"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 22 de setembro de 2012

DEMOCRACIA PELO AVESSO

Houve um tempo em que a ameaça ao regime democrático consistia na supressão da informação. O deputado André Vargas, secretário de Comunicação do PT, diz que agora é o contrário: a transmissão de informação é que conspira contra a democracia.

Ele vê na transmissão direta pela TV do julgamento do Mensalão uma distorção antidemocrática.

O fato de grande parte da população assistir às sessões do Supremo Tribunal Federal estaria condicionando o voto dos ministros – e condicionando contra o PT, não obstante quase dois terços dos juízes tenham sido indicados pelos governos do próprio partido.

Vargas, como seus companheiros de partido, parece achar que pior que a censura aos meios de comunicação é a sua liberação. E reclama por medidas punitivas aos jornais e jornalistas.

O ex-deputado José Genoíno chegou a equiparar o trabalho da imprensa ao do Doi-Codi, ao tempo do regime militar – a “tortura da caneta”. Lula insiste em tentativa de golpe.

Quem sabe, a partir desse raciocínio, se decida incluir repórteres e editores como réus da Comissão da Verdade?

Nada mais anômalo que a nota divulgada na quinta-feira pelo PT e seus aliados no Congresso. Além de comparar fatos históricos bem distintos e inarticuláveis – 1954 e 1964 com o julgamento do Mensalão -, põe sob suspeita um dos Poderes da República, o Judiciário, e agride a honra pessoal de cada um dos ministros.

Eles, afinal, seriam cúmplices de uma farsa golpista. O mais estranho é que o julgamento ainda não terminou. Em tese, os juízes podem mudar o seu voto e os advogados ainda dispõem de recursos como os embargos de declaração e de infringência.

Não se tem notícia de um julgamento em que, mesmo antes de se saber seu resultado, os réus e seus correligionários ameaçam com recurso às cortes internacionais, manifestações de rua e acusam os julgadores de violar as leis do país (sem, claro, dizer quais).

O presidente do PT, Rui Falcão, adverte que não se deve acuar o partido porque, nessas ocasiões, ele se fortalece e parte para o ataque. Não disse contra quem, mas não é difícil deduzir.
Para quem queria um julgamento técnico, não deixa de ser uma formidável contradição.

Já o ex-presidente Lula encontrou no silêncio sua eloquência máxima. Diante das espantosas acusações de Marcos Valério a Veja – e Ricardo Noblat informa que há um vídeo, gravado pelo próprio, na sequência do escândalo, confirmando o teor do que a revista publicou -, o ex-presidente nada disse.

O PT, por sua vez, duvida que Valério tenha dito o que foi publicado, mas o Valério mesmo não negou nada, pelo menos até aqui.
O silêncio de cada qual tem enredos divergentes e eloquência próprias. Quem silencia diante de tal agravo?
Ora, quem já disse e desdisse tudo que é possível sobre o mesmo assunto.

Lula já reconheceu e pediu desculpas pelo Mensalão. Disse até que foi traído (embora não declinasse o nome dos traidores). Depois, optou pela negação: o Mensalão não teria passado de uma farsa, um golpe – “o maior da história deste país” – contra seu governo.

José Dirceu o atribui às elites, à oposição e à imprensa.
Está tudo gravado e disponível na internet. Dizer mais o quê?

Os ministros do STF julgam a partir dos autos e da documentação (fartíssima: mais de 500 volumes). Não estão inventando uma história, mas contando-a e julgando-a, dentro da lei.
Antes que a concluam já enfrentam a ira e as ameaças dos personagens que compõem o enredo.

Suspender as transmissões, como deseja André Vargas, aí sim, provocaria suspeitas de conchavos.
A TV Justiça revogou a torre de marfim em que o Judiciário historicamente se colocou. E isso é irreversível.

O juiz continua julgando com sua consciência, mas sabe que está sendo visto e avaliado, em sua isenção, lógica e coerência.

Já a democracia do PT, que postula o silêncio da imprensa e a supressão da transparência, esta, sim, carece de isenção, lógica e coerência.
 
22 de fevereiro de 2012
Ruy Fabiano é jornalista

FRASE DO DIA

 
Nós fomos solidários a um grande líder, um grande brasileiro, com enorme serviço prestado à redemocratização do país.
 
Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente do PSB, sobre a nota de apoio a Lula assinada pelos presidentes dos partidos da base aliada.

PARLAMENTARES COM VERGONHA NA CARA REAGEM A NOTA ABSURDA TRAMADA POR LULA EM SUA PRÓPRIA DEFESA

 

Sim, é claro que existem pessoas com vergonha na cara nos partidos da base aliada, concorde-se ou não com elas. Nem todo mundo de quem discordo é sem-vergonha, é evidente. Há gente decente, embora eu possa considerar equivocada.
 
E os decentes começam a reagir àquela nota absurda, assinada por seis partidos, tramada por Lula, levada a efeito por Rui Falcão e assinada por seis presidentes de legendas da base aliada. Acusa a imprensa de golpista por, supostamente, estar se mobilizando contra Lula. Ainda que esta segunda acusação fosse verdadeira (também é falsa), cabe a pergunta:
o Apedeuta, por acaso, é chefe de estado? Se verdadeiro, o ataque a ele seria “golpismo” por quê? A presidente da República, salvo melhor juízo, se chama Dilma Rousseff.
Leia trecho de reportagem de EugênIa Lopes, no Estadão Online:
 
Integrantes do PMDB e do PDT reclamaram neste sábado da decisão dos presidentes Valdir Raupp e Carlos Lupi de assinar nota, idealizada pelo PT, na qual seis partidos da base aliada defenderam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e acusaram a oposição de tentativa de golpe.
Divulgada na quinta-feira, a nota faz ataques ao PSDB, DEM e PPS, após a oposição ameaçar pedir apuração sobre a suposta relação do ex-presidente com o mensalão.
 
“É um exagero. A oposição não está sendo golpista. Não existe golpe contra ex-presidente”, disse no sábado o senador Cristóvam Buarque (PDT-DF). Ele e o senador Pedro Taques (PDT-MT) divulgaram nota reclamando por não terem sido consultados sobre o desagravo a Lula.
 
“Se tivéssemos sido consultados seríamos contra”, afirmaram os dois senadores, na nota. “Além de ser um direito inerente às oposições fazer críticas, em nenhum momento tocaram na presidenta Dilma. Consideramos mais ameaçadoras à democracia as consequências dos imensos gastos publicitários feitos pelos governos”, escreveram.
 
Dirigentes do PMDB também condenaram a atitude do presidente do partido, senador Valdir Raupp (RO), de assinar a nota em defesa de Lula. “Ele (Raupp) puxou para o colo do PMDB o mensalão. Nós não temos nada com isso”, argumentou um peemedebista. Na época do mensalão, o PMDB não era da base de apoio do governo Lula.
“O PMDB era de oposição e depois do mensalão é que o governo veio atrás da gente”, observou outro integrante do partido. “O Raupp renegou fatos históricos ao tomar uma posição dessas e assinar a nota sem nos consultar.”
 
