Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania. Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos. Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)
quinta-feira, 9 de agosto de 2012
MEMÓRIAS DO MENSALÃO
Em carta aberta, empresários pedem a Lula que conte o que sabe...
(Notícia aqui publicada em 31.8.2005)O Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE) é uma entidade que reúne pequenos e médios empresários de São Paulo. Em nome dela, Percival Maricato e Lívio Giosa, respectivamente 1º e 2º coordenadores-gerais, remeteram, hoje, carta aberta a Lula pedindo que ele revele tudo que sabe sobre os escândalos que estão sendo apurados pelas CPIs.
Segue a íntegra da carta transcrita de O Globo Online:
"Exmo Sr. Presidente, por diversas vezes, ao longo da sua trajetória política, tivemos o prazer e a honra de recebê-lo em nossa sede para discutir os caminhos da tão sonhada justiça social e o futuro do País. Hoje, como Presidente da República, V.Ex.ª encontra-se em meio a uma grave crise política que põe em risco esse futuro.
"Falando por nós, como representantes de uma modesta fatia do empresariado nacional mas, sem risco de erro, falando também como representantes de uma larga faixa dos cidadãos brasileiros de bem, podemos dizer, Sr. Presidente, que o povo brasileiro está perplexo e acima de tudo paralisado, se não em suas atividades do cotidiano que prosseguem em busca da subsistência, paralisado em algo muito mais fundamental, muito mais íntimo e sagrado, paralisado em sua alma.
"Em sua alma, Sr. Presidente, porque o povo sonhou. Em sua alma, porque acreditou. Em sua alma, porque ousou apoiar o que parecia impossível: a ascensão do simples, a vitória do pequeno, o coroamento do justo, a realização da esperança.
"Ao se defrontar com os acontecimentos inicialmente confusos e paradoxais mas agora cada vez mais evidentes e assustadores, e frustrando-se ao esperar, atento às suas palavras, que tudo pudesse ser esclarecido a cada novo pronunciamento, o povo sente sua alma se apertar.
"Suas afirmações do mais absoluto desconhecimento de fatos tão gritantes e impossíveis de esconder aumentam a perplexidade e a dúvida desse povo, Sr. Presidente, que agora lhe pede, lhe solicita, que resgate sua alma, que salve seu futuro, que lhe devolva a esperança.
"Temos a certeza, Sr. Presidente, que esse pedido está a seu alcance. Temos a certeza de que V. Ex.ª, ainda que negue, possui o conhecimento privilegiado de um comandante. Temos a mais absoluta certeza de que V. Ex.ª possui a informação crítica e essencial para não somente revelar as linhas mestras e as motivações que levaram a essa gravíssima situação, como também para indicar os caminhos para a solução dessas fraquezas, e as mudanças necessárias para eliminar de vez toda a vulnerabilidade do sistema e permitir que o País retome a jornada que o levará de volta ao seu destino histórico.
"Convencidos de tudo isso, pedimos-lhe que fale, Sr. Presidente. Que transforme o momento crítico que estamos vivendo numa grande oportunidade. Reconhecendo suas fraquezas e as do sistema político vigente temos a certeza de que engrandecerá as suas virtudes e reconduzirá o País, transformando-o para sempre."
(09 de agosto de 2012)
in blog do noblat
MEMÓRIAS DO MENSALÃO
Em carta sigilosa, Lula responde a empresário
(Notícia aqui publicada em 31.8.2005)
Qualquer semelhança com fatos reais ou pessoas é mera coincidência
Companheiros:
A alma de vocês está tão ferida quanto a minha. O sofrimento de vocês também é o meu. Se vocês estão perplexos, eu também estou. Sou filho de uma mulher que nasceu analfabeta, como vocês sabem. Mas se há uma coisa que aprendi com ela, uma coisa só, foi a dizer sempre a verdade. Porque só a verdade constrói.
Se você diz uma mentira é obrigado depois a inventar outra, e depois mais outra, e não pára mais. E as mentiras acabam sendo desmascaradas.
Mas eu não sou mais apenas aquele Lula que vocês conheceram em quatro campanhas para presidente da República. Não posso ser mais aquele Lula que sentava com os amigos em mesas de bares de São Bernardo do Campo, pedia uma caninha e ficava jogando conversa fora.
Aquele Lula não tinha as responsabilidades que, hoje, o Lula, presidente da República, tem. Eu não posso nem mais me dar ao luxo de sentar em mesas de bares, quanto mais a falar livremente sobre qualquer coisa, qualquer pessoa...
Eu fui traído, como vocês sabem. Disse ao povo brasileiro com todas as letras que fui traído. Até pedi desculpas - e sou obrigado a admitir que me custou muito pedir... Porque eu não errei. Eu não traí ninguém. Erraram e me traíram. E traíram o povo brasileiro.
Mas, infelizmente, não posso revelar o nome dos traidores. Não posso contar tudo que consegui saber depois que me descobri traído. Porque ficaria nas mãos deles. Eu me tornaria refém deles. De alguma maneira, sou refém deles.
Imagine os companheiros se eu dissesse na televisão que jamais soube o que Delúbio fazia... Que ignorava que ele tomava dinheiro de empresários e usava caixa 2 para pagar despesas de campanha do PT.
E se o Delúbio fosse à televisão e respondesse que não, que eu sabia, sim, que ele era mais homem de minha confiança do que da confiança do Zé Dirceu. E que era tão próximo de mim que mais de uma vez se hopedou na Granja do Torto...
Ele teria dito uma meia verdade: era mais ligado a mim do que ao Zé, e de fato eu o hospedei na Granja. Mas teria mentido ao dizer que eu sabia como ele arranjava dinheiro. Eu não sabia, juro pela alma da minha santa mãe. Nunca quis saber.
A mesma coisa poderia acontecer se eu apontasse o Zé como um dos traidores. Imaginem só se ele convocasse uma entrevista e dissesse assim: "Tudo que eu fiz foi mediante conhecimento prévio e autorização expressa do presidente da República".
Sem que eu tenha dito nada sobre ele, o Zé, quando ainda era ministro, falou uma vez para o Estadão que tudo que fazia tinha o meu aval... Vocês não lembram?
E vocês acham que o povo acreditaria em quem? Em mim? Ou no Delúbio e no Zé? Nem quero falar aqui sobre aquela besta do Silvinho Pereira. O sujeito ganhou de um empresário um Land Rover de presente... Só uma besta se comportaria assim.
Tem certos momentos da história de um povo que se acredita mais no bandido do que no inocente. Principalmente no bandido que confessa seus crimes. E que depois tenta implicar os outros.
Vocês não viram o exemplo do Roberto Jefferson? Ele confessou que recebeu dinheiro de caixa 2. Portanto, que cometera um crime. E depois saiu jogando lama em todo mundo. A imprensa preferiu acreditar nele. Réu confesso vira santo neste país.
Espero que os companheiros me entendam. E que aceitem minhas explicações. Estou sendo tão injustiçado - ou mais - do que foi o Juscelino. Ele também foi chamado de corrupto. Eu ainda não fui, mas sei que muita gente pensa que sou.
Só me cabe ter paciência, paciência e paciência. A História me fará justiça."
(09 de agosto de 2012)
in blog do noblat
SEM CREDIBILIDADE
Os pontos-chave
Depois dos vários advogados que desfilaram em frente aos ministros do Supremo nestes primeiros dias de atuação da defesa, fica cada vez mais claro que é difícil tanto negar quanto minimizar o esquema de corrupção organizado pelo PT, transformando-o em simples caixa dois de campanha eleitoral.
A cada relato montado para descaracterizar a prática de crimes de seus representados, os advogados vão criando cenários tão fictícios que se torna quase impossível crer nesse desfile de homens e mulheres impolutos, políticos só interessados no bem público, heróis da resistência democrática sonhando com um Brasil melhor, empresários seríssimos, por razão insondável envolvidos em uma trama palaciana que simplesmente não existiu.
Os personagens descritos pelos advogados não combinam com encontros secretos em quartos de hotel, carros-fortes cruzando Brasília com dinheiro de fonte ilícita, saques na boca do caixa a mando de um empresário, Marcos Valério, que dava as cartas na política nacional sem ser dirigente partidário, membro do governo ou político eleito.
Publicitário já famoso e premiado, segundo seu advogado, Valério ganhou as licitações do governo por mérito próprio. Difícil acreditar quando sabemos que ele, nem tão respeitado assim no meio, especializou-se em desviar dinheiro público para financiar campanhas políticas, e que fazia negociatas dentro do governo que nada tinham a ver com sua função.
Não é razoável, convenhamos, que todo esse esquema tenha sido montado por um homem de fora do sistema de comando petista e um tesoureiro que não tinha o menor poder político.
O grande problema da história contada pela defesa é que, se José Dirceu não tinha nada a ver com o esquema de financiamento da base aliada, a linha de comando sobe para Lula, o então presidente da República, como alguns ministros já comentaram reservadamente.
O que possibilitou a não inclusão de Lula no processo foi haver a figura do autor, aquele que tem o domínio final do fato, na pele do superministro de então, José Dirceu.
Sua onipresença na articulação da política governista é que torna factível a narrativa do procurador-geral da República e fragiliza a imagem menor que dele quis fazer sua defesa. O advogado de Dirceu, que fez a defesa possível com muita competência, tentou reduzir sua importância em relação ao PT, o que é impensável quando se sabe que, mesmo após sair do governo e ser cassado, continuou a dar as cartas no partido, como continua até hoje.
De outro lado, nos núcleos operacional e financeiro, temos apenas funcionárias “mequetrefes”, sócios que nada sabiam do que se passava em suas empresas, uma banqueira que queria ser bailarina e foi “obrigada” por seu pai a assumir funções burocráticas no banco para as quais não tinha pendor, um diretor da área de “compliance” que não entende nada de finanças. E um morto responsabilizado por todas as operações que porventura considerarem ilegítimas.
Já a insistência com que os defensores políticos dos mensaleiros falam no mensalão do PSDB de Minas, exigindo o julgamento de seus responsáveis para que seja feita justiça imparcial, coloca-os num paradoxo de difícil superação.
Como os casos são idênticos, organizados pelo mesmo operador, o mineiro Marcos Valério, o que acontecer no julgamento do mensalão petista terá repercussão evidente no outro julgamento.
Portanto, se os mensaleiros, por hipótese, forem absolvidos agora pelo Supremo Tribunal Federal, também os tucanos terão, provavelmente, o mesmo veredicto.
Se, ao contrário, Dirceu e os demais envolvidos no esquema ora em julgamento forem condenados, o mesmo tratamento deverá ser dado ao atual deputado federal Eduardo Azeredo e demais envolvidos no esquema utilizado em 1998 na eleição para governador de Minas.
Não dá para culpar os tucanos de graves crimes e inocentar a turma do PT, que bebeu na mesma fonte e ampliou a abrangência do golpe no dinheiro público, levando para o plano nacional o que era um arranjo local.
O fato de o mensalão mineiro ter sido considerado o laboratório de onde saiu a expertise para a montagem do mensalão nacional, como frisou o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em sua acusação, só faz aumentar o convencimento de que o surgimento do “carequinha” no centro das decisões em Brasília se deve à “transferência de tecnologia” que trouxe consigo.
09 de agosto de 2012
Merval Pereira, O Globo
Depois dos vários advogados que desfilaram em frente aos ministros do Supremo nestes primeiros dias de atuação da defesa, fica cada vez mais claro que é difícil tanto negar quanto minimizar o esquema de corrupção organizado pelo PT, transformando-o em simples caixa dois de campanha eleitoral.
A cada relato montado para descaracterizar a prática de crimes de seus representados, os advogados vão criando cenários tão fictícios que se torna quase impossível crer nesse desfile de homens e mulheres impolutos, políticos só interessados no bem público, heróis da resistência democrática sonhando com um Brasil melhor, empresários seríssimos, por razão insondável envolvidos em uma trama palaciana que simplesmente não existiu.
Os personagens descritos pelos advogados não combinam com encontros secretos em quartos de hotel, carros-fortes cruzando Brasília com dinheiro de fonte ilícita, saques na boca do caixa a mando de um empresário, Marcos Valério, que dava as cartas na política nacional sem ser dirigente partidário, membro do governo ou político eleito.
Publicitário já famoso e premiado, segundo seu advogado, Valério ganhou as licitações do governo por mérito próprio. Difícil acreditar quando sabemos que ele, nem tão respeitado assim no meio, especializou-se em desviar dinheiro público para financiar campanhas políticas, e que fazia negociatas dentro do governo que nada tinham a ver com sua função.
Não é razoável, convenhamos, que todo esse esquema tenha sido montado por um homem de fora do sistema de comando petista e um tesoureiro que não tinha o menor poder político.
O grande problema da história contada pela defesa é que, se José Dirceu não tinha nada a ver com o esquema de financiamento da base aliada, a linha de comando sobe para Lula, o então presidente da República, como alguns ministros já comentaram reservadamente.
O que possibilitou a não inclusão de Lula no processo foi haver a figura do autor, aquele que tem o domínio final do fato, na pele do superministro de então, José Dirceu.
Sua onipresença na articulação da política governista é que torna factível a narrativa do procurador-geral da República e fragiliza a imagem menor que dele quis fazer sua defesa. O advogado de Dirceu, que fez a defesa possível com muita competência, tentou reduzir sua importância em relação ao PT, o que é impensável quando se sabe que, mesmo após sair do governo e ser cassado, continuou a dar as cartas no partido, como continua até hoje.
