"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 14 de julho de 2013

VOTO DISTRITAL COM "RECALL" : A REFORMA QUE INCLUI TODAS AS REFORMAS

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Como submeter os representantes à vontade dos representados sempre foi o problema central das democracias. Historicamente falando este tem sido o seu “calcanhar de Aquiles”.

No primeiro ensaio o sistema ruiu quando a Grécia passou a ser mais que Atenas e não dava mais pra votar diretamente todos os assuntos numa praça.
 
Mil anos depois a República Romana, primeiro esboço de um sistema representativo, naufragou na corrupção porque não conseguiu resolvê-lo num processo que guarda não poucas semelhanças com este do Brasil atual.
 
Passados outros mil e trezentos anos, Brasília é a nossa Roma, que não enxerga os confins do “império” … que, por sua vez, também não enxergam Brasília. É dessa intangibilidade que resulta, para resumir ao essencial, que eles tenham livre acesso aos nossos bolsos sem que nós tenhamos como defendê-los ou, sequer, como determinar de que forma queremos que usem o que nos surrupiam.
 
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Posta a condição para que um sistema de exploração se estabeleça impunemente, o resto a Natureza faz.
 
O altruismo, a ação direcionada para o bem comum é uma construção artificial do coletivo que só se impõe aos indivíduos pela força do constrangimento.
 
É exatamente essa a função do voto distrital com recall, instituição que, ao permitir a destituição seletiva de qualquer ocupante do poder a qualquer momento e em qualquer instância sem revolução nem comoção social, consagrou-se como a primeira resposta eficaz ao problema até então insolúvel da sujeição dos representantes à vontade dos representados.
 
Foi ela que salvou a democracia americana, a terceira tentativa do sistema de caminhar pela Terra, de dissolver-se na corrupção de que estava roída na virada do século 19 para o 20 e mudou para sempre a qualidade e a velocidade do desenvolvimento humano.
 
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O voto distrital com recall põe um patrão – você, que já lhes paga o salário – em cima de cada deputado, vereador ou ocupante de cargo executivo. Submete-os à mesma lei que vale aqui fora: ou trabalham, e trabalham a favor da “empresa”, ou rua. Põe a direção da política de fato nas mãos do povo.
 
Acena-se por aqui com o voto distrital. Mas isso é muito menos que meia solução. O voto distrital não é um fim em si mesmo. O que é decisivo é o recall, o poder de retirar a qualquer momento um mandato de representação condicional e temporariamente concedido ao representante eleito.
 
A eleição tem de se tornar distrital apenas para abrir a possibilidade do recall. Para permitir que o avião vá sendo concertado enquanto voa.
Com cada candidato concorrendo pelos votos de apenas um distrito o jogo da representação fica claro: eu e meus companheiros de distrito eleitoral demos a este determinado senhor um mandato condicional para nos representar (no Congresso, na Assembleia Legislativa, na Câmara Municipal); eu e meus companheiros de distrito podemos retirar esse mandato a qualquer momento sem que o resto do sistema seja afetado.
 
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Regras claras, jogo limpo. Um, dois, três, cinco por cento dos eleitores de um distrito – o que importa é que a regra seja igual para todos – assinando a petição que qualquer um de nós pode iniciar, convoca-se uma votação delimitada àquele distrito em torno de uma pergunta simples: nosso representante segue nos representando ou perde o mandato e elegemos outro?
 
A par de instituir, finalmente, o “governo do povo, pelo povo e para o povo”, como é da definição de democracia de que sempre estivemos tão distantes, essa ferramenta nada menos que impõe a meritocracia à política e ao serviço público.
Se não põe automaticamente todo mundo jogando a favor, permite que se dê remédio fulminante a quem jogar contra.
É a revolução permanente sem os riscos das revoluções.
 
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Dá a cada um a sua pequena porção de poder sem dar a ninguém poder demais. Garante a cada cidadão o direito de contestar o que lhe parecer errado e receber obrigatoriamente uma resposta e arma-o com um poder efetivo para forçar novas reformas sempre que elas lhe parecerem necessárias: para resistir a impostos devastadores e acabar com a farra dos salários públicos cheios de penduricalhos; para tornar mais seguro e efetivo o instrumento das leis de iniciativa popular; para dar às vítimas potenciais o direito de dosar os remédios da segurança pública; para definirmos nós e não eles quais e quantos funcionários devem ser nomeados ou eleitos e para que…
Não há limites.
 
O instrumento do voto distrital com recall organiza e dá consequência à  “voz das ruas” com a vantagem de traduzir-lhe todas as nuances. Seu exercício é educativo e conduz a um recorrente ajuste fino do sistema. Dá-nos a agilidade necessária para nos adaptarmos tão rápidamente quanto formos capazes, desamarrados, a um mundo em permanente mudança.
 
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Plebiscito? Referendo? Constituinte específica?
Em torno de quais alternativas? E quem monta essa pauta? Os interessados em que nada mude? Ou os “movimentos sociais” que ninguém elegeu?
 
Pois é, um plebiscito pode ser o instrumento de um  golpe, se insistirem nessa coisa de mudar na marra o jogo para 2014 como quer o PT, ou pode ser o veículo capaz de ordenar o debate que pode fazer o Brasil avançar 200 anos em um se for levado com os necessários vagar e clareza até uma decisão votada em 2015 para valer somente a partir de 2016.
 
Esta é a primeira exigência inegociável, portanto. Mas a principal é “fecharmos” todos no voto distrital com recall pela excelente razão de que esta é a reforma que inclui todas as outras reformas.
Seja um apóstolo dessa ideia!
 
Fale, escreva, passe, repasse e faça tudo isso de novo e de novo. Grite na rua pelo voto distrital com recall. E não esqueça de repetir sempre: com recall!
 
Se formos claros o suficiente, pode estar certo de que eles encontram a maneira de fazer passar a reforma que dará ao Brasil as pernas que lhe faltam para achar, daqui por diante, o seu próprio caminho.

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14 de julho de 2013
vespeiro

NÃO SE FALA NA DESERTIFICAÇÃO PREOCUPANTE NO NORDESTE


É uma denúncia da maior importância, que está rolando na internet. Há um sem número de órgãos públicos – federais, estaduais e municipais – teoricamente dedicados a cuidar do assunto. Estruturas organizacionais paquidérmicas, chefes, chefetes, muito cacique e pouco índio. Desperdícios de $$$$ e tempo. Resultados pífios ou menos do que pífios. É mais uma vergonha nacional.
 