Segundo um parlamentar peemedebista, o presidente do PT, Rui Falcão, teria pego Raupp de surpresa com a nota já assinada pelos outros cinco partidos.
Sem saída, Raupp chancelou a “Carta à Sociedade” e, depois, comunicou o vice-presidente da República, Michel Temer, sobre o documento de solidariedade a Lula. “O Raupp não teve capacidade de reagir”, reclamou um peemedebista.
(…)
 
22 de setembro de 2012
Por Reinaldo Azevedo

IMAGEM DO DIA

 
Manifestantes protestam perto da embaixada americana em Sanaa (Iêmen) contra filme que ironiza profeta Maomé
Manifestantes protestam perto da embaixada americana em Sanaa (Iêmen) contra filme que ironiza profeta Maomé - Khaled Abdullah/Reuters
 
22 de setembro de 2012

DEPUTADOS MENSALEIROS: QUEM PAGA A CONTA É VOCÊ

 

Valdemar Costa Neto (PR) e Pedro Henry (PP) devem entrar para a lista, que já conta com João Paulo Cunha (PT), de deputados federais condenados

 
Deputados envolvidos no escândalo do Mensalão João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto e Pedro Henry
João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto e Pedro Henry (Fernando Pilatos, Sergio Lima/Folha Imagem, ABr)
 
Com dedo em riste, o deputado Valdemar Costa Neto, então presidente do Partido Liberal (PL) – atual Partido da República (PR) – anunciou em agosto de 2005 que defenderia a “punição de quem se valeu de recursos públicos para desonrar o decoro parlamentar e a confiança do povo”. Acusado de receber propina do valerioduto, esquema que, segundo a Justiça, surrupiou dinheiro público, foi o primeiro congressista a renunciar ao mandato para evitar a cassação quando explodiu o escândalo do mensalão.

Atualmente, em vez de defender a punição exemplar dos malversadores de recursos, Costa Neto engrossa a lista dos parlamentares que o Supremo Tribunal Federal (STF) colocará na galeria dos corruptos. Réu por corrupção passiva, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, o deputado recebeu nesta semana o veredicto do ministro Joaquim Barbosa, relator do mensalão:
“Valdemar Costa Neto valeu-se de dezenas de mecanismos de lavagem de dinheiro para garantir o recebimento da vantagem indevida em espécie sem deixar qualquer registro ou rastro no sistema bancário”.

Até o final do mês, os atuais dez ministros do STF devem confirmar que Costa Neto e Pedro Henry (PP-MT), ao lado de João Paulo Cunha (PT-SP) – já condenado pelo Supremo – são criminosos e utilizaram seus mandatos para alimentar interesses espúrios. Condenados, os três devem ser pressionados a deixar a vida pública e não deveriam sequer transitar pelo Salão Verde da Câmara dos Deputados.

Leia também: entenda o escândalo do mensalãoVeja o placar do julgamento, réu a réu, crime a crime
Enquanto nenhum tem seu mandato tomado – é necessária uma solicitação formal para que eles percam a cadeira na Câmara –, os mensaleiros João Paulo Cunha, Valdemar Costa Neto e Pedro Henry continuarão a representar não necessariamente seus eleitores, mas certamente gastos para os cofres públicos.

Só neste ano, com dados até setembro, os três somaram mais de 2,8 milhões de reais em salários e verbas de gabinete. Até dezembro, com as duas rubricas, cada um deve gerar despesas de mais 367 000 reais, excluídos gastos com passagens aéreas, correios, telefonia e consultorias.

Apenas com a cota para o exercício da atividade parlamentar, recursos públicos para que o deputado pague pesquisas, assessoria e transporte, por exemplo, João Paulo já desembolsou 179 018,23 reais até setembro; Henry registra despesas de 126 616,61 reais na cota; e Valdemar Costa Neto outros 111 761,01 reais.
Os deputados mensaleiros, que devem ser condenados pela ampla maioria dos ministros da corte até o final do capítulo sobre a compra de votos parlamentares, vão compor a lista dos já penalizados Natan Donadon (PMDB-RO) e Asdrúbal Bentes (PMDB-PA), congressistas que, mesmo apenados pelo STF, insistem em permanecer na Câmara.
Com a apresentação de poucos projetos e sem representatividade no parlamento, os dois se resumem praticamente a gerar gastos ao poder público.
Só Donadon, que amargou pena de mais de 13 anos de prisão imposta pelo Supremo, mas recorre da sentença, gastou neste ano mais de 250 000 reais na cota para o exercício da atividade parlamentar.

Mesmo condenado pelo STF, ele continua recebendo dos cofres públicos 15 salários de pouco mais de 26 000 reais mensais e tem 78 000 reais por mês para gerir seu gabinete. A propósito, ao longo de todo o ano, Natan Donadon não se deu sequer o trabalho de propor um único projetos de lei.

22 de setembro de 2012
Laryssa Borges, Veja

PT PÓS-MENSALÃO COMEÇA E TERMINA EM DILMA

 
Surpreendidos com os primeiros veredictos que saltam do plenário do STF, os principais operadores do PT dividem-se entre a indignação e a perplexidade.
 
Revoltam-se porque enxergam um quê de política no julgamento. Espantam-se porque se deram conta de que, ao subestimar o escândalo, não se prepararam para lidar com os danos.
Na base do improviso, o PT reage a esmo aos ataques da oposição, prepara a assimilação de eventuais prejuízos na eleição municipal de 2012 e olha para o itinerário de 2014 como uma oportunidade de rearranjo. Uma oportunidade que Dilma Rousseff cuida de aproveitar. Distanciando-se do problema, a presidente apresenta-se como solução.

Até os petistas que torcem o nariz para Dilma passaram a enxergar no sucesso do governo dela um bom recomeço para a fase pós-mensalão.
A alternativa seria Lula. Mas ele já não exibe as condições físicas de antes e é tomado a sério quando diz que só um Apocalipse econômico o faria apresentar-se como re-re-recandidato. Menos por gosto e mais pelo desejo de evitar o ressurgimento da oposição.

De tanto referir-se ao mensalão como uma ‘lenda’, o PT tornou-se uma legenda que encontra paralelos mais adequados na ficção do que na realidade. Ernest Hemingway oferece boa matéria prima para comparações.

Ponto mais alto da África, uma montanha serviu de inspiração para Hemingway. Em ‘As Neves do Kilimanjaro’, o escritor anotou: “O seu pico ocidental chama-se ‘Ngàge Ngài’, a Casa de Deus. Junto a este pico encontra-se a carcaça de um leopardo. Ninguém ainda conseguiu explicar o que procurava o leopardo naquela altitude.”

O leopardo de Hemingway já foi usado como símbolo de muitas coisas –do espírito de aventura à busca do inatingível. Num instante em que o STF está prestes a condenar petistas do porte de José Dirceu e José Genoino, o leopardo de Hemingway também pode simbolizar o instinto suicida que levou o PT da defesa intransigente da ética à porta da cadeia.

