"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

DE NOVO, UMA DOENÇA CHAMADA LULA

Eu não sou a supernanny disso a que chamam “povo”. Ou: de novo uma doença chamada “Lula”


Escrevi nesta madrugada um texto em que afirmo que o nome da doença da política brasileira é Luiz Inácio Lula da Silva. Está dando o que falar. E está porque tenho milhares de leitores.

É assim mesmo. Quem escreve só pra si não tem ninguém a espiá-lo a não ser o silêncio, e o texto vira um exercício de expiação da própria irrelevância. Deve ser difícil. Um leitor ou outro me enviam ataques de fúria desse ou daquele:
“Você viu o que disse fulano, como reagiu Beltrano?”
Não vi. Eles me lêem; não os leio. Não enviem os links porque não lerei. Não tenho tempo. A opinião de bem pouca gente da imprensa — ou da subimprensa — me interessa. Meu diálogo é com OS MEUS LEITORES, não com quem tenta usar os meus textos para conseguir leitores.
Faltam horas no meu dia para ler o que presta. Por que desperdiçar as que tenho com quem não presta? Faz tempo que me atacar é uma boa forma de tentar aparecer.
A torcida é para que eu reaja. Mas essa decisão é minha. Às vezes, decido me divertir um pouco. Ponto. Parágrafo.

Escrevi aquele texto de madrugada, ainda estava meio escuro. Agora eu o reli à luz de um sol um tanto pálido que entra pela janela — saudade de todos os verões, Deus Meu!, do verão ancestral! Sim, agora que o releio sob nova luz, concluo: o nome da doença da política brasileira é Luiz Inácio Lula da Silva.

É ele quem comanda hoje a RESISTÊNCIA — no seu partido, na base aliada, nos setores pouco salubres da imprensa — a isso a que chamam (eu jamais o fiz de própria pena) “faxina” na administração. A exemplo de Dilma, também eu não gosto muito da palavra. Faz supor que é só uma questão de espanar a poeira, pôr pra fora o lixo e passar um lustra-móveis. Não é! Há mudanças de natureza estrutural que precisam ser feitas. Tenho tratado delas. O voto distrital, por exemplo, representaria um ganho formidável de qualidade.

Sim, eu afirmei que Lula escapou do mensalão, entre muitos fatores, porque tinha maioria no Congresso, destacando outro elemento: a “sem-vergonhice docemente compartilhada por quem votou nele”. E emendei: “Não dá para livrar os eleitores de suas responsabilidades.” E não dá mesmo! Não sou a supernanny do “povo”.
Aliás, eu nem mesmo reconheço a existência dessa categoria. Quem gosta de especular sobre o “espírito do povo” são os descendentes intelectuais e políticos do fascismo, seja o fascismo de direita, seja o de esquerda. É aquela turminha esquerdopata do que chamo “Complexo Pucusp” (é bem possível que “Pucusp” seja uma palavra criada por Bruno Tolentino, mas não estou certo).
Eu reconheço a existência de pessoas. Quem votou em Lula, mesmo sabendo do mensalão e do esquema que era comandado pelo seu partido — e, exceção feita a alguns bolsões de ignorância extrema, era impossível não saber — endossou aquelas práticas, entregou-se à “sem-vergonhice docemente compartilhada”. A democracia é o regime de responsabilização disso a que chamam “povo” — e que eu chamo “pessoas”.

Foi só isso? Claro que não! Não dá para escrever todos os textos num só. Há centenas deles neste blog cobrando a responsabilidade das oposições, por exemplo, os erros cometidos, a falta de combatividade e de clareza ao longo dos quatro primeiros anos do governo Lula, com repeteco nos outros quatro etc.

Mas essa entidade sacrossanta a que populistas dos mais variados matizes classificam como “povo” é responsável pelos governos que elege, ora essa! E se torna co-responsável por seus métodos. Se a maioria do eleitorado tivesse achado o mensalão grave o bastante, não teria dado um segundo mandato a Lula. “Ah, para a população, os benefícios que ele representava eram superiores aos malefícios”.
Não seria difícil contestar tal afirmação no terreno dos argumentos objetivos. Mas digamos que tenha sido essa a percepção. Não só não muda o que escrevi como referenda: fez-se uma escolha. E essa escolha compreendia acolher a lambança.

Eu não me considero superior a isso a que chamam “povo”; não sou seu intérprete, seu psicanalista, seu educador ou o que seja. Por isso mesmo, não preciso vê-lo com compreensiva e compassiva generosidade. Acima da linha da sanidade, qualquer homem da rua é meu igual, é meu irmão. Tenho asco do paternalismo de qualquer natureza. Dei aula durante muito tempo. Meus alunos estão por aí, alguns deles na imprensa. Nunca fui um professor “gugu-dadá”, “cúti-cúti”… Tenho horror a essa postura. E, como sabem os que me lêem, não puxo o saco nem mesmo dos leitores. Mais de uma vez contrariei algumas expectativas. Lê quem quer.

