"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 16 de abril de 2012

O CÁLCULO DE LULA


O tema mais decisivo para definir a eterna oscilação do Brasil entre civilização e barbárie continua barrado do debate político nacional porque envolve interesses diretos ou aspectos considerados sensíveis pelas empresas de informação que preferem não discuti-los em público.
Mas é contando com isso que Lula, do alto do seu olímpico desprezo por toda e qualquer convenção moral, faz os cálculos que embasam cada um dos seus passos na política.
A momentosa questão é:
Quanto realmente pesa o segmento livre da imprensa do Brasil? De que tamanho realmente é essa imprensa que investiga e faz denuncias no Brasil? Quanta gente ela atinge?
A resposta curta e grossa é: quase ninguém.
Ela é do tamanho dos jornais impressos de São Paulo, do Rio de Janeiro e de uns poucos estados mais com mercados publicitários capazes de sustentar um jornal, e mesmo assim, de nem todos os jornais impressos nessas praças. E atinge uma parcela da parcela (realmente) alfabetizada dessas populações.
O resto da imprensa ou está diretamente nas mãos do governo, ou vive da publicidade oficial ou é censurada - como são o rádio e a TV - pelos artifícios por baixo dos quais se esconde a censura dentro da legislação eleitoral à qual nós já nos acostumamos mas que escandalizariam qualquer súdito de democracias muito menos festejadas que a nossa.
Qual é o verdadeiro alcance do "efeito apagador" que o "horário eleitoral gratuito" proporciona? O que realmente fica gravado na cabeça do povão ao fim dos jornais das TVs: o capítulo do dia da novela da corrupção com os respectivos contraditórios exigidos pelas normas do bom jornalismo, ou as dúzias e dúzias de entradas dos mesmos políticos acusados se apresentando como santos abnegados nos intervalos desses mesmos jornais e ainda antes e depois deles?
Luís Ignácio Lula da Silva, que conhece como ninguém o Brasil dos grotões, sabe exatamente o que chega e o que não chega aos ouvidos do povão. Por isso reage com tanto sarcasmo às ilusões que a imprensa séria alimenta a esse respeito.
Por isso Lula aposta na confusão com tanta desfaçatez.
Esse caso da CPI do Cachoeira é exemplar.
O que teria levado o nosso Maquiavel de Garanhuns a soltar seus cachorros para levantar a caça que traria atrás de si, quando menos, a memória das "negociações salariais" entre Waldomiro Diniz, braço direito de seu chefe da Casa Civil, José Dirceu, e o chefão da jogatina Carlinhos Cachoeira, filmadas na sala vizinha àquela em que Lula despachava como Presidente da Republica no Palácio do Planalto nos idos de 2003?
O presidente do PT, Rui Falcão, foi explícito na declaração que gravou para a página de entrada do site oficial do partido. Não, é claro que não se tratava da reconciliação do PT com a ética na política. Falcão pedia o poio dos seus correligionários à CPI do Cachoeira para a "investigação do escândalo dos autores da farsa do Mensalão" que um STF presidido por um dos últimos ministros anteriores à "safra Lula" promete começar a julgar no máximo até julho.
Fogo de encontro, portanto. A fabricação da prova definitiva de que "eu sou porque todo mundo também é"...
Ok. Lula é um sujeito vingativo e Demostenes Torres foi o senador mais atuante na CPI dos Correios, na qual foi revolvida toda a sujeira do Mensalão.
O homem que ousou apontar um dedo acusador contra "deus" flagrado irretorquivelmente com a boca na botija era bom demais para permitir que passasse sem um carnaval.
Mas será que eles tinham ouvido todas as gravações da PF? Como tinham tanta certeza de que o feitiço não acabaria virando contra o feiticeiro se desde 2004 já havia figuras de proa do PT no bolso de Cachoeira?
A resposta é: não tinham. "Deus" também pode se precipitar e ... errar.
E ha uma particularidade, em especial, que pode tornar esse erro fatal.
Cercado de experimentados "arapongas", Carlinhos Cachoeira julgava-se garantido no quesito "prevenção contra grampos". Acreditou cegamente nos "assessores" que lhe juraram que a Policia Federal não tinha condições de gravar conversas feitas dentro do sistema Nextel de rádio-telefonia, sobretudo se as contas fossem contratadas fora do país.
Foi assim que Cachoeira passou a operar todas as ramificações da quadrilha, dentro e fora do sistema institucional, por meio das várias dezenas de contas Nextel abertas nos EUA.
Mas com um pormenor.
Fazia-o tranquilamente. Usando todos os nomes e números corretos. Dizendo tudo explicita e minuciosamente como se estivesse numa sala entre amigos (onde ele julgava de fato estar). De tal modo que mesmo neste paraíso dos advogados de bandidos que é o Brasil, será muito difícil dar o dito por não dito e tirá-lo da prisão ou manter fora dela os seus principais interlocutores.
O resto é apenas o óbvio.
A roubalheira está onde o governo está. E sendo mais de 80% dos governos do PT ou dos sócios do PT, é assim que se distribuem os negócios das organizações Cachoeira.
Não demorou nada para que, de Demostenes e Perillo, saltássemos para Agnelo e - tchã, tchã, tchan tchaan - Fernando Cavendish, o rei do Rio, o rei da Copa, o rei da Olimpíada, o "brother" do Cabral, unha e carne com Agnelo Queiroz; o rei do lixo de Brasília e a sua famigerada e onipresente Construtora Delta.
E Fernando Cavendish, quem diria, é também o rei do PAC da Dilma!
R$ 884 milhões só no ano de 2011!
A gravação mostra o tipo de cavalheiro de fino trato que o sr. Cavendish é. E, pelo jeito, é mais falastrão que o boquirroto do Cachoeira...
Xii, seu Lula! Vai dar merda!
16 de abril de 2012

FOLHA DIZ QUE ESTRATÉGIA DO PT E DENEGRIR O PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA, NOMEADO POR LULA

Reportagem de Natuza Nery e Valdo Cruz, na Folha, revela que petistas que negociam a criação da CPI do Cachoeira querem transformar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em um dos focos das denúncias.

O objetivo é cobrar explicações do procurador sobre o fato de ele não ter começado a investigar políticos ligados ao empresário Carlinhos Cachoeira três anos atrás.

O PT avalia que Gurgel segurou a investigação desde 2009, o que teria beneficiado os suspeitos na Operação Monte Carlo, deflagrada pela Polícia Federal em fevereiro. Naquele ano, estava em curso uma operação da PF que precedeu e baseou a Monte Carlo, chamada Vegas. Ela também investigava Cachoeira e resvalou em suas ligações com políticos com foro privilegiado.
Por isso ela foi encaminhada à Procuradoria-Geral da República, que tem a competência de processá-los criminalmente, mas não abriu apuração no Supremo Tribunal Federal.

