"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 30 de maio de 2012

A HISTÓRIA OFICIAL

 

Nada como um dia depois do outro. Eis que, de repente, se começa a entender para que serve o Instituto Lula. Vide nota com a História Oficial:
Nota oficial sobre reportagem da revista Veja
Assessoria de imprensa do Instituto Lula

Sobre a reportagem da revista Veja publicada nesse final de semana, que apresenta uma versão atribuída ao ministro do STF, Gilmar Mendes, sobre um encontro com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no dia 26 de abril, no escritório e na presença do ex-ministro Nelson Jobim, informamos o seguinte:
ENTRELINHAS - Como assim, "uma versão"? A revista publicou apenas aquilo que o indignado ministro Gilmar Mendes lhe contou.

1. No dia 26 de abril, o ex-presidente Lula visitou o ex-ministro Nelson Jobim em seu escritório, onde também se encontrava o ministro Gilmar Mendes. A reunião existiu, mas a versão da Veja sobre o teor da conversa é inverídica. “Meu sentimento é de indignação”, disse o ex-presidente, sobre a reportagem.
ENTRELINHAS - Então tá: "Lula visitou o ex-ministro Nelson Jobim em seu escritório"... Quer dizer, o encontro foi casual. Incrivelmente oportuno e fortuito. De resto já se sabe que Lula foi tomado de "indignação". Foi sim. E não reagiu, comme d'habitude.
2. Luiz Inácio Lula da Silva jamais interferiu ou tentou interferir nas decisões do Supremo ou da Procuradoria Geral da República em relação a ação penal do chamado Mensalão, ou a qualquer outro assunto da alçada do Judiciário ou do Ministério Público, nos oito anos em que foi presidente da República.
ENTRELINHAS - Na primeira visita que fez ao STF, em seus primeiros mesesde primeiro governo, Lula encurralou os ministros dizendo que era "preciso abrir a caixa preta do Judiciário". Já naquelas priscas eras, Lula revelava sintomas de azia pelo Poder que não podia chamar de seu.
3. “O procurador Antonio Fernando de Souza apresentou a denúncia do chamado Mensalão ao STF e depois disso foi reconduzido ao cargo. Eu indiquei oito ministros do Supremo e nenhum deles pode registrar qualquer pressão ou injunção minha em favor de quem quer que seja”, afirmou Lula.
ENTRELINHAS - Lula não mente; ele apenas se engana. Mas só quando a sua porção Tim Maia fala mais alto.
4. A autonomia e independência do Judiciário e do Ministério Público sempre foram rigorosamente respeitadas nos seus dois mandatos. O comportamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o mesmo, agora que não ocupa nenhum cargo público.
ENTRELINHAS - É o mesmo e mais perigoso. Hoje ele já não goza de foro privilegiado.
RODAPÉ - O texto colorido é da Assessoria de Imprensa do Instituto Lula que, até agora, ninguém sabe para o que é mesmo que serve.
30 de maio de 2012
in sanatório da notícia

SOBRE MAIMÔNIDES *


Vivo em Higienópolis, bairro judeu, cujos costumes e rituais me soam bastante estranhos. Aos sábados, quando chove, senhores e senhoras elegantes se cobrem com capinhas vagabundas de plástico, dessas que se compra a cinco reais nas bancas de revista. Casais nunca se dão as mãos. Em um determinado dia do ano, homens engravatados e bem postos não usam sapatos, apenas tênis. Aos poucos, comecei a descobrir as firulas da ortodoxia judaica. Usam capas no sábado, porque no sábado um judeu não pode portar um guarda-chuva. A rigor, não pode nem apertar um botão de elevador. O que faz com que apartamentos de primeiro andar sejam muito valorizados. Há inclusive no bairro um prédio com um elevador casher: aos sábados, ele pára em todos os andares sem que nenhum botão precise ser acionado.

Judeu não dá a mão a uma mulher porque ela pode estar impura, isto é, menstruada. Neste sentido, no ano passado, quando ainda prefeita, Marta Suplicy pagou uma gafe monumental. Num encontro com rabinos, foi logo estendendo a mão. Que restou inútil, balançando no ar. Henry Sobel, mais diplomático, ousou responder ao gesto da pustulenta. Quanto ao uso de tênis, ocorre no Yom Kipur, quando um judeu não pode usar sapatos de couro.

Com essa moda de espalhar vacas em fibra de vidro pela cidade, uma delas esteve plantada frente à praça Buenos Aires, tendo no corpo o desenho dos cortes casher da carne. Olhando-a mais detidamente, vi que nela não existiam filé nem picanha.

Consultei amiga entendida nesta estranha gastronomia, que rejeita o melhor do boi. Não pode, me disse ela. São carnes que ficam perto do nervo ciático. Como palavra puxa palavra, fiquei sabendo ainda que judeu não come crustáceos. Nada de lagosta, camarão, ostras ou mexilhões. Nem mesmo polvos. Vá lá se entender por quê. À ortodoxia, o bem bom sempre soa como pecaminoso.

Vivendo e aprendendo. Estes senhores hebreus, que parecem tão modernos e civilizados, no fundo não se distinguem muito, em suas práticas, de seus primos muçulmanos e obsoletos. Enfim, para entender a estirpe, consultei amiga judia. Que me recomendou ler Maimônides, um dos rabinos e teóricos mais prestigiados da história do judaísmo. Médico sefardita, conhecido entre os muçulmanos como Abu Imram Musa ben Maimun Ibn Abdala, Maimônides nasceu em Córdoba, em 1135 e morreu em 1204. Também conhecido como Rambam, escreveu vários ensaios, médicos e religiosos, desde um Tratado sobre as hemorróidas até o que é considerado sua obra maior, o Guia dos Perplexos. Mas um de seus livros me atraiu de cara: Os 613 mandamentos. Só o título já intriga. Se lembrar dez já é às vezes difícil para muitOo cristão, imagine lembrar 613. São 248 preceitos positivos e 365 negativos. Suponho que o judeu temente ao Enaltecido deve andar sempre com um no bolso, para consultar o que pode ou não pode fazer.

Colho algumas pérolas entre as 365, para deleite dos leitores goyin. Começo pelos preceitos positivos.

185 - Destruir todo tipo de idolatria na terra de Israel
Por este preceito somos ordenados a destruir todo tipo de idolatria e seus templos por todas as maneiras possíveis de destruição e aniquilação: quebrar, queimar, demolir e rasgar, usando, para cada objeto, o meio apropriado para que a destruição seja feita o mais completa e rapidamente possível, pois a intenção é que não reste nem traço dele. Isso está expresso em Suas palavras, enaltecido seja Ele, "Certamente destruíreis dos lugares" (Deuteronômio, 12:2), em "Mas assim fareis com elas: seus altares derrubareis etc." (Ibid. 7:5) e novamente em "Porém seus altares derrubareis" (Êxodo, 34:13).
186 - A lei da Cidade Apóstata
Por este preceito somos ordenados a matar todos os habitantes de uma Cidade Apóstata e a queimá-la com tudo que houver nela. Esta é a Lei da Cidade Apóstata, e ela está expressa em Suas palavras, enaltecido seja Ele, "E queimarás no fogo, a cidade e todo o seu despojo, inteiramente" (Deuteronômio, 13:17). As normas deste preceito estão explicadas no Tratado Sanhedrin.
187 - A guerra contra as Sete Nações hereges

Por este preceito somos ordenados a exterminar as Sete Nações que habitavam a terra de Canaã, porque eles constituíram a raiz e primeiro fundamento da idolatria. Este preceito está expresso em Suas palavras, Enaltecido seja Ele, "Mas destrui-los-ás". (Deuteronômio 20:17). Está explicado em vários textos que o objetivo disso era evitar que imitássemos sua heresia. Há vários trechos nas Escrituras que nos incitam e insistem veementemente para que os exterminemos, e a guerra contra eles é obrigatória.
190 – A lei da guerra não obrigatória
Por este preceito somos ordenados quanto a guerras não obrigatórias contra nações. Caso entremos em guerra contra eles, somos obrigados a fazer um acordo com eles para poupar suas vidas se eles fizerem as pazes conosco e nos entregarem suas terras, e nesse caso eles deverão nos pagar tributos e ser nossos súditos. Este preceito está expresso em Suas palavras, enaltecido seja Ele, “Te será tributário ou te servirá” (Deuteronômio 20:11). A esse respeito, diz o Sifrei: “Se eles disserem ‘nós concordamos com os tributos mas recusamos a servidão’, ou ‘concordamos com a servidão, mas nos recusamos a pagar os tributos’, não devemos concordar: eles devem aceitar as duas condições” (...) Contudo, se eles não fizerem a paz conosco, somos ordenados a matar toda a população masculina, jovens e velhos, e a tomar tudo que lhes pertence, inclusive suas mulheres. Este preceito está expresso em Suas palavras, enaltecido seja Ele.
235 – A lei sobre o escravo cananeu
Por este preceito somos ordenados quanto à lei sobre um escravo cananeu; ela diz que ele deve ser escravo para sempre e que não pode adquirir sua liberdade a não ser por causa de um dente ou um olho (se o dono do escravo lhe causar a perda de um dente ou de um olho), ou por causa de qualquer outro órgão do corpo que não torne a crescer, de acordo com a interpretação tradicional. Este preceito está expresso em Suas palavras “Perpetuamente vos farei servir deles” (Levítico 25:46) e, “E quando ferir um homem o olho de seu escravo etc.” (Êxodo 21:26).