Se alguém está tentando desestabilizar o governo Dilma Rousseff, esse alguém é Luiz Inácio Lula da Silva, que se apresenta como o condestável da República e que exerce uma coordenação paralela da aliança que conduziu Dilma ao poder. O recado é mais do que claro: ou ela joga segundo as regras que ele estabeleceu — que supõem aquela penca de malefícios que elenquei no texto anterior — ou ele se apresenta como a alternativa, que é o que tem feito de maneira sistemática, organizada, metódica.

E encerrei aquele post assim: “Lula é o nome da doença. É para ela que precisamos de remédio.”

Mas qual é o remédio?

Por Reinaldo Azevedo

UM BRASIL NO POÇO SEM FUNDO


Chegam a ser admiráveis, se não fossem trágicos, a coragem e o cinismo dos corruptos brasileiros. Eles sabem que estão sendo vigiados, mas saqueiam os cofres públicos.

Eles sabem que existem atualmente instrumentos e técnicas de rastreamento e de vigilância eletrônica dos mais sofisticados, mas partem para cima das licitações,
das verbas de urgência,
das rubricas gordas e fartas do erário,
deixam crianças sem merenda escolar,
deixam pontes sem estradas e estradas sem pontes,
deixam o agricultor sem plantar,
deixam a seca matar,
as enchentes destruírem cidades e povoados inteiros, de ponta a ponta do país.

Mas eles estão sempre lá de prontidão, não para ajudar, mas prontos para atacar. Mal enterram seus mortos, as mesmas comunidades agredidas pelas intempéries e pela gana de políticos e empresários desonestos veem as chances de reconstrução de suas vidas sumirem na poeira das promessas.

Mas eles estão sempre lá, atentos, como hienas que rondam um cadáver no deserto.

Seja no Ministério dos Transportes, seja na Agricultura ou no Turismo, a corrupção é a mesma, as quadrilhas apenas se revezam no tempo, mas os ladrões são os mesmos, somente trocam de nomes.

Eles vestem a mesma indumentária de picaretas profissionais, possuem o mesmo rosto, calçam o mesmo número de sapatos, mudam apenas de partido, de cidade, de pasta. Eles estão sempre lá, infelizmente.

Eles falam a mesma língua da ironia e do desprezo para com as populações que buscam melhoria de vida e acreditam em suas palavras em época de eleições.

Mas eles são sempre os mesmos, embora troquem de partido, a dança da corrupção não tem cor partidária e os corruptos não perdoam. Seja em Niterói, em Friburgo, em Teresópolis, no Nordeste, na Região Amazônica.

Se for possível fazer uma comparação, é de se pensar que as guerras matam menos do que a corrupção.

Os bandidos de colarinho branco usam outros tipos de armas, mas matam do mesmo jeito. Que o digam os parentes dos mortos nas enchentes,
nas secas,
nas cidades,
nas margens de um mundo paralelo que só funciona à base do cinismo.

Carlos Tavares Correio Braziliense

A OMISSÃO DA "ELITE PARTIDÁRIA" NO COMBATE A CORRUPÇÃO



Passados 45 dias do afastamento da cúpula do Ministério dos Transportes, a elite partidária do país pouco ou quase nada disse que efetivamente demonstrasse preocupação com a onda de denúncias da prática de corrupção no quinhão que lhes coube no rateio do governo.

Muito se discute o papel da Polícia Federal, que transforma cada prisão num espetáculo midiático, como se não houvesse uma súmula do Supremo Tribunal Federal (STF) disciplinando o assunto.

Mas são desconhecidas as manifestações dos líderes e dirigentes partidários sobre as causas que levam o Brasil a ser classificado como um dos países mais corruptos do mundo e sobre a necessidade de se desenvolver mecanismos apropriados para conter a sangria do dinheiro público.

A omissão da elite política dirigente ofende o eleitor, tenha ou não votado no partido envolvido no escândalo do dia. Chega a ser inacreditável que os dissidentes de partidos situacionistas se vejam na obrigação de sair em defesa do governo que desencadeou a ofensiva moralizante.

Ofende os contribuintes, obrigados a trafegar por estradas intransitáveis ou a esperar horas sem fim na fila da emergência de hospitais sucateados por falta de investimentos. Ofende a autoestima em recuperação dos brasileiros, após o controle da superinflação, em meados dos 90.

Numa paráfrase do líder negro americano Martin Luther King, assassinado no fim dos agitados anos 60, o que mais preocupa não é o grito dos corruptos, dos desonestos, dos sem-caráter e dos sem-ética - o que mais preocupa é o silêncio dos bons.

Esses parecem reduzidos a uma dezena de senadores que se pronunciaram na tarde de segunda-feira, ainda assim, alguns aproveitando a onda para surfar sobre as direções partidárias que os isolaram e outros tendo em vista um bom pretexto para a adesão ao governo, pura e simplesmente.

A reação dos líderes é a de quem considera normal a ocorrência de corrupção; anormal seria a forma como a roubalheira é exposta. Apesar de as denúncias surgidas até agora serem vagas, não se viu um dirigente questionar o mérito das acusações.

