ter um sentimento de milhões de anos. Só uma fórmula matemática traduz esse tempo intemporal. Mas entre a fórmula científica e a fórmula que eu ouvia de Tia Amália quando iniciava suas histórias – “Isso aconteceu no tempo que os animais falavam…”, eu acho mais razoável e – sorry novamente – até mesmo mais racional, ficar com Titia…
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Fiz uma conferência e ganhei uma caneta-tinteiro. Na viagem de volta, preso na dura solidão coletiva de um avião lotado pelo duopólio aéreo instituído no lulo-petismo, escrevi o meu velho nome. Fui imediatamente remetido a Juiz de Fora e a uma humilde escola do bairro dos operários, quando a professora nos iniciou na nobre arte de escrever à tinta. Tomei contato com as penas de metal que, na ponta de um cilindro de madeira da pior qualidade (providenciada, é claro, pelo Ministério da Educação e Cultura), serviam como instrumentos de escrita depois de serem mergulhados nos frascos cheios daquele misterioso líquido azul-marinho.
A mestra explicava que escrever à tinta beirava o “eterno”. Com o lápis tudo podia ser apagado como se não tivesse existido, exatamente como as palavras faladas a serem levadas pelo vento. Mas com a tinta, esse material perigoso (e marcante) que agora teríamos que usar, as coisas ficavam. Qualquer descuido, caía um pingo no papel, manchando-o e dele tirando a pureza feita em branco; por outro lado, se a “pena” ficasse saturada, a escrita transbordava o papel. Fomos depois apresentados a um personagem importante: o mata-borrão que como um guardanapo à boa mesa, acompanhava o ato de escrever à tinta.
Escrever à tinta dá asas à fantasia de imortalidade. É a antessala do livro, do decreto, da placa de bronze e do “documento”. Pois entre nós – humanos -, a execração, o ódio, e o insulto cabem também ou até mais no papel do que na fala. A fala, sendo curta e exigindo a pessoalidade, tem mais limites do que a carta escrita com maldade e ódio, vingança e ressentimento. Ademais, a “escrita”, como os decretos e as leis, pode ser anônima ou coletiva. Pois como aprendi com aquela humilde professora, o que falamos fica na memória, mas o que foi escrito permanece. Seja como um ato de amor ou como prova de arrogância e de transtorno mental. Cuidado, dizia ela, com o que você escreve à tinta – com aquilo que, impresso, não pode ser apagado.
Roberto DaMatta
Fonte: O Estado de S. Paulo, 12/10/2011
NOTAS POLÍTICAS
A segunda etapa do movimento contra a corrupção
Sucesso, mesmo, obtiveram as marchas contra a corrupção, realizadas ontem em 28 cidades do país. Em algumas, mais, em outras, menos, a população compareceu para protestar diante das lambanças praticadas à sombra dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.
Propostas concretas foram apresentadas, como o fim do voto secreto no Congresso, a manutenção das prerrogativas do Conselho Nacional de Justiça e a aplicação da lei ficha-limpa em todas as eleições, a partir do próximo ano. Para não falar na necessidade de só cidadãos de reconhecida probidade e capacidade serem nomeados para ministérios e empresas públicas.
Vai tomando corpo o que nasceu apenas como grito de indignação e revolta da sociedade civil diante dos descalabros do mundo oficial. Algo como aconteceu na campanha das “diretas já”, em 1984. Mesmo com o Congresso rejeitando naquele ano a emenda Dante de Oliveira, o caudal não foi contido e até hoje votamos para presidente da República.
Mesmo que demore, parece óbvio estarem sendo obstruídos os desvios e desvãos do mau uso da coisa pública.
Importa que não pare nas estruturas oficiais essa manifestação ampla. Porque, no reverso da medalha, a corrupção é geral e irrestrita no arcabouço privado. Para que existam corruptos tornam-se necessários corruptores. Por que não atingi-los numa segunda etapa desse movimento nacional?
***
ABSURDO INOMINÁVEL
Deviam ser presos e condenados a trabalhos forçados pelo resto da vida os responsáveis pela aquisição e autorização do uso de pistolas de choque elétrico pelos funcionários do Detram do Distrito Federal. Não sendo policiais, o que torna a situação ainda pior, esses agentes logo começarão a disparar raios diabólicos sobre motoristas suspeitos de cometer infrações de trânsito em Brasília.
As pistolas paralisam por cinco segundos o cérebro dos indigitados cidadãos, ignorando-se as seqüelas daí decorrentes, a curto, médio e longo prazo. Tudo porque um veículo avançou o semáforo ou seu condutor foi flagrado dirigindo embriagado.
Como se já não bastassem as abomináveis maquininhas de gás de pimenta distribuídas a policiais encarregados de manter a ordem pública, a moda agora será imobilizar quem o Detran imaginar responsável por tumultuar o fluxo de automóveis pelas avenidas da capital federal.
Logo virão sucedâneos,ainda que ninguém pense em criar as “pistolas da honestidade”, que quando disparadas farão os corruptos confessarem suas lambanças.
***
OS MILHÕES DE DEMITIDOS
Terá sido sem querer, não por maldade ou sabotagem, que o Ministério do Trabalho acaba de colocar em frangalhos todo o aparato publicitário que vem desde o primeiro ano de governo do Lula, tentando demonstrar que quase não há desemprego no Brasil. Pelos números oficiais, entre 2007 e 2010, nada menos do que 72 milhões de trabalhadores perderam o emprego. Só no corrente ano de 2011, já foram demitidos 12 milhões.
Claro que o governo responde com respeitáveis estatísticas de criação de novos postos de trabalho, mas agora a gente não precisa mais verificar nos movimentados cruzamentos de avenidas que o desemprego desmente a propaganda.
Além da legião de infelizes vendendo óculos, panos de chão e bolas de plástico, sem contar os que simplesmente pedem esmola, agora somos informados pelo ministério do Trabalho do horror que o desemprego atinge parte dos assalariados. Porque 12 milhões de cidadãos postos na rua da amargura não é brincadeira, mesmo se parte deles encontrar novo trabalho.
Carlos Chagas
Sucesso, mesmo, obtiveram as marchas contra a corrupção, realizadas ontem em 28 cidades do país. Em algumas, mais, em outras, menos, a população compareceu para protestar diante das lambanças praticadas à sombra dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.
Propostas concretas foram apresentadas, como o fim do voto secreto no Congresso, a manutenção das prerrogativas do Conselho Nacional de Justiça e a aplicação da lei ficha-limpa em todas as eleições, a partir do próximo ano. Para não falar na necessidade de só cidadãos de reconhecida probidade e capacidade serem nomeados para ministérios e empresas públicas.
Vai tomando corpo o que nasceu apenas como grito de indignação e revolta da sociedade civil diante dos descalabros do mundo oficial. Algo como aconteceu na campanha das “diretas já”, em 1984. Mesmo com o Congresso rejeitando naquele ano a emenda Dante de Oliveira, o caudal não foi contido e até hoje votamos para presidente da República.
Mesmo que demore, parece óbvio estarem sendo obstruídos os desvios e desvãos do mau uso da coisa pública.
Importa que não pare nas estruturas oficiais essa manifestação ampla. Porque, no reverso da medalha, a corrupção é geral e irrestrita no arcabouço privado. Para que existam corruptos tornam-se necessários corruptores. Por que não atingi-los numa segunda etapa desse movimento nacional?
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ABSURDO INOMINÁVEL
Deviam ser presos e condenados a trabalhos forçados pelo resto da vida os responsáveis pela aquisição e autorização do uso de pistolas de choque elétrico pelos funcionários do Detram do Distrito Federal. Não sendo policiais, o que torna a situação ainda pior, esses agentes logo começarão a disparar raios diabólicos sobre motoristas suspeitos de cometer infrações de trânsito em Brasília.
As pistolas paralisam por cinco segundos o cérebro dos indigitados cidadãos, ignorando-se as seqüelas daí decorrentes, a curto, médio e longo prazo. Tudo porque um veículo avançou o semáforo ou seu condutor foi flagrado dirigindo embriagado.
Como se já não bastassem as abomináveis maquininhas de gás de pimenta distribuídas a policiais encarregados de manter a ordem pública, a moda agora será imobilizar quem o Detran imaginar responsável por tumultuar o fluxo de automóveis pelas avenidas da capital federal.
Logo virão sucedâneos,ainda que ninguém pense em criar as “pistolas da honestidade”, que quando disparadas farão os corruptos confessarem suas lambanças.
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OS MILHÕES DE DEMITIDOS
Terá sido sem querer, não por maldade ou sabotagem, que o Ministério do Trabalho acaba de colocar em frangalhos todo o aparato publicitário que vem desde o primeiro ano de governo do Lula, tentando demonstrar que quase não há desemprego no Brasil. Pelos números oficiais, entre 2007 e 2010, nada menos do que 72 milhões de trabalhadores perderam o emprego. Só no corrente ano de 2011, já foram demitidos 12 milhões.
Claro que o governo responde com respeitáveis estatísticas de criação de novos postos de trabalho, mas agora a gente não precisa mais verificar nos movimentados cruzamentos de avenidas que o desemprego desmente a propaganda.
Além da legião de infelizes vendendo óculos, panos de chão e bolas de plástico, sem contar os que simplesmente pedem esmola, agora somos informados pelo ministério do Trabalho do horror que o desemprego atinge parte dos assalariados. Porque 12 milhões de cidadãos postos na rua da amargura não é brincadeira, mesmo se parte deles encontrar novo trabalho.
Carlos Chagas
O PROGRAMA "BRASIL SEM MISÉRIA" E OS CATADORES DE LIXO EM BRASÍLIA
O problema vem se arrastando há anos e acontece bem no coração da capital da República, sem que as autoridades responsáveis tomem qualquer providência efetiva.
Na avenida L3 Norte, bem ao lado da Universidade de Brasília e outras instituições de ensino superior, além de igrejas, os moradores de Brasília se deparam, diariamente, com catadores de lixo, que “trabalham” sem as mínimas condições, em meio a cenas degradantes, envolvendo crianças em situação de risco, fora da escola, convivendo com bêbados, cavalos doentes, urubus, insetos e roedores e vivendo na maior promiscuidade, para fazer coleta de garrafas pet, latas, papelão e todo o tipo de material reciclável, que são recolhidos sem o mínino de critério, por pessoas que fazem do lixo a única fonte de sua sobrevivência.
Fala-se tanto em cidadania e inserção social, mas a situação dessas pessoas em Brasília é realmente degradante.
Em 3 de junho passado,matéria de Álvaro Barbosa, divulgada pela Agência Brasil,mostrava catadores de lixo acampados nas proximidades da Esplanada dos Ministérios.
A reportagem era ilustrada com fotos de Elza Fiúza, mostrando a catadora de materiais recicláveis, Maria das Dores Figueiredo e outros catadores, que sem terem para onde ir, acamparam nas proximidades da Esplanada dos Ministérios, em uma área próxima da UnB.
O fato aconteceu há muito tempo e a situação perdura até hoje.
Em 2 de junho passado, quando a presidente Dilma Rousseff realizou oficialmente o lançamento do Plano “Brasil Sem Miséria”, é que as autoridades perceberam a vizinhança, que precisa de assistência e, principalmente, de moradia digna.
Durante o lançamento do plano, a presidente Dilma Rousseff disse que o Estado precisa realizar uma “busca ativa”, para que as mais de 16 milhões de pessoas que vivem em situação de pobreza extrema não tenham que procurar os serviços públicos, mas sim, que sejam encontradas pelos governos federal, e também, estaduais e municipais.
“O Estado precisa correr atrás da miséria, para poder combatê-la de forma efetiva”, disse a presidente Dilma Rousseff.
O Plano “Brasil Sem Miséria”, que já está sendo visto por especialistas como um complemento do Programa Bolsa Família, foi lançado oficialmente em uma cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, para cerca de 800 convidados, incluindo governadores, prefeitos, e também, líderes empresarias e de movimentos sociais.
Durante a cerimônia de abertura do evento, a presidente lembrou-se dos catadores de lixo que estão acampados próximos a UNB, e disse que o Governo precisa urgentemente resolver a questão deles.
“A busca ativa muda o compromisso que temos. Não vamos esperar que os pobres corram atrás. O Estado Brasileiro é que deve correr atrás da miséria”, afirmou a presidente.
Ela lembrou ainda que o Brasil Sem Miséria “ecoa o trabalho do presidente Lula”, e comparou a iniciativa a movimentos literários como a abolição da escravatura. Segundo as informações da Assessoria de Imprensa do Palácio do Planalto, os dados que orientam o Programa “Brasil Sem Miséria” indicam que quase 60% dos extremamente pobres no país, ou seja, com renda inferior a R$ 70,00 por mês, residem nas regiões Nordeste (43%), Sul e Sudeste (21%), e Norte e Centro-Oeste (20%).
Para Dilma Rousseff, esses números ajudarão a “trazer a pobreza à pauta de todos os governos, já que a luta contra a miséria é antes de tudo um dever do Estado, mas é também de todos os brasileiros e brasileiras”.
A presidente da República aproveitou a cerimônia de lançamento do Plano “Brasil Sem Miséria”, para criticar visões do que chamou de ultrapassadas, para justificar a histórica miséria no Brasil.
Em 2010, segundo a presidente, a miscigenação e fatores climáticos foram oferecidos como motivações. “Os nossos pobres já foram acusados de tudo, inclusive de serem responsáveis pela própria pobreza. Isso tem que mudar”, concluiu Dilma Rousseff.
Mas infelizmente, até agora a situação desses trabalhadores e suas famílias encontra-se do mesmo jeito.
A população de Brasília e principalmente essas pessoas, que tanto necessitam de serem inseridas na sociedade, aguardam ansiosas a solução para o problema.
