"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 10 de maio de 2012

BRASIL, ESQUERDA, DIREITA, COISAS ESTRANHAS E AS ASAS DO FASCISMO


 Mesmo amando o solo onde nascemos, ninguém melhor do que nós mesmos para saber de suas mazelas e de seus defeitos. Da mesma forma que não existe ninguém perfeito; igualmente os países têm suas vantagens e desvantagens em seu “modo de ser”.

Mas, é inegável que o Brasil de uns tempos para cá vem se tornando um verdadeiro “samba do crioulo doido” em matéria de coerência (vão querer me processar por racismo). Algumas coisas têm acontecido que, sinceramente, deixariam de cabelo em pé o mais manso dos monges budistas e paralisariam o mais temível e fanático terrorista.

Todo mundo lembra que, depois do “Onze de Setembro”, os americanos endureceram dramaticamente suas medidas de segurança para estrangeiros. Absolutamente todos os passageiros são obrigados (até hoje) a retirarem seus sapatos para que os mesmos sejam vistoriados em busca de possíveis explosivos.
 Uma grande e idiota celeuma foi levantada por alguns setores da esquerda brasileira quando um de nossos embaixadores, voando em avião de carreira, teve de se submeter ao mesmo tipo de revista que todos os demais passageiros.

Pela simples falta de bom senso em compreender que aquilo era uma norma de segurança PARA TODOS e que tinha como objetivo a proteção do avião e de seu conteúdo em vidas (sem falar nas vidas em terra) e o costume de receber privilégios pelo simples fato de ocupar cargo público (a famosa república do “você sabe com quem está falando”); a grita geral era de que o governo “de direita” de FHC havia se submetido aos “imperialistas” e passado uma “vergonha” humilhando nossa nação.

Pois é. Para mostrar como essa gente pensa apenas em seus próprios umbigos e não está nem aí para a soberania de nossa nação (desde que os cofres sejam mantidos abertos), episódio bem semelhante (este sim humilhante dadas as proporções que tomou) se repetiu no governo esquerdista que ocupa agora o poder.

Longe de ser “desacatado” por uma medida de segurança imposta por uma outra nação soberana em seu território e só aplicada lá; o governo brasileiro foi publicamente xingado e sofreu uma descompostura internacional ao ser chamado “às favas” por um representante de uma mera empresa particular que nos julgou incompetentes, preguiçosos e dignos de um “chute no traseiro” para que o mundo todo ouvisse em alto e bom som. Como sempre, os “nacionalistas” pularam e gritaram que o tal representante seria “banido” das negociações e o Brasil, como “nação soberana”, não mais sentaria à mesa com “aquele cidadão”.

Bastou que o presidente da tal entidade (a FIFA) batesse o pé: “Se quiserem a Copa é com Fulano e só”. E toda aquela revolta nacionalista foi para o vinagre com uma velocidade espantosa. Agora, se era uma humilhação atender a uma lei de outra nação soberana em seu território; o que será ser xingado por um mero ASPONE de uma simples empresa e depois de espernear e vomitar asneiras, sentar-se ao lado do mesmo ASPONE como se nada tivesse acontecido e ainda trocar sorrisos com ele?

Outra coisa estranha que acontece por aqui é a forma imbecil e pusilânime como conduzimos nossas relações com nossos vizinhos continentais. O Mercosul é uma mera fantasia bancada por nós, enquanto a Argentina e outros países torpedeiam nossos produtos com tarifas alfandegárias “a dar com o pau”; retém documentos ou criam dificuldades para a exportação de nossos produtos (acabaram de proibir a importação de nossa carne de porco e derivados) sem que ninguém lhes dê o troco ou mostre que somos o fiel da balança no continente e não vamos aceitar ser feitos de bobo.

O exército boliviano invadiu nosso território com tropas armadas, atacou e incendiou casas de cidadãos brasileiros em nosso lado da fronteira e tudo que nosso governo fez foi “cuidar do caso” enviando dez soldados (isso mesmo) para uma região de floresta maior do que a Cidade do Rio de Janeiro. É lógico que ninguém vai declarar guerra contra a Bolívia (afinal de contas, uma possível conquista daquele país ia trazer mais problemas do que soluções ou lucros). Mas, uma nação que deseja ser chamada de potência não pode deixar que unidades militares regulares invadam seu território a mando de um governo estrangeiro e fique tudo por isso mesmo.

Criticou-se o governo FHC em relação ao fechamento da área de fronteira do Rio Paraguai que vinha se transformando num verdadeiro paraíso das armas e drogas. Para a "esquerda” a coisa soava como fascista e imperialista e para os paraguaios (aquele país ordeiro e cheio de gente que segue as leis à risca, com uma polícia atuante e honesta como a nossa) era algo inominável. Abandonamos o fechamento e, hoje, quem quiser pode assistir as imagens das cargas de drogas, armas e qualquer coisa desejada passar por barcos bem embaixo dos olhos de nossos fiscais na “ponte da amizade”.

As verdadeiras “asas do fascismo” estão presentes na alma das esquerdas brasileiras que pararam no tempo e se imaginam impondo à nação brasileira parâmetros de controle estatal dignos da “Era Stálin” ou mesmo práticas do Nacional Socialismo Alemão.

E antes que você militante de esquerda venha me xingar; saiba que esta constatação é de um dos maiores expoentes da atual esquerda brasileira, o Senador Randolfe Rodriguez do PSOL/AP. Ele chegou a essa conclusão (que para mim é óbvia e se manifesta claramente na forma criminosa como é conduzida a militância petista e da esquerda em geral nos dias de hoje) ao ser acusado por membros de seu próprio partido de “ter-se vendido ao imperialismo” pelo simples fato de propor a criação de um ponto turístico no Amapá. Seria um Museu que mostraria a participação do povo amapaense no esforço aliado no combate ao nazifascismo durante a Segunda Grande Guerra. Tudo isso pelo fato do museu ser criado com verbas da Secretaria da Cultura do Amapá e do Governo Americano (já que, a exemplo do Nordeste, havia uma base americana lá durante a guerra).

Crítica igualmente estúpida se deu quando ele buscou investimentos estrangeiros para alavancar a economia do Amapá. Seus correligionários embarreiraram o processo por acharem que se tratava de “uma conversão ao capitalismo”. Como sempre, nossa esquerda prefere que o povo passe fome – dentro do mais profundo pensamento socialista – ou fique dependente das esmolas que lhes são atiradas sob o disfarce das famigeradas bolsas (assim se garantem escravos votantes).
O corajoso senador ainda dispara:
(…) É uma argumentação tosca, inadequada, e não é de esquerda. É fascista. Hitler e Mussolini defendiam a mesma ideia de realidades isoladas, sem diálogo com o mundo. (…)
(…) Quando defendi a construção de um museu sobre a luta dos aliados no combate ao nazifascismo, afirmaram que eu tinha me convertido ao imperialismo. Existe uma lógica autofágica dentro do partido. Não há compreensão de muitos setores a esse espaço do Parlamento. Há uma conversão da idiotice em má-fé. Eles não leram uma obra básica do Lenin: Esquerdismo, a doença infantil do comunismo.(…)
Isso sem falar nas recentes tentativas de impor a censura em obras consagradas de nossa literatura (Monteiro Lobato, Cabeleira do Zezé, Nega Maluca e outras obras imortais de nossa cultura agora são “racistas”) e a praga do politicamente correto que vem sendo implantada por setores “de alto zelo” da esquerda em busca verdadeiramente de notoriedade. Eles veem racismo e preconceito em tudo como forma de dar asas ao seu desejo de censurar a forma como pensamos e nos comunicamos e formatar nosso pensamento e nossa cultura conforme os ditames dos burocratas imbecis e sem talento de algum “movimento social”. Exatamente como os censores do Regime Militar, eles têm apenas sua própria mediocridade e ódio a criatividade como mola propulsora.
E você, o que acha disso?

10 de maio de 2012
visão panorâmica

MERKEL ESTÁ DE BRAÇOS ABERTOS PARA HOLLANDE?

Hollande não é um Lula, não é sindicalista e não veio da classe operária mas da Escola Nacional de Administração. É verdade que a expectativa em torno de Hollande é muito alta – não só na França mas também na Itália e em vários países africanos – e que isso sempre representa um risco.
É certo que vários aspectos do pacto europeu não poderão ser renegociados, mas a eleição de Hollande manda um sinal para os alemães. Por falar nisso, a frase de Merkel “receber Hollande de braços abertos” é o oposto do que disse ha alguns meses quando se recusou a receber Hollande, entao em campanha.

Na Europa, a percepção de que os alemães estão “cantando de galo” começa a crescer. De qualquer forma a agenda de esquerda de Hollande -aumento de impostos sobre os mais ricos, mais professores e, melhor ainda, fim da demonização dos imigrantes pelo próprio governo – já é uma vitoria e tanto.
Realmente, Hollande teve a maioria dos votos dos verdes e da extrema esquerda, isso era esperado. Mas creio que quem fez mesmo a diferença foram os eleitores de Bayrou – que, mesmo com fraco desempenho, contribuiu para o placar final de 51,6% de Hollande).