Ao dissecar a carcaça do ex-PT, os ministros do Supremo já deixaram assentado: 1) o partido desviou verbas públicas para as arcas espúrias operadas pela dupla Marcos Valério-Delúbio Soares. 2) os pseudo-empréstimos do Banco Rural não passaram de transações simuladas destinadas a dar aparência limpa a um dinheiro que era sujo. 3) quem levou a mão à cumbuca incorreu em corrupção.

Diferentemente do PT, Dilma preparou-se para enfrentar a encrenca com método. Enxerga-se como uma parte boa do escândalo. Em 2005, nas pegadas da delação de Roberto Jefferson, foi deslocada da pasta de Minas e Energia para a Casa Civil para dar ao primeiro reinado de Lula uma cara diferente da máscara de José Dirceu.

Agora, Dilma toma distância do julgamento e dedica-se a evitar que seu governo vire o pesadelo econômico que frequenta o sonho dos seus potenciais antagonistas –um declarado: Aécio Neves (PSDB). Outro insinuado: Eduardo Campos (PSB). Dilma irritou-se com um comentário de Joaquim Barbosa que a fez desviar-se de seu plano original.

Dilma decidira que não diria palavra sobre o trabalho do STF. De repente, o relator do processo serviu-se de um depoimento prestado por ela em juízo, em 2009, para corroborar a tese de que houve compra de votos no Congresso. Barbosa leu o trecho em que Dilma declarou-se “surpresa” com a rapidez que o Legislativo imprimiu à tramitação do novo marco regulatório do setor energético proposto no alvorecer do primeiro mandato de Lula.

Abespinhada, Dilma viu-se compelida a manifestar-se. Em nota, esclareceu que sua surpresa deveu-se à rapidez com que as lideranças políticas, inclusive as da oposição, “compreenderam a gravidade do tema”. Evocando o apagão da Era FHC, que empurrara o país para um racionamento de energia, ela enfatizou: “Ou se reformava ou o setor quebrava. E, quando se está em situações limites como esta, as coisas ficam muito urgentes e claras”.

Sem entrar no mérito dos dois conceitos que estão em jogo no STF –caixa dois de campanha ou compra de apoio?— Dilma informou aos magistrados, à sua maneira, que eles devem tirar suas conclusões sem envolvê-la na confusão. Fez média com o PT sem dissociar-se do propósito de manter sua colher longe do caldeirão que ferve no Supremo.

Dilma está decidida a demonstrar que roda noutra sintonia. Olha para o parabrisa. Avalia que o retrovisor é problema de quem conduziu o leopardo ao suicídio da montanha gelada. Opera para tentar chegar a 2014 em triunfo. Recebe da área econômica dados alvissareiros.

Foi informada de que o PIB do terceiro trimestre de 2012 crescerá algo como 1% em relação aos três meses anteriores. Algo que projetaria uma taxa anualizada na casa dos 4% e esboçaria um início promissor para o ano pré-eleitoral de 2013.

Sem abrir mão da aposta na retomada do crescimento pela via da potencialização do consumo, Dilma diversifica o receituário. Supera os próprios limites ideológicos ao conceder empreendimentos de infraestrutura à iniciativa privada, promete baixar a conta de luz, abre guerra contra os juros bancários…

Tudo isso sem cair na velha tentação, tão comum na política, de tornar-se mais uma criatura que se volta contra o criador. Não dá um passo sem consultar-se com Lula. Os dois conversam pelo telefone amiúde. Encontram-se pelo menos uma vez por mês. A fidelidade da sucessora faz de Lula um entusiasta da reeleição dela. E converte o PT numa espécie de cultor do êxito daquela que, em 2010, teve de engolir a seco.

Dilma tornou-se protagonista do drama do seu partido. Ela representa o começo e o término do PT pós-mensalão. Oferece à legenda um horizonte para 2014. Mas a escassez de lideranças alternativas não permite ao petismo enxergar na fase seguinte senão o imponderável.

Supondo-se que Dilma consiga prevalecer sobre a crise econômica, terá boas chances de impedir que a oposição aniquilada por Lula faça do mensalão uma plataforma para a ressurreição. Nessa hipótese, afora a fadiga de material que o poder longe produzirá, o PT chegará 2018 como um cemitério de velhos leopardos e líderes regionais. Gente que almeja a pompa mas tropeça nas circunstâncias.

22 de setembro de 2012
Josias de Souza - UOL

DEPOIS DO PMDB, SENADORES DO PDT TAMBÉM REPUDIAM DEFESA DE LULA

Senadores do PDT repudiam decisão de Lupi de assinar carta em defesa de Lula. Pedro Taques e Cristóvam Buarque se disseram surpresos pela carta assinada em nome de seu partido
 

Os senadores Pedro Taques (PDT-MT), líder do partido no Senado, e Cristovam Buarque (PDT-DF) repudiaram a decisão do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, de assinar a carta "À sociedade brasileira", em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
 
Na quinta-feira, cinco partidos da base (PT, PSB, PMDB, PCdoB, PDT e PRB) divulgaram uma carta em defesa do ex-presidente, repudiando dirigentes do PSDB, DEM e PPS.
Eles alegaram que as siglas "tentaram comprometer a honra e a dignidade" de Lula. Falaram em "golpe" e acusaram a oposição de pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) na votação do mensalão, "mesquinharia" que, mais uma vez, seria rejeitada pelo povo.
 
A troca de farpas ocorreu depois de matéria veiculada pela Revista Veja, segundo a qual o segredos do empresário Marcos Valério, se revelados, colocariam Lula como um dos protagonistas do escândalo do mensalão.

Em nota, os senadores do PDT se disseram surpresos pela carta assinada em nome de seu partido. Os parlamentares afirmaram ainda que gostariam de ter sido consultados antes de o documento ser assinado em nome da sigla.

Para justificar sua contrariedade à carta assinada pelos partidos da base, os senadores alegaram que não viram "gesto golpista por trás das falas e matérias". Disseram que, além de ser um direito inerente às oposições fazer críticas, em nenhum momento tocaram na presidente Dilma Rousseff. Além disso, a seu ver, mais ameaçadores à democracia são as "consequências dos imensos gastos publicitários feitos pelos governos".

Também disseram que as referências as pressões sobre os ministros do STF passam imagem de desrespeito ao Poder Judiciário, que "vem desempenhando um importante trabalho, reconhecido pela opinião pública como decisivo na luta pela ética na política".

Concluíram que mais importante seria "mudar o sistema de escolha dos futuros ministros, para que não pesem dúvidas sobre a independência de cada um deles".

22 de setembro de 2012
Cristiane Bonfanti - O Globo

UMA QUESTÃO DE VERGONHA NA CARA...

Getúlio matou-se por ter vergonha na cara. Lula morrerá sem saber o que é isso.
 
Comparar Getúlio Vargas a Lula é um insulto à memória do presidente suicida



A nota oficial encomendada por Lula, redigida por Rui Falcão e subscrita por seis presidentes de partidos governistas comunica à nação, entre uma falsidade e uma safadeza, que está em curso uma trama política semelhante à que resultou no suicídio de Getúlio Vargas. Conversa fiada, resumiu o comentário de 1 minuto para o site de VEJA. Só um ajuntamento de palermas e casos de polícia conseguiria vislumbrar conspiradores em ação nos três partidos oposicionistas mais dóceis da história.