Vejamos alguns preceitos negativos.

49 - Não poupar a vida de um homem das Sete Nações Idólatras
Por esta proibição somos proibidos de poupar a vida de qualquer homem que pertença a uma das Sete Nações para evitar que eles corrompam as pessoas e as levem para o caminho errôneo da idolatria. Esta proibição está expressa em Suas palavras, enaltecido seja Ele, "Não deixarás com vida todo que tiver alma" (Deuteronômio, 20:16). Matá-los constitui um preceito positivo, como explicamos ao tratar do preceito positivo 187.
Todo aquele que transgredir esta proibição, deixando de matar todo aquele que ele poderia ter morto estará infringindo um preceito negativo.
257 – Não utilizar um servo hebreu para executar tarefas degradantes
Por esta proibição somos proibidos de utilizar um escravo hebreu para executar tarefas domésticas degradantes, como as que são executadas pelos escravos cananeus. Ela está expressa em Suas palavras, enaltecido seja Ele, “Não o farás servir com serviço de escravo” (Levítico 25:39).

Curiosamente, mais adiante lemos:

289 – Não matar um ser humano
Por esta proibição somos proibidos de matar-nos uns aos outros. Ela está expressa em Suas Palavra “Não matarás” (Êxodo 20:13), e todo aquele que violar este preceito negativo será decapitado. O Enaltecido diz: “Do meu altar o tirarás, para que morra” (Ibid., 21:14).

O sábio rabino parecia ser curto de memória. Vejamos outro preceito, logo adiante:

310 – Não deixar viver um feiticeiro
Por esta proibição somos proibidos de permitir que um feiticeiro viva. Ela está expressa em Suas palavras “Feiticeira não deixarás viver” (Êxodo 22:17), Permiti-lo é quebrar um preceito negativo, e não somente um preceito positivo, como no caso de perdoar um malfeitor que esteja sujeito à morte por sentença judicial.

E por aí vai. Grande humanista, o santo e sábio Maimônides. Que o Enaltecido o tenha em sua glória. Verdade que não é muito original. Estes preceitos sanguinolentos emanam dos livros da Tora, sempre citada pelo magnânimo rabino. E depois os judeus se queixam de ser uma raça perseguida.
30 de maio de 2012
janer cristaldo
* dezembro 2005

STF: 35 MIL PEDEM JULGAMENTO DO MENSALÃO


Representantes de movimentos de combate à corrupção devem entregar aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta-feira, um abaixo-assinado com mais de 35 000 assinaturas pedindo que o julgamento do mensalão seja realizado ainda no primeiro semestre. A previsão é que os integrantes do movimento “SOS STF - Julgamento do Mensalão Já” estejam no STF às 14 horas.
Fazem parte do grupo o Movimento 31 de Julho, a organização não-governamental Transparência Brasil, a ONG Contas Abertas e o Movimento “Queremos Ética na Política”.

O principal objetivo do protesto é alertar para a possibilidade da prescrição de alguns crimes. “O nosso objetivo é fortalecer as instituições. Esse é um gesto de solidariedade aos ministros do STF. Nós acreditamos que o próprio [presidente do STF] Carlos Ayres Britto tem a intenção de julgar o processo rapidamente. Então isso é um apoio a essa intenção”, afirmou Ana Luiza Archer, do Movimento 31 de Julho.

Apesar de a maioria das assinaturas ter sido colhida de forma eletrônica (cerca de 24 000), os organizadores da petição dizem estar satisfeitos com apoio físico. “A adesão na rua foi muito grande.
No Rio, fizemos eventos na orla, em Copacabana, Ipanema, Leblon. Os movimentos duravam apenas duas horas, mas a adesão era total”, afirma Marcelo Medeiros, também do 31 de Julho. “O corpo a corpo na rua foi muito interessante. Grande parte das pessoas aderiu, fez fila e elogiou muito”, completa Ana Luiza.

A campanha das entidades ocorre após a ação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem se lançado numa ofensiva sobre o STF para protelar o julgamento, como revelou reportagem da edição de VEJA desta semana.
(…)
30 de maio de 2012
Por Reinaldo Azevedo

AGRESSIVIDADE E PASSIVIDADE

Há temas sobre os quais se escreve com prazer e outros nem tanto, a despeito de sua importância; pois é com real desprazer que me ocupo das atuais condições adotadas pela Argentina em desfavor do Brasil, em matéria de tráfico.

É de toda evidência que elas não primam pela racionalidade, embora sejam induvidosos os interesses de ambas as nações ligadas pela geografia e pela história; a complementaridade de suas economias é incontroversa; particularmente no Rio Grande do Sul em verdade, mercê de ações e omissões, a vizinha tem embaraçado o comércio entre elas, com uma assiduidade e extensão que não pode ser vista como ocasional, como o abandono das autorizações automáticas para importação, regular em zona de livre comércio e união aduaneira; a demora das licenças muito além dos 60 dias previstos pela Organização Mundial do Comércio; os embaraços generalizados para a importação de produtos brasileiros, como máquinas agrícolas, eletrodomésticos, tecidos, calçados, roupas, entre outros bens, atingindo diretamente o tradicional comércio argentino-brasileiro.

É óbvio que ninguém vai desejar ou sugerir que os diplomatas passem a usar espada à cinta quando se tratar de problemas rio-platenses, mas a agressividade de um lado e a doçura de outro entraram a causar mal-estar em setores significativos da área brasileira.

Com efeito, um dos mais antigos e respeitáveis órgãos da nossa imprensa, que tradicionalmente dedica particular atenção à política internacional, chegou a referir-se “à passividade e mansidão do Itamaraty”, para notar “quando já não pode disfarçar sua escalada passividade, autoridades brasileiras decidiram impor alguns obstáculos a produtos argentinos.

Agora (após reunião com o ministro do Comércio Interior argentino, em Brasília), agora se comprometeu a eliminá-los em troca da supressão de barreiras à carne suína. É mais uma rendição”. E prosseguiu, “cada capitulação da diplomacia brasileira estimula a manutenção do protecionismo argentino e, mais do que isso, a ampliação das barreiras. O governo tem cedido em tudo… sempre com novas cláusulas a favor dos vizinhos”.

Os meios de comunicação argentinos foram atropelados brutalmente

Embora tivesse mais a dizer a respeito do assunto, como gostaria de fazer, lembrando episódio que mostra a ancianidade da posição brasileira em relação a problemas da nossa vizinha, limitar-me-ei a recordar que quando a Inglaterra se apossou das Ilhas Malvinas em 1833, ou seja, no começo da Regência, dois anos depois da abdicação de Pedro I e Pedro II ainda criança, o Brasil tomou posição em favor da Argentina e até hoje, em todas as emergências, inclusive na recente “guerra das Malvinas”, foi coerente com os antecedentes de sua política externa.

Dir-se-á que nas relações internacionais não há ou pouco espaço existe para a amizade, mas nunca é demais render tributo a esse sentimento, reservando alguns títulos, “que podem ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos”, para lembrar a pérola machadiana.

Fico por aqui, até porque desse assunto pouco entendo e já foi dito que entre o céu e a terra há mais coisas do que imaginam os pretensiosos bichos da terra.
Mas as preocupações ficaram enunciadas e não custa lembrar que os meios de comunicação argentinos foram atropelados brutalmente, e aqui não falta quem queira suprimir sua liberdade mediante o “marco regulatório da comunicação”…

Diante desse quadro, brevissimamente esboçado, não seria de perguntar-se o que resta do Mercosul que os presidentes Alfonsín e Sarney conceberam e tudo fizeram para torná-lo sólida realidade?

Paulo Brossard
Fonte: Zero Hora, 28/05/2012

"BRASIL NÃO É A VENEZUELA, ONDE CHÁVEZ PRENDE JUIZ".