Contou muito também a fidelidade dos eleitores de Le Pen, que nao transferiram em grande parte seus votos a Sarkozy. Ou seja, não adiantou sinalizar um acordo com a Frente Nacional nem pegar “mais pesado” no discurso antiimigraçao.

Tudo o que Sarkozy conseguiu foi fortalecer o FN para daqui a 5 anos,e talvez já até nas próximas eleições legislativas. O risco agora é de uma “revanche” da direita (com resultado global mais expressivo, como colocou em seu comentário) nas eleições legislativas.
Hollande corre o risco de ter que nomear alguém da direita para cargos importantes, e aí o governo ficará engessado no que aqui se chama “cohabitaçao” (como já aconteceu com Chirac). Mais outra boa razão para continuar conversando com Bayrou.

RISCO GEOPOLÍTICO

Poucas coisas, para mim, são mais satisfatórias do que ler um artigo que gostaria de haver escrito. Reinaldo Gonçalves publicou no número 31 da Revista da Sociedade Brasileira de Economia Política um artigo que alcunha de “nacional-desenvolvimentismo às avessas”, a trajetória econômica do Brasil no novo milênio. Sintetiza nacional-desenvolvimentismo como um projeto “de desenvolvimento econômico, assentado na industrialização e na soberania dos países latino-americanos”. Desdobra o desempenho brasileiro nas últimas décadas como um desempenho no qual a economia, as estruturas de produção, o comércio exterior e a propriedade do ativo produtivo caminharam no sentindo contrário ao projeto que animou o Brasil de 1930 a 1980.


Gonçalves, de forma rigorosa, mostra que houve redução na participação da indústria de transformação no Produto Interno Bruto (PIB). O Brasil perdeu participação no panorama industrial mundial. Mostra, de forma inequívoca, que o que cresce no país é o valor adicionado da mineração e da agropecuária. A política econômica foi orientada para a liberalização comercial, e o coeficiente de importações em relação ao consumo aparente cresceu de forma sistemática entre 2002 e 2010.


A participação dos manufaturados caiu no valor das exportações, e houve a queda assustadora dos produtos altamente intensivos em tecnologia entre 2002 e 2010. Todas as indicações mostram aumento de dependência tecnológica. A diferença entre o valor de importações e bens intensivos em tecnologia, exportações brasileiras destes bens, evoluiu de US$ 19,3 bilhões em 2002 para US$ 85 bilhões em 2010.


Houve uma dramática perda de competitividade internacional; aumentou a vulnerabilidade externa, houve concentração de capital e explosão da lucratividade dos bancos. A rentabilidade “lucro/patrimônio líquido” dos 50 maiores bancos no Brasil é de 17,5% ao ano entre 2003/10. Enquanto isso, a rentabilidade das 500 maiores empresas industriais foi de 11% ao ano.


Brasil e Turquia são os dois países que têm os mais elevados custos de dívida pública nas 24 principais economias do mundo. Nestes países, custo médio da dívida é de 4%, enquanto no Brasil é de 8,6%. A relação entre pagamento de juros de dívida pública e do PIB no Brasil apenas é superada pela Grécia, sendo que a média dos 24 países é 2%, enquanto que a brasileira é 51%. Quem quiser conhecer em detalhe, leia este artigo.


São corretas as advertências que os dirigentes da política econômica estão fazendo aos bancos privados, porém claramente insuficientes. O ministro Guido Mantega advertiu no Fundo Monetário Internacional (FMI) que “o Brasil fará de tudo para impedir” o ingresso de capital de curto prazo especulativo. Porém, anunciou que não descarta o controle de capitais voláteis. Isso se faz sem advertência. É correto baixar juros; aumentar a competição dos bancos públicos; barrar capitais do exterior que se nutrem no nosso juro excessivo; tocar para frente o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).


Porém, tudo isso chega a conta-gotas e de forma tímida. Em um cenário em que a crise mundial se desdobra na Europa, há redução do crescimento da China (o FMI advertiu que a alta das commodities será interrompida), não se deve cutucar a onça com vara curta. São precárias as salvaguardas brasileiras ante uma crise mundial que inexoravelmente produzirá mudança de sinal no balanço de pagamentos brasileiro. Há um discurso eufórico que desconhece vulnerabilidades. Nas palavras de Gonçalves: “É visível a crescente vulnerabilidade externa estrutural brasileira em função do aumento do passivo externo financeiro”.


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APOIO À ARGENTINA

A Argentina expropriou a YPF. Luiz Carlos Bresser-Pereira publicou na “Folha de São Paulo”, no dia 23, um brilhante artigo: “A Argentina tem razão”. A mídia internacional chegou a falar “de um tribunal internacional”. 62% dos argentinos apoiam a medida. O FMI declarou que a matéria é de soberania. Não mergulharei em detalhes sobre a escandalosa privatização da YPF feita pelo neoliberal Carlos Menem. É incrível nenhum tribunal internacional ter se pronunciado sobre a auditoria externa que “escandalosamente” subestimou (para baratear) o patrimônio estatal argentino. Bresser-Pereira mostra a competência do governo argentino nessa medida.


Diz: “Não faz sentido deixar sob o controle estrangeiro um setor estratégico para o desenvolvimento do país”. Se a recuperação pela Argentina de um ativo estratégico gera tal reação, nós brasileiros deveríamos, de forma inequívoca, nos aliar ao país irmão. Argentina solicitou à Maria das Graças Foster, presidente da Petrobras, que o Brasil aumentasse sua participação na produção de petróleo na Argentina de 8% para 15% (a principal razão da expropriação foi a medíocre atuação da Repsol em produção de petróleo na Argentina).
Além das óbvias implicações no balanço de pagamentos, a Argentina, um país de clima temperado, necessita manter suas residências aquecidas no inverno, lhe é vital aumentar sua disponibilidade energética. Desconheço detalhes, mas pelo menos uma empresa chinesa foi convocada pela Argentina. Nesta questão, o Brasil não deveria vacilar em apoiar o país irmão.


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CONCESSÕES DO PRÉ-SAL

A política de outorga de lotes nas reservas brasileiras, e principalmente concessões no pré-sal, é para o Brasil um erro estratégico. Sei que durante o governo Lula e no atual o Brasil conseguiu colocar um brasileiro no 6º (ou 8º) lugar na lista de maiores fortunas mundiais.
O interessante é que esse salto aconteceu sem a produção de nada, apenas metamorfoses patrimoniais consagradas pela valorização de ações do empreendedor vendidas a capitais internacionais.
Faz um estranho contraponto com a correta elevação do poder de compra do salário mínimo real colocar uma fortuna brasileira baseada em valorização de lotes de petróleo no pódio dos grandes patrimônios individuais. Façamos votos para que no futuro não tenhamos que enfrentar a maldição de país primário-exportador de petróleo. Ainda é tempo para não expor a soberania de um país que, no Atlântico Sul, pode vir a ser “dono” da terceira maior reserva mundial de petróleo. Há enorme risco geopolítico nessa matéria.
(Transcrito do Valor)

MUDANÇA: A EUROPA ACREDITARÁ?


A Europa pode estar passando por um remix do momento no final de 2008, quando Barack Obama venceu as eleições presidenciais nos EUA. Ou será que, dessa vez, será mudança à vera?
A eleição no domingo do socialista François Hollande à presidência da França ocorre num momento histórico extraordinário.
É possível que corresponda ao momento. No primeiro discurso já como presidente eleito, Hollande disse que “a austeridade não é fatalidade”. Não se trata só de França – trata-se do futuro da Europa. E quando a França fala – melhor ainda, quando age –, a Europa ouve.
Que festa, domingo à noite na Bastilha – de provocar-me arrepios pela espinha. Em corte transversal que atravessou toda a sociedade francesa, todos falando diretamente à Europa e indiretamente ao resto do mundo: é possível sonhar com mudança, acima de tudo, é possível sonhar com justiça social. Há alternativa.

E tudo isso, com um francês calado à guisa de lanterna em trilha difícil. Um sujeito “normal”. Nada má a escolha dos socialistas franceses, para substituir, como candidato, o homem do qual cogitavam – até que o super ex-favorito, então diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, deixou-se prender numa armadilha extremamente sórdida no Sofitel, em New York.
Agora, a ressaca. A esquerda só controla sete dos 27 países da União Europeia.

O ex-rei Sarkô, rei do chacoalhar de correntes de ouro e diamantes de pescoço [bling bling], eterno neonapoleônico Libertador da Líbia e ex-presidente Nicolas Sarkozy, foi reduzido a nota de rodapé histórico de segunda – ele e a bela popstar italiana sua esposa, Carla Bruni, que já planeja os passos subsequentes da carreira. O rei Sarkô é o 11º líder europeu a cair, enquanto se aprofunda a recessão na Europa.

O híbrido “Merkozy” – cruza do rei Sarkô com a chanceler alemã Angela Merkel, a dupla dinâmica que governou a Europa – está morto.

