"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 6 de agosto de 2013

A DEFESA DO FORO DE SÃO PAULO, PELO CARREGADOR DE QUENTINHAS DO ZÉ

Futuro carregador das quentinhas de José Dirceu resolve me atacar num texto em que defende os crimes do Foro de São Paulo. Faço um desafio ao valentão


Um carregador de malas de José Dirceu — em breve, carregará as quentinhas para forrar o estômago do chefe na cadeia — resolveu me atacar, numa tentativa malsucedida de tréplica ao filósofo Olavo de Carvalho.
Não costumo dar bola pra essa súcia porque a canalha conta com a audiência do meu blog para propagar suas ofensas. Mas decidi escrever uma coisinha ou outra.
 
O sujeito estava infeliz porque foi intelectualmente humilhado por Olavo, a quem inicialmente provocou. Desmoralizado, restou-lhe partir para a ofensa e para a conclamação nem tão sutil à violência contra aqueles a quem considera “trânsfugas” — pessoas que foram de esquerda na juventude e que hoje, segundo as suas considerações, seriam servis ao “liberal-fascismo”.
Além de Olavo e de mim, inclui no grupo Arnaldo Jabor, Demétrio Magnoli e Marcelo Madureira.
 
Não sei o que quer dizer “liberal-fascismo”. Nem ele. Pela simples, óbvia e boa razão de que não se pode ser, a um só tempo, liberal e fascista — a não ser na mente perturbada, ignorante e criminosa de certa esquerda.
O fascismo compreende necessariamente um movimento de massa, instrumentalizado por uma elite delinquente. Pode assumir características de direita — a exemplo dos vários fascismos europeus do século passado — ou de esquerda, a exemplo desses que pipocam na América Latina neste começo de século 21, de que o petismo é a expressão nativa.
Costumo brincar que nunca ninguém viu as massas na rua cobrando estado enxuto, privatização e redução de gastos públicos.
 
O futuro carregador de quentinhas, que transformou o “socialismo” numa profissão e num meio de vida, não se conforma que outros possam ganhar a vida de maneira honesta, sem assaltar os cofres públicos e, às vezes, até os próprios colegas.
Mais: justificador de um modelo de sociedade que só se impôs pelo terror e pela violência, deixando um rastro impressionante de quase 150 milhões de mortos, considera “trânsfugas” os que escolheram o caminho civilizado para o exercício da divergência.
Não por acaso, em seu texto, faz uma convocação oblíqua para que os objetos de sua fúria sejamos devidamente punidos. Não sei o que o rapaz tem em mente.
Coisa boa não é. É o caso de enviar o texto para que a polícia tenha por onde começar uma investigação caso seus asseclas acatem a sugestão.
 
O homem está desesperado. O tiro, reitero o que escrevi em outros posts, saiu pela culatra. O PT, por intermédio de suas falanges — quem é fascista mesmo? — tentou criar o baguncismo em São Paulo e se deu muito mal.
movimento, inicialmente estimulado pelo partido, avançou para um protesto generalizado contra a política e contra os políticos. Como o petismo está no poder e é establishment, acabou se transformando num dos alvos principais dos protestos.
 
Estafeta por vocação e profissão, o rapaz não admite que possa haver pessoas independentes, que pensem sem pedir autorização a ninguém. Basta ler o que cada uma das personalidades mencionadas no primeiro parágrafo disse ou escreveu sobre “o povo na rua” para constatar que não formam um grupo.
Tomo como exemplo o caso de Jabor: seja lá qual for o tema — incluindo os protestos em curso —, temos muito mais divergências do que convergências. Mas a todos, incluindo Jabor, reconheço ao menos uma virtude, não houvesse outras: pensam o que bem entendem; servem apenas a suas convicções; não se subordinam a projetos de poder; não são esbirros de máquinas partidárias ou de fantasias ideológicas; não pretendem impor o seu pensamento calando a boca dos que divergem. Têm ainda em comum o apreço pela liberdade. E isso é insuportável para o carregador de malas.
 
Embora ele cante vitória e exalte o que considera a vitória esmagadora da esquerda, é visível que o homem está em pânico. Há quatro meses, seu partido via as eleições de 2014 como mero processo homologatório.
Havia mesmo quem raciocinasse como se as urnas fossem já uma obsolescência. Ora, se o povo estava com o PT, eleição pra quê? Essa certeza acabou. E o dado mais saboroso desse pânico é que esse é o resultado inesperado de uma ação calculada pelo partido e suas falanges para esmagar o que restava de oposição no país.
E, apesar disso, como sabem os meus leitores, não sou um entusiasta do movimento das ruas porque não gosto de sua retórica contra a política e contra os políticos. Considero, como já deixei claro tantas vezes, que esse ímpeto é de matriz fáscio-petista, ainda que possa episodicamente se voltar contra o próprio PT.
 
A humilhação


Mas por que o pit bull de Zé Dirceu está rosnando? Num texto em que defendia o Foro de São Paulo — reunido na capital paulista desde segunda-feira (fica até domingo) —, fez um ataque boçal a Olavo e recebeu o troco, com sobras.
Tratou-se, justiça se faça, de uma reação desproporcional de Olavo: desproporcional no apego aos fatos, desproporcional na capacidade argumentativa, desproporcional na inteligência, desproporcional no aporte de racionalidade.
Olavo teve a indelicadeza de lembrar a folha corrida de crimes cometidos por essa entidade que congrega partidos de esquerda da América Latina e Caribe. Reproduzo (em azul):
 
Ao longo de duas décadas e picos, o Foro de São Paulo acumulou uma folha de realizações que ninguém deveria ignorar:
 
1) Deu abrigo e proteção política a organizações terroristas e a quadrilhas de narcotraficantes e sequestradores que nesse ínterim espalharam o vício, o sofrimento e a morte por todo o continente, fazendo mesmo do Brasil o país onde mais cresce o consumo de drogas na América Latina.
 
2) Ao associar entidades criminosas a partidos legais na busca de vantagens comuns, transformou estes últimos em parceiros do crime, institucionalizando a ilegalidade como rotina normal da vida política em dezenas de nações.
 
3) Burlou todas as constituições dos seus países-membros, convidando cada um de seus governantes a interferir despudoradamente na política interna das nações vizinhas, e provendo os meios para que o fizessem “sem que ninguém o percebesse”, como confessou o sr. Lula, e sem jamais ter de prestar satisfações por isso aos seus respectivos eleitorados.
 
4) Ocultou sua existência e a natureza das suas atividades durante dezesseis anos, enquanto fazia e desfazia governos e determinava desde cima o destino de nações e povos inteiros sem lhes dar a mínima satisfação ou explicação, rebaixando assim toda a política continental à condição de uma negociação secreta entre grupos interessados e transformando a democracia numa fachada enganosa.
 