Gilmar Mendes diz que ‘intuito é trazer STF à vala comum’
O GLOBO
BRASÍLIA- Indignado com o que afirma ser uma sórdida ação orquestrada para enfraquecer o Supremo, levar o tribunal para a vala comum, fragilizar a instituição e estabelecer a nulidade da Corte, o ministro Gilmar Mendes afirmou nesta terça-feira, em entrevista no seu gabinete no início da noite, que o Brasil não é a Venezuela de Chávez, onde o mandatário, quando contrariado, mandou até prender juiz.

Gilmar acredita que por trás dessa estratégia está a tentativa de empurrar o julgamento do mensalão para pegar o STF num momento de transição, com três juízes mais jovens, recém-nomeados, dois dos mais experientes para sair, uma presidência em caráter tampão.

Gilmar, que afirma ter ótima relação pessoal com Lula, conta que se surpreendeu com a abordagem recente do ex-presidente na casa do ex-ministro Nelson Jobim. Gilmar afirma que há estresse em torno do julgamento do mensalão e diz que os envolvidos estão fazendo com que o julgamento já esteja em curso. Ironicamente, diz, as ações para abortar o julgamento estão tendo efeito de precipitá-lo.

30 maio de 2012

PARA REANIMAR O CHEFE EM APUROS, NADA MELHOR QUE ENCOMENDAR MAIS UM RECORDE AOS COMERCIANTES DE PORCENTAGENS


Podem apostar: a seita lulopetista já encomendou a alguma loja de estatísticas outra “pesquisa” concebida para comunicar ao país, ainda na primeira semana de junho, que a popularidade do Supremo Pastor subiu mais um pouco e já se aproxima dos 100% (ou 103%, se computada a margem de erro para cima). Imediatamente, jornalistas amestrados verão nos resultados a confirmação de que brasileiro não dá maior importância a miudezas políticas. Estupros do Estado de Democrático de Direito, por exemplo.
Como até devotos delirantes desconfiam que o chefe foi longe demais na conversa com o ministro Gilmar Mendes, o comerciante de porcentagens encarregado do serviço terá de premiar o freguês com algum brinde espetacular. Desta vez, não basta jurar que o índice de aprovação do governo Dilma Rousseff ultrapassou a fronteira dos 90%.
Para que o rebanho volte a acreditar que Deus, que é brasileiro, resolveu voltar ao país natal disfarçado de Lula, chegou a hora de resgatar Fernando Haddad do buraco dos 3% e instalar o poste de topete na faixa dos dois dígitos. Os analistas estatizados saberão enxergar no fenômeno mais uma prova de que Gilmar Mendes mentiu.

30 de maio de 2012
Por Augusto Nunes - Veja Online

O AMBÍGUO DESAGRAVO A LULA FEITO POR DILMA ROUSSEFF



Pois é… As coisas não são o que parecem ser. Aliás, elas são o que não parecem.
Conforme o esperado e o antecipado aqui, a presidente Dilma Rousseff cantou as glórias do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, numa solenidade no Palácio do Planalto. Ao se referir a Lula, afirmou a presidente: “As pessoas, nos lugares certos e nas horas certas, elas podem transformar a realidade”. Concordo com ela cem por cento. Já digo por quê.

Os presentes, claro, levantaram-se em delírio e começaram a cantar - TUDO ISSO DENTRO DO PALÁCIO DO PLANALTO - “Olê, olé, olê, olá, Lu-la, Lu-la”, um bordão das campanhas eleitorais do companheiro.

E o que parece ser e não é e não parece ser e é? A manifestação poderia ser confundida com a expressão do inconteste poder de Lula no PT, a voz de uma unanimidade. Não é mais assim e será cada vez menos.

A manifestação pública de apoio, com essa plateia buliçosa, vem num momento em que o presidente foi flagrado no lugar errado, fazendo a coisa errada.
E há alas do petismo insatisfeitas com o destrambelhamento.

A própria Dilma ordenou que seus ministros e assessores de confiança não se metam no imbróglio. Sentiu cheiro de carne queimada. Dilma, de fato, disse que Lula esteve na hora certa no lugar certo. Ou por outra: já teve sua hora e lugar.

30 de maio de 2012
Por Reinaldo Azevedo

LULA


Lula para sempre
Luiz Inácio Lula da Silva não é um homem de palavra. Proclamou diversas vezes que, ao terminar o seu mandato presidencial, iria se recolher à vida privada e se afastar da política. Mentiu. Foi mais uma manobra astuta, entre tantas que realizou, desde 1972, quando chegou à diretoria do sindicato de São Bernardo, indicado pelo irmão, para ser uma espécie de porta-voz do Partidão (depois de eleito, esqueceu do acordo).

A permanente ação política do ex-presidente é um mau exemplo para o país. Não houve nenhuma acusação de corrupção no governo Dilma sem que ele apoiasse enfaticamente o acusado. Lula pressionou o governo para não "aceitar as pressões da mídia". Apresentou a sua gestão como exemplo, ou seja, nunca apurou nenhuma denúncia, mesmo em casos com abundantes provas de mau uso dos recursos públicos. Contudo, seus conselhos não foram obedecidos.

Não deve causar estranheza este desprezo pelo interesse público. É típico de Lula. Para ele, o que vale é ter poder. Qualquer princípio pode ser instrumento para uma transação. Correção, ética e moralidade são palavras desconhecidas no seu vocabulário. Para impor a sua vontade passa por cima de qualquer ideia ou de pessoas. Tem obtido êxito. Claro que o ambiente político do país, do herói sem nenhum caráter, ajudou. E muito.

Ao longo do tempo, a doença do eterno poder foi crescendo. Começou na sala de um sindicato e terminou no Palácio do Planalto. E pretende retornar ao posto que considera seu. Para isso, desde o dia 1 de janeiro deste ano, não pensa em outra coisa. E toda ação política passa por este objetivo maior. Como de hábito, o interesse pessoal é o que conta. Qualquer obstáculo colocado no caminho será ultrapassado a qualquer custo.

O episódio envolvendo o ministro do Esporte é ilustrativo. A defesa enfática de Orlando Silva não dependeu da apresentação de provas da inocência do ministro. Não, muito pelo contrário. O que contou foi a importância para o seu projeto presidencial do apoio do PCdoB ao candidato petista na capital paulista. Lula sabe que o primeiro passo rumo ao terceiro governo é vencer em São Paulo. 2014 começa em 2012. O mesmo se repetiu no caso do Ministério dos Transportes e a importância do suporte do PR, independentemente dos "malfeitos", como diria a presidente Dilma, realizados naquela pasta. E, no caso, ainda envolvia o interesse pessoal: o suplente de Nascimento no Senado era o seu amigo João Pedro.

O egocentrismo do ex-presidente é antigo. Tudo passa pela mediação pessoal. Transformou o delegado Romeu Tuma, chefe do Dops paulista, onde centenas de brasileiros foram torturados e dezenas foram assassinados, em democrata. Lula foi detido em 1980, quando não havia mais torturas. Recebeu tratamento privilegiado, como mesmo confessou, diversas vezes, em entrevistas, que foram utilizadas até na campanha do delegado ao Senado. Nunca fez referência às torturas. Transformou a casa dos horrores em hotel de luxo. E até chegou a nomear o filho de Tuma secretário nacional de Justiça!!

O desprezo pela História é permanente. Estabeleceu uma forte relação com o símbolo maior do atraso político do país: o senador José Ribamar da Costa, vulgo José Sarney. Retirou o político maranhense do ocaso político. Fez o que Sílvio Romero chamou de "suprema degradação de retrogradar, dando, de novo, um sentido histórico às oligarquias locais e outorgando-lhes nova função política e social". E pior: entregou parte da máquina estatal para o deleite dos interesses familiares, com resultados já conhecidos.

O desprezo pelos valores democráticos e republicanos serve para explicar a simpatia de Lula para com os ditadores. Estabeleceu uma relação amistosa com Muamar Kadafi (o chamou de "amigo, irmão e líder") e com Fidel Castro (outro "amigo"). Concedeu a tiranos africanos ajuda econômica a fundo perdido. Nunca - nunca mesmo - em oito anos de Presidência deu uma declaração contra as violações dos direitos humanos nas ditaduras do antigo Terceiro Mundo. Mas, diversas vezes, atacou os Estados Unidos.

Desta forma, é considerável a sua ojeriza a qualquer forma de oposição. Ele gosta somente de ouvir a sua própria voz. Não sabe conviver com as críticas. E nem com o passado. Nada pode se rivalizar ao que acredita ser o seu papel na história. Daí a demonização dos líderes sindicais que não rezavam pela sua cartilha, a desqualificação dos políticos que não aceitaram segui-lo. Além do discurso, usou do "convencimento" financeiro. Cooptou muitos dos antigos opositores utilizando-se dos recursos do Erário. Transformou as empresas estatais em apêndices dos seus desejos. Amarrou os destinos do país ao seu projeto de poder.

