"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 20 de abril de 2013

UM PAÍS FORA DO RITMO

O Brasil manterá o passo errado nos próximos cinco anos e avançará bem menos que outros emergentes até 2018, segundo projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). Sua inflação continuará mais alta e suas contas externas deverão piorar nesse período, com o déficit em transações correntes passando de 2,4% para 3,4% do produto interno bruto (PIB). Projeções de prazo longo aparecem no fim do Panorama Econômico Mundial publicado em abril e setembro pelo Fundo, num apêndice pouco visitado e pouco citado pela maior parte da imprensa. Estimativas desse tipo são sujeitas a erros importantes. Não são, no entanto, arbitrárias, nem inúteis. Ajudam a ver como poderá ser o futuro, se as tendências dos últimos anos persistirem, se as políticas forem mantidas e se as reformas necessárias forem levadas adiante ou negligenciadas. No caso do Brasil, os autores do estudo obviamente esperam poucas mudanças com potencial para tornar a economia mais dinâmica e mais sólida em seus fundamentos.
Segundo as projeções, a economia mundial crescerá 3,3% neste ano, 4% no próximo e 4,5% em 2018, puxada, como tem sido há alguns anos, pelos países emergentes e em desenvolvimento. A convalescença europeia será lenta e penosa. Os Estados Unidos continuarão avançando com firmeza. Seu PIB crescerá apenas 1,2% em 2013, por causa do arrocho fiscal, mas aumentará 2,2% em 2014 e em 2018 terá atingido um ritmo de expansão 2,5%. A média dos emergentes e em desenvolvimento ficará em 5,3%, 5,7% e 6,2% em cada um desses três pontos de referência. Para a Ásia em desenvolvimento, incluída a China, os números estimados são 7,1%, 7,3% e 7,7%. Há uma aposta, portanto, no êxito dos programas de ajuste e de renovação dos modelos já iniciados em algumas dessas economias.
Nesse quadro, o avanço brasileiro continuará mais lento que o de vários países latino-americanos. Segundo o Panorama, o PIB do Brasil aumentará 3% em 2013, 4% no próximo ano e 4,2% em 2018. Se a projeção para este ano for confirmada, o resultado será bem melhor que o de 2012, quando o crescimento ficou em apenas 0,9%, apesar dos estímulos criados pelo governo. Alguns incentivos ao investimento privado poderão finalmente produzir algum efeito neste ano, de acordo com a análise apresentada no capitulo 2 do relatório.
Mas "restrições de oferta podem limitar o ritmo de crescimento a curto prazo", advertem os autores do trabalho. Em outras palavras: os entraves observados nos últimos anos poderão ainda atrapalhar a economia brasileira em 2013. Sem examinar em detalhes a política seguida no Brasil depois da crise de 2008 e especialmente a partir de 2011, os economistas do FMI apontaram, no entanto, o grande problema negligenciado por muito tempo pelo governo brasileiro. Durante dois anos a equipe da presidente Dilma Rousseff insistiu em estimular a demanda, principalmente de consumo, sem dar a atenção necessária ao lado da produção e, portanto, da oferta.
O crescimento de 3% estimado para 2013 ficará muito abaixo do necessário para compensar o baixo desempenho dos dois anos anteriores. É preciso levar também isso em conta ao confrontar os números do Brasil com os de outros países do Hemisfério. Chile, Colômbia, Equador, Peru e México também foram afetados pela crise internacional, mas em pouco tempo voltaram a crescer em ritmo parecido com o dos anos anteriores à recessão no mundo rico. Todos bateram o Brasil com muita folga desde 2010.
Para 2013, 2014 e 2018 as projeções do Fundo indicam as seguintes taxas de expansão para esses países: Chile, 4,9%, 4,6% e 4,6%; Colômbia, 4,1%, 4,5% e 4,5%; Equador, 4,4%, 3,9% e 3,5%; Peru, 6,3%, 6,1% e 6%; México, 3,4%, 3,4% e 3,3%. Entre 2010 e 2012 a economia equatoriana acumulou expansão de 17,14%; a mexicana, de 13,67%; a brasileira, de apenas 11,40%. Em todos esses países a inflação foi menor que a brasileira e assim deverá continuar neste e no próximo ano.
Os economistas do FMI estimam para o Brasil inflação de 5,5% em 2013 e 4,5% em 2014. Para o Chile, a projeção é de 3% em cada um dos dois anos. Para a Colômbia, de 2,4% e 3%. Para o Peru, de 2,1% e 2%. Para o México, de 3,6% e 3,3%. A presidente Dilma Rousseff deveria desconhecer esses números quando falou sobre crescimento e inflação em Durban, na África do Sul. Naquele pronunciamento, ela rejeitou uma ação mais forte contra a alta de preços como se fosse incompatível com a expansão do PIB. Parece ter esquecido, ou talvez ignorasse, a experiência internacional. Inflação alta e resistente, como a brasileira, dificulta o planejamento empresarial e corrói o poder de compra dos consumidores. Tende a tornar-se, portanto, um obstáculo ao crescimento da economia.
Além disso, inflação mais elevada que a dos outros países desajusta o câmbio e afeta o poder de competição dos produtores nacionais. No entanto, empresários e ilustres economistas brasileiros muito raramente reclamam da inflação, embora esbravejem continuamente contra a valorização cambial. Devem ter esquecido tanto a experiência internacional quanto a nacional.
Durante muito tempo o Brasil se deu mal com o câmbio fixo. O câmbio flexível e ajustado periodicamente pela inflação, adotado em 1968, foi um avanço, mas muito imperfeito. Sem estabilidade monetária, o regime cambial tornou-se uma corrida permanente em busca de ajustes de curta duração. A inflação desarranjava o câmbio e em seguida a correção cambial desarrumava os preços. O sistema passou a funcionar como um cão correndo atrás do próprio rabo. Parece estranho, mas alguns economistas e industriais falam como se tivessem saudade desse tempo
Os países com melhor desempenho têm combinado controle da inflação, contas públicas em condições razoáveis e integração nos mercados globais. O resto é teimosia, mera insistência em pajelanças bem conhecidas, testadas e desacreditadas.
20 de abril de 2013
ROLF KUNTZ, JORNALISTA - O Estado de S.Paulo

"PRÊMIO EM BOA HORA"

 
Foi uma coincidência providencial para o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, ter sido apontado pela revista "Time" como uma das cem pessoas mais influentes do mundo na mesma semana em que o acórdão do julgamento do mensalão está sendo afinal publicado, dando partida para a contagem do prazo para a apresentação dos recursos pelas defesas dos condenados.

Para a revista, Barbosa "simboliza a promessa de um novo Brasil comprometido com a diversidade cultural e com a igualdade". O julgamento do mensalão é citado como demonstração de que o presidente do STF é um juiz independente, pois, tendo sido nomeado pelo ex-presidente Lula, "mesmo assim participou da condenação de políticos próximos ao ex-presidente no ano passado". Em dezembro de 2012, o presidente do STF já entrara para a lista de líderes ibero-americanos do jornal espanhol "El País" também pela atuação como relator no julgamento do mensalão.

A distinção a que Barbosa fez jus reafirma a importância de seu trabalho como relator da Ação Penal 470 e o ajuda a enfrentar as críticas de setores petistas especialmente ligados ao ex-ministro José Dirceu, por questões ideológicas ou até pecuniárias. Aliás, o resumo do acórdão do julgamento do mensalão divulgado ontem pelo STF aponta o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu como o responsável pela "organização" e pelo "controle" do esquema ilícito de compra de apoio político do Congresso no primeiro mandato do governo Lula.

Esse respaldo internacional à atuação de Barbosa, fortalecendo sua imagem internacional, serve também para neutralizar a ameaça de que os réus procurarão instâncias internacionais para denunciar a "injustiça" que estariam sofrendo. A busca de reparação na Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, por exemplo, que José Dirceu anuncia agora, já havia sido prevista por outro condenado de menor importância na hierarquia no crime julgado, o ex-deputado do PL, hoje no PR, Valdemar Costa Neto e provocou comentários do presidente da Corte, Diego García-Sayán.

Em visita recente ao país, o jurista explicou que a Corte de San José não é uma"instância revisora" das Cortes Supremas de outros países. "A Corte Interamericana não é um tribunal penal, no qual se modificam as penas", declarou.

Algumas das críticas a Barbosa, porém, são fruto da sua intransigência injustificável, ele mesmo dando pretexto para que adversários o acusem, e ao Supremo como um todo, de estar promovendo julgamento político. Por isso, foi bom que o plenário do STF tenha aumentado o prazo de cinco para dez dias para os recursos da defesa, em analogia ao que o Código de Processo Civil prevê para julgamentos com mais de um réu, caso do mensalão.