Petistas enxergam na suposta omissão uma oportunidade de constranger e desgastar o procurador num momento-chave: o julgamento do processo do mensalão, previsto para este ano. No plenário do Supremo, caberá a Gurgel sustentar as alegações da acusação contra os réus do mensalão.
A cúpula do PT não esconde a irritação com o procurador desde o ano passado, quando ele encaminhou à corte as alegações finais do processo, defendendo a condenação de 36 réus. Petistas reclamaram do excesso de adjetivação do documento.

A CPI do Cachoeira deve ser criada na próxima terça para apurar o envolvimento de agentes públicos e privados com o empresário. Por iniciativa do PT, a comissão vai investigar as duas operações, a Monte Carlo e a Vegas.
Nos bastidores, líderes petistas e integrantes do governo chegam a levantar, no limite, a hipótese de um processo de impeachment contra Gurgel, caso fique provado que ele segurou deliberadamente a investigação por algum eventual interesse político no episódio.

Procurada, a assessoria de imprensa da Procuradoria justificou a decisão do órgão, afirmando que, no momento em que recebeu o material, o procurador-geral fez uma avaliação preliminar e verificou não haver elementos suficientes para nenhuma iniciativa do STF, optando como estratégia de atuação “sobrestar [suspender] o caso”.

Ainda segundo a assessoria, com isso se evitou que fosse revelada a investigação relativa a pessoas não detentoras de foro privilegiado, podendo inviabilizar o curso da Monte Carlo.

16 de fevereirode 2012

PÁTRIA E MORTE





Perto do final da Segunda Guerra, quando a invasão do Japão por tropas dos Estados Unidos parecia iminente, o vice-almirante Onishi Takijiro criou as Unidades Especiais de Ataque por Choque. Elas incluíam aviões comandados por pilotos kamikazes, os tokkōtai, que deveriam produzir o milagre da defesa da nação, cercada de porta-aviões inimigos tidos como indestrutíveis. Para tanto, os pilotos suicidas deveriam conduzir um avião carregado de explosivos a um choque direto e devastador contra um navio inimigo.

Quando a operação tokkōtai foi criada, em outubro de 1944, nem um único oficial treinado nas academias militares japonesas se apresentou como piloto voluntário – todos sabiam que se tratava de missões suicidas.
Os “voluntários” foram perto de 3 mil “meninos-soldados”, nome dado às levas de adolescentes recém-recrutados como parte do esforço de guerra. Outros mil eram “soldados-estudantes”, universitários formados às pressas pelo governo para entrar nas fileiras militares.

Os soldados-estudantes formavam um grupo excepcional. Eles eram cosmopolitas e cultos, dados a reflexões profundas, fruto do exigente currículo escolar japonês. Era obrigatório o estudo de duas línguas estrangeiras, além do latim. Quem tivesse optado pelo alemão, por exemplo, recebia como dever de casa, já na primeira aula, ler Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe. E no original, antes mesmo de o aluno ter sido apresentado ao alfabeto romano. Também era avaliada a leitura da Crítica da Razão Pura, de Immanuel Kant. O fato de o aluno não entender quase nada, e ser obrigado a reler o texto à exaustão, destinava-se a torná-lo consciente de sua ignorância e do quanto deveria estudar.

Outra característica fundamental: enquanto os soldados alemães eram treinados para matar, os japoneses eram adestrados para morrer. Rendição, fuga, rebeldia, qualquer ato para salvar a vida diante da derrota incontornável eram punidos com a morte. Todo soldado que desobedecesse ao regulamento militar, ou a alguma ordem de superior, era fuzilado na hora. E uma ofensa dessa natureza podia levar à punição dos parentes imediatos do soldado.
Como primeira lição, o soldado-estudante aprendia a usar o rifle para se matar antes de ser capturado. Era-lhe ensinado a acionar o gatilho usando o dedão do pé – tendo por alvo um ponto preciso abaixo do queixo, para a morte ser instantânea.

Ser piloto tokkōtai significava morte certa, e por isso a oficialidade de alta patente imprimiu-lhe a falsa característica de voluntariado. Na maioria das vezes, todos os membros de uma unidade eram convocados a se apresentar num salão comum. Convidavam-se os recrutas a dar um passo à frente caso quisessem aderir à honra de dar a vida pela pátria. Ou o inverso: aqueles que não quisessem se tornar pilotos suicidas deveriam dar um passo à frente. Poucos resistiam à pressão.

O retrato idealizado desses jovens, promovido pelo governo militar da época, corresponde ainda hoje ao estereótipo do kamikaze – eles são vistos como a encarnação moderna dos bravos guerreiros, honrados por poderem se sacrificar pelo imperador.
Kamikaze Diaries: Reflections of Japanese Student Soldiers, livro da acadêmica americana Emiko Ohnuki-Tierney,corrige essa distorção. A seguir, trechos desses diários.

SASAKI HACHIRŌ

O pai de Sasaki Hachirōfez o possível para dissuadir o filho de ser voluntário para a missão de piloto kamikaze. Não tendo conseguido, jamais voltou a lhe dirigir a palavra. Mesmo quando Hachirō, com 22 anos de idade, veio se despedir, o pai saiu de casa e só retornou na manhã seguinte. Terminada a guerra, a família recebeu uma notificação da morte de Hachirō, junto com uma medalha e uma pequena soma de dinheiro. Sem dizer nenhuma palavra, o pai pegou o dinheiro, foi até uma loja de bebidas, comprou saquê e o bebeu sozinho.

10 de fevereiro de 1940_Finalmente invadimos Cingapura. O número de vítimas civis deve ter sido grande. Crueldade da guerra. Cega a esse tipo de questões, a história continua sua marcha diária.

13 de abril_Soa a sentimentalismo, mas, se você precisa morrer, que seja de forma bela.

12 de outubro_O idealismo não é nem uma ideologia fixa nem uma autoridade absoluta.

1º de novembro_Para quem vive no século XX, é preciso saber encontrar a síntese entre o mais passivo e o mais agressivo polo de racionalismo e ativismo... O racionalismo é por demais objetivo e o ativismo, subjetivo em demasia. Como sustenta Heidegger, estamos na história. Ela não nos precede quando nela adentramos. A partir do momento em que nascemos, estamos na história. Somos o sujeito que vive no objeto. (...)
(...)Prefiro pensar que “inevitabilidade” é mais importante do que “necessidade”. Devemos sempre nos empenhar em stirb und werde! [“morra e seja”, ou crescimento por meio da morte]. Estou sinceramente feliz por estar vivo... O que mais importa é a liberdade da vontade, liberdade de espírito em meio ao caos do presente... Obediência cega sem vontade livre não constitui uma resposta ao nosso caos.

16 de abril de 1941_Quantos realmente morrem de “morte trágica” nessa guerra? Estou convencido de haver várias mortes cômicas disfarçadas de mortes trágicas. À primeira vista, ambas são iguais. Mas mortes cômicas camufladas de trágicas não deixam transparecer a alegria de uma vida. Estão cobertas de agonia sem valor ou sentido. Ou seja, são duplamente negativas, o que as torna cômicas.