 
Gilbués, no Piauí
 
Como se não bastasse a falta de chuvas, o Brasil vê se alastrar no Nordeste um fenômeno ainda mais grave: a desidratação do solo a tal ponto que, em última instância, pode torná-lo imprestável. Um novo mapeamento feito por satélite pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites da Universidade Federal de Alagoas (Lapis), que cruzou dados de presença de vegetação com índices de precipitação ao longo dos últimos 25 anos, até abril passado, mostra que a região tem hoje 230 mil km² de terras atingidas de forma grave ou muito grave pelo fenômeno.

A área degradada ou em alto risco de degradação é maior do que o estado do Ceará. Hoje, o Ministério do Meio Ambiente reconhece quatro núcleos de desertificação no semiárido brasileiro. Somados, os núcleos de Irauçuba (CE), Gilbués (PI), Seridó (RN e PB) e Cabrobó (PE) atingem 18.177 km² e afetam 399 mil pessoas.

Num artigo assinado por cinco pesquisadores do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), do Ministério da Ciência e Tecnologia, são listados seis núcleos, o que aumenta a área em estado mais avançado de desertificação para 55.236 km², afetando 750 mil brasileiros. 
Os dois núcleos identificados pelos pesquisadores do Insa são o do Sertão do São Francisco, na Bahia, e o do Cariris Velhos, na Paraíba, estado que tem 54,88% de seu território classificado em alto nível de desertificação.
Trata-se de um prolongamento que une o núcleo do Seridó à microrregião de Patos, passando pela dos Cariris Velhos. Apenas na microrregião de Patos, 74,99% das terras estão em alto nível de desertificação, segundo dados do Programa Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca da Paraíba.
 
“A degradação do solo é um processo silencioso” — afirma Humberto Barbosa, professor do Instituto de Ciências Atmosféricas e coordenador do Lapis, responsável pelo estudo. — “No monitoramento por satélite fica evidente que as áreas onde o solo e a vegetação não respondem mais às chuvas estão mais extensas.
Em condições normais, a vegetação da Caatinga brota entre 11 e 15 dias depois da chuva. Nestas áreas, não importa o quanto chova, a vegetação não responde, não brota mais”.
ATÉ PETROLINA…
Estão em áreas mapeadas como críticas de desertificação municípios como Petrolina, em Pernambuco, que tem mais de 290 mil habitantes, e Paulo Afonso, na Bahia, com 108 mil moradores. Barbosa explica que a desertificação é um processo longo e a seca agrava a situação. Segundo ele, em alguns casos, a situação é difícil de reverter.
Na Bahia, numa extensão de 300 mil km² no Sertão do São Francisco, os solos já não conseguem reter água. Na região de Rodelas, no Norte do estado, formou-se, a partir dos anos 80, o deserto de Surubabel. 
Numa área de 4 km², ergueram-se dunas de até 5 metros de altura. Segundo pesquisadores, a área foi abandonada depois da criação da barragem da hidrelétrica de Itaparica, usada para o pastoreio indiscriminado de caprinos e, por fim, desmatada.
O solo virou areia. O rio, que era estreito, ficou largo, e o grande espelho d’água deixou caminho livre para o vento.
“Não existe dúvida de que o processo de degradação ambiental é grave e continua aumentando” — desabafa Aldrin Martin Perez, coordenador de pesquisas do Insa. — “A população aumentou, o consumo aumentou. Há consequências políticas, sociais e ambientais. Se falassem do problema de um banco, todos estariam unidos para salvá-lo. Como não é, não estão nem aí”.
 
No Sul do Piauí, onde fica o núcleo de Gilbués, são 15 os municípios atingidos. Nos sete em situação mais grave, segundo dados do governo do estado, a desertificação atinge 45% do território de cada um. 
Em Gilbués, uma fazenda modelo implantada pelo governo do estado conseguiu recuperar o solo e fazer florescer milho. Todos os anos se comemora ali a festa do milho, mas a experiência de recuperação é limitada. Hoje, 10,95% das terras do Sul do estado apresentam graus variados de desertificação.
Em Alagoas, estudos apontam que 62% dos municípios apresentam áreas em processo de desertificação, sendo os níveis mais graves registrados nos municípios de Ouro Branco, Maravilha, Inhapi, Senador Rui Palmeira, Carneiros, Pariconha, Água Branca e Delmiro Gouveia. 
A cobertura florestal do estado é tão baixa que Francisco Campello, responsável pelo programa de combate à desertificação do Ministério do Meio Ambiente, chegou a dizer que, se fosse uma propriedade, Alagoas não teria os 20% de reserva legal.

O DEMASIADO VOLUNTARISMO E A INSUFICIENTE LIDERANÇA DA PRESIDENTE

   


Muitas vezes, o voluntarismo – atitude de propor soluções e políticas baseadas apenas em nossa própria vontade e à nossa maneira – e a liderança andam juntos. Mas nem sempre.
Quando andam juntos, o líder consegue que a maioria o acompanhe em seus desejos, aceitando inclusive que, para isso, regras sejam torcidas ou quebradas. Tal comportamento é típico de regime autocrata ou de sistemas políticos em que a população tem baixo nível de consciência.

Por conta de nosso passado colonial e escravocrata, no Brasil temos resquícios perniciosos de voluntarismo. Ditos populares expressam essa condição, caso de “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
Tal sentimento está arraigado na sociedade, tanto por parte de quem manda quanto por parte de quem deve obedecer. Pior: devido à precária educação política, muitos acham, por exemplo, que a Presidência da República tudo pode – até mesmo afastar o presidente do Senado.

O voluntarismo também surge como uma reação exasperada à lentidão dos poderes públicos. Certa feita, Lula discursava no Palácio do Planalto dizendo que agora que o governo começava a investir é que ele via como era difícil investir no Brasil, por causa da burocracia.
A presidente Dilma Rousseff baseia muitas de suas atitudes em um marcante voluntarismo, que é acompanhado de boas doses de irritação e de cobranças públicas exasperadas.
E o pior é que nada acontece, ou continua a acontecer em ritmo de samba-canção, ou seja, muito devagar.