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REVERÊNCIAS AO MERKOLLANDE

Frau Merkel e o primeiro-ministro britânico David Cameron eram e continuam a ser pró “austeridade”. A Dama Angela de Ferro queria muito, muito, que o rei Sarkô continuasse onde estava. Mas Hollande mandou enviados especiais a Berlim, semana passada. Pragmático, ele sabe que Merkel conheceu, de primeira mão, o ponto a que chegava o rei Sarkô, em matéria de arrogância e imprevisibilidade.

Hollande é pragmático do tipo que não chama atenção, pé no chão, que gosta de consensos e que, era uma vez, foi economista que dava aulas à elite, na Sciences Po, em Paris. Não é radical. O pragmatismo gerará, necessariamente, um “Merkollande”. O osso realmente duro de roer será o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schaueuble, o Wotan[1] da Austeridade na eurozona.
Merkel e Schaueuble, só desistirão de seu pacto fiscal, se caçados por uma gangue de visigodos – obsessão que o rei Sarkô subscreveu. Mario Draghi – ex-agente de Goldman Sachs e presidente do Banco Central Europeu (BCE) – também querem um pacto de crescimento. Ele – e a elite neoliberal – veem a coisa como mercados cada vez mais livres, quer dizer, livres para admitir-demitir sem mais aquela, talvez combinado com mais investimentos públicos em infraestrutura.

Hollande é totalmente contra mercados megalivres, megadescontrolados. Quanto a investimentos públicos, as únicas nações que poderiam pensar nisso dependem de ter receber boas avaliações das agências de risco e de encontrar baixos juros financeiros. Na prática, nenhum país da União Europeia está hoje qualificado.

Então, será com a Alemanha. O capital terá de ser alemão. Deve-se esperar que Hollande convença a Merkel de que, mais cedo ou mais tarde, os alemães perceberão que a recessão sem fim é politicamente tóxica. A consequência mais danosa já está aí, à vista de todos: a extrema direita musculada com esteróides que incha por toda a Europa.

Durante a campanha, Hollande identificou bem claramente o “inimigo”: o “mundo da finança”. Não surpreende que Wall Street e a City de Londres já vejam Hollande – e tendam a vê-lo cada vez mais – como mais perigoso que Vladimir Lênin. Assim sendo, o campo de batalha está delineado: Hollande versus o neoliberalismo e “os mercados”, Hollande como Don Quixote versus a troika de ferro do BCE, FMI e Comissão Europeia (CE).
Não há nem épico, que conte sequer o começo dessa luta. Mais uma vez: sigam o dinheiro (euros que desaparecem, por exemplo).

A dívida pública na França equivale a 90% do PIB. Desde 1974, a França não vê orçamentos equilibrados. A proporção entre dívida pública e PIB é de cerca de 57% – a mais alta dentre os 17 países da eurozona. O desemprego chega a cerca de 10%. Uma geração inteira de filhos de migrantes – quase todos do norte da África – já passou virtualmente toda a vida confinada em guetos, desempregada e maltratada.

Hollande quer alterar a idade de aposentadoria na França, fazendo-a voltar, dos atuais 62, aos antigos 60. Quer contratar pelo menos 60 mil novos professores. Quer reduzir os preços da energia elétrica, para os de baixa renda. O único meio de financiar tudo isso é cobrar o imposto (prometido) de 75% dos ganhos de quem ganhe mais de 1 milhão de euros (US$1,3 milhão) ao ano, e o imposto sobre transações financeiras. A alta burguesia francesa está rasgando seus Diors, em desespero.
Aí está a plataforma de Hollande, num parágrafo: empregos e crescimento econômico. Se falhar, a extrema direita vence, e culpará Paris e o Islã.

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SIGAM O DINHEIRO

Com Hollande, as grandes linhas da política externa do rei Sarkô talvez se mantenham – mas muitos detalhes serão substancialmente alterados.

Hollande jamais esteve na China. Em Pequim, tendem a vê-lo como “presidente normal” – o que nunca se aplicou àquele coelho-da-Duracell-que-fumou-crack, o rei Sarkô. Portanto, de um ponto de vista chinês, as relações devem ser “normais” tipo “estáveis”.

Crucialmente importante é que Hollande quer parceria estratégica mais aprofundada com os países BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. E, como muito apetece às potências emergentes, é favorável ao fim do dólar norte-americano como moeda mundial de reserva (a qual seria substituída por uma cesta de moedas). Afinal, pode estar surgindo um aliado estratégico para os BRICS, postado bem no coração da União Europeia, interessado em modernizar o sistema financeiro global.

O primeiro teste internacional de Hollande será a reunião da OTAN em Chicago, ainda em maio. Será fascinante assistir, se ele conseguir jogar um macaco contra as ambições de porcelana da OTAN-Globocop. Muitos países europeus, fartos das aventuras nos buracos negros no Afeganistão e na Líbia, podem, sim, apoiar Hollande – que disse que retirará todos os soldados franceses do Afeganistão até o final de 2012.

Mas a verdadeira guerra será travada dentro da Europa. No fim, voltamos ao “sigam o dinheiro”.
Hollande quer que a população idosa aposente-se mais cedo. Quer os fazendeiros franceses confortavelmente subsidiados – para nem citar as vacas francesas, cujo padrão de vida é muito melhor que o de 2 bilhões de pessoas no planeta. Quer que o generoso aparelho de bem-estar francês continue a funcionar.

Como pagar por tudo isso – quando todo o dinheiro foi sugado para dentro dos bolsos gordos dos 0,1%? Não bastará que o sujeito “normal” planeja mudar só a Europa: ele terá de movimentar-se para mudar o mundo.

Pepe Escobar (Asia Times Online)
10 de maio de 2012

VIDA VIRTUAL: A NECESSIDADE DE EXISTIR?

Redes sociais apagaram as fronteiras entre identidade real e digital. Agora, é preciso ser feliz duas vezes.

Se eu for ao restaurante e não fotografar o prato com Instagram, ainda assim vou poder apreciar a comida? Se as fotos da minha viagem não aparecerem nas redes sociais, ainda vou ter a sensação de ter viajado? E se comecei a namorar sem ter mudado meu status de relacionamento, será namoro de verdade?

A internet trouxe um peso que eu, simplesmente, não sentia dez anos atrás. Uma necessidade de “existir” fora da vida real. De repente, é como se tudo que eu fizesse precisasse de um espelho digital – uma espécie de dublê virtual que me dá cara e sentido. É um pouco como checar a cada minuto meu reflexo. Estou mesmo vivo? Estou mexendo os pés, as mãos, a cabeça?

No início da web, havia uma separação clara entre o real e o virtual. O primeiro era o domínio do palpável, dos pés no chão. O outro era pura fantasia e ilusão. Se você quisesse atravessar essa linha divisória, recomendava-se um pseudônimo. As pessoas adotavam temporariamente um alter ego, que não se restringia apenas a um nome, mas a toda uma identidade digital – parecida ou não com a real, não importava. Depois, voltava-se à sua existência de carne e osso, talvez com alguns conflitos de identidade, mas sempre com uma divisão clara entre as duas esferas. Tínhamos relações, contatos e hábitos no real e no virtual, e estes raramente se misturavam.

Foi então que o MSN, o Gtalk, mas também a disseminação das câmeras digitais e das redes sociais, entraram em nossas vidas pessoais e profissionais. O Orkut e depois o Facebook, mais que quaisquer outras ferramentas, embaralharam definitivamente as cartas. Nas redes sociais, você coloca seu próprio nome, suas próprias fotos, suas próprias informações pessoais, armazenando sua identidade em uma interface digital. A “vida verdadeira” com “pessoas verdadeiras” invadiu subitamente o mundo virtual, apagando as fronteiras entre as duas esferas.

As duas identidades nunca estiveram tão juntas. Ao mesmo tempo, nenhuma substitui a outra. Não, não estamos perdendo nosso contato com o mundo de verdade, de carne e osso. Não acredite nos catastrofistas do 2.0 que preveem o fim da nossa “identidade física”. O Sean Parker do filme de David Fincher estava errado ao dizer que, muito em breve, “moraremos na internet”. E a prova é o relativo fracasso de redes como o Second Life, que propõe uma imersão completa num mundo virtual abstrato.

Na verdade, o avatar não é mais esse “eu” sem limites, moldado de acordo com nossas fantasias infinitas; o avatar é agora uma extensão da nossa vida real, um “eu” reduzido a tudo aquilo que acreditamos nos definir: gostos, fetiches, status, conhecimento e boas relações. Dependendo da nossa inteligência em lidar com os códigos da internet, a nossa atividade na internet virou inclusive uma ponte para conseguir coisas reais e palpáveis. Muitas vezes, é o caminho mais lógico – ou até, e aí começa a pressão, o único caminho.