Só um bando de cretinos fundamentais ousaria confundir Aécio Neves com Carlos Lacerda, Geraldo Alckmin com Afonso Arinos, ou tucanos em sossego no poleiro com militares sublevados nos quartéis. crispados. E é provável que até um sócio remido do clube dos cafajestes se recusasse a comparar Luiz Inácio Lula da Silva a Getúlio Dornelles Vargas. Os signatários do besteirol espancaram sem clemência, e sem ficar ruborizados, a memória do mítico gaúcho.

“Querem fazer comigo o que fizeram com Getúlio Vargas”, recitou o palanque ambulante, de novo, em agosto de 2011. “Assim foi em 1954, quando inventaram um ‘mar de lama’ para derrubar o presidente Vargas”, reincidiram nesta quinta-feira seis carrascos da verdade.
Alguém precisa contar-lhes aos gritos que foi o próprio Getúlio quem usou pela primeira vez a expressão “mar de lama”. Alguém precisa ordenar-lhes aos berros que parem de estuprar os fatos para fabricar mentiras eleitoreiras.

Na versão malandra do PT e seus parceiros alugados, a procissão de escândalos que afronta os brasileiros honestos desde a descoberta do mensalão não passa de invencionice dos netos da UDN golpista, que se valem de estandartes moralistas para impedir que outro pai dos pobres se mantenha no poder.
Se a oposição não sofresse de afasia medrosa, a confraria dos 171 já teria aprendido que não há qualquer parentesco entre os dois Brasis. E não se atreveria a inventar semelhanças entre figuras antagônicas.

Em agosto de 1954, Getúlio Vargas era sistematicamente hostilizado por adversários que lhe negavam até cumprimentos protocolares. Não há uma única foto do presidente ao lado de Carlos Lacerda.
Passados quase 60 anos, Lula e Dilma lidam com adversários que fizeram a opção preferencial pela covardia e inventaram a oposição a favor.
Muitos merecem cadeiras cativas na Irmandade dos Amigos do Cara, dirigida por velhas abjeções que Lula combateu até descobrir que todos nasceram uns para os outros.

Há 58 anos, surpreendido por delinquências praticadas às suas costas, acuado pela feroz oposição parlamentar, desafiado por oficiais rebeldes, traído por ministros militares, abalado pela deserção dos aliados, Getúlio preferiu a morte à capitulação humilhante. Neste começo de primavera, Lula é tão somente um populista incapaz de perceber a aproximação do inverno. É um candidato a lenda em seu ocaso. Errou sem a ajuda de inimigos. Perdeu-se sozinho.

Getúlio perdeu o ânimo ao saber que convivia com criminosos. Lula tenta o tempo todo livrar da cadeia bandidos de estimação para mantê-los a seu lado.
Depois de tentar inutilmente adiar o julgamento do mensalão, faz o que pode para pressionar juízes, desqualificar o STF e impedir a consumação do castigo.
Há uma semana, o protetor de pecadores foi empurrado para o meio do pântano pelas revelações de Marcos Valério divulgadas por VEJA.

Em vez de replicar às acusações e interpelar judicialmente o acusador, o mais loquaz dos palanqueiros emudeceu. Entre amigos, gasta a voz debilitada em insultos a ministros do Supremo, mensaleiros trapalhões ou advogados ineptos e promete, de meia em meia hora, vinganças tremendas. Em público, pede votos para candidatos amigos e calunia concorrentes.

O suicídio de Vargas, reiterei há um ano, foi um ato de coragem protagonizado pelo político que errou muito e cometeu pecados graves, mas nunca transigiu com roubalheiras, nunca barganhou nem se acumpliciou com ladrões. Lula fez da corrupção endêmica um estilo de governo e um instrumento de poder. O tiro disparado na manhã de 24 de agosto de 1954 atingiu o coração de um homem honrado. Um saiu da vida para entrar na história. Outro ficará na história como quem caiu na vida.

Getúlio matou-se por ter vergonha na cara. Lula morrerá sem saber o que é isso.

22 de setembro de 2012
Por Augusto Nunes - Veja Online

O PASSO MAIOR QUE A PERNA...

Roubo de documentos do Comitê Londres 2012 é o primeiro escândalo da Olimpíada do Rio

 

Malandragem olímpica – O primeiro escândalo envolvendo os Jogos Olímpicos de 2015, no Rio de Janeiro, já aconteceu. E foi sob o manto verde-louro da suposta probidade alardeada pelas autoridades envolvidas com o evento esportivo.
 
Sob a ameaça de ingressar na Justiça, dirigentes do Comitê Londres 2012 acusaram nove brasileiros, que fazem parte da organização da Olimpíada do Rio, de roubo de informações confidenciais.
 
Presidente do Comitê londrino, Sebastian Cole telefonou para Carlos Arthur Nuzman cobrando providências, tão logo descobriu que arquivos tinham sido copiados sem autorização.
O escândalo é tamanho, que uma equipe saiu de Londres com destino ao Rio de Janeiro para conferir se os tais arquivos foram realmente apagados, como solicitado. O que, como se sabe, foi feito apenas para ludibriar os ingleses.
 
Acostumado a abafar escândalos que rondam o sempre misterioso Comitê Olímpico Brasileiro, Nuzman mais uma vez entrou em ação para evitar que o imbróglio ganhasse outras proporções e saísse do seu controle.
Por enquanto, os envolvidos diretamente na “gatunagem” foram demitidos, o que, dependendo da coragem de Carlos Nuzman, pode ser estendido a quem autorizou a operação ilegal.
 
Cordialmente recebidos em Londres, membros do Comitê Rio 2016 receberam na capital inglesa as senhas que permitiam o acesso a dados sobre a competição, úteis para os próximos Jogos e que no momento adequado seriam disponibilizados às autoridades brasileiras.
Extremamente confidenciais e de propriedade do Comitê Olímpico Internacional, alguns documentos, sobre planejamento estratégico e questões ligadas à segurança dos Jogos, acabou surrupiada no melhor jeitinho brasileiro.
 
Como os computadores dos Jogos de Londres são dotados de rígido esquema de segurança, não foi difícil detectar que foi além do normal o volume de documentos copiados sem autorização.
Os analistas ingleses chegaram, por meio das senhas de acesso, aos nomes dos responsáveis pela “gatunagem”. Coisas do Brasil!

22 de setembro de 2012
ucho.info

 

BISPO DO PRB ASSINA DESAGRAVO A LULA E COLOCA O MENSALÃO DO PT NA CAMPANHA DE RUSSOMANNO

 


Problema inesperado – Com momentos comportamentais que misturam patologias como obsessão, histeria e mitomania, Luiz Inácio da Silva obrigou os dirigentes da base aliada a um desagravo em seu favor, como forma de não apenas salvar a sua imagem, marcada pelo maior escândalo de corrupção da história nacional, mas também e principalmente tentar tirar o Partido dos Trabalhadores do atoleiro eleitoral, decorrente dos reflexos do julgamento do Mensalão do PT, pelo Supremo Tribunal Federal.