5) Gastou dinheiro a rodo em viagens e hospedagens para muitos milhares de pessoas, durante vinte e três anos, sem jamais informar, seja ao povo brasileiro, seja aos povos das nações vizinhas, nem a fonte do financiamento nem os critérios da sua aplicação. Até hoje não se sabe quanto das despesas foi pago por organizações criminosas, quanto foi desviado dos vários governos, quanto veio de fortunas internacionais ou de outras fontes. Nunca se viu uma nota fiscal, uma ordem de serviço, uma prestação de contas, um simulacro sequer de contabilidade. A coisa tem a transparência de um muro de chumbo.
Retomo


Lula, um dos fundadores do Foro (o outro é Fidel Castro), faz hoje o seu discurso no evento. A peça de resistência da reunião deste ano é, imaginem vocês!, a celebração da herança chavista. Para a turma do Foro, é na Venezuela que se vive a verdadeira democracia.
Lembro que foi num desses encontros que Chávez, segundo ele próprio confessou, encontrou-se com o Raúl Reyes, aquele líder terrorista e pançudo das Farc, morto pelas tropas colombianas num acampamento no Equador.
As Farc, como é de conhecimento público, dedica-se ao narcoterrorismo e mantém ainda hoje campos de concentração na floresta amazônica. E o engraxate de Zé Dirceu se mostra interessado em, literalmente, caçar os partidários de um certo “liberal-fascismo”…
 
Aguardam-se para o encerramento do evento as sábias palavras de Evo Morales, o índio de araque que governa a Bolívia. Faz sentido. Evo tomou uma refinaria da Petrobras de armas na mão; criou novos campos de folha de coca — de uma variedade que não serve para mascar — na fronteira com o Brasil; decidiu criar uma indústria de legalização de carros roubados em nosso país e mantém presos brasileiros que não cometeram crime nenhum.
 
O carregador das cuecas de Dirceu não se importa, é claro! A agenda da turma transcende essas questões meramente locais. O patrimônio da Petrobras, por exemplo, foi usado pelo governo Lula para dar uma forcinha a um dos governos comandados pelo Foro. Entre o Brasil e a “organização”, os petistas fizeram a sua escolha.
 
Cada um fale por si. Entendo por que o eunuco moral me detesta. Estivesse na oposição, é evidente que eu levaria essa questão para o horário eleitoral gratuito, revelando ao conjunto dos brasileiros o modo como o PT privatiza o patrimônio público.
 
Em seu texto, o dito-cujo sugere que o Foro e seu partido estão com as massas e as representam. É? Então marquem uma concentração em praça pública e deem vivas ao PT, a Chávez e a Evo Morales. Se o povo está junto, vai ser uma festa. Coragem, valentão!
 
06 de agosto de 2013
Por Reinaldo Azevedo

"O PAÍS DA MEIA ENTRADA"

      

O Brasil é mesmo um país sui generis. Por aqui, a maioria ainda acredita em “almoço grátis”. E bancado pelo papai estado, como se este não tivesse que tirar de José para dar a Pedro (ficando com boa parte como pedágio).
 
O governo adora distribuir benesses, e ninguém pergunta quem paga a conta. Tem malandro demais para otário de menos. Esse é o problema.
 
Foi sancionada pela presidente Dilma a lei que limita a 40% a meia-entrada. E a turma achou pouco! Os jovens queriam mais, queriam meia-entrada sem limite! E para transporte aéreo também, porque ninguém é de ferro.
 
Foi mantido um absurdo privilégio da União Nacional dos Estudantes (UNE), a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e da Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG). O texto diz que as carteiras de identificação estudantil serão expedidas “preferencialmente” por essas entidades. Os “cumpanheiros” agradecem a preferência.
 
Os empresários reclamam, claro. Na hora de definir o preço, isso tudo deve ser levado em conta. A entrada “gratuita” de uns significa, necessariamente, o preço maior de outros. Isso só pode ser considerado justo em um país que perdeu o sentido de justiça: cada um deveria pagar pelo que consome, sem jogar o tempo todo a fatura para ombros alheios.
 
Para piorar, fala-se em estímulo a cultura, mas desde quando show de rock, baile funk e jogo de futebol são grandes fomentadores culturais? Talvez no Brasil, o que explicaria a cultura da meia-entrada e da malandragem. É tudo realmente incrível. Fica complicado dar certo assim…

06 de agosto de 2013
Rodrigo Constantino, Veja

USO DE ALGEMAS AUMENTA NA PÉRFIDA ALBION

 Os britânicos, decididamente, têm suas peculiaridades quando o assunto é cama. Não por acaso, uma das tantas modalidades sexuais exóticas deste mundinho é o sexo à l’anglaise.

Jamais me entendi bem com elas no estrangeiro. A relação com a prostituta exige uma cumplicidade sociológica e até mesmo vernácula. Nos dias de Paris, mais para ver como era, visitei duas. A primeira anunciava várias modalidades, desde sexo à espanhola, à francesa, à sueca, à grega e à inglesa. Fiquei intrigado. Já havia vivido na Suécia e nada via de diferente na sexualidade aborígene. A oferta era tão cosmopolita que não resisti. Fui chez elle e perguntei por cada fórmula. À espanhola, sei lá por quê, era entre os seios. À francesa, era oral. À sueca, manual, à grega anal. A cada parâmetro, o preço ia subindo. Bom, e à inglesa, como é que é? - quis saber.

Era o mais caro dos menus. Na época, cerca de mil francos. Deveria ser o melhor. Em que consiste? "Eu te algemo na cama, sapateio em cima de ti e depois uso um chicote". Merci bien, chérie, nesta altura sou mais um singelo papai-mamãe. Bem simplinho, s’il te plaît. O ser humano é mistério profundo. Nunca entendi como sentir prazer na dor. Já os britânicos, parece que entendem.

Falei há pouco de algo que também me custa entender, a influência da publicidade na vida das pessoas. Leio no UOL que o Corpo de Bombeiros de Londres viu aumentar o número de casos atendidos de pessoas presas em algum tipo de objeto, como algemas e vasos sanitários, segundo dados divulgados no final do mês passado. Uma das suspeitas para o aumento, segundo os bombeiros, é o sucesso do livro Cinqüenta Tons de Cinza, da escritora E. L. James.

Já comentei o best-seller vagabundo, o primeiro de uma trilogia girando em torno ao sexo sado-masoquista. Segundo os jornais, está vendendo mais que pão quente.

"Não sei qual o efeitos do Cinqüenta Tons, mas o número de incidentes envolvendo itens como algemas parece ter aumentado. Tenho certeza que a maioria das pessoas ficará 50 tons de vermelho na hora que nossa equipe chegar para libertá-los", disse o bombeiro Dave Brown.

No período de 2010/2011, foram 416 casos do gênero. Em 2011/2012, o número subiu para 441 casos. Em 2012/2013, novo aumento, agora para 453 casos.

Não consigo entender, dizia, o emprego de violência ou submissão no relacionamento sexual. Suspeito que, no fundo, seja efeito da dita publicidade. Divulga-se tanto o sexo sado-masoquista que as pessoas passam a julgar que a prática seja prazerosa. E talvez acabe sendo, por decorrência da própria publicidade.

Volto à autora britânica. A pedido de uma amiga, curiosa com o livro de Rowlling, comprei-o para dar-lhe de presente. Quinhentas páginas de uma literatura sem pingo algum de inteligência. Entranhas, suspiros, gemidos, estocadas, algemas e chicotes. Ridicularia total.

Lá pelas tantas, há um contrato jurídico, muito detalhado, muito british, entre Dominador e Submissa, onde se estipulam as regras do espancamento. Como se alguém que quer espancar ou ser espancado se preocupe com a regulamentação da violência.