Com essa atitude, o STF como instituição reafirma que se preocupa em garantir a todos os condenados as condições plenas de defesa. O rigor de Barbosa, se é elogiável como procedimento em um magistrado, pode dar ensejo a acusações de parcialidade quando excessivo, como nesse caso. É típico exemplo de como o temperamento de uma pessoa pode interferir negativamente nas suas ações, situações que já haviam surgido no próprio julgamento do mensalão.

Da mesma maneira, na reunião que fizera dias antes com os representantes das associações de magistrados, embora defendesse posição correta, contra a criação de novos tribunais no país, Barbosa os submeteu a um constrangimento desnecessário ao chamar a imprensa para presenciar a carraspana que passaria neles.

A partir de 2 de maio, quando o STF estiver analisando os recursos das defesas, haverá provavelmente novo debate, agora para definir se ainda há os "embargos infringentes", que permitem a condenados com pelo menos quatro votos pela absolvição a tentativa de rever a pena. Essa forma de recurso, mais consequente que os "embargos de declaração", que só pedem explicações de eventuais dúvidas nos votos dos ministros, só é prevista no regimento interno do STF. A Constituinte de 1988 não se refere a ela, e nem a Lei 8.038, que depois regulamentou os procedimentos dos processos no STF.
Mas é provável que, para não dar margem a reclamações de que não houve duplo grau de jurisdição, a maioria do STF aceite analisar os "embargos infringentes", contra a posição do seu presidente, Joaquim Barbosa.

20 de abril de 2013
Merval Pereira, O Globo

"SOCIEDADE E INSTITUIÇÕES ARGENTINAS REAGEM"

‘Chavização’ do país se dá quando o movimento entra em crise no nascedouro, a Venezuela, com a morte de Chávez e a magra vitória de Maduro
Os argentinos fizeram, na noite de quinta-feira, o maior protesto contra o governo Cristina Kirchner. Centenas de milhares se manifestaram em Buenos Aires e outras cidades do país com o típico bater de panelas, o cacerolazo. É o terceiro evento desse tipo em pouco mais de sete meses — os outros ocorreram em setembro e novembro do ano passado.

O foco do último protesto foi a reforma judiciária que o kirchnerismo faz aprovar, a toque de caixa, no Congresso, onde tem maioria. Mas também estiveram presentes outros aspectos da vida argentina que causam imenso desgaste ao governo K, como a inflação, a violência nas ruas, a corrupção e o projeto de emendar a Constituição para permitir um terceiro mandato a Cristina.

A reforma judiciária impulsionada pela Casa Rosada, sob o argumento de “democratizar” a Justiça, foi alvo de intensa crítica da maioria dos setores nacionais e da oposição, que nela veem uma tentativa de ampliar o controle do Executivo sobre as outras instituições do Estado. O projeto adota a eleição direta para o Conselho da Magistratura, o que se refletirá na politização das decisões. Impõe, também, um limite de seis meses para a vigência de liminares, o que, inclusive, já passou no Congresso.

A mobilização kirchnerista decorre do fato de a Justiça ter travado dispositivos da autoritária cLei de Meios, criada sob o argumento de “desconcentrar” os grupos de mídia, mas claramente visando a esfacelar o Grupo Clarín, crítico do governo. Outras empresas, como a que edita o jornal “La Nación”, são também alvos da iniciativa. Enfureceu a Casa Rosada a recente decisão da Câmara Federal Civil e Comercial de considerar inconstitucionais dois artigos da Lei de Meios que atingem mais duramente o “Clarín”.

O protesto de quinta-feira mostra que a sociedade argentina reage para conter o avanço kirchnerista. As decisões da Justiça evidenciam que pelo menos um dos poderes da República não se rendeu ao autoritarismo do governo K. A reforma proposta pela Casa Rosada é mais um caso de aplicação na Argentina do “kit chavista”, que submete as instituições a um Executivo forte e a um chefe de Estado capaz de criar regras para se eternizar no poder.

A progressiva “chavização“ do país se dá ao mesmo tempo em que o movimento, contrário ao ideário democrático, entra em crise no nascedouro, a Venezuela, com a morte de Chávez e a inexpressiva vitória eleitoral de seu discípulo, Nicolás Maduro, sobre Henrique Capriles, símbolo da oposição cada vez mais forte ao autoritarismo de Estado. Na Argentina, a sociedade e algumas instituições tentam resistir à avalanche kirchnerista.

Mas como numa democracia o poder deve ser obtido nas urnas, a oposição argentina precisa unir-se em torno de um projeto viável que atraia os eleitores descontentes, a maioria.

20 de abril de 2013
Editorial de O Globo

"CRESCENDO MENOS"

Mais do que confirmar o que o governo Dilma tenta negar - que o desempenho da economia brasileira continuará sendo pior do que o dos demais países emergentes e também do resto do mundo -, o Panorama da Economia Mundial com as novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2013 adverte para a persistência de gargalos que reduzem o potencial de crescimento do Brasil.
 
O FMI reviu para baixo suas projeções para o desempenho da economia mundial neste ano, mas a revisão dos dados referentes à economia brasileira foi mais significativa do que as revisões dos dados do resto dos países, inclusive os emergentes. Inicialmente previsto em 3,5%, o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2013 agora é estimado em 3%. Ainda é, reconheça-se, um número bem melhor do que o registrado em 2012, quando o PIB brasileiro cresceu apenas 0,9%, mas ruim se comparado com o do resto do mundo. Em média, a economia mundial deverá crescer 3,3%, de acordo com as novas projeções do Fundo Monetário Internacional.

Países aos quais o Brasil tem sido comparado por analistas e investidores internacionais terão desempenho melhor. O FMI espera que, em 2013, a China cresça 8%; a Índia; 5,7%; e a Rússia e o México, 3,4%.

A recente aceleração dos preços no Brasil não parece preocupar o Fundo. Apesar de, em março, a inflação brasileira ter rompido o limite superior da margem de tolerância da meta deste ano, o FMI acredita que a alta média dos preços ao consumidor fique em cerca de 5,5% em 2013 e, no próximo ano, alcance 4,5%, centro da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional.

O que preocupa o Fundo, entre outras dificuldades, são os gargalos da infraestrutura, que podem comprometer o crescimento futuro. Esse problema foi apontado pela diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. "O fornecimento e o escoamento de mercadorias é limitado por gargalos em quase todo o território", disse ela, referindo-se à situação dos portos, aeroportos, rodovias e ferrovias no Brasil. "Aprimorar a infraestrutura poderia melhorar muito a situação do País, e é isso que sugerimos que seja priorizado."

Além da infraestrutura, o chefe da divisão de pesquisa do Fundo, Thomas Helbing, citou outro gargalo que pode tolher o crescimento brasileiro. É o que se localiza no mercado de trabalho. Há um lado positivo da evolução do mercado de trabalho no Brasil nos últimos anos, com o aumento do número de trabalhadores contratados. Isso contribuiu para o aumento da renda real média da população, estimulou o consumo e evitou que o desempenho da economia fosse pior do que o registrado nos dois últimos anos.

Mas um número crescente de empresas começa a enfrentar escassez de mão de obra preparada e treinada para o desempenho de funções mais complexas, que exigem maior domínio de técnicas e maior conhecimento. As políticas públicas na área da educação anunciadas até agora não tiveram o efeito de suprir a demanda desses profissionais na velocidade exigida pelo mercado.

Além do impacto de fatores externos, as economias sul-americanas foram afetadas também por fatores internos, em geral de responsabilidade dos governos - e isso foi particularmente visível no Brasil. "Grandes estímulos falharam em impulsionar o investimento privado", observou o FMI, referindo-se aos generosos incentivos concedidos pelo governo Dilma e que até agora não resultaram em investimentos nem em crescimento. A relativa estagnação brasileira afetou o desempenho da Argentina e do Uruguai.

Quanto à estabilidade da economia brasileira, o vice-diretor de assuntos fiscais do FMI, Philip Gerson, observou que, como a dívida pública bruta ainda é superior a dois terços do PIB, o governo deveria cumprir a meta cheia do superávit primário - necessário para honrar os compromissos decorrentes da dívida -, que está fixada em 3,1% do Produto Interno Bruto. O governo Dilma, no entanto, vem reduzindo essa meta na prática, por meio de artifícios orçamentários e contábeis, e com isso gera desconfianças sobre sua política fiscal.