14 de setembro_Foi anunciado que todos os japoneses devem trabalhar em indústrias vitais para o esforço de guerra. Isso significa que há pessoas saboreando néctar enquanto ignoram o esforço árduo e a humanidade dos japoneses. O que é patriotismo? Como tolerar a matança de milhões de pessoas e a privação de liberdades básicas de bilhões de outras por causa de noções abstratas como patriotismo e pátria?

9 de dezembro_Não consigo me sentir eufórico com as vitórias do Japão na guerra. Sinto ansiedade. Também me preocupo com os rumos do capitalismo depois do fim da guerra.

15 de dezembro_Dado que vivobem, sob a benevolência da nação deste imperador, não me recusaria a me alistar, se chamado. Não sou fraco a ponto de me sentir esmagado pela guerra. Mas faço questão de declarar minha oposição a todas as guerras.

26 de janeiro de 1942_Sei que posso morrer a qualquer momento, e por isso deixo tudo o que é meu arrumado; vivo uma vida organizada e tiro fotografias para a posteridade.

1º de março_Hoje presto exame de admissão para economia na Universidade de Tóquio. Usei meu uniforme de sempre, mas minhas roupas íntimas estavam limpas e novas. Acho que escrevi um ensaio singular sobre a questão da nossa história e da história do Ocidente. Também acho que fui bastante audacioso na resposta sobre a crítica literária contemporânea. Portanto, não sei como serei avaliado. Em retrospecto, penso que poderia ter me saído melhor, mas se for reprovado isso significa que eles não têm a mais vaga ideia do meu potencial. Uma das perguntas foi tirada da obra de Tanabe Hajime, Rekishiteki-geniitsu [Realidade Histórica, sem edição em português]. Fico deprimido ao pensar o quanto esse livro me impressionou no passado. Ele é dogmático e cheio de fios soltos. Não é nada além de raciocínio vazio.

4 de março_Achei uma aranha minúscula dentro do meu livro. Num impulso de malvadeza, aproximei meu cigarro da aranha, que se pôs a correr freneticamente. Coloquei o cigarro aceso à sua frente, ela mudou de rota. Repeti o ato várias vezes até a aranha se imobilizar. Deixei-a sossegada por um tempo. Num novo impulso, aproximei o cigarro aceso por cima, e ela voltou a correr. Continuamos assim por uns dois minutos. Ela então cansou, encolheu as pernas e tornou-se imóvel mesmo sem ter sido tocada pela brasa do cigarro.
É possível que, para essa aranha, o tamanho do livro seja o do Japão, e cinco minutos sejam cinco ou dez anos. Durante esse período, e nesse espaço, onde quer que ela fosse, havia fogo. E quando ela parou, o fogo veio de cima... Se isso acontecer a um ser humano, ele enlouquece. A aranha não entendia de onde vinha aquela chama. Seres humanos também perdem.
Desejo me tornar um homem capaz, mesmo que a grande custo. Capaz de identificar objetivamente a causa do problema, e transmitir esse conhecimento à geração seguinte. Feito isso, posso morrer. Através da alegoria da aranha traço um retrato doloroso do povo japonês nestes tempos de guerra – sem entender o que ocorre, ele corre sem rumo, em busca de uma saída para a situação impossível causada pela guerra.

Abril_Os militares: bando de loucos!

Junho_Todos os livros escritos pelos marxistas [japoneses] são demagógicos, combativos ou parecem ensaios de estudantes secundários que descobriram a filosofia. Perdi a ingenuidade de me deixar levar nessa demagogia. Lamento por Marx ser divulgado através desses sujeitos.

Abril de 1943_[A notícia da morte do almirante Yamamoto Isoroku angustia Sasaki. Yamamoto opusera-se inicialmente à entrada do Japão na guerra, argumentando que o país não aguentaria seis meses, mas acabou designado para comandar o ataque a Pearl Harbor. Seu bombardeiro Mitsubishi “Betty” foi derrubado por caças americanos numa emboscada, causando profunda comoção à nação. Sasaki pensa em se apresentar como piloto suicida voluntário e morrer.] Sou um mero ser humano. Por vezes, meu peito explode de excitação quando imagino o dia em que vou decolar rumo ao céu. Treinei corpo e alma o quanto pude, e anseio pela chegada do dia de usar em combate todo o meu potencial. Minha vida e morte pertencem à missão. Mas há vezes em que invejo os estudantes de ciências que continuam em casa, isentos do serviço militar. Invejo os que se tornarão bibliotecários, engenheiros ou médicos, e escaparam do recrutamento. Sou atraído pela minha segunda alma terrena. Tenho duas almas escondidas dentro de mim, e cada uma desponta com os estímulos externos da minha mente. Uma de minhas almas olha para o céu, enquanto a outra sente atração pela terra. Gostaria de me alistar na Marinha o quanto antes, para poder me dedicar à minha tarefa. Tomara que passem logo os dias em que me sinto atormentado por pensamentos tolos.

11 de junho_[O desembarque das tropas americanas na ilha Attu desencadeia um longo solilóquio de Sasaki Hachirōsobre marxismo e capitalismo.] Vejo sinais de um novo ethos para uma nova era. Se o poder do velho capitalismo é algo do qual não conseguimos nos libertar a menos que ele seja esmagado pela guerra, estaremos transformando um desastre num fato positivo. Estamos em busca de uma fênix saída das cinzas. Mesmo que o Japão sofra uma ou duas derrotas, ele não será destruído se conseguir sobreviver. Não sou pessimista, mas não podemos negar a realidade. Temos de olhar para frente, superar os tempos difíceis. Nesta encruzilhada crítica da história, não podemos deixar que velhos capitalistas e militares irracionais se agarrem ao velho regime. Nós, os jovens, precisamos arcar com a responsabilidade de fazer nascer um novo mundo.

Novembro_Não sei se esperam que eu vença esta guerra, mas vou lutar o quanto puder... Rezo para que chegue logo o dia em que possamos saudar um mundo no qual não devamos matar inimigos que não conseguimos odiar. Para esse fim, estou disposto a ter meu corpo destroçado inúmeras vezes.

Dezembro de 1944_Finalmente vou para a Marinha. Treinei meu corpo praticando natação, ginástica e tiro ao alvo. Sinto-me confiante na minha força. Devemos agora tornar-nos escudos para garantir vida eterna à nossa nação e prevenir o avanço do inimigo. Meus estudos universitários são importantes, mas a disciplina que escolhi (economia), que é pragmática e socialmente relevante, será mais bem exercida se eu tiver um treinamento militar. E, mesmo que eu venha a tombar, a sociedade não depende de um só indivíduo.

20 de fevereiro de 1945_[Todos os soldados-estudantes foram reunidos num saguão da Universidade Imperial de Tóquio e “convidados” a se inscrever na lista de pilotos suicidas “voluntários”.]

14 de abril_[Sasaki Hachirōmorre aos 22 anos e 9 meses de idade.]