José Carlos Werneck
JUSTIÇA SECTÁRIA
Diante da reação corporativista, de primária e insustentável rebeldia de setores da Justiça contra as palavras da Corregedora Angela Calmon, em apêndice ao posicionamento do Ministro Cezar Peluso, elevaram-se vozes em vários segmentos da sociedade, e sem modulação de tom não só em apreço ao posicionamento da Corregedora, mas ainda em demostrar a mais completa indignação, desilusão por nossos Tribunais com as Excelências togadas.
Não é para menos, o desvario que se presencia na vida pública nada mais é do que a corrupção institucionalizada pela falta de justiça.
No Brasil, a política foi substituída pela corrupção institucionalizada. A contrafação na administração pública agora é organizada e até partidarizada. A pior das formas de corrupção é aquela que se presta aquiescência às demais que proporcionam qualquer dano à nação, até mesmo quando o erário público é dilapidado.
Isto nada mais é do que a prática da injustiça qualificada pela toga que a sociedade ora se insurge.
O Ministro Gilmar Mendes, durante o processo do Ficha Limpa declarou:
- “que as vezes a sociedade deve ser protegida dela própria” (pelo STF).
E quem nos protege das Cortes e suas sentenças viciadas, lambuzadas pela politicalha, trabalhadas em seus estertores pelo favorecimento às oligarquias?
Não temos verdugos a nossos préstimos; ou do affaire com o clã Sarney, quem está certo a Justiça nitidamente apadrinhada ou meses de investigação da Polícia Federal? Que exemplo deu-se a sociedade? - Uma justiça arbitrada e vergonhosamente serva do coronelismo.
A garbosidade de caráter demostrada pelo expresso corporativismo, deveria a bem da própria instituição – JUSTIÇA, ser substituída pela autocrítica e pela humildade; isto representaria muito mais apreço ao que emana do povo. Humildade é disso que estes senhores togados necessitam em substituição à galhardia rota de títulos sem glória alguma.
A glória vem do que se presta a outrem; o que prestam, em geral não tem atendido sequer mínimos padrões de moralidade à nação e que deveriam proteger.
Se houver problemas, resolvam; se em suas hostes houver quem não mereça ali continuar, expulse-os com ira exemplar, pois ao povo, em seu direito sagrado cabe justiça. Isto não é um prenuncio nem opinião desqualificada, é a visão de milhões que não creem mais nos tribunais deste país pela injustiça a que nos predispõe.
Afinal de que fileiras saíram Medina e Lalau? Este último dirigia a Comissão de Obras do imponente Fórum Trabalhista de S.Paulo, e isto mesmo depois de regiamente aposentado. Era “um trabalho voluntário” e que “ninguém desconfiava”, certamente com o beneplácito silencioso de centenas de servidores muitíssimos bem remunerados pelos cidadãos que carecem do funcionamento isento das Cortes.
Dispensável é elencar outros casos, porém nada passa sem lembrarmo-nos do mensalão. Mister citar ainda quando completa-se um ano que o Ministro do STF Antonio Toffoli pediu vistas para obstar o andamento do processo relativo ao expurgos dos planos econômicos e as perdas decorrentes nas cadernetas de poupanças. Milhões de pessoas aguardam a manifestação do STF –presidido pelo Ministro Peluso.
Toffoli, um Ministro tardinheiro, que foi assessor de José Dirceu na Casa Civil, tem nesse episódio uma marca indelével.
Quando de sua passagem pela Advocacia Geral da União, manifestou-se a favor dos Bancos, e contrário aos poupadores - motivo este mais que suficiente para declarar-se impedido de ora manifestar-se no Supremo. Ele o fez? Não! O Ministro Peluso presidente da Corte interviu? Não?
Estão fazendo justiça a quem?
Portanto a Corregedora Eliana Calmon disse o mínimo, e o que disse está correto, provavelmente apenas errou na grandeza, pois se quisesse falaria muito mais.
Que as vulgares teses corporativistas tenham ouvidos para ouvir e olhos para ver e semeiem a verdade em torno de si e de seus atos e palavras se desejarem praticar justiça e não a hipocrisia dos falsos pregadores de uma honestidade impoluta que nem ilude mais a incautos.
Oswaldo Colombo Filho
Brasil Dignidade
VERBA DA SAÚDE PAGA PISTA DE SKATE E VALE-TRANSPORTE
Recursos destinados a hospitais são usados em gastos com servidores
Enquanto se discute a criação de um imposto para substituir a CPMF, recursos do Piso Nacional da Saúde, que deveriam ser destinados ao atendimento básico da população, estão sendo usados para custear a máquina pública.
Essa verba está pagando despesas administrativas, como auxílio-transporte, planos médicos e odontológicos dos servidores da pasta, o que é proibido pelo Conselho Nacional de Saúde. O dinheiro que deveria ir para os hospitais também está financiando academias de saúde, espaços para atividades físicas espalhados pelo país, com playgrounds, quadras e rampas de skate. Com isso, assim como fazem muitos estados, o governo federal contabiliza como despesas de saúde gastos que, na verdade, deveriam ser custeados por outras áreas.
Saúde paga a conta dos outros
Verbas que faltam ao atendimento básico financiam academias e gastos de custeio
Regina Alvarez
No momento em que se discute a criação de mais um imposto para financiar a Saúde Pública, recursos destinados às despesas com o atendimento médico básico, universal e gratuito à população, em especial às parcelas de menor renda, estão sendo aplicados em outros fins. Assim como estados e municípios, que já foram acusados de maquiar os orçamentos da Saúde, o governo federal também contabiliza no Piso Nacional da Saúde despesas que deveriam ser custeadas por outras áreas e que, em alguns casos, são consideradas ilegais.
Um exemplo emblemático e questionado por especialistas são as duas mil academias de saúde que serão construídas com o mesmo dinheiro que vai para os hospitais públicos - onde pessoas ainda morrem nas filas e falta material.
O Ministério da Saúde reservou no orçamento deste ano R$143 milhões para o projeto das academias. E R$160 milhões na proposta de 2012 dentro do programa de Reestruturação da Rede de Serviços de Atenção Básica de Saúde. Até 2014, a meta é construir quatro mil academias.
Com os recursos do Piso, um orçamento que este ano soma R$71,5 bilhões, o governo federal só poderia custear despesas genuinamente de Saúde, conforme estabelecido na Emenda Constitucional 29, que definiu os gastos mínimos da União, estados e municípios com o setor.
Piso inclui despesas médicas de servidor
Outro dado que chama atenção no Orçamento da Saúde é o peso dos gastos administrativos para custear o funcionamento da máquina pública nessa área. Até setembro, já foram gastos R$ 5,4 bilhões com "apoio administrativo", a maior parte na sede do ministério, em Brasília, e nas sedes dos órgãos que estão sob o comando da pasta nos estados.
Dentro desses gastos com "apoio administrativo", estão embutidos despesas com assistência médica e odontológica aos funcionários da área e a seus dependentes (R$212,8 milhões), auxílio-alimentação (R$230 milhões), auxílio-transporte (R$50,9 milhões) e até assistência pré-escolar (R$5,9,7 milhões).
O médico Gilson Carvalho, especialista em Saúde Pública e consultor do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde, considera totalmente irregular a inclusão de despesas médicas com funcionários no piso da Saúde.
- Gastos com serviços próprios de saúde com o funcionário é um gasto, além de imoral, ilegal. Nada tenho contra a saúde dos trabalhadores, mas não posso diminuir dinheiro da saúde da população para pagar um sistema próprio de saúde para os trabalhadores. Além disso, tem resolução do Conselho Nacional de Saúde que proíbe isso - destaca o especialista.
Carvalho também considera indevido o piso constitucional custear as despesas com as academias de saúde. O programa é muito parecido com o das Praças do PAC, que tem cerca de R$300 milhões reservados no orçamento do Ministério da Cultura de 2012. Ou seja, as academias poderiam ser custeadas pelo dinheiro do PAC.
- É uma ação que entra no grupo dos condicionantes e determinantes de saúde, e não uma ação específica da Saúde. O papel da Saúde seria cobrar das outras áreas que investissem em academias, esportes e lazer para diminuir o risco de doenças - afirma Carvalho.
As academias são espaços para atividades físicas, esporte, cultura e lazer que o Ministério da Saúde pretende construir em parceria com prefeituras até 2012, com recursos do Sistema Único de Saúde (SUS).
O governo alega que as academias são uma grande contribuição para a prevenção de doenças crônicas como diabetes e hipertensão. O desenho das academias prevê construção de playgrounds, quadras poliesportivas e até rampas para skate.
Pela regra do Piso Nacional, o governo deve gastar a cada ano o equivalente ao valor empenhado (contratado) do Orçamento do ano anterior, mais a variação nominal do Produto Interno Bruto (PIB). Como não pode contingenciar os recursos do setor, o governo tem usado a caneta para transferir despesas de outras áreas para o Ministério da Saúde.
Esse é o caso das despesas com os hospitais universitários, vinculados ao Ministério da Educação e que já recebem recursos para o atendimento de pacientes do SUS em procedimentos de média e alta complexidade.
Entretanto, em 2010, decreto presidencial assinado pelo então presidente Lula determinou que as despesas desses hospitais passassem a ser divididas, meio a meio, entre os ministérios da Educação e da Saúde, para custear o programa de Reestruturação dos Hospitais Universitários. Com isso, entre 2010 e 2012 (proposta orçamentária), os recursos destinados a esse programa pelo SUS cresceram 500%, passando de R$99 milhões para R$600 milhões.
O curioso é que o próprio Lula já proibiu essa prática: em setembro de 2005, vetou artigo da Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2006 que permitia o financiamento de despesas dos hospitais universitários com recursos do SUS, alegando que isso acarretaria "diminuição dos recursos destinados ao Ministério da Saúde, colocando em risco a continuidade de ações estratégicas de atendimento à população, como o Programa de Saúde da Família".
Lula destacou no veto que a redução de recursos para a Saúde contraria o espírito norteador da emenda 29, "que prevê anualmente aumentos gradativos de recursos para as ações e serviços públicos de saúde".
O médico Gilson Carvalho destaca que o SUS já paga aos hospitais universitários pelos serviços:
- Não discuto se os hospitais universitários precisam ou não de mais recursos. Provavelmente precisam. O que sou contra, e denuncio há vários anos, é que a União tire dinheiro da Saúde para destiná-lo aos hospitais universitários como um plus.
O GLOBO - 11/10/2011
MARCHAS E ANALISTAS DA ERA ANALÓGICA
Em Brasília, um militonto do PSOL, portando uma bandeira, foi vaiado e expulso pela multidão. O senador Randolphe (PSOL-AP) tentou entrar e foi impedido, indo registtrar o fato onde? No twitter. Em São Paulo, o senador Suplicy quis subir no carro de som, mas foi impedido pelos manifestantes. É muita cara de pau.
Enquanto isso, os analistas da era analógica continuam ocupando as páginas de jornais para afirmar que as marchas são dispersas e sem objetivo definido. E, pasmem, que continuarão esparsas se nao tiverem a CUT, o PT (ou coisa que o valha), a UNE, a Igreja ou outras organizações para mobilizarem a população.
O argumento mais escroto, no entanto, é o de que a boa situação econômica do Brasil inibe os protestos. Os analistas da era analógica ainda não entenderam as passestas da era digital.
Elas unem pessoas que pelos mais diversos motivos não podem ir até os locais programados, pois estão espalhadas por todo o país, mas que agora fazem parte de uma sociedade em rede.
Os analistas da era analógica ainda pensam que as verdadeiras passeatas ocorrem nas ruas. São do tempo das diretas já, do fora Collor e do PT limpinho e cheiroso.
Ontem, alguns poucos foram às ruas, enquanto centenas de milhares participaram, talvez milhões, dando o seu mais irrestrito apoio nas avenidas virtuais. As fotos mais representativas não estão mais nas capas dos jornais. Estão no facebook.
Acima (clique para ampliar e ver os detalhes) um exemplo desta nova era: o Blog do Planalto foi invadido por um hacker. Lá ele colocou uma foto da manifestação de 20.000 pessoas em Brasília, com a seguinte mensagem: "político deve ser íntegro, incorruptível! Ficha limpa já! Voto aberto no Congresso” E completou: “Brasileiros acredite [sic] em vocês, salvem o BRASIL! “ Assinou a mensagem como “ @DonR4ul o hacker beleza”. Em seguida foi para o twitter e registrou: “…blog.planalto.gov.br é do povo!”
Os analistas da era analógica gostariam que, em vez disso, o manifestante tivesse invadido o Palácio do Planalto, pela rampa, enfrentando a segurança. Não é mais assim. Está na hora de rever conceitos.
Enquanto isso, os analistas da era analógica continuam ocupando as páginas de jornais para afirmar que as marchas são dispersas e sem objetivo definido. E, pasmem, que continuarão esparsas se nao tiverem a CUT, o PT (ou coisa que o valha), a UNE, a Igreja ou outras organizações para mobilizarem a população.
O argumento mais escroto, no entanto, é o de que a boa situação econômica do Brasil inibe os protestos. Os analistas da era analógica ainda não entenderam as passestas da era digital.
Elas unem pessoas que pelos mais diversos motivos não podem ir até os locais programados, pois estão espalhadas por todo o país, mas que agora fazem parte de uma sociedade em rede.
Os analistas da era analógica ainda pensam que as verdadeiras passeatas ocorrem nas ruas. São do tempo das diretas já, do fora Collor e do PT limpinho e cheiroso.
Ontem, alguns poucos foram às ruas, enquanto centenas de milhares participaram, talvez milhões, dando o seu mais irrestrito apoio nas avenidas virtuais. As fotos mais representativas não estão mais nas capas dos jornais. Estão no facebook.