Mas todos correram para responsabilizar a mídia por divulgar e escandalizar o que é um escândalo, ou para dizer que as denúncias (nem se fala mais em supostos desvios de verbas) não atingiam suas respectivas siglas partidárias.

A reação dos dirigentes e líderes dos dois principais partidos da base aliada - PT e PMDB - é sintomática. "Não vi escândalo nenhum. Vi uma manipulação.

Estamos nos solidarizando ao Mário Moysés, porque o que houve foi uma manipulação de órgãos da mídia", disse o presidente do PT, Rui Falcão (SP), sobre a "Operação Voucher", responsável pelas prisões suprapartidárias que a PF fez na cúpula do Ministério do Turismo.

Em vez de discutir a prática de corrupção, o presidente do PT tratou de isentar o companheiro de legenda e de governo no período em que Marta Suplicy foi prefeita da cidade de São Paulo.

Outras autoridades do governo alegaram abusos da imprensa nas recorrentes denúncias de corrupção dos ministérios. Na mesma linha de Rui Falcão, a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, disse que as acusações ao ministro do Turismo, Pedro Novais Lima (PMDB-MA), eram somente "armações da imprensa".

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), usou a experiência adquirida em meio século de política para dizer que não era responsável pela indicação de Pedro Novais Lima (o ministro do Turismo).

"Essa é uma afirmação que não foi bem apurada pela imprensa", disse. Sarney não teve a mesma preocupação quando os jornais colocaram o ministro em sua cota pessoal no ministério. A nomeação era, então, um sinal de prestígio político.

Cita-se dois líderes políticos, dos partidos mais importantes, mas há manifestações parecidas de políticos em todas as siglas partidárias.

Há pelo menos 10 anos o Brasil aparece em posição vergonhosa no índice de percepção da corrupção elaborado pela organização Transparência Internacional.

A nota oscila sempre em torno dos 3,5, numa escala que vai de zero a dez. Como diria Rui Barbosa, o homem chega a desanimar da virtude, "a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto".

Valor Econômico

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA: A DOENÇA QUE ASSOLA O BRASIL



O nome da doença que assola o Brasil é Luiz Inácio Lula da Silva

Quatro ministros caíram em menos de oito meses de governo Dilma. Se considerarmos que Luiz Sérgio deixou a coordenação política para não fazer borra nenhuma na pesca, são cinco, três deles porque não conseguiram explicar o inexplicável no terreno ético: Antônio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes) e Wagner Rossi (Agricultura). Nelson Jobim (Defesa) foi demitido porque falou demais. As demissões se deram de junho pra cá, à média, portanto, de mais de uma por mês. São os sintomas. Afinal, qual é a doença que acomete a política brasileira? Chama-se Luiz Inácio Lula da Silva, o homem que hoje atua de modo claro, desabrido e insofismável para desestabilizar o governo da presidente Dilma Rousseff, sua criatura eleitoral.

Esse modelo de governo necrosado, que recende a carniça, não chega a ser uma criação genuína de Lula. Ele não cria nada. Mas é o sistema por ele reciclado, submetido ao aggiornamento petista. Este senhor é hoje o maior reacionário da política brasileira. De fato, é o maior de todos os tempos: nunca antes na história destepaiz um líder do seu porte — e os eleitores quiseram assim; não há muito o que fazer a respeito — atuou de forma tão determinada, tão clara, tão explícita para que o Brasil andasse para trás, desse marcha a ré nas conquistas do republicanismo, voltasse ao tempo da aristocracia dos inimputáveis. Enquanto Lula for uma figura relevante da política brasileira, estaremos condenados ao atraso.

O governo herdado por Dilma é aquele que seu antecessor construiu. Aqui, é preciso fazer um pouco de história.

No modelo saído da Constituição de 1988, o presidente precisa do Congresso para governar. Se o tem nas mãos, consegue transformar banditismo em virtude, como prova o mensalão. É impressionante que Lula tenha saído incólume daquela bandalheira — e reeleito! Há diversas razões que explicam o fenômeno, muitas delas já conhecidas. O apoio do Congresso foi vital — além da sem-vergonhice docemente compartilhada por quem votou nele. Não dá para livrar os eleitores de suas responsabilidades.

Fernando Henrique Cardoso governou com boa parte das forças que acabaram migrando para o lulo-petismo — o PMDB inclusive. Surgiram, sim, denúncias de corrupção. Não foi certamente um governo só com vestais. Mas era uma gestão com alguns propósitos, boa parte deles cumprida. Era preciso consolidar as conquistas do Plano Real, promover privatizações essenciais à modernização do país, tirar o bolor da legislação que impedia investimentos, criar bases efetivas para a rede de proteção social. FHC percebeu desde logo que essa agenda não se cumpriria com um alinhamento do PSDB à esquerda. E foi buscar, então, o PFL, o que foi considerado pelos “progressistas” do Complexo Pucusp um crime de lesa moralidade. Em boa parte da imprensa, a reação não foi diferente. Falava-se da “rendição” do intelectual marxixta — o que FHC nunca foi, diga-se — ao patrimonialismo. Um “patrimonialismo” que privatizava estatais… Tenha paciência!