Entre os signatários do manifesto está o bispo Marcos Pereira (à direita na foto), da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), presidente nacional do PRB e chefe da campanha de Celso Russomanno, candidato à prefeitura da mais importante cidade brasileira, São Paulo.

Enfrentando problemas para explicar o vínculo de sua candidatura com a IURD, Russomanno terá pela frente mais um obstáculo, pois o presidente do PRB acaba de colocar o escândalo do Mensalão do PT na campanha do líder das pesquisas de intenção de voto na capital dos paulistas.
Tão logo o fato seja devidamente explorado, os dividendos negativos não demorarão a surgir, apesar de faltarem duas semanas para o primeiro turno da corrida à prefeitura paulistana.

22 de setembro de 2012
ucho.info

POR QUE O PAI DO CAPITALISMO, ADAM SMITH, REPROVARIA MITT ROMNEY

Mitt Romney é um fanfarrão. Ele trata o eleitor como idiota. Um comercial recente de sua campanha acusava Obama de ter deixado milhões de empregos de americanos irem para a China. “Obama não deu um basta à China”. Nós daremos, disse Romney.


Mas veja. Transferir empregos para a China por causa da mão de obra barata foi uma das estratégias mais frequentes de Romney nos negócios controlados por ele. Romney aumentou a fortuna herdada do pai ao se especializar em comprar empresas quebradas e, com um corte de custos impiedoso e imediatista, valorizá-las no curto prazo – o tempo suficiente para ele ganhar um bom dinheiro.

Romney fez e faz o que Gordon Gekko do filme “Wall Street”, uma das grandes obras de Oliver Stone, fazia. E agora vem falar que Obama deveria ter impedido algo que ele próprio fazia?

Pior ainda é o conteúdo do vídeo que foi gravado sem que Romney percebesse, e publicado pelo site de jornalismo investigativo Mother Jones. O vídeo registra uma conversa de Romney com milionários para levantar dinheiro para sua campanha.

Ali aparece o Romney real, não o de mentirinha que fixou um sorriso no rosto botocado. Romney se refere com desprezo aos “47%” de americanos que votarão “de qualquer jeito” em Obama.

São os perdedores, segundo Romney. Melhor: são aqueles que querem “tudo” do governo: acesso a bons hospitais públicos ou a boas escolas públicas para seus filhos, por exemplo.
São aqueles que “não pagam imposto de renda”, disse Romney.

Ora. Boa parte deles não paga imposto de renda por estar desempregada. Outros tantos são isentos por ganharem pouco, mas em seu holerite vem o desconto.

O cinismo não pára aí. Romney publicou apenas uma declaração de imposto de renda, a despeito das pressões para que fosse transparente nisso. Sua taxa foi de 13%. Romney se especializou em evasões legalizadas, como o refúgio em paraísos fiscais. E como tantos ricos americanos foi favorecido por leis fiscais aprovadas por governos republicanos.

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ADAM SMITH

O colunista Ezra Klein, do Washington Post, lembrou, a propósito disso, uma conversa que teve um alto funcionário do governo George W Bush. O tema era a reforma fiscal de Bush, em que entraram alguns supostos benefícios para os desfavorecidos.

O homem de Bush, narra Klein, lhe perguntou se ele achava que o governo queria mesmo oferecer vantagens para pobres. “Não”, ele próprio responde. “Mas precisávamos daquilo para passar o resto”.

O resto – na verdade o essencial – eram as vantagens oferecidas na reforma a ricos como Romney.
Se alguém não paga imposto nos Estados Unidos, são pessoas como Romney, não os já célebres “47%” que segundo ele querem “tudo” do governo e “nada” dão.

Há uma falácia fundamental na visão de governo de Romney e similares. Eles rechaçam o que chamam de “Nanny State”, Estado Babá, que alegadamente trata a sociedade como bebê. Mas, no poder, eles promovem um “Nanny State” para si próprios.

Não são capitalistas. São predadores. Veja o que escreveu o inventor do capitalismo, o escocês Adam Smith: “O impulso em admirar, e quase venerar, os ricos e os poderosos, e desprezar ou, ao menos, negligenciar pessoas pobres é a maior e mais universal causa da corrupção dos nossos sentimentos morais”.

Adam Smith parece que escreveu isso ontem, para se referir a Mitt Romney.

22 de setembro de 2012
Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)

BRASIL REAGE ÀS CRÍTICAS DOS ESTADOS UNIDOS SOBRE PROTECIONISMO E SINALIZA QUE VAI RECORRER À OMC

 

O governo do Brasil reagiu às críticas dos Estados Unidos que condenaram o que julgam ser o protecionismo brasileiro. Em protesto à afirmação, o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, enviou carta ao embaixador Ron Kirk, representante para o Comércio dos Estados Unidos.

No texto, o chanceler diz que os norte-americanos são os principais responsáveis pelas barreiras impostas, por exemplo, aos produtos agrícolas brasileiros (como suco de laranja e algodão).



“O Brasil tem sido obrigado a enfrentar a valorização artificial de sua moeda e uma enxurrada de mercadorias importadas a preços baixos. Os Estados Unidos têm sido um dos principais beneficiários desta situação”, reage o chanceler. “Preocupa-nos a perspectiva de continuação de subsídios ilegais concedidos à produção agrícola pelos Estados Unidos.”

O ministro destacou que esses benefícios concedidos à produção agrícola pelos Estados Unidos causam impactos negativos nas economias dos países em desenvolvimento. “[Eles] impactam o Brasil e outros países em desenvolvimento, inclusive alguns dos mais pobres da África”, diz o texto.

Patriota diz ainda, na carta, que todos os mecanismos adotados pelo Brasil têm o respaldo da Organização Mundial do Comércio (OMC) e que o governo não abrirá mão dos instrumentos que julga legítimos. “O governo brasileiro não abdicará de seu direito de fazer uso de todos os instrumentos legítimos permitidos pela OMC”, informa o texto.

Em relação a eventuais efeitos negativos nas negociações na chamada Rodada Doha, como insinuaram as autoridades norte-americanas, Patriota negou impactos. “Discordo totalmente de Vossa Excelência quanto aos efeitos que as medidas adotadas pelo Brasil poderiam ter sobre o resultado da Rodada Doha”, disse.

De 2007 a 2011, a venda de produtos norte-americanos para o Brasil dobrou, segundo dados oficiais. Em quatro anos, as exportações saltaram de US$ 18,7 bilhões para US$ 34 bilhões. O Brasil passou de 16º para 8º maior mercado de produtos norte-americanos.

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NOTA DA REDAÇÂO DO BLOGNo mundo inteiro, a agricultura é subsidiada. O Brasil é um dos países que menos subsidia seus produtores agrícolas. O governo dos EUA, a terra das chamadas “vacas de 300 dólares”, precisa tomar vergonha na cara e parar de reclamar.