De outro lado, nos núcleos operacional e financeiro, temos apenas funcionárias “mequetrefes”, sócios que nada sabiam do que se passava em suas empresas, uma banqueira que queria ser bailarina e foi “obrigada” por seu pai a assumir funções burocráticas no banco para as quais não tinha pendor, um diretor da área de “compliance” que não entende nada de finanças. E um morto responsabilizado por todas as operações que porventura considerarem ilegítimas.
Já a insistência com que os defensores políticos dos mensaleiros falam no mensalão do PSDB de Minas, exigindo o julgamento de seus responsáveis para que seja feita justiça imparcial, coloca-os num paradoxo de difícil superação.
Como os casos são idênticos, organizados pelo mesmo operador, o mineiro Marcos Valério, o que acontecer no julgamento do mensalão petista terá repercussão evidente no outro julgamento.
Portanto, se os mensaleiros, por hipótese, forem absolvidos agora pelo Supremo Tribunal Federal, também os tucanos terão, provavelmente, o mesmo veredicto.
Se, ao contrário, Dirceu e os demais envolvidos no esquema ora em julgamento forem condenados, o mesmo tratamento deverá ser dado ao atual deputado federal Eduardo Azeredo e demais envolvidos no esquema utilizado em 1998 na eleição para governador de Minas.
Não dá para culpar os tucanos de graves crimes e inocentar a turma do PT, que bebeu na mesma fonte e ampliou a abrangência do golpe no dinheiro público, levando para o plano nacional o que era um arranjo local.
O fato de o mensalão mineiro ter sido considerado o laboratório de onde saiu a expertise para a montagem do mensalão nacional, como frisou o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, em sua acusação, só faz aumentar o convencimento de que o surgimento do “carequinha” no centro das decisões em Brasília se deve à “transferência de tecnologia” que trouxe consigo.
09 de agosto de 2012
Merval Pereira, O Globo
APARECER E NÃO APARECER
Há controvérsias. Alguns acham que juiz de futebol bom é o que não aparece. Outros acham que juiz bom é o que impõe sua autoridade, mesmo tendo que recorrer ao histrionismo e gestos enérgicos. Ou seja: quanto mais aparecer, melhor.
Já
entre os juízes togados, "aparecer" ou não "aparecer" significa se ater aos
autos, na linguagem jurídica, ou julgar de acordo com suas convicções pessoais,
sua personalidade e o momento. Um juiz julgar, ou aparecer, além ou a despeito
dos autos não é necessariamente um defeito: muitas vezes os autos dizem pouco e
a verdade depende da sensibilidade de quem os interpreta.
Os ministros do Supremo Tribunal Federal que julgam o mensalão estarão em evidência nas próximas semanas e a Nação terá a possibilidade de estudá-los de perto e conhecer o jeito de cada um. Alguns têm personalidades mais fortes do que outros.
Os egos também variam.
O importante - para continuar a analogia com juiz de futebol - é que sejam justos, não favoreçam nenhum lado indevidamente e deem, figurativamente, todos os pênaltis.
A nomeação de juízes para a Corte suprema é uma tarefa presidencial equivalente, em importância, a qualquer outra decisão administrativa ou política do governo. Pode-se até dizer, exagerando só um pouco, que o legado maior de um presidente ao país é a qualidade dos juízes que deixa na Corte quando seu governo acaba.
Nos Estados Unidos, a reeleição do Dobliu Bush se deveu à maioria conservadora da Corte, que literalmente lhe doou a Presidência, interrompendo os debates sobre a lisura das eleições e ignorando protestos legítimos contra o arbítrio da sua decisão.
Foi um caso extremo, para não dizer supremo, de interferência politicamente motivada do Poder Judiciário nos destinos daquela república, feita sem o menor pudor. Mas os juízes que reelegeram Bush sempre votaram (e ainda votam, pois a maioria continua) de acordo com a intenção dos governos conservadores que os botaram lá, o que é natural e legítimo.
O caso Bush foi apenas uma suspensão passageira do senso de medida.
Aqui, como lá, são todos homens honrados, que se aterão aos autos ou julgarão de acordo com seus instintos. No atual julgamento, uns aparecerão mais, outros aparecerão menos, mas é difícil imaginar que algum deles vote de acordo com uma prévia agenda política, ou por lealdade a quem o nomeou. De qualquer maneira, nas próximas semanas vamos conhecê-los de perto.
09 de agosto de 2012
Luis Fernando Veríssimo - O Estado de S.Paulo
Os ministros do Supremo Tribunal Federal que julgam o mensalão estarão em evidência nas próximas semanas e a Nação terá a possibilidade de estudá-los de perto e conhecer o jeito de cada um. Alguns têm personalidades mais fortes do que outros.
Os egos também variam.
O importante - para continuar a analogia com juiz de futebol - é que sejam justos, não favoreçam nenhum lado indevidamente e deem, figurativamente, todos os pênaltis.
A nomeação de juízes para a Corte suprema é uma tarefa presidencial equivalente, em importância, a qualquer outra decisão administrativa ou política do governo. Pode-se até dizer, exagerando só um pouco, que o legado maior de um presidente ao país é a qualidade dos juízes que deixa na Corte quando seu governo acaba.
Nos Estados Unidos, a reeleição do Dobliu Bush se deveu à maioria conservadora da Corte, que literalmente lhe doou a Presidência, interrompendo os debates sobre a lisura das eleições e ignorando protestos legítimos contra o arbítrio da sua decisão.
Foi um caso extremo, para não dizer supremo, de interferência politicamente motivada do Poder Judiciário nos destinos daquela república, feita sem o menor pudor. Mas os juízes que reelegeram Bush sempre votaram (e ainda votam, pois a maioria continua) de acordo com a intenção dos governos conservadores que os botaram lá, o que é natural e legítimo.
O caso Bush foi apenas uma suspensão passageira do senso de medida.
Aqui, como lá, são todos homens honrados, que se aterão aos autos ou julgarão de acordo com seus instintos. No atual julgamento, uns aparecerão mais, outros aparecerão menos, mas é difícil imaginar que algum deles vote de acordo com uma prévia agenda política, ou por lealdade a quem o nomeou. De qualquer maneira, nas próximas semanas vamos conhecê-los de perto.
09 de agosto de 2012
Luis Fernando Veríssimo - O Estado de S.Paulo
MAL-ASSADA, MUITO AMADA
Neste baianisticamente bem temperado texto exclusivo para o Paladar, João
Ubaldo revela: o gourmet Jorge se perdia mesmo era por uma tal de
mal-assada
Quando se pensa em comida baiana do Recôncavo (região em torno da Baía de
Todos os Santos, distinguível culturalmente de outras partes do Estado), quase
nunca se pensa em carne.
O que vem à memória, além de acarajés, abarás, carurus e vatapás, são moquecas de peixe ou de mariscos, dificilmente um prato de carne. Mas existe pelo menos um prato de carne muito baiano.
Não se trata de moqueca de carne, embora se faça moqueca de carne, com os mesmos temperos que a moqueca de peixe e a carne cortada mais ou menos em cubinhos ou tiras. Faz-se moqueca de ovos, de miolos, de chuchu, de maxixe, de galinha e, enfim, do que mais ditarem a fantasia ou a necessidade.
(Aliás, há muito preconceito em relação a certas combinações.
É comum achar que feijão e moqueca são incompatíveis no mesmo prato. Feijoada, talvez sim; mas feijão mulatinho, temperado apenas com sal, cebola e um dentinho de alho, cai esplendidamente com moqueca e não conhece a vida aquele que, diante de um prato de boas dimensões, nunca fez a "mustura" de moqueca de camarão e seu caldinho, arroz, feijão temperado, farofa de dendê e um molho de pimenta esperto borrifado por cima, é uma experiência transformadora.)
Falo nesse prato de carne, porque, ao longo de uma convivência que se estendeu por uns 40 anos, creio que posso afirmar que o prato favorito de Jorge Amado era mal-assada (pronuncia-se "malassada", em vez "mau assada", como seria natural na pronúncia baiana).
Claro, ele gostava de comida baiana em geral e também comíamos muito bem em Portugal, quando passamos uma boa temporada morando em Lisboa. Mas o que o levava a descrições empolgadas eram as boas mal-assadas que tinha comido e as muitas que ainda pretendia comer.
Na casa dele, com empregadas diferentes, a mal-assada sempre foi excelente, com toda a certeza por diligência de Zélia, pois apesar de seu preparo ser simples, cada passo e cada escolha afetam sensivelmente o resultado. Há escolas e subescolas de mal-assadas, umas que até advogam a inclusão, para outras herética ou mesmo aterrorizante, de coentro, entre os temperos.
Existem até os descompreendidos que pedem mal-assada, digamos, bem passada, contradição em termos que leva a altercações inflamadas e até à ruptura de amizades e noivados.
Sim, mas vou falando e esqueço que a encantadora leitora ou o amável leitor provavelmente não sabem o que é uma mal-assada, até porque, se tentasse informar-se por livros ou pela internet, estaria logo à deriva, entontecido pela confusão conceitual a que aludi.
Existirá sempre um baiano para fazer restrições à explicação que se segue, bem como a todos os passos da receita meio tosca que vou dar. Como testemunha ocular da História, tenho, contudo, certeza de que ela se baseia em premissas respeitáveis e, principalmente, de que resulta numa mal-assada de que Jorge gostaria.
E a mal-assada não é assada, é frita e já foi descrita como uma espécie de rosbife. E eu sei a qual escola Jorge pertencia, porque também me filio a ela. Discutimos e comemos mal-assada juntos inúmeras vezes. Ele não sabia cozinhar, mas era excelente crítico gastronômico. E eu de vez em quando maltrato umas panelas e frigideiras, de maneira que me atrevo a dar a receita, se é que se pode chamar o que se segue de receita.
Convém avisar preliminarmente os interessados que a receita, do jeito que vou passá-la, é mais para cozinheiros (e cozinheiras, como acrescentaria a presidenta) com alguma experiência e de tipo semelhante ao meu. Ou seja, pioneiros e experimentadores, embora não imprudentes, e dispostos, sob uma inspiração fugaz, a alterar um detalhe da receita e do preparo. As quantidades de tempero que vou sugerir, por exemplo, estão longe de ser exatas.
Eu costumo temperar no olho e na veneta do momento, claro que sem sair dos limites da sensatez. Cada um tem sua boa mal-assada e um pouquinho de persistência levará a ela. Qualquer receita para esse prato - como para tantos outros - deve ser vista pelo cozinheiro como uma partitura à qual cada músico, no caso ele, dá sua interpretação. Em dúvida, se pegue com São Lourenço, o padroeiro dos cozinheiros, e vá em frente com destemor.
Tem gente que faz mal-assada de filé mignon, mas a maioria acha que a vantagem de sua maciez é prejudicada por ele "não pegar gosto". Não fica ruim e alguns o preferem mesmo assim, mas o que se usa mais é alcatra. Então pense aí num quilo, quilo e trezentos, de alcatra, limpa de pelanquinhas e "nervuras".
Ingredientes que uso, em quantidade suficiente para soterrar a carne sob um monte de temperos, machucados mas não inteiramente destroçados, num pilãozinho que antigamente, no Nordeste, se chamava "almofariz": sal (a gosto - costumo dar uma esfregada de sal grosso diretamente na carne); pimenta do reino (também a gosto, duas a quatro pitadas); quatro a cinco cebolas em rodelas; uns três dentes de alho, ou mais, se o freguês gosta de comida castigada no alho; quatro a seis tomates em rodelas, tiradas as sementes; dois a três pimentões, nas cores preferidas; salsinha também a gosto.
As quantidades são imprecisas para dar margem às predileções de cada cozinheiro e para mostrar que a experimentação, dentro de limites seguros, é um bom caminho para dominar o preparo de uma mal-assada de personalidade, que possa destacar-se entre outros "modelos", numa eventual competição gastronômica, entre os amigos ou na casa da sogra.
O ideal é cobrir a carne, já temperada com o sal e a pimenta, sob a massa dos condimentos pisados no pilãozinho. Há quem use liquidificador para essa tarefa, mas isso é geralmente considerado grossura, deselegância e manifestação de defeitos de caráter. Além disso, reduzir os temperos a uma papa informe certamente altera seu gosto e o resultado final - um bifão de alcatra afundado num angu de temperos, em vez de belas rodelas de tomate, cebola e pimentão - provavelmente seria vaiado.
Põe-se a carne num recipiente que não seja de metal e deitam-se por cima dela os temperos. Dá-se uma rolada na carne, para expor toda ela aos temperos, entre os quais deve permanecer quieta aí por uma hora e meia, ou até mais. Ela fica como que embrulhada nos temperos.
Em seguida, pegue uma frigideira não muito rasa, cubra o fundo dela com óleo e, quando este ficar bem quente (ou seja, paradão e soltando uma fumacinha quase imperceptível), venha de lá com a carne, sem fazer muita questão de que ela solte todos os temperos que estarão colados nela. Devagar e com cuidado, para não se queimar com os respingos, ponha a carne na frigideira. E aí é essencial não ficar virando a carne.
Deixe-a fritando e, enquanto futuras mal-assadas não lhe dão experiência suficiente para saber de antemão quanto tempo a carne ficará fritando de um lado só, inspecione de quando em vez as laterais dela ou dê uma viradinha parcial rápida, para espiar o lado exposto à fritura. Apenas quando ele estiver moreninho (selado, como tem gente que fala), vire a carne e frite o outro lado. Tenha em mente que a mal-assada deve sempre ficar vermelhinha, ou pelo menos rosada, por dentro.
