"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 7 de julho de 2013

ESTE VÍDEO SERÁ O MAIS ASSISTIDO NAS PRÓXIMAS SEMANAS

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE

                               E o governo do PT derretendo...


 
07 de julho de 2013

DESEMPENHO FRACO DE EMERGENTES PODE PIORAR PREVISÕES DO FMI - DIZ LAGARDE

 

 

  • Diretora-gerente do Fundo Monetário afirma que expectativa de expansão de 3,3% da economia global pode ser revisada para baixo novamente

PARIS - O Fundo Monetário Internacional (FMI) pode esta semana cortar sua previsão de crescimento mundial por causa da situação nos países emergentes, disse a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, em conferência neste domingo.
 
— Tínhamos uma previsão de crescimento de cerca de 3,3% — disse ela, referindo-se a previsão do fundo para 2013. — Considerando o que estamos vendo agora nos países emergentes, em particular, e não nos países em desenvolvimento e nos países de baixa renda, temo que possamos estar um pouco abaixo — disse, em uma conferência de economistas na cidade de Aix-en-Provence, no sul francês.
 
Lagarde disse que não daria números específicos porque o Fundo deverá publicar oficialmente os dados nesta semana. O FMI reduziu sua previsão de crescimento global para 2013 para 3,3% em abril, para baixo de sua projeção janeiro de 3,5%.
 
07 de julho de 2013
O Globo com Reuters

"A ESCOLHA DE DILMA"

 
Prognósticos, quando contaminados por interesses próprios ou baseados em teses questionáveis, tendem ao descrédito dos meros exercícios de futurologia. Fossem outras as circunstâncias da crise ainda por ser enfrentada pelo governo da presidente Dilma Rousseff, talvez coubesse a avaliação de que as dúvidas quanto à sua capacidade de reação não passassem de torcida da oposição, obviamente motivada pelo seu insucesso.
Mas não é da oposição o coro mais sonoro contra a forma escolhida pelo Planalto para responder aos protestos da população. É a base de sustentação do governo que grita mais alto, incluindo o partido que lhe deve mais fidelidade, o PT, por ser aquele pelo qual se elegeu e para o qual representa (ou representava) a possibilidade concreta de continuidade daquilo que abstratamente classifica como o "nosso projeto".
Os ares de desembarque da base aliada, mais nítida no súbito desdém do PMDB pelos cargos que ocupa, se explicam na leitura política consensual nos partidos sobre as chances de reversão dos índices negativos da presidente. As consideram remotas, menos pela possibilidade, em si, de uma virada, e mais por não criar expectativas positivas nos agentes econômicos e políticos.
Os partidos trabalham com números, contas e cenários, nessa ordem, a partir dos quais traçam perspectivas. Não desprezam o otimismo do publicitário João Santana, mas não acreditam em receitas de marketing para salvar o governo. Suas contas indicam que um quadro otimista de recuperação poderia devolver Dilma ao patamar dos 40% de ótimo e bom, insuficientes para resgatar seu favoritismo em 2014.
Com tal índice corre o risco de não chegar ao segundo turno e a resistência de seu governo em fazer as pazes com o mercado - até hoje um ente abstrato para ela e o PT - reforça a descrença de que possa ir além. Lembram que a queda nos índices já fora registrada antes dos protestos de rua e atribuída à percepção da inflação, através da alta dos preços.
Por isso, o recomendável seria que o governo se concentrasse em suas próprias reformas - da economia e ministerial - ao invés de se apropriar daquelas inerentes ao Legislativo, para indispô-lo com a população (até porque, não precisa, como atestam os jatinhos para casamento e futebol).
A dificuldade é que, embora simbolismos sejam importantes , agora não bastam: uma reforma ministerial, cobrada pela base, teria que se traduzir em requalificação do ministério e não em simples troca coletiva para gerar impacto.
Operação que impõe à presidente coragem para a ruptura com o modelo de seu partido - populista e orientado pela obsessão hegemônica.
07 de julho de 2013
João Bosco Rabello, O Estado de São Paulo

ESTE VÍDEO SERÁ O MAIS ASSISTIDO DO BRASIL NAS PRÓXIMAS SEMANAS

 




07 de julho de 2013

SOBRE MEU APREÇO PELO CINEMA MUDO


Pessoalmente, não vejo saída satisfatória para esta baderna toda – escrevia eu no mês passado. Mas há algumas obviedades que não podem ser ignoradas. O país não pode viver nessa tensão contínua. Um dia é preciso retomar a vida normal. Festa tem hora de acabar.

Já acabou. A “revolução verdadeira” anunciada pela Veja, os sete dias que mudaram o país, já fazem parte de um passado distante. Da bagunça toda resultou a redução de tarifas em algumas cidades e a promessa de um plebiscito. Que ninguém pediu e que provavelmente não passará de projeto.

Saída, só o cansaço – disse então. Honestamente, não via outra. Como uma febre que vai e volta, a temperatura deveria ceder nas semanas seguintes. Já cedeu. Renan Calheiros, o súbito intérprete da voz rouca das ruas, foi flagrado usando um jatinho da FAB para ir ao casamento da filha de um amigo. Garibaldi Alves, ministro da Previdência, usou outro para ir a um jogo da Copa das Confederações.

Não escapou da tentação nem mesmo o impoluto presidenciável Joaquim Barbosa, presidente do STF, que foi assistir, no dia 02 passado, no camarote do tal de Hulk, o jogo Brasil e Inglaterra. A notícia é originalmente do Estadão. O STF nega que o ministro tenha voado para ver um jogo de futebol. Se assim é, o Estadão cometeu crime de calúnia contra uma das mais altas autoridades da República. Irá Joaquim Barbosa representar contra o jornal e pedir indenização por danos morais? Quem viver, verá.

Que ministros e deputados voem em jatos da FAB até que não me espanta. Virou vício e sabemos como é difícil curar-se de um vício. Mal silenciou a voz da gloriosa Revolução de Junho de 2013 e, já neste mês julho, as mais altas autoridades do país estão recidivando. O que me espanta é ver estes senhores, bem ou mal responsáveis pelos destinos da nação, tendo como prioridade ver ... um jogo de futebol.

Então o país não tem solução? – me pergunta um leitor. Decididamente, acho que não. Ou alguém acha que país que elege e reelege um operário analfabeto, conivente com a corrupção e defensor de corruptos, que elege o poste indicado pelo operário analfabeto para sucedê-lo, que elege e reelege Sarney, Collor e Renan, tem solução?

Voi che siete brasiliani, lasciate ogni speranza - escrevi. Brasil não tem cura. A menos que se troque este povinho, como se dizia como piada durante a ditadura. Povo inculto se governa com pão e circo, futebol e carnaval.

Mudo de assunto sem mudar de assunto. Ano passado, eu deplorava esta mania que está assolando o cinema e a televisão nacional, a mania de dublagem. A cada dia que passa, torna-se mais raro ver a versão original de um filme, seja nas salas, seja em casa.

Nunca suportei filme dublado. Ver um filme sueco ou italiano em português – ou mesmo em francês - destrói qualquer filme. Um Marcelo Mastroianni, um Toshiro Mifune ou uma Liv Ullmann falando em carioquês chiado me faz doer o estômago. Há dois anos, para meu conforto, comprei um televisor de 56 polegadas, se de plasma ou LED, não me perguntem: não sei. Assim, pensei na época, posso curtir algum cinema em tela confortável sem precisar entrar em filas ou enfrentar um público mal-educado. Assinei também TV a cabo, para escapar da miséria nossa.

Ocorre que, de uns três anos para cá, uma praga invadiu os canais estrangeiros, o filme dublado. Não está fácil encontrar um filme legendado na televisão. Os exibidores oferecem às vezes uma opção com legenda. Mas com diálogos em português. Você é tratado como um surdo. Já que se recusa a ouvir português, vai legenda. Ou como analfabeto: já que não sabe ler português, vai dublagem. Mas ver um filme legendado e dublado ao mesmo tempo é uma tortura só suportável por analfabetos.

Na época, manifestei minha inveja a uma surdinha de Belo Horizonte, que ganhou na Justiça o direito de receber indenização de um cinema que não exibia filmes legendados no dia em que ela queria comemorar o aniversário de dois anos de namoro.

O cinema foi obrigado a pagar R$ 10 mil à jovem por danos morais e a doar outros R$ 10 mil a uma creche. A surdinha disse que tinha direito de assistir a filme igual a todo mundo. "Tem mais filme dublado do que legendado. Fico olhando ouvintes entrando animados no cinema e eu nervosa, lá fora, com vontade de ver", afirmou.

Senti inveja mas não muita. Se a surdinha foi indenizada, continua tendo de ver filmes dublados. Sem falar que sua queixa não era por não ouvir a trilha original, mas por não ter legendas.

Na decisão, o juiz Fabrício da Cunha Araújo afirmou que o exibidor tem o dever de passar pelo menos um filme de cada gênero compreensível para surdos por dia. A televisão até que oferece legendas. Mas me empurra junto a dublagem. Como não posso reclamar que não entendo o filme, estou no mato sem cachorro. E meu belo televisor acabou perdendo sua utilidade. Na época, atribui esta imposição do filme dublado às guildas de dubladores.

Ingenuidade minha. Leio na Folha de São Paulo, edição de amanhã, que o filme dublado venceu em toda linha. A TV paga se adaptou à preferência do assinante.

“O espectador brasileiro hoje prefere ver filmes estrangeiros dublados na TV por assinatura e dispensar o som original – junto com a tarefa de ler legendas. Este comportamento está identificado em pesquisas e refletido na distribuição da audiência entre os canais, que têm procurado aumentar a oferta de filmes e séries dublados e adotar como padrão a versão brasileira do áudio”.