Como o conde de Monte Cristo, o ex-presidente conta cada dia que passa. A sua "vingança" é o retorno, em 2014. Conta com a complacência de um país que tem uma oposição omissa, ou, na melhor das hipóteses, tímida. Detém o controle absoluto do PT. Usa e abusa do partido para fortalecer a sua capacidade de negociação com outros partidos e setores da sociedade. É obedecido sem questionamentos.

Lula é uma avis rara da política brasileira. Nada o liga à nossa tradição. É um típico caudilho, tão característico da América Hispânica. Personalista, ególatra, sem princípios e obcecado pelo poder absoluto. E, como todo caudilho, quer se perpetuar no governo. Mas os retornos na América Latina nunca deram certo. Basta recordar dois exemplos: Getúlio Vargas e Juan Domingo Perón.


REPUBLICANDO
MARCO ANTONIO VILLA(O Globo - 25/10/2011)
30 de maio de 2012

COMO LULA TENTOU CONSTRANGER GILMAR MENDES

Desde que deixou o governo, o ex-presidente Lula se empenha em apagar da história o capítulo do mensalão, o esquema de compra de apoio parlamentar criado pelos petistas para ganhar a simpatia de parlamentares e abastecer as campanhas políticas do PT e de aliados com dinheiro sujo. Durante algum tempo, Lula repetiu a tese de que o mensalão não passou de caixa dois, que, na visão dele, seria um crime menor e corriqueiro na política brasileira.
Mais recentemente, porém, Lula abandonou a tese do caixa dois e se entregou à pregação messiânica de que o mensalão foi uma grande farsa tramada contra ele por setores da oposição e da imprensa.
O esforço para reescrever a história é tão grande que o ex-presidente patrocinou a criação da CPI do Cachoeira, estabelecendo como objetivo explícito criar um fato novo capaz de enfumaçar o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Essas estratégias são conhecidas. A novidade é que, como elas não surtiram o efeito desejado, entrou em pauta um plano B, um conjunto de ações temerárias que consistem na abordagem direta ou indireta dos ministros do STF. Lula tomou para si essa missão.
Enquanto foi presidente da República, Lula indicou seis dos atuais onze ministros do STF que julgarão os 36 réus do mensalão — entre eles o deputado cassado José Dirceu, grão-petista apontado como "chefe da organização criminosa" pela Procuradoria-Geral da República. Em conversas diretas ou por intermédio de interlocutores, Lula cobra dos ministros o adiamento do início do julgamento, o que significaria a prescrição de muitos dos crimes. Nessa sua cruzada, o ex-presidente da República põe todo o peso de sua influência, mas arrisca-se a perder parte de seu prestígio.
Há um mês, o ministro Gilmar Mendes, do STF, foi convidado para uma conversa com Lula em Brasília. O encontro foi realizado no escritório de advocacia do ex-presidente do STF e ex-ministro da Justiça Nelson Jobim, amigo comum dos dois. Depois de algumas amenidades, Lula foi ao ponto que lhe interessava e disse a Gilmar: "É inconveniente julgar esse processo agora". O argumento do ex-presidente foi que seria mais correto esperar passar as eleições municipais de outubro deste ano e só depois julgar a ação que tanto preocupa o PT, partido que tem o objetivo declarado de conquistar 1 000 prefeituras nas urnas.
INDECOROSO E ARROGANTE
Para espíritos mais sensíveis, Lula já teria sido indecoroso simplesmente por sugerir a um ministro do STF o adiamento de julgamento do interesse de seu partido. Mas vá lá. Até aí estaria tudo dentro do entendimento mais amplo do que seja uma ação republicana. Mas o ex-presidente cruzaria a fina linha que divide um encontro desse tipo entre uma conversa aceitável e um evidente constrangimento.
Depois de afirmar que detém o controle político da CPI do Cachoeira, Lula, magnanimamente, ofereceu proteção ao ministro Gilmar Mendes, dizendo que ele não teria motivo para preocupação com as investigações. O recado foi decodificado. Se Gilmar aceitasse ajudar os mensaleiros, ele seria blindado na CPI.
Decupando a cena, o que se tem é um ex-presidente oferecendo salvo-conduto a um ministro da mais alta corte do país, como se o Brasil fosse uma nação de beduínos do século XIX com sua sorte entregue aos humores de um califa. "Fiquei perplexo com o comportamento e as insinuações despropositadas do presidente Lula", disse Gilmar Mendes a VEJA.
 O ministro defende a realização do julgamento neste semestre para evitar a prescrição dos crimes.
A certa altura da conversa com Mendes, Lula perguntou: "E a viagem a Berlim?". Ele se referia a boatos de que o ministro e o senador Demóstenes Torres teriam viajado para a Alemanha à custa de Carlos Cachoeira e usado um avião cedido pelo contraventor.
Em resposta, o ministro confirmou o encontro com o senador em Berlim, mas disse que pagou de seu bolso todas as suas despesas, tendo como comprovar a origem dos recursos. "Vou a Berlim como você vai a São Bernardo. Minha filha mora lá", disse Gilmar, que, sentindo-se constrangido, desabafou com ex-presidente: "Vá fundo na CPI". O ministro Gilmar relatou o encontro a dois senadores, ao procurador-geral da República e ao advogado-geral da União. Clique AQUI para continuar lendo a reportagem na íntegra!

30 de maio de 2012
aluizio amorim


ERA SÓ O QUE FALTAVA: CHÁVEZ SAI EM DEFESA DE LULA

Vejam a nota oficial da Embaixada da Venezuela do Chávez...
“Nota oficial Embaixada da República Bolivariana da Venezuela

As declarações do ministro do STF Gilmar Mendes ao jornal O Globo, se de fato ocorreram, constituem uma afronta à população venezuelana, e demonstram profunda ignorância sobre a realidade de nosso país.

Nossa Constituição, elaborada pela Assembleia Constituinte e referendada pelas urnas, determina a separação de poderes, estabelece direitos de cidadania e configura os instrumentos judiciais cabíveis, ou seja, o presidente da Venezuela não manda prender cidadão algum, independentemente do cargo que ocupe.

Recorrer à desinformação para envolver a Venezuela em debates que dizem respeito apenas aos brasileiros é uma atitude indecorosa - ainda mais partindo de um ministro da mais alta corte da nação irmã - e não reflete a parceria histórica entre Brasil e Venezuela.

Maximilien Arveláiz, embaixador da República Bolivariana da Venezuela no Brasil”
 
30 de maio de 2012

PERILLO VAI A CPMI E MANIFESTA DISPOSIÇÃO EM FALAR NA COMISSÃO



Governador compareceu por vontade própria à reunião da CPI

O governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), afirmou nesta terça-feira (29) que não tem “qualquer envolvimento” com a quadrilha de jogo ilegal comandada pelo bicheiro Carlinhos Cachoeira. Perillo compareceu por vontade própria à reunião administrativa desta tarde da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito criada para investigar o elo do contraventor com políticos e empresários. O objetivo da presença foi demonstrar disposição em falar na CPI.
“Eu não fui flagrado conversando [com Cachoeira].

Há uma escuta em que eu cumprimento o empresário Carlos Cachoeira pelo seu aniversário. Não há nenhum envolvimento dele ou de sua organização no governo do estado. Nós tomamos todas as medidas neste um ano e meio de governo para combater jogos clandestinos, para combater máquinas caça-níqueis”, afirmou em entrevista após a reunião da comissão. Nesta quarta (30), deverá ser votado requerimento que pede a quebra de sigilo bancário de Perillo.

O governador disse não acreditar que seja ”justo” ter o sigilo quebrado, mas afirmou que, “como democrata”, respeitará a decisão que a CPI tomar. “Olha, eu já tive sigilos quebrados no passado. Cabe decidir se é justo ou não. Eu não sou alvo de investigação, não pesam sobre mim quaisquer acusações. De qualquer maneira eu sou um democrata e vou respeitar a decisão.”

Perillo afirmou ainda que os contratos do governo com a construtora Delta estão sendo auditados para verificar se há irregularidades. “Os contratos do governo do estado com a Delta são muito pequenos diante do volume de contratos que a Delta tem no Brasil. [...] Todos eles estão sendo auditados e poderão pesar sobre eles qualquer tipo de investigação”, disse.

O relato da CPI, Odair Cunha (PT-MG), disse que não aproveitou a presença espontânea de Perillo para ouvi-lo porque "não é o momento" adequado para oitiva de governadores."A minha opinião é de que nós não devemos ouvir nenhum governador agora, porque precisamos identificar melhor quais os possíveis atos de crime praticados pelos governadores", jusiticou.