Depois de ambos os lados estarem dourados, pode abaixar o fogo e dar esse passo como concluído, ou continuar a fritura por mais algum tempo, a depender do ponto desejado ou da altura da peça de carne. Feito isso, reserve a carne e despeje os temperos na frigideira em que ela foi frita. Refogue os temperos, mexendo um pouco.
Cuidadosamente, acrescente um pouco de água e, com a ponta de uma colher de pau, solte os temperos que grudaram no fundo da frigideira e comece o cozimento daquilo que - está em suas mãos agora, entregue à sua sensibilidade - marcará o resultado final. Mais um tantinho de água, mais uma pitada de sal, etc. Conheço gente que usa caldo de carne industrializado, o que pode redundar em excesso de sal, além de constituir, para os mais rigorosos, um embuste intolerável.
Trata-se de um processo a que você deve estar atento, porque a espessura do molho é decidida pelo piloto da frigideira, que também poderá dar umas provadas de segurança e fazer alguma alteração de última hora, tal como acrescentar água para afinar um pouco, porque a textura não deve ser pastosa, nem de perto.
Quando você der o apito final, isso será o molho (ou caldo, como se prefere na Bahia) de sua responsabilidade e assinatura, o qual será fumegantemente derramado sobre a carne já disposta num belo recipiente, que sua criatividade ornamentará, lembrando que essencial para o artista é a liberdade. Alguns cozinheiros abrem sulcos na carne, antes de fritura; outros a fatiam, antes de derramar o molho por cima, questão de estilo.
O que resta mesmo, depois de tudo, é aguardar nervosamente os comentários, ouvir com humildade a crítica construtiva, ignorar os invejosos e anotar modificações a experimentar ou implantar na próxima mal-assada - é um mundo infinito de variações e combinações sutis. Come-se com arroz e feijão, é claro, come-se até com macarrão. E, se sobrar e for guardada na geladeira, é das melhores carnes para tirar de lá fria mesmo, enfiar entre duas fatias de pão e devorar na calada da noite.
Não lembro se Dona Flor tinha receitas para mal-assada. Com toda a certeza tinha, porque Jorge não ia considerar grande quituteira uma mulher que não soubesse fazer uma mal-assada de respeito. Como eu disse, ele não sabia cozinhar, mas sabia apreciar e sempre exaltou as grandes cozinheiras que conheceu em nossa terra e sempre deu valor de grande arte à criação culinária. Espero, com a receita de hoje, ter feito uma homenagem a ele, foi esta a minha intenção.
09 de agosto de 2012
João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S.Paulo
O que vem à memória, além de acarajés, abarás, carurus e vatapás, são moquecas de peixe ou de mariscos, dificilmente um prato de carne. Mas existe pelo menos um prato de carne muito baiano.
Não se trata de moqueca de carne, embora se faça moqueca de carne, com os mesmos temperos que a moqueca de peixe e a carne cortada mais ou menos em cubinhos ou tiras. Faz-se moqueca de ovos, de miolos, de chuchu, de maxixe, de galinha e, enfim, do que mais ditarem a fantasia ou a necessidade.
(Aliás, há muito preconceito em relação a certas combinações.
É comum achar que feijão e moqueca são incompatíveis no mesmo prato. Feijoada, talvez sim; mas feijão mulatinho, temperado apenas com sal, cebola e um dentinho de alho, cai esplendidamente com moqueca e não conhece a vida aquele que, diante de um prato de boas dimensões, nunca fez a "mustura" de moqueca de camarão e seu caldinho, arroz, feijão temperado, farofa de dendê e um molho de pimenta esperto borrifado por cima, é uma experiência transformadora.)
Falo nesse prato de carne, porque, ao longo de uma convivência que se estendeu por uns 40 anos, creio que posso afirmar que o prato favorito de Jorge Amado era mal-assada (pronuncia-se "malassada", em vez "mau assada", como seria natural na pronúncia baiana).
Claro, ele gostava de comida baiana em geral e também comíamos muito bem em Portugal, quando passamos uma boa temporada morando em Lisboa. Mas o que o levava a descrições empolgadas eram as boas mal-assadas que tinha comido e as muitas que ainda pretendia comer.
Na casa dele, com empregadas diferentes, a mal-assada sempre foi excelente, com toda a certeza por diligência de Zélia, pois apesar de seu preparo ser simples, cada passo e cada escolha afetam sensivelmente o resultado. Há escolas e subescolas de mal-assadas, umas que até advogam a inclusão, para outras herética ou mesmo aterrorizante, de coentro, entre os temperos.
Existem até os descompreendidos que pedem mal-assada, digamos, bem passada, contradição em termos que leva a altercações inflamadas e até à ruptura de amizades e noivados.
Sim, mas vou falando e esqueço que a encantadora leitora ou o amável leitor provavelmente não sabem o que é uma mal-assada, até porque, se tentasse informar-se por livros ou pela internet, estaria logo à deriva, entontecido pela confusão conceitual a que aludi.
Existirá sempre um baiano para fazer restrições à explicação que se segue, bem como a todos os passos da receita meio tosca que vou dar. Como testemunha ocular da História, tenho, contudo, certeza de que ela se baseia em premissas respeitáveis e, principalmente, de que resulta numa mal-assada de que Jorge gostaria.
E a mal-assada não é assada, é frita e já foi descrita como uma espécie de rosbife. E eu sei a qual escola Jorge pertencia, porque também me filio a ela. Discutimos e comemos mal-assada juntos inúmeras vezes. Ele não sabia cozinhar, mas era excelente crítico gastronômico. E eu de vez em quando maltrato umas panelas e frigideiras, de maneira que me atrevo a dar a receita, se é que se pode chamar o que se segue de receita.
Convém avisar preliminarmente os interessados que a receita, do jeito que vou passá-la, é mais para cozinheiros (e cozinheiras, como acrescentaria a presidenta) com alguma experiência e de tipo semelhante ao meu. Ou seja, pioneiros e experimentadores, embora não imprudentes, e dispostos, sob uma inspiração fugaz, a alterar um detalhe da receita e do preparo. As quantidades de tempero que vou sugerir, por exemplo, estão longe de ser exatas.
Eu costumo temperar no olho e na veneta do momento, claro que sem sair dos limites da sensatez. Cada um tem sua boa mal-assada e um pouquinho de persistência levará a ela. Qualquer receita para esse prato - como para tantos outros - deve ser vista pelo cozinheiro como uma partitura à qual cada músico, no caso ele, dá sua interpretação. Em dúvida, se pegue com São Lourenço, o padroeiro dos cozinheiros, e vá em frente com destemor.
Tem gente que faz mal-assada de filé mignon, mas a maioria acha que a vantagem de sua maciez é prejudicada por ele "não pegar gosto". Não fica ruim e alguns o preferem mesmo assim, mas o que se usa mais é alcatra. Então pense aí num quilo, quilo e trezentos, de alcatra, limpa de pelanquinhas e "nervuras".
Ingredientes que uso, em quantidade suficiente para soterrar a carne sob um monte de temperos, machucados mas não inteiramente destroçados, num pilãozinho que antigamente, no Nordeste, se chamava "almofariz": sal (a gosto - costumo dar uma esfregada de sal grosso diretamente na carne); pimenta do reino (também a gosto, duas a quatro pitadas); quatro a cinco cebolas em rodelas; uns três dentes de alho, ou mais, se o freguês gosta de comida castigada no alho; quatro a seis tomates em rodelas, tiradas as sementes; dois a três pimentões, nas cores preferidas; salsinha também a gosto.
As quantidades são imprecisas para dar margem às predileções de cada cozinheiro e para mostrar que a experimentação, dentro de limites seguros, é um bom caminho para dominar o preparo de uma mal-assada de personalidade, que possa destacar-se entre outros "modelos", numa eventual competição gastronômica, entre os amigos ou na casa da sogra.
O ideal é cobrir a carne, já temperada com o sal e a pimenta, sob a massa dos condimentos pisados no pilãozinho. Há quem use liquidificador para essa tarefa, mas isso é geralmente considerado grossura, deselegância e manifestação de defeitos de caráter. Além disso, reduzir os temperos a uma papa informe certamente altera seu gosto e o resultado final - um bifão de alcatra afundado num angu de temperos, em vez de belas rodelas de tomate, cebola e pimentão - provavelmente seria vaiado.
Põe-se a carne num recipiente que não seja de metal e deitam-se por cima dela os temperos. Dá-se uma rolada na carne, para expor toda ela aos temperos, entre os quais deve permanecer quieta aí por uma hora e meia, ou até mais. Ela fica como que embrulhada nos temperos.
Em seguida, pegue uma frigideira não muito rasa, cubra o fundo dela com óleo e, quando este ficar bem quente (ou seja, paradão e soltando uma fumacinha quase imperceptível), venha de lá com a carne, sem fazer muita questão de que ela solte todos os temperos que estarão colados nela. Devagar e com cuidado, para não se queimar com os respingos, ponha a carne na frigideira. E aí é essencial não ficar virando a carne.
Deixe-a fritando e, enquanto futuras mal-assadas não lhe dão experiência suficiente para saber de antemão quanto tempo a carne ficará fritando de um lado só, inspecione de quando em vez as laterais dela ou dê uma viradinha parcial rápida, para espiar o lado exposto à fritura. Apenas quando ele estiver moreninho (selado, como tem gente que fala), vire a carne e frite o outro lado. Tenha em mente que a mal-assada deve sempre ficar vermelhinha, ou pelo menos rosada, por dentro.
Depois de ambos os lados estarem dourados, pode abaixar o fogo e dar esse passo como concluído, ou continuar a fritura por mais algum tempo, a depender do ponto desejado ou da altura da peça de carne. Feito isso, reserve a carne e despeje os temperos na frigideira em que ela foi frita. Refogue os temperos, mexendo um pouco.
Cuidadosamente, acrescente um pouco de água e, com a ponta de uma colher de pau, solte os temperos que grudaram no fundo da frigideira e comece o cozimento daquilo que - está em suas mãos agora, entregue à sua sensibilidade - marcará o resultado final. Mais um tantinho de água, mais uma pitada de sal, etc. Conheço gente que usa caldo de carne industrializado, o que pode redundar em excesso de sal, além de constituir, para os mais rigorosos, um embuste intolerável.
Trata-se de um processo a que você deve estar atento, porque a espessura do molho é decidida pelo piloto da frigideira, que também poderá dar umas provadas de segurança e fazer alguma alteração de última hora, tal como acrescentar água para afinar um pouco, porque a textura não deve ser pastosa, nem de perto.
Quando você der o apito final, isso será o molho (ou caldo, como se prefere na Bahia) de sua responsabilidade e assinatura, o qual será fumegantemente derramado sobre a carne já disposta num belo recipiente, que sua criatividade ornamentará, lembrando que essencial para o artista é a liberdade. Alguns cozinheiros abrem sulcos na carne, antes de fritura; outros a fatiam, antes de derramar o molho por cima, questão de estilo.
O que resta mesmo, depois de tudo, é aguardar nervosamente os comentários, ouvir com humildade a crítica construtiva, ignorar os invejosos e anotar modificações a experimentar ou implantar na próxima mal-assada - é um mundo infinito de variações e combinações sutis. Come-se com arroz e feijão, é claro, come-se até com macarrão. E, se sobrar e for guardada na geladeira, é das melhores carnes para tirar de lá fria mesmo, enfiar entre duas fatias de pão e devorar na calada da noite.
Não lembro se Dona Flor tinha receitas para mal-assada. Com toda a certeza tinha, porque Jorge não ia considerar grande quituteira uma mulher que não soubesse fazer uma mal-assada de respeito. Como eu disse, ele não sabia cozinhar, mas sabia apreciar e sempre exaltou as grandes cozinheiras que conheceu em nossa terra e sempre deu valor de grande arte à criação culinária. Espero, com a receita de hoje, ter feito uma homenagem a ele, foi esta a minha intenção.
09 de agosto de 2012
João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S.Paulo
REVISÃO DE CÁLCULO
O governo ontem pelo visto deu-se conta do quanto soava inverossímil a versão
de que ninguém no Palácio do Planalto e Esplanada dos Ministérios estava dando a
menor pelota para o julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal.
Dois ministros, Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, e José Eduardo Cardozo, da Justiça, manifestaram-se depois de dias de ineficaz imposição de toque de silêncio forçado. Ambos disseram que qualquer que seja o resultado não haverá desgaste para a presidente Dilma Rousseff nem prejuízo eleitoral para o PT.
Note-se, não são quaisquer ministros, mas dois auxiliares muito próximos do cotidiano da presidente, sendo um deles, Gilberto Carvalho, ligadíssimo ao ex-presidente Lula. Um indicativo de que a mudança possa ter a concordância dele.
Não se imagina que Lula vá passar a tratar do assunto em público com desenvoltura, mas ao menos é de se esperar que agora cesse a embromação.
Uma atitude bastante mais condizente com o bom senso, a lógica e o respeito ao discernimento alheio que a decisão anterior de tentar manter distância do caso mediante um artifício sem pé nem cabeça.
Pode ser até que o restante do País não dê a devida atenção às sessões do STF, mas na capital da República não se fala de outra coisa nas rodas de alguma forma relacionadas ao poder.
De onde a simulada indiferença já se transformara em piada de todos os salões.
Em boa hora se impôs o recuo, de resto inevitável. Basicamente por dois motivos. Um, a óbvia impossibilidade de estabelecer artificialmente uma dissociação, vez que o próprio advogado de José Dirceu levou Lula e Dilma para o centro do tribunal ao citá-los como testemunhas de defesa da conduta proba de Dirceu quando na Casa Civil.
Outra razão, a inverossimilhança da história. O caso envolve o PT, o partido do governo que nas eleições municipais estará na televisão defendendo seus candidatos.