Ou seja, quem clama por analfabetismo é o público. Quem pede por um ator japonês ou inglês ou italiano falando um carioquês chiado é o privilegiado telespectador que paga caro pela TV paga, para ver a sombra da sombra de um filme. A TV paga encara dublagem como recurso para cativar a classe C – diz o jornal. A tendência de crescimento espontâneo da classe C foi percebida pela Fox em 2007. Este crescimento engrossou a base de assinantes da TV paga.

Disse que ia mudar de assunto sem mudar de assunto. Em verdade, não mudei. Não tem solução um país que vota em analfabeto, cujos ministros não perdem futebol e cuja classe média – que teoricamente tem maior acesso à cultura e à arte – ao ver um filme estrangeiro prefere a versão para analfabetos.

Acabo utilizando um recurso que não deixa de mutilar a obra: se tenho a ventura de encontrar um filme decente – o que não é fácil nestes dias de vampiros e zumbis – desligo o som. Tenho me dedicado, ultimamente, ao cinema mudo.


07 de julho de 2013
janer cristaldo

DESCENDO A LADEIRA...

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07 de julho de 2013

ENQUANTO ISSO 2 NO BRASIL DA "MAIS PREPARADA" SEGUNDO O CACHACEIRO PARLAPATÃO

Protestos, dólar e inflação já afetam projeções para PIB de 2014
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A desvalorização do real, o risco de inflação mais alta e o efeito das recentes manifestações sociais têm levado alguns economistas a prever um cenário econômico pior em 2014 do que neste ano.
Em média, o mercado ainda projeta crescimento de 3% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2014, acima da taxa de 2,4% esperada para 2013.
Mas um número crescente de instituições começa a vislumbrar que dias piores virão antes que a economia comece a se recuperar, embora essa visão não seja consensual.  Editoria de Arte/Folhapress
 
O Itaú Unibanco, a consultoria MB Associados e a corretora Nomura já esperam expansão mais fraca em 2014.

A consultoria Tendências está revisando os números, mas também vê o risco de desaceleração da atividade.

"Todos os fatores que determinam a demanda futura estão piorando. Bolsa em queda, juros em alta, fluxo de capitais caindo e por aí vai", afirma Tony Volpon, diretor da Nomura.

Uma análise da Nomura sobre o impacto de indicadores financeiros para a economia aponta risco de contração do PIB no fim deste ano.
Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, a incerteza em relação à política econômica e a deterioração fiscal afetaram as expectativas do setor produtivo e do mercado financeiro.
Segundo ele, além desses fatores, a alta de juros para combater a inflação e a forte oscilação da taxa de câmbio fazem com que "um cenário ruim em 2014 seja inevitável".

CENÁRIO EXTERNO

A perspectiva de que os juros nos EUA podem subir antes que o esperado tem levado investidores a transferirem recursos de países emergentes para ativos americanos.

Em relatório recente, o Itaú Unibanco ressaltou que, em meio a esse processo de realocação, o real tem se desvalorizado mais do que as moedas de outros emergentes.

Segundo o banco, o baixo crescimento do PIB brasileiro e a incerteza sobre a política econômica podem explicar a depreciação mais acentuada do real. Para a instituição, isso pode fazer com que a moeda se aprecie menos quando o mercado se acalmar.

O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, discorda da avaliação de que a economia tende a piorar em 2014.

Perfeito, que acertou o o resultado fraco do PIB no primeiro trimestre de 2013, acredita que o pessimismo em relação à economia brasileira está exagerado. 
 
 
"Acho que essa onda de pessimismo vai acabar sendo revista e isso tende a trazer uma recuperação do investimento", afirma. Para 2014, ele prevê alta de 3,5% do PIB, ante 2,1% neste ano.

ÉRICA FRAGA DE SÃO PAULO
07 de julho de 2013

ENQUANTO ISSO... NO BRASIL DA "MAIS PREPARADA" SEGUNDO O CACHACEIRO PARLAPATÃO

 "o mercado já começa a perceber que foi longe demais vendendo o Brasil". - Análise: Inflação coroa um mês a ser esquecido e reforça pessimismo
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Junho é para esquecer.

Mal tinha terminado maio e um fantasma já havia se instalado no coração dos investidores internacionais: o provável fim do "quantitative easing" (recompra de títulos da dívida pelo Federal Reserve) nos EUA iria sinalizar um processo de liquidação de ativos em patamares de igual magnitude ao de sua valorização.

Investidores com o dedo no gatilho venderam tudo o que podiam para fazer caixa.

Por aqui, junho começou com PIBinho e o Banco Central subindo a Selic acima do esperado, sinalizando que iria limpar na marra excessos fiscais da base monetária.


Pouco depois a agência de avaliação de risco Standard & Poor's rebaixa o outlook para o Brasil, tornando oficioso o desconforto generalizado entre investidores. Isso sem contar que, em junho, o Brasil viu a maior série de protestos populares da sua história, que, apesar de positiva, acabou contribuindo para gerar incertezas. O IPCA divulgado ontem é a cereja desse bolo indigesto. 
Apesar de a variação mensal ter vindo abaixo do projetado, em 0,26% (nossa projeção era 0,3%), o acumulado em 12 meses estourou a meta, ficando em 6,7%. O resultado é ruim e reforça uma série de pessimismos a respeito do país que tende a persistir.
Apesar de ter vindo acima do telhado de vidro do Banco Central, o IPCA não foi de todo mau. Em primeiro lugar, o grupo alimentação praticamente zerou em junho, ficando em apenas 0,04%, ante 0,31% no mês anterior.

Esse grupo disparou em tempos recentes num movimento típico de choque de oferta contra o qual a Selic pode fazer muito pouco.


O tomate, vilão dessa salada de índices que temos no Brasil, caiu em maio 10,31% e, em junho, mais 7,21%. Mesmo assim, sobe no ano 43,8% e, em 12 meses, 63,41%. Como a Selic não é dança da chuva, a autoridade monetária ficou de mãos atadas.

Esse resultado do IPCA tende a confirmar que o Copom vai manter o ritmo de aperto em 0,50 ponto percentual na reunião da próxima semana. Lembremos que a dispersão (percentual de itens que sobem de preço) está sob controle (45,75% em junho, ante 47,12% em maio) e que, já a partir de julho, o acumulado em 12 meses do IPCA vai começar a cair, segundo as projeções medianas do mercado. 

Em agosto, deve voltar para baixo do teto da meta (6,5%).

Os economistas estão refazendo suas contas e revisando para pior todas as variáveis, mas o fazem no pior mês do ano.

Se há um risco agora, é o de o governo ser mais amigável com o mercado, não o contrário, e mesmo o mercado já começa a perceber que foi longe demais vendendo o Brasil.
 
ANDRÉ PERFEITO/ESPECIAL PARA A FOLHA 
ANDRÉ PERFEITO é economista-chefe da Gradual Investimentos
07 de julho de 2013

DONA DA MAIOR COALIZÃO DESDE 1988, DILMA VÊ RISCO DE DESMANCHE NO ANO PRÉ-ELEITORAL

Presidente administra crise com o PMDB e Planalto já conta com desembarque do PSB e do PSC da base no Congresso

Partidos da base de sustentação do governo ameaçam desmanchar a aliança em torno da candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014. A sinalização ocorre no momento em que a petista quer consultar a população sobre mudanças no sistema político e amarga queda acentuada de popularidade após a série de manifestações pelo País. 
 

Veja também:
Dilma foi eleita em 2010 por uma chapa de dez partidos - Beto Barata/AE
Beto Barata/AE
 
Eleita em 2010 por uma chapa de dez partidos, Dilma conseguiu mais adesões e formou a maior base de apoio no Congresso desde a Constituinte. Manteve índices recordes de popularidade, superando até seu antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva. Até que junho chegou.
 
A aliança para o próximo pleito - essencial por causa da divisão da propaganda eleitoral de TV - já tinha duas sinalizações claras de baixa antes mesmo da atual crise: PSB e PSC devem ter candidaturas próprias, com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e com o pastor Everaldo Pereira, respectivamente. A perda do PSB reduz a presença de Dilma no Nordeste, onde a legenda tem boa representação. A saída do PSC reduz a influência de Dilma entre o eleitorado evangélico.
 
Agora, outros partidos da base podem seguir o mesmo caminho, como é o caso de PP, PSD e PR. Mas a maior preocupação hoje é com o mal-estar cada vez maior com o PMDB, justamente o maior parceiro na aliança e que indicou o vice Michel Temer na chapa vitoriosa de 2010.
 
A apresentação da proposta do plebiscito sem discussão prévia com a base desestabilizou a relação com o Congresso.
Expôs, principalmente, a dificuldade no relacionamento do Palácio do Planalto com os presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL), e da Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), ambos do PMDB.
Dirigentes do partido acham que a presidente procurou jogar a responsabilidade da “crise de representatividade que ecoou das manifestações” no colo do Congresso.
 
Apesar da base inchada, a relação da presidente com o Congresso sempre foi complicada.
A alta popularidade do governo era a explicação usada dentro do Senado e da Câmara para a manutenção da coalizão, apesar das queixas constantes sobre a articulação política, a ocupação de espaços na administração e a liberação das emendas parlamentares.
 
Com a diluição do índice de aprovação, que segundo o Datafolha caiu quase à metade em junho, o fator de solidificação da base começou a se dissolver. Pior: o último levantamento do instituto já aponta a possibilidade real de segundo turno em 2014.
Nesse caso, o confronto hoje seria entre Dilma e a ex-senadora Marina Silva (AC), que ainda precisa oficializar seu partido, a Rede.
 
