Abaixo, uma avaliação de um colunista do Valor que tem a concordância deste blog. Bastou Lula reunir ministros e assumir a prefeitura de São Paulo, bem como arvorar-se a articulador com partidos, para Dilma antecipar o desconto da conta de luz, chamar uma cadeia nacional e fazer um programa eleitoral descarado. Dilma está peitando Lula. Dilma não vai abrir mão de 2014.
Leiam abaixo:
A presidente Dilma Rousseff reagiu com firmeza às dúvidas de um visitante que recebeu recentemente no Palácio do Planalto sobre sua intenção de concorrer à reeleição: "Meu mandato é de oito anos", afirmou. Nas últimas semanas, ganhou força no mundo político a ideia de que o ex-presidente Lula estaria pronto para tentar um retorno em 2014. Com Lula no páreo, é certo que Dilma não seria tão firme na disposição de continuar à frente do governo. Acontece que as notícias sobre atritos entre ela e seu antecessor são verdadeiras.
A uma visita recente que recebeu no Palácio do Planalto, a presidente Dilma Rousseff reagiu com firmeza às dúvidas sobre sua intenção de concorrer a um segundo período de governo: "Meu mandato é de oito anos", disse Dilma a um interlocutor perplexo com a determinação da presidente da República.
Espanto não de todo sem razão. Nas últimas semanas ganhou corpo entre os políticos, sindicalistas e a classe empresarial a ideia de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estaria de malas prontas para voltar em 2014. Com Lula no páreo, é certo que Dilma não seria tão firme ao afirmar que seu mandato é de oito anos.
Acontece que o noticiário sobre a ocorrência de atritos na relação entre a presidente e seu ex é rigorosamente verdadeiro. A única diferença entre as versões é sobre a extensão das divergências. Alguns palacianos e petistas situam-nas apenas no campo técnico, sem consequências indesejáveis para o projeto.
Lula, por exemplo, não teria gostado nada das medidas que Dilma tomou na renovação das concessões do setor elétrico. Ela, por seu turno, que não é afeita a críticas, reagiu mal ao julgamento do antecessor. Ocorre que as críticas de Lula, de acordo com seus interlocutores, vão muito além daquelas feitas ao novo modelo do setor elétrico. O ex-presidente, por exemplo, entre outros reparos costuma dizer que ela se relaciona mal com o Congresso, com empresários e com os trabalhadores.
Dilma, por sua vez, segundo auxiliares diretos que pediram para não ser identificados, também entre outras coisas acha que sobrou para ela a fatura da perda daquilo que era o maior patrimônio do PT: o discurso ético. A maior prova disso é a condenação dos integrantes do esquema do mensalão, cujo chefe da "quadrilha", segundo o Supremo Tribunal Federal (STF), era nada mais, nada menos, do que o ex-todo-poderoso do governo Lula, no primeiro mandato, José Dirceu de Oliveira, ex-ministro chefe da Casa Civil.
Mas ninguém na Presidência da República ou no PT é capaz de assegurar que Dilma não disputará a reeleição, em 2014, se Lula pedir para ser novamente candidato. Em geral, ministros e assessores dizem que a presidente é "muito leal" a Lula e compreende muito bem que somente foi eleita por causa da popularidade do ex-presidente e a seu apoio.
Por tudo isso, a frase dita pela presidente ao visitante que recebeu no Palácio do Planalto surpreendeu os poucos políticos que tomaram conhecimento da conversa, pois soa diferente de tudo o que se disse até agora.
Na realidade, Dilma não só disse "o meu mandato é de oito anos" - sem esquecer, talvez, de que antes disso precisará enfrenta eleição - como entrou em 2013 em uma atividade governamental intensa típica de quem já está em campanha eleitoral. Não só publicamente, como fez no "comício" de Teresina (PI), como em ações de bastidores para construir uma bancada partidária própria.
Nas eleições para a Câmara e o Senado, ela bem que procurou um caminho novo que fizesse reluzir, novamente, a estrela ética do PT. Não deu certo. Ela então foi então pragmática. Para chegar forte partidariamente em 2014, Dilma precisa de quem é forte no Congresso, e no momento esses parlamentares são mesmo José Sarney, Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves, todos do PMDB, sendo os dois últimos os mais prováveis presidentes do Senado e da Câmara, na legislatura que começa dia 1º de fevereiro.
Dilma é uma presidente que se elegeu sem fazer compromissos. Lula cuidou de tudo o que foi necessário: da escolha da candidata à arrecadação de recursos para a campanha, passando pela escolha do jornalista João Santana para o marketing da campanha, o único débito da presidente é com Lula da Silva.
Mas para se livrar de cabrestos políticos em junho de 2014 - mês da oficialização dos candidatos - seja do PT, PMDB ou PSB o que Dilma mesmo é que a inflação esteja baixa e sob controle e o emprego em pelo menos seus atuais níveis. Aí então tudo o que hoje é dito não terá passado de uma flor do recesso.
( De Raymundo Costa, no Valor Econômico)
24 de janeiro de 2013
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