"Em caso de incêndio, deixe o prédio antes de tweetar a respeito"

Identidade real e virtual coabitam, mas não sem conflitos. Com um pé fincado na realidade e outro em sua representação digital, fica cada vez mais difícil encontrar um equilíbrio. Como ligações covalentes, uma depende da outra para se manter. Vem então o peso, a necessidade exaustiva de alimentar nosso duplo digital, como se a vida só fizesse sentido quando colocada em cena na internet. Como se eu só existisse ao construir duas versões de mim mesmo.
Pior ainda é a neurose em conciliar as duas realidades. Sim, porque as pessoas estão conscientes de que não podem se limitar a um avatar e sofrem quando percebem que “existiram” demais no Facebook e de menos na vida real. A sociedade de consumo sempre nos impôs desejos inalcançáveis e, muitas vezes, contraditórios. É preciso ser trabalhador e aproveitar a vida, é preciso ter posses e ser desprendido, é preciso ter uma vida regrada e ser aventureiro, preocupar-se com o futuro e viver como se não houvesse amanhã. É preciso comer tudo que é bom e ser magro, é preciso buscar a história de amor monogâmica perfeita e ser um objeto de desejo para todas as pessoas (o capital sexual na era das comédias românticas). Pois as redes sociais acrescentaram mais um elemento a essa esquizofrenia: não basta ter uma vida que pareça ser boa para você. A sua vida também precisa parecer boa no Facebook.
Essa vida dupla é a marca do nosso tempo. Nos dias de hoje, ninguém mais é feliz se não for feliz duas vezes. Pouquíssimas pessoas se contentam apenas com a identidade que criou para si na internet. A maioria tem consciência que, ao passar muito tempo na internet, não está vivendo a vida de verdade, com pessoas de verdade. Mas, da mesma forma, está cada vez mais difícil apreciar a vida por si só. Se um bom momento não resultar em um bom álbum de fotos, ou um bom status, se não for compartilhado com uma legião de contatos virtuais e curtido, é como se a experiência não fizesse sentido. Sem um complemento na internet, sem uma representação nessa realidade paralela, fica uma estranha sensação de vazio. Onde está o botão curtir da vida real?

Bolívar Torres é jornalista e escritor
10 de maio de 2012

SER OU NÃO SER. EIS A QUESTÃO!

Uma questão tipo divã do Freud: continuar gritando ou rever todos os meus conceitos e convicções?

Talvez tenhamos chegado num ponto sem volta. Ou dá ou desce. Mas acho que estamos já lá embaixo. Quase no limbo.



Ser ou não ser? Vai responde!!!



E isso não porque queremos. Mas porque acabam nos obrigando a isso. Às vezes não vejo solução, luz no fim do túnel
. Nada. E cheguei a uma encruzilhada. A uma questão tipo divã do Freud: continuar gritando ou rever todos os meus conceitos e convicções?
Sei que muitos se incomodam com tudo isso que acontece, ficam tristes e ponto. Outros se incomodam e fazem algum movimento. Outros não estão nem aí e os piores acham que tudo é lindo, como Caetano Veloso, e acreditam que se melhorar estraga.
E aí? Será que está quase tudo errado? Será que sou eu o errado? Eu que sou o torto, o cricri, o fora do contexto?
Já parou para pensar nisso? Fatos existem. A menos que…
Pedalando contra o tempo sem lenço e sem documento!


Se me contassem ia achar que era alguma pegadinha do Mallandro.

I´m King of the world, ou melhor, da França!

Mas não é. Como se todo o resto estivesse funcionando em perfeita ordem: hospitais, escolas, professores e médicos ganhando um digno salário, as obras da Copa em dia, os novos trens do Metrô já em funcionamento e outros itens de primeira necessidade, nossos queridos governantes resolvem promover um MMA entre três poderes; município, estado e União que decidiram brigar em plena Conferência Rio+20 por causa de uma bicicleta elétrica.

Não existe coisa mais estúpida do que essa briga. Isso foge por completo do meu entendimento da capacidade que eles têm de promover um espetáculo como esse.
Não há por parte deles o bom senso que governantes devem ter. E aí entra a guerra de egos de quem está com a razão. E a coisa toma proporções indesejáveis.
O cinegrafista que desencadeou tudo isso por acaso que trafegava normalmente pela ciclovia viu uma blitz da Lei Seca (legal isso), só que no meio da ciclovia (sem noção), parou para filmar, o agente da blitz se sentiu atingido, pediu a habilitação dele, para que ele soprasse o bafômetro, recusa daqui, briga de lá. Apreendem a bicicleta dele, o multam e começa o circo.
Depois vem o prefeito Eduardo Paes em sua defesa. Legal. Faz um decreto permitindo o uso da bicicleta elétrica. Legal também. Entra o Denatran, o Contran, dizendo não. Lembram que o governador Sérgio Cabral no Dia Mundial sem Carro andou em uma bicicleta elétrica, sem capacete (claro que para aparecer melhor na foto), e sem habilitação. Coisa feia.
Tudo isso é uma palhaçada. E pelo visto ainda vai durar muito. Uma bicicleta dessa atinge quando muito os 25 km/h.

Fico me perguntando se não aproveitaram isso para obrigar que usuários tenham que emplacar suas bicicletas elétricas, o que daria mais uma graninha extra aos cofres de quem faz o serviço, tirar uma habilitação, mais graninha extra. E será então que elas poderão ainda trafegar nas ciclovias que são só para bicicletas? Se puderem colocaram radares de fiscalização eletrônica nas ciclovias? E será que um atleta que passe acima da velocidade permitida terá o que seu tênis apreendido?
Isso tem cheiro de Carlinhos Cachoeira. Que no mínimo deve ser dono de fábricas de placas, de radares e ainda tem algumas autoescolas. Aí tem!

Tragédia nos olhos dos outros é refresco!


Prefeito: Vou pingar um pouquinho de pimenta pra ver se vai arder mesmo! Com refresco é tranquilo.

Depois de um ano da tragédia que devastou a Região Serrana aqui no Rio de Janeiro, ainda temos pessoas que não receberam até hoje o aluguel social e algumas delas continuam morando em suas casas condenadas pela Defesa Civil. Fora que doações recebidas do Brasil inteiro que se comoveu com o acontecido continuam esquecidas em depósitos da prefeitura. Por exemplo, em São José do Vale do Rio Preto, em um depósito existem pelo menos cinco toneladas de sapatos que o prefeito acha complicado arrumarem, e em outro depósito itens como fraldas, papel higiênico e kits de limpeza. Todos jogados e esquecidos.

Meu Deus! As pessoas todas elas que doaram deveriam se revoltar e pedir uma explicação que não há. Ou melhor, há. É simples e cristalina. Descaso, desrespeito e crueldade com quem perdeu tudo e que poderia através dessas doações ganhar força e motivação para continuar. Mas como a tragédia não rasgou a carne deles, não ruiu suas residências, tudo é festa para eles. Tudo é tanto faz. Tudo é se demorar um pouco que mal há de fazer?

Horário de Verão!

Se você acha que Demóstenes Torres e Carlinhos Cachoeira iam aceitar essa investigação assim sem mais nem menos podem tirar o cavalinho da cachoeira.

A ordem é: segurar o tempo. Cachoeira e Demóstenes contratam senhor para atrasar as investigações.

Os dois, cada um no seu quadrado, adotaram estratégias semelhantes. Ambos estão invocando a “Emenda 171” ou popularmente conhecida como “Emenda Horário de Verão”, onde seus advogados através de petições tentam ao máximo ganhar tempo e atrasar ao máximo que os trabalhos comecem.
Você vai agora me dizer que precisava essa encenação toda? Não bastava Carlinhos Cachoeira ligar para o contato dele e pedir para que o estagiário segurasse um pouco o ponteiro dos minutos?

Colecionando milhas com Sérgio Cabral!


Sérgio Cabral fica decepcionado ao ser informado na fila que o voo atrasaria um pouco.

Longe de casa, há mais de uma semana, milhas e milhas distantes do nosso estado. Será que estão me esperando? Estou com os pés no paraíso.

Essa é a mais tocada no Ipod do “nosso governador”. E acho que isso é só pra quem Ipode. Mas não pode né?
Os gastos com viagens triplicaram no governo do Rio. Para o estado, essas viagens ajudam a trazer eventos para o Rio. Ahã! Mas precisam ser tantas assim?
Será que Sérgio Cabral está enjoado daqui e precisa de tempos em tempos respirar novos ares? Se bem que o destino dele preferido é a França. Só pra lá já foram 21.
Não é nada, não é nada, mas sempre tem alguma coisa. Ou ele está querendo juntar milhas no cartão para quando deixar o governo ter como continuar a viajar sem pagar?
Mas mesmo assim tem gente que acha isso tudo normal. Então tá, fazer o quê?

Pura Matemática: Teorema dos Sarney!

Tudo é uma questão de matemática. Esquece a semântica.

Agora que os uniformes com o novo nome estão prontos, vamos ver se um dia avisamos que existem escolas.

Esquece o resto e analisa comigo. No Maranhão, terra do Sarney, tem 161 escolas. No Maranhão, terra do Sarney, 61% dos moradores não têm ensino básico. Onde está o erro? Se você respondeu que tem muita escola para pouca gente com estudo, parabéns.