Eduardo Campos e o senador Aécio Neves (PSDB-MG) são os possíveis beneficiários de uma eventual debandada. Os dois buscam provocar fissuras na base de forma a cristalizar suas candidaturas. Para aliados de Campos, o PT teria garantido o apoio de apenas dois partidos, PC do B e PDT.
 
No caso do PDT, porém, há rachas internos e parlamentares que defendem também o descolamento do governo. A avaliação do presidente da sigla, Carlos Lupi, segundo congressistas, é que a crise será passageira e um apoio a Dilma reafirmado neste momento pode significar um melhor tratamento futuro.
O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) acredita em reação dos índices do governo e não se surpreende com as ameaças de dissidências. “Não é uma aliança programática e ideológica.”
 
‘Atônito’. Tratado pelo PT como trunfo para as próximas eleições, o PSD do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab é um dos que reavaliam sua posição. Apesar da maioria dos diretórios da sigla já ter se manifestado pelo apoio a Dilma em 2014, deputados próximos a Kassab reconhecem que a maré pode virar.
 
“Hoje os Estados estão reavaliando (o apoio a Dilma), tenho certeza”, afirma o deputado federal Guilherme Campos (SP). O parlamentar ainda acredita em uma aliança com o PT, mas relatou que o PSD está “atônito” com as manifestações nas ruas.
 
No PR também há dúvidas sobre a manutenção do apoio em 2014 mesmo com a recente nomeação de César Borges para o Ministério dos Transportes.
 
O PTB e o PP já não constaram oficialmente da aliança em 2010 e a tendência é de que novamente fiquem de fora. O PTB teria mais pontes com Campos, enquanto no PP a proximidade maior é com Aécio.

07 de julho de 2013
Eduardo Bresciani e Daiene Cardoso / BRASÍLIA

VIVA OU MORRA! O POLEGAR DAS MULTIDÕES

 

A reforma política volta, mais uma vez, ao centro do palco, desta feita sob o clamor da maior movimentação social da história brasileira. Se é a “mãe de todas as reformas”, como se tem argumentado, é razoável imaginar que a sua construção constitui uma alavanca para o progresso da vida institucional e, por consequência, para a melhoria do bem-estar da coletividade.
Nesse caso, a reforma de padrões políticos se insere no conjunto das prementes demandas nacionais, ao lado dos programas para fechar os buracos nas áreas da saúde, educação, mobilidade urbana e segurança pública.

Pode-se, até, atribuir à presidente da República o uso de um escudo maquiavélico, sob o qual se protege contra o bombardeio que, nas últimas semanas, atinge, indistintamente, governantes e atores de todos os naipes.

Há quem tenha visto oportunismo na atitude da mandatária de sugerir ao Congresso a adoção de um plebiscito para consultar o povo sobre reforma política. O fato é que a questão foi posta e a locomotiva reformista começa a se movimentar.

Quanto à polêmica aberta pela divergência sobre os meios para fazê-la – plebiscito ou referendo – a régua do bom senso aconselha medir o tamanho da encomenda e verificar se as formas sugeridas atendem ao espírito do nosso tempo, ao calendário e às disposições constitucionais.

O ajuste fino se faz necessário para evitar a montagem de um corpo franksteiniano, que, ao invés de contribuir para enterrar práticas antiquadas, poderia ensejar a continuidade de mazelas.

A primeira condição que se impõe é vontade política. Sob a batuta de clara disposição, os músicos ajustam seus instrumentos e conseguem levar adiante a partitura, mesmo que, no meio da afinação, possa haver partes fora do tom.

Aliados da base governista e partidos oposicionistas se opõem à sugestão de realização de plebiscito. É evidente que os 70 dias estipulados pelo Tribunal Superior Eleitoral e a agenda congressual inviabilizam o uso desse instrumento.

Mais razoável é defender uma proposta para valer em 2016. Afinal de contas, o assunto está posto na mesa política há duas décadas, merecendo, agora, um projeto bem acabado e condizente com a nova ordem que se firma no país.

Há pontos que podem ser aprovados pelo Congresso sem necessidade de plebiscito ou referendo, principalmente os anacrônicos, geradores de desvios, como coligações em eleições proporcionais. O fim do voto secreto, que acaba de ser aprovado pela CCJ do Senado, aponta também nessa direção.

Que aspectos devem balizar mudanças na forma de fazer política? Pelo menos, aqueles que contemplam as metas: fortalecer os partidos; aproximar os representantes dos eleitores; depurar as campanhas eleitorais da corrupção e motivar a participação das bases. Livrar os partidos da marca “geléia geral” é conferir a eles uma identidade, elementos de diferenciação.

Na moldura contemporânea, os mecanismos políticos clássicos – ideologias, partidos, parlamentos, oposições, participantes– tornaram-se menos contrastados, fato que aproxima os atores políticos no arco ideológico.

Se a maioria dos entes se posiciona na esfera da social-democracia, cujo escopo se volta para o estado de bem-estar social, resta-lhes agregar elementos de distinção, a partir do compromisso com temáticas de vulto, em defesa de minorias étnicas e sociais, gêneros, classes, setores, ativismo sexual, ou nas frentes das políticas de desenvolvimento econômico, social, cultural e político.

Evitariam, assim, entrar no rolo dos “catch-all parties” (“agarrar tudo que podem”), designação dada pelo constitucionalista alemão, Otto Kirchheimer, para caracterizar o ciclo do “poder pelo poder”.

A crise da democracia representativa abriu grande distância entre a representação e as bases. Veja-se a situação nacional. O descrédito nos políticos atinge os píncaros. As manifestações que se multiplicam pelo território expressam tal sentimento.

São poucos os eleitores que recordam os nomes de parlamentares que receberam seu voto, ficando evidente a necessidade de serem resgatados os vínculos entre representante e representado. Para tanto, o voto distrital – aos candidatos identificados com a região do eleitor – é o instrumento adequado.

Mudança radical na maneira de votar gera embaraços ao eleitor? Que se implante, então, o sistema misto, pelo qual metade das vagas seria preenchida pela regra proporcional e a outra pelo modelo distrital. O eleitor votaria duas vezes, na lista proporcional (fechada) e no candidato do distrito. A depuração das campanhas poderia começar pela proibição das doações de recursos de empresas e adoção do financiamento público.

Mas, e os controles? Alguém acredita ser possível evitar a entrada do bolso privado no domínio público?

Espinhosa será a tarefa de explicar a injeção de dinheiro do Estado nos cofres das campanhas, quando o caos dos serviços públicos está a exigir absoluta prioridade (e recursos). Já a motivação das bases obedece a um longo processo de educação política, que pode se iniciar com a adoção do voto facultativo, no entendimento de que o sufrágio universal é um direito, não um dever.

O verbo indignado está nas ruas. A massa tende a associar signos, símbolos e perfis que representam o poder com os dissabores da vida cotidiana. Na moldura, cabem Executivos, Congresso, representantes, juízes corruptos, empresários flagrados na maré de corrupção.

Urge, porém, separar a expressão passional da locução racional. Fazer política sem as instituições é cair na escuridão das ditaduras. A imagem é tosca, mas lembra o momento.

No Coliseu romano, gladiadores se engalfinhavam em lutas ferozes. Ao final, os berros: Viva! Morra! O imperador ouvia o clamor da turba para levantar ou baixar o polegar, permitindo ao perdedor viver ou consentindo ao vencedor a última estocada. Que os atores políticos e a nossa presidente consigam levantar, logo, logo, o polegar das multidões. Precisam de um Viva para evitar o caos.

07 de julho de 2013
Gaudêncio Torquato, jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação.

A RUA JÁ ENTENDEU O RESTO

 

Desde sua primeira eleição para a Câmara dos Representantes em 1991, o deputado americano John Boehner sempre usou voos comerciais para ir e voltar de seu distrito eleitoral de Cincinnati, no estado de Ohio.

Três anos atrás, ao assumir o posto de presidente da Câmara, Boehner, um republicano, não mudou o hábito — apesar do uso de aviões militares para os primeiros da linha sucessória presidencial ter sido aprovado depois dos ataques às Torres Gêmeas de 2001.

“Ao longo dos últimos 20 anos tenho voado em rotas comerciais. Agora que ocupo a presidência da Casa, consultei o pessoal da segurança e vimos que posso continuar a fazê-lo, sem problemas. Melhor assim”, comunicou à época. Sua antecessora no cargo, a democrata Nancy Pilosi, havia abusado da regalia e chamara para si forte indignação do eleitorado.

Joe Biden é vice-presidente dos Estados Unidos há quatro anos. Costuma cometer gafes verbais aos rodos, mas tem pé no chão e goza de grande simpatia nacional. Desde que o governo Barack Obama foi obrigado, por lei, a adotar um enxugamento brutal nos gastos federais em março último, Biden pensa duas vezes antes de requisitar o Air Force Two que vem junto com o cargo.

Três meses atrás desembarcou em Selma, no Alabama, de um reles avião de carreira. Fora representar o chefe da nação no aniversário da histórica Marcha pelo Direitos Civis liderada por Martin Luther King em 1965.

Por que abrir mão de um mimo tão legal quanto legítimo quando não há, como no Brasil, hordas nas ruas a exigir mais honestidade e vergonha na cara por parte da elite do país? Por mero bom senso político e hombridade pessoal. Ademais, viajar em voos comerciais não causa urticária. Tampouco diminui a estatura da autoridade em missão oficial verdadeira.