CANOAS FURADAS

No momento, o voluntarismo deveria ser substituído por uma abordagem mais racional e menos emocional das questões que afligem o país.
A partir das manifestações de rua realizadas em junho, o governo embarcou em duas canoas furadas: a proposição de uma Constituinte exclusiva e, depois, de um plebiscito sobre a reforma política.
As teses poderiam ter sido mais bem-recebidas se tivessem sido costuradas com os parceiros políticos. Mas não. Foram colocadas no mercado político como fatos consumados. A primeira delas, a Constituinte exclusiva, naufragou. A outra periga não dar em nada.

Ao colocar o tema da reforma política no tabuleiro, o governo conseguiu, por um lado, dividir as atenções do noticiário sobre os protestos que derrubaram a popularidade da presidente.
Por outro, por negociar mal a proposta, criou ainda mais descontentamentos em sua base aliada no Congresso.
Vale lembrar que estamos em véspera de ano eleitoral, e não interessa, principalmente aos deputados, aprovar mudanças estruturais no sistema político.

ENCRUZILHADA

Assim, o governo parece estar diante de uma encruzilhada. Ao mesmo tempo que precisa ganhar a credibilidade das ruas, não pode perder o apoio dentro do Congresso, sob pena de criar problemas de governabilidade. Daqui para a frente, o desafio será recuperar o apoio perdido sem comprometer-se no Legislativo.

Em política, como em muitas outras coisas na vida, a forma vale tanto quanto o conteúdo. Uma bela ideia mal-apresentada pode morrer no nascedouro.
O contrário também vale: péssimas ideias podem prosperar por conta do discurso de quem as vende. Reforma política é um tema mais do que necessário no país.
Mas deve ser objeto de amplo debate antes que o Congresso se mobilize em direção a alguma decisão concreta. Foi assim no caso da Ficha Limpa. As discussões forçaram o Congresso a aprová-la. Não se precisou de Constituinte exclusiva nem de plebiscito.

Faria melhor a Presidência da República conversar com os aliados e a oposição, bem como com setores da sociedade civil e, até mesmo, com o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social sobre a pauta que seria negociada com o Congresso. Seria mais uma expressão de liderança do que de mero voluntarismo.

(transcrito de O Tempo)

14 de julho de 2013
Murillo de Aragão

POR MAIS CIDADANIA

   

 
Para uma avaliação sobre o que está acontecendo efetivamente no Brasil nas últimas semanas, é necessário fazer um esforço para além do conhecimento dos fatos e das análises já realizadas em momentos anteriores. O que agora acontece é inédito. Não que nunca tivesse ocorrido manifestações populares no país, que revelassem alguma insatisfação. O que difere os atuais protestos dos que aconteceram em momentos do passado são as condições objetivas.

Do ponto de vista da vida cotidiana do brasileiro, a situação não é das piores. Ou seja, o cidadão, pelo menos por enquanto, não convive com o fantasma do desemprego de forma sistemática e viu, nos últimos anos, sua capacidade de compra ser ampliada.
O que o brasileiro não viu mesmo foi a melhoria da qualidade dos serviços públicos.
Assim, o atendimento a saúde, educação e transporte ficou esquecido em meio à decisão governamental de se priorizar a criação de empregos por meio de investimentos públicos para alimentação do mercado interno.

Mas não é difícil entender que, à medida que o brasileiro, que antes não tinha acesso aos bens de consumo, ganha penetração no mercado, ele vai exigir também a ampliação de sua cidadania. No momento em que o consumidor despertar para a possibilidade de fazer algo mais do que comprar, é compreensível que ele perceba que suas limitações estão diretamente relacionadas à incapacidade do poder público de cumprir com seus compromissos. Ou seja, a escola não é boa e, assim sendo, não será capaz de habilitar os filhos dessa chamada nova classe média para o mercado.

ALÉM DO CONSUMO…

Não seria muito exagero afirmar que a juventude que está nas ruas forma a geração que pretende muito mais do que consumo.

Se a história fosse encerrada nesse ponto, as chances de as manifestações cessarem com alguns sinais positivos do poder público seriam grandes. Mas é difícil que isso ocorra. A dificuldade pode ser explicada na diferença entre consumismo e cidadania.
O consumo tem esgotamento. Depois de alcançado certo nível de acesso ao mercado consumidor, duas coisas podem acontecer: o desejo de compra se reduz diante do volume de bens adquiridos, e a capacidade de endividamento é achatada.

Portanto, nenhuma classe é capaz de ampliar seu poder de compra sem nenhuma restrição. Já a cidadania não tem limite; quanto mais desenvolvida uma sociedade, mais referências de cidadania existem. O cidadão deste século é muito diferente daquele que existia há 40 ou 50 anos e também não será reconhecido daqui a algumas décadas.

O poder público brasileiro precisa se preparar para lidar com o novo cidadão, a cada dia mais evoluído. Os governos precisam também de assumir mais as própria identidades, cumprindo as suas obrigações e cobrando os deveres dos cidadãos.

(transcrito do jornal O Tempo)

14 de julho de 2013
Carla Kreefftpor

A REPÚBLICA PROCLAMADA POR ACASO

De vez em quando, é profilático abandonar os temas do dia-a-dia político para um mergulho em coisas mais importantes.
O saudoso e incomparável Hélio Silva, dos maiores historiadores brasileiros, titulou um de seus múltiplos livros de “A República não viu o amanhecer”.

Contou em detalhes, fruto de muita pesquisa, que a República foi proclamada por acaso. As lições daquele episódio não devem ser esquecidas. Vale lembrá-las com outras palavras e um pouquinho de adendos que a gente colhe com o passar do tempo, junto a outros historiadores e, em especial, pela leitura dos jornais da época.


Desde junho que o primeiro-ministro do Império era o Visconde de Ouro Preto. Vetusto, turrão, exprimia os estertores do chamado “poder civil” da época, muito mais poder do que civil, porque concentrado nas mãos da nobreza e dos barões do café, com limitadíssimas relações com o cidadão comum.

O Brasil havia saído da Guerra do Paraguai com cicatrizes profundas, a começar pela dívida com a Inglaterra, mas com novos personagens no palco. O principal era o Exército, composto em maioria por cidadãos da classe média, com ênfase para os menos favorecidos.

Escravos aos montes também haviam sido libertados para lutar nos pântanos e charcos paraguaios. Nobres lutaram, como Caxias e Osório, mas a maioria era composta daquilo que se formava como o brasileiro médio.