HAYASHI TADAO

O diário manuscrito de Hayashi Tadao foi compilado e editado por seu irmão mais velho, Katsuya, vários anos após o fim da guerra. As forças de ocupação americanas haviam imposto uma rígida censura ao Japão. Diários como o de Tadao eram confiscados. O irmão de Hayashi também quis dar tempo para que os próprios japoneses começassem a compreender o envolvimento do país na Segunda Guerra Mundial. E o porquê de se ter enviado tantos jovens universitários para a morte.
Os irmãos Hayashi e Katsuda compartilhavam o apego ao comunismo, à música clássica ocidental, à filosofia e a discussões sobre vida e morte. Pouco depois da guerra, a família recebeu uma caixa de madeira com a inscrição “A Heroica Alma do Saudoso Hayashi Tadao”. No lugar das cinzas, em uma pequena folha de papel branco havia as palavras “restos mortais” (ikotsu) escritas em caligrafia nobre.

6 de abril de 1940_À noite leio Debaixo das Rodas, de Hermann Hesse. A jovem alma [o personagem Hans Giebenrath] procura crescer contra a opressão do sistema educacional do mosteiro. Ele abandona o mosteiro e tenta seguir seu próprio caminho. Mas Hans adoece. A beleza e a efemeridade do seu espírito e alma levam ao triste final de sua vida. A corrente subterrânea da impermanência. Sopro de crescimento, bela mas frágil alma da juventude, e morte.

15 de abril_Dominar o idioma inglês e identificar um princípio que me guiará intelectualmente – o liberalismo – são duas tarefas importantes da minha busca. Me pergunto em vão: “Quanto tempo vou viver?”

23 de maio_Sigo uma agenda diária que me impus: ler cinco páginas em inglês e 100 em japonês... Durante meus anos de colegial me proponho a ler 300 livros em japonês, quinze em inglês [além dos do currículo escolar] e melhorar meu condicionamento físico com trinta minutos de exercícios diários. Não ler enquanto descanso.

19 de abril de 1941_A indulgência com emoções e o erótico tem sua razão de ser. Mesmo que não passe de uma união entre dois corpos, o ser humano está destinado a sentir que não pode viver sem a companhia de outro ser humano. É claro que o erotismo não brota apenas da solidão. Algo mais leva ao desejo de companhia. Mas talvez essa interpretação sirva apenas para estetizar o erotismo...

22 de junho_[A propósito da declaração de guerra da Alemanha à União Soviética.]O que vai acontecer com o Japão? A morte é imoral e viver é absolutamente moral.

31 de agosto_Japão, por que eu não te amo e não te respeito?

12 de outubro_A nação é uma entidade com enorme poder de controle.Não posso mais elogiar minha pátria. A guerra não se destina a proteger o país, mas é o resultado inevitável da forma como o Japão se desenvolveu como nação. Sinto que devo aceitar o destino da minha geração, lutar na guerra e morrer. Chamo isso de “destino”, uma vez que somos mandados ao campo de batalha para morrer sem podermos expressar nossas opiniões, criticar e dar argumentos a favor ou contra. Morrer na guerra, morrer sob a demanda da nação – não tenho a menor intenção de elogiar esse estado de coisas. Trata-se de uma grande tragédia.

20 de janeiro de 1942_Uma frase de Jean-Christophe [obra que valeu o Nobel de Literatura ao romancista francês Romain Rolland] me tocou fundo: “A vida consiste em uma batalha contínua e sem trégua. Se você quer se tornar um ser humano honrado, precisa lutar contra inimigos invisíveis, desastres naturais, desejos avassaladores, pensamentos sombrios; tudo o que engana a pessoa, a diminui, a destrói.”

18 de junho_Assisti a uma palestra do professor Tanabe Hajime [venerado membro da Escola de Filosofia de Kyoto]. Sua voz era tão miúda que ficou quase inaudível. Em suma, ele disse que “a filosofia é um treinamento para a morte. A realidade demanda a morte, isto é, o sacrifício da própria vida. Não se morre de acordo com a própria vontade”.

30 de setembro_Preciso ser sincero. O desejo sexual é doloroso. Olho para mim, tomado pela vontade de união física. Em seguida combato o impulso como se fosse sujo e feio, resultado da minha raiva por não satisfazer o desejo. Por outro lado, sonho em aspirar o cheiro do suor [de uma amante] que excita, o cheiro do corpo do sexo oposto, o toque em um corpo quente, a euforia do enlace de duas pessoas apaixonadas se descobrindo, sem o sentimento da vergonha, a dança selvagem do ato, o adormecer abraçado e a doce sensação de despertar a seu lado – são todas imagens que me atormentam. Luto diariamente com esta dor. Preciso assumir o controle sobre mim!

21 de maio de 1943_Outra palestra do professor T. Ele explicou que a Escola Estoica considera a morte um fenômeno natural, não controlável por nossa vontade, enquanto o existencialismo de Heidegger vê a morte como uma possibilidade realista – a possibilidade de renascer que deriva da nossa habilidade de encarar a morte. De acordo com o professor, nossa única salvação é sabermos que devemos morrer, que devemos viver nossas vidas preparados para mergulhar na morte a qualquer momento. A morte não é Sein [ser, em alemão], mas Sollen [dever ser]. Ele prosseguiu dizendo que a humanidade e Deus não entram em contato direto. São as nações que medeiam entre os dois. Devemos fazer o possível para manter os três conectados.

16 de junho_Ao ler Em Torno de uma Vida: Memórias de um Revolucionário [de Piotr Kropotkin, o anarquista], fiquei tocado pela força espiritual dos russos, em especial pelas mulheres da Rússia pré-revolucionária. Apesar de perseguidas pelo regime, elas procuraram obter conhecimento; algumas se aventuraram no exterior e acabaram por encontrar uma faculdade de medicina para mulheres. Nelas encontro o verdadeiro caráter dos russos. Nossa tendência, quando pensamos no povo russo, é evocar a imagem do miserável mundo descrito por Dostoiévski em Recordações da Casa dos Mortos, mas a intensa busca intelectual da verdade também existiu.

1º de dezembro_[Entre 200 mil e 300 mil estudantes foram convocados para a guerra. O número exato permanece incerto.]

9 de dezembro_[Entre os 63 mil jovens enviados para a base naval de Takeyama, em Yokosuka, estava Hayashi Tadao.]

19 de dezembro_Os dias passam rápido. Ainda assim, cada dia parece longo... Não se pode lutar sozinho em guerras modernas. Cada um se torna uma peça da roda. Como estou convencido de que esta guerra é uma Totalkrieg [guerra total], devo concordar com cada etapa necessária.

25 de dezembro_Estou decidido a manter meu diário. Mas o Geist [Espírito] precisa permanecer livre. Dado que procuramos manter a liberdade de espírito, nos sentimos controlados. Por sermos responsáveis pela proteção do país, devemos ter a firme convicção de pro patria mori, trabalhar nossa força física e dominar nossas qualificações técnicas.