Acima (clique para ampliar e ver os detalhes) um exemplo desta nova era: o Blog do Planalto foi invadido por um hacker. Lá ele colocou uma foto da manifestação de 20.000 pessoas em Brasília, com a seguinte mensagem: "político deve ser íntegro, incorruptível! Ficha limpa já! Voto aberto no Congresso” E completou: “Brasileiros acredite [sic] em vocês, salvem o BRASIL! “ Assinou a mensagem como “ @DonR4ul o hacker beleza”. Em seguida foi para o twitter e registrou: “…blog.planalto.gov.br é do povo!”
Os analistas da era analógica gostariam que, em vez disso, o manifestante tivesse invadido o Palácio do Planalto, pela rampa, enfrentando a segurança. Não é mais assim. Está na hora de rever conceitos.
REFORMA POLÍTICA: INSISTÊNCIA DO REPETECO
A Constituição Brasileira é bem clara. O poder é do povo, e os políticos são eleitos PARA REPRESENTÁ-LO. Como disse o grande jurista Fábio Konder Comparato, há um tempo atrás, ao entrar com uma ação popular contra um dos indecentes aumentos pretendido: "Eles (os parlamentares) jogam a ética por água abaixo. Entrar com uma ação popular é uma forma pedagógica de mostrar que eles estão há anos luz da moralidade. Eles SÃO NOSSOS EMPREGADOS, E DEVEM NOS SERVIR, E NÃO A ELES PRÓPRIOS."
Portanto, deve ser feita urgentemente uma reforma política, como dizem que vão fazer há décadas e não fazem. Porém a mudança que DEVE SER FEITA é completamente diferente do que eles apresentam. As alterações abaixo são necessárias e quem tiver mais alguma sugestão é só 'falar'. Se tiverem, também, alguma idéia de como enviar nossa colaboração em bloco aos nossos empregados, seria excelente, ao menos para que saibam qual é (ou deveria ser) o seu verdadeiro lugar.***
– O voto parlamentar só pode ser em aberto. O voto secreto serve apenas para esconder interesses escusos, e o os parlamentares têm obrigação de dar satisfação a seus eleitores. ***
- Fim de vantagens e mordomias Congressistas não podem receber nada além do seu subsídio.
- Diminuição da quantidade de parlamentares Não precisamos de quantidade, mas de qualidade. Já vimos diversas vezes o Congresso às moscas, sem que nenhum deles se interessasse em ir até lá nem que fosse, ao menos, para se mostrar presente. O plenário vive vazio, comprovando que é desnecessário tão grande número de parlamentares. ***
- Cargos devem ser mantidos até o final do mandato Deve ser proibido largar o cargo, para o qual foram eleitos, antes do término do mandato com o objetivo de concorrer a outro. Esse "pula-pula" convém à eterna permanência no poder. Convém a eles, não a nós. ***
- Voto distrital O eleitor tem o direito de controlar quem elegeu e a quem delegou a tarefa de representá-lo. O voto distrital permite contato mais direto com seu candidato e facilita a cobrança do programa prometido (e geralmente não cumprido).
- Envolvidos em escândalos/processos Deve ser PROIBIDA a candidatura de quem estiver envolvido em algum escândalo ou processo, mesmo que ainda não julgado. Essa exigência, feita àqueles que passam em concursos públicos, deve ser imposta, principalmente a deputados, senadores e congêneres. ***
- Fim da aposentadoria após oitos anos de mandato A idade para aposentadoria dos trabalhadores já foi aumentada por lei. Portanto, deve ser extinto o direito - escuso - de aposentadoria após apenas oito anos de mandato a esses parlamentares que 'trabalham' apenas três dias por semana e poucos meses por ano.
- Congresso não é oligarquia Filhos e netos de políticos 'em ação' devem ser proibidos de concorrer a cargos eletivos, como nos casos da família de Tancredo Neves, ACM, Cesar Maia, Sarney e dezenas de outros, que usam seu poder (que deveria ser nosso) para se eternizarem na política.
- Assinatura de compromisso com os eleitores Quando eleitos, os parlamentares terão que assinar um contrato de responsabilidade com suas promessas de campanha, em que será exigida uma porcentagem a ser cumprida.
Caso não seja cumprido o compromisso assinado até o final do mandato, não poderá se candidatar outra vez por um tempo determinado. É UMA QUESTÃO DE LÓGICA QUE NÃO PODE SER RECUSADA POR ELES: se não cumpriu seu compromisso eleitoral, não é digno de confiança - se não merece confiança, não pode se candidatar .
NA REFORMA POLÍTICA DEVEM CONSTAR INTERESSES BRASILEIROS, NÃO POLITIQUEIROS
Reforma política - sugestões do Laguardia -, 10 de julho de 2009
1. O contribuinte não deve pagar pela subsistência do parlamentar em Brasília ou nas capitais do estado. Do subsídio parlamentar, o mesmo deve pagar o seu próprio aluguel, alimentação e transporte. Eles já recebem um 'subsídio' bem gordo. Caso, mesmo assim, não possam se manter em Brasília, então não se candidatem e continuem com seu empreguinho de origem, de acordo com sua capacidade.
2. O presidente da república, ministros e assessores também devem morar por conta própria. O palácio presidencial é apenas o seu local de trabalho. E ainda têm a Granja do Torto!
3. Quando viajando a serviço os parlamentares devem utilizar aviões de carreira em classe econômica. Vendam o Aerolula e dediquem a farta verba para ajudar na saúde ou educação.
4. Deve ser instituído o sistema parlamentarista, com a possibilidade de voto de desconfiança do governo, e dissolução do congresso e convocação de novas eleições.
6. Deve haver o recall. Dependendo da assinatura de 55% dos eleitores, o parlamentar perde o mandato e novo parlamentar é eleito para o distrito.
7. O parlamentar só tem imunidade para os atos praticados dentro do congresso e relativos ao desempenho de seu mandato. Pode ser preso e processado sem autorização do congresso por crimes comuns, como assassinatos, corrupção etc. (seria necessário abrir um ENORME PRESIDIÁRIO para caberem tantos bandidos e malandros que andam pelo congresso em Brasilia).
8. Os parlamentares que estiverem respondendo a processos ficam com seus mandatos suspensos, sem vencimentos, assumindo em seu lugar o suplente, até que seja inocentado no processo.
9. Serão dois senadores por estado em lugar de três, com mandatos de quatro anos.
10. Os congressistas terão mandatos de dois anos.
SERIA A ÚNICA REFORMA POLÍTICA ACEITÁVEL.
Portanto, deve ser feita urgentemente uma reforma política, como dizem que vão fazer há décadas e não fazem. Porém a mudança que DEVE SER FEITA é completamente diferente do que eles apresentam. As alterações abaixo são necessárias e quem tiver mais alguma sugestão é só 'falar'. Se tiverem, também, alguma idéia de como enviar nossa colaboração em bloco aos nossos empregados, seria excelente, ao menos para que saibam qual é (ou deveria ser) o seu verdadeiro lugar.***
– O voto parlamentar só pode ser em aberto. O voto secreto serve apenas para esconder interesses escusos, e o os parlamentares têm obrigação de dar satisfação a seus eleitores. ***
- Fim de vantagens e mordomias Congressistas não podem receber nada além do seu subsídio.
- Diminuição da quantidade de parlamentares Não precisamos de quantidade, mas de qualidade. Já vimos diversas vezes o Congresso às moscas, sem que nenhum deles se interessasse em ir até lá nem que fosse, ao menos, para se mostrar presente. O plenário vive vazio, comprovando que é desnecessário tão grande número de parlamentares. ***
- Cargos devem ser mantidos até o final do mandato Deve ser proibido largar o cargo, para o qual foram eleitos, antes do término do mandato com o objetivo de concorrer a outro. Esse "pula-pula" convém à eterna permanência no poder. Convém a eles, não a nós. ***
- Voto distrital O eleitor tem o direito de controlar quem elegeu e a quem delegou a tarefa de representá-lo. O voto distrital permite contato mais direto com seu candidato e facilita a cobrança do programa prometido (e geralmente não cumprido).
- Envolvidos em escândalos/processos Deve ser PROIBIDA a candidatura de quem estiver envolvido em algum escândalo ou processo, mesmo que ainda não julgado. Essa exigência, feita àqueles que passam em concursos públicos, deve ser imposta, principalmente a deputados, senadores e congêneres. ***
- Fim da aposentadoria após oitos anos de mandato A idade para aposentadoria dos trabalhadores já foi aumentada por lei. Portanto, deve ser extinto o direito - escuso - de aposentadoria após apenas oito anos de mandato a esses parlamentares que 'trabalham' apenas três dias por semana e poucos meses por ano.
- Congresso não é oligarquia Filhos e netos de políticos 'em ação' devem ser proibidos de concorrer a cargos eletivos, como nos casos da família de Tancredo Neves, ACM, Cesar Maia, Sarney e dezenas de outros, que usam seu poder (que deveria ser nosso) para se eternizarem na política.
- Assinatura de compromisso com os eleitores Quando eleitos, os parlamentares terão que assinar um contrato de responsabilidade com suas promessas de campanha, em que será exigida uma porcentagem a ser cumprida.
Caso não seja cumprido o compromisso assinado até o final do mandato, não poderá se candidatar outra vez por um tempo determinado. É UMA QUESTÃO DE LÓGICA QUE NÃO PODE SER RECUSADA POR ELES: se não cumpriu seu compromisso eleitoral, não é digno de confiança - se não merece confiança, não pode se candidatar .
NA REFORMA POLÍTICA DEVEM CONSTAR INTERESSES BRASILEIROS, NÃO POLITIQUEIROS
Reforma política - sugestões do Laguardia -, 10 de julho de 2009
1. O contribuinte não deve pagar pela subsistência do parlamentar em Brasília ou nas capitais do estado. Do subsídio parlamentar, o mesmo deve pagar o seu próprio aluguel, alimentação e transporte. Eles já recebem um 'subsídio' bem gordo. Caso, mesmo assim, não possam se manter em Brasília, então não se candidatem e continuem com seu empreguinho de origem, de acordo com sua capacidade.
2. O presidente da república, ministros e assessores também devem morar por conta própria. O palácio presidencial é apenas o seu local de trabalho. E ainda têm a Granja do Torto!
3. Quando viajando a serviço os parlamentares devem utilizar aviões de carreira em classe econômica. Vendam o Aerolula e dediquem a farta verba para ajudar na saúde ou educação.
4. Deve ser instituído o sistema parlamentarista, com a possibilidade de voto de desconfiança do governo, e dissolução do congresso e convocação de novas eleições.
6. Deve haver o recall. Dependendo da assinatura de 55% dos eleitores, o parlamentar perde o mandato e novo parlamentar é eleito para o distrito.
7. O parlamentar só tem imunidade para os atos praticados dentro do congresso e relativos ao desempenho de seu mandato. Pode ser preso e processado sem autorização do congresso por crimes comuns, como assassinatos, corrupção etc. (seria necessário abrir um ENORME PRESIDIÁRIO para caberem tantos bandidos e malandros que andam pelo congresso em Brasilia).
8. Os parlamentares que estiverem respondendo a processos ficam com seus mandatos suspensos, sem vencimentos, assumindo em seu lugar o suplente, até que seja inocentado no processo.
9. Serão dois senadores por estado em lugar de três, com mandatos de quatro anos.
10. Os congressistas terão mandatos de dois anos.
SERIA A ÚNICA REFORMA POLÍTICA ACEITÁVEL.
TRUQUE SUJO (PARTE 2)
Media Watch - Outros
Que mais se poderia esperar de falsários que convertem uma briga de gangues no assassinato brutal de um indefeso estudante?
Atribuir a ação de uma frase ao sujeito de outra não foi o único truque usado pelos jornalistas Nara Alves e Ricardo Galhardo, do IG, na matéria "Extrema direita universitária se alia a skinheads"(26/09).
A isso os IGnobeis acrescentaram mais três expedientes: embelezar a vítima para realçar a feiúra do crime, ampliar desmesuradamente o sentido de uma frase minha para fazer o óbvio parecer uma absurdidade ofensiva, e tomar o imaginário como fato consumado para dar a uma invencionice caluniosa e pueril os ares de coisa certa e provada.
Vamos por partes.
A vítima de que fala a matéria, assassinada a pancadas e facadas, era um membro da Devastação Punk, uma das gangues mais violentas de São Paulo. Era um rematado brigão, que andava armado de soco inglês e estava sendo investigado pela polícia por um homicídio. Morreu no curso de uma pancadaria na qual estiveram envolvidas duas centenas de pessoas, e até agora não se sabe precisamente quem o matou.
O IG limpa a ficha da criatura, apresentando-a apenas como "um estudante". Um inocente estudante assassinado por skinheads é bem diferente de um membro de gangue que se dá mal numa briga de rua. No meio da matéria, vê-se que o cidadão era de fato um punk. Mas a violência punk também aparece embelezada, desculpada como "reação aos grupos de intolerância" – como se punks não tivessem sua própria cultura da violência.
Eis alguns exemplos de como esses idealistas combatem a intolerância:
22 de junho: Punks esfaquearam e mataram o garçom John Clayton Moreira Batista, nos Jardins, por ele não ter lhes emprestado um isqueiro. Quatro adultos e quatro adolescentes – que fariam parte do grupo Devastação Punk – foram detidos pela polícia.
21 de outubro: o menor G. C., 17 anos, foi espancado por um grupo de 25 punks, que saíam de uma casa noturna no Bom Retiro. Nove foram detidos.