FHC venceu eleição e reeleição no primeiro turno e implementou a sua agenda, debaixo do porrete petista. Teve, sim, de fazer, muitas vezes, o jogo disso que se chama “fisiologia”. O modelo saído da Constituição de 1988, reitero, induz esse sistema de loteamento de cargos. O estado brasileiro, infelizmente, é gigantesco. Quanto mais cargos há a ocupar, pior para a ética, a moral e os bons costumes. Mas, repito, o governo tinha um centro e uma agenda das mais complexas.

Lula surfou no bom momento da economia mundial, manteve os fundamentos herdados do seu antecessor — é faroleiro e assumidamente bravateiro, mas não é burro — e foi muito saudado por jogar no lixo o programa econômico do PT (até eu o saúdo por isso; sempre que algo do petismo vai para o lixo, é um dever moral aplaudir). Procedam a uma pesquisa: tentem encontrar um só avanço estrutural que tenha saído de sua mente divinal; tentem apontar uma só conquista de fundo, que tenha contribuído para modernizar as relações políticas no país; tentem divisar um só elemento que caracterize uma modernização institucional.

Nada!

Ao contrário. Lula fez o Brasil marchar para trás algumas décadas nos usos e costumes da política e atuou de maneira pertinaz para engordar ainda mais o balofo estado brasileiro, o que lhe facultou as condições para elevar a altitudes jamais atingidas o clientelismo, o fisiologismo, a estado-dependência. E aqui é preciso temperar a história com características da personagem,

Déficit de credibilidade

Lula e seu partido chegaram ao poder em 2002 com um déficit imenso de credibilidade. Muita gente pensava que eles próprios acreditavam nas besteiras que diziam sobre economia. Daí a especulação enlouquecida na reta final da eleição e no começo de 2003. O modelo, insisto, requer uma base grande no Congresso. E Lula, por intermédio de José Dirceu, foi às compras. A relação do PT com os outros partidos passou a sere mais ou menos aquela que existe no mercado de juros: se o risco oferecido pelo tomador do empréstimo é alto, a taxa sobe; se é baixo, desce. Os petistas eram considerados elementos um tanto tóxicos. Eles haviam se esforçado durante anos para convencer disso seus adversários. Logo, os candidatos à adesão levaram o preço às alturas.

Lula aceitou lotear o governo como nenhum outro havia feito antes dele. Os ministérios eram oferecidos de porteira fechada — prática que continuou e se exacerbou no segundo mandato; nesse caso, já não era déficit de credibilidade, não. Lula, o sindicalista, que fazia discurso radical para as massas e enchia a cara de uísque com a turma da Fiesp, viu-se feliz como pinto no lixo quando passou a ser o doador das benesses oficiais. Ele se encontrou. Descobriu seu elemento. Gostava mesmo era daquilo. E não foi só com os políticos, não!

Parte importante do empresariado e do mercado financeiro viu nele o lampejo do gênio. Com ele, sim, era fácil negociar, dizia-se a pregas largas, não com aquele sociólogo metido… Com Lula, tudo podia, tudo era permitido, tudo era precificável. Políticos e empresários se surpreenderam coma a facilidade com que ele fazia concessões. Não! Nada de tentar baixar carga tributária, por exemplo. O modelo consolidado pelo PT é outro: é o dos incentivos a setores escolhidos, o dos empréstimos subsidiados a rodo, o da escolha de “vencedores”. Lula não formava a sua clientela apenas com os miseráveis do Bolsa Família (que ele não criou; só lhe seu viés politiqueiro). Os tubarões também passaram a ser clientes do lulo-petismo. Tinha bolsa pra todo mundo.

O grande gênio

Surfando num momento formidável da economia mundial, Lula pôde, então, se dedicar à sua obra: revitalizar o clientelismo; profissionalizar o aparelhamento do estado; comprar apoios loteando ministérios, estatais e autarquias. Mas para fazer qual governo mesmo? Para deixar qual herança de fundo, destinada às gerações futuras? O homem transformou-se num quase mito agredindo alguns dos fundamentos do republicanismo, que foram duramente construídos ao longo dos oito anos de seu antecessor. Lula avançou contra a herança bendita de FHC para deixar uma herança maldita a seus sucessores e a várias gerações de brasileiros. Nessas horas, os petralhas sempre entram para provocar: “Ah, mas só uma minoria acha isso; o povão apóia”. E daí? “Povões” já endossaram gente até mais nefasta do que Lula história afora.

Essa gente asquerosa que se demite ou é demitida e faz esses discursos patéticos, em que sugerem que só estão deixando seus cargos porque pautados pela mais estrita decência e por uma competência inquestionável, é expressão do modo lulista de governar. Eu, pessoalmente, ainda não estou convencido de que estamos diante da evidência da incompatibilidade de Dilma com esse padrão moral. Afinal, ela era a “gerente” do governo anterior, certo? Mas estou plenamente convencido de que ela não tem a devida destreza par comandar isso que se transformou NUMA VERDADEIRA MÁQUINA CRIMINOSA de gestão do estado.