1º de janeiro de 1944_Talvez o que nos espera seja uma funda desilusão e, para nossa sociedade, uma anarquia insidiosa. Sonho em me alongar sobre as ondas do mar num dia ensolarado de primavera para me intoxicar com pensamentos soltos enquanto meu corpo se solta à deriva na água... De repente, me vem à mente uma cena de Casa dos Mortos – no entardecer de um dia de verão de céu esbranquiçado, os prisioneiros são empurrados para dentro das celas.
Vivo na solidão.

3 de janeiro_Não fujo do sacrifício. Mas martírio e sacrifício devem ser feitos no auge da realização pessoal. Sacrifício ao término do autoaniquilamento, da dissolução do seu ser, não tem nenhum significado.

22 de janeiro_Os militares exterminam a paixão e transformam o ser humano numa peça que gira uma roda mecanicamente.

23 de janeiro_Estamos todos pessimistas quanto à possibilidade de voltar para casa. Se eu não conseguir sair da Marinha, vou enlouquecer. No momento eu só quero ler livros e nesse estado de espírito não vou conseguir lutar na guerra... Não tenho paixão. Sinto perda e indiferença. Não me importa o que venha a acontecer. O sentimento mais penoso e insuportável deriva dessa vida de forçada indiferença. A parte dura não é morrer, é viver.

28 de janeiro_[Hayashi Tadao é selecionado para piloto reserva e transferido para a base naval de Tsuchiura, notória pelo tratamento brutal conferido aos soldados.]

8 de maio_O individualismo não é um mero “ismo”, mas um princípio inato do ser humano. Realmente odeio os militares. A única utilidade que reconheço neles é o seu papel de protetor do nosso Volk [povo, em alemão].

19 de maio_Sinto-me cada vez mais atraído pela solidão, preces, dívida e responsabilidade social, mas nenhum sentimento de amor, que me parece remoto demais no momento.

2 de junho_Acabo de ouvir a Nona de Beethoven. Me tocou profundamente. Intensificou meu desejo de ler livros.

8 de junho_Prevejo a queda de Paris para dentro de um mês e meio. Agora começa o contra-ataque inimigo, com sua acachapante superioridade bélica. A catastrófica etapa descrita em Nada de Novo no Front [romance pacifista de Erich Maria Remarque sobre a Primeira Guerra Mundial] se aproxima.

16 de junho_Ataques aéreos contra Saipan, ilhas de Tinian e Bonin. A situação é muito tensa, mas para mim tanto faz o Japão ser destruído. É por demais tedioso ficar esperando.

20 de junho_Minha alma treme diante da tapeçaria literária de Tonio Kröger, de Thomas Mann, com sua pitada de solidão, sensibilidade aguda e uma sublimidade quase ameaçadora.

8 de julho_É pouco provável que eu consiga obter O Estado e a Revolução, de Lênin. Meu plano, então, é memorizar A Última, de Wilhelm Schmidtbonn, e O Apóstolo, de Rilke.

14 de Julho_Hoje encerro meu diário, fruto da minha empobrecida vida espiritual. Eu, confusão e anarquia, estou reduzido a isso. O que me atrai são questões sobre a natureza da sociedade moderna. Neste diário eu expus minhas fraquezas. Este misérable humano na sua totalidade está aqui retratado. Escrever o diário foi uma forma de encontrar algum sentido para mim.
O que desejaria, para mim, é andar pelas ruas de Moscou com uma boina na cabeça, estudar economia e política internacional numa Bibliothek alemã ou me envolver numa análise teórica dos rumos a serem tomados pelo Japão. Se eu viver, é o que farei. Se eu morrer, terá sido um mero sonho. Gostaria de pensar neste diário como o primeiro capítulo do registro de um ser humano que tinha um grande sonho, mas que não encontrou uma solução. Tentei como pude realizar este sonho. Fim.

Final de maio de 1945_[Antes de ser transferido para a base aeronaval de Miho, Hayashi Tadao implorou ao irmão que lhe emprestasse O Estado e a Revolução, de Lênin, à época proibido no Japão. O irmão conseguiu fazer-lhe chegar a obra e Hayashi Tadao lhe contou ter lido, página por página, no banheiro. A cada vez, rasgava a nova página em pedacinhos e a fazia sumir na privada. Houve vezes em que engoliu os pedacinhos.]

30 de maio_[Última carta à mãe.] Mãe. Quantas vezes você falou que viveríamos em Kyoto depois da minha formatura da faculdade... Kyoto é realmente uma cidade pacífica e plebeia. Você e eu – não há lugar melhor para vivermos juntos e continuarmos a nos aprimorar. Mãe, já não há esperança de vivermos juntos agora que fomos arrastados pelo redemoinho do tumulto mundial. Como você viverá? De qual força moral poderá você depender para a continuação da vida? Minha pobre mãe.

27 de julho_Entardecer, o momento mais belo... Sem avisar, milhões de imagens aparecem e desaparecem. Amado povo. Como é doloroso morrer no céu.

28 de julho_[Hayashi Tadao morreu aos 24 anos, já depois da rendição aos americanos. Seu avião explodiu numa noite enluarada.]


KASUkA TAKEO

Apesar da publicação de inúmeros testamentos, fotos e filmes mostrando jovens pilotos sorridentes fazendo o último aceno antes de decolar para a derradeira missão, um raro relato de como transcorria a noite de véspera mostra uma história inteiramente diversa. Kasuka Takeo tinha 86 anos em junho de 1995 quando narrou o que viu, numa noite como aquela. Durante a guerra, Kasuka Takeo tinha por tarefa cuidar das refeições, da lavanderia, da faxina e de outros trabalhos manuais para os pilotos tokkōtai da base aeronaval de Tsuchiura. Eis o trecho da carta enviada a um amigo:

No salão onde ocorriam as festas de despedida, os jovens oficiais estudantes bebiam saquê frio. Alguns engoliam o copo de um só trago. Outros sorviam grandes quantidades em goles consecutivos. O local se transformava em caos. Alguns quebravam lâmpadas com suas espadas. Outros arremessavam cadeiras contras as janelas e rasgavam as toalhas de mesa. Um misto de hinos militares com xingamentos enchia o salão. Enquanto alguns vociferavam em fúria, outros soluçavam. Era a última noite de suas vidas. Embora, para todos os efeitos, estivessem prontos a sacrificar sua preciosa juventude ao alvorecer, em nome do imperador e do Japão, eles estavam dilacerados – uns repousavam a cabeça na mesa, outros escreviam testamentos ou juntavam as palmas das mãos em meditação, ou dançavam feito alucinados. Na manhã seguinte, todos decolaram portando a faixa com o sol nascente na fronte.