Ouro Preto, como a maior parte da nobreza, ressentia-se daqueles patrícios fardados que começavam a opinar e a participar da vida política. Haviam sido peça fundamental na abolição da escravatura, em 1888.
Assim, com o Imperador já pouco interessado no futuro, o governo imperial tratou de limitar os militares. Foram proibidos de manifestações políticas, humilhados e punidos, como Sena Madureira e tantos outros.

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MUDANÇAS

Havia, nos quartéis e em certos círculos políticos, um anseio por mudanças. Até o Partido Republicano tinha sido criado no Rio e depois em São Paulo, mas seus integrantes estavam unidos por um denominador comum: República, só depois que o “velho” morresse, pois era queridíssimo pela população. E quem passaria a mandar no Brasil seria um estrangeiro, o Conde d’Eu, francês, marido da sucessora, a princesa Isabel.

Cogitava, aquele poder civil elitista, de dissolver o Exército, restabelecendo o primado da Guarda Nacional, onde os coronéis e altos oficiais careciam de formação militar. Eram fazendeiros, em maioria.
Os boatos ganhavam a rua do Ouvidor, no Rio, onde localizavam-se as redações de jornal.
Na tarde de 14 de novembro movimentam-se um regimento e dois batalhões sediados em São Cristóvão.
Com canhões e alguma metralha, ocupam o Campo de Santana, defronte ao prédio onde se localizava o ministério da Guerra, na região da hoje Central do Brasil. Declararam-se rebelados e exigiam a substituição do primeiro-ministro, que lá se encontrava com seus companheiros.

Comandados por majores, estava criado o impasse: não tinham como invadir o prédio, por falta de um chefe de prestígio, mas não podiam ser expulsos, já que as tropas imperiais postadas nos fundos do ministério não se dispunham a atacá-los.
O Secretário-Geral do ministério da Guerra era o marechal Floriano Peixoto, que quando exortado por Ouro Preto a investir à baioneta contra os revoltosos, pois no Paraguai haviam praticado feitos muito mais heróicos, saiu-se com frase que ficou para a História: “Mas no Paraguai, senhor primeiro-ministro, lutávamos contra paraguaios…”

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DEODORO

Madrugada do dia 15 e os majores, acampados com a tropa revoltada, lembram-se de que ali perto, numa casinha modesta, morava o marechal Deodoro da Fonseca, há meses perseguido pelo governo imperial, sem comissão e doente.
Dias atrás o próprio Deodoro recebera um grupo de republicanos, com Benjamim Constant, Aristides Lobo e outros, aos quais repetira que não contassem com ele para derrubar o Imperador, seu amigo.

Acordado, Deodoro ouve que dali a poucas horas Ouro Preto assinaria decreto dissolvendo o Exército. Não era verdade, mas irrita-se, veste a farda e dispõe-se a liderar a tropa. Não consegue montar a cavalo, tão fraco estava.

Entra numa carruagem e acaba no pátio fronteiriço ao ministério da Guerra.
 Lá, monta um cavalo baio e invade o prédio, com os soldados ao lado, todos gritando “Viva Deodoro! Viva Deodoro!”
Saudando-os com o agitar o boné na mão direita, grita “Viva o Imperador! Viva o Imperador!”.

Apeia e sobe as escadarias, para considerar Ouro Preto deposto. Repete diversas vezes : “Nós que nos sacrificamos nos pântanos do Paraguai rejeitamos a dissolução do Exército.” Estava com febre de 40 graus.
O Visconde, corajoso e cruel, retruca que “maior sacrifício estava fazendo ele ouvindo as baboseiras de Vossa Excelência!” Foi o limite para Deodoro dizer que estava todo mundo preso.

O marechal já ia voltando, o sol ainda não tinha nascido e os republicanos, a seu lado, insistem para que aproveite a oportunidade e determine o fim do Império. Ele reluta. Benjamin Constant lembra que se a República fosse proclamada naquela hora, seria governada por um ditador. E o ditador seria ele, Deodoro.

Conta a lenda que os olhos do velho militar se arregalaram, a febre passou e ele desceu ao andar térreo, onde montou outra vez o cavalo baio. A tropa recrudesceu com o “Viva Deodoro! Viva Deodoro!” e ele agradeceu com os gritos de “Viva a República! Viva a República!”

Não havia populares nas proximidades, muito menos operários. Aristides Lobo escreverá depois em suas memórias que “o povo assistiu bestificado a proclamação da República.”

Preso no Paço da Quinta da Boa Vista, com a família, o Imperador teve 48 horas para deixar o Brasil. Deodoro quis votar uma dotação orçamentária para que subsistissem no exílio. D. Pedro II recusou, levando apenas pertences pessoais. A República estava proclamada.

Conta-se o episódio porque, graças a Deus, a História do Brasil é feita por homens, não por anjos.

14 de julho de 2013
Carlos Chagas

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE

 
 
14 de julho de 2013


PERSEGUIÇÃO ISLÂMICA A CRISTÃOS: ASIA BIBI É TRANSFERIDA


          Notícias Faltantes - Perseguição Anticristã 
asiabibiAsia Bibi foi transferida para a prisão Multan, que fica muito mais longe de sua família. Asia é a cristã paquistanesa presa há quatro anos acusada de blasfêmia sob as leis de seu país.

A transferência ocorreu poucos dias após o marido de Asia, Ashiq Masih, visitá-la na prisão em Sheikhupura. Com 41 anos, ela estava em tratamento médico por causa de intensas dores nas pernas, ombros e braços.

Em Multan, sua família terá que viajar por cerca de cinco horas, em vez de apenas uma, para visitá-la. Eles também temem muito mais pela segurança de Asia e que o tratamento médico seja interrompido. Ashiq relata que suas duas filhas estão desanimadas com a notícia da transferência de sua mãe.

Asia foi presa em 19 junho de 2009, após colegas de trabalho muçulmanas, começarem a pressioná-la para renunciar ao cristianismo e se converter ao islamismo. Asia compartilhou sua fé em Cristo e disse que Cristo morreu na cruz pelos pecados de todas elas. Em seguida, ela questionou o que Maomé teria feito por elas. Asia também afirmou que Jesus venceu a morte enquanto o profeta islâmico continuava morto.

Uma raiva muito grande se ascendeu contra Asia e as mulheres muçulmanas começaram a espancá-la. Em seguida, alguns homens vieram e a trancaram numa sala. Dezessete meses depois de presa, ela foi sentenciada à morte. Não há registros de nenhuma execução no país sob as leis de blasfêmia do Paquistão. O que ocorre é que, depois de presos, esses cristãos condenados são assassinados dentro da prisão por radicais muçulmanos.