Já para autoridades destituídas de estatura, sobretudo de estatura moral, a coisa muda. Quanto mais atrofiada a imagem do servidor público, maior parece ser o seu apego a tudo o que a liturgia do cargo lhe oferece. Até aí nada de novo.

No caso recente de dois representantes do povo no Congresso Nacional brasileiro, onde os eleitos acham normal serem chamados de “Excelência”, o caldo entornou esta semana pelo escracho do timing: a desvergonha demonstrada pelos presidentes da Câmara e do Senado ocorreu enquanto o urro nas ruas por uma faxina geral percorria o país.

Vale a pena reprisar os dois episódios.

O veteraníssimo Henrique Alves (PMDB-RN) está em seu 11º mandato consecutivo na Câmara e pretende disputar mais um, em 2014. Também está noivo. E, como outros 190 milhões de brasileiros, desejou assistir à final da Copa das Confederações entre Brasil e Espanha, no Maracanã, domingo passado. Tinha ingressos e um jato C-99 da FAB para levá-lo de Natal ao Rio de Janeiro.

Noiva e parentela, um filho e um amigo publicitário o acompanharam, como revelaria Leandro Colon, da “Folha de S.Paulo”. Não ocorreu a nenhum dos sete caronas, nem a ninguém da recheada assessoria parlamentar do deputado, adverti-lo de que o país estava de pernas pro ar. Nem de que nestes tempos de revolta tropical contra a arrogância em Brasília seria melhor ficar longe do perímetro regido pela Fifa.

É de se perguntar se ninguém, naquele ar rarefeito do poder, lê jornal, assiste a noticiário, está antenado às redes sociais. Surdos, parecem continuar a estar.

O ressarcimento tacanho aos cofres públicos e o álibi de um almoço formal com o prefeito carioca Eduardo Paes, para discutir o “cenário político” e assim justificar o uso de um avião militar, só pioraram as coisas.

O caso de Renan Calheiros (PMDB-AL), revelado pela repórter Vera Magalhães, do mesmo jornal, é de levantar outras cem barricadas. Não apenas pelo fato em si: o presidente do Senado também mobilizou um C-99 da FAB para ser levado de Maceió a Porto Seguro, na Bahia, e comparecer ao casamento da filha de um colega senador, Eduardo Braga (PMDB-AM). Em Trancoso.

Considerando-se que Calheiros já foi alvo de três inquéritos no Supremo Tribunal Federal por improbidade e tráfico de influência, além de motivar um abaixo-assinado por 1,5 milhão de brasileiros pedindo sua saída do cargo, a notícia soou insultuosa. E se, antes do episódio, o seu nome já frequentava os cartazes das passeatas como “o cara” a ser defenestrado, imagine-se daqui para a frente.

Resultado: após se escudar na frouxa interpretação do direito ao “transporte de representação” para os chefes dos três poderes, constante do decreto 4.244 de 2002, e descartar a intenção de ressarcir a União, Calheiros capitulou na tarde de sexta-feira. Vai reembolsar o país no valor de R$ 32 mil.

Uma nota assinada pela Secretaria de Imprensa da Presidência do Senado comunicou a nobre rendição. O texto começa assim: “O Senado Federal, sensível à nova agenda e aos novos tempos...”

A rua já entendeu o resto.

Parafraseando o que dizia o ex-presidente americano Dwight Eisenhower , “Aquele que valoriza seus privilégios acima de seus princípios, acaba por perder as duas coisas”. E quem já tem déficit de princípios? Resposta na ponta da língua das passeatas: perde os privilégios.

07 de julho de 2013
Dorrit Harazim, O Globo

BRASIL PEDE EXPLICAÇÕES AOS EUA SOBRE ESPIONAGEM ELETRÔNICA


 
O governo do Brasil pediu explicações aos Estados Unidos (EUA) sobre a espionagem das comunicações de cidadãos brasileiros pela Agência Nacional de Segurança daquele país (NSA, na sigla em inglês). De acordo com o ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, os esclarecimentos foram solicitados por meio da Embaixada do Brasil em Washington e, ainda, ao embaixador dos EUA no Brasil.

O ministro disse que o Itamaraty recebeu com “grave preocupação” a notícia de que contatos eletrônicos e telefônicos de seus cidadãos estariam sendo monitorados. Patriota deu as declarações em Paraty, no Rio de Janeiro, onde está sendo realizada a 11ª Festa Literária Internacional (Flip).

Segundo Antônio Patriota, o governo brasileiro lançará iniciativas na Organização das Nações Unidas (ONU) pelo estabelecimento de normas claras de comportamento para os países quanto à privacidade das comunicações dos cidadãos e a preservação da soberania dos demais Estados. O Itamaraty pretende ainda pedir à União Internacional de Telecomunicações (UIT), em Genebra, na Suíça, o aperfeiçoamento de regras multilaterais sobre segurança das telecomunicações.

SNOWDEN PERSEGUIDO

O escândalo sobre o monitoramento das comunicações privadas de cidadãos e empresas de dentro e de fora do país pelo governo dos EUA veio à tona após o ex-técnico em segurança digital da CIA (agência de inteligência norte-americana), Edward Snowden, revelar a prática.
Os dados eram vigiados por meio do Prism, programa de vigilância eletrônica altamente secreto mantido pela NSA. Uma reportagem do jornal O Globodeste domingo revelou que as comunicações do Brasil estavam entre os focos prioritários de monitoramento.

Depois das revelações, Snowden teve o passaporte cancelado pelo governo norte-americano. Ele pediu asilo político a 21 países. Até o momento, Bolívia, Venezuela e Nicarágua se ofereceram para receber o ex-agente.

Na última semana, países europeus proibiram a entrada do avião do presidente boliviano, Evo Morales, em seu espaço aéreo, por suspeitaram que Edward Snowden estava a bordo. Países latino-americanos, entre eles o Brasil, manifestaram-se a favor do chefe de Estado. O incidente será discutido terça-feira na Organização dos Estados Americanos (OEA).

07 de julho de 2013
Mariana Branco (Agência Brasil)

CHEGOU A HORA DO PARLAMENTARISMO




Uma nova etapa do processo político foi inaugurada. Os jovens sinalizaram que querem mudanças em todos os níveis, principalmente em relação à corrupção ativa e passiva, que drena bilhões dos cofres públicos para o ralo das contas secretas nos paraísos fiscais, justamente o que falta para Educação e Saúde.

Se o movimento vai arrefecer, se vai parar, não importa, pois o primeiro passo foi dado. Não adianta mais mentir para a juventude, que eles não acreditarão. Uma grande marcha começa com o primeiro passo. Todos estão atônitos e perplexos com o povo nas ruas. Quem em sã consciência pode ser contra os ventos de mudança?

Creio que o sistema presidencialista esgotou-se completamente. É chegada a hora do regime parlamentarista, que não tem prazo fixo como o atual. Perdeu-se a confiança, o gabinete cai e imediatamente são convocadas novas eleições.
Os aprendizes de feiticeiros, como sempre caminham em direção contrária ao povo nas ruas, e agora propõem a coincidência de eleições para todos os níveis, uma forma de confundirem o eleitor e ao mesmo tempo proporcionar a prorrogação dos mandatos de prefeitos, vereadores ou de deputados federais e estaduais.

Alea jacta est, como dizia Cesar.

SÉRGIO "GUARDANAPO" CABRAL IGNORA CONTRATO E ENTREGA MARACANÂ A CONSÓRCIO SEM DECISÃO SOBRE CLUBES


                

Um acordo entre o governo Sérgio Cabral e o Consórcio Maracanã S/A vai garantir que o grupo privado assuma o controle do maior estádio do país na próxima terça-feira sem ter cumprido as condições estabelecidas em contrato para que isso ocorra.
 
Quando o edital de licitação do Maracanã foi lançado, foi estabelecido que o consórcio vencedor da concorrência (Odebrecht, AEG e IMX, de Eike Batista) só assumiria o controle do estádio após apresentar ao governo do Rio de Janeiro acordos para o uso da arena com, pelo menos, dois clubes cariocas. Isso garantiria que a principal função do Maracanã, a de ser palco dos principais jogos de futebol disputados no Rio de Janeiro, seria cumprida.
 
Na licitação, ainda existia a possibilidade do consórcio assumir o controle do estádio sem o acordo com os clubes. Neste caso, porém, o grupo empresarial deveria informar ao governo que assumiria o risco de administrar o estádio sem a parceria com os times. Feito isso, o contrato de concessão da arena entraria em vigor e o consórcio passaria a responder pelo Maracanã. Em caso de desistência, o grupo de empresas teria de pagar multa ao governo.
 
Na sexta-feira, no entanto, o governo do Rio informou que facilitou a vida do Consórcio Maracanã SA. O Estado garantiu o direito do grupo assumir o Maracanã, fazer obras no estádio e até realizar um jogo na arena mesmo sem o acordo com os dois clubes cariocas. Decidiu também que, caso o consórcio não consiga firmar esses acordos, poderá devolver o estádio ao governo sem multa.
 
Na prática, o governo do Rio entregou o Maracanã ao seu futuro concessionário apesar do contrato firmado entre as partes não ter entrado em vigor. O governo informou que não tem mais interesse de administrar o estádio depois de sua reforma. Assim que a Fifa retirar as estruturas e equipamentos usados na Copa das Confederações, o Maracanã passará direto para o consórcio, mesmo com as pendências no contrato.
 
QUESTÃO NEBULOSA
 
As dúvidas sobre a administração do Maracanã começaram logo após a final da Copa das Confederações. Na terça-feira, dois dias após o jogo, o Consórcio Maracanã SA emitiu uma nota oficial informando que começaria a trabalhar no estádio na semana seguinte. No dia 21, realizaria o primeiro jogo no Maracanã sob gestão privada: Fluminense x Vasco.
 