Apanho ao acaso o início do capítulo 14, no qual o personagem, doravante chamado Dominador, enfia a ponta de um chicote na boca da moça:

“- Chupe – ordena ele com suavidade. Seguro a ponta e obedeço.”

Ora, alguém acredita que alguém sinta algum prazer em chupar couro? Mas o melhor vem agora:

“Ele gira a ponta em volta do meu umbigo, depois vai descendo, passando pelo meus pêlos pubianos até o clitóris. Brande o chicote e acerta um golpe seco naquele meu ponto doce, e eu gozo, gloriosamente, com um grito de alívio”.

Chegar ao orgasmo assim? James que me desculpe, mas duvido. Dor até pode provocar alguma excitação em pessoas de mentalidade doentia, mas chicotada no clitóris... Não acredito. No ritmo em que vai este tipo de literatura, o erotismo ainda vai se refugiar nos consultórios odontológicos. O leitor não perde por esperar uma personagem que tem orgasmos enquanto um sensual dentista lhe enfia nos dentes uma broca sem anestesia.

Mas acredito, isto sim, que tenha aumentado o consumo de algemas na pérfida Albion. Babaca é o que não falta neste mundo. Há algum tempo, zapeando na televisão, tropecei com uma reportagem sobre um clube sadomasoquista no GNT. Mulheres eram encilhadas com um selim e montadas pelo parceiro, que as cavalgava pelo salão, de chicote em punho.

O que não entendi é que o programa pretendia ser sobre sexualidade. Levei algum tempo para perceber que, na verdade, o que se vendia, era couro.


06 de agosto de 2013
janer cristaldo

O HUMOR GENIAL DO DUKE



06 DE AGOSTO DE 2013

O REALISMO DO HUMOR DO AMARILDO




06 de agosto de 2013

ALGUÉM TEM NOTÍCIAS DO BOI?

Onde está Amarildo?

Os conhecidos chamavam Amarildo de “boi”. Porque fazia a proeza de carregar dois sacos de cimento nas costas, apesar de magro e quase baixo, em seu pouco mais de 1,70 metro de altura. Porque era também quem carregava os doentes nas costas, tirando-os de dentro da favela e vencendo as escadarias da Rocinha.

De todas as descrições de Amarildo, é a do boi a mais marcante, a infinitamente repetida. É como boi que o enxergavam. Boi, não touro. E esta, talvez, seja parte da tragédia. A que começou muito antes do derradeiro crime.

Passei quase duas semanas sem acesso à internet, telefone ou qualquer notícia, numa viagem de trabalho. Não vi o Papa. Quando voltei, descobri que precisava saber onde estava Amarildo. Que, para muitos, o Papa não tinha sido o acontecimento mais importante, o sumiço de Amarildo, sim.

A grande notícia era que Amarildo tinha se tornado notícia, num país em que o desaparecimento dos pobres costuma não ganhar nem nota de pé de página, apenas silêncio e impunidade. Que Amarildo tenha sumido é terrível. Que seu sumiço tenha virado faixa e slogan nos protestos, hashtag no Twitter e notícia na imprensa sinaliza – talvez – o começo de uma mudança.

Amarildo de Souza, 43 anos, foi levado para a sede da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) da Rocinha, favela da zona sul do Rio de Janeiro, na noite de domingo, 14 de julho. “Para averiguação”, como a polícia costuma dizer quando carrega com ela algum pobre, como se fosse uma justificativa aceitável.

Amarildo acabara de voltar de uma pescaria quando quatro policiais o abordaram, supostamente confundindo-o com um traficante, embora testemunhas digam que pelo menos um deles o conhecia muito bem. Nos dias 13 e 14 de julho, a “Operação Paz Armada” – e aqui o nome não é apenas uma ironia, mas também uma violência – colocou 300 policiais na Rocinha e prendeu dezenas de pessoas.

Uma testemunha contou à repórter Elenilce Bottari, de O Globo: “Ele (Amarildo) estava na porta da birosca, já indo para casa, quando os policiais chegaram. O Cara de Macaco (outro apelido curioso, desta vez de um dos policiais da UPP), meteu a mão no bolso dele. Ele reclamou e mostrou os documentos.

O policial fingiu que ia checar pelo rádio, mas quase que imediatamente se virou para ele e disse que o Boi tinha que ir com eles. O Cara de Macaco conhecia o Boi e vivia implicando com ele e a família. Esse policial é ruim, gosta de humilhar os pobres daqui”. Amarildo entrou no carro da Polícia Militar vestindo apenas bermuda e chinelos. Sem camisa, o torso de boi estava nu. Desde então, não foi mais visto.

O comandante da UPP, major Edson Santos, disse aos repórteres Marco Antônio Martins e Fábio Brisolla, da Folha de S. Paulo, que Amarildo teria ficado menos de cinco minutos na unidade, o suficiente para ser desfeita a confusão de identidades, e em seguida teria sido liberado. A Rocinha tem 84 câmeras.

Naquele domingo, as duas câmeras diante da UPP tiveram problemas. O GPS dos carros de polícia não funcionavam. O que teria acontecido com Amarildo que as câmeras não puderam ver? Que caminhos teria ele percorrido que o GPS não pôde registrar? Ou ele deixou a UPP caminhando e desapareceu depois, como afirma o policial?

Amarildo era ajudante de pedreiro e criava os seis filhos num barraco de um único cômodo, num ponto da favela em que o esgoto serpenteia pelas vielas e tuberculose é doença corriqueira. Não sabia ler, só escrevia o próprio nome. Como conta a repórter Anne Vigna, da Agência Pública, era descendente de escrava, filho de uma empregada doméstica e de um pescador, numa família de 12 crianças.

Ganhava R$ 300 numa obra em Copacabana, salário que complementava carregando sacos de cimento nos finais de semana. Estava contente porque tinha conseguido comprar tijolos para alargar sua casa. Ele, que a vida toda construíra a casa dos outros, nas quais tijolos não faltavam. Como o animal cujo nome lhe impingiram, Amarildo também atravessava a vida carregando um peso que não lhe pertencia.

Sim, porque Amarildo era chamado de boi, não touro. Boi de canga é aquele que puxa o arado, um passo penoso depois do outro, um dia seguido de outro dia, as costas suadas debaixo de um sol excessivo.

Quem já viu a cena sabe que o mais brutal são os olhos mansos do boi, a resignação de quem só conhece uma sina, a canga que já lhe espremeu a alma. Se Amarildo era ou não boi talvez nunca saberemos, mas o fato de Amarildo ser visto como boi, o que foi citado em quase todos os perfis da imprensa, não deve passar incólume. Não pela sua dimensão poética, mas porque há algo de perturbador no discurso do boi.

O boi não é um animal qualquer. A palavra que o representa marca uma castração. O boi é um vir-a-ser que não será, um interrompido no meio do gesto de tornar-se. Ele poderia ter sido um touro, não fosse o homem ter dado a ele outro destino quando ainda era pouco mais que uma criança, num ritual de sacrifício, mesmo que as técnicas sejam hoje modernas.

O boi é aquele que é emasculado para ser ofertado ao serviço ou ao consumo. É emasculado para a servidão – seja como força de trabalho, seja como fornecedor de proteínas. É alienado de si para virar carne, força bruta a serviço de seu dono e algoz. O touro, não. O touro tem a pulsão sexual, o que o faz ser aquele que é. Na literatura, os bois humanos são castrados de esperanças, de possibilidades, de revolta com sua condição servil – de liberdade.