Acrescente-se à revisão de cálculo político feita pelo Planalto ainda o fator efeito condenação ou absolvição. Na hora de anunciado o resultado, o governo inevitavelmente precisará dizer alguma coisa, precisa estar livre para tal.
Se a conclusão for desfavorável aos réus, poderá comentar com a autoridade de quem não se escondeu do tema. Se continuasse no terreno da negação, aos olhos do público pareceria derrotado, situação desconfortável diante de decisão da Corte Suprema institucionalmente indiscutível.
A opção por posição mais madura dá ao governo uma aparência de neutralidade e lhe abre até a possibilidade de comemorar. Discretamente, renovando votos de confiança na Justiça e feliz da vida por ter mais uma vez dado a volta por cima.
Longa estadia. Impressão de um dos "grandes" da banca advocatícia mais famosa do Brasil: Carlos Cachoeira não sai da cadeia tão cedo porque será logo julgado no processo que responde em Goiás, condenado e, com isso, emendará a preventiva com prisão permanente.
Dossiê. Consenso entre advogados: Cachoeira não sabia da abordagem da mulher dele ao juiz, pois teria levado em conta a hipótese de a tentativa não dar certo e a situação piorar. Como de fato ocorreu.
Circuito. Brasília está ficando uma cidade muito perigosa. Em qualquer parte que se vá há o risco de encontros indesejados, tal quantidade de personagens de escândalos em circulação.
Na segunda-feira em que advogados do mensalão e Demóstenes Torres irmanavam-se em cantorias na noite, um deputado frequentador diário do restaurante em questão foi avisado das presenças a tempo de desviar-se da rota e marcar prudente ausência. Como ele, outros estão preferindo roteiros alternativos aos conhecidos redutos de políticos.
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
09 agosto de 2012
Dois ministros, Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, e José Eduardo Cardozo, da Justiça, manifestaram-se depois de dias de ineficaz imposição de toque de silêncio forçado. Ambos disseram que qualquer que seja o resultado não haverá desgaste para a presidente Dilma Rousseff nem prejuízo eleitoral para o PT.
Note-se, não são quaisquer ministros, mas dois auxiliares muito próximos do cotidiano da presidente, sendo um deles, Gilberto Carvalho, ligadíssimo ao ex-presidente Lula. Um indicativo de que a mudança possa ter a concordância dele.
Não se imagina que Lula vá passar a tratar do assunto em público com desenvoltura, mas ao menos é de se esperar que agora cesse a embromação.
Uma atitude bastante mais condizente com o bom senso, a lógica e o respeito ao discernimento alheio que a decisão anterior de tentar manter distância do caso mediante um artifício sem pé nem cabeça.
Pode ser até que o restante do País não dê a devida atenção às sessões do STF, mas na capital da República não se fala de outra coisa nas rodas de alguma forma relacionadas ao poder.
De onde a simulada indiferença já se transformara em piada de todos os salões.
Em boa hora se impôs o recuo, de resto inevitável. Basicamente por dois motivos. Um, a óbvia impossibilidade de estabelecer artificialmente uma dissociação, vez que o próprio advogado de José Dirceu levou Lula e Dilma para o centro do tribunal ao citá-los como testemunhas de defesa da conduta proba de Dirceu quando na Casa Civil.
Outra razão, a inverossimilhança da história. O caso envolve o PT, o partido do governo que nas eleições municipais estará na televisão defendendo seus candidatos.
Acrescente-se à revisão de cálculo político feita pelo Planalto ainda o fator efeito condenação ou absolvição. Na hora de anunciado o resultado, o governo inevitavelmente precisará dizer alguma coisa, precisa estar livre para tal.
Se a conclusão for desfavorável aos réus, poderá comentar com a autoridade de quem não se escondeu do tema. Se continuasse no terreno da negação, aos olhos do público pareceria derrotado, situação desconfortável diante de decisão da Corte Suprema institucionalmente indiscutível.
A opção por posição mais madura dá ao governo uma aparência de neutralidade e lhe abre até a possibilidade de comemorar. Discretamente, renovando votos de confiança na Justiça e feliz da vida por ter mais uma vez dado a volta por cima.
Longa estadia. Impressão de um dos "grandes" da banca advocatícia mais famosa do Brasil: Carlos Cachoeira não sai da cadeia tão cedo porque será logo julgado no processo que responde em Goiás, condenado e, com isso, emendará a preventiva com prisão permanente.
Dossiê. Consenso entre advogados: Cachoeira não sabia da abordagem da mulher dele ao juiz, pois teria levado em conta a hipótese de a tentativa não dar certo e a situação piorar. Como de fato ocorreu.
Circuito. Brasília está ficando uma cidade muito perigosa. Em qualquer parte que se vá há o risco de encontros indesejados, tal quantidade de personagens de escândalos em circulação.
Na segunda-feira em que advogados do mensalão e Demóstenes Torres irmanavam-se em cantorias na noite, um deputado frequentador diário do restaurante em questão foi avisado das presenças a tempo de desviar-se da rota e marcar prudente ausência. Como ele, outros estão preferindo roteiros alternativos aos conhecidos redutos de políticos.
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo
09 agosto de 2012
OS CORDEIROS DE DEUS E DO BRASIL, JÁ QUE DEUS É BRASILEIRO
Obrigado, José Dirceu! Obrigado, José Genoino! Obrigado, Delúbio Soares! Obrigado, Marcos Valério! Obrigado, Kátia Rabello! Obrigado, Henrique Pizzolato!
Por Reinaldo Azevedo
Como tem observado o professor Marco Antônio Villa, nos debates que temos feito na VEJA.com (ver vídeo abaixo), o julgamento do mensalão, dada a sua forma, embute desequilíbrios óbvios. O procurador-geral da República falou por cinco horas. Mas vai apanhar por pelo menos 36!!! Poderiam ser 38 — ele pediu a absolvição de dois. Nunca antes na história destepaiz um procurador foi tão errado, não é mesmo? Nota: cada acusado não ocupou mais de cinco ou seis minutos de sua exposição.
Como cada advogado procura dar o seu melhor — até porque se tem ali uma grande vitrine —, os doutores se esmeram, e é seu trabalho, em provar a inocência dos seus clientes. Sabem como é… Num país como o Brasil, não falta mercado para advogados criminalistas. Mas as causas que realmente valem a pena, aquelas que fizeram a fama e a fortuna de Márcio Thomaz Bastos, não são tantas assim. Aí a gente vê, então, alguns exageros retóricos.
Por isso, fica-se com a sensação de que o processo do mensalão se resume a uma grande conspiração contra uma legião de heróis e mártires.
Como observou Augusto Nunes no nosso programa, mais um pouco, e nós ainda cairemos de joelhos aos pés dos acusados, pedindo-lhes desculpas em nome do Ministério Público, da imprensa e de outros malvados que houveram por bem considerar que havia algo de errado naquela lambança toda. Engano! Não havia!
Não só as pessoas cumpriam todas as leis como, em alguns casos, estavam acima da raia miúda, das pessoas comuns. Alguns réus, como José Dirceu, José Genoino e Katia Rabello, estão, assim, numa espécie de promontório da humanidade e só estariam sendo julgadas por conta de sua excepcionais qualidades humanas.
Não é, dizem seus defensores, que não tenham cometido crimes; não só não cometeram como pensaram e pensam, o tempo todo, no nosso bem.
É isto: o que se vê ali é um desfile de cordeiros de Deus que tiram os pecados do mundo. O julgamento mais famoso da humanidade tinha apenas um réu e um único inocente. E se cometeu uma só injustiça — embora estivesse prevista já na mente divinal.
O julgamento de agora traz pelo menos 36 réus, 36 inocentes, e seus advogados, evocando — ainda que sem tocar na palavra — a injustiça original, gravada na nossa cultura. Alertam em tom quase apocalíptico: “Não mandem este Cristo redivivo para a cruz, senhores ministros!”
Lembrar-me-ei de acrescentá-los em minhas orações, não pelos votos que renovo todos os dias na humanidade e na razão, mas pelo bem que fizeram aos homens, aos brasileiros em particular.
Obrigado, José Dirceu!
Obrigado, José Genoino!
Obrigado, Delúbio Soares!
Obrigado, Marcos Valério!
Obrigado, Kátia Rabello!
Obrigado, Henrique Pizzolato!
Obrigado, José Genoino!
Obrigado, Delúbio Soares!
Obrigado, Marcos Valério!
Obrigado, Kátia Rabello!
Obrigado, Henrique Pizzolato!
O que seria de nós, pecadores, sem vocês?! Suponho, no entanto, que, do Cristo original, vocês só queiram a nossa devoção, mas não o mesmo destino, não é mesmo?
09 de agosto de 2012
O NEURÔNIO SOLITÁRIO, O MISTERIOSO PADEIRO DE NOVA FRIBURGO E O TELEFONE À PROVA DE CHUVA
Leiam o texto divulgado nesta quarta-feira pelo Blog do Planalto. O terceiro parágrafo merece replay. Volto em seguida.
A presidenta Dilma Rousseff elogiou, durante lançamento do Plano Nacional de Gestão de Risco e Resposta a Desastres Naturais, a central móvel de comunicação para áreas de desastre. Dilma ouviu explicações sobre a central, que permite tirar fotografias, analisar as condições do solo e conectar 14 computadores, além de contar com banda larga e dispositivos para transmissão de dados e voz por satélite, o que permite o uso em todo o território nacional. A central possui bateria de quatro horas mais alimentação por gerador.
Segundo Dilma, a central vai acabar com os problemas de comunicação em áreas de desastre. Durante a cerimônia, Dilma relatou que no início do ano passado, após o desastre climático na região serrana do Rio, só conseguia se comunicar com o vice-governador do estado, Luiz Fernando Pezão, por meio de um telefone de padaria, o único que funcionava na área atingida pelas enchentes.
“Ao entrar, eu fui alertada que a informação no combate ao desastre é estratégica, e a informação implica em sistemas de telecomunicação e em sistemas que também usam computadores e internet. Eu não preciso mais – e não quero mais – falar com o Pezão pelo telefone da padaria, que era o único telefone que funcionava lá na Região Serrana, e na madrugada de vários dias o Pezão só conseguia se comunicar com a gente pelo telefone da padaria. Para evitar a padaria, nós vamos ter de ter estruturas de comunicação móveis”, disse.
Ou para livrar-se de pitos ou porque simplesmente não entendem dilmês, os redatores do Blog do Planalto não ousam mexer nas discurseiras da presidente. Devolvem aos verbos no infinitivo os erres guilhotinados, eliminam as pausas que denunciam a solidão de um neurônio na selva das palavras e cortam expressões repetidas, mas nem tentam melhorar o que ouviram no gravador. Além desta coluna, só o Blog do Planalto exibe sem retoques o que vai pela cabeça de Dilma Rousseff.
O parágrafo final informa, por exemplo, que nada do que a presidente viu na Região Serrana em janeiro de 2011 pareceu-lhe mais impressionante que o caso do telefone da padaria. O fiasco do programa de prevenção de enchentes, as tapeações de palanque que prometeram obras jamais executadas, as centenas de mortos, os milhares de flagelados ─ essas coisas todas, um ano e meio depois da tragédia, foram varridas da memória indigente.
O que deixou indignada a presidente foi ter de falar com o Pezão ─ Luiz Antonio Pezão, o vice que assume o governo uma vez por semana porque Sérgio Cabral está em Paris ─ entre uma salsicha no vinagre e a coxinha que matou o guarda. Achou isso especialmente incômodo sobretudo “na madrugada de vários dias” em que o pressuroso Pezão ligava para saber como andavam as coisas por lá.
É aí que a coisa emperra. Dilma visitou a Região Serrana em 13 de janeiro, dois dias depois das inundações devastadoras. Sobrevoou a área conflagrada a bordo de um helicóptero, caminhou menos de 300 metros por uma rua de Nova Friburgo (sem fazer escala em nenhuma padaria) e voltou para o Rio. Sempre escoltada por sete ministros e pelo governador Sérgio Cabral, que acabara de chegar de Paris, prometeu construir milhares de casas que continuam em algum contrato com a Delta. E foi descansar em Brasília.
A história da padaria parece tão consistente quanto as casas que nunca desceram do palanque. Quer dizer que todos os integrantes da comitiva esqueceram o celular em casa? Ou nenhum funcionou? Se estava junto com o governador, por que resolveu conversar com o vice Pezão? Se não passou a madrugada em Nova Friburgo, é improvável que Pezão tenha decidido localizar a presidente numa padaria da cidade. Se fez isso, o proprietário decerto deduziu que algum bêbado insone e com mania de grandeza resolvera importuná-lo por telefone.
Pena que a história seja tão verdadeira quanto os falatórios dos bacharéis do mensalão. Caso existisse, o padeiro de Nova Friburgo mereceria uma ovação de balançar o antigo Maracanã. Não por ser o dono do único telefone à prova de chuva da Região Serrana, mas porque acabou de livrar-se de Dilma Rousseff. Eis aí uma notícia que deixaria eufórico o mais depressivo dos brasileiros.
09 de agosto de 2012
Augusto Nunes
PORQUINHO AMNÉSICO
“O governo não será atingido em hipótese nenhuma”.
José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça e um dos Três Porquinhos de Dilma Rousseff, ao comentar os possíveis efeitos do julgamento do mensalão sobre a imagem do PT, quatro anos e meio depois de fazer a seguinte declaração à revista VEJA:“Vou ser claro: teve pagamento ilegal de recursos para políticos aliados? Teve. Ponto final. É ilegal? É. É indiscutível? É. Nós não podemos esconder esse fato da sociedade e temos de punir quem praticou esses atos.”