20 de abril de 2013
Editorial do Estadão

GRAÇA FOSTER: O GOVERNO É NOSSO CONTROLADOR E O INVESTIDOR SABE DISSO

Para executiva, inflação não pode ser ignorada. Ela também garantiu que a Petrobras dobrará de tamanho até 2020, puxada pela produção do pré-sal
O governo faz a gestão da Petrobras olhando a árvore toda e não apenas uma folha. Foi com essa afirmação que a presidente da estatal, Maria das Graças Foster, respondeu a um questionamento sobre se o governo usa a empresa como instrumento de controle à inflação. A executiva participou na manhã deste sábado de um encontro com alunos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), em São Paulo.

— A Petrobras é uma empresa de capital aberto que tem o governo como controlador e os investidores sabem disso quando optam pelas ações da empresa. Mas, em sã consciência, nenhum governo fará ou fez qualquer ato que possa provocar qualquer queda à Petrobras — rebateu Graça.

Embora tenha reconhecido a necessidade de estar atento aos movimentos inflacionários “para manter o nível de consumo”, inclusive dos combustíveis produzidos pela empresa, Graça lembrou que “nos últimos 10 meses houveram 4 reajustes” nos preços da gasolina, totalizando 14,9% de alta, e no diesel, de 21,9%. Ela não mencionou, porém, que os valores não eram reajustados desde 2006.

— Esses reajustes não foram pouco, não. A Petrobras é extremamente importante ao País e o nosso controlador tem o dever de orientar a companhia por meio do conselho de administração, presidido pelo ministro Guido Mantega (Fazenda) — afirmou.

Durante a palestra que fez aos alunos da FGV, Graça falou sobre o plano de investimentos da companhia, os projetos futuros, relações comerciais e a importância do desenvolvimento de inovações tecnológicas para reduzir os custos de produção.

Segundo ela, até 2020 a empresa dobrará de tamanho por causa da produção no pré-sal. De acordo com dados apresentados pela executiva, hoje são produzidos 300 mil barris de petróleo por dia do pré-sal. Em 2017, as projeções apontam avanço da extração para 1 milhão de barris/dia e, em 2020, para 2,1 milhões de barris diários.

— Não é barato produzir petróleo. Mas temos sempre de reduzir os custos — afirmou.

20 de abril de 2013
Roberta Scrivano - O Globo

E VAMOS FESTEJAR OS 10 ANOS DE LULOPETISMO...

Brasil perde R$ 6 bilhões por ano na exportação de soja por caos logístico
 
Caos do campo ao porto. Estradas esburacadas, falta de armazéns e burocracia nos portos fazem o Brasil perder R$ 6 bi por ano na exportação de soja
 

Via-crúcis. As péssimas condições da BR 163/364, no anel viário de Cuiabá (MT), obrigam os caminhoneiros a gastar 3 horas para percorrer um trecho de apenas 20 km. Quando há acidentes, esse tempo sobe para 9 horas
Foto: Guito Moreto
Via-crúcis. As péssimas condições da BR 163/364, no anel viário de Cuiabá (MT), obrigam os caminhoneiros a gastar 3 horas para percorrer um trecho de apenas 20 km. Quando há acidentes, esse tempo sobe para 9 horas Guito Moreto

SINOP, LUCAS DO RIO VERDE (MT), CAMPO GRANDE (MS), OURINHOS (SP), PARANAGUÁ (PR) e RIO - O Brasil parece não gostar de exportar soja. As dificuldades de levar o grão do campo ao porto vão muito além da afamada fila de caminhões nos terminais portuários. Acidentes e mortes em estradas federais esburacadas, propina, falta de armazéns e burocracia nos portos deixam um prejuízo de R$ 6,6 bilhões por ano ao país, segundo especialistas.
 
Repórteres do GLOBO percorreram a principal rota da soja, de Lucas do Rio Verde (MT) a Paranaguá (PR), e constataram o caos logístico, como mostra a série de reportagens “Celeiro em xeque”. Na boleia de um caminhão com 37 toneladas do grão, os obstáculos, até os mais triviais, ganham uma proporção do tamanho da safra recorde de 82 milhões de toneladas, prevista para este ano.

Para levar um dos produtos que mais recursos traz ao país — o complexo da soja briga com o minério de ferro pela liderança nas exportações —, um exército de caminhoneiros vive a duras penas, com dificuldades até de atender a necessidades básicas, como dormir e tomar banho. A infraestrutura precária faz com que 15% do frete da soja sejam gastos com pneus e manutenção, muito acima da média mundial de 3%.

No fim das contas, ao vender uma saca de 60 kg de soja, o produtor recebe o equivalente a apenas 35 kg. O resto do dinheiro fica no caminho, pois o Brasil optou pela pior, mais cara e poluente via de transporte para longas distâncias: as rodovias. Pelas estradas seguem 82% da safra de soja, percentual muito acima dos EUA, onde os caminhões levam 25% da produção.

Carentes de armazéns, os produtores brasileiros liberam a safra ao mesmo tempo, entupindo as estradas e ficando à mercê das cotações do dia. Já o milho terá prejuízo estimado em R$ 1,4 bilhão com o caos logístico este ano, totalizando R$ 8 bilhões em perdas para o país quando somado à soja.

10 de abril de 2013
Henrique Gomes Batista, enviado especial e Danielle Nogueira - O Globo

MINISTROS DIVERGIRAM SOBRE RECURSO DE GANGUE DE LULA A ÓRGÃO DA OEA

Ministros divergiram sobre recurso de réus a órgão da OEA. Para Celso de Mello, Brasil seguiria Corte; Barbosa vê ‘mambo jambo'
 
 Mensalão. Celso de Mello: condenado pode recorrer à Corte Interamericana Foto: André Coelho / André Coelho/07-08-2012
Mensalão. Celso de Mello: condenado pode recorrer à Corte InteramericanaAndré Coelho / André Coelho/07-08-2012

Durante o julgamento do mensalão, os ministros do Supremo Tribunal Federal discutiram se, em caso de recursos dos réus a cortes internacionais, o Brasil teria ou não de seguir eventual decisão reformando condenações. Para o ministro Celso de Mello, os réus condenados no processo do mensalão têm o direito de recorrer à Comissão Interamericana de Direitos Humanos para tentar mudar a decisão. Caso o órgão revogue as condenações, o Brasil terá de cumprir a determinação.
 
O entendimento de Celso de Mello foi registrado na sessão de 15 de agosto de 2012, durante o julgamento, e comporá o acórdão do mensalão. Outros ministros acreditam, no entanto, que não há possibilidade de a instância internacional anular a decisão do Supremo, por considerar que não houve violação de direitos dos réus.

“Retórica processual”

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu já manifestou interesse em apelar ao órgão internacional. Ele foi condenado a dez anos e dez meses de prisão por formação de quadrilha e corrupção ativa.

— Nada impedirá que a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, sediada em Washington, esgotada a jurisdição doméstica (ou interna) e atendidas as demais condições estipuladas no Pacto de São José, submeta o caso à jurisdição contenciosa da Corte Interamericana de Direitos Humanos, em ordem a permitir que esta exerça o controle de convencionalidade — defendeu Celso de Mello, em agosto.

Os demais ministros não concordaram. O primeiro a se opor à tese foi o relator do processo e atual presidente do STF, Joaquim Barbosa.

— Justiça que se preza não se submete, ela própria, a órgãos externos de natureza política. E a Comissão o é — afirmou.

Depois, Barbosa arrematou:

— Tive o cuidado de trazer tudo, quase tudo a este plenário, exatamente para evitar esse tipo de “mambo jambo”, não é?

O ministro Gilmar Mendes registrou sua opinião contrária aos recursos ao órgão da Organização dos Estados Americanos:

— Raramente teve-se um processo com tal cuidado de observância do devido processo legal. Quer dizer, o recurso à Corte Interamericana, vamos reconhecer, é um recurso de retórica processual.

Mas Celso de Mello ressaltou que o Brasil, como signatário do Pacto de São José da Costa Rica, tem a obrigação de se submeter às decisões do órgão internacional:

— Não custa relembrar que o Brasil, apoiando-se em soberana deliberação, submeteu-se à jurisdição contenciosa da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o que significa que o Estado brasileiro comprometeu-se, por efeito de sua própria vontade político-jurídica, ‘a cumprir a decisão da Corte em todo caso’ de que é parte — afirmou.

Pedido de suspensão negado

A discussão foi provocada por questão preliminar levantada pelos advogados dos réus Breno Fischberg e Enivaldo Quadrado, sócios da corretora Bônus Banval, que acabaram condenados por lavagem de dinheiro. Os dois queriam a suspensão do julgamento, alegando que o STF deveria esperar o resultado da denúncia deles à Comissão Interamericana de Direitos Humanos, por cerceamento de defesa. O pedido foi negado por unanimidade.