O perigo do boi, no caso de Amarildo, é que o boi parece se transmutar em uma outra palavra, também repetida com insistência nas descrições que dele fizeram: “trabalhador”. Amarildo é o (sub)proletário que ganha meio salário mínimo, condenado a vender o corpo tão barato que nem mesmo consegue alimentar direito a si e à sua família.

Mas há um valor simbólico associado a esse trabalhador braçal que carrega duas sacas de cimento nas costas, enquanto outros só conseguiriam carregar uma. Um valor representado pelo boi, essa figura enganosamente bucólica vinda do Brasil colonial, que atravessa os séculos e ganha novos sentidos no capitalismo.

Esse valor talvez faça com que seja mais fácil para o Brasil que reclama seu sumiço amá-lo. Amarildo, o boi humano, é o pobre submisso. E parece ser também isso o que torna seu desaparecimento inaceitável.

E aqui, o parêntese sempre necessário. É inaceitável qualquer pessoa entrar num posto policial e desaparecer, como tem acontecido com milhares em todo o Brasil. É inaceitável Amarildo desaparecer, assim como é uma grande notícia que Amarildo tenha virado notícia.

O que sugiro é uma complicação um pouco maior, que talvez nos ajude a avançar, sobre o quanto essa figura de Amarildo, o boi, pode ter ajudado a transformar seu nome num slogan de protesto nas ruas e nas redes sociais.

A pergunta que proponho aqui é se o fato de Amarildo ser o trabalhador que carrega dois sacos de cimento nas costas o tornou mais palatável para parte daqueles que denunciam seu sumiço e exigem uma resposta.

Isso em nada muda a necessidade imperativa de denunciar e exigir uma resposta, porque o sumiço de Amarildo e de todos os outros que não viraram slogan é desde sempre inaceitável. E inaceitável um a um. Mas pode nos ajudar a compreender a complexidade do momento em que vivemos. E talvez nos ajude a não cair em armadilhas nos dias que virão.

O valor simbólico do boi atravessa o tempo e assinala visões de mundo, ainda que inconscientes, nas diferentes classes sociais. É tão comum como triste quando, ao ser confrontados com alguém identificada como autoridade, o que pode ser simplesmente alguém de uma classe mais privilegiada, os pobres apresentam de imediato sua carteira de trabalho para provar que existem e são pessoas boas.

Ou para não serem humilhados ou presos, o que não funcionou no caso de Amarildo, mesmo quando “Cara de Macaco” enfiou a mão no seu bolso para pegar os documentos, conforme conta uma testemunha.

É assim que a irmã de Amarildo, Maria Eunice Dias Lacerda, o descreve ao jornalista Fernando Gabeira, em reportagem da Globo News: “Ele não ficava em casa, ele era um tipo de pessoa que ele não descansava. Ele não tinha tempo nem pra comer, nem pra se divertir, o negócio dele era trabalho”.

Em um perfil publicado na Folha de S. Paulo, essa mesma irmã enuncia o que poderia ser a contrapartida de ser boi em um pacto não pronunciado, mas persistente: “É duro dizer, mas eu acho que meu irmão está morto. Ele sempre dizia que revidaria se fosse agredido por um policial. Dizia que trabalhador não pode levar tapa na cara e ficar quieto”.

O perigo do boi fica ainda mais explícito em uma declaração de Sérgio Cabral (PMDB), o governador decaído do Rio. Ele afirmou no Twitter: "Nada justifica o desaparecimento de uma pessoa que foi checada pelo próprio comandante da UPP como trabalhador". O que Cabral está dizendo? Se Amarildo não fosse um “trabalhador”, o desaparecimento e a possível morte estariam então não só justificados como legitimados?

De fato, é isso que temos testemunhado e com o que temos compactuado quando não protestamos contra os “suspeitos” executados pela polícia em sucessivas e persistentes invasões nas favelas, como aconteceu em junho na Maré, no mesmo Rio de Janeiro. Ou como acontece há décadas, séculos, em todo o Brasil.

Sobre isso, escrevi um outro texto, “Também somos o chumbo das balas” (leia aqui). Nas palavras do governador, se Amarildo não fosse um boi/trabalhador, seu sumiço estaria dentro da normalidade. É essa aberração que tem sido a normalidade no Rio – e no Brasil inteiro.

É por isso que vale a pena se preocupar com o fato de Amarildo ser visto como boi – não como touro. E se Amarildo fosse “suspeito” ou “traficante” ou “bandido” – e não “trabalhador” – como reagiríamos? Teríamos sido capazes de transformar seu sumiço em denúncia e protesto?

Ou preferimos ser rebanho, mesmo quando aparentemente nos rebelamos? Pode ser triste, mas necessário, constatar que, em alguns aspectos, uma parcela dos que protestam contra Cabral é mais semelhante do que diferente do governador decaído e da porção assassina de sua polícia. As questões incômodas têm o mérito de nos fazer a avançar e, quem sabe, nos tornar melhores.

Dito isso, a pergunta se impõe: onde está Amarildo?

06 de agosto de 2013
Eliane Brum, ÉPOCA

FRASE DO DIA

"De repente, vem a ideia de uma agenda positiva para enganar o povo. Vamos falar com franqueza. O povo quer mudanças. O povo não quer ajustes. O povo quer uma nova história, não quer pontos e vírgulas nos documentos oficiais. Essa agenda positiva é uma ilusão que estamos criando na população ou mesmo um engano. Mas é isso o que estamos fazendo."

Senador Cristovam Buarque (PDT-DF)

06 de agosto de 2013

PRESIDENTE DA CÂMARA IGNORA DILMA E ORÇAMENTO IMPOSITIVO VAI À VOTAÇÃO AMANHÃ

Presidente da Câmara articula tramitação acelerada de PEC que obriga Planalto a pagar emendas parlamentares automaticamente; medida desagrada governo.
 
O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMBD-RN), afirmou nesta terça-feira, 6, que pretende colocar em votação já nesta quarta a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do Orçamento impositivo. Nesta terça, Alves disse que vai pessoalmente à comissão especial que trata do tema para fazer um apelo pela aprovação do parecer.

O Orçamento impositivo, que obriga o Planalto a pagar automaticamente as emendas
parlamentares, é uma das promessas de campanha de Alves à presidência da Casa. A proposta desagrada o governo federal, que atualmente decide pela liberação e destinação dos valores. "Espero que a comissão especial aprove hoje e, se isso acontecer, pretendo pautar (em Plenário) amanhã à noite a PEC", disse o presidente. "O Parlamento não pode se submeter a esse toma lá da cá, que não é bom para nenhum governo".

Alves manteve o item na pauta mesmo depois de a presidente Dilma Rousseff pedir uma "trégua" aos aliados, em reunião realizada nessa segunda com
lideranças de partidos da base. O deputado articula uma tramitação acelerada para a matéria com o objetivo de que a proposta tenha validade já para o orçamento próximo ano. "Aprovando aqui (na Câmara), irei com os líderes entregar a proposta para o Senado, para que o Senado possa agilizar e (a PEC) valer já para o orçamento do próximo ano", concluiu.