Até aquela terça-feira, nenhum clube carioca havia fechado contrato com o Consórcio Maracanã para jogar no estádio. Por isso, na quarta-feira, o UOL Esporte questionou o grupo empresarial e o governo: como o consórcio poderia assumir a gestão do estádio sem ter apresentado ao governo os acordos de utilização da arena?
 
O governo do Rio de Janeiro explicou então que o consórcio poderia, sim, assumir o estádio sem a parceria com os times. Esclareceu que os acordos com os clubes eram, na verdade, uma garantia para o consórcio. Ele poderia abdicar dessa garantia e assumir o Maracanã sem os clubes. A partir do momento que o consórcio renunciasse do acordo com os clubes, o contrato de concessão entraria em vigor.
 
Ainda na quarta-feira, o UOL Esporte procurou o consórcio: afinal, o grupo tem os acordos com os clubes ou vai abdicar disso e assumir o Maracanã por conta e risco? Na sexta-feira, a reportagem recebeu a resposta: nem um nem outro.
 
Segundo nota enviada pelo Consórcio Maracanã, o grupo assume o estádio com o contrato ainda sem eficácia. Vai continuar negociando com clubes até o início de setembro (prazo previsto na licitação). Se não conseguir nenhum acordo até lá, definirá se fica ou não com o Maracanã.
O governo já informou que não cobrará multa nenhuma em caso de desistência.
 
(artigo enviado por Paulo Peres)
 
07 de julho de 2013
Vinicius Konchinski (UOL)
 

AGORA É OFICIAL: ESSE PLEBISCITO É GOLPE

golpe1

“Não pense que estou acuada. Vou pra cima disputar nosso legado”.

Péra aí. O que tá valendo não é que dona Dilma vai pra reeleição, como é da lei?
Pra que, então, ela precisa de outro caminho pra “disputar o legado dela”?

Porque já dá a eleição como perdida. Mais que isso até. Não tá perdida só pra ela. Nem o Lula salva mais. Está perdida pro PT. E é o PT quem está achando isso. Senão não entrava nessa conspiração.

De modo que agora é oficial: esse plebiscito é golpe mesmo e, como tal, vai passar a ser empurrado pelos golpistas profissionais que o PT mantém na sua reserva para contingências.
Veja os fatos de ontem.

OPI-002.eps

Primeiro ela convocou as 22 figuras mais importantes do esquema petista na Câmara e no Senado. Gente profissional; calejada. E deu a pauta:

Vamos recompor o diálogo com a base; ouvir mais e enfrentar as pressões políticas”.
Ao que o solerte José Guimarães – sim, o da cueca cheia de dólares, irmão de Genoíno, o condenado – ecoou:
Vamos afinar a viola”.

Faz sentido. O Michael Temer, chefe do bordel chamado PMDB, primeiro disse que não dava, que era pra esquecer o plebiscito, mas logo em seguida misteriosamente amaciou.

Afinal tudo que é preciso são 171 em 513 deputados daquela sólida comunidade. Será que não encontramos 171 profissionais hardcore naquela galera? Duvido, foi o que pensaram…
Vamos afinar a viola”. Façam o seu michê, senhoras…

golpe8

Mas, por via das dúvidas, melhor pedir “ajuda aos universitários”.

Assim, dispensados os 22 mosqueteiros para a sua nova missão no Congresso da República, entraram os profissionais do golpe para receber as ordens da “presidenta”: CUT, MST e sabe-se lá que outras “entidades representativas da sociedade civil” (você, eu, esses caras que andam pelas ruas apedrejando bandeiras vermelhas) para lançar pelo Brasil afora a “maré vermelha” que o Rui Falcão tentou fazer subir em São Paulo e não conseguiu, agora sob nova direção.

O mote “espontâneo” para estas “vozes roucas das ruas” passa a ser “Plebiscito já!

Finalmente, portanto, “a realidade” vai alcançar a interpretação que a preclara dona Dilma tinha feito dela, para espanto de tantos brasileiros não afeitos à psicografia política…

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Tudo isso rola no mesmo dia em que o país fica sabendo que a “inidônea” e “ininvestigável” Delta Construções, a campeã do PAC, filho da Dilma, montou uma empresa laranja que tem sede nas mesmas sedes da Delta e emprega os mesmos empregados da Delta, para “disputar” os mesmos contratos de obras públicas de que a Delta foi expulsa pela polícia.

E com tanta segurança e cara-de-pau que não se proibiu de ir disputar obras até dos governos do PSDB, que flagrou e denunciou a mutreta em São Paulo.

É nessa hora que a gente se pergunta onde andará aquele gentleman, Fernando Cavendish que foi gravado explicando, às gargalhadas, ao “conselho de administração” da empresa campeã do PAC que

 “Se botar 30 milhões na mão de politicos sou convidado pra coisa pra caralho“.

golpe11

Foi no helicóptero dele que escapou por pouco de morrer em Trancoso (a namorada que foi na primeira viagem não teve a mesma sorte), o filho do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, o aliado de primeira hora de Lula e de Dilma que aparecia naqueles filmes da festança em Paris em que todos mais Fernando Cavendish, enfiavam colheres de sopa de caviar Petrossian na boca em closes para as câmeras e depois estrebuchavam “Delííícia!”.

Em resumo, senhoras e senhores, o jogo agora é aberto. Estamos nas mãos do crime organizado que, ameaçado de perder o organismo hospedeiro que infectou, vai partir pras cabeças mesmo com o risco de transformar isso aqui num Egito (30 mortos e 200 feridos ontem) onde o PT é que faz o papel dos militares golpistas.

Quer saber? Eu, por mim, topo essa briga. Podem vir que vão achar o que estão procurando!

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07 de julho de 2013
vespeiro

A ERA DO CRESCIMENTO ECONÔMICO FRAUDULENTO JÁ ESTÁ ESGOTADA




Acho cômico quando alguns articulistas escrevem que a economia tem dado provas de robustez, diante da crise mundial, graças às políticas econômicas de Lula-PT e Dilma-PT.

Essa política econômica salvadora não passou de farta distribuição de dinheiro através das diversas “bolsas” e dos empréstimos consignados – neste caso, até que as famílias se endividassem a ponto de comprometer quase toda a renda familiar com o pagamento desses empréstimos.

E chegando a esse ponto, o consumo parou e o crescimento murchou. Depois de um PIB de 7,5%, em 2010, no auge do crescimento via consignado, alcançamos PIBinhos ínfimos em 2011 e 2012 e tudo caminha para ser igual em 2013.

Foi uma política econômica rudimentar, pois tinha um prazo de validade para dar com os burros n´água: o teto de endividamento das famílias.

Agora vemos a produção industrial cair por absoluta falta de poder de compra da população, já saturada em dívidas, e o preço dos alimentos aumentarem por absoluta falta de investimento em infraestrutura. E segue a economia morro abaixo devido a essa política econômica.

VOTO NULO

Portanto, em 2014 a única medida correta que teremos será o voto nulo,para melar as eleições e dar uma nova mensagem de mudança aos políticos porque as alternativas ao governo petista são bastante desanimadoras.

A partir do momento em que tenhamos partidos políticos que tenham alguma representatividade e defendam, sem interesse material,um programa legítimo de metas e objetivos, poderemos tratar de preservá-los e respeitá-los.

O que temos hoje são balcões de negócios e de pessoas que se juntam para defender algum projeto para o qual tenham alguma vantagem a auferir. O mesmo pode ser dito em relação aos podres poderes que pairam sobre nós, principalmente aquele reduto de bandidos que se chama Congresso Nacional.

COMO INTERPRETAR O QUE QUEREM DIZER AS MULTIDÕES NAS RUAS



 
Um espírito de insurreição de massas humanas está varrendo o mundo todo, ocupando o único espaço que lhes restou: as ruas e as praças. O movimento está apenas começando. Ninguém se reporta às clássicas bandeiras do socialismo, de algum partido libertador ou da revolução. Todas essas propostas ou se esgotaram, ou não oferecem o fascínio suficiente para mover as massas.

Agora são temas ligados à vida concreta do cidadão: democracia participativa, trabalho para todos, direitos humanos pessoais e sociais, presença ativa das mulheres, transparência na coisa pública, rejeição a todo tipo de corrupção, um novo mundo possível e necessário.
Ninguém se sente representado pelos poderes instituídos que geraram um mundo político palaciano, de costas para o povo ou manipulando diretamente os cidadãos.

Representa um desafio para qualquer analista interpretar tal fenômeno. Não basta a razão pura; tem que ser uma razão holística, que incorpore outras formas de inteligência, dados racionais, emocionais e arquetípicos, além de emergências próprias do processo histórico e mesmo da cosmogênese.
Só assim teremos um quadro mais ou menos abrangente que faça justiça à singularidade do fenômeno.
 
Antes de mais nada, importa reconhecer que é o primeiro grande evento fruto de uma nova fase da comunicação humana, esta totalmente aberta, de uma democracia em grau zero que se expressa pelas redes sociais. Cada cidadão pode sair do anonimato, encontrar interlocutores, organizar grupos, formular uma bandeira e sair à rua. De repente, formam-se redes que movimentam milhares de pessoas para além dos limites do espaço e do tempo.

Esse fenômeno pode representar um salto civilizatório que definirá um rumo novo à história, não só de um país, mas de toda a humanidade. As manifestações no Brasil provocaram atos de solidariedade em dezenas de outras cidades no mundo, especialmente na Europa. De repente, o Brasil não é mais só dos brasileiros. É uma porção da humanidade que se identifica como espécie, numa mesma casa comum, ao redor de causas coletivas e universais.