22 de setembro de 2012
Renata Giraldi (Agência Brasil)

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE

 


O MENINO NO ANO NOVO JUDAICO

 

Apartamento pequeno, mobiliário pouco e modesto. O ambiente recendia a gordura de galinha, entranhado nas paredes manchadas. Chega uma figura baixinha, ar severo, pouco à vontade. Dirige-se ao Pai: “Esse menino sabe falar ídish?” (*) O Pai do Menino triste não titubeia: “Claro ! É ótimo aluno”.
Nessa altura, o menino magrela e dentuço empalidece. Aflito, se encolhe. Era dele que aqueles dois estavam falando!
O velho professor franze a testa, tira os óculos e, entre irônico e sádico, dispara: Então, como se diz o ano atual em ídish ? Pronto. Foi a senha para o Apocalipse. Pânico, suor, branco total. O menino ensaia uma resposta, mas ela sai em … inglês.



Sorriso meio debochado, o professor recoloca os óculos e sentencia: “Não dá. O tempo é curto, além disso ele ainda vai precisar das aulas para ler a Torá. Como vai decorar um discurso em ídish?” O Pai insiste (o menino ouve a resposta quase em desespero): “Ele consegue, pode acreditar”. O silêncio da rua dos Artistas foi testemunha do pacto entre aqueles adultos, que cumpriam a obrigação milenar de formalizar a maioridade religiosa do adolescente. A tentativa seria feita.

Durante meses, o mestre, que parecia ter saído de um shtetl(**) imemorial, foi construindo um discurso, rapidamente digerido pelo menino, que o decorava e repetia sem hesitações. Estava gostando da brincadeira, o professor era aguardado com ansiedade.

A rudeza inicial se transformara numa quase amizade. Ante o espanto do professor, o texto aumentava cada vez mais. Por fim, tudo estava pronto para o ritual. Família atenta, amigos engessados em roupas de adulto, duros como a solidão de sua metamorfose mal compreendida, o menino repetiu frases sagradas e discursou por inacreditáveis 15 minutos, numa língua que não dominava, com palavras que pouco ou nada significavam em seu mundo triste e assustado.

Para os adultos, o rebanho ganhava um novilho, carimbo de maioridade religiosa. Para o menino, sobraram, além de alguns prendedores de gravata e livros que lhe presentearam, uma sensação de maior proximidade com o Pai e a certeza de ter ganho a Maratona.

Meses depois, um novo teste. O Dia do Perdão(***). Um grupo ruidoso, solene, se acotovelava numa pequena sala, entoando cantos e preces, flexionando a coluna para trás e para a frente, ensaiando autocríticas e rogando para que o Imaterial, o Impronunciável, lhes garantisse mais um ano de vida.
O menino não conseguia entender por que as mulheres ficavam separadas dos homens.

Seriam pecadoras abomináveis e estavam sendo castigadas? Sua silhueta, tentadora, desviaria olhares e intenções redentoras? Se ser homem era passar vinte e cinco horas em jejum, o menino seguiria os mais velhos, abraçaria a causa e aguentaria a provação. E então …

Num intervalo, o menino sai da sala e desce a rua. Meio zonzo de fome e sede. No boteco da esquina, a imagem que jamais se apagaria. O Pai e o avô batiam um papo ameno e comiam um sanduíche. Um sanduíche !
Mas que jejum era aquele ? Toda a preparação, o discurso, as rezas, as promessas de respeito às regras ancestrais, tudo, absolutamente tudo, em vão. As historinhas que lhe contaram foram implodidas por uma boa média-com-pão-e-manteiga.

Para quebrar o jejum de fantasia, a família se reúne. O menino está triste, pensativo. Mandam-lhe comprar uma pizza. Está fraco, mas, como sempre, obedece. Com a fome dos desesperados, ataca aqueles pedaços triangulares, tão desejados e incomuns em sua mesa frugal. O castigo não demora.

Estômagos vazios são sensíveis a gordura. Põe para fora a iguaria rara e, junto com ela, a cordialidade e a ilusão na sabedoria e na sinceridade dos mais velhos.

22 de setembro de 2012
Jacques Gruman

(*) Idioma falado pelos judeus ashquenazitas.
(**) Aldeia da Europa Oriental.
(***) Yom Kipur. Data que marca o final do Ano Novo judaico.

O CUIDADO NECESSÁRIO DOS CANDIDATOS

 

Em tempos de eleição, tudo que um candidato e sua campanha fazem ganha um certo destaque. E é assim que tem que ser feito mesmo. Se há uma acerto, os lucros são sempre grandes. Por outro lado, se há um erro, os prejuízos são maiores ainda.



Em Belo Horizonte, a disputa pela prefeitura começa a ficar morna. No início do processo, com o rompimento entre PT e PSB por causa do PSDB e a escolha do ex-ministro Patrus Ananias para a disputa com o prefeito Marcio Lacerda, parecia que a corrida seria muito emocionante.
Mas, rapidamente, Lacerda abriu uma frente considerável em relação ao petista, que, pelo menos até o momento, não conseguiu reverter o quadro nem se aproximar do rival de forma mais ameaçadora.

É claro que qualquer resultado é possível. Seria imprudência e até irresponsabilidade dizer que o prefeito de Belo Horizonte está reeleito. Mas também é notória uma certa acomodação das campanhas, como se estivessem satisfeitas com os resultados parciais demonstrados nas pesquisas.

Fato é que essa falta de novas movimentações nas campanhas leva os eleitores, especialmente os que ainda estão indecisos, a procurarem diferenciais que possam os ajudar a fazer uma escolha. Nesse sentido, uma fala infeliz, uma propaganda irregular, um gesto pouco simpático – qualquer pequeno ato – podem tirar do candidato a possibilidade de voto do indeciso. Assim, o cuidado do candidato com a própria imagem é cada vez mais observado.

Mas não é só a imagem do candidato que conta. Aqueles que o representam, seja com um adesivo no carro, uma bandeira ou uma camiseta, também são observados pelo eleitor. A ideia que povoa a população é simples e certeira: os candidatos e as campanhas devem dar o exemplo sempre e, no período eleitoral, ainda mais.

Portanto, carros plotados pelas campanhas que saem pelas ruas desrespeitando as regras são um bom indicativo de como o candidato, se eleito, e sua futura equipe lidarão com a questão da violência no trânsito.
Carros de som tocando jingles em um volume insuportável também apontam para a forma com a qual os candidatos tratam matérias polêmicas, como a Lei do Silêncio e a convivência urbana.

O período de campanha eleitoral não pode ser utilizado como justificativa para o desrespeito e as exceções às leis municipais, estaduais e federais. E os candidatos a prefeito e a vereador têm obrigação de saber disso, mais do que qualquer outro cidadão.

Enquanto candidatos ficam tentando descobrir o que os eleitores desejam, para fundamentar suas campanhas, o eleitor demonstra que quer tudo o que a cidadania lhe confere, sem nenhuma exceção, e o quer agora, quanto mais rápido possível. Afinal, 7 de outubro está na porta.