Aí, você vai começar a pensar que devo ser louco em criticar isso, que eu deveria ao invés disso estar sei lá o que. Alguma coisa.
Acontece que todas essas 161 escolas têm o nome dos Sarney. Um verdadeiro monopólio. Pode até ficar bonito na foto, mas na prática é como o clã gosta: escolas como fachada e o povo sem ensino.
Salvem as baleias. Não jogue lixo no chão. Não fume em ambiente fechado.

Fiquei confabulando esses dias com os meus botões

10 de maio de 2012
opinião e notícia

OS ANENCÉFALOS ESTÃO NO CONGRESSO...

Bancadas evangélica e católica aprovaram, na Comissão de Constituição e Justiça, PEC permitindo ao Congresso o direito de sustar decisões do Judiciário. Por Claudio Carneiro
A centenária disputa de poder entre Executivo, Legislativo e Judiciário ganhou mais um capítulo logo após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter liberado – por oito votos a dois – o aborto de fetos anencéfalos, numa discussão iniciada há oito anos e encerrada em dois dias de votação. A decisão que livra de responsabilidade criminal as mulheres que interromperem a gravidez, via medida judicial, mexeu em outro vespeiro de descerebrados – muitos daqueles que habitam o Congresso Nacional.

Em raríssimo episódio, as bancadas evangélica e católica rezaram na mesma cartilha e aprovaram, na Comissão de Constituição e Justiça, proposta de emenda constitucional permitindo ao Congresso o direito de sustar decisões do Judiciário.
 O mesmo fizeram petistas e tucanos. A iniciativa visa frear o que os parlamentares chamam de “ativismo judiciário” dos magistrados do STF. O deputado petista e piauiense Nazareno Fonteles defende que o Legislativo precisa ser o poder mais forte e representativo da República. Importante destacar que é o Legislativo que abriga gente como os deputados federais Stepan Nercessian (PPS-RJ), Carlos Leréia (PSDB-GO) e Sandes Júnior (PP- GO) – só para citar caso mais recente – suspeitos de envolvimento com o contraventor Carlinhos Cachoeira.

Fonteles defende que o Judiciário – que não foi eleito – não tem legitimidade para legislar. Coordenador da bancada evangélica e vizinho eleitoral de Leréia e Sandes, o deputado João Campos – do PSDB de Goiás – levanta a bandeira de que é preciso “acabar com esse governo de juízes” e acrescenta: “Isso já aconteceu na questão das algemas, na união estável de homossexuais, na fidelidade partidária, na definição dos números de vereadores e agora no aborto de anencéfalos.” A vontade de evangélicos e católicos não move montanhas. O texto ainda precisa da aprovação de 308 deputados em plenário em dois turnos para, então, seguir para aprovação no Senado.

O francês Charles Louis de Secondatt – o barão de La Brède e Montesquieu – redigiu a Teoria de Separação de Poderes, adotada nas mais modernas constituições internacionais. Montesquieu também foi grande crítico da interferência da Igreja na política e, certamente, desprezaria as crescentes e fluorescentes bancadas de bispos, pastores, ministros, presbíteros e apóstolos.

Fosse nosso Congresso uma casa de senhores sérios, bem caberia discutir se o eleitor se viu representado por um colegiado de magistrados que não ouviu a sociedade. O fato é que são as minorias – e não a sociedade como um todo – que promovem mudanças como as cotas raciais ou as restrições ao tabagismo, por exemplo. Elas – as minorias – elegem um representante que redige um projeto de lei e o põe em votação. Mas quando o representante se deixa banhar nas águas de “cachoeira”, o eleitor não se sente representado.

Importante frisar que o STF não legislou – apenas deliberou sobre causa específica: há um caso de anencefalia a cada mil nascidos no Brasil. Quando um colegiado como o STF toma uma decisão mais “moderna” que os valores morais vigentes, o país evolui.

O diagnóstico de anencefalia pode ser dado pelo exame de ultrassom morfológico já no terceiro mês de gestação. Cinquenta por cento dos anencéfalos têm parada dos batimentos cardíacos antes mesmo do parto. Os outros 50% morrem em até um dia.

O Judiciário agiu com moderada agilidade. No Congresso, questões como essa tramitam por anos, passam por comissões, são esquecidas em gavetas e são avaliadas por equipes multidisciplinares sem o menor espírito de equipe ou disciplina. É o “enrolation”. Em casos como esse – como ocorreu com o desarmamento – talvez valesse ouvir o país inteiro em plebiscito, mecanismo, aliás, muito adequado quando o povo perde a confiança em seus representantes – muitos deles desprovidos de cérebro, vergonha e juízo.

10 de maio de 2012
Claudio Carneiro

BRASIL SÉCULO XXI

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fernaslm
10 de maio de 2012

A CONSULA HONORÁRIA

De acordo (afinal é lei, assinada pela senhora dona presidenta) com a nova norma da língua portuguesa (pobre dela nas mãos dos metralhas), este texto seguirá a nova norma. Se eu não gosto, serão outros quinhentos…Acabei de ler no site (sitio é a catapultaqueopariu) jornal londrino “Daily Mail”, um fato muito interessante. A senhora Joan Nisbet, 71 (foto), que mora em Kenley, nos arredores de Londres, capital da Inglaterra, foi despejada de sua casa pelas autoridades, além do que está na cadeia, onde deverá pagar uma pena de 4 meses, por desrespeitar a decisão judicial que a impedia de aproximar-se de uma vizi nha.



O que fez a doce velhinha de tão grave? Primeiro, ameaçou matar os filhos de um vizinho; depois jogou defensivo agrícola no rosto de um morador do bairro; adora ouvir rap no volume máximo e… fez sexo no jardim de sua casa!

Diz a senhora Crowley, 55, que é sua vizinha: “Ela atazanou tanto a vida de meu marido, que este começou a beber e precisou tomar pílulas por entrar num grave estado de depressão. Ela é má. O ano passado foi um inferno. Ela aterrorizou toda a vizinhança, insultava crianças, ouvia música tão alto que toda a rua ouvia também. Ela é um pesadelo: o sexo foi a gota d’água…”

Logo botei meu skype para funcionar, afim de comentar esse caso com meu informante enrustido, que atende pelo apelido de Sombrio e mora no depósito de vassouras do Palácio do Planalto. Contei-lhe o fato e ele bocejou, dizendo displicentemente: “Porra, isso eu já sabia! Aliás, tá o maior buchicho por estes lados.
Me garantiram que a ministra Eleonora Menicucci, que disse numa entrevista que – em termos sexuais, qualquer prazer a agrada – junto com outras colegas do grupo “dragonildas”, estão pressionando o medroso chanceler, para que essa inglesa seja nomeada nossa consula honorária em Kenley.

Sombrio ainda acrescentou, que há um grande número de senadores idosos movimentando-se, para que lhes sejam remetidos 3 pelos pubianos, do rapaz que anda chamuscando a velha, pois dizem que o efeito é muito melhor que o Viagra.

Consula, presidenta, anto, porque, indiretamente, a lei acabou com a indeterminação de gênero no Brasil; o ou a consul foi para a pica do saci! Pois é, o ex-presidento não pensou nisso…

10 de maio de 2012
magu

VEJA SÓ QUE PT É ESSE!


Alguns trechos do artigo escrito por Rodrigo Constantino - "Roberto Civita não é Rupert Murdoch" - evidenciam a situação em que o PT está tentando abafar a revista Veja. O artigo completo está em http://rodrigoconstantino.blogspot.com.br/. E é justamente isso que está levando diversas pessoas a abrirem, no Facebook, grupos de apoio à revista, como é o caso de "Apoio à Revista Veja e à Democracia" .
Alguns trechos:
Rodrigo Constantino - Editorial de O GLOBO
Posted: 08 May 2012 06:29 AM PDT -
"... linha auxiliar de setores radicais do PT desfecharam uma campanha organizada contra a revista "Veja", na esteira do escândalo Cachoeira/Demóstenes/Delta."

"... retaliação pelas várias reportagens da revista das quais biografias de figuras estreladas do partido saíram manchadas, e de denúncias de esquemas de corrupção urdidos em Brasília por partidos da base aliada do governo."
"... atemorização da imprensa profissional como um todo, algo que esses mesmos setores radicais do PT têm tentado transformar em rotina nos últimos nove anos, sem sucesso, graças ao compromisso, antes do presidente Lula e agora da presidente Dilma Roussef, com a liberdade de expressão."
"... O presidente petista, Rui Falcão, chegou a declarar formalmente que a CPI do Cachoeira iria "desmascarar o mensalão"."
"... blogs começaram a soltar notas sobre uma suposta conspiração de "Veja" com o bicheiro."
"Quer-se produzir um escândalo de imprensa sobre um contato repórter-fonte. Cada organização jornalística tem códigos, em que as regras sobre este relacionamento — sem o qual não existe notícia — têm destaque, pela sua importância."