A rataiada com a qual Lula governou o país durante oito anos tinha certo receio dele, de sua popularidade — até as oposições evidenciaram esse temor mais de uma vez —, mas não reverencia Dilma. Para se associar, mais uma vez, ao PT, o PMDB, por exemplo, exigiu participar efetivamente do governo, e isso quer dizer liberdade para executar a “sua” política nos ministérios. O mesmo se diga dos demais partidos. A infraestrutura já foi à breca há muito tempo, mas o país que se dane. Os “aliados” têm de cuidar dos seus interesses porque assim combinaram com Lula.

Em 2010, o prêmio exigido para a adesão foi alto não porque o PT padecesse daquele déficit de credibilidade de 2002. A candidata é que se mostrava difícil. A costura da aliança, por isso, elevou o preço de novo. A tal “base” está revoltada porque o modelo de Lula não comporta a ingerência do poder central nos feudos dominados por partidos. Afinal, quem Dilma pensa que é? O acordo não foi feito com ela. Os patriotas se dizem, sem qualquer constrangimento, traídos. “Lula pediu para a gente apoiar essa mulher, e agora ela acha que pode se meter no nosso quintal?” Eles se consideram credores da presidente e acham que o governo os trata como devedores.

Nostalgia

Eles todos estão com saudade de Lula. Querem retomar a tradição. Consideram que roubar dinheiro público é uma paga natural pelo apoio, é parte das regras do jogo. Não deploram em Dilma a sua falta de projeto, de norte, de rumo. Estão inconformados é com o que a “falta de apoio” do governo contra esta maldita imprensa, que insiste em apontar irregularidades. Cadê o Apedeuta para pedir o controle dos meios de comunicação? Cadê o Franklin Martins para articular a “resistência”? Até o secretário de Imprensa do Planalto parece cobrar um “confronto” com a “mídia”. Eles querem Lula. E Lula quer de volta o lugar que acha que lhe pertence.

Encerro voltando aos tais intelectuais e àquela parte do jornalismo que ajudou a fundar o quase-mito Lula. Quando FHC fez a coligação com o PFL, falaram em crime de lesa democracia. Quando Lula se juntou à escória mais asquerosa da política, saudaram o seu pragmatismo. O pragmatismo que transformou a cleptocracia numa categoria progressista de pensamento.

Lula é o nome da doença. É para ela que precisamos de remédio.

18/08/2011
Por Reinaldo Azevedo

O PAÍS DOS CANALHAS: BRASIL ASSENHOREADO, CARCOMIDO, ESTROPIADO, ROUBADO...



Operação da PF e da receita flagra um dos maiores esquemas de sonegação fiscal da história do País Uma investigação iniciada na década de 1990 levou à descoberta de uma das maiores fraudes fiscais já constatadas no Brasil.

O esquema conta com a participação de 300 empresas instaladas no País e no exterior e é responsável por um rombo nos cofres públicos estimado em pelo menos R$ 1 bilhão apenas em impostos federais.

Ontem, uma operação da Polícia Federal e da Receita, batizada de Alquimia, resultou na prisão de 23 pessoas e no confisco de bens que incluem uma ilha em
Salvador,
lanchas,
jatos e helicópteros,
carros de luxo,
caminhões,
imóveis residenciais,
parques industriais completos,
com prédios e máquinas,
e 2,5 quilos em barras de ouro.

Os envolvidos são acusados de sonegação fiscal,
falsidade ideológica,
lavagem de dinheiro
e formação de quadrilha,
entre outros crimes que ainda estão em apuração.

A Operação Alquimia foi desencadeada pela manhã em 17 Estados -
Minas Gerais,
São Paulo,
Bahia,
Alagoas,
Amazonas,
Ceará,
Espírito Santo,
Goiás,
Mato Grosso do Sul,
Pará,
Paraná,
Piauí,
Pernambuco,
Rio de Janeiro,
Rio Grande do Sul,
Santa Catarina e Sergipe -
e no Distrito Federal,
com 650 agentes da PF, além de auditores da Receita.

As equipes tinham 31 mandados de prisão, 129 de busca e apreensão, 63 de condução coercitiva - levar alguém para depor - e ordens judiciais para sequestro de bens de 62 pessoas e 195 empresas.

Todos expedidos pelo juiz Bruno Savino, da 3.ª Vara Federal de Juiz de Fora (MG), onde a investigação começou.

O delegado Marcelo Freitas, que coordenou a ação pela PF, não quis revelar nomes, mas o Estado apurou que os principais alvos da operação são as empresas Sasil, com sede em Salvador (BA), e Varient, que tem sede em São Paulo e foi adquirida pelo grupo baiano no ano passado.

A Sasil é presidida pelo empresário Paulo Sérgio Costa Pinto Cavalcanti, que seria o proprietário da ilha confiscada em Salvador.