09 de agosto de 2012
Augusto Nunes
EPIDEMIA DE AMOR PELAS CRIANÇAS
1) É habitual que, na infância
e na adolescência, um jovem sonhe com vitórias e aplausos, sem pensar nos
esforços necessários para merecê-los.
Nestes dias, deparo-me com
crianças ninadas por devaneios de glória olímpica. Sem querer, corto seu barato,
explicando o que é indispensável fazer para que esses sonhos se transformem numa
chance real de chegar lá.
As crianças respondem que elas
não têm a intenção de realizar o tal sonho: apenas querem o prazer de devanear
em paz. Até aqui, tudo bem, mas os pais me acusam de estragar, além dos sonhos,
o futuro dos filhos, os quais, segundo eles, para triunfar na vida, precisariam
confiar cegamente em seus dotes.
O problema é que os elogios
incondicionais dos pais e dos adultos não produzem "autoconfiança", mas
dependência: os filhos se tornam cronicamente dependentes da aprovação dos pais
e, mais tarde, dos outros. "Treinados" dessa forma, eles passam a vida se
esforçando, não para alcançar o que desejam, mas para ganhar um
aplauso.
Claro, muitos pais gostam que
assim seja, pois adoram se sentir indispensáveis (no cinema, uma mãe enfia a
cara assento para atender o telefone que vibrou no meio
do filme e sussurrar um importantísembaixo de seu próprio simo: sim, pode tomar
refrigerante).
2) Meu irmão, aos dez anos,
quis que todos escutássemos uma música que ele acabava de "compor". Movimentando
ao acaso os dedos sobre o teclado (não tínhamos a menor educação musical), ele
cantou uma letra que começava assim: sou bonito e eu o sei.
Minha mãe escutou,
constrangida, e, no fim, declarou que a letra era uma besteira, e a música,
inexistente. Mas, se meu irmão quisesse, ele poderia estudar piano --à condição
que se engajasse a se exercitar uma hora por dia. Meu irmão (desafinado como eu)
desistiu disso e se tornou um médico excelente.
3) Os pais dos meus pais
davam, no máximo, um beijo na testa de seus filhos. Já meus pais nos beijavam e
abraçavam. Mesmo assim, não éramos o centro da vida deles, enquanto nossos
filhos são facilmente o centro da nossa.
Para a geração de meus avós e
de meus pais, a vida dos adultos não devia ser decidida em função do interesse
das crianças, até porque o principal interesse das crianças era sua
transformação em adulto (criança tem um defeito, foi-me dito uma vez por um tio:
o de ser ainda só uma criança).
Lá pelos meus oito anos, eu
tinha passado o domingo com meus pais, visitando parentes. A noite chegou, e eu
não tinha nem começado meu dever de casa.
Pedi uma nota assinada que me
desculpasse. Meu pai disse: esta criança está com sono e deve trabalhar, façam
um café para ele. Detestei, mas também gostei de aprender que, mesmo na
infância, há coisas mais importantes do que sono e bem-estar.
4) Na pré-estreia do último
"Batman", em Aurora, Colorado, um atirador feriu 58 pessoas e matou 12. Um
comentador da TV norte-americana (não sei mais qual canal) disse, de uma menina
assassinada, que ela era "uma vítima inocente".
Se só a menina era inocente,
quer dizer que os outros 11, por serem adultos, eram culpados e mereciam os
tiros?
Tudo bem, estou sendo de
má-fé: o comentador queria nos enternecer e supunha, com razão, que, para a
gente, perder um adulto fosse menos grave do que perder uma criança, que tem sua
vida pela frente e, como se diz, ainda é "um anjo".
No entanto, eu não acredito
em anjos e ainda menos acredito que crianças sejam anjos. Também não sei o que é
mais grave perder: a esperança de um futuro ou o patrimônio das experiências
acumuladas de uma vida? Você trocaria seus bens atuais por um bilhete da
Mega-Sena de sábado que vem?
5) Cuidado, não sonho com uma
impossível volta ao passado. Essas notas servem para propor uma mudança
preliminar na maneira de contabilizar as falhas que podem atrapalhar a vida de
nossos rebentos. Explico.
A partir do fim do século 18,
no Ocidente, as crianças adquiriram um valor novo e especial. Únicas
continuadoras de nossas vidas, elas foram encarregadas de compensar nossos
fracassos por seu sucesso e sua felicidade.
Desde essa época, em que as
crianças começaram a ser amadas e cuidadas extraordinariamente, nós nos
preocupamos com os efeitos nelas de uma eventual falta de amor. Agora, começo a
pensar que nossa preocupação com os estragos produzidos pela falta de amor
sirva, sobretudo, para evitar de encarar os estragos produzidos pelos excessos
de nosso amor pelas crianças.
09 de agosto de 2012
Contardo Calligaris, Folha de SP
DEMOCRACIA
A parte esclarecida do Brasil acompanha detalhadamente a ação de julgamento pelo STF do já famoso caso mensalão. Só para lembra, vale resumir o que de fato aconteceu.
Tudo começou com desvio de dinheiro para fins políticos por iniciativa de um banqueiro a serviço de um candidato mineiro que pretendia garantir a eleição.
Foi descoberta a falcatrua e ele foi derrotado. O político se retraiu, mas o banqueiro continuou sua atividade.
Daí surgiu o escândalo envolvendo muita gente de nome e, por um deles denominado de mensalão, ou seja, valores pagos regularmente a deputados em troca de apoio ao presidente.
Tudo poderia ser encoberto não fosse a “maldita” imprensa livre que reviveu depois de finda a ditadura militar. Um dos envolvidos decidiu-se pela já famosa “delação premiada” como dizia personagem do Chico Anísio: “Sou, mas quem não é?”. Ele criou o termo mensalão e, numa das revelações usou a frase: “Zé, deixe o governo ou vai complicar o presidente”.
Este, na maior calma em uma entrevista na França, durante uma de suas centenas de viagens, disse que não sabia de nada e que na realidade o que foi feito não passava de um costume antigo na política brasileira, também conhecido como caixa 2. Depois, ao ficar sabendo da realidade chegou a pedir desculpas, mas o sistema continuou.
A mídia livre continuou seu importante papel e logo tudo foi descoberto. Entre 2004 e 2006 as coisas complicavam para o presidente, seu partido e aliados.
Ele chegou a temer por uma possível derrota na reeleição. Foi salvo pela ação dos “aloprados”. Instalou-se uma investigação e por determinação delem dois deputados denunciados foram cassados, um deles exercia o cargo de Ministro da Casa Civil, o mais poderoso dos ministérios e que pretendia substituir o “chefe” em 2011.
Processo instalado, investigações, denúncias, milhares de provas (mais de 50 mil páginas) para somente sete anos depois chegar ao julgamento pelo Supremo.
Por tudo o que tem sido dito pelos defensores, tudo não passou de um “boato”, de falsas denúncias devido ao controle da mídia pelas “zelites”.
Dois fatos contribuíram para isso: Primeiro a ausência total de oposição (de certa forma comprometida, já que o citado candidato mineiro era do mesmo partido). Acreditava ela que Lula cairia sozinho.
Segundo que quando assumiu a presidência ele deveria ter seguido os passos de seu super e adorado líder Hugo Chávez controlando tudo e acabando com a democracia de uma vez, impedindo qualquer oportunidade de perder o poder.
O que nos resta de esperança é que o tal julgamento, com resultados justos, contribua para uma verdadeira evolução democrática e que seja um marco na história do Brasil no sentido de um aperfeiçoamento na prática da atual política que tanto necessita de uma reforma total e efetiva.
Vamos confiar nos onze ministros e esperar que mesmo aqueles tão “ligados” ao presidente que os indicou, usem o bom senso e apliquem rigorosamente as Leis.
Plínio Zabeu
09 de agosto de 2012
Tudo começou com desvio de dinheiro para fins políticos por iniciativa de um banqueiro a serviço de um candidato mineiro que pretendia garantir a eleição.
Foi descoberta a falcatrua e ele foi derrotado. O político se retraiu, mas o banqueiro continuou sua atividade.
Daí surgiu o escândalo envolvendo muita gente de nome e, por um deles denominado de mensalão, ou seja, valores pagos regularmente a deputados em troca de apoio ao presidente.
Tudo poderia ser encoberto não fosse a “maldita” imprensa livre que reviveu depois de finda a ditadura militar. Um dos envolvidos decidiu-se pela já famosa “delação premiada” como dizia personagem do Chico Anísio: “Sou, mas quem não é?”. Ele criou o termo mensalão e, numa das revelações usou a frase: “Zé, deixe o governo ou vai complicar o presidente”.
Este, na maior calma em uma entrevista na França, durante uma de suas centenas de viagens, disse que não sabia de nada e que na realidade o que foi feito não passava de um costume antigo na política brasileira, também conhecido como caixa 2. Depois, ao ficar sabendo da realidade chegou a pedir desculpas, mas o sistema continuou.
A mídia livre continuou seu importante papel e logo tudo foi descoberto. Entre 2004 e 2006 as coisas complicavam para o presidente, seu partido e aliados.
Processo instalado, investigações, denúncias, milhares de provas (mais de 50 mil páginas) para somente sete anos depois chegar ao julgamento pelo Supremo.
Por tudo o que tem sido dito pelos defensores, tudo não passou de um “boato”, de falsas denúncias devido ao controle da mídia pelas “zelites”.
Dois fatos contribuíram para isso: Primeiro a ausência total de oposição (de certa forma comprometida, já que o citado candidato mineiro era do mesmo partido). Acreditava ela que Lula cairia sozinho.
Segundo que quando assumiu a presidência ele deveria ter seguido os passos de seu super e adorado líder Hugo Chávez controlando tudo e acabando com a democracia de uma vez, impedindo qualquer oportunidade de perder o poder.
O que nos resta de esperança é que o tal julgamento, com resultados justos, contribua para uma verdadeira evolução democrática e que seja um marco na história do Brasil no sentido de um aperfeiçoamento na prática da atual política que tanto necessita de uma reforma total e efetiva.
Vamos confiar nos onze ministros e esperar que mesmo aqueles tão “ligados” ao presidente que os indicou, usem o bom senso e apliquem rigorosamente as Leis.
Plínio Zabeu
09 de agosto de 2012
NOVA CONSTITUIÇÃO
Lendo o texto do Walter, Aparelhamento do Estado.e o comentário do Marreta® no artigo, Penas ao vento, do Ralph, ambos de 8/8, percebo que tem todo o sentido.
Uma Nova Constituição, enxuta, 20 artigos muito curtos, que todos os cidadãos teriam na memória, sem filigranas jurídicas, linguagem popular, votada por cidadãos que não tenham sido políticos na vida, em nenhum momento, funcionando a Constituinte paralelamente, prazo de um ano, sem fechar o Congresso.
Vai aqui sugestões deste modesto escrivinhador para os seguintes artigos draconianos:
Art. 1º – Todas as cláusulas desta Constituição serão pétreas, e não podem ser modificadas.
Art. 2º – O Brasil é uma república federativa, representada por um presidente, um vice e 18 ministérios. O Congresso Nacional composto por um Senado de 27 senadores e uma Câmara de 81 deputados, sem direitos a mordomias, e obrigados a morar na sede da república.
Não poderão exercer outra atividade, a não ser de magistério. A União e Estados ficam proibidos de criar estatais.
O STF será composto de 11 membros, escolhidos por merecimento ou antiguidade apenas entre juízes de carreira. O nepotismo de qualquer espécie acarretará a perda do cargo, de quem nomeou e de quem recebeu.
Art. 3º - Fica vetada a criação de novos Estados na União e Distritos nos municípios. Cidadão eleito para cargo representativo não poderá, em nenhuma hipótese, ser nomeado para cargos executivos. As Assembléias Legislativas não poderão ter mais de 2/3 da Câmara Federal e mordomias. A representação nas Câmaras Municipais será cargo sem remuneração e mordomias, com um representante por distrito e receberá um jeton de meio salário mínimo por sessão a que comparecer.
O limite para partidos políticos é de 6, e a infidelidade partidária será punida com a pena de perda de mandato. O orçamento público será impositivo, e não autorizativo. Não haverá funcionalismo público, salvo nas carreiras de juízes e policiais. Aposentadoria apenas com tempo de contribuição, por doença ou morte. O executivo não poderá lançar mão no montepio da previdência.
Art. 4º – Os políticos de qualquer legislativo que aprovarem leis que venham em seu próprio benefício terão sua lingua cortada e ele e sua família até o 5º grau terão seus bens expropriados.
Art. 5º – Todo membro de qualquer dos poderes que se apropriar de dinheiro público terá suas mãos cortadas, mesma pena aplicada a ladrões e furtadores comuns.
Art. 6º – Todo cidadão comum ou incomum que tirar uma vida, por qualquer crime, será condenado à morte por enforcamento em praça pública, com televisamento obrigatório.
Art. 7º – Toda condenação a pena de cadeia será obrigatóriamente cumprida na totalidade. Não haverá indulto nem liberdade em ocasiões festivas. O trabalho do detento é obrigatório, cabendo do rendimento do trabalho parte para a indenização às vítimas ou familiares, ou expropriação de bens para essa finalidade.
Art. 8º – O Estado somente poderá retirar do cidadão o montante de 10% dos rendimentos. E todos os que ganham acima do piso de isenção pagarão. Qualquer que sonegue será recolhido imediatamente à prisão e só poderá defender-se preso. O Estado é laico, e não haverá isenções religiosas de nenhuma espécie. As mídias não dependerão de concessão pública, por ser atividade de risco.