14 de outubro: O balconista Jaílton de Souza Pacheco foi esfaqueado e morto, no centro, por três jovens que se identificaram como punks. Motivo: ele se recusou a fazer desconto na venda de um pedaço de pizza. E assim por diante. Confiram na edição 2032 da Veja .
Para Alves e Galhardo, esses e outros feitos foram cometidos na pura intenção de defender as instituições democráticas contra tiranos fascistas skinheads que não emprestam isqueiros e recusam descontos em pizzas.
Falsificadas a cena e a história do crime, o IG está preparado para acentuar os traços monstruosos do "instrutor teórico" que teria inspirado o delito. Olavo de Carvalho, segundo Alves e Galhardo, é um malvado que "prega a pena de morte para comunistas". Que é que se entende por essa expressão? Olavo de Carvalho deseja que os comunistas sejam condenados à pena de morte por serem comunistas, isto é, por delito de opinião. Imaginem as dimensões do banho de sangue se essa ideia fosse levada à prática.
Teria eu pregado semelhante descalabro? Como não me considero imune a momentos de estupidez, e como no improviso de um programa de rádio é possível soltar alguma asneira grossa, fui ouvir a gravação do programa, pronto a retificar quaisquer palavras injustas se as tivesse proferido.
Pois bem. O que eu disse naquele programa é que os líderes políticos e intelectuais do movimento comunista deveriam ser submetidos a julgamento por crimes contra a humanidade, tal como se fizera em Nuremberg com os próceres nazistas e tal como a pequena e brava nação cambojana está fazendo com os chefes do Khmer Vermelho.
Teria o tribunal de Nuremberg julgado e condenado "nazistas", genericamente? Isso teria levado à forca metade da Alemanha. Estaria o Camboja buscando a punição de "comunistas", assim sem mais, por crime de ideologia? É óbvio que não.
O que sugeri é que os líderes de governos admitidamente genocidas deveriam ser submetidos a julgamento e punidos, junto com os mais notórios, obstinados e impenitentes propagandistas e embelezadores mundiais de uma máquina de matar que havia liquidado cinco vezes mais gente do que a ditadura nazista.
Por mais que se odeie a proposta – e ela não foi feita para afagar o ego de ninguém –, ela é bem diferente de "pregar a pena de morte para comunistas". A imprecisão proposital opera prodígios. A troca do específico pelo genérico, pelas mãos de Alves e Galhardo, deu a uma óbvia e irrecusável exigência de justiça os ares de uma apologia do terror e do genocídio.
Que mais se poderia esperar de falsários que convertem uma briga de gangues no assassinato brutal de um indefeso estudante?
Vamos agora às duas organizações estudantis, cuja declaração de que recebem "instrução teórica" supostamente inspirada em mim foi transferida da boca deles para a dos skinheads. Desde logo, não conhecia nenhuma das duas e só fiquei sabendo delas pelo IG. Mas não preciso conhecê-las para saber que não se compõem de alunos meus, já que estes são formalmente proibidos, enquanto forem alunos, de associar-se a qualquer organização militante (quatro mil membros do Seminário de Filosofia podem confirmar o que dezenas de gravações de aula comprovam).
Se a Resistência Nacionalista e a UCC não recebem "instrução teórica" nem de mim pessoalmente, nem de meus alunos, nem de qualquer pessoa autorizada por mim, não têm direito de falar em meu nome ou de posar como praticantes de ideias minhas. Muito menos de apresentá-las com essa identidade sem nem ter-me consultado, revelando a mentalidade traiçoeira com que escreveram a matéria no propósito de me comprometer em atividades políticas que desaprovo totalmente.
Mas, por estranha e errada que me pareça a política dessas duas organizações, ela não constitui crime, nem o IG as acusa disso. Elas só entraram na matéria porque são "de direita" e, como alguns skinheads também o são, ou diz-se que são, isso facilitava a Alves e Galhardo construir, por meio de uma dupla ponte de associações de ideias, um arremedo de ligação entre o movimento skinhead e eu.
A técnica da associação remota já é notória pela tortuosidade com que imagina influências materialmente impossíveis, tratando-as como se fossem elos causais verdadeiros, criminalmente imputáveis. Quem quer que a empregue deveria ser expelido da profissão jornalística por total e absoluta falta de idoneidade.
Quando a deputada democrata Danielle Giffords foi baleada junto com outras cinco pessoas, esquerdistas assanhados se apressaram em lançar a responsabilidade mental do crime sobre a governadora Sarah Palin, por ter utilizado, num cartaz de propaganda, a palavra "alvo" com referência ao 8º. Distrito do Arizona, onde viria a se dar o sangrento episódio.
A técnica junguiana da associação de palavras, que em psiquiatria e psicologia clínica se usa para rastrear as fantasias subjetivas de doentes mentais, passa a servir aí como prova de ligações causais objetivas entre fatos do mundo real. Alvo? Tiro. Tiro? Atentado. Atentado? Danielle Giffords. Logo, Sarah Palin atirou em Danielle Giffords. É a fantasia psicótica transmutada em lógica jurídica.
Mas o site do IG não se contenta com lançar mão desse raciocínio perverso. Acrescenta-lhe um requinte que não teria ocorrido a nenhum acusador de Sarah Palin: ligar o crime à minha pessoa não por meio de uma cadeia de associações, mas sim de duas, encadeadas e superpostas, para levar da causa hipotética remota à causa imaginária remotíssima – um truque sujo que, se usado com frequência bastante, não deixará impune nenhum inocente.
Olavo de Carvalho, 13 Outubro 2011
Que mais se poderia esperar de falsários que convertem uma briga de gangues no assassinato brutal de um indefeso estudante?
Atribuir a ação de uma frase ao sujeito de outra não foi o único truque usado pelos jornalistas Nara Alves e Ricardo Galhardo, do IG, na matéria "Extrema direita universitária se alia a skinheads"(26/09).
A isso os IGnobeis acrescentaram mais três expedientes: embelezar a vítima para realçar a feiúra do crime, ampliar desmesuradamente o sentido de uma frase minha para fazer o óbvio parecer uma absurdidade ofensiva, e tomar o imaginário como fato consumado para dar a uma invencionice caluniosa e pueril os ares de coisa certa e provada.
Vamos por partes.
A vítima de que fala a matéria, assassinada a pancadas e facadas, era um membro da Devastação Punk, uma das gangues mais violentas de São Paulo. Era um rematado brigão, que andava armado de soco inglês e estava sendo investigado pela polícia por um homicídio. Morreu no curso de uma pancadaria na qual estiveram envolvidas duas centenas de pessoas, e até agora não se sabe precisamente quem o matou.
O IG limpa a ficha da criatura, apresentando-a apenas como "um estudante". Um inocente estudante assassinado por skinheads é bem diferente de um membro de gangue que se dá mal numa briga de rua. No meio da matéria, vê-se que o cidadão era de fato um punk. Mas a violência punk também aparece embelezada, desculpada como "reação aos grupos de intolerância" – como se punks não tivessem sua própria cultura da violência.
Eis alguns exemplos de como esses idealistas combatem a intolerância:
22 de junho: Punks esfaquearam e mataram o garçom John Clayton Moreira Batista, nos Jardins, por ele não ter lhes emprestado um isqueiro. Quatro adultos e quatro adolescentes – que fariam parte do grupo Devastação Punk – foram detidos pela polícia.
21 de outubro: o menor G. C., 17 anos, foi espancado por um grupo de 25 punks, que saíam de uma casa noturna no Bom Retiro. Nove foram detidos.
14 de outubro: O balconista Jaílton de Souza Pacheco foi esfaqueado e morto, no centro, por três jovens que se identificaram como punks. Motivo: ele se recusou a fazer desconto na venda de um pedaço de pizza. E assim por diante. Confiram na edição 2032 da Veja .
Para Alves e Galhardo, esses e outros feitos foram cometidos na pura intenção de defender as instituições democráticas contra tiranos fascistas skinheads que não emprestam isqueiros e recusam descontos em pizzas.
Falsificadas a cena e a história do crime, o IG está preparado para acentuar os traços monstruosos do "instrutor teórico" que teria inspirado o delito. Olavo de Carvalho, segundo Alves e Galhardo, é um malvado que "prega a pena de morte para comunistas". Que é que se entende por essa expressão? Olavo de Carvalho deseja que os comunistas sejam condenados à pena de morte por serem comunistas, isto é, por delito de opinião. Imaginem as dimensões do banho de sangue se essa ideia fosse levada à prática.
Teria eu pregado semelhante descalabro? Como não me considero imune a momentos de estupidez, e como no improviso de um programa de rádio é possível soltar alguma asneira grossa, fui ouvir a gravação do programa, pronto a retificar quaisquer palavras injustas se as tivesse proferido.
Pois bem. O que eu disse naquele programa é que os líderes políticos e intelectuais do movimento comunista deveriam ser submetidos a julgamento por crimes contra a humanidade, tal como se fizera em Nuremberg com os próceres nazistas e tal como a pequena e brava nação cambojana está fazendo com os chefes do Khmer Vermelho.
Teria o tribunal de Nuremberg julgado e condenado "nazistas", genericamente? Isso teria levado à forca metade da Alemanha. Estaria o Camboja buscando a punição de "comunistas", assim sem mais, por crime de ideologia? É óbvio que não.
O que sugeri é que os líderes de governos admitidamente genocidas deveriam ser submetidos a julgamento e punidos, junto com os mais notórios, obstinados e impenitentes propagandistas e embelezadores mundiais de uma máquina de matar que havia liquidado cinco vezes mais gente do que a ditadura nazista.
Por mais que se odeie a proposta – e ela não foi feita para afagar o ego de ninguém –, ela é bem diferente de "pregar a pena de morte para comunistas". A imprecisão proposital opera prodígios. A troca do específico pelo genérico, pelas mãos de Alves e Galhardo, deu a uma óbvia e irrecusável exigência de justiça os ares de uma apologia do terror e do genocídio.
Que mais se poderia esperar de falsários que convertem uma briga de gangues no assassinato brutal de um indefeso estudante?
Vamos agora às duas organizações estudantis, cuja declaração de que recebem "instrução teórica" supostamente inspirada em mim foi transferida da boca deles para a dos skinheads. Desde logo, não conhecia nenhuma das duas e só fiquei sabendo delas pelo IG. Mas não preciso conhecê-las para saber que não se compõem de alunos meus, já que estes são formalmente proibidos, enquanto forem alunos, de associar-se a qualquer organização militante (quatro mil membros do Seminário de Filosofia podem confirmar o que dezenas de gravações de aula comprovam).
Se a Resistência Nacionalista e a UCC não recebem "instrução teórica" nem de mim pessoalmente, nem de meus alunos, nem de qualquer pessoa autorizada por mim, não têm direito de falar em meu nome ou de posar como praticantes de ideias minhas. Muito menos de apresentá-las com essa identidade sem nem ter-me consultado, revelando a mentalidade traiçoeira com que escreveram a matéria no propósito de me comprometer em atividades políticas que desaprovo totalmente.
Mas, por estranha e errada que me pareça a política dessas duas organizações, ela não constitui crime, nem o IG as acusa disso. Elas só entraram na matéria porque são "de direita" e, como alguns skinheads também o são, ou diz-se que são, isso facilitava a Alves e Galhardo construir, por meio de uma dupla ponte de associações de ideias, um arremedo de ligação entre o movimento skinhead e eu.
A técnica da associação remota já é notória pela tortuosidade com que imagina influências materialmente impossíveis, tratando-as como se fossem elos causais verdadeiros, criminalmente imputáveis. Quem quer que a empregue deveria ser expelido da profissão jornalística por total e absoluta falta de idoneidade.
Quando a deputada democrata Danielle Giffords foi baleada junto com outras cinco pessoas, esquerdistas assanhados se apressaram em lançar a responsabilidade mental do crime sobre a governadora Sarah Palin, por ter utilizado, num cartaz de propaganda, a palavra "alvo" com referência ao 8º. Distrito do Arizona, onde viria a se dar o sangrento episódio.
A técnica junguiana da associação de palavras, que em psiquiatria e psicologia clínica se usa para rastrear as fantasias subjetivas de doentes mentais, passa a servir aí como prova de ligações causais objetivas entre fatos do mundo real. Alvo? Tiro. Tiro? Atentado. Atentado? Danielle Giffords. Logo, Sarah Palin atirou em Danielle Giffords. É a fantasia psicótica transmutada em lógica jurídica.
Mas o site do IG não se contenta com lançar mão desse raciocínio perverso. Acrescenta-lhe um requinte que não teria ocorrido a nenhum acusador de Sarah Palin: ligar o crime à minha pessoa não por meio de uma cadeia de associações, mas sim de duas, encadeadas e superpostas, para levar da causa hipotética remota à causa imaginária remotíssima – um truque sujo que, se usado com frequência bastante, não deixará impune nenhum inocente.
Olavo de Carvalho, 13 Outubro 2011
FATOS E MITOS SOBRE A "REVOLUÇÃO INDUSTRIAL"
Ludwig von Mises, 12 Outubro 2011
Artigos - Cultura
Na economia de mercado não há outro meio de adquirir e preservar a riqueza, a não ser fornecendo às massas o que elas querem, da maneira melhor e mais barata possível.
Autores socialistas e intervencionistas costumam dizer que a história do industrialismo moderno, e especialmente a história da "Revolução Industrial" na Inglaterra, constitui uma evidência empírica da procedência da doutrina denominada "realista" ou "institucional", e refuta inteiramente o dogmatismo "abstrato dos economistas".[1]
Os economistas negam categoricamente que os sindicatos e a legislação trabalhista possam e tenham beneficiado a classe dos assalariados e elevado o seu padrão de vida de forma duradoura. Porém, dizem os antieconomistas, os fatos refutaram essas ideias capciosas.