Segundo investigação da Polícia Federal, a Delta, uma das empresas com mais contratos com o governo federal, repassou dinheiro para empresas fantasmas que abasteciam o grupo de Cachoeira.

As investigações da Polícia Federal mostram que somente a Alberto & Pantoja Construções recebeu da Delta nacional R$ 26 milhões. A empresa funcionaria numa oficina mecânica, numa cidade perto de Brasília. Na conta da Brava Contruções, que, segundo a polícia, também é uma empresa de fachada que serve ao esquema de Carlinhos Cachoeira, a Delta nacional depositou pouco mais de R$ 13 milhões.
Nesta quarta, a CPI aprovou a quebra dos sigilos bancário, fiscal e telefônico da Delta nacional.

Na última reunião administrativa da CPI foram quebrados os sigilos das filiais da empresa no Centro Oeste, que estavam sob o comando de Claudio Abreu, preso pela Polícia Civil na Operação Saint-Michel, ação conjunta com a Polícia Federal.Claudio Abreu é citado em conversas telefônicas nas investigações da PF sobre a quadrilha do bicheiro

Convocação

Apesar da disposição do governador de Goiás em depor na CPI, a comissão voltou a adiar requerimentos de convocação de governadores. Além de Perillo, os governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), e do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), são alvos de pedidos de convocação.
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A votação dos requerimentos estava prevista para esta terça, mas o deputado Gladson Cameli (PP-AC) apresentou questão de ordem dizendo que a comissão violaria o princípio de separação de poderes caso convocasse governadores. O senador Pedro Taques (PDT-MT) rebateu a posição do deputado. "Não há nenhuma interferência de poderes", afirmou o parlamentar.

Diante da divergência, o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB) afirmou que consultaria a assessoria jurídica do Senado e daria uma resposta à questão de ordem na próxima reunião administrativa da comissão, marcada para o dia 5 de junho. O assunto poderá, contudo, entrar na pauta das votações desta quarta (29) da CPI.

30 de maio de 2012
Portal G1
in abobado

O SILÊNCIO DE OURO DO BICHEIRO

          Artigos - Governo do PT        
O gigantismo do poder público no Brasil está na raiz da corrupção que assola o país e esse fato é que deveria ser objeto de reflexão. Todavia, se depender de Lula e do PT, a imprensa e o governo Marconi Perillo é que serão os únicos alvos da CPI do Cachoeira.
O silêncio de Carlinhos Cachoeira – garantido pelos R$ 15 milhões de honorários do amigo de Lula – é uma prova de que no Brasil há um conluio de elites.

Os esgares do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Câmara Municipal de São Paulo e a placidez do advogado Márcio Thomaz Bastos na CPI Mista de Cachoeira são duas provas distintas, mas complementares, de que a história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história da ascensão, queda e renovação das elites.

Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, jamais estiveram em constante oposição, muito menos travaram uma guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada, que teria sempre resultado na transformação revolucionária da sociedade ou na destruição das classes em luta.
Ao contrário do mito propagado por Marx e Engels no “Manifesto Comunista” (parafraseado quase literalmente na abertura deste artigo), a luta contra a opressão exige armas que o verdadeiro oprimido nunca tem. Por isso, a “luta de classes” jamais desaguou na revolução proletária e onde o comunismo chegou ao poder foi devido a fatores externos (como as guerras) e à capacidade da elite intelectual em capitalizá-los.

O marxismo é uma mitologia. O socialismo idealizado por Marx nada tem de científico — é justamente o mais utópico entre todos os socialismos já formulados. De fato, crer na boa vontade dos homens para forjar uma sociedade igualitária, como sonhava Saint-Simon, é utopia. Mas apostar na onisciência da história para predizer o futuro da humanidade, como fazia Marx, é insanidade. Prova disso é que a dupla Marx & Engels, mesmo sustentando que a revolução proletária era uma inevitabilidade científica e que o socialismo era a incógnita revelada da equação histórica, no fundo não parece acreditar na própria tese do “Manifesto Comunista”. Já nesse clássico do movimento revolucionário, a dupla aposta claramente no voluntarismo político das vanguardas, como se reconhecesse que a história não está pré-estabelecida em fórmulas e precisa do empurrão da vontade dos homens.

Marx e Engels descrevem a formação das vanguardas revolucionárias à testa das classes em luta, mostrando a simbiose entre uma franja da classe dominante que se decompõe e um recorte da classe dominada em ascensão.
Eis o que dizem no “Manifesto Comunista”: “Finalmente, nos períodos em que a luta de classes se aproxima da hora decisiva, o processo de dissolução da classe dominante, de toda a velha sociedade, adquire um caráter tão violento e agudo, que uma pequena fração da classe dominante se desliga desta, ligando-se à classe revolucionária, a classe que traz em si o futuro.
Do mesmo modo que outrora uma parte da nobreza passou-se para a burguesia, em nossos dias, uma parte da burguesia passa-se para o proletariado, especialmente a parte dos ideólogos burgueses que chegaram à compreensão teórica do movimento histórico em seu conjunto”.
É dessa forma, segundo eles, que “a burguesia fornece aos proletários os elementos de sua própria educação política, isto é, armas contra ela própria”.

Suicídio das elites

Para Marx e Engels, os comunistas “constituem a fração mais resoluta dos partidos operários de cada país, a fração que impulsiona as demais e teoricamente têm sobre o resto do proletariado a vantagem de uma compreensão nítida das condições, da marcha e dos fins gerais do movimento proletário”. Lenin aprofunda essa percepção e, na obra “Esquerdismo, Doença Infantil do Comunismo”, salienta o papel catequizador, guerreiro, mas sobretudo dirigente das vanguardas, que, para fazer a revolução e consolidá-la, deviam amalgamar-se ao proletariado e demais trabalhadores:
“A arte do político (e a justa compreensão dos seus deveres no comunista) consiste, precisamente, em saber aquilatar com exatidão as condições e o momento em que a vanguarda do proletariado pode tornar vitoriosamente o Poder; em que pode, por ocasião da tomada do Poder e depois dela conseguir um apoio suficiente de setores bastante amplos da classe operária e das massas trabalhadoras não proletárias; em que pode, uma vez obtido esse apoio, manter, consolidar e ampliar seu domínio, educando, instruindo e atraindo para si massas cada vez maiores de trabalhadores”.

O sociólogo e economista italiano Vilfredo Pareto (1848-1923), em seu “Manual de Economia Política”, publicado em 1909, observa que, da mesma forma que é possível distinguir ricos e pobres numa dada sociedade, também é possível identificar uma elite (“a parte aristocrática”, no sentido etimológico de “melhor”) e a parte vulgar. “Essa elite existe em todas as sociedades e as governa, mesmo quando o regime é, em aparência, aquele da mais ampla democracia”, escreve Pareto. Mas a elite não é estática e alguns de seus membros (a “parte degenerada” da antiga elite) podem juntar-se à parte vulgar, o que resulta na “circulação de elites”, segundo Pareto.
“Consta que quase todas as revoluções foram obra, não do vulgo, mas da aristocracia e notadamente da parte desprovida da aristocracia; é o que se vê na história, começando na época de Péricles até a época da primeira revolução francesa; e hoje mesmo vemos que uma parte da burguesia ajuda fortemente o socialismo, cujos chefes, aliás, são burgueses.
As elites terminam comumente pelo suicídio” — escreve Pareto, como se descrevesse não apenas o seu tempo, mas também o nosso, em que intelectuais da USP, capitães de indústria e banqueiros se ajoelham aos pés de Lula e do PT.

Como observa Pareto, essa parte da elite que se rebela contra o “status quo” sempre se apresenta como porta-voz da maioria que está fora do poder, aparentando defender bandeiras universais. Entretanto, ressalta o sociólogo italiano, “o homem é guiado por interesses particulares e principalmente pelos sentimentos, ao mesmo tempo em que imagina, e faz crer aos outros, que é guiado por interesses gerais e pela razão”.
Pareto não tem meias palavras para descrever uma Europa convulsionada pelos movimentos operários, que iriam desaguar na Revolução Russa, menos de dez anos depois. “O grande erro da época atual é crer que se pode governar os homens pela pura razão, sem fazer uso da força, que é, ao contrário, o fundamento de toda organização social.
É até curioso observar que a antipatia da burguesia contemporânea contra a força termina por deixar o campo livre para a violência. Por estarem seguros da impunidade, os malfeitores e os amotinadores fazem quase tudo que desejam.
As pessoas mais práticas são levadas a se sindicalizar e a recorrer à ameaça e à violência, única via aberta que os governantes lhes deixam para defender seus interesses” — sustenta o pensador italiano.