O delegado confirmou apenas que há envolvimento de factorings e outros tipos de negócios investigados, mas a maior parte das empresas atua "na produção, armazenagem, compra, venda, importação e exportação de produtos químicos". "Uma quantidade enorme de produtos químicos", salientou o policial.

Marcelo Freitas contou também que as investigações revelaram que, entre as 300 empresas usadas pela quadrilha, 50 delas movimentaram mais de R$ 500 milhões apenas entre 2005 e 2009.

Entre as empresas investigadas, apenas 11 que já têm o crédito tributário constituído pela Receita Federal foram autuadas em R$ 120 milhões.

Marcelo Portela O Estado de S. Paulo

OS BONECOS DE VENTRILOQUO DO IBAS




Dilma, Patriota assina em teu nome!

O ditador Bashar Assad encontrou nos enviados do Ibas (Índia, Brasil e África do Sul) os bonecos de ventríloquo ideais para transmitir ao mundo a sua versão dos eventos sangrentos em curso na Síria.

O comunicado final da delegação, um dos documentos mais abjetos jamais firmados pelo Brasil, pinta o cenário de um regime engajado na sua reinvenção democrática, mas assediado pela violência de grupos armados opositores.

A assinatura brasileira converte Antônio Patriota em cúmplice de um Estado policial que se dedica à matança de sua população. Patriota, contudo, é funcionário de Dilma Rousseff. A assinatura dele é a dela.

O Itamaraty difunde a narrativa oficial síria, segundo a qual o derramamento de sangue se deve à violência de setores da oposição. Há nisso uma nota sinistra, só audível por quem conhece o passado recente da Síria. Refiro-me a Hama e a fevereiro de 1982.

Nessa cidade sunita operavam guerrilheiros islâmicos que combatiam o regime de Hafez Assad, pai de Bashar. Após uma emboscada dos rebeldes contra forças militares, o ditador ordenou o bombardeio de toda a cidade, por terra e ar. Num tempo anterior à internet e aos celulares, há escassas, mas pungentes, imagens do resultado.

No fim, Hama parecia as cidades alemãs extensivamente bombardeadas na guerra mundial. Um dos filhos do ditador supervisionou o ataque e se gabou de matar quase 40 mil pessoas, uma cifra confirmada pelas estimativas independentes.

Quando os escombros ainda ardiam, o governo vazou para a imprensa libanesa a notícia das dimensões da carnificina, enviando uma mensagem ao povo sírio. A mensagem foi decodificada, em muitos sentidos.

Até há pouco, aos murmúrios, os sírios se referiam ao massacre por meio de um sombrio eufemismo: "os incidentes de Hama". Agora, enfrentando munição real, os manifestantes voltam às ruas num ânimo quase suicida, pois sabem que só têm a alternativa de derrubar o regime.

Patriota deveria ter a decência de pensar duas vezes antes de colar o selo do Itamaraty sobre a versão de Damasco:
na linguagem dos Assad, a expressão "gangues terroristas" é a senha para aplicar a "lei de Hama". Além de tudo, a versão é falsa.

Em 17 de julho, uma conferência nacional de 450 líderes opositores, laicos e religiosos, conclamou à desobediência civil pacífica. O regime respondeu armando 30 mil milicianos da minoria alauita, a fim de reconfigurar o cenário como um conflito sectário.

Artilharia, tanques e navios alvejam Hama, Homs, Deir ez-Zor e Latakia. O saldo provisório já atinge 2 mil mortos. Líderes da tribo baqqara, de Deir ez-Zor, autorizaram o uso de armas contra incursões assassinas do Exército, de casa em casa, que não poupam crianças.

Vergonha:
o gesto desesperado de pessoas acuadas serve como o pretexto para Patriota reverberar a senha de uma ditadura inclemente. Pretexto é a palavra certa. O Itamaraty não se importa com os fatos: segue uma agenda ideológica.

A Constituição prescreve, no artigo 4.º, que o Brasil "rege-se, nas suas relações internacionais" pelo princípio da "prevalência dos direitos humanos". Dilma prometeu respeitar o artigo constitucional. O compromisso, expresso num voto contra o Irã, não resistiu a um outono.

Em março, a abstenção na resolução da ONU de intervenção na Líbia evidenciou uma oscilação. Em junho, a recusa da presidente em receber a dissidente iraniana Shirin Ebadi, Nobel da Paz, sinalizou o recuo.

Em 3 de agosto, a rejeição a uma condenação da Síria no Conselho de Segurança da ONU concluiu a restauração da política de Lula, Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia.

No seu desprezo inigualável pelo mandamento constitucional, o comunicado do Ibas equivale a uma celebração orgiástica da velha ordem. Num Roda Viva, da TV Cultura, indaguei a Celso Amorim sobre os motivos do governo para ignorar sistematicamente o artigo 4.º da Constituição.

O então ministro do Exterior retrucou invocando o princípio da autodeterminação dos povos e da não intervenção, contemplados no mesmo artigo, mas em posição inferior. A resposta vale tanto quanto as promessas reformistas de Assad.