Segundo eles, os governantes e legisladores que regulamentaram as relações trabalhistas revelaram possuir uma melhor percepção da realidade do que os economistas. Enquanto a filosofia do laissez-faire, sem piedade nem compaixão, pregava que o sofrimento das massas era inevitável, o bom senso dos leigos em economia conseguia terminar com os piores excessos dos empresários ávidos de lucro. A melhoria da situação dos trabalhadores se deve, pensam eles, inteiramente à intervenção dos governos e à pressão sindical.
São essas ideias que impregnam a maior parte dos estudos históricos que tratam da evolução do industrialismo moderno. Os autores começam esboçando uma imagem idílica das condições prevalecentes no período que antecedeu a "Revolução Industrial". Naquele tempo, dizem eles, as coisas eram, de maneira geral, satisfatórias. Os camponeses eram felizes. Os artesãos também o eram, com a sua produção doméstica; trabalhavam nos seus chalés e gozavam de certa independência, uma vez que possuíam um pedaço de jardim e suas próprias ferramentas. Mas, aí, "a Revolução Industrial caiu como uma guerra ou uma praga" sobre essas pessoas.[2] O sistema fabril transformou o trabalhador livre em virtual escravo; reduziu o seu padrão de vida ao mínimo de sobrevivência; abarrotando as fábricas com mulheres e crianças, destruiu a vida familiar e solapou as fundações da sociedade, da moralidade e da saúde pública. Uma pequena minoria de exploradores impiedosos conseguiu habilmente subjugar a imensa maioria.
A verdade é que as condições no período que antecedeu à Revolução Industrial eram bastante insatisfatórias. O sistema social tradicional não era suficientemente elástico para atender às necessidades de uma população em contínuo crescimento. Nem a agricultura nem as guildas conseguiam absorver a mão de obra adicional. A vida mercantil estava impregnada de privilégios e monopólios; seus instrumentos institucionais eram as licenças e as cartas patentes; sua filosofia era a restrição e a proibição de competição, tanto interna como externa.
O número de pessoas à margem do rígido sistema paternalista de tutela governamental cresceu rapidamente; eram virtualmente párias. A maior parte delas vivia, apática e miseravelmente, das migalhas que caíam das mesas das castas privilegiadas. Na época da colheita, ganhavam uma ninharia por um trabalho ocasional nas fazendas; no mais, dependiam da caridade privada e da assistência pública municipal. Milhares dos mais vigorosos jovens desse estrato social alistavam-se no exército ou na marinha de Sua Majestade; muitos deles morriam ou voltavam mutilados dos combates; muitos mais morriam, sem glória, em virtude da dureza de uma bárbara disciplina, de doenças tropicais e de sífilis.[3]
Milhares de outros, os mais audaciosos e mais brutais, infestavam o país vivendo como vagabundos, mendigos, andarilhos, ladrões e prostitutos. As autoridades não sabiam o que fazer com esses indivíduos, a não ser interná-los em asilos ou casas de correção. O apoio que o governo dava ao preconceito popular contra a introdução de novas invenções e de dispositivos que economizassem trabalho dificultava as coisas ainda mais.
O sistema fabril desenvolveu-se, tendo de lutar incessantemente contra inúmeros obstáculos. Teve de combater o preconceito popular, os velhos costumes tradicionais, as normas e regulamentos vigentes, a má vontade das autoridades, os interesses estabelecidos dos grupos privilegiados, a inveja das guildas. O capital fixo das firmas individuais era insuficiente, a obtenção de crédito extremamente difícil e cara. Faltava experiência tecnológica e comercial. A maior parte dos proprietários de fábricas foi à bancarrota; comparativamente, foram poucos os bem-sucedidos. Os lucros, às vezes, eram consideráveis, mas as perdas também o eram. Foram necessárias muitas décadas para que se estabelecesse o costume de reinvestir a maior parte dos lucros e a consequente acumulação de capital possibilitasse a produção em maior escala.
A prosperidade das fábricas, apesar de todos esses entraves, pode ser atribuída a duas razões. Em primeiro lugar, aos ensinamentos da nova filosofia social que os economistas começavam a explicar e que demolia o prestígio do mercantilismo, do paternalismo e do restricionismo. A crença supersticiosa de que os equipamentos e processos economizadores de mão de obra causavam desemprego e condenavam as pessoas ao empobrecimento foi amplamente refutada. Os economistas do laissez-faire foram os pioneiros do progresso tecnológico sem precedentes dos últimos duzentos anos.
Um segundo fator contribuiu para enfraquecer a oposição às inovações. As fábricas aliviaram as autoridades e a aristocracia rural de um embaraçoso problema que estas já não tinham como resolver. As novas instalações fabris proporcionavam trabalho às massas pobres que, dessa maneira, podiam ganhar seu sustento; esvaziaram os asilos, as casas de correção e as prisões. Converteram mendigos famintos em pessoas capazes de ganhar o seu próprio pão.[4]
Os proprietários das fábricas não tinham poderes para obrigar ninguém a aceitar um emprego nas suas empresas. Podiam apenas contratar pessoas que quisessem trabalhar pelos salários que lhes eram oferecidos. Mesmo que esses salários fossem baixos, eram ainda assim muito mais do que aqueles indigentes poderiam ganhar em qualquer outro lugar. É uma distorção dos fatos dizer que as fábricas arrancaram as donas de casa de seus lares ou as crianças de seus brinquedos. Essas mulheres não tinham como alimentar os seus filhos. Essas crianças estavam carentes e famintas. Seu único refúgio era a fábrica; salvou-as, no estrito senso do termo, de morrer de fome.
É deplorável que tal situação existisse. Mas, se quisermos culpar os responsáveis, não devemos acusar os proprietários das fábricas, que — certamente movidos pelo egoísmo e não pelo altruísmo — fizeram todo o possível para erradicá-la. O que causava esses males era a ordem econômica do período pré-capitalista, a ordem daquilo que, pelo que se infere da leitura das obras destes historiadores, eram os "bons velhos tempos".
Nas primeiras décadas da Revolução Industrial, o padrão de vida dos operários das fábricas era escandalosamente baixo em comparação com as condições de seus contemporâneos das classes superiores ou com as condições atuais do operariado industrial. A jornada de trabalho era longa, as condições sanitárias dos locais de trabalho eram deploráveis.
A capacidade de trabalho do indivíduo se esgotava rapidamente. Mas prevalece o fato de que, para o excedente populacional — reduzido à mais triste miséria pela apropriação das terras rurais, e para o qual, literalmente, não havia espaço no contexto do sistema de produção vigente —, o trabalho nas fábricas representava uma salvação. Representava uma possibilidade de melhorar o seu padrão de vida, razão pela qual as pessoas afluíram em massa, a fim de aproveitar a oportunidade que lhes era oferecida pelas novas instalações industriais.
A ideologia do laissez-faire e sua consequência, a "Revolução Industrial", destruíram as barreiras ideológicas e institucionais que impediam o progresso e o bem-estar. Demoliram a ordem social na qual um número cada vez maior de pessoas estava condenado a uma pobreza e a uma penúria humilhantes. A produção artesanal das épocas anteriores abastecia quase que exclusivamente os mais ricos. Sua expansão estava limitada pelo volume de produtos de luxo que o estrato mais rico da população pudesse comprar. Quem não estivesse engajado na produção de bens primários só poderia ganhar a vida se as classes superiores estivessem dispostas a utilizar os seus serviços ou o seu talento. Mas eis que surge um novo princípio: com o sistema fabril, tinha início um novo modo de comercialização e de produção.
Sua característica principal consistia no fato de que os artigos produzidos não se destinavam apenas ao consumo dos mais abastados, mas ao consumo daqueles cujo papel como consumidores era, até então, insignificante. Coisas baratas, ao alcance do maior número possível de pessoas, era o objetivo do sistema fabril. A indústria típica dos primeiros tempos da Revolução Industrial era a tecelagem de algodão. Ora, os artigos de algodão não se destinavam aos mais abastados. Os ricos preferiam a seda, o linho, a cambraia. Sempre que a fábrica, com os seus métodos de produção mecanizada, invadia um novo setor de produção, começava fabricando artigos baratos para consumo das massas. As fábricas só se voltaram para a produção de artigos mais refinados, e portanto mais caros, em um estágio posterior, quando a melhoria sem precedentes no padrão de vida das massas tornou viável a aplicação dos métodos de produção em massa também aos artigos melhores.
Assim, por exemplo, os sapatos fabricados em série eram comprados apenas pelos "proletários", enquanto os consumidores mais ricos continuavam a encomendar sapatos sob medida. As tão malfaladas fábricas que exploravam os trabalhadores, exigindo-lhes trabalho excessivo e pagando-lhes salário de fome, não produziam roupas para os ricos, mas para pessoas cujos recursos eram modestos. Os homens e mulheres elegantes preferiam, e ainda preferem, ternos e vestidos feitos pelo alfaiate e pela costureira.
O fato marcante da Revolução Industrial foi o de ela ter iniciado uma era de produção em massa para atender às necessidades das massas. Os assalariados já não são mais pessoas trabalhando exaustivamente para proporcionar o bem-estar de outras pessoas; são eles mesmos os maiores consumidores dos produtos que as fábricas produzem. A grande empresa depende do consumo de massa. Em um livre mercado, não há uma só grande empresa que não atenda aos desejos das massas. A própria essência da atividade empresarial capitalista é a de prover para o homem comum. Na qualidade de consumidor, o homem comum é o soberano que, ao comprar ou ao se abster de comprar, decide os rumos da atividade empresarial. Na economia de mercado não há outro meio de adquirir e preservar a riqueza, a não ser fornecendo às massas o que elas querem, da maneira melhor e mais barata possível.
Ofuscados por seus preconceitos, muitos historiadores e escritores não chegam a perceber esse fato fundamental. Segundo eles, os assalariados labutam arduamente em benefício de outras pessoas. Nunca questionaram quem são essas "outras" pessoas.
O Sr. e a Sra. Hammond [citados na nota de referência número 2] nos dizem que os trabalhadores eram mais felizes em 1760 do que em 1830.[5] Trata-se de um julgamento de valor arbitrário. Não há meio de comparar e medir a felicidade de pessoas diferentes, nem da mesma pessoa em momentos diferentes.
Podemos admitir, só para argumentar, que um indivíduo nascido em 1740 estivesse mais feliz em 1760 do que em 1830. Mas não nos esqueçamos de que em 1770 (segundo estimativa de Arthur Young) a Inglaterra tinha 8,5 milhões de habitantes, ao passo que em 1830 (segundo o recenseamento) a população era de 16 milhões.[6] Esse aumento notável se deve principalmente à Revolução Industrial. Em relação a esses milhões de ingleses adicionais, as afirmativas dos eminentes historiadores só podem ser aprovadas por aqueles que endossam os melancólicos versos de Sófocles: "Não ter nascido é, sem dúvida, o melhor; mas para o homem que chega a ver a luz do dia, o melhor mesmo é voltar rapidamente ao lugar de onde veio".
Os primeiros industriais foram, em sua maioria, homens oriundos da mesma classe social que os seus operários. Viviam muito modestamente, gastavam no consumo familiar apenas uma parte dos seus ganhos e reinvestiam o resto no seu negócio. Mas, à medida que os empresários enriqueciam, seus filhos começaram a frequentar os círculos da classe dominante. Os cavalheiros de alta linhagem invejavam a riqueza dos novos-ricos e se indignavam com a simpatia que estes devotavam às reformas que estavam ocorrendo. Revidaram investigando as condições morais e materiais de trabalho nas fábricas e editando a legislação trabalhista.
A história do capitalismo na Inglaterra, assim como em todos os outros países capitalistas, é o registro de uma tendência incessante de melhoria do padrão de vida dos assalariados. Essa evolução coincidiu, por um lado, com o desenvolvimento da legislação trabalhista e com a difusão do sindicalismo, e, por outro, com o aumento da produtividade marginal. Os economistas afirmam que a melhoria nas condições materiais dos trabalhadores se deve ao aumento da quota de capital investido per capita e ao progresso tecnológico decorrente desse capital adicional. A legislação trabalhista e a pressão sindical, na medida em que não impunham a concessão de vantagens superiores àquelas que os trabalhadores teriam de qualquer maneira, em virtude de a acumulação de capital se processar em ritmo maior do que o aumento populacional, eram supérfluas. Na medida em que ultrapassaram esses limites, foram danosas aos interesses das massas. Atrasaram a acumulação de capital, diminuindo assim o ritmo de crescimento da produtividade marginal e dos salários. Privilegiaram alguns grupos de assalariados às custas de outros grupos. Criaram o desemprego em grande escala e diminuíram a quantidade de produtos que os trabalhadores, como consumidores, teriam à sua disposição.
Os defensores da intervenção do governo na economia e do sindicalismo atribuem toda melhoria da situação dos trabalhadores às ações dos governos e dos sindicatos. Se não fosse por isso, dizem eles, o padrão de vida atual dos trabalhadores não seria maior do que nos primeiros anos da Revolução Industrial.
Certamente essa controvérsia não pode ser resolvida pela simples recorrência à experiência histórica. Os dois grupos não têm divergências quanto a quais tenham sido os fatos ocorridos. Seu antagonismo diz respeito à interpretação desses fatos, e essa interpretação depende da teoria escolhida. As considerações de natureza lógica ou epistemológica que determinam a correção ou a falsidade de uma teoria são, lógica e temporalmente, antecedentes à elucidação do problema histórico em questão. Os fatos históricos, por si só, não provam nem refutam uma teoria. Precisam ser interpretados à luz da compreensão teórica.