(Publicado no Jornal O Tempo)

BATEM NOS ACUSADOS, MAS TÊM INTENÇÃO DE BATER NO PT

 

Há um provérbio popular alemão que reza: “você bate no saco, mas pensa no animal que carrega o saco”. Ele se aplica ao PT com referência ao processo do mensalão. Batem nos acusados, mas têm a intenção de bater no PT.
A relevância espalhafatosa que o grosso da mídia está dando à questão mostra que o grande interesse não se concentra na condenação dos acusados, mas em atingir de morte o PT.




Nunca fui filiado ao PT. Interesso-me pela causa que ele representa, pois a igreja da libertação colaborou com sua formulação e na sua realização nos meios populares. Reconheço que quadros da direção se deixaram morder pelo poder e cometeram irregularidades inaceitáveis.
Depositávamos neles a esperança de que seria possível resistir às seduções do poder. Tinham a chance de mostrar um exercício ético do poder, à medida que este reforçaria o poder do povo, que assim se faria participativo e democrático.

A causa que o PT representa é daqueles que vêm da grande tribulação histórica, mantidos no abandono e na marginalidade. Por políticas sociais consistentes, milhões foram integrados e se fizeram sujeitos ativos.
Estão inaugurando um novo tempo que obrigará todas as forças sociais a se reformularem e também a mudarem seus hábitos políticos.

Por que muitos resistem e tentam ferir letalmente o PT? Ressalto duas razões. A primeira tem a ver com classe social. Temos elites econômicas e intelectuais das mais atrasadas do mundo. Estão mais interessadas em defender privilégios do que garantir direitos para todos. Nunca se reconciliaram com o povo.
Como escreveu o historiador José Honório Rodrigues, em “Conciliação e Reforma no Brasil” (1965), elas “negaram seus direitos, arrasaram sua vida e, logo que o viram crescer, lhe negaram, pouco a pouco, a sua aprovação, conspiraram para colocá-lo de novo na periferia, no lugar que continuam achando que lhe pertence”.

Ora, o PT e Lula vêm dessa periferia. Chegaram democraticamente ao poder. Essas elites não tolerariam jamais Lula no Planalto como presidente.
Lula representa uma virada de magnitude histórica. Elas perderam e continuam conspirando, especialmente através de uma mídia amargurada por sucessivas derrotas, como se nota na entrevista de “Veja” contra Lula. Esses grupos se propõem a apear o PT do poder e liquidar com seus líderes.

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CONSERVADORISMO

A segunda razão está em seu arraigado conservadorismo. Não querem mudar, nem se ajustar ao novo tempo. Internalizaram a dialética do senhor e do servo. Preferem se alinhar de forma agregada e subalterna ao senhor que hegemoniza a atual fase planetária: os Estados Unidos e seus aliados, hoje em crise de degeneração.
Difamaram a coragem de um presidente que mostrou a autoestima e a autonomia do país, decisivo para o futuro ecológico e econômico do mundo, orgulhoso de seu ensaio civilizatório racialmente ecumênico e pacífico. Querem um Brasil menor.

Por fim, temos esperança. Segundo Ignace Sachs, o Brasil, na esteira das políticas republicanas inauguradas pelo PT e que devem ser ainda aprofundadas, pode ser a “Terra da Boa Esperança”, quer dizer, uma pequena antecipação do que poderá ser a Terra revitalizada, baixada da cruz e ressuscitada.
Muitos jovens empresários, com outra cabeça, não se deixam mais iludir pela macroeconomia neoliberal globalizada. Procuram seguir o novo caminho aberto pelo PT e pelos aliados.

Querem produzir autonomamente para o mercado interno, abastecendo os brasileiros que buscam um consumo necessário, suficiente e responsável para assim poderem viver um desafogo com dignidade e decência. Essa utopia mínima é factível. E o PT se esforça por realizá-la. Essa causa não pode ser perdida em razão da férrea resistência de opositores, porque é sagrada demais pelo tanto de suor e de sangue que custou.

(Transcrito do jornal O Tempo)

VALÉRIO SEGUE EXEMPLO DE GENOÍNO E TAMBÉM SE PREPARA PARA CUMPRIR PENA NA PRISÃO

 

Não há mais esperanças. Por mais que os ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli lutem na defesa dos mensaleiros, aproveitando qualquer brecha porventura existente na peça de acusação do relator Joaquim Barbosa, os principais réus já deram adeus às ilusões e se preparam para cumprir penas de prisão.

É o caso do atual assessor do Ministério da Defesa, José Genoino, já citado aqui no Blog.
O ex-deputado se prepara para deixar a mulher administrando a vida da família, enquanto ele estiver passando uma temporada na Penitenciaria da Papuda, que inclusive deverá ser coisa rápida, pois só precisará cumprir em regime fechado se a pena for superior a oito anos. Mesmo assim, só cumpre um sexto – no caso, 16 meses.

 
Valério à beira de um ataque de nervos

Reportagem de Leando Colon e Andreza Matais, na Folha, revela que, seguindo o exemplo de Genoino, também o publicitário Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão, já se prepara para cumprir pena de prisão.
Mas está começando mal, porque brigou mais uma vez com a mulher Renilda Santiago, em Belo Horizonte. Segundo a Folha apurou, ele deixou a casa esta semana após discordar da postura dela em conversas com jornalistas nos últimos dias.

De acordo com amigos de Valério, esta não é a primeira vez que ele deixa a casa onde vive com Renilda e os dois filhos.

O empresário, até agora, já foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção ativa. Falta ser julgado por evasão de divisas e formação de quadrilha.

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DENÚNCIA REJEITADA

No começo do mês, a Justiça Federal rejeitou uma denúncia contra Valério e sua mulher pelo crime de lavagem de dinheiro.

Apesar de ser uma situação diferente, o Ministério Público de Minas Gerais afirmava que a ação se relaciona com o mensalão.

De acordo com a Promotoria, entre setembro e novembro de 2005, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) detectou transferência de vários milhões de reais entre as contas bancárias de Renilda e as contas de uma empresa de propriedade dela e de Valério, a 2S Participações.

Na primeira e segunda instância, a Justiça Federal entendeu que não havia indícios suficientes do crime.

22 de setembro de 2012
Carlos Newton

O MENSALÃO EXISTIU. QUEM DUVIDA É PORQUE TEM MEMÓRIA CURTA



Para quem passou as últimas três décadas acompanhando os movimentos do EX presidente Defuntus Sebentus, é fácil notar que o mensalão existiu.

Para um ser que sempre que podia desandava a falar transformando qualquer reunião em comício. O atual silêncio do Sebento e seu súbito desaparecimento da mídia são provas incontestáveis de que o rabo do Batráquio tá preso. E a casa começou a cair.

O "cara" passou mais da metade da vida soltando perdigotos e cusparadas nas fuças dos otários assistentes de seus discursos.

Suarento, boçal, mentiroso, metido a engraçadinho. Nunca perdoou um inimigo político. Fez discursos inflamados contra o decrépito Sarney, contra Paulo Malóf, Renan Calheiros, e até Fernando Eunãosoumaluco Collor de Mello.
E por incrível que pareça, seus inimigos do passado são seus aliados de hoje. Quase irmãos.