Na verdade, como fica explícito num livro do ex-secretário-geral do Itamaraty Samuel Pinheiro Guimarães, a linha do governo deriva de uma curiosa tradução do objetivo de promover a "multipolaridade" nas relações internacionais.

"Multipolaridade", no idioma de nossa atual cúpula diplomática, exige a redução da influência global dos EUA - o que solicitaria o apoio brasileiro aos regimes antiamericanos, sejam eles quais forem.

A Turquia perdeu a paciência com a Síria e exigiu uma imediata retirada militar das cidades assediadas. Sob pressão popular, governos árabes condenam, sem meias palavras, a selvagem repressão.

O Egito alertou Damasco sobre a ultrapassagem de um "ponto de não retorno". Nas ruas do Cairo e de Beirute, manifestações pedem o isolamento de Assad.

Longe da região, irresponsável, alheio às obrigações assumidas pela comunidade internacional, o governo brasileiro converte-se num dos últimos bastiões de um Estado policial sanguinário.

Desse modo, numa única tacada, viola um elevado princípio constitucional da nossa democracia e agride o interesse nacional, afastando-nos da meta legítima de uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Não há muito a fazer.

A Comissão de Relações Exteriores do Senado é presidida por um neolulista chamado Fernando Collor. A oposição renunciou ao confronto político de ideias, limitando-se à pescaria de ocasião na lagoa pútrida da corrupção nos ministérios.

Os intelectuais de esquerda, sempre prontos a fulminar com os raios de sua fúria santa os desvios retóricos do editorial de um grande jornal, não produzem manifestos de contestação aos atos do lulopetismo - ainda mais se justificados pela doutrina do antiamericanismo.

Resta escrever:
atenção, Dilma, Patriota assina em teu nome!

Demétrio Magnoli O Estado de S. Paulo

PIB EM QUEDA PELA 1ª VEZ DESDE 2008



PIB do país cai pela 1ª vez desde 2008 e inflação ainda chegará a 7%.
A economia brasileira já sentiu o baque das turbulências que atormentam o mundo. Em junho, pela primeira vez desde o auge da crise de 2008, o país pisou no freio e acendeu o sinal de alerta no governo.

O indicador de atividade medido pelo Banco Central (IBC-Br) registrou queda de 0,26%, o que reforçou as apostas de que a instituição manterá a taxa básica de juros (Selic) em 12,50% ao ano na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) marcada para o fim deste mês.

Pelos cálculos do BC, antes dessa retração, em dezembro de 2008, com a produção e o consumo no atoleiro, o país havia encolhido — o tombo foi de 4,4%.

A fraqueza econômica registrada pelo BC teve reflexos imediatos sobre o mercado financeiro. As taxas dos contratos de juros futuros (nos quais os investidores tentam garantir ganhos com possíveis oscilações da Selic) derreteram, a ponto de indicarem a possibilidade de a autoridade monetária promover cortes nos juros básicos ainda neste ano.

Esse sentimento foi reforçado pelas perspectivas de uma atividade global mais fraca, devido às dificuldades dos Estados Unidos e da Europa de se livrarem da ameaça da recessão.

As estimativas, agora, são de que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro fechará este ano com expansão entre 3% e 3,5% — uma decepção, no entender do Palácio do Planalto.

"Há todo um cenário apontando um vigor menor na economia mundial. E, mesmo estando mais forte para enfrentar as turbulências externas, o Brasil não deverá escapar de uma desaceleração caso as coisas lá fora piorem", disse Henrique de la Rocque, operadores de renda fixa e de derivativos da Brasif Gestão.
"A implicação para a política monetária (do resultado de junho) é direta.

O ritmo menor da atividade e os riscos de baixa no crescimento, por causa dos choques globais, elevam a perspectiva de que, na reunião de agosto, o Copom não aumente a taxa de juros", afirmou o economista Paulo Leme, chefe do Departamento de Pesquisas para a América Latina do Goldman Sachs.

Dentro do BC, a percepção é de que, com a economia mais fraca, a inflação convergirá rapidamente para o centro da meta, de 4,5%, em 2012.

Famílias endividadas

Na opinião dos especialistas, a retração da atividade em junho decorreu da menor produção industrial, que vem sofrendo com a competição dos importados, como no segmento de bicicletas, e do tímido crescimento do varejo.

"A leitura fraca (do indicador do BC) aumenta as preocupações de que a economia brasileira pode estar desacelerando mais rápido que o esperado, conforme sinalizado pela queda na produção industrial em junho e pelo modesto salto das vendas do varejo", afirmou Marcelo Salomon, economista do departamento de pesquisas do Barclays Capital.

Para Lia Valls, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), a queda da atividade computada pelo BC também foi influenciada pelo ritmo menor de consumo das famílias, bastante endividadas.

"Em uma sondagem recente que fizemos, o consumo, mesmo em um nível ainda favorável, registrou baixa. Além disso, os investimentos produtivos estão com perspectivas desfavoráveis", relatou.

No segundo trimestre, o indicador de atividade do BC não ficou negativo, mas registrou avanço mais moderado, de 0,7%, ante os primeiros três meses. No ano, a economia acumula alta de 3,74%.