SATURAÇÃO

Por que tais movimentos massivos irromperam no Brasil agora? Muitas são as razões. Atenho-me apenas a uma.

Meu sentimento do mundo me diz que, em primeiro lugar, se trata de um efeito da saturação: o povo se saturou com o tipo de política que está sendo praticada no Brasil, inclusive pelas cúpulas do PT (o resguardo as políticas municipais do PT, que ainda guardam o antigo fervor popular).

O povo se beneficiou do Bolsa Família, do Luz para Todos, do Minha Casa, Minha Vida, do crédito consignado; ingressou na sociedade de consumo. E agora? Bem dizia o poeta cubano Ricardo Retamar: “O ser humano possui duas fomes: uma de pão, que é saciável; e outra de beleza, que é insaciável”.
Como beleza se entendem educação, cultura, dignidade humana e direitos pessoais e sociais, como saúde e transporte.

Essa segunda fome não foi atendida adequadamente pelo poder público. Os que mataram sua fome querem ver atendidas outras fomes, não em último lugar. Avulta a consciência das profundas desigualdades sociais, o grande estigma da sociedade brasileira.
Esse fenômeno se torna mais e mais intolerável na medida em que cresce a consciência de cidadania e de democracia real.
A democracia em sociedades desiguais como a nossa é meramente formal, praticada apenas no ato de votar (que, no fundo, é o poder de escolher seu “ditador” a cada quatro anos, porque, uma vez eleito, ele dá as costas ao povo e pratica a política palaciana dos partidos). É uma farsa coletiva. Essa farsa está sendo desmascarada. As massas querem estar presentes nas decisões dos projetos que as afetam.

Esse grito não pode deixar de ser escutado, interpretado e seguido. A política poderá ser outra daqui para a frente.

(transcrito de O Tempo)

07 de julho de 2013
Leonardo Boff

BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A HIGIENE E UMA MAIS BREVE POLÊMICA...


Para Theresa
 
Theresa:
 
Lamento que você tenha levado ao pé da letra o que eu falei sobre os hábitos de higiene dos europeus. Se por acaso a ofendi, não foi essa a minha intenção.
 
Eu só queria lembrar que quando você e eu dizemos que o “brasileiro é burro” - e já dissemos várias vezes aqui - de maneira nenhuma estamos ofendendo-nos mutuamente e nem tampouco aos nossos compatriotas que não usam a cabeça só para separar as orelhas. E foi usando essa mesma linha de raciocínio que eu me referi aos europeus que não são muito chegados ao banho, que são, histórica e estatisticamente, em número consideravelmente maior que os brasileiros porquinhos.
 
Achei que não precisaria explicar, mas infelizmente pude perceber por toda a sua indignação que você me tem numa conta abaixo das expectativas, de ser capaz de cometer leviandades ao ponto de você se dizer “desapontada” comigo.
 
Lamento que você não tenha levado em consideração para efeitos de raciocínio os milhares
de posts escritos por mim durante todos esses anos, com os quais você concordou ou discordou, sem levantar dúvidas sobre as minhas intenções. Lamento que você tenha me confundido com um petralha qualquer cujo único objetivo é denegrir tudo que não é PT por não ter nada de bom para apresentar sobre si mesmo.
Eu acho que eu tenho.
*** *** ***

Mais higiene, Theresa: O cristianismo representou um retrocesso na história da higiene

Vamos lá, Theresa:
 
Tem coisa que não bate nesse artigo sobre a Peste Negra. Olha só:
 
“Peste negra veio da Ásia há 2.600 anos.”
 
“Para chegar até os países do velho continente, a bactéria usou um caminho conhecido e bastante utilizado à época: a Rota da Seda (iniciada há mais de 600 anos).”
 
Erro meio estranho, esse, que remete a apenas 600 anos atrás, quando a Rota da Seda é, segundo alguns, conhecida há dez mil anos. “Eram transpostas por caravanas e embarcações oceânicas que ligavam comercialmente o Extremo Oriente e a Europa, provavelmente estabelecidas a partir do oitavo milênio a.C. – os antigos povos do Saara possuíam animais domésticos provenientes da Ásia – e foram fundamentais para as trocas entre estes continentes até à descoberta do caminho marítimo para a Índia.”
 
Outra coisa: Se a Peste Negra veio da Ásia há 2.600 anos, mas só se manifestou de forma contundente na Europa há 800 anos, foi porque as condições precárias de higiene da época assim permitiram, já que os hábitos dos ratos transmissores, mais domesticados e mais próximos das pessoas, criaram ambientes propícios para a rápida transmissão da doença.
 
A hipótese mais provável da peste ter se tornado uma pandemia, já que os primeiros relatos da epidemia na China também remetem a por volta do ano 1300 DC, foi a sua disseminação pelos mongóis que à época conquistaram tudo entre a Ucrânia a Manchúria.
 
Quanto ao nosso asseio de hoje eu quero dizer que também sou descendente de europeus de cabo a rabo, mas sou brasileiro e os meus hábitos higiênicos são bastante diferentes dos europeus de uma maneira geral. A Reckitt Benckiser, indústria inglesa que fabrica produtos de higiene e cuidados pessoais constatou através de pesquisa com 45 mil pessoas mundo afora que os brasileiros banham-se simplesmente 3,5 vezes mais que os ingleses, por exemplo. E três vezes mais que os franceses, americanos, alemães e italianos.
 
Portanto, eu não falei nenhum absurdo ao criticar o asseio dos europeus.
 
Mas isso, Theresa, não é denegrir, até porque você me conhece bem e sabe que eu sou um defensor intransigente da cultura portuguesa, principalmente, e rebato toda e qualquer crítica infundada à nossa colonização por eles. Estou falando de hábitos e como meu parâmetro de banhos é o brasileiro, considero a higiene pessoal do europeu, de um modo geral, precária.
 
Aliás, Katherine Ashenburg, a jornalista e autora de “The Dirt on Clean” discute no seu livro uma constatação polêmica e interessante: o cristianismo representou um retrocesso na história da higiene.

Praticamente todas as civilizações da Antiguidade deram grande valor ao cuidado com o próprio corpo e com o bem-estar físico. Os egípcios já fabricavam sabão. A religião grega previa uma série de libações antes de sacrifícios animais e refeições, e o banho era uma instituição cotidiana, registrada até nos mitos – em seu retorno da Guerra de Tróia, Agamenon é assassinado na banheira por sua mulher, Clitemnestra. O Império Romano criou aquedutos para abastecer suas principais cidades. O romano abastado frequentava diariamente os banhos públicos, onde o corpo era lavado em uma sucessão de piscinas com temperaturas variadas e esfregado vigorosamente – não se usava sabão – para retirar todas as sujeiras. Tudo isso desapareceu com a queda do império e a prevalência dos cristãos.
 
É claro que o banho não sumiu da paisagem européia da noite para o dia. Katherine Ashenburg observa que alguns dos primeiros patriarcas do cristianismo, como o teólogo Tertuliano e os santos Agostinho e João Crisóstomo, ainda freqüentavam a casa de banho. Aos poucos, porém, esses locais foram sendo associados ao pecado e à dissolução dos costumes pagãos. Mais voltado para a interioridade do que o judaísmo, o cristianismo desconfiava de qualquer atenção conferida ao próprio corpo. Místicos mais extremados como São Francisco de Assis consideravam a sujeira um modo de penalizar o próprio corpo, aproximando o espírito de Deus (o mesmo São Francisco, no entanto, era conhecido pelo desprendimento com que lavava as feridas de leprosos). Ao codificar no século VI algumas das regras da vida monástica, são Bento determinou que só os monges doentes ou muito velhos fossem autorizados a se banhar. Na maioria dos conventos e monastérios da Europa medieval, o banho era praticado duas ou três vezes ao ano, em geral às vésperas de festas religiosas como a Páscoa e o Natal. Supõe-se que a média de banhos entre a população que vivia fora do claustro não tenha sido muito superior.
 
Uma vez perdida na poeira medieval, a prática de lavar o corpo todos os dias demoraria séculos para se restabelecer (e em alguns países europeus ainda não se restabeleceu). O banho foi no máximo uma moda episódica – cavaleiros que voltaram das cruzadas, por exemplo, trouxeram o hábito do banho quente, comum entre os muçulmanos, então muito mais asseados do que seus contendores cristãos. No século XIII, o popular Romance de La Rose, poema francês repleto de conselhos eróticos, trazia uma série de recomendações para o asseio feminino. As mulheres deveriam manter unhas, dentes e pele limpos – e, sobretudo, deveriam zelar pela limpeza da “câmara de Vênus”. No século seguinte, jogos eróticos no banho também compareceriam no Decameron, do italiano Giovanni Boccaccio. O prestígio do banho, porém, parece ter sido apenas literário. O cristão europeu médio seguiu lavando o rosto e as mãos antes da refeição e esfregando seus dentes com paninhos – e a tanto se resumia sua higiene pessoal.
 