Imunidade moral de Lula

Pareto já percebia com muita clareza que o discurso humanitário de sua época — sem dúvida, muito menos totalitário que o de hoje — já era potencialmente perigoso, por trazer os germes de sua própria destruição: “A religião humanitária mui provavelmente desaparecerá quando tiver cumprido sua obra de dissolução social e quando uma nova elite se levantar sobre as ruínas da antiga. A inconsciência ingênua de uma burguesia em decadência faz toda a força dessa religião, que não terá nenhuma utilidade no dia em que os adversários da burguesia se tornarem bastante fortes para não mais esconder seu jogo”.
Pareto percebe a impotência da razão para servir de barreira aos movimentos revolucionários: “As teorias econômicas e so­ciais das quais se servem aqueles que participam das lutas sociais não devem ser julgadas pelo seu valor objetivo, mas principalmente por sua eficiência em suscitar emoções. A refutação científica que se possa fazer não serve para nada, por mais exata que seja objetivamente”. Daí a enorme dificuldade para se propagar o pensamento liberal no Brasil, ainda que um Roberto Campos possa ter mais razão do que um Celso Furtado e um Eduardo Giannetti da Fonseca seja mui­to mais instigante do que uma Marilena Chauí.

E não são apenas os iletrados que se mostram refratários à razão — também os letrados se deixam levar pelas emoções e, dessa forma, contribuem com a vanguarda revolucionária, muitas vezes fazendo parte dela. Os recorrentes ataques de Lula à imprensa, por exemplo, só são possíveis porque ele goza de uma espécie de imunidade moral.

Apesar de ter trabalhado apenas seis anos como metalúrgico (pois com 27 anos iniciou sua carreira de sindicalista, passando a integrar a diretoria do sindicato), Lula tornou-se um mito cultivando a fama de operário — como se não houvesse uma grande diferença entre o trabalhador comum e sua elite sindical, que desfruta de uma série de privilégios.

A máscara de operário e pau-de-arara protege Lula das elites tradicionais, que não se sentem confortáveis em criticá-lo. Como no Brasil a “circulação das elites” de que fala Pareto nunca ocorreu por mé­rito, o combate a Lula, com algumas exceções, nunca é feito com seriedade e tende a descambar para o folclórico, apelando, por exemplo, para seu suposto analfabetismo, quando — justiça seja feita — sua oratória é melhor e mais criativa do que a média dos políticos. Isso ajuda o próprio Lula, pois reforça sua mitológica condição de eterna vítima das elites e contribuiu para esconder aspectos muito mais deploráveis de sua trajetória política.

Há décadas, Lula deixou de ser o operário heroico em que se disfarça nos palanques. Em 2002, quando se elegeu presidente, seu patrimônio declarado ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) era de R$ 422,9 mil. Em 2006, já havia dobrado, passando para R$ 839 mil. Quando entregou a Presidência para Dilma Rousseff, uma re­portagem da “Folha de S. Pau­lo”, publicada em 23 de janeiro de 2011, estimou seu patrimônio R$ 1,036 milhão.

Além disso, como ex-presidente, con­ta com oito funcionários à sua disposição, pagos pelos cofres públicos. E, antes de ser diagnosticado com câncer na laringe, Lula estava cobrando cerca de 200 mil reais por palestra, a maioria delas contratadas por grandes empresas, como a LG e a AmBev. Não sendo Lula especialista em nada (tanto que seus dois governos eram administrativamente tocados pelos chefes da Casa Civil), é bem provável que esse tipo de palestra tivesse um apelo sentimental e não técnico – uma espécie de carícia do setor privado na incontornável epiderme do poder público, que parece envolver o país como a placenta envolve o feto.

O gigantismo do poder público no Brasil está na raiz da corrupção que assola o país e esse fato é que deveria ser objeto de reflexão. Todavia, se depender de Lula e do PT, a imprensa e o governo Marconi Perillo é que serão os únicos alvos da CPI do Cachoeira. Mas engana-se quem pensa que esses ataques à liberdade de imprensa decorrem apenas de uma birra pessoal de Lula, motivada pelo escândalo do mensalão, que quase o coloca no banco dos réus. Ainda que seja maior do que o PT e encarne uma face caudilhesca à moda de Vargas e Perón, Lula é também um filho da USP, cria bastarda da cruza ideológica entre o sociólogo Fernando Henrique Cardoso e a filósofa Marilena Chauí. Lula traz no seu DNA político as taras ancestrais da velha esquerda, ainda que ele próprio não pareça ter muita consciência disso.
Uma dessas taras — herdada da Revolução Russa de 1917 — é a transformação da imprensa em inimiga, tão logo o Partido chega ao poder e a liberdade de expressão deixa de ser um instrumento contra o governo.

O historiador norte-americano Roberto Gellately, em seu livro “Lênin, Stálin e Hitler: A Era da Catástrofe Social” (Editora Record, 2010), descreve como foi o apoio obtido por comunistas e nazistas dos segmentos letrados da época: “Os regimes soviético e nazista ganharam seguidores entre os idealistas, os jovens e os mais educados. Essas pessoas praticamente idolatravam seus líderes, e até mesmo os frios racionalistas en­tre elas podiam se lembrar de sentir o chão balançar sob seus pés ao se encontrarem na presença desses homens”.

Todavia, o apoio que re­cebeu de muitos intelectuais não foi suficiente para que Lênin, uma vez no poder, respeitasse a liberdade de pensamento: “O entendimento de Lênin de verdadeira liberdade foi logo esclarecido. A primeira liberdade civil a ser removida como um membro gangrenado foi a liberdade de expressão. Menos de 48 horas após a revolução, um ‘decreto sobre a imprensa’ foi emitido com a assinatura de Lênin. Isso aconteceu em 27 de outubro de 1917 e já marcou o fim de qualquer esperança de que o novo regime fos­se ser tolerante, quanto mais que estabelecesse a democracia”.

Com certa ironia, Gellately observa que o jornalista norte-americano John Reed, autor de “Dez Dias que Abalaram o Mundo”, registrou, sem fazer crítica, a lógica de Lênin durante um debate no Congresso dos Sovietes: “Nós, bolcheviques, sempre dissemos que, quando chegássemos a uma posição de poder, fecharíamos a imprensa. Tolerar jornais burgueses significaria parar de ser um socialista.
Quando se faz uma revolução, não se pode ficar parado, é preciso avançar sempre — ou recuar. Quem agora fala sobre ‘liberdade de imprensa’ retrocede e detém nosso curso impetuoso rumo ao socialismo”. Trotsky (que acabaria assassinado no México a mando de Stálin), mesmo tendo se tornado um ídolo para milhares de intelectuais no Ocidente, tinha a mesma visão sobre a imprensa e, quando da censura imposta por Lênin, declarou seu apoio explícito a ela com essas palavras: “Se vamos nacionalizar os bancos, podemos tolerar os jornais econômicos? O velho regime tem que morrer: é preciso entender isso de uma vez por todas”.

História como farsa

Justamente por serem filhos das ideias, os marxistas são os que mais as temem. Falando sobre o Partido Comunista ao tempo da Revolução Russa, Gellately observa: “As ideias exerciam enorme apelo sobre os fiéis do partido devido às promessas que faziam e às visões de esperança que ofereciam.
Que centenas de milhares de pessoas, e por fim milhões, tivessem de ser sacrificadas foi algo discreta e convenientemente ignorado pelos idealistas e utopistas”. Esse padrão revolucionário, que se assenhoreia, ao mesmo tempo, da palavra, da arma e da flor, iria se repetir na trajetória da esquerda pelo mundo afora. Por isso, todas as revoluções socialistas — da Revolução Russa, de 1917, à Revolução Cubana, de 1959, passando pelas revoluções asiáticas e africanas — sempre tiveram como ponto de partida um golpe de estado deflagrado por uma elite intelectual e militarizada, que se apresenta como porta-voz dos oprimidos, mas termina por ser fonte de opressão.
No Brasil não é diferente e essa história se repete como farsa: a esquerda chegou ao poder com Lula e revolucionou corrupção, que nunca mais será a mesma.

É o que se constata na CPI do Cachoeira. Até a chegada do PT ao poder, a corrupção estava associada ao rato de esgoto; agora, ela pode ser representada por uma ave de rapina. O rato furta e se esconde, como se tivesse consciência do erro. A ave de rapina assalta e se exibe, como se tivesse orgulho do seu ato. O pragmático e ainda tímido “rouba mas faz” de Maluf foi substituído pelo metafísico e destemido “rouba mas é” do mensalão — ou seja, o sujeito desvia o recurso público, mas por “ser” de esquerda, julga que não está cometendo crime, mas fazendo a revolução.