Luiz Fernando Pacheco, advogado do deputado José Genoino (PT-SP), disse que a possibilidade de recorrer à OEA será analisada somente depois que o STF julgar embargos de declaração e embargos infringentes. Genoino foi condenado a 6 anos e 11 meses de reclusão por corrupção ativa e formação de quadrilha.

—Há possibilidade de recursos para as cortes internacionais. Não conseguindo reverter no Supremo, avaliaremos, estamos estudando ir à OEA. A possibilidade não está descartada nem definida — afirmou Pacheco.

20 de abril de 2013
Carolina Brígido e André de Souza - O Globo

DE JATINHO, DIRCEU INICIA MARATONA DE LUXO PARA SE DEFENDER

Apesar de não ter mais poder, o ex-ministro José Dirceu mostra que tem muito, muito dinheiro.

Ele começou na última Quinta-feira um roteiro que até a Segunda passará por quatro capitais: Teresina, Macapá, Belém e São Luís, segundo relatou a amigos.

E só ficará em hotéis 5 estrelas – em Teresina, hospedou-se no Petropolitan. Dirceu viaja em jatinho fretado da Flex Aero em Jundiaí, um Citation Mustang com capacidade para quatro lugares, que diz ser bancado por ele. Cada trecho não sai por menos de R$ 30 mil. Só de frete, então, gastará cerca de R$ 150 mil até voltar para casa.

Em palestra para militantes petistas em Teresina, na Quinta, Dirceu revelou que recorrerá às cortes internacionais para tentar anular sua condenação. Ele ficou animado com o voto no acórdão do ministro do STF Celso de Mello: que o Supremo poderá acatar o que a Corte Interamericana de Direitos Humanos decidir. O petista disse também que vai usar as viagens a convite do PT para defender o legado de Lula e o governo de Dilma.

Dirceu foi condenado a 10 anos e 10 meses de prisão e a pagar multa de R$ 676 mil à Justiça. Mas pelo visto, a militância perde tempo em jantares para arrecadar fundos que o ajudem. Em sua defesa, o ex-ministro se diz injustiçado, que o Mensalão é uma farsa e carrega um livro em que detona a tese dos ministros do STF que o condenaram.

O ex-ministro chega amanhã à noite em São Luís. Contam no Palácio dos Leões que, para driblá-lo, a governadora Roseana Sarney (PMDB) deixará o vice petista no cargo para recebê-lo.

20 de abril de 2013
Leandro Mazzini - UOL

INFLAÇÃO DE DILMA E DÍVIDAS REDUZEM PARTICIPAÇÃO DA CLASSE B NO CONSUMO

Inflação e endividamento reduzem participação da classe B no consumo. Além de perder participação no total de compras, a classe B será praticamente o único estrato social que terá expansão de gastos com compras abaixo da média da população
 
 
Inflação em alta e endividamento elevado vão tirar neste ano o fôlego das compras da classe B, o estrato social mais importante no consumo das famílias do País. A participação de domicílios com renda média mensal entre R$ 3,7 mil e R$ 7,4 mil no bolo total dos gastos com produtos e serviços de R$ 2,8 trilhões projetado para este ano deve ser de 48,5%, aponta estudo da IPC Marketing, consultoria especializada em avaliar o potencial de consumo. Em 2012, essa fatia havia sido de 50%.

Além de perder participação no total de compras nos 5 mil municípios do País, a classe B será praticamente o único estrato social que vai ter uma expansão de gastos com compras abaixo da média da população brasileira. O consumo total deve crescer neste ano 9,9% em relação ao de 2012. Já o da classe B deve subir 6,6%, sem descontar a inflação.

O estudo foi feito com base em um modelo desenvolvido pela consultoria que leva em conta números dos censos e pesquisas do IBGE e fontes secundárias. O pano de fundo é a alta de 3% do PIB e inflação de 5,7%.

"A classe B neste ano está mais pobre do que em 2012 na sua capacidade de fazer novas compras, apesar de ter aumentado o número de domicílios urbanos nesse estrato social", afirma Marcos Pazzini, diretor do IPC Marketing e responsável pelo estudo. De 2012 para 2013, a classe B foi ampliada em um pouco mais de 300 mil domicílios.

Ele explica que, de um ano para outro, a classe B "exportou" domicílios para a classe A, que ampliou em 11,6% sua capacidade de consumo. Ao mesmo tempo, a classe B recebeu novas famílias, egressas da classe C. Elas ascenderam socialmente pela aquisição de bens, patrocinada pela abundância de crédito, mas sem ter renda compatível com essa capacidade de compra.

Isso ocorre porque o Critério Brasil, da Associação Brasileira das Empresas de Pesquisa (Abep) e adotado pelos institutos de pesquisas, leva em conta a posse de bens e o nível de escolaridade do chefe da família para estratificar socialmente os domicílios. Exemplo: as casas de classe B têm duas TVs, um carro e um banheiro. Na classe A, o número de TVs e de carros dobra e de banheiros triplica. Pazzini diz que criou uma estratificação social de renda média familiar correspondente à posse de bens para se ter uma ideia mais concreta do perfil dessa população.

Luz amarela. O descompasso entre a posse de bens da classe B e a renda faz acender a luz amarela. "Se a inflação disparar, teremos problemas para todos, mas principalmente para a classe B", diz Fábio Pina, assessor econômico da Fecomércio-SP.

Entre setembro de 2012 e março de 2013, cresceu de 36,2% para 47,3% a fatia de famílias endividadas com renda superior a 10 mínimos. Em igual período, o índice de famílias de renda menor endividadas caiu de 56,8% para 53,6%.

20 de abril de 2013
Márcia De Chiara, de O Estado de S. Paulo

CORRUPÇÃO ENDÊMICA ATACA MINHA CASA


No vácuo do crescimento do fisiologismo na vida pública, em que vale tudo no toma lá dá cá para preservar e ampliar poder — inclusive desviar dinheiro público para a compra literal de apoio político, como no mensalão —, multiplicaram-se redes de rapina numa zona cinzenta na fronteira entre a política e a criminalidade.

Malhas de corrupção começaram a ficar mais expostas no início do governo Dilma, naquela fase de “faxina” ministerial, com destaque para a desenvoltura com que o PR do senador Alfredo Nascimento, do mensaleiro Valdemar Costa Neto e Juquinha (José Francisco das Neves) da Valec administraram o bilionário orçamento dos Transportes.

“Malfeitos” também foram constatados na Agricultura e Turismo, Pastas ordenhadas pelo PMDB, e no Esporte, sob os cuidados de companheiros do PCdoB de Orlando Silva.



Ali foram identificados esquemas montados com a finalidade de dragar dinheiro público para legendas — e projetos pessoais, é claro. Engrenagens de corrupção só colocadas em movimento pela conivência de altos escalões nos ministérios.

Já o esquema de rapinagem, revelado domingo pelo GLOBO, no programa de habitação popular Minha Casa Minha Vida chama a atenção para desdobramentos dentro da máquina pública da disseminação da prática do roubo do dinheiro do contribuinte.

Desta vez, são ex-funcionários do Ministério das Cidades, treinados nos meandros burocráticos do programa de habitação, que montam na esfera privada um esquema malandro, para atuar junto a cidades pequenas, de no máximo 50 mil habitantes, onde não transita a Caixa Econômica com seus auditores.

Daniel Vital Nolasco, diretor de Produção Habitacional do ministério até 2008, e Fernando Lopes Borges, da Secretaria Nacional de Programas Urbanos, alegado sócio oculto na empreitada, exonerado em 2010 por abandono do cargo, são alguns dos personagens da trama.

Como costuma acontecer em quadrilhas, a história só emergiu porque quadrilheiros brigaram. Fernando Lopes seria representado na empresa de fachada do grupo, a RCA, pelo irmão Ivo. Com a sua morte, veio o desentendimento em torno de dinheiro e Fernando recorreu à Justiça, onde relata o funcionamento desta máfia habitacional criada para explorar, no pior sentido da palavra, o Minha Casa Minha Vida.

Em depoimentos, Fernando, sem apresentar provas, denuncia que o esquema começou com Erenice Guerra, derrubada da Casa Civil por tráfico de influência. Atira, ainda, no PCdoB, ao qual Daniel Vital é filiado. O partido seria beneficiado por desvios feitos por manobras em negócios em que o grupo atua em diversas pontas no Minha Casa — contratante de construtoras, fiscal de obras, agenciador de prefeitos etc.