O próprio braço sindical do PT, durante a CPI de PC/Collor, abasteceu a imprensa com informações vazadas ilegalmente, a partir da quebra do sigilo bancário e fiscal de PC e outros. (mais um caso em que o PT procura criticar nos outros o que ele mesmo fez)

Fica uma certeza:
Se a revista Veja obtinha informações sobre parlamentares e sobre o governo PTista através do bicheiro Cachoeira, significa que o bicheiro Cachoeira tinha tais informações por conta de sua grande ligação com todos eles.

Tomara que chegue logo o próximo sábado, quando receberemos novo número da revista Veja, a nossa revista predileta.
 
10 de maio de 2012
in casa da mãe joana

MEU NOME É JUVÊNCIO...

Sempre que se discute como dar nome às coisas, gosto de recorrer a Platão. Sua visão é definitiva.No diálogo intitulado Crátilo, ou sobre a justeza dos nomes, este considera que os nomes das coisas estão naturalmente relacionados com as coisas. As coisas nascem - ou são criadas, descobertas ou inventadas - e em seu ser habita, desde a origem, o inadequado nome que as assinala e distingue das demais. Já Hermógenes pensa que as palavras não são senão convenções estabelecidas pelos homens com o propósito de entender-se. As coisas aparecem ou se apresentam ao homem e este, defrontando-se com a coisa recém-nascida, a batiza. O significado das coisas não é o manancial do bosque, mas o poço escavado pela mão do homem, diz Camilo José Cela, comentando Platão. "O animal doméstico e familiar do qual há muitas espécies e todas ladram, poderia ter-se chamado lombriga, e o che muove il sole e l'altre stelle, de Dante, poderia chamar-se reumatismo, se assim os homens o quisessem".

As definições mudam com o tempo. O conceito de dialética de Platão nada tem a ver com o de Hegel. Amor era uma coisa para os gregos, outra para os cristãos e é totalmente outra para os contemporâneos. Já li num antigo Littré esta definição de amor: sentimento que une pessoas de sexo diferente. Em edição posterior, já se lia: sentimento que une duas pessoas. Se amor um dia foi sentimento que se dedicava a uma pessoa, hoje é sentimento que se dedica a animais e mesmo a objetos. Seja como for, a definição das palavras tem sido tarefa de lexicógrafos. Não que os dicionários extraiam palavras do nada e as definam arbitrariamente. O dicionarista pesquisa o universo das palavras faladas pelo povo e as registra, com o sentido que o povo lhes dá.

Ou registrava. Esta tarefa está sendo agora assumida por juristas, sociólogos, psicólogos e outros ólogos. Ainda há pouco discuti a tal de homoafetividade, conceito que ainda não me passou pela garganta. Em maio do ano passado, o Supremo Tribunal Federal acaba de aprovar por unanimidade, com as fanfarras da imprensa, o reconhecimento da tal de união homoafetiva. A nova palavrinha designa o que antes chamávamos de homossexual. Assim sendo, atenção à linguagem, leitor. Homossexuais não mais existem. Agora são todos homoafetivos.

Em defesa da nova terminologia, o ministro Carlos Ayres Britto, relator do caso, disse que o vocábulo foi cunhado pela vez primeira na obra União Homossexual, o Preconceito e a Justiça, de autoria da desembargadora aposentada e jurista Maria Berenice Dias, consoante a seguinte passagem: “Há palavras que carregam o estigma do preconceito. Assim, o afeto a pessoa do mesmo sexo chamava-se 'homossexualismo'. Reconhecida a inconveniência do sufixo 'ismo', que está ligado a doença, passou-se a falar em 'homossexualidade', que sinaliza um determinado jeito de ser. Tal mudança, no entanto, não foi suficiente para pôr fim ao repúdio social ao amor entre iguais”.

Bem que eu desconfiava que cristianismo, catolicismo, marxismo, socialismo, espiritismo e outros ismos eram doenças, e das mais graves. Pobre mortal, jamais consegui legislar sobre palavras. É com regozijo que vejo a emérita jurista participar de minha Weltanschaaung. Só me pergunto que palavrinha vão inventar quando homoafetivismo se tornar pejorativo. É claro que tal palavra, que traz em seu bojo uma ideologia, jamais sairia da boca do povo. Povo cria palavras. Quem cria ideologia são os intelectuais.

Invadindo a seara dos dicionaristas, a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transexuais e Transgêneros criou o Manual de Comunicação LGBT. Que, pelo menos por enquanto, suponho não ter força normativa. Mas que pretende definir, conforme a ideologia dos movimentos homossexuais, determinados conceitos. Travesti, por exemplo, nada tem a ver com homossexual. Segundo o manual, travesti é pessoa que nasce do sexo masculino ou feminino, mas que tem sua identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico, assumindo papéis de gênero diferentes daquele imposto pela sociedade. Utiliza-se o artigo definido feminino “A” para falar da travesti (aquela que possui seios, corpo, vestimentas, cabelos, e formas femininas).

Observe o leitor, para início de conversa, a inclusão da palavrinha gênero. Que passou a substituir sexo em toda a imprensa internacional, sei lá por que cargas d’água. Povo é que não criou isso. O gênero seria imposto pela sociedade, não pela biologia. Se alguém nasce com pênis ou testículos ou seios e vagina, isso não tem necessariamente a ver com ser homem ou mulher. É homem ou mulher porque a sociedade assim impõe. Ora, eu imaginava que travesti, como a palavra diz, era apenas a pessoa que se travestia.

Mais ainda: temos agora a travesti. Quando, sendo geralmente o homem que se traveste, costumava-se dizer o travesti. Como sempre disse a imprensa. Que agora passa a assumir, sabe-se lá por quê, a designação feminina.

Travesti é homossexual? Nada disso. Homossexual é categoria à parte: é a pessoa que se sente atraída sexual, emocional ou afetivamente por pessoas do mesmo sexo/gênero. O que vai gerar uma curiosa tautologia, o travesti homossexual. Ou um solecismo, o travesti heterossexual. Algo como um homem se travestir de homem para ter relações com mulheres.

E se bissexual – conforme a cartilha - é a pessoa que se relaciona afetiva e sexualmente com pessoas de ambos os sexos/gêneros, teremos – ó coincidência! – o travesti bissexual. E por aí vai. O manual define várias outra categorias, mas esqueceu de definir a neomulher, conceito criado pela Folha de São Paulo no último Dia Internacional da Mulher. Na ocasião, o jornal entrevistou três travestis e propôs o Dia das Neomulheres.

Em defesa de sua tese, o jornal lançava mão de um argumento que empestou o feminismo durante décadas: “Em 1949, a escritora Simone de Beauvoir disse que ninguém nasce mulher, mas torna-se mulher. E, segundo antropólogos e sociólogos, assim realmente é. "Para a antropologia e a teoria de gênero, ser mulher ou homem é um aprendizado social, cultural e histórico", explica Heloísa Buarque de Almeida, professora de antropologia da USP. A própria transexualidade é uma radicalização dessa idéia: não basta simplesmente nascer com o corpo do gênero feminino. O que basta é sentir-se mulher." Pelo jeito, o neologismo não pegou.

O manual, mais que um manual, é um leito de Procusto que pretende enquadrar as diferentes opções sexuais em categorias estanques e totalitárias. Os ativistas homossexuais estão transformando os homossexuais em seres ridículos.

Não bastasse este glossário arbitrário, a bicharada gaúcha poderá em breve solicitar nos órgãos de identificação estaduais a Carteira de Nome Social, documento que terá o mesmo valor e função da Carteira de Identidade, mas com o tratamento nominal que eles escolheram ou adotaram no lugar daquele com que foram registrados.

O projeto é uma iniciativa da Secretaria de Segurança Pública (SSP), com apoio de Organizações Não-Governamentais (ONGs) e entidades de combate à homofobia. No documento, constará o número do Registro Geral (RG) e do Cadastro de Pessoa Física (CPF). Expedido paralelamente com a Carteira de Identidade, ele servirá como identificação nos serviços públicos prestados pelo Estado. Em passagem pela Casa Civil, o documento que autentica a lei espera apenas pela assinatura do governador Tarso Genro. O Grupo de Trabalho que está à frente do projeto torce para que ele seja assinado antes do Dia Estadual de Combate à Homofobia, em 17 de maio.

Trocando em miúdos, você poderá embarcar em Porto Alegre como João e aterrissar como Maria em São Paulo. Ou contrair uma dívida como Maria e recusar-se a pagá-la, afinal você é João. Para quando a dupla identidade no passaporte? Seria a glória pegar um vôo no Salgado Filho como Rodrigo e desembarcar Bibiana no Charles de Gaulle.

Ora, se não me falha a memória e se o Código Penal não foi revogado, isto se chamava – pelo menos até ontem - uso de documento falso, um crime contra a fé pública consistente em utilizar qualquer dos papéis falsificados ou alterados:

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento público verdadeiro:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar documento particular verdadeiro:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.

Mas nestes dias em que se revoga constituição com palavras tiradas da cartola, tudo é possível. As palavras são importantes demais para serem deixadas a cargo de dicionaristas. São agora definidas por ONGs e tribunais. O Rio Grande do Sul, devido a seus brios machistas, desde há muito é celeiro de piadas sobre o gaúcho bicha. Uma delas dizia: meu nome é Juvêncio, mas pode me chamar de Odete.