Asia conseguiu atrair para si a atenção internacional para as leis de blasfêmia do Paquistão. Os cristãos pediram a libertação de Asia e a revogação das leis, enquanto os extremistas no Paquistão continuam a exigir que ela seja executada.

Na última visita de seu esposo, Asia pediu para que os cristãos ao redor do mundo continuem a orar pela sua saúde, segurança e libertação.


Da agência Voz dos Mártires.

ESTARIA NETANYAHU INDO PARA A ESQUERDA?


          Internacional - Oriente Médio
Com a Síria e o Egito em chamas, o que leva o Secretário de Estado dos EUA John Kerry a voltar ao Oriente Médio pela sexta vez desde fevereiro para se dedicar ainda mais à diplomacia de ponte aérea israelense-palestina?

Em parte porque ele e outros tantos liberais acreditam que a guerra árabe e iraniana (e agora turca?) contra Israel se resume no conflito israelense-palestino, consequentemente enfatizam demasiadamente essa dimensão, em parte também porque Kerry endossa a ilusão liberal de que os problemas relacionados a Israel constituem o "epicentro" da região (conforme declarou certa vez James L. Jones, então conselheiro de segurança nacional de Obama) logo, sua solução deve preceder o engajamento nos demais problemas do Oriente Médio.
John Kerry tentando convencer Binyamin Netanyahu.

Mas é possível que haja outra razão que justifique o entusiasmo de Kerry: ao avaliar o Primeiro Ministro de Israel Benjamin Natanyahu, descobriu que ele está seriamente comprometido em fazer um acordo com os palestinos, não fingindo só para agradar Washington.

De qualquer maneira, é a tese de David M. Weinberg da Universidade Bar-Ilan em um artigo no Israel Hayom:

"Netanyahu tem feito declarações atipicamente entusiasmadas em relação ao processo diplomático, declarações que vão além da esperada troca de ideias sobre o desejo de Israel de se envolver com os palestinos e negociar uma solução de dois estados".

Weinberg acha que Netanyahu "está desesperado para que haja algum movimento diplomático, [tendo] aceito o argumento da esquerda que o status quo é insustentável".

Weinberg entende que haja preparativos em andamento para uma "iniciativa unilateral israelense para ceder partes significativas da Judéia e Samaria".
Por que Netanyahu, que não fez uso dessa plataforma durante a campanha, estaria fazendo tais planos? Weinberg dirige os olhos para a política interna:

Netanyahu não tem outro projeto de âmbito nacional para sustentar seu cargo de primeiro ministro. Ele necessita uma nova mensagem com o objetivo de reposicioná-lo como líder e a questão palestina é a única coisa de que dispõe. A liderança em questões econômicas e sociais foi capturada pelos concorrentes políticos Yair Lapid e Naftali Bennett. Ele não pode fazer praticamente nada em relação a complicada situação na Síria ou no Irã. Sua função é responder de maneira sensata e cuidadosa ao desenrolar dos acontecimentos nessas frentes e não envolver Israel em um confronto.

Segundo Weinberg, uma retirada unilateral de Israel "pegaria a aliança Lapid-Bennett de surpresa, algo que representa a mais alta prioridade política de Netanyahu". O primeiro ministro poderia então "regozijar-se frente aos elogios da elite de Washington e Tel Aviv", angariar apoio eleitoral da esquerda e do centro e aparentemente alcançar mais uma vitória nas urnas.

Essa explicação não me convence: O Irã representa uma ameaça potencialmente existencial a Israel e lidar com isso é de longe suficiente para "sustentar seu cargo de primeiro ministro". A população de Israel está focada em Teerã, e Netanyahu, que se vangloria por dedicar 70% do tempo em questões de segurança, dificilmente necessitaria de envolvimento diplomático com Mahmoud Abbas para provar sua liderança.

David Ben-Gurion (1886-1973), o padrão segundo o qual os primeiros ministros israelenses subsequentes se autoavaliam. Revista Time, 16 de agosto de 1948.
Melhor dizendo, sua motivação encontra-se em outro lugar: assim como ocorreu com outros primeiros ministros de Israel, Netanyahu sofre do que eu chamo de "complexo Ben-Gurion", o desejo de entrar para a história judaica como líder renomado. (David Ben-Gurion geriu a fundação do moderno Estado de Israel).
Em seu terceiro mandato, primeiro ministro com mais tempo no cargo (após o próprio Ben-Gurion), Netanyahu é muito suscetível a essa ambição.

Pós 1948, o complexo Ben-Gurion significa acabar com as ameaças externas contra Israel.

Infelizmente, essa digna ambição já influenciou muitas duplicidades e distorções. Conforme relatei o fenômeno em 2004, "primeiro, cada primeiro ministro eleito [desde 1992, Yitzhak Rabin, Ehud Barak, Ariel Sharon e Netanyahu] não cumpre a promessa sobre como lidar com os árabes. Segundo, cada um deles adotou uma abordagem inesperada envolvendo concessões".

Netanyahu fez uma promessa de campanha em 1996 que, se eleito, Israel "jamais sairia do Golan", mas dois anos depois tentou oferecer a Damasco todo o território do Golan em troca de um simples pedaço de papel. (Imagine as consequências hoje, se Netanyahu tivesse feito esse acordo, com a Síria em chamas e as unidades da Al-Qaeda se aproximando das fronteiras de Israel). Felizmente, seus colegas de gabinete não permitiram que ele implementasse essa insensatez.

Graças a importantes membros do gabinete, Israel mantém o controle das Colinas de Golan, do lado sírio, como mostra a foto acima.

Nos dias de hoje, um consenso de centro-esquerda entoa que eliminar a ameaça externa contra Israel requer um acordo, com os palestinos, de dois estados. (Eu discordo). Será que Netanyahu irá para a esquerda, desafiará seu eleitorado e assinará um acordo desses para se reeleger? O padrão volúvel dos primeiros ministros, acrescido da biografia de Netanyahu, tem me causado preocupação sobre uma traição dessa natureza em seu mandato desde 2009.
Mas quem sabe seremos poupados de sabermos da resposta: A intransigência palestina está aborrecendo Kerry e pode, novamente, tirar a pressão diplomática das costas de Israel.