Royalties. Alves também confirmou que o projeto que destina os royalties do petróleo para a
educação não conta mais com urgência constitucional. De acordo com o presidente, isso acontece porque os parlamentares analisam, na verdade, o projeto de lei original do ex-deputado Brizola Neto (PDT-RJ), que não tem urgência, e não o texto do governo. Embora não tenha mais urgência, Alves disse que o texto é uma das prioridades da Casa. Uma decisão sobre a data de votação, no entanto, depende ainda de uma nova reunião de parlamentares com a presidente Dilma Rousseff, agendada para a próxima segunda-feira, quando a matéria voltará a ser discutida.

 Sobre o Código da Mineração, que hoje tranca a pauta em Plenário da Casa por ter urgência constitucional, Alves disse acreditar que o governo vai remover a urgência. "Acredito que (o governo) vai (retirar a urgência) porque é uma discussão que ainda não está amadurecida", afirmou o presidente ao Broadcast Político.

 
06 de agosto de 2013
G1
Fonte: Estadão

"O PAÍS SEM O MST"

Noutro dia, em seminário do PT na Bahia, Lula alisava seu ego político quando lançou um enigma: "Eu fico pensando o que seria o Brasil se não fosse o MST". A resposta me brotou fácil: haveria mais prosperidade e paz no campo. Explico o porquê.

 O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) originou-se em 1979, motivado pela luta agrária dos colonos gaúchos nos municípios de Ronda Alta e Sarandi. O regime militar, que comandava o País na época, tentou desmantelar, pelas mãos do famigerado coronel Curió, aquela inquietação camponesa. Ao contrário, porém, sustentado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e apoiado por líderes da oposição democrática, o episódio prosperou, agigantando-se o acampamento de sem-terra.

 Cinco anos depois, 8 mil pessoas invadiram a Fazenda Annoni, demonstrando uma ousadia que, de pronto, ganhou a simpatia da opinião pública. O sucesso da empreitada guindou a nova organização à liderança da ação "antilatifundiária" no campo. Seu antípoda, criado no debate da Constituinte, era a União Democrática Ruralista (UDR). Seu rival "interno", de quem procurou sempre se diferenciar, era a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), considerada "pelega" pela esquerda de então. A sociedade em mudança adotou o MST.

 Assim, no estrebuchar da ditadura, renascia no País a tese da reforma agrária. Agora, porém, a causa vinha despida de sua lógica econômica, conforme fora idealizada nos anos 1960, para se carregar de conteúdo social. Com a bênção da Teologia da Libertação, um pedaço de terra redimiria os excluídos do campo. Nascia uma utopia agrária.

 Ruíra em 1989 o Muro de Berlim. Por aqui, findos os anos de chumbo, avançava a redemocratização. Simultaneamente, avançava a modernização capitalista da agricultura, modificando a dinâmica do agro; antigos latifúndios viravam empresas rurais. Mais à frente, o Plano Real retirou da terra ociosa seu ganho especulativo, empurrando-a para a produção. Começava o império da tecnologia na agropecuária brasileira.

 Nesse caminhar da História, a bandeira revolucionária do MST começou a perder seu brilho. Foi então que a organização decidiu, em 1995, mudar sua estratégia, partindo para o confronto direto com os fazendeiros do País: invadiu a Fazenda Aliança, situada em Pedra Preta (MT). Pertencente a um conceituado líder ruralista, a propriedade mantinha excelente rebanho, elevado rendimento, 29 casas de alvenaria, 160 quilômetros de cercas, 21 empregados registrados, reserva florestal intacta. Um brinco produtivo.

 Acabou nesse momento o MST "do bem". Inaugurando a fase ulterior da crise agrária, as invasões de propriedades tomaram conta do Brasil, avançando especialmente contra as pastagens de gado. Incontáveis "movimentos" surgiram alhures, arrebentando cercas, roubando gado, fazendo "justiça" com as próprias mãos. Verdadeiras quadrilhas disfarçaram-se de pobres coitados e saquearam regiões, como no sul do Pará. Banditismo rural.

 O MST militarizou-se. Seus quadros passaram a fazer treinamento centralizado, o comando definiu regras de comportamento e seleção. Centros passaram a oferecer cursos de capacitação, baseados na cartilha básica intitulada Como Organizar a Massa. Doutrinação pura. Nascido como "movimento social", o MST transformou-se em rígida organização, adentrando a cidade. Recrutando miseráveis urbanos, montou uma "fábrica de sem-terra" no País. Nunca mais a reforma agrária encontrou seu eixo.

 Como teria sido a reforma agrária sem o terrorismo das invasões de terras?

 Primeiro, seria certamente um programa mais bem planejado, articulado, e não um remendo açodado para resolver conflitos. Não trombaria com a agronomia nem com a ecologia, projetando assentamentos tecnicamente viáveis. Não faria da reforma agrária um foco de devastação ambiental, conforme se verifica em toda a Amazônia. Não confundiria remanescentes florestais com terra inculta, promovendo uma infeliz união da miséria com a depredação ecológica, como, entre tantos exemplos, provam a Fazenda Zabelê, no litoral de Touros (RN), ou a Fazenda Araupel, em Rio Bonito do Iguaçu (PR).

 Segundo, os beneficiários da reforma teriam aptidão reconhecida para a lide rural, jovens habilitados, filhos de agricultores familiares, jamais viriam dos excluídos da cidade. O vestibular da terra seria a capacitação, nunca a invasão. Os assentamentos rurais estariam baseados na produção tecnológica, integrada ao circuito de mercado, nunca firmada na roça de subsistência, isolada. Os novos produtores se emancipariam, seriam titulados, e não, como ocorre hoje, se tornariam subservientes ao poder.

 Terceiro, e em decorrência dos anteriores, a reforma agrária seria menor em tamanho, porém muito maior em qualidade. Geraria produção e renda. Daria à sociedade retorno do investimento público. Hoje, acreditem, nem se avalia o custo-benefício dos assentamentos. Nunca se mediu sequer a produção agropecuária advinda das áreas reformadas no Brasil, que atingem 90 milhões de hectares, envolvendo 1,2 milhão de assentados. Ninguém sabe quanto nem o que produzem.

 Conclusão: o distributivismo agrário resultou na mais onerosa e fracassada política social da História brasileira. Para se ter uma ideia, o custo médio de cada assentado beira os R$ 100 mil, valor que manteria uma família durante 13 anos recebendo um salário mínimo mensal. Com uma agravante: pelas mãos raivosas dos invasores de terra se criou no País um foco contínuo de encrenca, antipatias, inimizades. Cizânia agrária.

 O que seria do Brasil se não fosse o MST? Respondo ao Lula, tranquilamente: mais produtivo e fraterno no campo.

06 de agosto de 2013
Xico Graziano, O Estado de São Paulo

"TRENS FANTASMAS"

 
 
O governo parece que vai mesmo insistir na sandice do trem-bala, torrando muito dinheiro público e rasgando os princípios que devem nortear a boa administração. Construir as ferrovias que o país de fato precisa, contudo, a gestão petista não consegue. A opção do PT é apostar numa obra que, até agora, não se mostrou necessária, competitiva ou sustentável. Seu modelo de negócio é mirabolante e as regras mudam a toda hora. É uma viagem de puro terror.
 