A transição para a era moderna não trouxe nenhuma melhora higiênica – pelo contrário, o progressivo inchaço das cidades gerou catástrofes sanitárias. Em Londres, Paris ou Lisboa, a disposição de lixo e de dejetos humanos era feita na rua mesmo. No suntuoso Palácio de Versalhes, um decreto de 1715, baixado pouco antes da morte do rei Luís XIV, estipulava que as fezes seriam retiradas dos corredores uma vez por semana – do que se deduz que o recolhimento era ainda mais esparso antes. Versalhes não tinha banheiros, mas contava com um quarto de banho equipado com uma banheira de mármore encomendada pelo próprio Luís XIV – objeto que serviria apenas à ostentação, caindo no mais absoluto desuso. Os médicos certa vez recomendaram banhos ao Rei Sol como forma de terapia para as convulsões que ele andava sofrendo – mas interromperam esse tratamento dramático quando o monarca se queixou de que a água lhe dava dor de cabeça. Acreditava-se então no poder de cura da imersão em água para certas doenças. Contraditoriamente, porém, também se atribuíam perigos ao banho: lavar o corpo todo abriria os poros, facilitando a infiltração de doenças (ironicamente, as práticas precárias da higiene pessoal facilitaram epidemias européias, como a peste e a cólera). Significativo é um caso de 1610 envolvendo o avô de Luís XIV, Henrique IV. Esse rei fez a deferência de dispensar o duque de Sully de uma convocação para comparecer ao Palácio do Louvre. Em vez disso, foi Henrique IV que visitou Sully, para tratar de assuntos de estado – isso tudo apenas porque o duque havia se banhado recentemente e, portanto, estaria suscetível demais para sair à rua.
 
Outra crença curiosa do mesmo período diz respeito ao poder purificador da roupa: acreditava-se que o tecido “absorvia” a sujeira do corpo. Bastaria, portanto, trocar de camisa todos os dias para manter-se limpinho. Já no século XIX, o rei português dom João VI – que estabeleceu sua corte no Rio de Janeiro – mostrava-se descrente até da troca de camisas, que ele literalmente deixava apodrecer no corpo. A porquice de dom João VI, extraordinária até para os baixos padrões sanitários de seu tempo, está bem descrita em outro livro lançado neste ano, Passado a Limpo – História da Higiene Pessoal no Brasil, do jornalista Eduardo Bueno. Mesmo coberto de feridas e contaminações na pele, dom João VI fugia da água.
 
Foi só no século XIX, com a propagação da água encanada e do esgoto e com o desenvolvimento de uma nova indústria da higiene – principalmente nos Estados Unidos –, que o banho foi reabilitado. O sabão, conhecido desde a Antiguidade, mas por muito tempo considerado um produto de luxo, foi industrializado e popularizado. Em 1877, a Scott Paper, companhia americana pioneira na fabricação de papel higiênico, começou vender seu produto em rolos, formato que se mostra até hoje insuperado. O século XX prosseguiria com a expansão da higiene. Os desodorantes modernos datam de 1907 e a primeira escova de dentes plástica é dos anos 50. A divulgação de produtos e práticas de higiene pessoal passou a contar com um aliado poderoso: a publicidade. Lançado em 1917, o Kotex, tido como o primeiro absorvente íntimo feminino, foi divulgado em 1946 por um filme de animação produzido pelos estúdios Disney. “O sabonete e a publicidade cresceram juntos”, diz Katherine Ashenburg em seu livro. Foi daí que surgiu a expressão em inglês que designa a telenovela: soap opera, “ópera de sabonete”, referência aos patrocinadores desses programas.
 
Katherine sugere que o avanço da assepsia pode ter chegado a extremos, especialmente nos Estados Unidos. Alguns cientistas já aventaram a hipótese de que a superproteção com que as crianças hoje são educadas está debilitando resistências imunológicas e aumentando a incidência de doenças alérgicas. A história dos séculos sujos que nos precederam pode ser uma lição moderadora: a humanidade, afinal, sobreviveu a toda essa imundície. As vantagens de viver na era do desodorante e do fio dental mentolado são auto-evidentes, mas convém lembrar sempre a frase de Henry J. Temple, nobre inglês da virada do século XVIII para o XIX: “Sujeira é só matéria fora do lugar”. 
 

Ainda a higiene...

Theresa:

Não posso deixar passar seu comentário sobre o trecho do livro do Eduardo Bueno que eu publiquei no post abaixo sem contestar quase tudo que você disse, só lembrando que os tempos são outros, muito embora os europeus (talvez à exceção dos nórdicos) continuem sendo porcos e fedidos para o padrão brasileiro.

Não acredito que os índios tomavam banho por serem higiênicos, vivendo nos trópicos é sempre gostoso entrar na água fresquinha.
 
Isso é óbvio pelo calor de um país tropical e pela abundância de água. Como seria óbvio que os europeus também fossem mais chegados a banho em função do aquecimento artificial exagerado nos lugares fechados.
 
Muito tendencioso, na minha opinião, o conto do autor, ademais todas as pestes que invadiram a Europa vieram da Ásia. Claro, com a falta a limpeza que reinava foi uma festa. As bactérias vieram sempre da Ásia, nos porões dos navios mercantes. Alias, as pestes continuam a vir da Ásia.
 
Não é um conto. É resultado de pesquisa séria. Pena que eu não tenha como publicar as fontes consultadas por Eduardo Bueno, mas vou citar apenas uma, a principal: os arquivos da Torre do Tombo, onde ele se praticamente se “internou” durante um ano. Outra coisa, as pestes não vieram da Ásia. Uma ou outra, irrelevantes, talvez, com muito boa vontade. O que mais matou na Europa foi a peste bubônica, que vinha dos ratos europeus mesmo.
 
Com certeza a higiene deveria ser precária, todos fediam no mesmo nível.
 
Jose de Alencar também fez dos índios ídolos de beleza com sorrisos de perolas, mas parece que realmente não era bem a verdade. Muitos índios eram totalmente “banguelas” ou desdentados. Pode ser que para os portugueses quem tinha um dente era algo magnífico, já que eles não tinham nenhum ahahahah. Em terra de cego quem tem um olho é rei.
 
José de Alencar nunca foi historiador e sim romancista. Nada mais normal que ele perfumasse seus romances. Não é assim que se faz em todos os países? Buffalo Bill e o General Custer não são herois?
 
Enfim, não sou experta na falta de higiene, mas o que sei é que na baixa idade media e na alta a falta de higiene era atroz, já todos sabemos que em Roma a coisa era outra, os banhos romanos, Pompeia que ate hoje podemos ver os banheiros das casas, magnífico, os sistemas de esgoto e outras maravilhas.
 
Os portugueses não eram mais sujos que qualquer outro europeu da época.
Eduardo Bueno não disse que eram.
 
Os petistas devem adorar este livro quanto mais denegrir os europeus melhor, principalmente os portugueses embora a verdade é que naquela época todos eram sujos para nossos padrões de hoje. Este livro caindo nas mãos dos poucos petistas que sabem é uma festa os bolivarianos ficam em êxtase. Provavelmente dirão aos outros que os europeus continuam sujos como antes e que nada mudou.
 
Não são só os petistas que porventura podem dizer que o europeu é porco. Eu digo! E sou testemunha disso pelas duas vezes que lá estive. As mulheres europeias com quem estive, à exceção das famosas prostitutas das vitrines de Amsterdam, cujo asseio é exigido por decreto, fedem. Quase todas, sem exagero. Se não é no sovaco é nos pés e se não é nos pés é “lá” mesmo. Habituado que sempre fui às mulheres brasileiras cheirosinhas, lá na Europa por algumas vezes o nojo foi mais forte que o desejo do fauno que incorporava em mim. Passar um inverno inteiro sem tomar banho, como me “recomendou” a gerente de um hotel em Frankfurt, não faz parte da minha cultura tupiniquim.
 
A propaganda é fogo. A história é a história, temos que aceitá-la e o melhor não seria usa-la para nada mais que informar como foi no passado, mas os exageros existem.
No relato de Eduardo Bueno não há exageros. Você pode confirmar isso em dois livros lançados na Inglaterra e nos Estados Unidos: Clean – A History of Personal Hygiene and Purity, da inglesa Virginia Smith, e The Dirt on Clean, da canadense Katherine Ashenburg, que relatam a história da higiene na civilização ocidental.
 
A Isabela de Castela tomava banho dizem uma vez ao ano e era considerada na época a mulher mais limpa da Europa, se é piada eu não sei, mas não é à toa que os franceses e os italianos eram e são exímios nos perfumes, eram obrigados...
Quanto a Isabel, pelo que me consta, ela só tomou dois banhos de corpo inteiro em toda a vida...

Um pouco da história da higiene pessoal no Brasil

Hoje é sexta-feira, dia de um pouco mais de amenidades. Se é que sujeira é amenidade, o jornalista Eduardo Bueno, um pesquisador incansável da História do Brasil, tem um livro que, embora se chame "Passado a Limpo", tem mais porcarias que qualquer outra coisa.

Em “Passado a Limpo – História da Higiene Pessoal no Brasil” ele revisa a evolução das práticas públicas e privadas de higiene no Brasil. O livro começa com um resumo da evolução da limpeza pessoal no mundo, para então examinar, com mais detalhes, as particularidades do Brasil.
O contraste entre a sujeira dos viajantes portugueses e a relativa limpeza dos índios, as péssimas condições sanitárias do Rio de Janeiro imperial e até o estilo de cabelo de Lula e de Collor na eleição de 1989 são alguns dos temas.

Um trecho do livro:

O Brasil descobre a sujeira
 
Os homens peludos estavam na proa. Os homens pelados estavam na praia. No instante em que se encontraram, no alvorecer de 22 de abril de 1500, o Brasil entrou socialmente no curso da história. Os homens peludos vinham do leste a bordo daquilo que os homens pelados julgaram ser “montanhas flutuantes”. Após 44 dias em alto-mar, os peludos estavam fatigados – e imundos, embora, como se verá, sua sujeira não estivesse ligada apenas àquela cansativa navegação.
Os pelados também tinham vindo do leste – mas haviam chegado àquela praia de areias faiscantes havia mais de quinze séculos.
 