14 de julho de 2013
 Daniel Pipes
Publicado no The Washington Times.
Original em inglês: Is Netanyahu Turning Left?
Tradução: Joseph Skilnik

"CADÊ MINHA BOQUINHA"

 
Desde 5 de dezembro, quem realizou cirurgia bariátrica (redução do estômago) tem direito a meia porção e/ou a desconto correspondente em qualquer restaurante de Campinas (Lei Municipal 14.524).
Em março, o ex-ministro Maílson da Nóbrega observava na revista Veja que, "pela mesma lógica, os restaurantes deveriam ser autorizados a cobrar o dobro dos obesos".
Esse caso de Campinas é uma ilustração de um estado geral de espírito e de cultura que há décadas permeia a sociedade brasileira. Segmentos de todos os tamanhos da população estão sempre à procura de uma vantagem especial dos governos.
Como já analisado pelo comentarista da Agência Estado, Fernando Dantas, é o fenômeno que o professor Samuel Pessoa, da Fundação Getúlio Vargas, chama de "país da meia-entrada".
São aqueles que se beneficiam das pensões vitalícias por morte; são os idosos que podem rodar no metrô e nos ônibus sem terem de pagar tarifa; os estudantes ou os aposentados que pagam meia-entrada no cinema; é o empresário que sempre espera subsídios para sua indústria e reservas de mercado para seus negócios; é a categoria dos jornalistas que arrancou uma lei que autoriza a se aposentar aos 30 anos de trabalho e não aos 35; é o chefe político que se julga no direito de usar jatos da FAB para ir a casamentos de amigos ou, então, no direito a financiamentos preferenciais da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, que ele pagará, ou talvez não, quando der...
Muitos desses benefícios são justos ou encontram plena justificativa técnica. De mais a mais, os mecanismos de decisão política estão aí para arbitrar esses e outros direitos adquiridos.
O problema é que "no país da meia entrada" todos querem algum benefício equivalente, sem levar em conta que, justos ou injustos, esses benefícios acabam sendo pagos por aqueles que não podem escapar da fatura. Só é possível cobrar tanta meia-entrada no cinema ou em outras coisas da vida, se para os demais a entrada inteira custar mais, para compensar o que deixar de ser arrecadado. O passe livre, tanto quanto a educação pública e a saúde básica, não sai de graça. O contribuinte acaba sendo chamado a dar cobertura para essas despesas.
Não é possível democratizar plenamente boquinhas e meias-entradas sem democratizar também as contas a pagar.
No cruzamento dessas faturas, a aritmética é inexorável, com uma agravante: esses processos de expansão de benefícios e de cobranças adicionais geram subsídios cruzados de baixa transparência. E, em tudo isso, sempre se criam distorções que, por sua vez, criam outras.
É como aquela rede de mecanismos de compensação de perda de renda (indexação), criada no tempo da megainflação. Eram os hábitos do dinheiro quente, que exigiam compras concentradas no dia do recebimento do salário (antes das remarcações de preços) ou impunham reajustes automáticos, de preferência diários, que tentavam proteger patrimônio e renda. A corrida para não perder demais da inflação se encarregava de realimentá-la, traste do qual a economia brasileira ainda não se livrou totalmente.
O tiro mais certeiro nessa roda viva foi a criação da Unidade Real de Valor (URV), que transformou em moeda a própria indexação da economia.
Como reduzir a avalanche das meias- entradas a uma proporção aceitável é uma questão e tanto. Nenhum economista brasileiro se dedicou a criar uma URV para acabar com isso. Nenhum político apresentou projeto para disciplinar a concessão de tantas boquinhas.
14 de julho de 2013
Celso Ming, O Estado de São Paulo

FILHAS DE MINISTROS DO STF DISPUTAM ALTOS CARGOS NO JUDICIÁRIO, MESMO SEM EXPERIÊNCIA

 
Para o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), a advogada Marianna Fux, 32, é "respeitada" e "brilhante".
 
Na avaliação de Ophir Cavalcante, ex-presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), o currículo da colega Leticia Mello, 37, "impressiona".
 
A mesma opinião tem o experiente advogado José Roberto Batocchio: "É uma advogada com intensa militância, integra um grande escritório, com ampla atuação no Rio".
 
Meses atrás, o mais novo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, exaltou as qualidades de Leticia numa carta enviada a desembargadores do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, com jurisdição no Rio e no Espírito Santo.
Em troca, ela prestigiou a posse dele no STF.
 
As duas advogadas são filhas de ministros do Supremo. Com poucos anos de advocacia, estão em campanha para virar desembargadoras, juízas da segunda instância.
 
Filha do ministro Luiz Fux, Marianna lidera as apostas para substituir o desembargador Adilson Macabu, que se aposenta no Tribunal de Justiça do Rio nesta semana.
 
Se for bem sucedida, ela terá um salário de R$ 25,3 mil e regalias como carro oficial e gabinete com assessores.
 
Filha do ministro Marco Aurélio Mello, Letícia pode conseguir coisa parecida. Ela foi a mais votada numa lista submetida à presidente Dilma Rousseff para o preenchimento de uma vaga no TRF do Rio.
 
Leticia é mais experiente do que Marianna. Formou-se em 1997 e trabalha num escritório de prestígio. É considerada no meio jurídico uma advogada promissora, mas que dificilmente chegaria tão cedo a uma lista tríplice se o pai não estivesse no STF.

Pedro Ladeira/Folhapress/Isaac Markman
Montagem com as advogadas Leticia Mello (à esq.), filha do ministro Marco Aurélio Mello, e Marianna Fux, filha do ministro Luiz Fux
Montagem com as advogadas Leticia Mello (à esq.), filha do ministro Marco Aurélio Mello, e Marianna Fux, filha do ministro Luiz Fux

Em entrevista à Folha, Marco Aurélio saiu em defesa da filha: "Se ser novo apresenta algum defeito, o tempo corrige". Ele procurou desembargadores para tratar da indicação da filha, mas nega ter pedido qualquer coisa. "Jamais pedi voto, só telefonei depois que ela os visitou para agradecer a atenção a ela".
 
No TJ do Rio, há registro de apenas cinco processos em que Leticia atuou. No TRF, onde ela quer ser desembargadora, não há menção. Leticia formou-se no Centro Universitário de Brasília e não tem cursos de pós-graduação.
 
"Há muitos que têm diversos canudos debaixo do braço e deixam a desejar", diz Marco Aurélio. "É pecado [a indicação]? É justo que nossos filhos tenham que optar por uma vida de monge?"
 