O governo parece que vai mesmo insistir na sandice do trem-bala, torrando muito dinheiro público e rasgando todos os princípios que devem nortear a boa administração. Construir as ferrovias que o país de fato precisa, contudo, a gestão petista não consegue.
 
Mesmo com todas as indicações contrárias, o leilão do trem-bala está mantido, com entrega das propostas prevista para a próxima quarta-feira, dia 14. Como a obra só para de pé à base de muito dinheiro do contribuinte, BNDES e Correios anunciaram ontem a intenção de se associarem aos consórcios em disputa. Incluindo fundos de pensão, a participação pública pode chegar a 80% do negócio, considerando aportes, subsídios e financiamentos camaradas.
 
Ninguém, nesta altura do campeonato, é capaz de dizer quanto o trem-bala vai custar. As estimativas começaram, lá em 2007, na casa dos R$ 19 bilhões. Hoje não há quem aposte que a obra saia por menos de R$ 50 bilhões e até o governo federal admite que os custos já pelo menos dobraram desde o projeto original. É a mais cara obra de infraestrutura já feita no país.
 
Tanto dinheiro seria suficiente para praticamente zerar os problemas de mobilidade urbana nos grandes centros brasileiros, como mostrou o Ipea em 2010. Alternativamente, seria capaz de bancar 10 mil km de ferrovias e tornar o Brasil uma verdadeira potência agrícola e exportadora, dando máxima competitividade às safras colhidas no interior, que poderiam passar a dispor de farto transporte por trilhos até nossos portos.
 
Mas a opção dos petistas é outra: apostar numa obra que, até agora, não se mostrou realmente necessária, competitiva ou sustentável. O modelo de negócio é mirabolante e as regras mudam a toda hora. Estima-se que a passagem do trem-bala chegue a custar R$ 650, mais que o dobro da previsão oficial, segundo O Globo, e bem mais que os bilhetes de ônibus e aviões que a ferrovia, supostamente, pode vir a substituir.
 
Esta será a quarta tentativa do governo de leiloar a obra: por duas vezes, o certame foi adiado e na terceira ninguém apareceu para dar lances. "É um projeto mal feito. Até hoje não há trajeto definido, nem projeto executivo de engenharia”, resume Paulo Fleury, professor da UFRJ e um dos maiores especialistas do país em logística e transportes.
 
"Para começar, vai haver dinheiro público, muito subsídio, empréstimo a juro de pai para filho, prazos de avô para neto, carências e garantias. Para continuar, não se sabe quanto vai custar o trem (ainda não há projeto)”, comenta Vinicius Torres Freire na edição de hoje da Folha de S.Paulo.
 
Enquanto afunda no projeto do trem-bala, o governo descuida das demais ferrovias em construção no país e enfrenta sérias dificuldades para levar adiante seu programa de concessões para o setor. Até hoje, Dilma Rousseff não inaugurou um metro sequer de trilhos e seu governo corre risco de passar batido nesta seara.
 
O exemplo mais gritante da incúria petista com nossas ferrovias é o que acontece com a Oeste-Leste (Fiol), que, com 1.022 km, ligará o Centro-Oeste a Ilhéus, no litoral da Bahia. Pelo cronograma inicial, o empreendimento deveria ter sido inaugurado no último dia 31, mas a realidade difere muito da propaganda oficial: até hoje é uma obra fantasma.
 
"Depois de ter suas obras contratadas há mais de três anos, a Fiol ainda está distante do dia em que os trens finalmente poderão rodar em seu traçado. Até hoje, nenhum metro de trilho foi instalado”, mostrou o Valor Econômico em alentada reportagem publicada na semana passada. A Fiol tem o dobro do traçado do trem-bala e deverá custar menos de um décimo.
 
Igualmente problemática é a construção da ferrovia Norte-Sul. Trechos inteiros estão tendo de ser refeitos, por problemas de concepção e projeto e uma execução para lá de catastrófica por parte da Valec – que o PT quer enfiar nos consórcios privados das próximas concessões. Com isso, o país vai desperdiçando muito dinheiro e perdendo muitas oportunidades.
 
A falta de transporte sobre trilhos em direção aos portos da região Norte, por exemplo, vai impedir que produtos brasileiros se aproveitem, num primeiro momento, da ampliação do canal do Panamá, obra que vai revolucionar a logística mundial. A ligação entre Açailândia, no Maranhão, e Barcarena, no Pará, não sai do papel.
 
O governo Dilma bolou um plano ambicioso de logística, que prevê investimentos de R$ 133 bilhões em até 30 anos, dos quais R$ 80 bilhões no primeiro quinquênio. Mas da intenção aos fatos vai longuíssima distância e a dificuldade dos petistas em definir regras equilibradas e transparentes para as concessões está embarreirando o interesse dos investidores privados.
 
Um país com dimensões continentais como o Brasil não pode prescindir da alternativa barata e competitiva das ferrovias. Há dinheiro e apetite para investir nos trilhos, mas faltam equilíbrio e clareza de regras. Ao insistir no trem-bala e deixar de lado os traçados de que o país realmente necessita, o governo da presidente Dilma Rousseff dá mostra de que prefere embarcar numa viagem de puro terror.
06 de agosto de 201
Instituto Tancredo Neves

"A DESACELERAÇÃO DO BRASIL É GLOBAL?"

 
É, sim. Faltaram reformas que aumentassem a produtividade, que elevassem o investimento, principalmente em infraestrutura e educação


“O sucesso tem muitos pais, mas o fracasso é órfão”, nada mais sucinto para entender o atual debate de política econômica no Brasil.
 
O baixo crescimento, a alta inflação e a baixa qualidade do serviço público no Brasil têm provocado várias críticas de diversos segmentos da sociedade. Mas há outro comportamento comum que merece atenção:
 
“O sucesso foi nosso, o fracasso é global.” A tendência (não só no Brasil) é abraçar as conquistas como resultado das políticas locais, mas atribuir as dificuldades a um choque global.
O comportamento surge porque não é fácil distinguir as razões locais das globais no que se refere ao sucesso/fracasso. Por exemplo: quanto da atual desaceleração da economia brasileira é um fenômeno global e quanto é resultado das escolhas de política?
 
A pergunta hoje faz sentido porque várias economias emergentes estão desacelerando. A China, que crescia acima de 10%, está com dificuldade de manter o seu crescimento acima de 7% neste e nos próximos anos.
Mesmo os países da América Latina, que cresciam forte até o ano passado, em contraste com a desaceleração do Brasil já em curso, estão com perspectivas piores.
 
Muitos se questionam por que as economias emergentes estão desacelerando agora, após se recuperarem tão rapidamente da crise internacional em 2008. Afinal, após um ou dois trimestres de queda em 2009, voltaram a crescer fortemente, parecia que nada poderia abalá-las.
 
Ocorre que o crescimento mundial é mais sincronizado do que se pensava. Mas a sincronização tem defasagens. Enxergo o crescimento mundial como um filme em câmera lenta. A crise financeira atingiu, em primeiro lugar, seu epicentro, os EUA, que foram os primeiros a ver sua economia desacelerar.