O Estado está prestes a virar piada.


10 de maio de 2012
janer cristaldo

IMAGINÁRIOS DE DESTRUIÇÃO - PARTE 3

c. O estudo do cinema nazista

No ensaio “Estilo e meio do filme” (1947), Erwin Panofsky observou: “Queiramos ou não, os filmes é que moldam, mais do que qualquer outra força isolada, as opiniões, o gosto, a linguagem, a vestimenta, a conduta e até mesmo a aparência física de um público que abrange mais de 60% da população da Terra. Se todos os poetas líricos, compositores, pintores e escultores sérios fossem obrigados a cessar suas atividades, uma fração bem pequena do público em geral tomaria conhecimento do fato e outra ainda menor iria lamentá-lo seriamente. Se a mesma coisa acontecesse com o cinema, as conseqüências sociais seriam catastróficas”.

Essa constatação de Panofsky sempre me pareceu apenas parcialmente verdadeira. Se, de fato, o cinema modelava mais de 60% da população do planeta, as conseqüências sociais catastróficas do que Theodor Adorno e Max Horkheimer conceituaram como “indústria cultural” em Dialética do Esclarecimento (1947) não eram mais uma hipótese virtual, a se cumprir caso se operasse a interrupção de suas atividades, mas uma realidade produzida há décadas, diariamente, por sua emulação ininterrupta. O controle do clima psicológico de nações inteiras tornou-se possível graças ao monopólio das mídias.

Refletido sobre o mundo atual, Anita Novinsky observou: “Pode-se hoje transformar qualquer povo em qualquer coisa, pode-se criar um abismo em poucos meses com os meios de comunicação de massa, a técnica, a televisão.”[14] De fato, não podemos sequer imaginar o poder devastador que se acumula no universo das comunicações contemporâneas, e que permanece em posição de ameaça permanente à liberdade.

Basta observar como as mídias do neocapitalismo dito democrático conseguem integrar até o último homem na sociedade de consumo, com suas incitações às compras, seus programas digestivos, jogos, loterias, lançamento de modas e manias, seu ininterrupto bombardeio de sucessos. As mídias tornaram-se uma espécie de válvula condutora da vida, o imprescindível universo portátil, o espaço exterior domesticado em gadgets. Essa assustadora realidade não surgiu de repente, mas foi se formando ao longo de todo o século passado. O momento mais devastador dessa realidade em perigosa progressão foi, sem dúvida, a Segunda Guerra Mundial, durante a qual todos os meios de comunicação conhecidos na época se voltaram para a propaganda.

Na Revolução Russa de 1917, o jornal, o rádio e o cinema haviam sido largamente utilizados como instrumento de propaganda O uso propagandístico do cinema atingiu a perfeição estética nos anos de 1920, nos filmes mudos de Sergei Eisenstein, Alexander Dovjenko, Grigori Kozintzev, Lev Koulechov, Vsevolod Pudovkin, Leonid Trauberg, Dziga Vertov, que empregavam, para difundir a mensagem revolucionária, o exagero e a farsa, elementos do vaudeville e do teatro de revistas, estilemas do surrealismo e do expressionismo, e até mesmo as piadas obscenas

Em 1931, cumprindo uma ordem do Comissariado de Transportes do Povo que decretava a necessidade de usar o cinema “para mobilizar as massas trabalhadoras em torno das tarefas da construção socialista e da renovação do transporte ferroviário”, Alexander Medvedkin montou uma equipe cinematográfica dentro de um trem, percorrendo o país e realizando e projetando filmes contra os “elementos malvados” e “nocivos à revolução”, numa estética ainda livre à experimentação. A ditadura estética do realismo socialista seria imposta apenas em 1934, com Chapaiev, dos irmãos Vasiliev, encerrando a fase vanguardista do cinema soviético [15].

Na República de Weimar, o cinema alemão, nascido como fruto de interesses propagandísticos durante a Primeira Guerra Mundial, foi o palco de grandes experimentações estéticas até transformar-se, no fim dos anos 20, num campo de batalha ideológico entre os partidários da democracia e os simpatizantes dos movimentos comunista e nazista. Com a ascensão de Hitler ao poder, todos os meios de comunicação de massa foram progressivamente controlados e monopolizados pelo Estado.

Na Itália fascista, desde 1925-1926 o Estado assegurou o monopólio da produção dos filmes documentários e de atualidades, enquanto um decreto ordenava a projeção de cinejornais informativos visando desenvolver uma constante e intensa ação de ensino civil, propaganda e cultura [16]. Com a ascensão de Hitler ao poder, todos os meios de comunicação de massa foram coordenados pelo Estado nazista, inspirando Mussolini a fundar a Cinecittà em 1937.

Criada em 1922, a televisão alemã atingiu, em 1933, 180 linhas: desde então, foram realizadas emissões cotidianas e, em 1936, durante os Jogos Olímpicos em Berlim, sua imagem foi, pela primeira vez, diretamente projetada num telão para milhares de espectadores.

Em 1934, Goebbels ordenou a fabricação de aparelhos de rádio acessíveis a todos os bolsos e já em 1935 ele estimava que, com o receptor do engenheiro Otto Griesing e os alto-falantes colocados em escolas, fábricas e lugares, cada discurso do Führer atingia mais entre 5 e 6 milhões de ouvintes: “Com o rádio nós aniquilamos o espírito da rebelião” [17]. Em 1938, o número de ouvintes passou a 9,5 milhões e, em 1939, com a comercialização de um aparelho novo e menor, o rádio atingiu praticamente toda a população da Alemanha.

Contudo, no mundo entre guerras, o meio que representou a indústria cultural como um todo foi, sem divida, o cinema. Ao contrário do jornal e do rádio, o caráter “artístico” do cinema encobriu seu caráter de instrumento de modelagem e as polemicas em torno da indústria cultural só ganharam relevância após a guerra, quando a massificação da TV substituiu o cinema na modelagem de um contingente ainda maior da população do planeta.

No século XX, a superpopulação, a unificação tecnológica do planeta e os confrontos ideológicos em torno do “capitalismo” reconduziram a humanidade a um estágio de barbárie semelhante ao das tribos primitivas, através de revoluções, guerras mundiais e totalitarismos que restauraram a necessidade, característica dos povos arcaicos, de uma modelagem direta dos corpos através de novos instrumentos técnicos capazes de atingir e arregimentar milhões de indivíduos.

Beneficiadas pelos meios técnicos de comunicação, as tiranias do século XX adquirem uma especificidade toda sua, totalitárias na medida em que, à diferença dos regimes de forca do passado, podem apresentar, graças à propaganda, a evidência de uma popularidade. Os líderes revolucionários e totalitários não teriam podido mobilizar populações radicalizadas e fanatizadas pela fome, pelo ódio, pelo medo ou pela fé sem uma propaganda audiovisual massiva e altamente organizada. O controle do clima psicológico de nações inteiras tornou-se finalmente possível graças ao monopólio dos meios de comunicação de massa.

Através de todos os meios de comunicação conhecidos, estímulos psicológicos são produzidos enquanto se trabalha na remodelação total dos valores humanos. A propaganda eficaz é ininterrupta e onipresente. Nos regimes totalitários, dia e noite, o cidadão é informado e esclarecido sobre os acontecimentos e seus significados. No café da manha, os jornais apresentam-lhe fatos selecionados e comentados. Durante o dia, no trabalho, conversas com colegas confirmam suas idéias. Nos momentos de lazer, no cinema, no teatro, na leitura de revistas, sua visão de mundo consolida-se através de formas variadas, sublimadas e atraentes. À noite, antes de dormir, a última transmissão de notícias prepara-o para uma nova etapa de esclarecimento. A esfera privada é totalmente preenchida pela propaganda, multiplicada por centenas de vozes distintas, mas coordenadas por uma mesma e única fonte.

Antes do estabelecimento da indústria cultural, quando o poder era tomado à forca, por um grupo que impunha sua vontade ao resto da população, era possível que esta, mesmo conformada, não aceitasse, intimamente, o governo “ilegítimo”. No seu dia-a-dia, a população sofria a ditadura, silenciava ante a violência e até “tolerava” a opressão, porque, interiormente, subsistia uma vaga esperança de libertação. Já a ditadura totalitária moderna, com seus instrumentos técnicos de modelagem, penetra no âmago de cada cidadão.

No seu dia-a-dia, a população participa da tirania, da violência e da opressão, porque ressente, interiormente, sua participação nessa dominação como sua única possibilidade de escapar-lhe, sua esperança de libertação. Quando uma mente maniqueísta reflete sobre as circunstâncias que frustram seu bem-estar, toma o acaso que lhe acarreta prejuízos como o próprio Mal. Da mesma forma, a propaganda cria todo um coletivo maniqueísta, que se vê perseguido pelo Mal, ao mesmo tempo em que prepara o extermínio daqueles que aos seus olhos encarnam esse Mal.