É o caso de Lula. Nas últimas semanas, tão logo se recuperou do tratamento de câncer, o ex-presidente voltou a vociferar contra as elites, como se fosse um Lênin sem armas. Lula ousa negar o próprio escândalo do mensalão — o mais documentado caso de corrupção da história do país — e afirma que a compra de parlamentares com recursos ilegais nunca existiu, não passando de uma invenção da “elite”, mancomunada com a imprensa. Essa elite, insiste Lula, não teria engolido a chegada de um operário ao poder e fez de tudo para derrubá-lo. O que é falso.

Nunca antes na história deste país um po­lítico foi tão ingrato. Lula só não caiu justamente porque a elite o segurou. Em 2005, quan­do o publicitário Du­da Mendonça confessou, numa CPI do Congresso, que havia recebido milhões de dólares numa conta no exterior, a conselho de Marcos Valério, como pagamento pelo seu trabalho na campanha do próprio Lula, bastava que a oposição tivesse insistindo nessa confissão do publicitário baiano, aprofundando as investigações sobre o caso, para que Lula não terminasse seu mandato.
Mas a elite que Lula tanto condena — e à qual já pertencia, antes mesmo de se tornar milionário — foi tão respeitosa com o mito que acabou sendo condescendente com o homem. Para não ser acusada de tramar contra o suposto operário que chegou à Presidência da República, ela preferiu esquecer a grave confissão de Duda Mendonça, assim como outros fatos igualmente graves que levaram a Procuradoria Geral da República a classificar o ex-ministro José Dirceu como “chefe de quadrilha” — num inquérito que o Supremo Tribunal Federal promete julgar ainda neste ano.

Vícios privados, prejuízos públicos

É por recear o julgamento do mensalão que o ex-presidente Lula — beneficiando-se da indisposição histórica da esquerda para com a liberdade de expressão — tanto se esforça para transformar a CPI do Cachoeira num processo inquisitorial contra a imprensa. Mas esse trabalho se tornou mais difícil na medida em que ficou claro que um dos associados do bicheiro, o empresário Fernando Cavendish, sócio majoritário da construtora Delta, é amicíssimo do governador fluminense Sérgio Cabral (PMDB), grande aliado de Lula.
Além disso, a Delta de Cavendish era responsável por um imenso volume de obras do PAC (Pro­grama de Aceleração do Cres­cimento), a menina dos olhos do governo federal. Segundo o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), entre 2007 e 2012, a Delta teve empenho superior a 4,1 bilhões de reais no governo federal, sendo que 90% dos contratos tinham origem no Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre).

Fernando Cavendish é uma espécie de novo Duda Men­donça. Na época em que o publicitário confessou ter sido pago em dólares pela campanha de Lula através de uma conta no exterior, a investigação não foi adiante também porque a oposição, além de poupar Lula, queria poupar a si mesma.
Segundo uma reportagem da revista “Veja”, publicada em 25 de janeiro de 2006, Duda Men­donça recebeu não apenas os recursos confessados do “valerioduto”, mas um total de 15 milhões de dólares em contas não declaradas no exterior — isso desde 1993, portanto, dez anos antes de Lula assumir a presidência da República. In­vestigar a origem desses recursos poderia complicar a vida de todo o mundo político, uma vez que Duda Mendonça fez caríssimas campanhas majoritárias para todos os principais partidos e líderes políticos do país.
Agora, com a empreiteira de Fernando Cavendish ocorre o mesmo. Investigar a fundo a presença da Delta no setor pú­blico seria uma devassa ousada demais. Tanto que o próprio Ca­vendish optou por sair de cena e a Delta foi vendida para o Grupo JBS — que tem o BNDES­ entre seus principais acionistas.

Parece que, mais uma vez, os brasileiros estão sendo chamados a socializar, compulsoriamente, os prejuízos públicos decorrentes de vícios privados. Prova disso é que, ao lado de Cachoeira na CPI, sentou-se ninguém menos do que o advogado criminalista Márcio Tho­maz Basto, que foi ministro da Justiça do governo Lula e há muitos anos advoga para o PT, além de aconselhar os petistas, inclusive o próprio Lula. O ex-ministro está cobrando R$ 15 milhões para garantir o silêncio de Cachoeira.

Resta saber se seu cliente tem como levantar esse montante de dinheiro legalmente, sem ser fruto da contravenção ou do crime. A quem interessa o silêncio de ouro de Cachoeira? Sem dúvida, àqueles que detêm o poder no país: justamente a elite — que Lula tan­to critica e da qual faz parte.
E a presença de seu grande amigo Márcio Thomaz Bastos ao lado de Carlinhos Cachoeira faz o Brasil desconfiar que o silêncio do bicheiro pode ser mais caro justamente para Lula. É o conluio das elites.

30 de maio de 2012
José Maria e Silva é sociólogo e jornalista.

COMEÇA A PRIVATIZAÇÃO DE PRISÕES NO BRASIL


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Sistema prisional brasileiro é alvo de críticas severas das organizações de direitos humanos (Reprodução/Internet)
A clientela é grande. O Brasil tem a quarta maior população carcerária do planeta e déficit de nada menos do que 200 mil vagas

A partir do início da década de 1990 o governo brasileiro vendeu mais de 100 empresas estatais e concessionárias de serviços públicos, em um processo de privatizações — ainda em curso, vide aeroportos — que já abarcou a telefonia, a distribuição de energia elétrica, muitas rodovias e gigantes da mineração e da siderurgia. Mas o que foi feito com o telefone, a luz, as estradas e o minério de ferro pode ser feito com as penitenciárias e sua, digamos, clientela?

Na verdade, a largada já foi dada no processo de privatização do altamente degradado e falido sistema prisional brasileiro, alvo de críticas severas das principais organizações internacionais de defesa dos direitos humanos.

Será inaugurado em agosto deste ano, na cidade de Ribeirão das Neves, na região metropolitana de Belo Horizonte, o primeiro presídio privado do Brasil, construído por meio de Parceria Público-Privada (PPP), e que será gerido pela concessionária GPA, sigla do grupo mineiro Gestores Prisionais Associados (GPA).

Outros grupos de olho no filão

Serão 3.040 vagas divididas em cinco unidades com capacidade para 608 presos cada uma. Como em todo processo de privatização, as promessas de maravilhas são muitas:

Atendimento médico com intervalo máximo de 45 dias, tecnologias de ponta para monitoramento de presos e metas para impedimento de fugas e outros eventos graves, o que será tentado mediante a utilização de sistemas de sensoriamento de presença, controle de acesso de um ambiente para o outro, comando de voz e Circuito Fechado de Televisão (CFTV) em todo o complexo.

“Com oferta de trabalho, estudo, saúde e controle da segurança, a possibilidade de obter sucesso é muito maior”, disse à imprensa o coordenador da unidade setorial de PPP da Secretaria de Defesa Social (Seds) de Minas, Marcelo Costa.

Além do grupo GPA, que arrematou os direitos de exploração do primeiro presídio privado do Brasil, tem mais gente de olho neste filão, como o consórcio JVS (formado pela Gocil, Heleno & Fonseca e JVS Consultoria), que chega com soluções financeiras para presídios consideradas inovadoras debaixo do braço, e a construtora Queiroz Galvão, que firmou parceria com empresas espanholas que têm experiência na ressocialização de detentos.

Meio milhão de presos espremidos

A clientela é grande. O Brasil tem a quarta maior população carcerária do planeta (depois apenas de EUA, China e Rússia), com cerca de meio milhão de pessoas vivendo espremidas atrás das grades — a despeito do senso comum de que somos o país da impunidade — em um sistema carcerário para lá de superlotado. Especialistas dizem que existe um déficit de nada menos do que 200 mil vagas.

E o mercado, por assim dizer, tende a crescer, uma vez que os legisladores cedem cada vez mais à tentação da solução penal, ou seja, da criminalização, de tudo e todos quanto seja possível, na esteira das políticas criminais norte-americanas de tolerância zero e efeitos pífios sobre os índices de criminalidade, e na contramão da modernidade jurídica, a do Direito Penal mínimo.

“Minha Casa, Minha Vida” que nada. Por aqui, caminhamos para o cenário descrito pelo sociólogo francês da Universidade da Califórnia Loïc Wacquant, para quem em países como os EUA a penitenciária se transformou na verdadeira política habitacional dos tempos que correm.

por Hugo Souza

O TRIUNFO DA SOLIDARIEDADE

          Artigos - Governo do PT        

Paulina Duarte, fez o favor de lembrar o país que o crack não é epidemia - não criemos pânico - porque “o governo nunca reconheceu o crack como epidemia, isso é bobagem.” Mas é claro que é bobagem. Discordar apontando os fatos é o imperdoável reacionarismo de crer nos próprios olhos.