A corrupção na máquina pública parece ter entrado num estágio de endemia. É detectada no atacado e no varejo. O mundo dos pequenos negócios municipais, financiados com farto dinheiro federal, se mostra repleto de oportunidades.

20 de abril de 2013
O Globo, Editorial

A PRESENÇA CÊNICA DE JOAQUIM BARBOSA


Na segunda-feira, 15, quatro dias antes de ser publicada a lista anual da revista Time com os nomes das 100 personalidades mais influentes do mundo - sempre aguardada nos quatro cantos do planeta com enorme e justa expectativa, apesar dos disfarces - um acaso me levou ao Canal Brasil, na rede privada de TV, que apresentava a primeira das duas partes do programa Espelho, conduzido por Lázaro Ramos.

Cheguei em cima da hora, mas a tempo de ver e me emocionar, como há muito não acontecia, com a produção da TV brasileira digna de ser inscrita a prêmio, desde já, entre as melhores de 2013. Aguardo a parte final, no começo da próxima semana, para confirmar a grata impressão com o conjunto da obra de arte e jornalismo.

Na frente do “espelho” apresentado em rede nacional, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. Ele sim, em carne, osso e toda complexidade de sentimentos pessoais. O grande destaque do País e da América Latina na seleta e prestigiosa lista da revista norte-americana, apresentado como “o juiz brasileiro do Mensalão”. No programa ele foi muito mais que isso simplesmente.

Vale assinalar, diante da seleção de Time, que Barbosa assume o lugar frequentado até recentemente pelo ex-presidente Lula, ou pela atual ocupante do Palácio do Planalto, Dilma Rousseff. Na lista deste ano, os dois ficaram de fora, embora o Brasil tenha dois nomes entre os mais influentes, segundo a Time. O outro é o gourmet Alex Atalla, de São Paulo.

Voltemos ao excelente “Espelho”, citado no começo deste artigo de opinião, cujo segundo capítulo, Canal Brasil, às 21he30, na próxima segunda-feira, seguramente estará cercado ainda de maior expectativa e interesse jornalístico e político, diante da conquista internacional de Barbosa. Confesso, depois do que vi esta semana, que mal posso esperar.

Lázaro, o mestre de cerimônia, por si só, é sempre uma atração especial, em qualquer cenário onde esteja: Uma das melhores aparições do palco e da tela na Bahia, ao lado de Wagner Moura, nas últimas duas décadas. Consagrado nacionalmente no teatro, cinema e televisão.

No mais recente Espelho, porém, o ator baiano teve diante de si um personagem invulgar e impressionante. Sentado enquanto aguentou a tortura das alfinetadas na coluna, que os rictos da face revelavam a cada instante nos flagrantes da câmera. Ou de pé, apoiado nos braços da poltrona presidencial, quando as dores tornaram-se insuportáveis.

Impressionante é mesmo a palavra. Tanto no campo específico de atuação do ministro, a Justiça, quanto no terreno profissional do grande ator que o entrevistava. Na verdade, um modelar, emblemático e brilhante exercício da arte da conversa e do entendimento pessoal e político entre pessoas civilizadas e verdadeiramente democráticas.

Algo cada vez mais raro de se ver, principalmente na Brasília que aniversaria neste domingo, 21, ocupada pelo desvairado pastor deputado Feliciano, eleito pela maioria de seus pares e partidos, para presidir a Comissão de Direitos Humanos do Congresso Nacional.

Na tela, o artista com pleno domínio do palco e da cena – embora às vezes precisando medir em excesso as palavra, para não mexer demais nas dores da alma do entrevistado, evitando assim colocar a prosa em risco insuperável. À frente do apresentador, o ministro presidente da suprema corte do País.

Claramente, ”um tipo sisudo, trancado e de pouca conversa”, como ainda se costuma dizer nas barrancas do São Francisco, o rio da minha aldeia. Mas com a força inegável dos grandes personagens no gestual e nas palavras.

O primeiro Espelho da série TV Brasil mostrou, principalmente, a figura de Joaquim Barbosa em seus labirintos humanos, desde a infância. Um tímido consumado.

Mas do tipo que adora viajar e tem nas viagens o seu confesso hobby principal, seguido da música popular e erudita e da leitura de autores como Lima Barreto (“meu autor preferido") e Machado de Assis. Um cidadão do mundo, que assume ter sido um roqueiro na juventude. “Afinal, eu vivo há muito tempo em Brasília”, acrescenta o magistrado a título de explicação.

E então, um momento especialmente pungente entre outros do breve programa: o entrevistado fala da primeira escola pública em que estudou na cidade natal, o desvelo da mãe, os altos e baixos do pai e da família em Minas Gerais.

A opção por Brasília, quando tudo degringola, em lugar de Belo Horizonte, para seguir os estudos até chegar à Universidade (UNB). De pé, o ministro Barbosa fala da opção pelo Direito, como carreira: “Pensei até em ser ator, e acho que poderia ter sido um ator razoável, se tivesse tido os meios na época, mas nunca tive a menor dúvida de que era isso, a justiça, o que eu sempre quis”.

Então outra intervenção de Lázaro Ramos, que apanha o ministro Joaquim Barbosa com a guarda aberta, e que produz a cena que por si só valeria um programa inteiro.

“Mas o ministro sabe que tem presença cênica?”, diz o ator baiano, meio constatando, meio interrogando, e acrescentando que se vê representando um filho do entrevistado em um palco.
“Mesmo? Veja só!”, balbucia o tímido Joaquim, sem esconder o contentamento e a emoção à flor da pele.

Bonito de ouvir, e, principalmente, de ver. Ajuda também a entender a presença do nome do ministro Joaquim Barbosa no ranking das pessoas mais influentes do mundo, divulgado esta semana pela Time.

Pena que o clima é quebrado , de repente, com um “volte na próxima semana”. Ainda assim, palmas para este Espelho de Lázaro e Joaquim.

20 de abril de 2013
Vitor Hugo Soares, jornalista, edita o site blog Bahia em Pauta, em Salvador.

DA FAVELA PARA BOSTON

 


Logo que soube dos atentados de Boston, meu primeiro pensamento foi para o sociólogo Caio Ferraz, personagem de meu livro “Cidade partida”, que em 1996 foi levado pela Anistia Internacional para os EUA por estar ameaçado de morte pelos policiais da banda podre que executaram 21 inocentes na tristemente famosa “chacina de Vigário Geral”.

A foto dos caixões alinhados na entrada da favela correu o mundo como um anticartão-postal, e Caio, que liderou a reação da comunidade, foi considerado o primeiro exilado político da redemocratização. Partiu com a mulher e duas filhas pequenas, estudou, trabalhou como entregador de pizza e acabou se dando bem com uma empresa especializada em reforma de casas e apartamentos.

Testemunha de batalhas entre traficantes, Caio escapou por pouco dos atentados de agora, pois estava no lugar onde 15 minutos depois explodiu a primeira bomba. Só se salvou porque resolveu avançar 100 metros para ter uma visão melhor da chegada da maratona. Houve o estrondo e, em meio à fumaça, à correria e ao caos, ninguém entendia direito o que estava ocorrendo.


“Tarimbado com as guerras insanas que vivi na minha infância na favela, não tive dúvidas de que a explosão era de bomba. O barulho parecia o de granada que eu ouvira várias vezes nos confrontos entre bandidos de Vigário Geral e Parada de Lucas pelo controle do tráfico local.”

Caio confessa que o momento de maior desespero foi quando se lembrou que a filha mais velha, Maíra, trabalha numa cafeteria a cerca de 300 metros das explosões. “Tentei ligar, mas nenhum telefone funcionava. Até que ela respondeu por SMS informando que estava bem. Pedi que não saísse de lá, que eu furaria o bloqueio da polícia e iria buscá-la pra irmos juntos e em segurança para casa.”

Embora acostumado a situações que o “deixaram sem chão” — tiroteios, invasão policial, chacina, ameaças de morte —, Caio continua traumatizado com o que presenciou: “Que sofrimento ver uma senhora ensanguentada abraçada ao filho adolescente sem saber o que fazer. Que estranho não poder ser útil numa hora dessas. Nunca havia me sentido assim em toda minha vida e essa experiência espero não repetir.”

Para agravar, tudo isso aconteceu quando ele se prepara para voltar ao Brasil. “Não sei o que fazer, porque minhas filhas continuarão aqui com a mãe. Logo eu, que tive que sair do Brasil por motivo de segurança pessoal, encontro-me agora numa enorme insegurança existencial.”

20 de abril de 2013
Zuenir Ventura é jornalista.