Na visão de Eduardo Velho, apesar dos números ruins e das perspectivas sombrias para a economia global, ainda é prematuro dizer que o Brasil caminha para a recessão.

"Não é correto afirmar isso. O nível atual da atividade representou aumento de 3,9% em relação a junho do ano passado. E mais: no ápice da crise internacional de 2008, ocorreu uma contração do indicador do BC por três meses consecutivos, entre outubro e dezembro", argumentou.

A seu ver, a desaceleração prosseguirá nos próximos meses até que o PIB encerre este ano com alta de apenas 3,22%.

Inflação ainda chegará a 7%

A inflação acumulada em 12 meses deverá bater em 7% em agosto antes de cair até o centro da meta de 4,5% ao longo de 2012.

A previsão foi feita ontem pelo diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton, durante conversa com parlamentares da Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.

Por isso, segundo ele, não há possibilidade de redução das taxas de juros a curto prazo. Para Hamilton, mesmo com a forte desaceleração econômica na Zona do Euro e os Estados Unidos à beira de uma recessão, o BC não pode descuidar da inflação doméstica, que demonstra bastante força.

No encontro, fechado à imprensa, os deputados falaram mais do que ouviram, o que deixou vários deles irritados com o diretor do BC.
Nas poucas vezes em que se manifestou, Hamilton ressaltou que os EUA sofrem por problemas políticos, mas que não cabia a ele fazer comentários sobre aquele país.

Victor Martins Correio Braziliense

CORRUPÇÃO: OS PORQUÊS DE NOSSA APARENTE PASSIVIDADE,E POSSÍVEIS SAÍDAS (Parte I)



Sobre o tema indicado no título, eu talvez devesse me limitar a uma recomendação enfática do texto que o Reinaldo Azevedo postou hoje (13.07) no blog que mantém na revista Veja. Se invento de lhe acrescentar alguma coisa, é mais pelo gosto do debate, e na esperança de encontrar algo útil a dizer em razão de minha formação em ciência política.

O que motivou o Reinaldo foi um artigo publicado no dia 7 deste mês pelo jornalista Juan Arias, correspondente no Brasil do jornal espanhol El País. Como tantos de nós temos feito, Arias perguntou onde estão os brasileiros indignados. Por que não ocupam as praças para protestar contra a corrupção e os desmandos?

Com sua habitual precisão, Reinaldo começa observando que a resposta não é simples nem linear: as praças estão vazias devido a uma conjugação de vários fatores. No essencial, porém, ele diz que o “povo” não está nas ruas porque foi privatizado pelo PT; porque o PT compra, por exemplo, o MST com o dinheiro que repassa a suas entidades; porque a outrora gloriosa UNE hoje é apenas uma repartição pública alimentada pelo lulo-petismo com milhões de reais; porque a CUT e as outras centrais sindicais, tão vigilantes nos tempos de FHC, também se tornaram sócios bem-remunerados da corrupção dos últimos anos, e convenientemente esqueceram, como é óbvio, suas antigas críticas ao Imposto Sindical, cobrado compulsoriamente dos trabalhadores, sejam sindicalizados ou não.

O Imposto, como ninguém ignora – diz Reinaldo -, “é a fonte que alimenta as entidades sindicais e as próprias centrais, que não são obrigadas a prestar contas dos milhões que recebem por ano. As esquerdas dos chamados movimentos sociais estão engajadas, mas em defender o governo e seus malfeitos.
Afirmam abertamente que tudo não passa de uma conspiração contra os movimentos populares. As esquerdas infiltradas na imprensa demonizam toda e qualquer reação de caráter legalista. Ao longo dos quase nove anos de poder petista, a sociedade brasileira ficou mais fraca, e o estado ficou mais forte; não foi ela que o tornou mais transparente; foi ele que a tornou mais opaca. Em vez de se aperfeiçoarem os mecanismos de controle desse Estado, foi o Estado que encabrestou a sociedade civil”.

E OS “CARAS-PÁLIDAS”, POR ONDE ANDAM?

Aí está, em grandes linhas, o triste quadro pintado por Reinaldo Azevedo. O problema, infelizmente, é que ele piora bastante à medida em que lhe acrescentamos certos fatores demográficos e sociológicos sabidamente relevantes; por exemplo, a descontinuidade da memória coletiva em relação às duas principais mobilizações dos últimos 30 anos. Dezoito anos se passaram desde o movimento pelo impeachment de Fernando Collor, e 26 desde a campanha das Diretas-Já.

De meados dos anos 80, quando assistimos ao restabelecimento do poder civil e da democracia, uma geração inteira entrou em cena. Qualquer pesquisa que se faça mostrará que a geração mais jovem simplesmente ignora o que se passou nessa época; hoje, a própria expressão “caras-pintadas” designa um fato histórico já meio perdido nas brumas do tempo.
(continua)
Bolívar Lamounier

Último comentário por NIDIA COUTINHO:
Eu tenho a impressão de que o povo brasileiro perdeu a noção do que é grave, confunde ética com moral ...