E assim por diante. Todo o resto seria legislação infraconstitucional para organizar os preceitos constitucionais. Será que assim haveria uma pequena probabilidade deste país ter conserto?
Tão achando muito duro, é?
09 de agosto de 2012
Magu
Uma Nova Constituição, enxuta, 20 artigos muito curtos, que todos os cidadãos teriam na memória, sem filigranas jurídicas, linguagem popular, votada por cidadãos que não tenham sido políticos na vida, em nenhum momento, funcionando a Constituinte paralelamente, prazo de um ano, sem fechar o Congresso.
Vai aqui sugestões deste modesto escrivinhador para os seguintes artigos draconianos:
Art. 1º – Todas as cláusulas desta Constituição serão pétreas, e não podem ser modificadas.
Art. 2º – O Brasil é uma república federativa, representada por um presidente, um vice e 18 ministérios. O Congresso Nacional composto por um Senado de 27 senadores e uma Câmara de 81 deputados, sem direitos a mordomias, e obrigados a morar na sede da república.
Não poderão exercer outra atividade, a não ser de magistério. A União e Estados ficam proibidos de criar estatais.
O STF será composto de 11 membros, escolhidos por merecimento ou antiguidade apenas entre juízes de carreira. O nepotismo de qualquer espécie acarretará a perda do cargo, de quem nomeou e de quem recebeu.
Art. 3º - Fica vetada a criação de novos Estados na União e Distritos nos municípios. Cidadão eleito para cargo representativo não poderá, em nenhuma hipótese, ser nomeado para cargos executivos. As Assembléias Legislativas não poderão ter mais de 2/3 da Câmara Federal e mordomias. A representação nas Câmaras Municipais será cargo sem remuneração e mordomias, com um representante por distrito e receberá um jeton de meio salário mínimo por sessão a que comparecer.
O limite para partidos políticos é de 6, e a infidelidade partidária será punida com a pena de perda de mandato. O orçamento público será impositivo, e não autorizativo. Não haverá funcionalismo público, salvo nas carreiras de juízes e policiais. Aposentadoria apenas com tempo de contribuição, por doença ou morte. O executivo não poderá lançar mão no montepio da previdência.
Art. 5º – Todo membro de qualquer dos poderes que se apropriar de dinheiro público terá suas mãos cortadas, mesma pena aplicada a ladrões e furtadores comuns.
Art. 6º – Todo cidadão comum ou incomum que tirar uma vida, por qualquer crime, será condenado à morte por enforcamento em praça pública, com televisamento obrigatório.
Art. 7º – Toda condenação a pena de cadeia será obrigatóriamente cumprida na totalidade. Não haverá indulto nem liberdade em ocasiões festivas. O trabalho do detento é obrigatório, cabendo do rendimento do trabalho parte para a indenização às vítimas ou familiares, ou expropriação de bens para essa finalidade.
Art. 8º – O Estado somente poderá retirar do cidadão o montante de 10% dos rendimentos. E todos os que ganham acima do piso de isenção pagarão. Qualquer que sonegue será recolhido imediatamente à prisão e só poderá defender-se preso. O Estado é laico, e não haverá isenções religiosas de nenhuma espécie. As mídias não dependerão de concessão pública, por ser atividade de risco.
E assim por diante. Todo o resto seria legislação infraconstitucional para organizar os preceitos constitucionais. Será que assim haveria uma pequena probabilidade deste país ter conserto?
Tão achando muito duro, é?
09 de agosto de 2012
Magu
Uma Resposta para NOVA CONSTITUIÇÃO
Anhangüera® disse:
Só tá faltando a obrigatoriedade de fiscalização permanente da evolução patrimonial dos políticos e agentes públicos E DE SUAS FAMÍLIAS, por parte da RECEITA FEDERAL.
JADER BARBALHO, O LADRÃO IMPUNE
O jornalista Reinaldo Azevedo, no dia 5/8, falando sobre o julgamento do “mensalão”, afirma com rara proficiência:
“Não tenho especial prazer em ser chulo — aliás, prazer nenhum, muito pelo contrário! —, mas também não temo as palavras. Ao Supremo Tribunal Federal caberá, sim, dizer se cadeia, no Brasil, continua a ser um “privilégio” que só atende aos três ‘pês’: pobre, preto e puta. Eu convido os ministros do Supremo, então, a democratizar a língua do ‘pê’ e a dizer se “político” e ‘petista’ também podem gozar desse benefício, o que significará acrescentar um outro ‘pê’, este sim fundamental: ‘poderoso’.
Então ficamos assim: os ministros do Supremo dirão se o país que prende, com especial desenvoltura, ‘pobre, preto e puta’ também tem a coragem de prender ‘político, petista e poderoso’. Tem ou não? É o que veremos”.
Este princípio de Reinaldo deveria se estender a outros homens públicos igualmente corrupto. Estou me referindo especificamente ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA), mesmo não sendo filiado ao PT, tem uma ligação xifópaga com esse partido, como podemos observar na foto.
Jader Barbalho renunciou ao cargo de senador em 2002, para não ser cassado, pois foi denunciado por desvio de varbas públicas na Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), no Banco do Estado do Pará – Banpará e no Instiuto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INCRA.
Mesmo ficando preso alguns dias, continuou impune, tanto que tornou a ser eleito deputado federal em 2002 e 2006 e senador em 2010. Em 2010, ele foi considerado inelegível, como ficha suja, mas conseguiu reverter a decisão no so Supremo Tribunal Federal STF.
Sua situação atual deveria causar vergonha ao poder Judicial. Dos 54 senadores eleitos em outubro de 2010, Jader Barbalho (PMDB-PA) foi o último a tomar posse no Senado. Barrado inicialmente pela Lei da Ficha Limpa, só foi empossado em 28 de dezembro de 2011, nove meses após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que a lei não valeu para as eleições passadas.
Tal como em seus últimos dois mandatos na Câmara, Jader não fez um único pronunciamento em plenário nem apresentou qualquer projeto de lei desde que voltou ao Senado, em 28 de dezembro – dez anos após ter renunciado para escapar de processo de cassação.
Compareceu a pouco mais da metade das sessões destinadas a votação, não registrou presença nas comissões nem relatou qualquer proposição. Tamanha vagabundagem, porém, não sai de graça.
Apenas nos sete primeiros meses do ano, o peemedebista gastou R$ 107,8 mil com a divulgação de sua atuação parlamentar. Entre janeiro e julho, Jader destinou R$ 15,4 mil para a empresa que cuida de sua comunicação na internet, sediada em São Bernardo do Campo (SP).
Uma conta que foi paga pelo Senado, que o ressarciu integralmente, a exemplo do que é feito com todas as despesas dos senadores atribuídas ao exercício do mandato.
O ex-presidente do Senado foi o segundo senador que mais gastou com a divulgação de sua atividade parlamentar no primeiro semestre legislativo. Ficou atrás apenas de Ângela Portela (PT-RR), que despendeu cerca de R$ 110 mil para propagandear sua atuação.
Somados os gastos com passagens aéreas, Jader teve mais de R$ 160 mil em despesas ressarcidas pela Casa desde o início do ano.
O senador, que reclamou em sua posse ter perdido um ano de mandato por causa da indefinição da Justiça sobre a Lei da Ficha Limpa, deixou de comparecer a 40% dos 62 dias que o plenário do Senado reservou para sessões deliberativas, entre janeiro e julho.
Das 25 ausências acumuladas por ele, três foram justificadas por motivo de saúde – no início do ano, Jader foi submetido a uma cirurgia na próstata; 14 foram atribuídas a compromissos relacionados à atividade parlamentar. Oito faltas ainda não apareciam justificadas nos registros da Secretaria Geral da Mesa até a semana passada.
Jader continua poderoso, com cargos nos governos federal e estadual. E dizer que ele responde ao maior número de ações no Supremo, é réu em cinco processo.
Com Jader impune, o Brasil jamais terá futuro, pois continuará tendo seu passado e seu presente, maculado indelevelmente pelo peculato.
09 de agosto de 2012
Giulio Sanmartine
Foto: Lula pede benção a Jader Barbalho.
(*) Texto de apoio: Edson Sardinha e Fábio Góis
“Não tenho especial prazer em ser chulo — aliás, prazer nenhum, muito pelo contrário! —, mas também não temo as palavras. Ao Supremo Tribunal Federal caberá, sim, dizer se cadeia, no Brasil, continua a ser um “privilégio” que só atende aos três ‘pês’: pobre, preto e puta. Eu convido os ministros do Supremo, então, a democratizar a língua do ‘pê’ e a dizer se “político” e ‘petista’ também podem gozar desse benefício, o que significará acrescentar um outro ‘pê’, este sim fundamental: ‘poderoso’.
Então ficamos assim: os ministros do Supremo dirão se o país que prende, com especial desenvoltura, ‘pobre, preto e puta’ também tem a coragem de prender ‘político, petista e poderoso’. Tem ou não? É o que veremos”.
Este princípio de Reinaldo deveria se estender a outros homens públicos igualmente corrupto. Estou me referindo especificamente ao senador Jader Barbalho (PMDB-PA), mesmo não sendo filiado ao PT, tem uma ligação xifópaga com esse partido, como podemos observar na foto.
Jader Barbalho renunciou ao cargo de senador em 2002, para não ser cassado, pois foi denunciado por desvio de varbas públicas na Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), no Banco do Estado do Pará – Banpará e no Instiuto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INCRA.
Sua situação atual deveria causar vergonha ao poder Judicial. Dos 54 senadores eleitos em outubro de 2010, Jader Barbalho (PMDB-PA) foi o último a tomar posse no Senado. Barrado inicialmente pela Lei da Ficha Limpa, só foi empossado em 28 de dezembro de 2011, nove meses após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que a lei não valeu para as eleições passadas.
Tal como em seus últimos dois mandatos na Câmara, Jader não fez um único pronunciamento em plenário nem apresentou qualquer projeto de lei desde que voltou ao Senado, em 28 de dezembro – dez anos após ter renunciado para escapar de processo de cassação.
Compareceu a pouco mais da metade das sessões destinadas a votação, não registrou presença nas comissões nem relatou qualquer proposição. Tamanha vagabundagem, porém, não sai de graça.
Apenas nos sete primeiros meses do ano, o peemedebista gastou R$ 107,8 mil com a divulgação de sua atuação parlamentar. Entre janeiro e julho, Jader destinou R$ 15,4 mil para a empresa que cuida de sua comunicação na internet, sediada em São Bernardo do Campo (SP).
Uma conta que foi paga pelo Senado, que o ressarciu integralmente, a exemplo do que é feito com todas as despesas dos senadores atribuídas ao exercício do mandato.
O ex-presidente do Senado foi o segundo senador que mais gastou com a divulgação de sua atividade parlamentar no primeiro semestre legislativo. Ficou atrás apenas de Ângela Portela (PT-RR), que despendeu cerca de R$ 110 mil para propagandear sua atuação.
Somados os gastos com passagens aéreas, Jader teve mais de R$ 160 mil em despesas ressarcidas pela Casa desde o início do ano.
O senador, que reclamou em sua posse ter perdido um ano de mandato por causa da indefinição da Justiça sobre a Lei da Ficha Limpa, deixou de comparecer a 40% dos 62 dias que o plenário do Senado reservou para sessões deliberativas, entre janeiro e julho.
Das 25 ausências acumuladas por ele, três foram justificadas por motivo de saúde – no início do ano, Jader foi submetido a uma cirurgia na próstata; 14 foram atribuídas a compromissos relacionados à atividade parlamentar. Oito faltas ainda não apareciam justificadas nos registros da Secretaria Geral da Mesa até a semana passada.
Jader continua poderoso, com cargos nos governos federal e estadual. E dizer que ele responde ao maior número de ações no Supremo, é réu em cinco processo.
Com Jader impune, o Brasil jamais terá futuro, pois continuará tendo seu passado e seu presente, maculado indelevelmente pelo peculato.
09 de agosto de 2012
Giulio Sanmartine
Foto: Lula pede benção a Jader Barbalho.
(*) Texto de apoio: Edson Sardinha e Fábio Góis
VACCAREZZA CRITICA CARTILHA SOBRE O MENSALÃO DO PT, MAS ESQUECE ESCÂNDALO DAS CARTILHASD DO GUSHIKEN
Tiro no pé – O escândalo do Mensalão do PT existiu, alguns petistas reconhecem o fato, como o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), mas assunto não pode ser tratado de forma verdadeira, sob pena daquele que cometer tal ousadia ser retaliado pela “companheirada”.
Depois de lançar uma didática cartilha sobre o maior escândalo de corrupção da história nacional, o Mensalão do PT, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi alçado à mira da ira petista.
Ex-líder do governo na Câmara dos Deputados e um dos ferrenhos defensores do Palácio do Planalto, o petista Cândido Vaccarezza considerou um acinte a cartilha lança por Gurgel.
Vaccarezza promete ingressar na Justiça ainda nesta quinta-feira (9) contra Roberto Gurgel, agora acusado de “carnavalização” do julgamento do mensalão.
A ação foi preparada pelo coordenador jurídico do PT de São Paulo, Marco Aurélio de Carvalho, que por certo deve concordar com o jogo sujo e rasteiro que recheia o site de Fernando Haddad, o empacado candidato do PT à prefeitura de São Paulo.