Sempre que pôde, fez seu discurso, fosse em um palanque, ou em um velório. Sua verborragia vomitada pelos quatro cantos do país foram a marca registrada desse político populista, mentiroso, demagogo, um verdadeiro estelionatário ideológico.

Há algumas semanas atrás deu entrevista para um jornal Duzestaduzunidus alegando a inexistência do mensalão, e que tudo não passou de um golpe da imprensa burguesa, e da elite raivosa que quer acabar com ele.

E quando o STF começou a "sentar" a caneta nos mensaleiros que o Sebento negou existirem, ele se recolhe, fica na miúda, faz um ou outro comentário, e vive de soltar notas pelo PROstituto Lula da Silva.

Bem, agora a revista Veja da semana passada saiu com uma entrevista onde o Bode expiatório do mensalão deu com a língua nos dentes e colocou o Sebentão na quadrilha.

Após essa entrevista vemos um cidadão que perdeu a arrogância e a empáfia, seus desafios verbais se resumiram a simples notinhas plantas em jornais alinhados com a quadrilha vermelha. Vive fugindo da imprensa, se esconde, usa seguranças, se cala.

Sem a asquerosa presença nos palanques, e com uma morna demostração de que o povo está começando a acordar, o PT vai de mal a pior nas campanhas eleitorais. Segundo as pesquisas, se conseguir, emplaca só Goiânia das capitais do país.

E com a casa do PT caindo, e o Sebentão mais sumido que dente em boca de pobre. É a prova cabal que o mensalão está fazendo muito mais estragos entre os Ratos Vermelhos do que a megalomania do EX presidente poderia imaginar.

Na verdade, o que se prova com a mudança de atitude do Sebento, é que se ele tivesse a absoluta certeza da própria inocência, e da inexistência do mensalão, já estaria se espalhando pelo país com seus discursos inflamados em sua auto defesa.
O silêncio do Sebento é ensurdecedor, mas diz muito mais do que qualquer investigação ou acusação que comprovam, não só a existência do Mensalão, como também sua participação no esquema que ele jurou desconhecer.

O "cara" some, se cala, e deixa seus bate paus e baba ovos para fazerem o trabalhinho sujo de tentar convencer o Papai Noel, o Saci Pererê, e o Coelho da Páscoa que o Mensalão é caixa dois de campanha, e que tudo não passou de um golpe dazelites burguesas e raivosas.

E este fato é tão contuindente que em plena reta final de campanha eleitoral, o Sebentou foi de mala e cuia fazer palestra no México.

Desde quando ele deixaria uma campanha onde seus cãodidatos estão tromando no rabo para fazer gracejos e desferir cusparadas em outro país?
E na tentativa de preservar a própria imagem, o EX presidente se manda e deixa os "cumpanhêrus" cãodidatos na mão.
 
E COMO DIZ O DITADO:
"QUEM CALA CONSENTE"
 
22 de setembro de 2012
omascate

JOAQUIM BARBOSA REPOSICIONA A NAÇÃO BRASILEIRA QUE TAMBÉM COMEÇA A SE REERGUER MORALMENTE EM MEIO À LAMA PUTREFATA DOS PODERES IGNÓBEIS QUE CLAMAM POR ANTIJUSTIÇA E A QUALQUER PREÇO MORAL




O ministro Joaquim Barbosa reposiciona a Nação Brasileira no rumo da seriedade e no enfrentamento da impunidade. Joaquim Barbosa não precisou de cotas raciais para se tornar advogado, professor e jurista de renomada.

Joaquim Benedito Barbosa é filho primogênito de uma família de oito irmãos. Seu pai era pedreiro e sua mãe doméstica. Aos 16 ele saiu de Paracatu, nas Minas Gerais e sozinho foi aventurar a vida em Brasília, onde arranjou emprego na gráfica do Correio Braziliense e trabalhou como compositor gráfico do Centro Gráfico do Senado Federal.

Ao contrário de Lula, que ganhou a vida como parasita de sindicatos, Joaquim Barbosa estudou, formou-se em Direito na Universidade de Brasília, concluiu o mestrado em Direito do Estado e, por mérito próprio, tornou-se Chefe da Consultoria Jurídica do Ministério da Saúde; Oficial de Chancelaria do Ministério das Relações Exteriores (1976-1979), tendo servido na Embaixada do Brasil em Helsinki, Finlândia.

É Mestre e Doutor em Direito Público pela Universidade de Paris-II (Panthéon-Assas); foi Visiting Scholar (1999-2000) no Human Rights Institute da Columbia University School of Law, New York, e na University of California Los Angeles School of Law (2002-2003); e também por méritos, foi ungido ministro da mais alta corte de justiça do Brasil, o Supremo Tribunal Federal.

Intelectual de luzes possantes, é autor das obras “La Cour Suprême dans le Système Politique Brésilien”, publicada na França em 1994 pela Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence (LGDJ), na coleção “Bibliothèque Constitutionnelle et de Science Politique”; “Ação Afirmativa & Princípio Constitucional da Igualdade e "O Direito como Instrumento de Transformação Social".

Somente os canalhas e lacaios defensores da quadrilha de marginais de estimação do PT ousariam empreender uma campanha imunda e indigna de apreço para tentar denegrir a honra de um magistrado da justiça que cumpre com altivez e dignidade as suas funções constitucionais, e o faz de forma exemplar.

Eu, Ruy Câmara, assim como a imensa maioria do povo brasileiro, aplaudimos de pé o ilustre ministro Joaquim Barbosa, pelo seu trabalho corajoso em defesa da moralidade e decência no Brasil. O Brasil tem jeito; tem jeito graças a homens do calibre moral e intelectual como o destemido RELATOR DO MENSALÃO.

Joaquim Benedito Barbosa, um homem cuja alma é de uma alvura que nem mesmo a pele negra consegue obumbrar, encarna em si a decência, a honradez e a imparcialidade personificada no espírito republicano de um juiz digno, honesto e de cujos princípios e ações exemplificam o Brasil a cada vez que faz justiça-justa.

Quando o vejo pronunciando-se de pé, com o semblante tenso de quem certamente está suportando, às duras penas, as mais terríveis dores de coluna, lembro-me (não sei o porquê) mas lembro-me sempre da imagem do poeta de Santana do Desterro, o genial Cruz e Souza, já cansado de viver entre os medíocres, recitando pausadamente a sua indignação, tal como se estivesse lançando luzes sobre o breu de uma noite taciturna e perigosa.
 
Vejo-o tal como imagino o grande Dante, num cenário onde grasnam as aves de rapina e onde os espíritos vis vão se obumbrando com suas torpezas; e é nesse cenário onde o juiz se acentua no “Lasciate ogni speranza”; e quando presume-se sozinho, nadando contra a correnteza de águas poluídas, eis que ao seu lado vão surgindo os Homeros e Virgílios que se levantam graças aos braços hercúleos da posteridade e ao fôlego intérmino e secular da história de uma Nação que também começa e se reerguer moralmente em meio à lama putrefata dos poderes ignóbeis que clamam por antijustiça a qualquer preço moral. 
 
22 de setembro de 2012

Por Ruy Câmera - Escritor

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