A manipulação da paranóia fora originalmente uma ocupação dos xamãs, que se alimentavam do terror metafísico que dominava os selvagens. Seduzidos pelo “carisma” do xamã, que lhes apresentava soluções mágicas para a cura da incurável angústia provocada pela contingência, os selvagens unificavam-se num coletivo paranóico (a tribo) que não admitia qualquer dissensão.

O processo arcaico de transferência revela como foi possível reduzir, na Europa civilizado do século XX, o espaço mental de coletividades inteiras, através das mídias, aos elementos mais primitivos do pensamento. A paranóia coletiva projeta o Mal no mundo, e ao mesmo tempo em que se vê por ele perseguido, prepara o extermínio daqueles que, a seu ver, encarnam o Mal.

A passagem de certos homens pela Terra, capazes de mobilizar a paranóia coletiva, canalizando sua energia destrutiva para seus próprios fins delirantes, prova que, a par de sua significação religiosa, o Mal possui uma existência política. O ditador totalitário é o xamã do século XX, oferecendo à coletividade desintegrada pela técnica a panacéia do maniqueísmo, que satisfaz a psicose da massa, necessitada de acreditar em planos diabólicos tramados pelo Inimigo – por indivíduos e grupos que possam encarnar o Mal, para serem enfrentados concretamente, através de uma política de perseguição e extermínio.

Ao projetar toda carga destrutiva da paranóia coletiva sobre os judeus, Hitler chegou ao poder não como um político comum, mas como o profeta de uma nova religião monstruosa, que não apenas assimilou a tradição milenar do antissemitismo ocidental, como a radicalizou até a mais inconcebível utopia de destruição, que foi tornando verdadeira numa escala apenas factível com o auxílio da indústria cultural e da tecnologia moderna.

Analisando a cinematografia nazista fora do contexto da política biológica que a gerou, os historiadores consideraram que apenas 22 ou 24 dos 1.094 longas-metragens de ficção produzidos no ‘Terceiro Reich’ continham propaganda antissemita. Um número ínfimo de propaganda antissemita num meio em que o regime tanto investia. Haveria alguma discrepância entre a essência do nazismo e o cinema que ele produziu? Sendo o antissemitismo a essência do regime, desdobrado numa política, propagada totalitariamente, como explicar que o antissemitismo tenha ocupado um lugar tão modesto no seu principal veículo de propaganda, sob a coordenação direta de Goebbels?

Na verdade, em primeiro lugar, e antes de qualquer análise de seu conteúdo, esse cinema deve ser considerado como inteiramente antissemita. Não se pode omitir na análise da produção do cinema nazista que uma das primeiras medidas do regime, logo após a tomada do poder, em 1933, foi a supressão dos judeus da indústria cinematográfica.

O cinema alemão fora substancialmente edificado por empresários e artistas de ascendência judaica, num modo de produção que permitia a experimentação estética, gerando um expressionismo cinematográfico que marcou a cinematografia mundial [18]. Já o cinema nazista foi produzido por uma indústria cultural antissemita desde as bases “biológicas” de sua organização.

Iniciada em 1933 por Goebbels, como primeira medida do regime, assim que Hitler tomou o poder, a “arianização” promoveu o expurgo, a proibição de trabalho e o exílio de mais de 1500 artistas, produtores e técnicos de ascendência judaica, levados a fugir para a Áustria, a França, a Inglaterra, e depois para os EUA. Enquanto na Alemanha o nazismo censurava suas produções, a menção de seus nomes, a lembrança de seus feitos, controlando ao mesmo tempo as ascendências, relações sexuais e consangüíneas dos produtores culturais alemães, habilitados através de fichas de inscrição obtidas no Ministério da Cultura e da Propaganda, Hollywood via-se beneficiada com um influxo sem precedentes de talentos de tradição expressionista, revolucionando o realismo do cinema americano no filme noir, no thriller psicológico, no filme de espionagem, no terror atmosférico.

Após a “arianização” do cinema alemão, considerada completa em 1937, Goebbels elaborou para ele uma estética que associava os valores nacional-socialistas a formas narrativas consagradas, associando as deformações plásticas às deformações mentais; cultivando a saúde, o corpo, a natureza, o nudismo; professando o respeito cego à autoridade, à nobreza, à honra; adotando valores patrióticos, militaristas, racistas. Os artistas deviam seguir um padrão realista de narrativa, inspirado na literatura do naturalismo. Goebbels pôs fim ao sobrenatural, ao fantástico, ao horror, que haviam marcado o cinema alemão. Desenvolveu o filme histórico, o filme de guerra, o documentário cultural e o melodrama biológico. O racismo transformou-se em pano de fundo para comédias românticas, dramas policiais, operetas e musicais.

David Stuart Hull considerou como antissemitas apenas 4 filmes produzidos sob o Terceiro Reich: Robert und Bertram (1939), The Rotschilds (1940), Jud Süß (1940) e o documentário The Eternal Jew (1940). Em Antisemitische Filmpropaganda, Dorothea Hollstein aprofundou a superficial pesquisa de Hull e constatou a existência de 22 filmes e 2 projetos não realizados que considerou antissemitas. Desde então, pouco foi acrescentado. Na tese An Analytical Study of the Nazi Treatment of the Jews in Three Films, Wilhelm Bleckmann analisou três daqueles filmes. Régine Mihal-Friedman, em L’image et son Juif, concentrou-se em Jud Süß, sem modificar o quadro estabelecido por Dorothea Hollstein.

Em The Nazi Antissemitic Film: A Study of its Productional Rhetoric, Baruch Gitlis analisou outros daqueles mesmos filmes, observando com razão: “É surpreendente que, até 1938, filmes explicitamente antissemitas não tenham sido produzidos e exibidos publicamente” [19]. Mesmo constatando a existência de cenas antissemitas “sutilmente insinuadas e integradas” em filmes como Hitlerjunge Quex (1933) ou Hans Westmar (1933), Gitlis voltou a notar: “Por razoes políticas que ainda permanecem não esclarecidas, não houve filmes antissemitas alemães produzidos antes de 1938” [20].

Ora, 22 ou 24 filmes antissemitas, isto é, nos quais a imagem do judeu é apresentada de maneira detestável, numa produção de 1.097 filmes de ficção [21] não refletem a essência de um sistema político que preparava administrativamente a morte de milhões de judeus em toda a Europa. Era preciso que me lançasse ao fundo da questão: ou a essência do nazismo não era o antissemitismo (o que seria como colocar a realidade entre parênteses) ou a propaganda antissemita no cinema nazista não havia sido revelada pelos seus estudiosos em toda a extensão. Teria o cinema nazista desempenhado outro papel que não o de reforço ideológico? Estaria a massa de filmes nazistas limpa de um racismo concentrado em outros veículos? Mas, então, qual a necessidade de montar uma gigantesca indústria cultural ligada ao Ministério da Propaganda?

Apostando na hipótese lógica, passei a assistir a todos os filmes nazistas que eram programados em seminários, exibições especiais, cinematecas, etc. Engajado nesta busca, eu me transformei numa espécie de Simon Wiesentahl do cinema – enquanto ele caçava criminosos nazistas, onde quer que eles se refugiavam, eu caçava filmes nazistas, onde quer que eles fossem projetados…

Logo observei nesse cinema algo de inusitado, que não havia sido até então analisado. Um fenômeno que se repetia em diversos filmes de “entretenimento”: a presença de uma doença misteriosa que atingia personagens principais ou secundários, uma doença que se assemelhava a uma peste, e que era mesmo muitas vezes apresentada como a própria peste. Reatando esse fenômeno à propaganda antissemita retórica, expressa em artigos de jornal, manuais de eugenia e livros de doutrinação, concluí que a doença era um dos grandes leit-motivs do cinema nazista e, num paralelo com o papel do judeu na propaganda geral do sistema nazista, poderia ser interpretada como uma metáfora do judeu. Haveria, então, toda uma dramaturgia antissemita na própria linguagem do filme nazista, o núcleo da propaganda refletindo, finalmente, a essência do sistema.

De fato, o que diferenciaria filmes “mórbidos” em sua própria estrutura como Ein Volksfeind, La Habanera, Robert Koch, Verwehte Spuren, Ewiger Rembrandt, Kleider machen Leute, Das Herz muß schweigen, Opfergang ou Paracelsus dos filmes normalmente identificados como antissemitas pelos historiadores do cinema, como Robert und Bertram, Jud Süß, Die Rotschilds ou Der ewige Jude é que a propaganda antissemita no primeiro grupo de filmes é neles embutida numa dimensão cinematográfica, fluindo integrada à narrativa, sem a necessidade de um discurso verbal a explicitá-la.

Numa ação subconsciente, o primeiro grupo de filmes difunde o próprio pathos antissemita, em conexão com suas imagens, previamente disseminadas e assimiladas através de outros discursos. Essa constatação requeria uma série de provas, e um recuo de perspectiva até as origens da metáfora. Foi preciso examinar a organização do cinema nazista e seu papel dentro da estrutura geral e do conjunto significante do sistema de propaganda, e as diversas maneiras pelas quais a propaganda antissemita foi disseminada no filme nazista.
10 de maio de 2012

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