Leticia e Marianna disputam vagas do chamado quinto constitucional, reservadas a juízes indicados pela OAB.
 
O ministro Fux foi desembargador do TJ do Rio no início da carreira e conhece quem pode ajudar sua filha. A votação no tribunal deverá ser aberta. Um integrante do TJ diz que isso pode criar constrangimento, se algum ex-colega de Fux quiser se opor à escolha da sua filha.
 
Marianna formou-se há dez anos pela Universidade Cândido Mendes, no Rio, e seu currículo exibe uma pós-graduação em Teoria das Obrigações e Prática Contratual pela Fundação Getúlio Vargas.
 
A FGV informou à Folha que não se trata de pós-graduação, mas de um curso de extensão universitária de quatro meses. Marianna atuou em apenas seis processos no TJ do Rio: um sobre extravio de bagagem, os demais sobre espólio e dano moral.
 
Em abril deste ano, o advogado Sérgio Bermudes, que é amigo de Fux e emprega Marianna, organizou uma festa para comemorar o aniversário do ministro. Os desembargadores do TJ foram convidados, mas Fux cancelou o evento após sofrer críticas.
 
O presidente da OAB do Rio, Felipe Santa Cruz, diz que ainda não foi aberta a lista para a qual Marianna poderá ser indicada. "Não posso me manifestar sobre algo que não existe ainda", afirmou, sem negar a movimentação a favor da advogada.
 
Leticia Mello tem dois adversários mais experientes na lista submetida a Dilma: os advogados Luiz Henrique Alochio, 43, e Rosane Thomé, 52.
 
Eles preferem evitar a polêmica. "Espero que seja escolhido o melhor avaliado do ponto de vista da meritocracia", diz Alochio. "Não tenho grandes expectativas. A nomeação é tão sem critério, aleatória", afirma Rosane, que tem 30 anos de advocacia.
 
Procurada, Leticia disse que não se manifestaria sobre o assunto. Marianna e seu pai não responderam aos pedidos de entrevista da Folha.

14 de julho de 2013LEANDRO COLON e  DIÓGENES CAMPANHA - FOLHA DE SÃO PAULO



Editoria de Arte/Folhapress

CORRUPTO E CÍNICO! OPINIÃO DE LULA SOBRE MINISTÉRIOS SOFRE GUINADA

 
No curto intervalo de um mês, a opinião de Lula sobre o número de ministérios sofreu uma guinada.
Numa palestra feita na cidade de Canoas (RS) em 13 de junho, ele defendeu o gigantismo da Esplanada. Na semana passada, foi ouvido pregando o enxugamento da equipe ministerial. Entre um Lula e outro, houve mais de 1 milhão de pessoas nas ruas reivindicando menos corrupção e mais eficiência do Estado.
O Lula de um mês atrás discusou num evento chamado Fórum Mundial de Autoridades Locais de Periferia.
A plateia estava apinhada de autoridades municipais do Brasil e do exterior. Num autoelogio, Lula disse que acertou ao criar o Ministério das Cidades. Antes, os prefeitos eram recebidos em Brasília “por cães pastores que mordiam os seus traseiros”, afirmou.
Em seguida, Lula resumiu a teoria da Esplanada infinita: “Por que eu posso ter um Ministério da Indústria e não ter o da Mulher? Tem de colocar pessoas específicas para cuidar de coisas específicas. Num país com uma costa marítima de 8 mil quilômetros, não faria sentido não ter o Ministério da Pesca.”
Levando-se o raciocínio às últimas consequências, um Brasil com tantos casos de malversação de verbas públicas não poderia prescindir de um Ministério da Corrupção.
Lula discursou em Canoas pela manhã. Horas depois, no final da tarde do mesmo dia, o asfalto ferveria em São Paulo, provocando uma reação virulenta da PM. Nos dias subsequentes, a crise dos vinte centavos evoluiu para uma revolta pluritemática que surpreendeu o mundo.
E Lula passou a defender a lipoaspiração dos ministérios (eram 26 sob FHC e somam 39 hoje). O cavalo de pau de Lula foi executado longe dos refletores. Em público, ele não faz senão autocríticas a favor.
14 de julho de 2013
Josias de Souza - UOL
 
 

"ANONYMOUS" LIDERA ATIVISMO DIGITAL NOS PROTESTOS - DIZ ESTUDO

 
Nem movimento pela tarifa zero nem partidos, sindicatos ou políticos. Os responsáveis pelos maiores focos de atividade no Facebook nos dias-chave dos protestos de rua em junho foram os integrantes da rede de ativismo hacker "Anonymous".
 
A conclusão é de um estudo feito pela empresa InterAgentes, do cientista social Sérgio Amadeu, doutor em ciência política pela USP e ex-presidente do ITI (Instituto Nacional de Tecnologia de Informação), autarquia vinculada à Casa Civil da Presidência.
 
Movimento funciona como resistência política ao controle do indivíduo, diz pesquisa
 
Esses internautas, que se identificam apenas por apelidos e usam máscaras inspiradas no filme "V de Vingança" (2006), dominaram os "nós de relevância" no tráfego do Facebook nos dias 13, 17, 18 e 20 de junho, quando centenas de milhares de pessoas foram às ruas.
 
"Os 'Anonymous' tiveram relevância na disseminação das informações e na articulação da solidariedade ao que era o movimento inicial pela redução das tarifas e contra a Copa. Eles foram decisivos", disse Amadeu.
 
A pesquisa começou com a cópia de mais de 500 mil comentários e mensagens abertas ao público postadas na rede social e que continham cerca de 50 expressões-chave, como "protesto" e gritos de guerra dos manifestantes.
 
A massa de dados foi então interpretada pelo software de visualização de dados Gephi.
 
O programa apontou os perfis que se tornaram "nós" dominantes, isto é, receberam maior atenção em comentários, compartilhamentos de informações sobre os protestos e convocações para as manifestações de rua.
 
Foi estabelecido um ranking com os cinco maiores "nós" de cada dia. Dos 20 listados, 12 traziam a bandeira "Anonymous".
 
O nó "Passe Livre São Paulo" apareceu apenas em um dia, 13, quando a polícia reagiu com violência à marcha em São Paulo. Depois, desapareceu dos cinco primeiros lugares de maior relevância.
 