NAKAO TAKENORI

Nascido em Fukuoka, numa família de classe média-alta, Nakao Takenori estudava direito na Universidade de Tóquio quando foi convocado para a guerra, em dezembro de 1943, aos 19 anos de idade.
Em 1997, seu irmão caçula publicou Registro de uma Busca Espiritual: Diário Manuscrito Deixado por Nakao Takenori, um Estudante que Morreu na Guerra. Com mais de 700 páginas, nele ficam evidentes a procura de um sentido para a vida e o desejo de ser “puro”, livre de qualquer materialismo ou egoísmo. A busca da mulher ideal também permeia os escritos de Nakao Takenori. Seu conhecimento de textos filosóficos em grego e latim, além de literatura alemã e francesa, era profundo.

Agosto de 1939_Embora Hitler e Napoleão tenham guerreado para expandir seus territórios nacionais, do ponto de vista histórico eles são apenas a ascensão e queda de um povo. Seres humanos nascem para a morte. Somos apenas um ciclo histórico. A história se repete. Qual o verdadeiro sentido do universo?

Dezembro_Ameaçar a vida de um inocente jamais deveria ser permitido. Do ponto de vista dos militares, porém, isso não importa, pois a única coisa que conta para eles é a honra. Eles não questionam o que é ou não verdade, apenas enchem o ar de mentiras.
Devo ingressar no mundo do caos em que interesses partidários obstruem a justiça? Não gostaria de fazer parte do mundo que aprimora a justiça somente para os burocratas e aumenta o poder dos militares. Prefiro me manter à margem e, como Zola [Émile Zola, autor de J’Accuse, panfleto de 1898 em defesa do oficial francês Alfred Dreyfus, de raiz judaica, acusado injustamente de traição], orientar a nação em direção à justiça e à verdade.

Abril de 1940_Sócrates foi forte. Sempre se opôs aos hipócritas e manteve seu sentido de justiça. Sinto não ser tão forte como ele.

Maio_Vejo tudo cinza. Desesperança e melancolia sem perspectiva de melhora. Não estou certo de conseguir suportar a exaustão física e mental. Devo simplesmente morrer, sem haver qualquer sentido à minha vida? Sinto como se tudo fosse desmoronar repentinamente.

Abril de 1941_Muitos estudantes aceitam o seu destino, aceitam a necessidade de lutar mesmo diante da matança cruel. Sacrificam as próprias vidas pela pátria e morrem abençoando suas mães e irmãos. É espantoso. Talvez seja esse o espírito que hoje torna a Alemanha vitoriosa. [Nakao Takenori acabara de ler uma coleção de cartas escritas por soldados-estudantes alemães da Primeira Guerra Mundial.]

Abril de 1943_Estamos lutando contra a Inglaterra, esse grande império em declínio, e contra uma América que está no ápice de sua cultura material. Embora eu ainda não esteja no campo de batalha físico, já me considero dentro. Eu, que procuro e amo o absoluto, devo me sacrificar pela pátria... Será o “absoluto” encontrável neste sacrifício?
Não consigo não me debater com esta contradição... Eu, que cheguei a conhecer a profundidade da vida e a viver essa vida, devo me sacrificar pelo país uma vez que é esse meu destino? Persigo a verdade, a duras penas.

28 de abril de 1945_[Última carta endereçada aos pais.] Na festa de despedida o pessoal me deu forças. Também me esforcei para me encorajar. Sinto-me uma pessoa feliz. Posso ir ao encontro da morte na certeza de ter recebido tratamento sincero de quem eu tratei bem... Meu copiloto é Uno Shigero, um garoto bacana de 19 anos... Ele me considera seu irmão mais velho e eu o vejo como meu irmão caçula. Unidos por um mesmo pulsar de coração, vamos mergulhar num navio inimigo. Uma foto minha, que tirei recentemente, ficará pronta em pouco tempo. Ela será enviada a vocês.

29 de abril_[Nakao e Uno decolam para a missão suicida, mas são forçados a retornar à base por mau funcionamento do avião.]

5 de maio_[Os pais de Nakao vão até a base naval de Takuma para ver o filho, mas são informados de que ele já havia sido transferido para outra base; não foram informados de que ele tinha morrido na véspera, ao mergulhar na batalha de Okinawa.]


HAYASHI ICHIZŌ

Nascido numa família cristã de cultura refinada, Hayashi Ichizōse formou pela Universidade Imperial de Kyoto e foi alistado aos 21 anos. Dois anos depois, foi selecionado como piloto tokkōtai. Em menos de dois meses partiu para sua missão final. Todos os trechos de seu diário datam de 1945, quando já estava aquartelado na base naval de Wŏnsan, na Coreia ocupada.

9 de janeiro de 1945_Ganhei um caderno novo e vou começar a escrever meu diário... Embora nossa missão seja lutar, é frustrante ficar esperando... Mais um dia sem poder decolar... Provavelmente não poderei ir à frente de combate antes do florescer das cerejeiras, nem quando elas já tiverem murchado.

22 de fevereiro_[Data em que foi designado para uma unidade tokkōtai.] Devemos seguir a expressão “Sob as ordens de Sua Majestade”. Recebemos a locação da nossa morte. Devemos simplesmente mergulhar com o avião. Seres humanos são dotados da capacidade de perdoar.

23 de fevereiro_Tenho tido tanto medo da morte, mas ela já foi decidida por nós...Quando penso na minha mãe, não consigo não chorar. Sei que tentarão consolá-la, mas sei que não será fácil aliviar sua dor. Choro muito ao pensar nela...
Tenho a sorte de crer em Deus, e minha mãe também. Embora eu vá morrer, sonho com o nosso reencontro... Tenho a forte esperança de que nosso país irá superar esta crise e haverá de prosperar. Não suportaria a ideia de a nossa pátria ser esmagada pelo inimigo sujo.
Para ser sincero, não posso afirmar que o desejo de morrer pelo imperador seja genuíno, que ele venha do fundo do coração. Mas foi decidido assim.
Não terei medo no momento da morte. Tenho medo do quanto o medo da morte perturba a minha vida.

4 de março_O motivo pelo qual ando pensando em suicídio é porque a morte em combate significa o meu completo aniquilamento, impedindo que eu contribua para a sociedade, que eu empreenda algo. É fácil falar de morte no abstrato, como nas discussões dos filósofos da Antiguidade. É a morte real que temo e não sei se poderei superar este medo.

19 de março_Gostaria de fazer alguma diferença no mundo. Não nego que parte desse desejo deriva da minha vontade de ter a existência reconhecida. Mas sobretudo ele deriva do vazio que sinto e da minha ira com os chamados líderes, que são incapazes de reconhecer problemas que até eu consigo identificar.
Os militares que ocupam altos postos estão cometendo um pecado que não pode ser desculpado: estão matando crianças e civis inocentes na China.
Não tenho mais tempo para fugir... Desta vez não vou tentar escapar.

21 de março_Com os preparativos para a decolagem final sinto um peso dentro de mim. Acho que não conseguirei olhar a morte na cara.
Desespero, desespero é pecado.