REPORTAGEM DO JORNAL ARGENTINO 'LA NACION'



 
Neste facsímile do início da reportagem do La Nación, o link para o blog na última linha.
 
Este modesto blog que edito há alguns anos e que não está alojado em nenhum portal da grande mídia foi linkado numa reportagem do jornal La Nación, um dos mais importantes diários da Argentina.

Numa matéria que trata do surpreendente aumento no preço do tomate no Brasil, o editor de La Nacion oferece no texto um link abrindo este post que traz a Dilma pisando no tomate. Trata-se de reportagem sobre a inflação e que me inspirou a escrever uma análise intitulada: Dilma pisou no tomate: um desastre anunciado chamado inflação.

Portanto julguei interessante compartilhar este fato com os estimados leitores do blog pois mostra que o web jornalismo profissional independente, desde que feito em estrita sintonia com os fatos cresce cada vez mais em importância e credibilidade.

Para mim é uma honra ter um link numa matéria do jornal La Nacion. Mas devo ressaltar que performance do blog se deve, sobretudo, aos estimados leitores pois são eles a razão de ser deste espaço noticioso e analítico. O blog deve chegar brevemente a um total de 3 milhões de acessos únicos e 4 milhões de páginas vistas. Na escala da internet isto é muito pouco ou quase nada ao longo da existência do blog, mas já é alguma coisa.

Como o blog aborda a política nacional e internacional e não está vinculado a nenhum grande portal noticioso, o nível dos leitores que o acessam está acima da média. Trata-se de um público bem informado e que busca nos blogs independentes uma alternativa, principalmente, de opinião e análise dos fatos que de algum forma faça um contraponto e acrescente ao que está na grande mídia.

Nos últimos tempos o blog vem registrando cada vez mais acessos também do exterior, especialmente a Venezuela, Estados Unidos, Europa e demais países latino-americanos, com destaque para a Argentina, Paraguay, Uruguay, Peru, México, dentre outros.
Valeu prezados leitores. Saludos al diário La Nacion y al los hermanos peridiodistas argentinos.
 
20 de abril de 2013
in aluizio amorim

SOBERANIA NO LIXO

Mensaleiros têm direito de recorrer à tribunal da OEA para rever decisões do STF



 
Por uma vacilada em nosso senso de soberania nacional, já perdido há muito tempo, os mensaleiros condenados têm pleno direito de recorrer à Comissão Interamericana de Direitos Humanos para a vã tentativa de mudar o resultado do julgamento da Ação Penal 470. A grande questão é se o tribunal internacional dará bola para a demanda deles, classificando o trabalho do Supremo Tribunal Federal do Brasil como uma “violação dos direitos humanos.

Em 15 de agosto de 2012, durante uma das 53 sessões do julgamento dos mensaleiros, o ministro Celso de Mello alimentou a polêmica que não existe. Os réus do Mensalão podem, sim, apelar ao tribunal da OEA. Simplesmente porque o Brasil abriu mão de sua soberania nacional, aderindo formalmente ao globalitarismo, ao assinar o tal Pacto de São José – que viabiliza tal interferência em nossas decisões judiciais. O Brasil aceitou cumprir as decisões da corte da OEA em todo caso.

Não adianta o presidente do STF e do CNJ ficar PT da vida contra tal possibilidade. A regra é clara. O Brasil abriu mão de sua soberania – nacional e jurídica – caindo no conto globalitário, via discursinho fácil em pretensa defesa dos direitos humanos –interpretados de forma casuística no Brasil. Os mensaleiros podem até se dar bem, impondo ao STF o supremo vexame de ter um julgamento seu revisado pela meca do globalitarismo. Se isto acontecer, será a risada irônica do Coringa para o nosso Batman...

Por enquanto, até a Corte de San José, na Costa Rica, prefere tratar o assunto com a maior cautela. Em recente viagem ao Brasil, o presidente daquele tribunal transnacional, Diego Garcia-Sayán, tentou se livrar do problema, declarando, claramente: “A Corte Internacional não é um tribunal penal, no qual se modificam as penas”. Os mensaleiros não querem saber disto. Vão apelar à OEA, se não derem certo as manobras de seus advogados nos tais “embargos infringentes” (apenas existentes no sistema interno do STF) para rever o tamanho das penas.

Um fato é inegável. Os mensaleiros condenados já estão simbolicamente punidos naquilo que lhes é mais valioso. Perderam os direitos políticos – o que lhes servia de passaporte para negócios explícitos de tráfico de influência com a máquina estatal aparelhada por seus partidários. Além disso, estão com o filme queimado como agentes preferenciais de intermediação de negociatas. Os lobistas e empresários não querem se arriscar a fazer esquemas com sujeitos visados, porque ficam vulneráveis.

Apesar da punição simbólica, pegará muito mal perante as opiniões pública e publicada se o nosso STF terminar desautorizado por alguma decisão interventora de uma corte internacional de direitos dos manos. Se isto ocorrer – e o risco é enorme -,nossa Justiça será brindada com uma pá de cal. Desta perigosa desmoralização para um estado de anomia e desrespeito ainda maior à Lei, com altos índices de impunidade, é um passo...

Picaretagem eleitoreira



Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.
 
20 de abril de 2013
Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor.
alerta total

EU, ANTEDILUVIANO

Leitores querem saber se afinal sou ou não a favor da descriminalização das drogas. Ora, não é questão de ser a favor ou contra. As drogas há muito estão descriminalizadas. Ninguém é contra ou a favor de fatos. Fatos são fatos e fim de papo. Agora, se me pedirem uma opinião sobre a tese, vamos lá: sim, sou pela descriminalização das drogas. Ingerimos tantas drogas prejudiciais à saúde, por que não mais algumas?. Cigarro mata, álcool também. Nada disso é proibido. Açúcar e sal também matam. Nem por isso deixaremos de usar açúcar e sal.

Drogas, jamais usei. Em meus primeiros dias de São Paulo, reencontrei uma amiga dos tempos de universidade em Porto Alegre. Revisitando o passado, ela se comprazia em ter cumprido as três palavras de ordem dos anos 70, sexo, drogas e rock'n'roll. Queria saber minha posição naquela década. Das três linhas de pesquisa, só havia curtido apenas a que sempre foi eterna, respondi. Drogas e rock deixei-os de lado. Rock, porque sempre considerei o ruído como um insulto à inteligência. Drogas, por detestar modismos.

As drogas, como o rock, vinham dos Estados Unidos. Não que fossem produzidas lá, mas o consumo da juventude norte-americana exportava a moda para os símios ao sul do Trópico de Câncer. Uma edição da revista O Cruzeiro publicou, nos anos 50, uma reportagem significativa sobre a "erva do diabo", como era então chamada a Canabis sativa. Para aproximar-se da droga, que circulava então nas favelas e no presídio, um repórter deixou crescer a barba, como camuflagem junto aos traficantes e consumidores. Maconha era então coisa de submundo, e barba logotipo de marginal.

Bastou os universitários norte-americanos adotarem a marijuana - voz mexicana que indicava a origem do produto - a erva virou moda no Brasil, particularmente nos campi. Como jamais suportei modas, e particularmente as vindas do Norte, meu repúdio à maconha era antes de tudo teórico, político. Por outro lado, o consumo da maconha era vício gregário, e sempre me afastei de cerimoniais coletivos. Os curtidores da canabis eram em geral pessoas de pouca ou nenhuma leitura, e nada me impelia a confraternizar com eles.

Outro grande impulso ao uso de drogas foram os Beatles. Foram os grandes agentes do LSD, cocaína, maconha e congêneres. Milhões de jovens no mundo todo passaram a se sentir peixes fora d'água se não consumissem drogas, esta foi a grande revolução dos roqueiros ingleses. Hoje, algumas mentes brilhantes estão concluindo que quem usa drogas financia o tráfico e o crime. No entanto, continuam lotando estádios em homenagem aos apologistas da droga.

Mal escrevi as linhas acima, recebi uma chuva de canivetes pelo lombo. “Está confirmado. O Janer não teve adolescência, estava em Urano quando os Beatles faziam a juventude do mundo cantar”. Em Urano, diria que não. Mas a distância entre mim e o rock certamente é maior que a distância entre mim e Urano. Os Beatles nunca fizeram parte de minha juventude. Para mim, foi como se não tivessem existido. Nunca tive um disco deles em casa e nunca tive rádio.