MASCARADOS
 
Surgidos nos EUA, os "Anonymous" ganharam atenção em 2010, quando fizeram um cerco cibernético a empresas que atuaram contra o Wikileaks a pedido do governo norte-americano. As primeiras atividades no Brasil datam de 2011, quando atacaram e derrubaram sites do governo federal.
 
Os chamados "anons" não formam um grupo único. São vários "coletivos", que às vezes divergem uns dos outros, mas giram sempre em torno de ideias gerais em comum, como a defesa radical da liberdade de expressão e o acesso irrestrito à informação.
 
Outros dois estudos de empresas consultadas pela Folha --um do grupo Máquina/Brandviewer e outro da E.life--, confirmam a intensa atividade dos "anons" na época dos protestos.
 
"Essas redes descentralizadas é que permitiram a organização tão rápida desses grupos. É o mesmo tipo de organização usado por redes como a Al Qaeda, por exemplo, ou as antigas redes de troca de música", disse o executivo da E.life, Alessandro Barbosa Lima.
 
POLÍCIA
 
O protagonismo virtual dos "Anonymous" nos protestos de rua também já chamou a atenção, segundo os "anons", da Polícia Federal.
 
Os ativistas divulgaram, na semana passada, vídeo postado por "Bile Day", um conhecido "anon", em que declaram estar passando por uma "repressão política".
 
A gravação afirma que a PF "tem realizado visitas nos lares de alguns membros de nossas mídias sociais para interrogá-los sobre atuações e pensamentos, na tentativa de intimidar e enfraquecer a nossa luta".
 
Procurada, a assessoria da Polícia Federal informou que não poderia se manifestar sobre "algo que não se sabe se ocorreu" e disse não poder confirmar, nem desmentir, a existência de investigação sobre os "Anonymous".

14 de julho de 2013
RUBENS VALENTEJOÃO CALOS MAGALHÃES - Folha de São Paulo

DESCONTENTAMENTO


"Eu já tô ficando revoltada com essa história de poste! Tô gostando não..."

14 de julho de 2013

DILMA, "O POSTE EM CURTO-CIRCUITO"

A crise da presidente Dilma Rousseff expõe os limites da teoria do poste. Não foi o ex-presidente Lula quem inventou o poste.
Se a memória não falha, já nos idos de 1974, nas eleições para o Senado que determinaram o início da decadência da ditadura, colou-se o apelido de “postes” aos eleitos nos embalos da súbita e surpreendente onda oportunista.
 
O que Lula fez foi exacerbar a teoria e reivindicar sua aplicação como mágica pessoal.
Nenhum poste gosta de ser chamado de poste, e a cortesia manda que os fazedores não os chamem pelo desprestigioso apelido. No entanto, na euforia da vitória do prefeito Fernando Haddad em São Paulo, o ex-presidente disse que “de poste em poste” o Brasil se iluminaria.
No caso da presente crise da presidente – porque a crise que começou nas ruas evoluiu, sim, para uma crise da presidente -, os efeitos perversos da eleição de um poste revelaram-se nas seguintes evidências:
1.     O governo está sem rumo. Não é de hoje que a condução errática da economia, a demora em atacar os gargalos na infraestrutura, a nomeação e desnomeação de ministros e a dubiedade no combate à corrupção traem inexperiência que resulta em insegurança e indecisão. Nas duas últimas semanas, tais sintomas viraram febre com as sucessivas trapalhadas da Constituinte exclusiva e do plebiscito. A desconhecida Dilma foi-nos apresentada como “gerentona”. Hoje é a gerente que não gerencia uma equipe balofa e incoerente. A dureza na cobrança e a minudência no acompanhamento do trabalho dos auxiliares eram exaltadas como qualidade. Revelaram-se como defeitos. O reflexo condicionado é encobrir insuficiências pondo a culpa na “articulação política”. A “articulação”  e sua irmã gêmea, a “comunicação, são dois gastos bodes expiatórios. Não há articulação nem comunicação que funcionem se a outra ponta não funciona. A outra ponta é o gabinete presidencial.
2.     Desaba o respeito ao governo. As vaias são o de menos. Pior é o misto de cinismo e traição que rodeia a presidente. A chamada “base aliada” esfacelou-se. Ao vácuo de liderança sucede-se a balbúrdia no Congresso. Com a esperteza de sempre, deputados investem contra o chamado “foro privilegiado” como se fosse medida moralizadora, quando o mensalão provou que o suposto privilégio na verdade lhes rouba o recurso às diversas instâncias e às infinitas chicanas do processo ordinário. Pior para o governo é a ameaça de se votar o tal “orçamento impositivo”, instituindo o escândalo da liberação obrigatória das já de si escandalosas emendas parlamentares. O desrespeito à presidente propicia a abertura de caça ao erário.
 
3.     O poste foi feito refém. Outros postes, na política brasileira, tiveram melhor sorte. A este não se permite se desligar do criador. Dilma já se entregou ao obrigatório ritual de encontrar-se com Lula duas vezes desde o início dos protestos. A relação ameaça assumir caráter patológico, se é que já não assumiu. O ex-presidente não sossega de impor-se como patrono, mestre, guia e protetor. A sucessora se rende à sorte de patrocinada, discípula, guiada e protegida. É quase uma versão da “síndrome de Estocolmo”, pela qual o seqüestrado acaba cativado pelo sequestrador. “Cativado” quer dizer enamorado, mas também prisioneiro. Tem-se uma presidente obrigada à reverência a uma instância superior. O resultado é a perda de reverência que deveria inspirar
 
14 de julho de 2013
Roberto Pompeu de Toledo, Veja
 
NOTA AO PÉ DO TEXTO
 
Essa história de poste nunca me cheirou bem... Quando não serve para provocar acidentes, com trombadas de veículos os mais variados, de caminhão aos antigos fuscas, muitas vezes ficam apagados anos e anos. Quando alguém consegue - pela graça de algum interessado - providenciar a sua luz, é uma festa tão grande, que é comum ver-se um ajuntamento de gente a sua volta.
Todo mundo quer aproveitar um pouco daquela luz amarelada que não ilumina nada, mas atrai muita mariposa noturna, bruxas e os mais variados cascudos...
Como disse inicialmente, história de poste nunca me cheirou bem... Vai que algum vira-latas se aproxima nos momentos de solidão do poste e resolve batizá-lo. E vira-latas é o que não falta e estão, geralmente, muito próximos do poste. Parece até uma vocação.
Bem, eu não gostaria de ser um poste e correr, ainda por cima, o risco de um curto-circuito.
m.americo