“É uma avacalhação do trabalho da Procuradoria-Geral da República. Não sei se Gurgel tem respaldo dos demais procuradores. É um engajamento político-eleitoral. Ele pode fazer na vida privada. Mas não no site da Procuradoria”, afirmou Cândido Vaccarezza, que já não se recorda da cartilha produzida, em 2006, pela Secretaria de Comunicação da Presidência da república (Secom) e que trazia as realizações (sic) do governo do messiânico Lula, enviadas ao PT para serem distribuídas em ano de eleição presidencial.
Sob o comando de Gushiken, a produção das cartilhas ficou a cargo da Duda Mendonça & Associados e da Matisse, agência de propriedade de Paulo de Tarso Santos, publicitário do PT nas campanhas de 1989 e 1994 e amigo do abusado Lula.
Entre as tantas garantias que abriga, a democracia traz o direito de o cidadão falar o que bem entender e no momento que achar mais conveniente, o que também vale ao petista Cândido Vaccarezza. O que não se pode aceitar é que os cidadãos de bem sejam proibidos de falar sobre o Mensalão do PT. Também é inaceitável o fato de o PT querer que o procurador-geral reze pela cartilha do PT.
Fora isso, citar a palavra acinte é algo que alguns políticos deveriam fazer com doses extras de cuidado, pois telhado de vidro é o que não falta na política. Algo que o Ministério Público Federal normalmente enxerga com invejável facilidade.
09 de agosto de 2012
ucho.info
Depois de lançar uma didática cartilha sobre o maior escândalo de corrupção da história nacional, o Mensalão do PT, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi alçado à mira da ira petista.
Ex-líder do governo na Câmara dos Deputados e um dos ferrenhos defensores do Palácio do Planalto, o petista Cândido Vaccarezza considerou um acinte a cartilha lança por Gurgel.
Vaccarezza promete ingressar na Justiça ainda nesta quinta-feira (9) contra Roberto Gurgel, agora acusado de “carnavalização” do julgamento do mensalão.
A ação foi preparada pelo coordenador jurídico do PT de São Paulo, Marco Aurélio de Carvalho, que por certo deve concordar com o jogo sujo e rasteiro que recheia o site de Fernando Haddad, o empacado candidato do PT à prefeitura de São Paulo.
“É uma avacalhação do trabalho da Procuradoria-Geral da República. Não sei se Gurgel tem respaldo dos demais procuradores. É um engajamento político-eleitoral. Ele pode fazer na vida privada. Mas não no site da Procuradoria”, afirmou Cândido Vaccarezza, que já não se recorda da cartilha produzida, em 2006, pela Secretaria de Comunicação da Presidência da república (Secom) e que trazia as realizações (sic) do governo do messiânico Lula, enviadas ao PT para serem distribuídas em ano de eleição presidencial.
Sob o comando de Gushiken, a produção das cartilhas ficou a cargo da Duda Mendonça & Associados e da Matisse, agência de propriedade de Paulo de Tarso Santos, publicitário do PT nas campanhas de 1989 e 1994 e amigo do abusado Lula.
Entre as tantas garantias que abriga, a democracia traz o direito de o cidadão falar o que bem entender e no momento que achar mais conveniente, o que também vale ao petista Cândido Vaccarezza. O que não se pode aceitar é que os cidadãos de bem sejam proibidos de falar sobre o Mensalão do PT. Também é inaceitável o fato de o PT querer que o procurador-geral reze pela cartilha do PT.
Fora isso, citar a palavra acinte é algo que alguns políticos deveriam fazer com doses extras de cuidado, pois telhado de vidro é o que não falta na política. Algo que o Ministério Público Federal normalmente enxerga com invejável facilidade.
09 de agosto de 2012
ucho.info
VICE DE ROSEANA SARNEY IGNORA A INCOMPETÊNCIA DA TUTORA E QUER A PREFEITURA DE SÃO LUIS
Controle remoto – Depois de se render ao coronelismo do clã Sarney, no Maranhão, o petista Washington Luiz de Oliveira passou a ignorar o óbvio. Vice-governador do estado e candidato à prefeitura da capital maranhense, Washington classificou como “verdadeiro caos” a administração do prefeito João Castelo. Que não conhece a dura realidade do Maranhão e ouve as palavras do candidato chega a acreditar que o governo de Roseana é uma usina de acertos e retidão.
Na condição de estafeta de Roseana Sarney, a quem serve vergonhosamente, Washington Luiz deveria colocar a mão na consciência e analisar a forma como o clã Sarney vem tratando o Maranhão nas últimas cinco décadas. Fora isso, o governo de Roseana Sarney se especializou nos últimos meses em dificultar ao máximo a gestão de João Castelo, caminho encontrado para o clã também tomar de assalto a prefeitura da capital.
Cidade histórica, São Luís é um verdadeiro catálogo da incompetência do governo da filha do presidente do Senado, o coronel José Sarney. Na capital dos maranhenses falta água em muitos bairros, a poluição grassa na orla ludovicense, a insegurança campeia pela cidade. Problemas cuja solução compete à atual inquilina do Palácio dos Leões, sede do Executivo estadual.
Na sexta-feira (10), pelo menos 25 bairros de São Luís ficarão sem água. Como os carros-pipa contratados a peso de outro pelo governo sempre cristalino de Roseana Sarney serão insuficientes, os moradores prejudicados serão obrigados a recorrer à velha e conhecida lata d’água, pois é preciso matar a sede, tomar banho e cozinhar, como lembra o jornalista John Cutrim em sua página eletrônica.
Sempre obediente à “patroa”, Washington Luiz, que como todo petista é herdeiro intelectual de Aladim, ousa falar em caos e não explica como não conseguiu sugerir à governadora soluções para tantos problemas. Pela coragem do povo maranhense, São Luís certamente merece alguém melhor como prefeito.
Que Roseana Sarney, incomodada com nossas críticas, não repita a besteira de encomendar matéria contra o editor do ucho.info. Até porque, diferentemente do que ocorre nos domínios da família Sarney, a nossa credibilidade foi conquistada de forma democrática e com coerência, trabalho e muita dedicação.
09 de agosto de 2012
ucho.info
IMAGEM DO DIA
FOTO HISTÓRICA DA REVISTA CRUZEIRO
Exposição Um olhar sobre O Cruzeiro – As origens do fotojornalismo no Brasil
09 de agosto de 2012
VOCÊ SABE O QUE É MENSALÃO?
O que está em pauta na votação do Supremo Tribunal Federal?
Nas ruas, a repórter testa o conhecimento da população. Veja.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=HnrtKwJJ2ng
09 de agosto de 2012
Nas ruas, a repórter testa o conhecimento da população. Veja.
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=HnrtKwJJ2ng
09 de agosto de 2012
'VÍCIO CORPORATIVISTA'
Editorial da Folha
Em junho de 2009, numa decisão que por um voto não foi unânime, o Supremo Tribunal Federal declarou que a obrigatoriedade de diploma em jornalismo para o exercício da profissão é inconstitucional, por restringir as liberdades de informação e expressão.
Não tardou para que o lobby de faculdades e sindicatos providenciasse proposta de emenda à Constituição destinada a assegurar sua reserva de mercado à custa daquelas liberdades fundamentais. Tal emenda foi aprovada ontem pelo Senado; ainda é tempo de a Câmara corrigir o grave erro.
O jornalismo não é uma ciência, mas uma técnica de apreender e relatar fatos de interesse público. Não é uma especialidade, mas uma ampla coleção delas. Como quase todo tema pode ser objeto de cobertura jornalística, seu exercício coletivo demanda a contribuição de profissionais com as mais diversas formações e experiências.
A obrigatoriedade do diploma se justifica nas profissões ─ medicina e engenharia, notoriamente ─ em que o despreparo pode ser aquilatado de modo objetivo e conduzir a danos irreparáveis. Os danos causados pelo mau jornalismo nunca são tão graves, nem tão indiscutível a sua constatação.
Em qualquer atividade profissional, quando se estabelece uma reserva de mercado em benefício de uma minoria, reduz-se a competição, rebaixam-se os padrões de qualidade e quase sempre se prejudica a maioria, ou seja, o público. O jornalismo brasileiro precisa de mais, não de menos qualificação intelectual. Um dos aspectos nocivos da obrigatoriedade é desencorajá-la.
Avessos a investir anos preciosos num curso de comunicações rara vez compensador, ficariam alijados do jornalismo profissionais com valiosa formação em história, medicina, direito, economia e tantos outros saberes que costumam formar o mosaico das melhores redações.
Além de nociva, a obrigatoriedade é anacrônica. A internet abriu as fronteiras do jornalismo para modalidades flexíveis e semiprofissionais, como o jornalismo cidadão e os blogs coletivos, cuja prática escapa a qualquer regulamentação, exceto aquela exercida por Estados policiais.
“Não há interesse público envolvido nisso”, disse o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) a respeito do lobby do diploma em jornalismo. Com efeito, a preocupação é gremial, localizada nas cúpulas sindicais e nos departamentos universitários de comunicações.
O que mais convém ao país é manter o jornalismo como profissão livre, pública e aberta, beneficiária dos talentos multifacetados do pensamento humano.
09 de agosto de 2012
Augusto Nunes
PUBLICADO NA FOLHA DE S. PAULO DESTA QUINTA-FEIRA
Em junho de 2009, numa decisão que por um voto não foi unânime, o Supremo Tribunal Federal declarou que a obrigatoriedade de diploma em jornalismo para o exercício da profissão é inconstitucional, por restringir as liberdades de informação e expressão.
Não tardou para que o lobby de faculdades e sindicatos providenciasse proposta de emenda à Constituição destinada a assegurar sua reserva de mercado à custa daquelas liberdades fundamentais. Tal emenda foi aprovada ontem pelo Senado; ainda é tempo de a Câmara corrigir o grave erro.
O jornalismo não é uma ciência, mas uma técnica de apreender e relatar fatos de interesse público. Não é uma especialidade, mas uma ampla coleção delas. Como quase todo tema pode ser objeto de cobertura jornalística, seu exercício coletivo demanda a contribuição de profissionais com as mais diversas formações e experiências.
A obrigatoriedade do diploma se justifica nas profissões ─ medicina e engenharia, notoriamente ─ em que o despreparo pode ser aquilatado de modo objetivo e conduzir a danos irreparáveis. Os danos causados pelo mau jornalismo nunca são tão graves, nem tão indiscutível a sua constatação.
Em qualquer atividade profissional, quando se estabelece uma reserva de mercado em benefício de uma minoria, reduz-se a competição, rebaixam-se os padrões de qualidade e quase sempre se prejudica a maioria, ou seja, o público. O jornalismo brasileiro precisa de mais, não de menos qualificação intelectual. Um dos aspectos nocivos da obrigatoriedade é desencorajá-la.
Avessos a investir anos preciosos num curso de comunicações rara vez compensador, ficariam alijados do jornalismo profissionais com valiosa formação em história, medicina, direito, economia e tantos outros saberes que costumam formar o mosaico das melhores redações.
Além de nociva, a obrigatoriedade é anacrônica. A internet abriu as fronteiras do jornalismo para modalidades flexíveis e semiprofissionais, como o jornalismo cidadão e os blogs coletivos, cuja prática escapa a qualquer regulamentação, exceto aquela exercida por Estados policiais.
“Não há interesse público envolvido nisso”, disse o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) a respeito do lobby do diploma em jornalismo. Com efeito, a preocupação é gremial, localizada nas cúpulas sindicais e nos departamentos universitários de comunicações.
O que mais convém ao país é manter o jornalismo como profissão livre, pública e aberta, beneficiária dos talentos multifacetados do pensamento humano.
09 de agosto de 2012
Augusto Nunes
PUBLICADO NA FOLHA DE S. PAULO DESTA QUINTA-FEIRA
EM RITMO DE GANSO
Há muito a universidade vem absorvendo as
deficiências do ensino secundário. O marco mais significativo ocorreu quando se
começou a ensinar português nos primeiros anos de curso.
Quando fiz vestibular – e já lá vai quase meio século – só entrava na universidade quem tivesse bom domínio do vernáculo. Hoje, a universidade está despejando fornadas de analfabetos.
E não só a universidade. Ainda há pouco, eu comentava o caso de um professor de Direito Penal da PUC-SP, mestre e doutorando pela PUC-SP, pós-graduado em Direito Penal Econômico e Europeu pela Universidade de Coimbra, que grafou “mal vizinho” e “mal pagador”. O analfabetismo já chegou à pós-grad. Em país em que um presidente se gaba discretamente de sua incultura, nada de espantar.
Nada de espantar também que o Senado tenha aprovado, na noite de ontem, projeto que reserva metade das vagas nas universidades federais e nas escolas técnicas do país para alunos que cursaram todo o ensino médio em colégios públicos.
Não bastasse o ensino superior ter passado a discriminar conforme a cor do aluno, agora os senadores estão empurrando para o ensino superior as deficiências do ensino público. Estudar em boa escola virou desvantagem. O preço é ser preterido no vestíbulo da academia.
O projeto também segue agora para sanção presidencial. Na prática, ele mais do que dobra o total de vagas destinadas a cotas nas federais.O texto ainda prevê que as cotas devem ser prioritariamente ocupadas por negros, pardos ou índios.
A divisão deve considerar o tamanho de cada uma dessas populações no Estado, segundo o censo mais recente do IBGE. Se houver sobra de vagas, elas irão para os demais alunos das escolas públicas.
Quanto ao mérito, esforço pessoal, cultura, estes critérios estão mortos e bem sepultados. Se você quer vencer na vida, seja incompetente. Do jeito como vão as coisas, quem souber flexionar corretamente um verbo ou distinguir adjetivo de advérbio, ainda será considerado uma sumidade das letras.