Na sequência, a desaceleração atingiu a Europa e se propagou para os países periféricos (Grécia, Irlanda, Espanha e Portugal), que estavam mais vulneráveis a uma mudança de curso, o que quase levou à quebra do sistema do euro no ano passado.

As economias da China e dos emergentes desaceleraram apenas anos depois, algumas somente neste ano. A capacidade de reação dos emergentes com políticas expansionistas diversas (estímulos creditícios, fiscais e monetários) adiou o impacto.
Quando essa capacidade e sua eficácia se esgotaram, a desaceleração finalmente ocorreu. Estamos diante do mesmo filme que começou em 2008, mas com capítulos e atores novos.
 
Nessa linha de raciocínio, a retomada do crescimento global pode já estar na sua fase inicial.
Caso a retomada do crescimento nos EUA seja confirmada, acredito que, a seu tempo, as outras economias do mundo também se recuperem (na Europa, a partir do ano que vem, e mesmo nos emergentes, a partir de um par de anos). É o mesmo filme, na outra direção.
 
E qual tem sido o papel do Brasil nesse filme? O Brasil desacelerou antes dos outros emergentes, quando o crescimento caiu de 7,5%, em 2010, para 2,7%, em 2011, e para 0,9%, em 2012.
A frágil recuperação em 2013 deve levar o crescimento para algo em torno de 2%. Pode-se argumentar que a desaceleração do Brasil, em linha com os outros emergentes, já estava encomendada e que apenas ocorreu dois anos antes. Mas não acredito completamente nessa tese.
 
Em geral, acredito que haja um papel tanto para o impacto global quanto para as políticas locais. Boas políticas econômicas locais deixam as economias menos vulneráveis e permitem um crescimento maior (menos baixas), mesmo em épocas difíceis.
Políticas focadas no curto prazo aumentam a vulnerabilidade das economias a mudanças de rumo na economia global.
O problema é que as consequências dessas políticas só são claramente percebidas quando há um choque mundial negativo e a desaceleração é mais pronunciada. Ao longo do tempo, o crescimento médio será maior naqueles países que adotaram políticas que permitiram mais investimentos e também aumentaram a produtividade da economia.
 
A desaceleração no Brasil insere-se, sim, no contexto da atual desaceleração global. Mas a extensão da desaceleração e as perspectivas adiante sugerem que, apesar de todos os avanços nas últimas décadas, as políticas (ou a falta delas) contribuíram negativamente.
A fase de desaceleração trouxe de volta dúvidas sobre a disposição de manter o arcabouço macroeconômico (e microeconômico) promotor de crescimento no longo prazo.
E faltaram reformas que aumentassem a produtividade, que elevassem o investimento, principalmente em infraestrutura e educação.
É o momento de aprender as lições antes da próxima fase da economia mundial.

06 de agosto de 2013
Ilan Goldfajn é economista-chefe e sócio do Itaú Unibanco
O Globo

"O IMPORTANTE ALERTA DE GUSTAVO LOYOLA"

"O importante alerta de Gustavo Loyola"
 
 O cobertor é curto. O governo distribui benesses para todos os lados, mas não consegue estimular o crescimento econômico, só a inflação. Diante desse quadro, ele opta por sacrificar o último pilar da herança bendita da era FHC: a responsabilidade fiscal. Já temos um câmbio que não é tão livre assim, uma meta de inflação bem afrouxada, e agora o governo Dilma caminha, a passos largos, para o assassinato da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Em seu artigo de hoje no VALOR, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola coloca o dedo nessa ferida. Vários economistas têm apontado para esse risco crescente, mas poucos foram tão diretos como Loyola. Se essa situação não for revertida logo, o Brasil correrá sérios riscos à frente. O problema, como aponta o economista, é que nada indica que haverá mudança de rumo. Pelo contrário…

Segue o trecho final da coluna, cujo alerta deveria servir para a reflexão de todos:

Dessa maneira, o superávit de 2,3% do PIB prometido pelo governo passou a depender de receitas excepcionais de concessão, cuja ocorrência é incerta, assim como de uma melhora na arrecadação federal, o que parece improvável diante do enfraquecimento da atividade econômica no decorrer de 2013. De todo modo, o pecado maior não se encontra tanto na redução do superávit em si, mas na gestão pouco transparente e errática na política fiscal, o que compromete a confiança dos investidores na trajetória da economia brasileira nos próximos anos. A ameaça de rebaixamento do “rating” da dívida soberana brasileira tornou-se real, depois de vários anos de melhoras sucessivas na classificação do risco Brasil.

Outro aspecto preocupante é o fato de estarmos às vésperas de um ano eleitoral, que promete uma disputa acirrada pela reeleição da presidente Dilma. A experiência de situações assemelhadas no passado sinaliza que 2014 tem tudo para ser um ano de “bondades” com impactos nas finanças públicas, tais como a revisão da tabela do IR, aumento real dos benefícios previdenciários e de assistência social etc. Tudo isso agravado pela erosão da base política do governo no Congresso Nacional que pode ensejar a aprovação de medidas de alto impacto fiscal, como o fim do fator previdenciário.

Por tudo isso, a política fiscal encontra-se numa encruzilhada. Ou o governo volta à rota da responsabilidade fiscal que trouxe tantos benefícios ao país ou a situação se tornará irreversível, comprometendo seriamente o edifício construído a duras penas nas últimas duas décadas. Caso isso ocorra, os prejuízos para o país em termos de crescimento e estabilidade macroeconômica serão incalculáveis.

Como considero pequenas as chances de o governo Dilma tomar a decisão certa diante da encruzilhada, recomendo a todos que se preparem para “prejuízos incalculáveis”. Como diz o provérbio chinês, “Espere o melhor, prepare-se para o pior, e receba o que vier”. Só não digam que não foram avisados…

06 de agosto de 2013
Rodrigo Constantino, Veja online

"CEGO EM TIROTEIO"

 
Os mesmos que plantaram as sementes podres olham aturdidos para a colheita maldita
 
Nunca antes na história deste país se viu tantas medidas de governo serem desfeitas em tão pouco tempo. O governo Dilma está perdido, sem rumo, sem saber como reagir ao desabamento de sua popularidade, ao risco inflacionário, ao pífio crescimento. Falta um plano de voo, um mapa correto do território. E falta, naturalmente, conhecimento básico de economia.
 
O principal problema, creio eu, está na visão equivocada que a presidente e sua equipe têm acerca do funcionamento da economia. Eles são reféns de uma ideologia desenvolvimentista que simplesmente não funciona. Eles erram o diagnóstico dos males que assolam o país, não tendo como acertar na receita. Ficam, assim, ao sabor do vento, do marqueteiro, tateando no escuro, tratando o país como um rato de laboratório.
 
E qual seria essa visão equivocada? Em resumo, é a crença arrogante de que o governo pode, de cima, controlar os dados econômicos nos mínimos detalhes. Esse tipo de mentalidade denota incrível soberba, pois nem o mais sábio dos sábios seria capaz de substituir milhões de agentes autônomos tomando decisões independentes no livre mercado.
 
Prêmio Nobel de Economia, o austríaco Hayek mostrou como as informações relevantes para as tomadas de decisão estão dispersas. Cada um, exercendo seu poder de escolha em sua determinada área, acaba levando uma minúscula parcela de informação que irá influenciar os demais. E o mecanismo de transmissão dessa informação toda são os preços.
 