A maioria dos autores que escreveu sobre a história das condições de trabalho no sistema capitalista era ignorante em economia e disso se vangloriava. Entretanto, tal desprezo por um raciocínio econômico bem fundado não significa que esses autores tenham abordado o tema dos seus estudos sem preconceitos e sem preferência por uma determinada teoria; na realidade, estavam sendo guiados pelas falácias tão difundidas que atribuem onipotência ao governo e consideram a atividade sindical como uma bênção. Ninguém pode negar que os Webbs, assim como Lujo Brentano e uma legião de outros autores menores, estavam, desde o início de seus estudos, imbuídos de uma aversão fanática pela economia de mercado e de uma entusiástica admiração pelas doutrinas socialistas e intervencionistas. Foram certamente honestos e sinceros nas suas convicções e deram o melhor de si. Sua sinceridade e probidade podem eximi-los como indivíduos; mas não os eximem como historiadores. As intenções de um historiador, por mais puras que sejam, não justificam a adoção de doutrinas falaciosas. O primeiro dever de um historiador é o de examinar com o maior rigor todas as doutrinas a que recorrerá para elaborar suas interpretações históricas. Caso ele se furte a fazê-lo e adote ingenuamente as ideias deformadas e confusas que têm grande aceitação popular, deixa de ser um historiador e passa a ser um apologista e um propagandista.
O antagonismo entre esses dois pontos de vista contrários não é apenas um problema histórico: está intimamente ligado aos problemas mais candentes da atualidade. É a razão da controvérsia naquilo que se denomina hoje de relações industriais.
Salientemos apenas um aspecto da questão: em vastas regiões — Ásia Oriental, Índias Orientais, sul e sudeste da Europa, América Latina — a influência do capitalismo moderno é apenas superficial. A situação nesses países, de uma maneira geral, não difere muito da que prevalecia na Inglaterra no início da "Revolução Industrial". Existem milhões de pessoas que não encontram um lugar seguro no sistema econômico vigente. Só a industrialização pode melhorar a sorte desses desafortunados; para isso, o que mais necessitam é de empresários e de capitalistas.
Como políticas insensatas privaram essas nações do benefício que a importação de capitais estrangeiros até então lhes proporcionava, precisam proceder à acumulação de capitais domésticos. Precisam percorrer todos os estágios pelos quais a industrialização do Ocidente teve de passar. Precisam começar com salários relativamente baixos e com longas jornadas de trabalho. Mas, iludidos pelas doutrinas prevalecentes hoje em dia na Europa Ocidental e na América do Norte, seus dirigentes pensam que poderão consegui-lo de outra maneira. Encorajam a pressão sindical e promovem uma legislação pretensamente favorável aos trabalhadores. Seu radicalismo intervencionista mata no nascedouro a criação de uma indústria doméstica. Seu dogmatismo obstinado tem como consequência a desgraça dos trabalhadores braçais indianos e chineses, dos peões mexicanos e de milhões de outras pessoas que se debatem desesperadamente para não morrer de fome.
Ludwig von Mises, 12 Outubro 2011
Notas:
[1] A atribuição da expressão "Revolução Industrial" ao período dos reinados dos dois últimos reis da casa de Hanover — George III e George IV (1760-1830) — resultou do desejo de dramatizar a história econômica, de maneira a ajustá-la aos esquemas marxistas procustianos.* A transição dos métodos medievais de produção para o sistema de livre iniciativa foi um processo longo que começou séculos antes de 1760 e que, mesmo na Inglaterra, em 1830, ainda não tinha terminado. Entretanto, é verdade que o desenvolvimento industrial na Inglaterra acelerou-se bastante na segunda metade do século XVIII. Consequentemente, é admissível usar a expressão "Revolução Industrial" ao se examinarem as conotações emocionais que lhe foram imputadas pelo fabianismo, pelo marxismo e pela Escola Historicista.
* Relativo a Procusto, gigante salteador da Ática que, segundo a mitologia grega, despojava viajantes e torturava-os deitando-os num leito de ferro: se a vítima fosse maior, cortava-lhe os pés; se menor, esticava-a por meio de cordas até que atingisse as dimensões do leito. O termo serve para metaforizar o ato de se tentar ajustar arbitrariamente a realidade a um sistema ou teoria previamente concebidos. (N.T.)
[2] J.L. Hammond and Barbara Hammond, The Skilled Labourer, 1760-1832, 2. ed., Londres, 1920, p. 4.
[3] Na guerra dos Sete Anos, 1.512 marinheiros ingleses morreram em combate, enquanto 133.708 morreram de doenças ou desapareceram. Ver W.L.Dorn, Competition for Empire 1740-1763, Nova York, 1940, p.114.
[4] No sistema feudal inglês, a maior parte da área rural constituía-se de campos e florestas. Grande parte dessas áreas era utilizada para o cultivo de grãos e criação de gado para consumo próprio. Com o advento da produção agrícola para o mercado e não para o senhor feudal, essas terras começaram a ser cercadas e apropriadas. Diversos atos do Parlamento, no século XVIII e parte do século XIX, endossaram esse movimento, que tinha oposição das classes inferiores. Tal situação resultou num aumento da produção agrícola e na criação de um proletariado rural, que veio a se tornar a força de trabalho usada pelas fábricas inglesas na "Revolução Industrial".
[5] J.L. Hammond e Barbara Hammond, op. cit.
[6] F.C. Dietz, An Economic History of England, Nova York, 1942, p. 279 e 392.
Ludwig von Mises foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico. Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política. Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico. Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".
Artigos - Cultura
Na economia de mercado não há outro meio de adquirir e preservar a riqueza, a não ser fornecendo às massas o que elas querem, da maneira melhor e mais barata possível.
Autores socialistas e intervencionistas costumam dizer que a história do industrialismo moderno, e especialmente a história da "Revolução Industrial" na Inglaterra, constitui uma evidência empírica da procedência da doutrina denominada "realista" ou "institucional", e refuta inteiramente o dogmatismo "abstrato dos economistas".[1]
Os economistas negam categoricamente que os sindicatos e a legislação trabalhista possam e tenham beneficiado a classe dos assalariados e elevado o seu padrão de vida de forma duradoura. Porém, dizem os antieconomistas, os fatos refutaram essas ideias capciosas.
Segundo eles, os governantes e legisladores que regulamentaram as relações trabalhistas revelaram possuir uma melhor percepção da realidade do que os economistas. Enquanto a filosofia do laissez-faire, sem piedade nem compaixão, pregava que o sofrimento das massas era inevitável, o bom senso dos leigos em economia conseguia terminar com os piores excessos dos empresários ávidos de lucro. A melhoria da situação dos trabalhadores se deve, pensam eles, inteiramente à intervenção dos governos e à pressão sindical.
São essas ideias que impregnam a maior parte dos estudos históricos que tratam da evolução do industrialismo moderno. Os autores começam esboçando uma imagem idílica das condições prevalecentes no período que antecedeu a "Revolução Industrial". Naquele tempo, dizem eles, as coisas eram, de maneira geral, satisfatórias. Os camponeses eram felizes. Os artesãos também o eram, com a sua produção doméstica; trabalhavam nos seus chalés e gozavam de certa independência, uma vez que possuíam um pedaço de jardim e suas próprias ferramentas. Mas, aí, "a Revolução Industrial caiu como uma guerra ou uma praga" sobre essas pessoas.[2] O sistema fabril transformou o trabalhador livre em virtual escravo; reduziu o seu padrão de vida ao mínimo de sobrevivência; abarrotando as fábricas com mulheres e crianças, destruiu a vida familiar e solapou as fundações da sociedade, da moralidade e da saúde pública. Uma pequena minoria de exploradores impiedosos conseguiu habilmente subjugar a imensa maioria.
A verdade é que as condições no período que antecedeu à Revolução Industrial eram bastante insatisfatórias. O sistema social tradicional não era suficientemente elástico para atender às necessidades de uma população em contínuo crescimento. Nem a agricultura nem as guildas conseguiam absorver a mão de obra adicional. A vida mercantil estava impregnada de privilégios e monopólios; seus instrumentos institucionais eram as licenças e as cartas patentes; sua filosofia era a restrição e a proibição de competição, tanto interna como externa.
O número de pessoas à margem do rígido sistema paternalista de tutela governamental cresceu rapidamente; eram virtualmente párias. A maior parte delas vivia, apática e miseravelmente, das migalhas que caíam das mesas das castas privilegiadas. Na época da colheita, ganhavam uma ninharia por um trabalho ocasional nas fazendas; no mais, dependiam da caridade privada e da assistência pública municipal. Milhares dos mais vigorosos jovens desse estrato social alistavam-se no exército ou na marinha de Sua Majestade; muitos deles morriam ou voltavam mutilados dos combates; muitos mais morriam, sem glória, em virtude da dureza de uma bárbara disciplina, de doenças tropicais e de sífilis.[3]
Milhares de outros, os mais audaciosos e mais brutais, infestavam o país vivendo como vagabundos, mendigos, andarilhos, ladrões e prostitutos. As autoridades não sabiam o que fazer com esses indivíduos, a não ser interná-los em asilos ou casas de correção. O apoio que o governo dava ao preconceito popular contra a introdução de novas invenções e de dispositivos que economizassem trabalho dificultava as coisas ainda mais.
O sistema fabril desenvolveu-se, tendo de lutar incessantemente contra inúmeros obstáculos. Teve de combater o preconceito popular, os velhos costumes tradicionais, as normas e regulamentos vigentes, a má vontade das autoridades, os interesses estabelecidos dos grupos privilegiados, a inveja das guildas. O capital fixo das firmas individuais era insuficiente, a obtenção de crédito extremamente difícil e cara. Faltava experiência tecnológica e comercial. A maior parte dos proprietários de fábricas foi à bancarrota; comparativamente, foram poucos os bem-sucedidos. Os lucros, às vezes, eram consideráveis, mas as perdas também o eram. Foram necessárias muitas décadas para que se estabelecesse o costume de reinvestir a maior parte dos lucros e a consequente acumulação de capital possibilitasse a produção em maior escala.
A prosperidade das fábricas, apesar de todos esses entraves, pode ser atribuída a duas razões. Em primeiro lugar, aos ensinamentos da nova filosofia social que os economistas começavam a explicar e que demolia o prestígio do mercantilismo, do paternalismo e do restricionismo. A crença supersticiosa de que os equipamentos e processos economizadores de mão de obra causavam desemprego e condenavam as pessoas ao empobrecimento foi amplamente refutada. Os economistas do laissez-faire foram os pioneiros do progresso tecnológico sem precedentes dos últimos duzentos anos.
Um segundo fator contribuiu para enfraquecer a oposição às inovações. As fábricas aliviaram as autoridades e a aristocracia rural de um embaraçoso problema que estas já não tinham como resolver. As novas instalações fabris proporcionavam trabalho às massas pobres que, dessa maneira, podiam ganhar seu sustento; esvaziaram os asilos, as casas de correção e as prisões. Converteram mendigos famintos em pessoas capazes de ganhar o seu próprio pão.[4]
Os proprietários das fábricas não tinham poderes para obrigar ninguém a aceitar um emprego nas suas empresas. Podiam apenas contratar pessoas que quisessem trabalhar pelos salários que lhes eram oferecidos. Mesmo que esses salários fossem baixos, eram ainda assim muito mais do que aqueles indigentes poderiam ganhar em qualquer outro lugar. É uma distorção dos fatos dizer que as fábricas arrancaram as donas de casa de seus lares ou as crianças de seus brinquedos. Essas mulheres não tinham como alimentar os seus filhos. Essas crianças estavam carentes e famintas. Seu único refúgio era a fábrica; salvou-as, no estrito senso do termo, de morrer de fome.
É deplorável que tal situação existisse. Mas, se quisermos culpar os responsáveis, não devemos acusar os proprietários das fábricas, que — certamente movidos pelo egoísmo e não pelo altruísmo — fizeram todo o possível para erradicá-la. O que causava esses males era a ordem econômica do período pré-capitalista, a ordem daquilo que, pelo que se infere da leitura das obras destes historiadores, eram os "bons velhos tempos".
Nas primeiras décadas da Revolução Industrial, o padrão de vida dos operários das fábricas era escandalosamente baixo em comparação com as condições de seus contemporâneos das classes superiores ou com as condições atuais do operariado industrial. A jornada de trabalho era longa, as condições sanitárias dos locais de trabalho eram deploráveis.
A capacidade de trabalho do indivíduo se esgotava rapidamente. Mas prevalece o fato de que, para o excedente populacional — reduzido à mais triste miséria pela apropriação das terras rurais, e para o qual, literalmente, não havia espaço no contexto do sistema de produção vigente —, o trabalho nas fábricas representava uma salvação. Representava uma possibilidade de melhorar o seu padrão de vida, razão pela qual as pessoas afluíram em massa, a fim de aproveitar a oportunidade que lhes era oferecida pelas novas instalações industriais.
A ideologia do laissez-faire e sua consequência, a "Revolução Industrial", destruíram as barreiras ideológicas e institucionais que impediam o progresso e o bem-estar. Demoliram a ordem social na qual um número cada vez maior de pessoas estava condenado a uma pobreza e a uma penúria humilhantes. A produção artesanal das épocas anteriores abastecia quase que exclusivamente os mais ricos. Sua expansão estava limitada pelo volume de produtos de luxo que o estrato mais rico da população pudesse comprar. Quem não estivesse engajado na produção de bens primários só poderia ganhar a vida se as classes superiores estivessem dispostas a utilizar os seus serviços ou o seu talento. Mas eis que surge um novo princípio: com o sistema fabril, tinha início um novo modo de comercialização e de produção.