Se alguém acha que estou deplorando estes novos tempos, em muito se engana. Houve época em que eu não só torcia por um país melhor, como até lutava por isso. Há muito desisti. Sou hoje um mero observador. Se o povo elege medíocres que elaboram tais leis, é porque este povinho merece. Me reservo apenas o direito de ser culto e a esperança de que isto, em futuro próximo, não seja tipificado como crime. Só peço um tempinho para morrer antes. Os senhores legisladores não perderão muito por esperar. Não é para amanhã, mas também não farei os responsáveis pelos rumos do país esperar muito.
Ontem foi dia aziago para quem esperava melhores manhãs. Pois o mesmo Senado também aprovou, por 60 votos a favor e 4 contrários, o segundo turno da proposta de emenda constitucional que torna obrigatória a obtenção do diploma de curso superior de jornalismo para o exercício da profissão. O texto terá ainda de ser votado na Câmara dos Deputados, onde tramita uma proposta semelhante. E é claro que será mais uma vez aprovado.
Se alguém ainda não lembra, até 1969 era jornalista não quem tinha diploma, mas aptidão para o ofício. Como ocorre em todos os países do Ocidente. A conspiração contra o jornalismo vem de longe.
Começou com a junta militar da ditadura – cujos nomes hoje ninguém lembra, mas passou à História como Junta dos Três Patetas – que instituiu a exigência de diploma. É curioso ver como as esquerdas, tão hostis ao regime militar, assumiram de corpo e alma esta medida ditatorial.
Em 81, ao voltar de Paris, fui entrevistado por um jornalista da rádio Universidade, de Porto Alegre. Perguntou-me como era a condição legal do jornalista na França. Por acaso, eu tinha no bolso uma agenda francesa destinada a jornalistas, que trazia o texto legal. Segundo o artigo L 761-2 do código do trabalho, “le journaliste professionnel est celui qui a pour occupation principale, régulière et rétribuée l'exercice de sa profession dans une ou plusieurs publications quotidiennes ou périodiques ou dans une ou plusieurs agences de presse et qui en tire le principal de ses ressources."
Traduzindo: jornalista profissional é aquele que tem por ocupação principal, regular e retribuída o exercício de sua profissão em uma ou várias publicações cotidianas ou periódicas ou em uma ou várias agências de imprensa e que disto tira o principal de seus recursos. E estamos conversados. (O grifo é meu).
Melhor tivesse ficado calado. O foquinha à minha frente encerrou incontinenti a entrevista. Eu havia dito o que ninguém queria ouvir. A exigência de diploma favorece uma guilda poderosa de analfabetos muito bem pagos, integrada por incompetentes que jamais pisaram em uma redação de jornal mas se julgam capazes de ensinar o que se faz em uma redação de jornal.
Me considero jornalista competente, não por acaso fui chamado a trabalhar nos dois mais importantes jornais do país. Nunca tive curso de jornalismo. O básico do ofício aprendi em seis meses de redação. Nenhum curso universitário supre o que se aprende em seis meses de redação. Sem falar que redigir é o mínimo que se pede de um jornalista. O que se pede, fundamentalmente, é domínio de sua área e isto nenhum curso oferece. Que pode escrever sobre economia ou ciências um novato que jamais estudou economia ou ciências?
Só vai escrever bobagem, é claro. Exemplo emblemático disto, que gosto de repetir, aconteceu em 1983, quando a Veja endossou como verdade científica uma brincadeira lançada pela revista inglesa New Science. Tratava-se de uma nova conquista científica, um fruto de carne, derivado da fusão da carne do boi e do tomate, que recebeu o nome de boimate. Se a editoria de ciências visse esta notícia num jornal brasileiro, evidentemente ficaria com um pé atrás. Para a revista, a experiência dos pesquisadores alemães permitia “sonhar com um tomate do qual já se colha algo parecido com um filé ao molho de tomate. E abre uma nova fronteira científica".
Isso que a New Science dava uma série de pistas para evidenciar a piada: os biólogos Barry McDonald e William Wimpey tinham esses nomes para lembrar as cadeias internacionais de alimentação McDonald´s e Wimpy´s. A Universidade de Hamburgo, palco do "grande fato", foi citada para que pudesse ser cotejada com hambúrguer. Os alertas de nada adiantaram. Como se tratava de uma prestigiosa publicação européia, a Veja embarcou com entusiasmo na piada. O jornalista responsável pela barriga foi promovido a editor da revista.
Em 2009, o Supremo Tribunal Federal decidira que a exigência do diploma, imposta no regime militar, atentava contra a liberdade de expressão. Em vão. A guilda insistiu na proteção dos seus e agora temos algo insólito no Direito Constitucional, uma profissão regulamentada pela Constituição.
O senador Aloysio Nunes lembrou que se a emenda for aprovada pelos deputados, a profissão de jornalista será a única a constar na Constituição. "Existem médicos, advogados e outros profissionais que são bons jornalistas, sem a necessidade de ter um diploma específico. Será uma aberração colocar a profissão de jornalista na Constituição por razões meramente corporativas, para atender ao sindicalismo dos jornalistas, que é o mesmo que trabalha pelo controle social da mídia".
Para o senador, a proposta interessa sobretudo aos donos de faculdades privadas ruins, "arapucas que não ensinam nada e que vende a ilusão de um futuro profissional. Não há interesse público envolvido nisso, pelo contrário, a profissão de jornalismo diz respeito diretamente à liberdade de expressão do pensamento, de modo que não pode estar sujeita a nenhum tipo de exigência legal e nem mesmo constitucional".
É voz que clama no deserto. O projeto obviamente será aprovado pelos deputados. Político não gosta de seres pensantes e, pior que tudo, independentes. O Brasil será, definitivamente, um dos raros países do mundo (os outros são ditaduras árabes ou ex-socialistas) a ter o diploma como conditio sine qua non do exercício da profissão.
E assim vai meu amado país, em ritmo de ganso: um passo e uma cagada.
09 de agosto de 2012
janer cristaldo
Quando fiz vestibular – e já lá vai quase meio século – só entrava na universidade quem tivesse bom domínio do vernáculo. Hoje, a universidade está despejando fornadas de analfabetos.
E não só a universidade. Ainda há pouco, eu comentava o caso de um professor de Direito Penal da PUC-SP, mestre e doutorando pela PUC-SP, pós-graduado em Direito Penal Econômico e Europeu pela Universidade de Coimbra, que grafou “mal vizinho” e “mal pagador”. O analfabetismo já chegou à pós-grad. Em país em que um presidente se gaba discretamente de sua incultura, nada de espantar.
Nada de espantar também que o Senado tenha aprovado, na noite de ontem, projeto que reserva metade das vagas nas universidades federais e nas escolas técnicas do país para alunos que cursaram todo o ensino médio em colégios públicos.
Não bastasse o ensino superior ter passado a discriminar conforme a cor do aluno, agora os senadores estão empurrando para o ensino superior as deficiências do ensino público. Estudar em boa escola virou desvantagem. O preço é ser preterido no vestíbulo da academia.
O projeto também segue agora para sanção presidencial. Na prática, ele mais do que dobra o total de vagas destinadas a cotas nas federais.O texto ainda prevê que as cotas devem ser prioritariamente ocupadas por negros, pardos ou índios.
A divisão deve considerar o tamanho de cada uma dessas populações no Estado, segundo o censo mais recente do IBGE. Se houver sobra de vagas, elas irão para os demais alunos das escolas públicas.
Quanto ao mérito, esforço pessoal, cultura, estes critérios estão mortos e bem sepultados. Se você quer vencer na vida, seja incompetente. Do jeito como vão as coisas, quem souber flexionar corretamente um verbo ou distinguir adjetivo de advérbio, ainda será considerado uma sumidade das letras.
Se alguém acha que estou deplorando estes novos tempos, em muito se engana. Houve época em que eu não só torcia por um país melhor, como até lutava por isso. Há muito desisti. Sou hoje um mero observador. Se o povo elege medíocres que elaboram tais leis, é porque este povinho merece. Me reservo apenas o direito de ser culto e a esperança de que isto, em futuro próximo, não seja tipificado como crime. Só peço um tempinho para morrer antes. Os senhores legisladores não perderão muito por esperar. Não é para amanhã, mas também não farei os responsáveis pelos rumos do país esperar muito.
Ontem foi dia aziago para quem esperava melhores manhãs. Pois o mesmo Senado também aprovou, por 60 votos a favor e 4 contrários, o segundo turno da proposta de emenda constitucional que torna obrigatória a obtenção do diploma de curso superior de jornalismo para o exercício da profissão. O texto terá ainda de ser votado na Câmara dos Deputados, onde tramita uma proposta semelhante. E é claro que será mais uma vez aprovado.
Se alguém ainda não lembra, até 1969 era jornalista não quem tinha diploma, mas aptidão para o ofício. Como ocorre em todos os países do Ocidente. A conspiração contra o jornalismo vem de longe.
Começou com a junta militar da ditadura – cujos nomes hoje ninguém lembra, mas passou à História como Junta dos Três Patetas – que instituiu a exigência de diploma. É curioso ver como as esquerdas, tão hostis ao regime militar, assumiram de corpo e alma esta medida ditatorial.
Em 81, ao voltar de Paris, fui entrevistado por um jornalista da rádio Universidade, de Porto Alegre. Perguntou-me como era a condição legal do jornalista na França. Por acaso, eu tinha no bolso uma agenda francesa destinada a jornalistas, que trazia o texto legal. Segundo o artigo L 761-2 do código do trabalho, “le journaliste professionnel est celui qui a pour occupation principale, régulière et rétribuée l'exercice de sa profession dans une ou plusieurs publications quotidiennes ou périodiques ou dans une ou plusieurs agences de presse et qui en tire le principal de ses ressources."
Traduzindo: jornalista profissional é aquele que tem por ocupação principal, regular e retribuída o exercício de sua profissão em uma ou várias publicações cotidianas ou periódicas ou em uma ou várias agências de imprensa e que disto tira o principal de seus recursos. E estamos conversados. (O grifo é meu).
Melhor tivesse ficado calado. O foquinha à minha frente encerrou incontinenti a entrevista. Eu havia dito o que ninguém queria ouvir. A exigência de diploma favorece uma guilda poderosa de analfabetos muito bem pagos, integrada por incompetentes que jamais pisaram em uma redação de jornal mas se julgam capazes de ensinar o que se faz em uma redação de jornal.
Me considero jornalista competente, não por acaso fui chamado a trabalhar nos dois mais importantes jornais do país. Nunca tive curso de jornalismo. O básico do ofício aprendi em seis meses de redação. Nenhum curso universitário supre o que se aprende em seis meses de redação. Sem falar que redigir é o mínimo que se pede de um jornalista. O que se pede, fundamentalmente, é domínio de sua área e isto nenhum curso oferece. Que pode escrever sobre economia ou ciências um novato que jamais estudou economia ou ciências?
Só vai escrever bobagem, é claro. Exemplo emblemático disto, que gosto de repetir, aconteceu em 1983, quando a Veja endossou como verdade científica uma brincadeira lançada pela revista inglesa New Science. Tratava-se de uma nova conquista científica, um fruto de carne, derivado da fusão da carne do boi e do tomate, que recebeu o nome de boimate. Se a editoria de ciências visse esta notícia num jornal brasileiro, evidentemente ficaria com um pé atrás. Para a revista, a experiência dos pesquisadores alemães permitia “sonhar com um tomate do qual já se colha algo parecido com um filé ao molho de tomate. E abre uma nova fronteira científica".
Isso que a New Science dava uma série de pistas para evidenciar a piada: os biólogos Barry McDonald e William Wimpey tinham esses nomes para lembrar as cadeias internacionais de alimentação McDonald´s e Wimpy´s. A Universidade de Hamburgo, palco do "grande fato", foi citada para que pudesse ser cotejada com hambúrguer. Os alertas de nada adiantaram. Como se tratava de uma prestigiosa publicação européia, a Veja embarcou com entusiasmo na piada. O jornalista responsável pela barriga foi promovido a editor da revista.
Em 2009, o Supremo Tribunal Federal decidira que a exigência do diploma, imposta no regime militar, atentava contra a liberdade de expressão. Em vão. A guilda insistiu na proteção dos seus e agora temos algo insólito no Direito Constitucional, uma profissão regulamentada pela Constituição.
O senador Aloysio Nunes lembrou que se a emenda for aprovada pelos deputados, a profissão de jornalista será a única a constar na Constituição. "Existem médicos, advogados e outros profissionais que são bons jornalistas, sem a necessidade de ter um diploma específico. Será uma aberração colocar a profissão de jornalista na Constituição por razões meramente corporativas, para atender ao sindicalismo dos jornalistas, que é o mesmo que trabalha pelo controle social da mídia".
Para o senador, a proposta interessa sobretudo aos donos de faculdades privadas ruins, "arapucas que não ensinam nada e que vende a ilusão de um futuro profissional. Não há interesse público envolvido nisso, pelo contrário, a profissão de jornalismo diz respeito diretamente à liberdade de expressão do pensamento, de modo que não pode estar sujeita a nenhum tipo de exigência legal e nem mesmo constitucional".
É voz que clama no deserto. O projeto obviamente será aprovado pelos deputados. Político não gosta de seres pensantes e, pior que tudo, independentes. O Brasil será, definitivamente, um dos raros países do mundo (os outros são ditaduras árabes ou ex-socialistas) a ter o diploma como conditio sine qua non do exercício da profissão.
E assim vai meu amado país, em ritmo de ganso: um passo e uma cagada.
09 de agosto de 2012
janer cristaldo
Assinar:
Postagens (Atom)
09 de agosto de 2012