Mas o governo Dilma desconfia do mercado, desdenha desse poderoso mecanismo “caótico”, sem um controlador no leme, direcionando cada parte importante do todo. Por isso ele pensa ser viável controlar esses preços, com base em decretos estatais. Por isso tanta intervenção na taxa de juros e de câmbio, no preço da energia, no retorno das concessões.
 
Nada disso é novo, naturalmente. A União Soviética contava com um órgão, a Gosplan, cuja missão hercúlea — e impossível — era justamente administrar milhares de preços da economia. O resultado, como sabemos, foi o lançamento do Sputinik, enquanto faltava papel higiênico para a população. Fantástico!
 
Essa “arrogância fatal”, para usar expressão cunhada por Hayek, está no cerne de nossos problemas. O governo distribuiu crédito público sem se dar conta da falta de lastro na poupança, mexeu na taxa de juros sem calcular seu impacto na inflação, congelou a gasolina, usou o BNDES para selecionar os “campeões nacionais” (entre eles a EBX, de Eike Batista) etc. O governo seria o mestre do universo!
 
Só que não, isso não funciona. Mesmo assumindo uma premissa um tanto agressiva, de que Dilma é de fato uma excepcional gestora e que Guido Mantega é o mais inteligente dos economistas, o modelo não entregaria o resultado desejado. Agora vamos relaxar essa hipótese e aceitar premissas mais, digamos, realistas, de que Dilma não foi capaz nem de sustentar uma pequena loja na iniciativa privada e que Mantega é somente um economista medíocre, e teremos a gravidade do quadro.
 
Foi poder demais concentrado em gente de menos. Não tem como dar certo. E, agora, os mesmos que plantaram as sementes podres olham aturdidos para a colheita maldita. Coçam suas cabeças, buscam bodes expiatórios em todo lugar, e nada. Partem, então, para malabarismos medonhos, no afã de enganar o público, ou para medidas desesperadas e erráticas, gerando enorme insegurança no mercado.
 
Sem credibilidade alguma, o governo ainda sonha em atrair as dezenas de bilhões que o país precisa para investimento em infraestrutura, um dos nossos maiores gargalos de produtividade. Mas como, meu Deus!, esses investidores vão alocar seus recursos se o governo mexe nas regras do jogo o tempo todo, quer determinar a taxa de retorno abaixo do mercado, altera as tarifas e tudo mais?
 
A farra toda durou porque leva tempo até o problema emergir. O modelo, que começou ainda na gestão de Lula, foi baseado nos três Cs: Consumo, Crédito e Commodities. Estas pararam de subir, pois a China não tem mais a mesma pujança. E aqueles bateram no limite de crescimento artificial, pois as famílias já se encontram bastante endividadas.
 
O que fazer? Como reagir? Revertendo essa absurda concentração de poder no Estado. Parando de manipular preços. Cortando gastos públicos. Fazendo as reformas trabalhista, previdenciária e tributária. Adotando, enfim, uma agenda liberal. E esse governo vai seguir nessa direção? Nem nos meus sonhos! Logo, só nos resta torcer que o cego no meio do tiroteio não leve uma bala perdida. Somos dependentes, hoje, da sorte.

06 de agosto de 2013
Rodrigo Constantino, O Globo

"RESPOSTA DA PROPAGANDA"

 
Os momentos de transformação e crises são propícios a criar soluções e ideias que revolucionam
 

A propaganda brasileira tem dado ao longo de varias gerações uma enorme contribuição ao criar marcas e mercados para produtos que fazem girar a economia e com ela o país.
 
Foi ela que fez uma palha de aço igual às outras virar Bombril e posicionou a Brastemp como adjetivo. Todo mundo sabe qual é a cerveja que desce redondo ou o banco feito para você.
 
E a propaganda faz isso de muitas formas. Ela faz rir, chorar, faz raciocinar. Poucas categorias profissionais são tão rápidas para criar uma peça publicitária ou para tirá-la do ar se o Conar assim decidir.
 
A publicidade é um setor que conseguiu criar um órgão autorregulador que funciona, uma estrutura de representação cada vez mais eficiente e um mercado vibrante que cria valor para si e seus clientes. Não é à toa que a publicidade esteja entre as profissões mais procuradas no vestibular.
 
Sou da geração que trabalhou muito para tirar a propaganda brasileira de dentro do mundo da propaganda e levá-la ao noticiário econômico nacional.
 
Depois veio o reconhecimento internacional, com todos os prêmios possíveis para as agências e os talentos brasileiros, inclusive na mais recente edição do festival de Cannes. E uma enxurrada de aquisições de agências brasileiras pelos gigantes internacionais, um reconhecimento duplo dos nossos talentos e do nosso mercado.
 
O desafio agora é tornar as marcas brasileiras globais e com elas globalizar a nossa propaganda, não só de fora para dentro mas de dentro para fora.
 
A Copa do Mundo e a Olimpíada serão grandes marcos nesse caminho. Com ou sem manifestações.
 
A revista americana "Advertising Age", a bíblia da propaganda mundial, fez uma reportagem no mês passado cuja capa trazia foto de manifestação mal-encarada no Brasil durante a Copa das Confederações e o título "Imagine sua marca no meio disso".
 
Meu susto passou quando vi que os executivos de grandes multinacionais entrevistados entenderam com naturalidade que as manifestações, antes de mais nada, comprovam a natureza democrática do Brasil, são vias de protesto que não ameaçam o Estado de Direito e provavelmente servirão para aprimorá-lo. Ou seja: apesar da provocação do título da reportagem, ninguém pensa em tirar seus investimentos publicitários do país por causa dos protestos de rua. A Copa, a Olimpíada e o Brasil são grandes demais para ficar de fora.
 
É inclusive pertinente e saudável uma nação com tantas carências como a brasileira questionar os gastos com os grandes eventos esportivos. Nós não somos a China. Aqui é possível protestar. "Yes, we can". O povo na rua é um bom sintoma, e estou seguro de que seus insights e suas demandas por um Estado mais eficiente ajudarão o país no seu desenvolvimento.
 
As marcas terão que se engajar nesse novo ecossistema, mais cívico, mais crítico. Se a realidade é essa, é com ela que trabalhamos.
 
Publicidade sempre será comunicação objetiva e pragmática, tão autêntica quanto os produtos que se estão vendendo e o mercado que os está comprando. Ela é a melhor ligação entre esses dois polos, nasceu para isso.
 
Em momentos complexos e desafiadores como agora, a inteligência publicitária é um dos caminhos mais eficientes para empurrar as vendas e engajar o público. Essa é a sua finalidade, para a qual desenvolveu pensamento e prática específicos, processando "Big Data" e operando instrumentos cirúrgicos da rede social e do marketing direto de que só ela dispõe, atuando na ponta do conhecimento.
 
A propaganda brasileira, particularmente, dispõe de um parque profissional de criação, atendimento, planejamento e mídia extraordinário não só em propaganda mas em evento, promoção, ativação. Entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), nossa propaganda é de longe a mais sofisticada.
 
Os momentos de transformação e crises são sempre propícios a criar soluções e ideias que revolucionam.
 
Aproveite.
 
Quem não tem saída encontra uma voando.

06 de agosto de 2013
Nizan Guanaes, Folha de São Paulo