Sempre detestei rock, ieieié, essas coisas. Aliás, de modo geral, não me atrai em nada essa música que vem do mundo anglófono. Exceto Katherine Jenkins, ninguém vai encontrar uma única canção em inglês aqui em casa. Não quero com isto dizer que os anglófonos não fazem boa música, nada disso. Mas quando dizem que os Beatles influenciaram uma geração eu olho em torno e me pergunto: que geração? A minha é que não foi. Transitamos pelos mesmos anos, mas por ruas muito diferentes.

Para não dizer que jamais falei de flores... 1972. Era verão em Estocolmo, uma daquelas noites brancas em que o sol ameaça deitar-se mas não se deita, uma luz macia iluminando as madrugadas. Eu despertava de um inverno plutoniano de oito meses, como aliás todos os suecos. Perfume de orgia no ar e eu ilhado em um quarto de estudante. Se andorinha só não faz verão, muito menos um homem solitário faz orgia. Brasileiros do quarto ao lado me convidam para uma festa. Num cubículo de uns vinte metros quadrados, vinte tupiniquins e três adolescentes suecas, o cachimbo da paz correndo solto. Para não ser indelicado, fumei.

Os vinte tupiniquins no nirvana, olhando para o próprio umbigo, curtindo rock e canabis. Eu, com dor de cabeça e vontade de conversar, sem interlocutor à vista. Foi quando uma das suecas aproximou-se. O consumo de maconha era rotina em Estocolmo, a prefeitura financiava inclusive bares para curti-la, mas neles só podiam entrar menores de 18 anos. As suecas não entendiam como alguém podia encerrar-se em um quarto puxando fumo numa daquelas noites cheias de luz. Escasso naquelas paragens era o sol. "Vocês, brasileiros, são todos assim?", me perguntou. Assim como? "Só fumam e não conversam?"

Não, eu não era assim. Em meu quarto havia vinhos e conversar era o que mais queria naquela noite irreal. Se a maconha era rotina na Suécia, o álcool tinha - e ainda tem - um sabor de pecado, tanto que nos bares, naqueles anos, era proibido servi-lo. Roubei as três suequinhas aos vinte monoglotas. De minha sacada frente a um bosque, amanhecemos contemplando aquele sol paranóico rodando quase paralelo ao horizonte. Foi minha primeira e última experiência com maconha. Não me queixo.

O uso das drogas também adquiriu prestígio entre universitários a partir do ensaio As Portas da Percepção, de Aldous Huxley, que já gozava no Brasil a fama de autor de Admirável Mundo Novo. A partir de experiências com a mescalina, Huxley chegara à conclusão que certas drogas desenvolviam a percepção. No Brasil, foi entendido às avessas. Toda uma geração de adolescentes sem leitura passou a consumir desde canabis a LSD, julgando que assim abriam as portas para a genialidade. Esqueciam - ou propositadamente insistiam em ignorar - que antes das experiências com a mescalina Huxley tinha décadas de leituras. E que sem cultura histórica de nada adianta abrir as portas da percepção, aí mesmo é que não se percebe nada.

Dizia uma interlocutora que produzo polêmicas para captar leitores. Nada disso. É que sou naturalmente polêmico. Por uma razão muito simples: não tenho filosofia alguma. Homem que segue um determinado pensamento não provoca maiores discussões. Seu comportamento é previsível. Não sou aristotélico (por incrível que parece, ainda existem hoje pessoas que estagnaram em um pensamento de mais de dois mil anos, quando a Europa nem fazia parte do ecúmeno), não sou tomista, não sou hegeliano, nunca fui kantiano ou cartesiano, muito menos marxista.

Fui católico por cinco ou seis anos, é verdade, mas esta fase não conta. Vivia em um universo pagão e aos nove ou dez anos fui levado à igreja por uma catequista uruguaia. Me enfiaram o cristianismo a machado na cabeça, mas não durou muito. Aos quinze anos, voltei a ser como nasci: ateu. Pois todos nascemos ateus, não é verdade?

A verdade é que, nos anos 60 e 70 – e de certa forma, mesmo agora – não usar drogas causa a mesma perplexidade que causaria um dinossauro passeando na Avenida Paulista. No fundo, sou antediluviano, nunca fumei nem mesmo cigarro.

Quando descobri ter sido premiado, em 2009, por um carcinoma de palato, a primeira pergunta que ouvi dos médicos foi: você fuma? Estou vencendo os terceiro e quarto carcinomas nestes dias, e a pergunta persiste. Até parece que meus médicos não lêem minha ficha. Não, nunca fumei na vida. A menos que meus cânceres tenham sido provocados por uma tragada que dei, lá pelos meus dez anos. Em uma pecinha de teatro na escola, fazíamos o papel de gaúchos. Como as professoras achavam que gaúcho pra ser gaúcho tem de fumar, permitiram à piazada chupar câncer. Foi a festa para meus colegas. Quanto a mim, pus o cigarro na boca, não gostei e o joguei pela janela.

Suponho que aquela tragada, há bem mais de meio século, não tenha sido a causa de meus dissabores passados e atuais. Tenho amigas que fumam e outras que fumavam. Estas últimas, sofreram para largar o hábito. Não passa dia sem que me falem que a culpa é da publicidade, “que nos conduz a fumar”. Ora, nasci tão exposto quanto elas a esta publicidade, vivi minha adolescência vendo filmes onde não se sabia quem fumava mais, se o mocinho ou o bandido. Meus parentes todos fumavam. No entanto, jamais fumei.

Há quem fale na propaganda subliminar do cinema. Podem atar-me em uma cadeira e passar filmes 24 horas por dia com propaganda subliminar do cigarro. Comigo não adianta. Ninguém me obriga a fazer o que não gosto. Nestes dias de volta à vida normal, minha nutricionista quer que eu coma verduras. Não vai levar. Nunca pastei, não será agora que vou pastar.

Sem precisar dar um pio, já era polêmico. Não fumava, não usava drogas nem gostava dos Beatles. Sem falar que jamais fui de esquerda, pecado mortal para um universitário naqueles dias. Ah, e ainda não tenho iPhone. Volto outra hora ao assunto.


20 de abril de 2013
janer cristaldo

ROSEMARY, ÍNTIMA DO "CAPO" LULA, AMEAÇA BOTAR A BOCA NO TROMBONE

"Sindicância pede processo para investigar o enriquecimento de amiga (Rose) de Lula"


VEJA teve acesso ao relatório sobre as ações de Rosemary na Presidência; íntima de Lula ameaça botar a boca no trombone


É… VEJA teve acesso às 120 páginas do relatório final elaborado por técnicos do Planalto sobre a atuação de Rosemary Nogueira, a amiga íntima que Luiz Inácio Lula da Silva mantinha no escritório da Presidência da República de São Paulo.
Ela está inquieta e ameaça explodir. Acha que foi abandonada pelos antigos amigos. Para se defender no processo administrativo, Rosemary fez um rol de testemunhas de defesa que, tudo indica, já embute uma espécie de ameaça: Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e ex-chefe de gabinete de Lula, e Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil e ex-braço direito da presidente Dilma, encabeçam a lista.
Completam o rol Beto Vasconcelos, atual número 2 da Casa Civil, e Ricardo Oliveira, ex-vice-presidente do Banco do Brasil e um assíduo visitante do gabinete que ela chefiava na Avenida Paulista. São apenas os primeiros nomes, segundo a estratégia montada pela ex-secretária.
Rosemary parece dizer algo assim: “Esses aí sabem o que eu fazia…” Leiam trechos da reportagem de Robson Bonin.
*
(…)

O resultado da investigação é um manual de como proceder para fraudar e trapacear no comando de um cargo público quando seu ocupante priva da intimidade do presidente da República. Sob o comando da Casa Civil da Presidência, os técnicos rastrearam anormalidades na evolução patrimonial de Rosemary Noronha e recomendaram que ela seja investigada por suspeita de enriquecimento ilícito. Um processo administrativo já foi aberto na Controladoria Geral da União.

(…)

A sindicância destoa da tradição dos governos petistas de amenizar os pecados de companheiros pilhados em falcatruas. Dedicado exclusivamente aos feitos da poderosa chefe de gabinete, o calhamaço de 120 páginas produzido pela sindicância é severo com a ex-secretária. Mostra que Rosemary encontrou diferentes formas de desvirtuar as funções do cargo. Ela pedia favores ao “PR ” — como costumava se referir a Lula em suas mensagens — com frequência.
Era grosseira e arrogante com seus subalternos. Ao mesmo tempo, servia com presteza aos poderosos, sempre interessada em obter vantagens pessoais — um fim de semana em um resort ou um cruzeiro de navio, por exemplo. Rosemary adorava mordomias. Usava o carro oficial para ir ao dentista, ao médico, a restaurantes e para transportar as filhas e amigos. O motorista era seu contínuo de luxo. Rodava São Paulo a bordo do sedã presidencial entregando cartas e pacotes, fazendo depósitos bancários e realizando compras. Como uma rainha impiedosa, ela espezinhava seus subordinados.