Abril_[A missão final de Hayashi Ichizōfoi abortada devido ao mau funcionamento do seu avião. Isso permitiu que ainda escrevesse mais três “cartas de despedida” à mãe.] Hoje metade de nossa unidade mergulhou sobre navios inimigos ao largo de Okinawa. Não temos luz, por isso escrevo perto de uma fogueira.
Mando lembranças a todos. Não me resta tempo para escrever-lhes. Vamos afundar navios inimigos. O uniforme de um piloto tokkōtai para sua última missão inclui uma bandana com o sol nascente e uma echarpe de seda branca em volta do pescoço... Para meu último voo vou enrolar no meu corpo a bandeira do Sol Nascente que você me deu e vou colocar uma foto sua no peito... Quando você ouvir pelo rádio que navios inimigos foram afundados, por favor lembre que mergulhei em um deles.
Amanhã não estarei mais vivo. Os que saíram em missão ontem estão todos mortos? Não consigo crer que seja real. Sinto como se fossem retornar de repente. Você talvez pense a mesma coisa em relação a mim. Mas, por favor, desista. Por favor, chore. Mas, por favor, não fique tão triste.
Parto antes de você. E me pergunto se me será permitido ir para o céu. Ore por mim, mãe. Não suportaria a ideia de ir para um lugar onde você não se juntará a mim mais tarde.
Amanhã mergulho contra uma flotilha de porta-aviões inimigos. Se você fizer um funeral religioso, coloque a data certa: 10 de abril.

por Emiko Ohnuki-Tierney
16 de abril de 2012

DIVULGUEM !!!




O Brasil tem duas opções: ou se manca e sai às ruas contra o arquivamento do mensalão ou aceita de uma vez por todas ser governado pelos companheiros da contravenção.

Aos Senhores Ministros do STF

Fazemos apelo a Vs. Excias. para não permitirem que os CRIMES DO MENSALÃO PRESCREVAM antes do julgamento e que, pedidos de vistas e adiamento que beneficiem os acusados não sejam aceitos por essa Egrégia Corte.
O processo do MENSALÃO está em tramitação há muito tempo.
Deixar que ocorra a PRESCRIÇÃO e que os acusados continuem a se aproveitar da demora para o julgamento, significará para o povo brasileiro a verdadeira oficialização do CRIME e da IMPUNIDADE no Brasil.


16 de abril de 2012
movcc

A ESPETACULARIZAÇÃO DA DOENÇA.

O Sírio — como é conhecido — precisa tomar cuidado, aliás, para não se transformar numa espécie de Sanatório do Poder.

Essa gente completamente indecente não sai da foto de todos os dias para mostrar o macabrismo mental e físico de suas doenças.
Não adianta querer apiedar o Brasil decente e inteligente. Essas imagens comovem apenas os ingênuos que mal conseguem saber o que se passa na passarela do Hospital Sírio Libanês, ao que tudo indica, ser um comitê eleitoral preferido pelo Apedeuta da Silva.
Ficamos emocionalmente abalados quando assistimos o tratamento PRIMITIVO dado aos cidadãos de poucos recursos que precisam do SUS, que Lula enxerga como perfeição dada à saúde no Brasil.
É de cortar o coração ver aquela gente sendo internada em cadeiras e no chão dos corredores por falta de leitos. Agora, imaginem se existe medicação e aparelhos adequados.
A matéria abaixo deve ser lida e refletida pela presidência desse Hospital. Tudo passa, e a decadência total estar por vir, como bem disse o jornalista Reinaldo Azevedo: tudo parece transformar em SANATÓRIO DO PODER. Movcc/Gabriela
A MENTIRA CONTADA PELA FOTO DE LULA E SARNEY NO HOSPITAL. OU: A VERDADEIRA DOENÇA DO BRASIL É O DÉFICIT DE CULTURA DEMOCRÁTICA, NÃO O CÂNCER OU O CORAÇÃO ENTUPIDO.

Essa gente brinca com a nossa generosidade, com o nosso bom senso, com a nossa temperança.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), está internado no Hospital Sírio-Libanês, onde se submeteu a um cateterismo com implantação de um stent.
O Sírio — como é conhecido — precisa tomar cuidado, aliás, para não se transformar numa espécie de Sanatório do Poder. Tenho cá as minhas dúvidas se esse contínuo processo de espetacularização da doença de figurões da República, de que o hospital serve de cenário, faz bem à saúde da instituição, com seus médicos estelares descendo ao térreo para receber autoridades, numa espécie de rendição do sacerdócio da ciência à mundanidade do mando.
Nas coletivas em que se tratava do câncer de Lula, por exemplo, havia mais homens de branco para dar entrevistas do que repórteres para ouvir o que eventualmente tinham a dizer.
Sei que o Sírio é um hospital sério e não estou pondo isso em dúvida. Mas não terá chegado a hora de pôr um freio no excesso de exposição? Uma questão a se pensar. Adiante.
O Apedeuta foi visitar Sarney no leito. E temos, que surpresa!, mais uma foto de Ricardo Stuckert, do Instituto Lula, com a composição, a luz e o enquadramento meticulosamente estudados para remeter, reitero, àquelas imagens da Benetton, tornadas célebres pelo fotógrafo italiano Oliviero Toscani.
AQUI.

16 de abril de 2012
Reinaldo Azevedo - Veja Online

LULA, SARNEY, UMA FOTO NOJENTA E A POBRE SAÚDE DO MARANHÃO

 
Lula mandou na saúde do Brasil durante 8 anos. Sarney manda na saúde do Maranhão há 80 anos. Hoje os dois se encontraram no melhor hospital do Brasil, o Sírio-Libanês, para onde Sarney veio voando em jatinho lá de São Luiz, para fazer um reles cateterismo e mais esta foto abjeta, de pura exploração política, que mostra o canceroso apoiando o cardíaco. Nojentos. Assistam, abaixo, a saúde pública do Maranhão, uma obra conjunta de Lula e Sarney.

SAÚDE DE CHÁVEZ DETERIORA E JURISTAS DO CHAVISMO JÁ PREPARAM "LEI DE EMERGÊNCIA REVOLUCIONÁRIA" QUE SUSPENDERÁ DIREITOS CONSTITUCIONAIS