Sua característica principal consistia no fato de que os artigos produzidos não se destinavam apenas ao consumo dos mais abastados, mas ao consumo daqueles cujo papel como consumidores era, até então, insignificante. Coisas baratas, ao alcance do maior número possível de pessoas, era o objetivo do sistema fabril. A indústria típica dos primeiros tempos da Revolução Industrial era a tecelagem de algodão. Ora, os artigos de algodão não se destinavam aos mais abastados. Os ricos preferiam a seda, o linho, a cambraia. Sempre que a fábrica, com os seus métodos de produção mecanizada, invadia um novo setor de produção, começava fabricando artigos baratos para consumo das massas. As fábricas só se voltaram para a produção de artigos mais refinados, e portanto mais caros, em um estágio posterior, quando a melhoria sem precedentes no padrão de vida das massas tornou viável a aplicação dos métodos de produção em massa também aos artigos melhores.
Assim, por exemplo, os sapatos fabricados em série eram comprados apenas pelos "proletários", enquanto os consumidores mais ricos continuavam a encomendar sapatos sob medida. As tão malfaladas fábricas que exploravam os trabalhadores, exigindo-lhes trabalho excessivo e pagando-lhes salário de fome, não produziam roupas para os ricos, mas para pessoas cujos recursos eram modestos. Os homens e mulheres elegantes preferiam, e ainda preferem, ternos e vestidos feitos pelo alfaiate e pela costureira.
O fato marcante da Revolução Industrial foi o de ela ter iniciado uma era de produção em massa para atender às necessidades das massas. Os assalariados já não são mais pessoas trabalhando exaustivamente para proporcionar o bem-estar de outras pessoas; são eles mesmos os maiores consumidores dos produtos que as fábricas produzem. A grande empresa depende do consumo de massa. Em um livre mercado, não há uma só grande empresa que não atenda aos desejos das massas. A própria essência da atividade empresarial capitalista é a de prover para o homem comum. Na qualidade de consumidor, o homem comum é o soberano que, ao comprar ou ao se abster de comprar, decide os rumos da atividade empresarial. Na economia de mercado não há outro meio de adquirir e preservar a riqueza, a não ser fornecendo às massas o que elas querem, da maneira melhor e mais barata possível.
Ofuscados por seus preconceitos, muitos historiadores e escritores não chegam a perceber esse fato fundamental. Segundo eles, os assalariados labutam arduamente em benefício de outras pessoas. Nunca questionaram quem são essas "outras" pessoas.
O Sr. e a Sra. Hammond [citados na nota de referência número 2] nos dizem que os trabalhadores eram mais felizes em 1760 do que em 1830.[5] Trata-se de um julgamento de valor arbitrário. Não há meio de comparar e medir a felicidade de pessoas diferentes, nem da mesma pessoa em momentos diferentes.
Podemos admitir, só para argumentar, que um indivíduo nascido em 1740 estivesse mais feliz em 1760 do que em 1830. Mas não nos esqueçamos de que em 1770 (segundo estimativa de Arthur Young) a Inglaterra tinha 8,5 milhões de habitantes, ao passo que em 1830 (segundo o recenseamento) a população era de 16 milhões.[6] Esse aumento notável se deve principalmente à Revolução Industrial. Em relação a esses milhões de ingleses adicionais, as afirmativas dos eminentes historiadores só podem ser aprovadas por aqueles que endossam os melancólicos versos de Sófocles: "Não ter nascido é, sem dúvida, o melhor; mas para o homem que chega a ver a luz do dia, o melhor mesmo é voltar rapidamente ao lugar de onde veio".
Os primeiros industriais foram, em sua maioria, homens oriundos da mesma classe social que os seus operários. Viviam muito modestamente, gastavam no consumo familiar apenas uma parte dos seus ganhos e reinvestiam o resto no seu negócio. Mas, à medida que os empresários enriqueciam, seus filhos começaram a frequentar os círculos da classe dominante. Os cavalheiros de alta linhagem invejavam a riqueza dos novos-ricos e se indignavam com a simpatia que estes devotavam às reformas que estavam ocorrendo. Revidaram investigando as condições morais e materiais de trabalho nas fábricas e editando a legislação trabalhista.
A história do capitalismo na Inglaterra, assim como em todos os outros países capitalistas, é o registro de uma tendência incessante de melhoria do padrão de vida dos assalariados. Essa evolução coincidiu, por um lado, com o desenvolvimento da legislação trabalhista e com a difusão do sindicalismo, e, por outro, com o aumento da produtividade marginal. Os economistas afirmam que a melhoria nas condições materiais dos trabalhadores se deve ao aumento da quota de capital investido per capita e ao progresso tecnológico decorrente desse capital adicional. A legislação trabalhista e a pressão sindical, na medida em que não impunham a concessão de vantagens superiores àquelas que os trabalhadores teriam de qualquer maneira, em virtude de a acumulação de capital se processar em ritmo maior do que o aumento populacional, eram supérfluas. Na medida em que ultrapassaram esses limites, foram danosas aos interesses das massas. Atrasaram a acumulação de capital, diminuindo assim o ritmo de crescimento da produtividade marginal e dos salários. Privilegiaram alguns grupos de assalariados às custas de outros grupos. Criaram o desemprego em grande escala e diminuíram a quantidade de produtos que os trabalhadores, como consumidores, teriam à sua disposição.
Os defensores da intervenção do governo na economia e do sindicalismo atribuem toda melhoria da situação dos trabalhadores às ações dos governos e dos sindicatos. Se não fosse por isso, dizem eles, o padrão de vida atual dos trabalhadores não seria maior do que nos primeiros anos da Revolução Industrial.
Certamente essa controvérsia não pode ser resolvida pela simples recorrência à experiência histórica. Os dois grupos não têm divergências quanto a quais tenham sido os fatos ocorridos. Seu antagonismo diz respeito à interpretação desses fatos, e essa interpretação depende da teoria escolhida. As considerações de natureza lógica ou epistemológica que determinam a correção ou a falsidade de uma teoria são, lógica e temporalmente, antecedentes à elucidação do problema histórico em questão. Os fatos históricos, por si só, não provam nem refutam uma teoria. Precisam ser interpretados à luz da compreensão teórica.
A maioria dos autores que escreveu sobre a história das condições de trabalho no sistema capitalista era ignorante em economia e disso se vangloriava. Entretanto, tal desprezo por um raciocínio econômico bem fundado não significa que esses autores tenham abordado o tema dos seus estudos sem preconceitos e sem preferência por uma determinada teoria; na realidade, estavam sendo guiados pelas falácias tão difundidas que atribuem onipotência ao governo e consideram a atividade sindical como uma bênção. Ninguém pode negar que os Webbs, assim como Lujo Brentano e uma legião de outros autores menores, estavam, desde o início de seus estudos, imbuídos de uma aversão fanática pela economia de mercado e de uma entusiástica admiração pelas doutrinas socialistas e intervencionistas. Foram certamente honestos e sinceros nas suas convicções e deram o melhor de si. Sua sinceridade e probidade podem eximi-los como indivíduos; mas não os eximem como historiadores. As intenções de um historiador, por mais puras que sejam, não justificam a adoção de doutrinas falaciosas. O primeiro dever de um historiador é o de examinar com o maior rigor todas as doutrinas a que recorrerá para elaborar suas interpretações históricas. Caso ele se furte a fazê-lo e adote ingenuamente as ideias deformadas e confusas que têm grande aceitação popular, deixa de ser um historiador e passa a ser um apologista e um propagandista.
O antagonismo entre esses dois pontos de vista contrários não é apenas um problema histórico: está intimamente ligado aos problemas mais candentes da atualidade. É a razão da controvérsia naquilo que se denomina hoje de relações industriais.
Salientemos apenas um aspecto da questão: em vastas regiões — Ásia Oriental, Índias Orientais, sul e sudeste da Europa, América Latina — a influência do capitalismo moderno é apenas superficial. A situação nesses países, de uma maneira geral, não difere muito da que prevalecia na Inglaterra no início da "Revolução Industrial". Existem milhões de pessoas que não encontram um lugar seguro no sistema econômico vigente. Só a industrialização pode melhorar a sorte desses desafortunados; para isso, o que mais necessitam é de empresários e de capitalistas.
Como políticas insensatas privaram essas nações do benefício que a importação de capitais estrangeiros até então lhes proporcionava, precisam proceder à acumulação de capitais domésticos. Precisam percorrer todos os estágios pelos quais a industrialização do Ocidente teve de passar. Precisam começar com salários relativamente baixos e com longas jornadas de trabalho. Mas, iludidos pelas doutrinas prevalecentes hoje em dia na Europa Ocidental e na América do Norte, seus dirigentes pensam que poderão consegui-lo de outra maneira. Encorajam a pressão sindical e promovem uma legislação pretensamente favorável aos trabalhadores. Seu radicalismo intervencionista mata no nascedouro a criação de uma indústria doméstica. Seu dogmatismo obstinado tem como consequência a desgraça dos trabalhadores braçais indianos e chineses, dos peões mexicanos e de milhões de outras pessoas que se debatem desesperadamente para não morrer de fome.
Ludwig von Mises, 12 Outubro 2011
Notas:
[1] A atribuição da expressão "Revolução Industrial" ao período dos reinados dos dois últimos reis da casa de Hanover — George III e George IV (1760-1830) — resultou do desejo de dramatizar a história econômica, de maneira a ajustá-la aos esquemas marxistas procustianos.* A transição dos métodos medievais de produção para o sistema de livre iniciativa foi um processo longo que começou séculos antes de 1760 e que, mesmo na Inglaterra, em 1830, ainda não tinha terminado. Entretanto, é verdade que o desenvolvimento industrial na Inglaterra acelerou-se bastante na segunda metade do século XVIII. Consequentemente, é admissível usar a expressão "Revolução Industrial" ao se examinarem as conotações emocionais que lhe foram imputadas pelo fabianismo, pelo marxismo e pela Escola Historicista.
* Relativo a Procusto, gigante salteador da Ática que, segundo a mitologia grega, despojava viajantes e torturava-os deitando-os num leito de ferro: se a vítima fosse maior, cortava-lhe os pés; se menor, esticava-a por meio de cordas até que atingisse as dimensões do leito. O termo serve para metaforizar o ato de se tentar ajustar arbitrariamente a realidade a um sistema ou teoria previamente concebidos. (N.T.)
[2] J.L. Hammond and Barbara Hammond, The Skilled Labourer, 1760-1832, 2. ed., Londres, 1920, p. 4.
[3] Na guerra dos Sete Anos, 1.512 marinheiros ingleses morreram em combate, enquanto 133.708 morreram de doenças ou desapareceram. Ver W.L.Dorn, Competition for Empire 1740-1763, Nova York, 1940, p.114.
[4] No sistema feudal inglês, a maior parte da área rural constituía-se de campos e florestas. Grande parte dessas áreas era utilizada para o cultivo de grãos e criação de gado para consumo próprio. Com o advento da produção agrícola para o mercado e não para o senhor feudal, essas terras começaram a ser cercadas e apropriadas. Diversos atos do Parlamento, no século XVIII e parte do século XIX, endossaram esse movimento, que tinha oposição das classes inferiores. Tal situação resultou num aumento da produção agrícola e na criação de um proletariado rural, que veio a se tornar a força de trabalho usada pelas fábricas inglesas na "Revolução Industrial".
[5] J.L. Hammond e Barbara Hammond, op. cit.
[6] F.C. Dietz, An Economic History of England, Nova York, 1942, p. 279 e 392.
Ludwig von Mises foi o reconhecido líder da Escola Austríaca de pensamento econômico, um prodigioso originador na teoria econômica e um autor prolífico. Os escritos e palestras de Mises abarcavam teoria econômica, história, epistemologia, governo e filosofia política. Suas contribuições à teoria econômica incluem elucidações importantes sobre a teoria quantitativa de moeda, a teoria dos ciclos econômicos, a integração da teoria monetária à teoria econômica geral, e uma demonstração de que o socialismo necessariamente é insustentável, pois é incapaz de resolver o problema do cálculo econômico. Mises foi o primeiro estudioso a reconhecer que a economia faz parte de uma ciência maior dentro da ação humana, uma ciência que Mises chamou de "praxeologia".
AFINAL, POR QUE OS PETISTAS TÊM TANTO ÓDIO DAS PESSOAS QUE MARCHAM CONTRA A CORRUPÇÃO?
O PT apóia, sim, manifestações de rua. Em Nova York!
O PT apóia, sim, o povo na praça. No Egito!
[...]
Chega a ser fascinante o que está em curso. As várias marchas contra a corrupção país afora têm uma característica comum: o baixo grau de partidarização. Não se vêem as bandeiras de sempre nem se ouve aquela rima-clichê em “ido”: “O povo unido/ jamais será vencido”. Isso se tornou marca registrada de quem tinha um projeto de poder, que está em plena vigência. O petismo queria, em suma, isso que vemos hoje: corrupção, impunidade, maracutaia, mas com o partido no comando. Os males antes a serem vencidos se tornaram instrumentos da luta política. “Se a gente não os emprega, os nossos adversários farão uso deles primeiro”, explicam. Essa é a justificativa (i)moral de todo canalha.
Mas retomo o fio: os que marcham nem sequer recorrem a palavras de ordem contra o PT. Ao contrário até: não deixa de haver certo apelo governista nos protestos quando se exibem as vassouras, numa alusão à faxina que a presidente Dilma Rousseff começou a fazer no governo. Depois ela descobriu que era mais confortável esconder a sujeita debaixo do tapete. Ou seja: a população apoiou a sua iniciativa. Ela é que decidiu não mais levá-la, e se levar, a sério.