(…)

Como chefe de estado

Mensagens inéditas reunidas no relatório da investigação mostram que a ex-secretária foi recebida com honras de chefe de estado na embaixada brasileira em Roma. Todas as facilidades possíveis lhe foram disponibilizadas. Rose temia ter problemas com a imigração no desembarque em Roma.
O embaixador José Viegas enviou-lhe uma carta oficial que poderia ser apresentada em caso de algum imprevisto. Rose não conhecia a Itália. O embaixador colocou o motorista oficial à sua disposição. Rose não tinha hotel. O embaixador convidou-a a ficar hospedada no Palazzo Pamphili — e ela não ocuparia um quarto qualquer. Na mensagem, o embaixador brasileiro saudou a ida de Rose com um benvenuti!, em seguida desejou-lhe buon viaggio e avisou que ela ficaria hospedada com o marido no “quarto vermelho”. Quarto vermelho?!
Como o Itamaraty desconhece esse tipo de denominação, acredita-se que “quarto vermelho” fosse um código para identificar os aposentos relacionados ao chefe — assim como normalmente se diz “telefone vermelho”, “botão vermelho”, “sala vermelha”…
(…)
Pode explodir

Rosemary Noronha está magoada e ameaça um revide em grande estilo. Sentindo-se desamparada pelos velhos companheiros que deixaram correr solta a investigação que pode levá-la mais uma vez às barras da Justiça, agora por enriquecimento ilícito, a ex-chefe do gabinete presidencial em São Paulo ameaça contar seus segredos e implicar gente graúda do partido e do governo.
Se não for apenas mais um jogo de chantagem típico dos escândalos do universo petista, Rose poderá enfim dar uma grande contribuição ao país. Pelo menos até aqui, a ameaça da amiga dileta de Lula faz-se acompanhar de lances concretos — tão concretos que têm preocupado enormemente a cúpula partidária.
O mais emblemático deles é a troca da banca responsável por sua defesa. Rose, que vinha sendo defendida por advogados ligados ao PT, acaba de contratar um escritório que durante anos prestou serviços a tucanos. O Medina Osório Advogados, banca com sede em Porto Alegre e filial no Rio de Janeiro, trabalhou para o PSDB nacional e foi responsável pela defesa de tucanos em vários processos, como os enfrentados pela ex-governadora gaúcha Yeda Crusius.
Os novos advogados foram contratados para defendê-la no processo administrativo em que ela é acusada de usar e abusar da estrutura da Presidência da República em benefício próprio — justamente o motivo da mágoa que Rose guarda de seus antigos amigos (…).
Leia a íntegra na revista.

VEJA teve acesso ao relatório sobre as ações de Rosemary na Presidência; íntima de Lula ameaça botar a boca no trombone


É… VEJA teve acesso às 120 páginas do relatório final elaborado por técnicos do Planalto sobre a atuação de Rosemary Nogueira, a amiga íntima que Luiz Inácio Lula da Silva mantinha no escritório da Presidência da República de São Paulo.
Ela está inquieta e ameaça explodir. Acha que foi abandonada pelos antigos amigos. Para se defender no processo administrativo, Rosemary fez um rol de testemunhas de defesa que, tudo indica, já embute uma espécie de ameaça: Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e ex-chefe de gabinete de Lula, e Erenice Guerra, ex-ministra da Casa Civil e ex-braço direito da presidente Dilma, encabeçam a lista.
Completam o rol Beto Vasconcelos, atual número 2 da Casa Civil, e Ricardo Oliveira, ex-vice-presidente do Banco do Brasil e um assíduo visitante do gabinete que ela chefiava na Avenida Paulista. São apenas os primeiros nomes, segundo a estratégia montada pela ex-secretária.
Rosemary parece dizer algo assim: “Esses aí sabem o que eu fazia…” Leiam trechos da reportagem de Robson Bonin.
*
(…)

O resultado da investigação é um manual de como proceder para fraudar e trapacear no comando de um cargo público quando seu ocupante priva da intimidade do presidente da República. Sob o comando da Casa Civil da Presidência, os técnicos rastrearam anormalidades na evolução patrimonial de Rosemary Noronha e recomendaram que ela seja investigada por suspeita de enriquecimento ilícito. Um processo administrativo já foi aberto na Controladoria Geral da União.

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A sindicância destoa da tradição dos governos petistas de amenizar os pecados de companheiros pilhados em falcatruas. Dedicado exclusivamente aos feitos da poderosa chefe de gabinete, o calhamaço de 120 páginas produzido pela sindicância é severo com a ex-secretária. Mostra que Rosemary encontrou diferentes formas de desvirtuar as funções do cargo. Ela pedia favores ao “PR ” — como costumava se referir a Lula em suas mensagens — com frequência.
Era grosseira e arrogante com seus subalternos. Ao mesmo tempo, servia com presteza aos poderosos, sempre interessada em obter vantagens pessoais — um fim de semana em um resort ou um cruzeiro de navio, por exemplo. Rosemary adorava mordomias. Usava o carro oficial para ir ao dentista, ao médico, a restaurantes e para transportar as filhas e amigos. O motorista era seu contínuo de luxo. Rodava São Paulo a bordo do sedã presidencial entregando cartas e pacotes, fazendo depósitos bancários e realizando compras. Como uma rainha impiedosa, ela espezinhava seus subordinados.

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Como chefe de estado

Mensagens inéditas reunidas no relatório da investigação mostram que a ex-secretária foi recebida com honras de chefe de estado na embaixada brasileira em Roma. Todas as facilidades possíveis lhe foram disponibilizadas. Rose temia ter problemas com a imigração no desembarque em Roma.
O embaixador José Viegas enviou-lhe uma carta oficial que poderia ser apresentada em caso de algum imprevisto. Rose não conhecia a Itália. O embaixador colocou o motorista oficial à sua disposição. Rose não tinha hotel. O embaixador convidou-a a ficar hospedada no Palazzo Pamphili — e ela não ocuparia um quarto qualquer. Na mensagem, o embaixador brasileiro saudou a ida de Rose com um benvenuti!, em seguida desejou-lhe buon viaggio e avisou que ela ficaria hospedada com o marido no “quarto vermelho”. Quarto vermelho?!
Como o Itamaraty desconhece esse tipo de denominação, acredita-se que “quarto vermelho” fosse um código para identificar os aposentos relacionados ao chefe — assim como normalmente se diz “telefone vermelho”, “botão vermelho”, “sala vermelha”…
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Pode explodir

Rosemary Noronha está magoada e ameaça um revide em grande estilo. Sentindo-se desamparada pelos velhos companheiros que deixaram correr solta a investigação que pode levá-la mais uma vez às barras da Justiça, agora por enriquecimento ilícito, a ex-chefe do gabinete presidencial em São Paulo ameaça contar seus segredos e implicar gente graúda do partido e do governo.
Se não for apenas mais um jogo de chantagem típico dos escândalos do universo petista, Rose poderá enfim dar uma grande contribuição ao país. Pelo menos até aqui, a ameaça da amiga dileta de Lula faz-se acompanhar de lances concretos — tão concretos que têm preocupado enormemente a cúpula partidária.
O mais emblemático deles é a troca da banca responsável por sua defesa. Rose, que vinha sendo defendida por advogados ligados ao PT, acaba de contratar um escritório que durante anos prestou serviços a tucanos. O Medina Osório Advogados, banca com sede em Porto Alegre e filial no Rio de Janeiro, trabalhou para o PSDB nacional e foi responsável pela defesa de tucanos em vários processos, como os enfrentados pela ex-governadora gaúcha Yeda Crusius.
Os novos advogados foram contratados para defendê-la no processo administrativo em que ela é acusada de usar e abusar da estrutura da Presidência da República em benefício próprio — justamente o motivo da mágoa que Rose guarda de seus antigos amigos (…).
 
Leia a íntegra na revista.
Limpeza no gabinete
Em 2012, descobriu-se que Rosemary Noronha usava a influência que desfrutava com o ex-presidente Lula para se locupletar do poder. Exonerada do cargo de chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, ela foi alvo de uma sindicância. VEJA teve acesso às 120 páginas resultantes da investigação oficial, mantida em segredo pelo governo. Elas mostram a extensão das traficâncias de Rose
Brasil
Rose: enriquecimento e privilégios de primeira-dama



20 de abril de 2013
Reinaldo Azevedo