T. S. Eliot abre seu conhecido poema 'The Hollow Man', onde fala de homens empalhados, amparados uns nos outros sussurrando palavras áridas, com a expressão: “Uma esmola para um velho”. Mesmo separado oitenta e seis anos de nossas moderníssimas políticas sociais, o escritor ofereceu, até o presente momento, sua melhor definição.

A única diferença é que na época de Eliot, os homens ocos eram produzidos principalmente por uma força difusa, atmosférica, que corrompia as almas. São eles agora produzidos pelo Estado.
Antes, desligados de um princípio transcendente, limitavam-se a atravessar de olhos retos para o outro reino, o da morte. Hoje, oitenta anos mais vazio, o homem está ávido para preencher-se de alguma substância, e os cocaleiros, os políticos e os intelectuais estão prontos para cumprir o satânico plano, entregando em suas mãos o que suas almas mortas desejam.

No Brasil, os viciados em crack são os homens ocos amparados com o melhor de nossa tecnologia e política; nosso governo, objetivamente, não está ligando a mínima para a situação. Digo objetivamente porque os antropólogos, sociólogos, cientistas políticos e outros bien-pensants precisam, por força de sua profissão, considerar coisa demasiado científica o teatro de palavras das personagens envolvidas.

Entretanto, o homem comum, o cidadão das ruas, está a ver coisas que antes não via, como a fundação espontânea de centenas de novas cracolândias pelo país - só em Niterói o número dobrou -, enquanto ninguém faz a bondade de mostrar como as cargas de drogas, que abastecem estes miseráveis, entram impunemente pelas fronteiras.

O homem comum desconfia do relacionamento amoroso entre nosso governo e o governo do presidente Hugo Chávez, com sua rede de narcotraficantes.
O homem comum vê a impostura no fato de uma instituição como o Foro de São Paulo, da qual Lula e Fidel Castro são fundadores, ter comprovadas relações com as Farc, a maior fornecedora de pasta base de coca do sistema solar.
Olavo de Carvalho, Graça Salgueiro e o próprio Mídia Sem Máscara são algumas das fontes - que não enchem os dedos de duas mãos - aplicadas na missão impossível de compensar a desinformação generalizada produzida pela grande mídia. É possível ler os jornais todos os dias e no fim de um ano não estar informado de nada essencial sobre os rumos políticos do continente.

Em entrevista no ano passado, a secretária nacional de política sobre drogas, Paulina Duarte, fez o favor de lembrar o país que o crack não é epidemia - não criemos pânico - porque “o governo nunca reconheceu o crack como epidemia, isso é bobagem.” Mas é claro que é bobagem. Discordar apontando os fatos é o imperdoável reacionarismo de crer nos próprios olhos. Se o governo não reconhece a epidemia, quem será o louco de reconhecer? Juiz de Fora, pacífica cidade universitária, ganhou sua própria cracolândia e isto não tem nada a ver com a epidemia de crack, evidentemente.

No seu discurso de posse, Dilma prometeu um combate severo contra “o avanço do crack que desintegra a juventude e infelicita nossas famílias”. Por hora, sua severidade oferece verbas de pesquisa para as universidades estudarem uma solução para o problema. Exatamente o lugar que abriga uma quantidade considerável de consumidores das mesmas drogas ilícitas – os financiadores do mesmo tráfico que sustenta a existência do crack. Seria embaraçoso imaginar um pesquisador empregando sua bolsa de estudos para viver sua experiência transcendente fumando um baseado.

Alguns deles devem estar no meio de passeatas gritando “eu sou maconheiro com muito orgulho, com muito amor”. É a sutileza própria dos cérebros formados com tapioca e ananás.
Como outra medida de austeridade contra a epidemia inexistente do crack, a “presidenta” elegeu Paulina Duarte para um cargo de importância nacional de mentirinha: a Secretaria Nacional de Política sobre Drogas, liderada por uma secretária devotada a desmentir a existência do problema que justificou a criação do seu próprio emprego. Paulina também é contra clínicas de internação e tratamento dos dependentes químicos.

Recentemente foi incluído no cardápio o óxi, responsável pela morte de 30% dos usuários no primeiro ano de uso. A polícia já registrou apreensões da nova droga em 12 estados do país. Ela destrói os neurônios e causa um arco-íris de transtornos psiquiátricos, reduzindo o sujeito a um estado de sociopatia quase sem solução. Mas, veja, não é motivo para descontrole. Paulina pontifica que “não há nenhum relato disso. É mentira, não tem embasamento científico.”

A esquerda não prega caridade, e sim, solidariedade. A caridade é a virtude teologal descrita pelas palavras sublimes do Apóstolo. Uma virtude que não está vinculada às coisas do mundo sublunar. A solidariedade é um termo escorregadio que remonta àquela França cuja solidarité despegou algumas cabeças do corpo.

É a responsabilidade mútua, aliança circunstancial a favor de um empreendimento.
Para os solidários, tudo é política; para os caridosos, a política pertence ao reino deste mundo, “cá nesta Babilônia, onde o puro amor não tem valia”.

Centenas, milhares, ainda vão morrer vencidos pelas drogas no Brasil. Cá nesta Babilônia, onde os representantes do governo tiveram seu coração de aço forjado na ideologia da solidariedade. Os solidários não se comovem com a morte, mas com discursos. Aqui, o epíteto do poema de Eliot precisa ser revisado: “uma esmola para um homem morto.”

José Renato N. Lima
30 de maio de 2012

"A VIOLAÇÃO DOS DIREITOS DE UM INDIVÍDUO SIGNIFICA A ABOLIÇÃO DE TODOS OS DIREITOS"

Publiquei nesta manhã um post sobre a intenção do governo de ampliar as áreas em que seriam aplicadas as cotas raciais. Até mesmo os cursos de… doutorado (!!!) teriam de se submeter a esse critério, o que é uma barbaridade.
É evidente que, se o “cotismo” vai valer para negros com base na suposição de que são discriminados, não há por que não estendê-lo a outros grupos que se digam também vulneráveis. Aos poucos, vamos deixando de lado duas questões essenciais:
a) o mérito ( e só ele deve contar quando se trata de desempenho intelectual) e
b) uma política pública de educação, de caráter universal, que busque atender a todos igualmente. Um país que se ocupe de articular reparações pontuais acaba fatalmente se descuidando do conjunto.
Muito bem! Lembrei-me de um trecho do texto What Is Capitalism, da brilhante Ayn Rand, uma liberal convicta, que está no livro Capitalism - The Unknown Ideal. Segue em azul. Volto depois.
Quando, numa sociedade, o “bem comum” é considerado algo à parte e acima do bem individual, de cada um de seus membros, isso significa que o bem de alguns homens tem precedência sobre o bem de outros, que são relegados, então, à condição de animais prontos para o sacrifício. Presume-se, nesse caso, implicitamente, que o “bem comum” significa o “bem da maioria” tomado como algo contrário à minoria ou ao indivíduo. Observe-se ser esta uma suposição implícita, já que até mesmo as mentalidades mais coletivistas parecem perceber a impossibilidade de justificá-la moralmente.
Mas o “bem da maioria” é nada mais do que uma farsa e uma fraude: porque, de fato, a violação dos direitos de um indivíduo significa a abolição de todos os direitos. Isso submete a maioria desamparada ao poder de qualquer gangue que se autoproclame a “voz da sociedade”, que passa a subjugá-la por meio da força física, até ser deposta por outra gangue que empregue os mesmos métodos.
Voltei

Ayn Rand era o pseudônimo de Alissa Zinovievna Rosenbaum (1905-1982), russa de origem judaica, cuja família emigrou para os EUA. Enveredou pelo caminho da filosofia, da literatura e da política. Foi uma das mais reluzentes e radicais expressões do pensamento liberal no século passado.
Não concordo com tudo o que dizia, não. As suas considerações sobre Deus, por exemplo, me pareciam amplamente insuficientes. Era uma ateia — agnóstica, no seu caso, seria mais preciso — convicta. Mas eu não preciso endossar 100% do que pensam as pessoas para encontrar aspectos admiráveis na sua produção. Há muitos vídeos seus no YouTube. Destaco um, com legenda, que tem tudo a ver com o Brasil destes dias. Volto para o encerramento.
Arremato
 
“A violação dos direitos de um indivíduo significa a abolição de todos os direitos”. Esse deveria ser um princípio indeclinável do estado democrático e de direito e uma divisa a orientar todos os votos no Supremo Tribunal Federal.

30 de maio de 2012
Reinaldo Azevedo