Se o PT nem mesmo é um dos alvos dos protestos, por que, afinal de contas, os petistas e petralhas odeiam tanto as manifestações e os manifestantes e dirigem, nas redes sociais, palavras violentas, de baixo calão até, contra aqueles que se mobilizam? Não há outra resposta possível: diante de uma marcha contra a corrupção, eles se sentem discriminados, pessoalmente atingidos, ameaçados. Ou por outra: eles se tornaram beneficiários da corrupção, da malversação do dinheiro público, da roubalheira. Não me espanto que tenham chegado a tal ponto. Revelam a sua natureza. Agem à moda dos urubus.
Até um ator do terceiro ou quarto escalão da TV Globo, que vive de braços dados com notórios detratores da emissora, um desclassificado que deve estar lá por conta de alguma cota (partidária talvez), um mamador asqueroso de dinheiro público, até esse vagabundo petralha decidiu atacar as marchas contra a corrupção. E, de quebra, me xingou também porque, como é público e notório, apóio os protestos. Urubus quando se sentem ameaçados vomitam e começam a soprar nervosamente. É o caso desse asqueroso: sempre fazendo o trabalho de sopro. Um ladrão que vive de joelhos!
Ao se voltar contra os protestos, especialmente nas redes sociais – já que não têm nem coragem moral nem física para dar pinta da praça e combater gente decente cara a cara -, esses vadios revelam qual era o seu anseio, o seu horizonte utópico, o seu ideal. Lembram-se da expressão “um outro mundo possível”? Para eles, já chegou; é esse que está aí. Eles eram contra homens que roubavam homens porque achavam que o certo seria fazer o contrário…
Muita gente apostou que as convocações de ontem não dariam em nada. Em Brasília, havia pelo menos 20 mil pessoas na praça, que se mobilizaram para aquele fim (não houve público-carona de qualquer outro evento). Em São Paulo, Rio e Goiânia, mas de 2 mil manifestantes foram as ruas; centenas mandaram seu recado em muitas outras cidades. Como já escrevi em outro texto, ignorem aqueles que tentam caracterizar os protestos como manifestações de uma rebeldia sem causa, sem alvo, sem organização. Esses não são defeitos, mas qualidades.
Em décadas, essa é a primeira vez que UMA PARTE DO POVO DE VERDADE está saindo às ruas. Chamo de “povo de verdade” o indivíduo, o homem-célula, o cidadão-em-si-mesmo, o homem-sem-partido, o homem-sem-sindicato, o homem-sem-movimento-social, o homem-sem-ONG, o homem-sem-chefe-político, o homem-sem-cabresto-ideológico, o homem-sem-projeto-de-poder, o homem-sem-um-apedeuta-pra-chamar-de-seu. As diretas-já e o impeachment de Collor foram importantes, sim, para o Brasil, mas tinham uma marca ideológica muito clara e obedeciam a comandos partidários.
É por isso que os petistas e seus porta-vozes ou amiguinhos na imprensa fazem pouco dos protestos. Na verdade, eles os temem. Essas pessoas que se manifestam refletem a boa consciência conservadora dos brasileiros. E não me refiro necessariamente àquele conservadorismo ideológico; falo de um outro, de que o ideológico até pode ser uma expressão política: a maioria das pessoas é decente, direita e luta para ganhar a vida honestamente.
E isso, sem dúvida, embrulha o estômago dos urubus. Os petistas e petralhas hostilizam as marchas contra a corrupção porque não suportam a idéia de que o povo possa fazer algo por si mesmo sem precisar pagar o caríssimo pedágio cobrado pelo PT – inclusive o pedágio institucional.
E não se enganem. Os 30 mil nas ruas são muitos milhões operando em suas respectivas casas, em seu trabalho, nas escolas, na rede.
O PT vomita nos manifestantes porque está com medo. Como o urubu.
Por Reinaldo Azevedo
AFINAL, POR QUE OS PETISTAS TÊM TANTO ÓDIO DAS PESSOAS QUE MARCHAM CONTRA A CORRUPÇÃO?
O PT apóia, sim, manifestações de rua. Em Nova York!
O PT apóia, sim, o povo na praça. No Egito!
[...]
Chega a ser fascinante o que está em curso. As várias marchas contra a corrupção país afora têm uma característica comum: o baixo grau de partidarização. Não se vêem as bandeiras de sempre nem se ouve aquela rima-clichê em “ido”: “O povo unido/ jamais será vencido”. Isso se tornou marca registrada de quem tinha um projeto de poder, que está em plena vigência. O petismo queria, em suma, isso que vemos hoje: corrupção, impunidade, maracutaia, mas com o partido no comando. Os males antes a serem vencidos se tornaram instrumentos da luta política. “Se a gente não os emprega, os nossos adversários farão uso deles primeiro”, explicam. Essa é a justificativa (i)moral de todo canalha.
Mas retomo o fio: os que marcham nem sequer recorrem a palavras de ordem contra o PT. Ao contrário até: não deixa de haver certo apelo governista nos protestos quando se exibem as vassouras, numa alusão à faxina que a presidente Dilma Rousseff começou a fazer no governo. Depois ela descobriu que era mais confortável esconder a sujeita debaixo do tapete. Ou seja: a população apoiou a sua iniciativa. Ela é que decidiu não mais levá-la, e se levar, a sério.
Se o PT nem mesmo é um dos alvos dos protestos, por que, afinal de contas, os petistas e petralhas odeiam tanto as manifestações e os manifestantes e dirigem, nas redes sociais, palavras violentas, de baixo calão até, contra aqueles que se mobilizam? Não há outra resposta possível: diante de uma marcha contra a corrupção, eles se sentem discriminados, pessoalmente atingidos, ameaçados. Ou por outra: eles se tornaram beneficiários da corrupção, da malversação do dinheiro público, da roubalheira. Não me espanto que tenham chegado a tal ponto. Revelam a sua natureza. Agem à moda dos urubus.
Até um ator do terceiro ou quarto escalão da TV Globo, que vive de braços dados com notórios detratores da emissora, um desclassificado que deve estar lá por conta de alguma cota (partidária talvez), um mamador asqueroso de dinheiro público, até esse vagabundo petralha decidiu atacar as marchas contra a corrupção. E, de quebra, me xingou também porque, como é público e notório, apóio os protestos. Urubus quando se sentem ameaçados vomitam e começam a soprar nervosamente. É o caso desse asqueroso: sempre fazendo o trabalho de sopro. Um ladrão que vive de joelhos!
Ao se voltar contra os protestos, especialmente nas redes sociais – já que não têm nem coragem moral nem física para dar pinta da praça e combater gente decente cara a cara -, esses vadios revelam qual era o seu anseio, o seu horizonte utópico, o seu ideal. Lembram-se da expressão “um outro mundo possível”? Para eles, já chegou; é esse que está aí. Eles eram contra homens que roubavam homens porque achavam que o certo seria fazer o contrário…
Muita gente apostou que as convocações de ontem não dariam em nada. Em Brasília, havia pelo menos 20 mil pessoas na praça, que se mobilizaram para aquele fim (não houve público-carona de qualquer outro evento). Em São Paulo, Rio e Goiânia, mas de 2 mil manifestantes foram as ruas; centenas mandaram seu recado em muitas outras cidades. Como já escrevi em outro texto, ignorem aqueles que tentam caracterizar os protestos como manifestações de uma rebeldia sem causa, sem alvo, sem organização. Esses não são defeitos, mas qualidades.
Em décadas, essa é a primeira vez que UMA PARTE DO POVO DE VERDADE está saindo às ruas. Chamo de “povo de verdade” o indivíduo, o homem-célula, o cidadão-em-si-mesmo, o homem-sem-partido, o homem-sem-sindicato, o homem-sem-movimento-social, o homem-sem-ONG, o homem-sem-chefe-político, o homem-sem-cabresto-ideológico, o homem-sem-projeto-de-poder, o homem-sem-um-apedeuta-pra-chamar-de-seu. As diretas-já e o impeachment de Collor foram importantes, sim, para o Brasil, mas tinham uma marca ideológica muito clara e obedeciam a comandos partidários.
É por isso que os petistas e seus porta-vozes ou amiguinhos na imprensa fazem pouco dos protestos. Na verdade, eles os temem. Essas pessoas que se manifestam refletem a boa consciência conservadora dos brasileiros. E não me refiro necessariamente àquele conservadorismo ideológico; falo de um outro, de que o ideológico até pode ser uma expressão política: a maioria das pessoas é decente, direita e luta para ganhar a vida honestamente.
E isso, sem dúvida, embrulha o estômago dos urubus. Os petistas e petralhas hostilizam as marchas contra a corrupção porque não suportam a idéia de que o povo possa fazer algo por si mesmo sem precisar pagar o caríssimo pedágio cobrado pelo PT – inclusive o pedágio institucional.
E não se enganem. Os 30 mil nas ruas são muitos milhões operando em suas respectivas casas, em seu trabalho, nas escolas, na rede.
O PT vomita nos manifestantes porque está com medo. Como o urubu.
Por Reinaldo Azevedo
O PT apóia, sim, o povo na praça. No Egito!
[...]
Chega a ser fascinante o que está em curso. As várias marchas contra a corrupção país afora têm uma característica comum: o baixo grau de partidarização. Não se vêem as bandeiras de sempre nem se ouve aquela rima-clichê em “ido”: “O povo unido/ jamais será vencido”. Isso se tornou marca registrada de quem tinha um projeto de poder, que está em plena vigência. O petismo queria, em suma, isso que vemos hoje: corrupção, impunidade, maracutaia, mas com o partido no comando. Os males antes a serem vencidos se tornaram instrumentos da luta política. “Se a gente não os emprega, os nossos adversários farão uso deles primeiro”, explicam. Essa é a justificativa (i)moral de todo canalha.
Mas retomo o fio: os que marcham nem sequer recorrem a palavras de ordem contra o PT. Ao contrário até: não deixa de haver certo apelo governista nos protestos quando se exibem as vassouras, numa alusão à faxina que a presidente Dilma Rousseff começou a fazer no governo. Depois ela descobriu que era mais confortável esconder a sujeita debaixo do tapete. Ou seja: a população apoiou a sua iniciativa. Ela é que decidiu não mais levá-la, e se levar, a sério.
Se o PT nem mesmo é um dos alvos dos protestos, por que, afinal de contas, os petistas e petralhas odeiam tanto as manifestações e os manifestantes e dirigem, nas redes sociais, palavras violentas, de baixo calão até, contra aqueles que se mobilizam? Não há outra resposta possível: diante de uma marcha contra a corrupção, eles se sentem discriminados, pessoalmente atingidos, ameaçados. Ou por outra: eles se tornaram beneficiários da corrupção, da malversação do dinheiro público, da roubalheira. Não me espanto que tenham chegado a tal ponto. Revelam a sua natureza. Agem à moda dos urubus.
Até um ator do terceiro ou quarto escalão da TV Globo, que vive de braços dados com notórios detratores da emissora, um desclassificado que deve estar lá por conta de alguma cota (partidária talvez), um mamador asqueroso de dinheiro público, até esse vagabundo petralha decidiu atacar as marchas contra a corrupção. E, de quebra, me xingou também porque, como é público e notório, apóio os protestos. Urubus quando se sentem ameaçados vomitam e começam a soprar nervosamente. É o caso desse asqueroso: sempre fazendo o trabalho de sopro. Um ladrão que vive de joelhos!
Ao se voltar contra os protestos, especialmente nas redes sociais – já que não têm nem coragem moral nem física para dar pinta da praça e combater gente decente cara a cara -, esses vadios revelam qual era o seu anseio, o seu horizonte utópico, o seu ideal. Lembram-se da expressão “um outro mundo possível”? Para eles, já chegou; é esse que está aí. Eles eram contra homens que roubavam homens porque achavam que o certo seria fazer o contrário…
Muita gente apostou que as convocações de ontem não dariam em nada. Em Brasília, havia pelo menos 20 mil pessoas na praça, que se mobilizaram para aquele fim (não houve público-carona de qualquer outro evento). Em São Paulo, Rio e Goiânia, mas de 2 mil manifestantes foram as ruas; centenas mandaram seu recado em muitas outras cidades. Como já escrevi em outro texto, ignorem aqueles que tentam caracterizar os protestos como manifestações de uma rebeldia sem causa, sem alvo, sem organização. Esses não são defeitos, mas qualidades.
Em décadas, essa é a primeira vez que UMA PARTE DO POVO DE VERDADE está saindo às ruas. Chamo de “povo de verdade” o indivíduo, o homem-célula, o cidadão-em-si-mesmo, o homem-sem-partido, o homem-sem-sindicato, o homem-sem-movimento-social, o homem-sem-ONG, o homem-sem-chefe-político, o homem-sem-cabresto-ideológico, o homem-sem-projeto-de-poder, o homem-sem-um-apedeuta-pra-chamar-de-seu. As diretas-já e o impeachment de Collor foram importantes, sim, para o Brasil, mas tinham uma marca ideológica muito clara e obedeciam a comandos partidários.
É por isso que os petistas e seus porta-vozes ou amiguinhos na imprensa fazem pouco dos protestos. Na verdade, eles os temem. Essas pessoas que se manifestam refletem a boa consciência conservadora dos brasileiros. E não me refiro necessariamente àquele conservadorismo ideológico; falo de um outro, de que o ideológico até pode ser uma expressão política: a maioria das pessoas é decente, direita e luta para ganhar a vida honestamente.
E isso, sem dúvida, embrulha o estômago dos urubus. Os petistas e petralhas hostilizam as marchas contra a corrupção porque não suportam a idéia de que o povo possa fazer algo por si mesmo sem precisar pagar o caríssimo pedágio cobrado pelo PT – inclusive o pedágio institucional.
E não se enganem. Os 30 mil nas ruas são muitos milhões operando em suas respectivas casas, em seu trabalho, nas escolas, na rede.
O PT vomita nos manifestantes porque está com medo. Como o urubu.
Por Reinaldo Azevedo
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