Lei de Emergência Revolucionária é típica alternativa cubana
O agravamento do estado de saúde do caudilho Hugo Chávez poderia obrigá-lo a separar-se do poder dentro de pouco tempo, considerou o deputado da oposiçaão venezuelana, Miguel Angel Rodriguez, que também advertiu sobre os perigos par a democracia a criação do Comando Anti-Golpe anunciado na semana passada pelo próprio Chávez.
Em declarações muito similares às pronunciadas dias antes pelo ex-embaixador dos Estados Unidos ante a OEA, Roger Noriega, o legislador da oposição afirmou que o país tem dias muito difíceis pela frente e que agora mais do que nunca é necessário que os venezuelanos participem massivamente das eleições de outubro para demonstrar que querem viver em democracia.
"Nós chamamos a atenção sobre a demonstração de que sua saúde [a de Chávez] está em franca deterioração, e chamamos a atenção de que ante a eventualidade de uma falta absoluta [do Presidente],t em que cumprir-se o texto constitucional", declarou Rodriguez durante uma entrevista realizadda pela jornalista Nitu Pérez Osuna, transmitida pelo canal de notícias Globovision.
"Estamos conscientesd do trabalho que estão fazendo civis e militares - a propósito de um plano prévio sobre o qual se debruçam os mais competentes assessores e juristas próximos a Hugo Chávez - para ditar neste tempo uma 'Lei de Emergência Revoucionária'- assinalou o parlamentar.
A advertência sobre o cumprimento do texto constitucional é emitida em meio de advertências de que militares vinculados a Chávez tem desenvolvido um plano de emergência que envolve a suspensão dos direitos constitucionais, que seria posto em prática ante qualquer sinal de agitação política.
Segundo o deputado, a proposta da Lei de Emergência Revolucionária seria utilizada pelo Comando Anti-Golpe anunciado na última sexta-feira por Chávez, para atuar sem nenhum tipo de restrições no caso de que o fundamento político do chavismo se desvanecesse ante uma eventual saída do caudilho da arena política.
Leia reportagem completa AQUI en español

16 de abril de 2012
aluizio amorim

JOSÉ DIRCEU METE A MÃO NA COPA

Segundo o Blog de Josias de Souza, José Maria Marin e José Dirceu jantaram juntos em Paris e de lá voltaram no mesmo vôo da Air France. Marin, agora presidente também do Comitê Organizador Local da Copa, e Dir­ceu, consultor para toda e qualquer obra, porta de entrada eventual para o cartola no governo federal. Ambos foram flagrados na esteira do aeroporto de Guarulhos na manhã do último dia 2, o que permite dizer que saíram da França no 1º de abril, por mais que pareça mentira.
Mas parece mentira mesmo? Parece nada. Faz todo sentido. Para o cartola e para o consul­tor, que não se dá conta de que parcerias que tais não ajudam a melhorar a imagem de quem se queixa de ter sido cassado injustamente e luta para recuperar seus direitos políticos. Porque Marin precisa reabrir em Brasília as portas que Ricardo Teixeira fechou. E Dirceu joga o jogo do poder, pragmático, dane-se a cor do gato, importa que coma o rato. Ou o deixe vivo, bem vivo, se interessante for.
E Marin parece ser, como Boris Berezovsky também parecia quando o russo e o ex-ministro da Casa Civil tricotaram perigosamente nos tristes tempos da MSI/Corinthians. O fenômeno faz parte não de duas faces da mesma moeda, mas da moeda que cai em pé para não distinguir também os petistas dos tucanos, a velha Arena e a parte podre do MDB. Todos na mesma lama, envolvidos com o que há de pior, seja no futebol, no jogo do bicho, bingos, tráfico de influências, empreiteiras ou mega-agências de propaganda. O poder!
E, é claro, a Copa do Mundo no Brasil se presta a que quem esteja por cima, nade de braçada nesta onda, tenha a origem que tiver, seja das lavanderias ou das cachoeiras, importa que jorrem. O inconfidente Tomás Antônio Gonzaga, autor do célebre poema “Marília de Dirceu”, pagou caro por seu idealismo, entre a prisão e o desterro.
Já Marin jamais foi chegado a ideal algum, a não ser ao de se dar bem e tem obtido inegável sucesso. Já Dirceu deixou para trás quaisquer veleidades do gênero, convencido de que a burguesia precisa ser vencida por dentro e que o melhor meio é juntar-se a ela, com um sorriso nos lábios. Como se fosse o John Wayne da piada em que o ator se encontra cercado de índios por todos os lados e alguém lhe pergunta como fez para se safar: “Virei índio também”, responde o cowboy.

Juca Kfouri
16 de abril de 2012
Artigo transcrito da Folha, enviado
pelo jornalista Hildeberto Aleluia

SILENCIARAM O BAIXINHO...

                                                                   
Romário, até agora o deputado com voz de maior ressonância para assuntos do futebol, atento fiscalizador dos desmandos nos gastos públicos com a Copa 2014, mudou de time.
Menos de 24 horas depois de ter declarado “que o Brasil passará vergonha, porque a Copa da mentira onde tudo será maquiado”, Romário aplaudiu nesta quarta-feira o presidente da CBF, José Roberto Marin, ao qual deu crédito explícito.
Depois de um discurso emocionado, em que narrou, inclusive, passagens de sua vida conjugal para demonstrar a importância que assumiu no cenário do futebol mundial, Marin apelou para Romário se juntar à equipe da CBF e fazer “a maior Copa de todos os tempos”.
Quem sabe emocionado com o que ouviu do cartola, Romário foi ao encontro de Marin e estendeu a mão. Depois, sorriu para os fotógrafos e fez a alegria de cinegrafistas.
Era o desfecho de relações opostas e a rendição da última resistência política de combate à CBF,representante dos que pedem jogo aberto e transparência financeira nas contas da Copa 2014.

Esqueceu-se Romário, sabe-se lá o motivo, que Marin era vice de Ricardo Teixeira. Marin integrou a equipe que levou RT sair pela porta dos fundos da CBF. Eram amigos, parceiros fieis que deram sustentação a um esquema suspeitíssimo de corrupção por muitos anos.

Nessa reunião de surpresas, Romário também contribuiu para dar mais alegria aos cartolas. Ao se posicionar na equipe da CBF, reforçou o time paulista que, sabe-se, tem eterna briga com a cartolagem carioca.

Gol duplo do Baixinho, mas cuja atuação deixou órfãos Brasil afora, os que apostavam na sua atuação independente, longe dos poderosos e, principalmente, de espertos cartolas.


Hoje, a CBF não precisa mais de uma “Bancada da Bola” – equipe de parlamentares que tirou Ricardo Teixeira de muito aperto. Mas se ela viesse a ser convocada, seria triste ver o Baixinho alinhado nesse time. Que pena!

16 de abril de 2012
josé cruz

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Realmente, ficamos com aquele sentimento de que poucos podem sobreviver no Reino do Poder.
Fico curioso: o que será que leva pessoas 'relativamente' sérias, a desistirem da maratona da honestidade? Da maratona da transparência?
Qual será o antídoto capaz de imunizar um homem do meio insalubre da política? Veneno de cobra preparado em tacho de bruxaria? Rabo de camaleão com alho poró para evitar mudar de cor? Ou apenas um bom chá de erva vergonha?
Quando imaginava, eu e tantos outros por esse mundão afora, que Romário seria uma espécie de linha maginot, eis que tomba mal se inicia o combate... Nem desconfiei de tanta valentia. Fiquei na 'encolha' olhando pelo desvão, para medir o tempo da resistência. Desconfiança, que já me incomodava, tanto era o discurso do baixinho convincente.
Enfim, não demorou essas coisas... Será apenas mais uma voz consonante com o que há de pior.
m.americo