Os peludos tinham barbas e vastas cabeleiras sebosas. Os pelados não estavam apenas desnudos, mas depilados. Os barbudos, quase todos, eram gordos ou magros demais e seus dentes, quando os tinham, estavam cariados. Os depilados exibiam dentes alvos, “bons rostos e bons narizes”, “cabelos corredios e bem lavados”, troncos, pernas e braços musculosos.
Os barbudos raramente tomavam banho, mas a óbvia ausência de chuveiros em suas embarcações nada tinha a ver com aquilo: mesmo quando se achavam em sua terra natal, costumavam lavar-se “de corpo inteiro” apenas duas vezes… por ano. Já os depilados pareciam anfíbios: banhavam-se nos rios, nas cachoeiras ou no mar de dez a doze vezes… por dia.
 
Não havia mulheres entre os peludos: elas haviam ficado em casa, a milhares de quilômetros dali, com seus afazeres e seus muitos pêlos. Para sorte delas, julgava-se que a presença feminina a bordo “dava azar”. Já os pelados que se amontoavam na praia - “obra de 60 ou 70” – eram de ambos os sexos, e as mulheres exibiam suas vergonhas “tão altas, tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que nós, de as muito bem olharmos, não tínhamos vergonha alguma”.
 
Os peludos eram portugueses, e estavam sob o comando do rígido capitão que atendia pelo nome de Pedro Álvares Cabral. Os pelados se autodenominavam “tupis” (“os primeiros”, em sua língua), e os portugueses julgaram que eles não tinham “nem fé, nem lei, nem rei”. De seu encontro – e futuros desencontros – nasceria o Brasil.
 
O momento histórico foi registrado em minúcias pelo cronista Pero Vaz de Caminha. Em sua carta inaugural, tão plena de viço e vigor, Caminha fala da bondade das águas e dos ares, da salubridade do clima e da beleza virginal do território então descoberto. Seu texto soa como um cântico à saúde não só da nova terra – “de águas infindas e de tal maneira graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo” –, mas de seus habitantes nativos.
 
Dos homens pelados que circulavam pela praia, diria o cronista: “Andam muito bem curados e muito limpos. E nisso me parece que são como aves ou animais monteses, aos quais faz o ar melhores penas e melhor cabelo que aos mansos, porque os corpos seus são tão limpos, tão gordos e tão formosos, que mais não podem ser”.
Mas não eram apenas os bons ares que faziam os indígenas tão saudáveis; Caminha supôs que a dieta equilibrada também contribuísse para o bom estado dos nativos: “Não comem eles senão deste inhame (a mandioca), que aqui há muito, e das sementes e frutos que a terra e as árvores lançam de si. E com isso andam tais e tão rijos, que o não somos nós tanto, com tanto trigo e legumes comemos”.
 
Apesar da fertilidade luxuriante, a terra recém-encontrada não revelou, à primeira vista, possuir “ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal”. Mas tal constatação não pareceu perturbar Caminha, pois, segundo ele, “o melhor fruto” que dela se poderia tirar não eram lucros materiais, mas a conversão dos nativos à “verdadeira religião”, tarefa que, acreditava ele, seria facilitada pela própria saúde e evidente asseio de seus habitantes: “Creio que essa gente se há de se fazer cristã e crer em nossa santa fé, pois Nosso Senhor, que lhe deu bons corpos e bons rostos, como a bons homens, aqui nos trouxe, e creio que não foi por outro propósito”.
 
Tal viria a ser o impacto da carta de Caminha no processo de construção do imaginário nacional que, cinco séculos depois, o senso comum ainda julga que seu relato foi o único registro sobre o desembarque oficial dos portugueses em terras hoje brasileiras. Mas o fato é que várias outras missivas foram redigidas ao longo dos dez dias em que a frota de Cabral permaneceu ancorada nas águas translúcidas de Porto Seguro, no sul da Bahia. Ainda assim, apenas um outro relato sobreviveu à voragem do tempo: é a chamada Carta de Mestre João. Como o profético texto de Caminha, também ela faz alusão direta às questões de higiene pessoal – só que, nesse caso, a dos próprios portugueses… .
 
Após pesquisas meticulosas, os historiadores descobriram que mestre João era Juan Faras, um “bacharel em artes e medicina” que fora “cirurgião particular” de D. Manuel, rei de Portugal. Embora se detenha na análise do céu e das estrelas dos trópicos – a carta seria responsável pelo batismo do Cruzeiro do Sul –, Mestre João revela que estava com “uma perna muito mal, que de uma coçadura se me fez uma chaga maior do que a palma da mão”. O que pode ser mais revelador das condições higiênicas a bordo das naus e caravelas do descobrimento do que o fato de um médico, muito possivelmente cristão-novo, bem versado em questões de saúde, ter sido atingido por uma doença de pele, fruto, é certo, de contágio, mas também do desleixo pessoal?

Os imundos “quartéis flutuantes”
 
As narrativas da época de fato pintam um quadro aterrador da imundície e da falta de higiene a bordo dos autênticos quartéis flutuantes que eram os navios lusos dos séculos 15 e 16. Graças à rígida disciplina militar imposta pelos capitães, a vida organizava-se rotineira e regrada na promiscuidade hierarquizada das cobertas e entrecobertas das embarcações – que os enjôos e o relaxamento iam tornando progressivamente “sujas e infectas, porque a maior parte da gente não toma o trabalho de ir acima para satisfazer suas necessidades, o que em parte é causa de morrer ali tanta gente”, como atestou o viajante Pyrard de Laval.
 
Embora fidedigno, o depoimento de Laval é um tanto rigoroso: afinal, é bem conhecido o fato de que muitos dos homens a bordo eram marinheiros de primeira viagem; por isso, tão logo os navios venciam o banco dos Cachopos, na barra do Tejo, sacolejando nas ondulações do mar-oceano, os novatos começavam a vomitar, “sujando-se uns aos outros”. Vários deles passavam tão mal que sequer conseguiam se mexer, deixando-se ficar prostrados nos porões – e lá fazendo todas suas necessidades.
 
Além disso, não havia banheiros nas embarcações – o que, aliás, não consistia surpresa alguma, na medida em que tais instalações inexistiam nas próprias cidades européias. Se urinar não configurava problema – bastando, para tal, aproximar-se das amuradas e aliviar-se no mar –, o mesmo não ocorria no momento em que era chegada a hora de esvaziar os intestinos. Nesse caso, os marujos serviam-se de baldes deixados no convés para aquele fim. Depois de usados, eles eram atirados ao mar, presos por uma corda.
Girando na água à medida que os navios seguiam seu rumo, os baldes eram puxados para bordo e usados outra vez. Para limpar-se, não havia nada que se assemelhasse com papel higiênico: os marujos serviam-se de uma corda sempre suspensa na amurada, com a ponta desfiada dentro da água. Essa espécie de pincel encharcado era içado para bordo e, depois de cumprir sua função, voltava a ser mergulhado no mar.
 
Os problemas de higiene não se limitavam aos mais óbvios. Baseada nos “biscoitos de marear” – espécie de bolacha, dura e seca, “via de regra toda podre das baratas e com bolor mui fedorento” –, a alimentação a bordo revelava-se precária e deficiente, raramente ultrapassando 1500 calorias diárias.
Embora fidalgos e religiosos dispusessem de seus próprios víveres, não conseguiam protegê-los da podridão e dos vermes. Os animais vivos e aves de criação levados para bordo, bem como qualquer alimento fresco, esgotavam-se rapidamente, ao passo que o intenso calor equatorial ia rançando e estragando tudo o que já não apodrecera devido à umidade – flagelo permanente nos barcos de madeira.
 
“Os víveres que nos restavam encontravam-se podres e largavam um cheiro tão repugnante que o momento mais duro de nossos tristes dias eram aqueles em que a sineta de bordo tocava para anunciar as refeições”, anotou em 1769 o viajante francês Louis-Antoine de Bouganville. “Que alimentação era a nossa, Deus meu! Bolachas cheias de mofo, e carne que nem os mais intrépidos podiam suportar o odor depois que a dessalgavam”.
 
O lamento de Bouganville soa quase despropositado se comparado aos horrores vividos dois séculos e meio antes pela tripulação de Fernão de Magalhães. “Para não morrermos de fome”, narra o italiano Pigafetta, um dos poucos sobreviventes e o principal cronista da expedição que em 1521 se tornaria a primeira a dar a volta ao mundo, “chegamos ao terrível transe de comermos os couros que revestiam os mastros.
Estavam tão duros que os deixávamos de molho no mar por cinco dias e então os cozinhávamos por longas horas. Muitas outras vezes, comíamos apenas serragem; e até os ratos, tão repugnantes ao homem, se tornaram um manjar disputado, pelo qual havia quem pagasse meio ducado”.
 
Em meio à vastidão salgada do oceano – longe das plataformas continentais e dos bancos de pesca –, a água doce constituía uma dificuldade adicional: armazenada em tonéis, logo adquiria cor turva e péssimo gosto, pois a madeira reduzia os sulfatos, transformando-os em cloretos nauseabundos, sem falar do acúmulo de bactérias, responsáveis por diarréias e infecções. Quanto à água da chuva recolhida ao largo da costa da África, o padre Andrés de Cabrera não hesitou em afirmar, em 1564, que possuía a “virtude de se converter em larvas em menos de uma hora”.
 
Como não é difícil supor, em meio a condições de higiene tão precárias, pululavam as mais variadas pestes e moléstias. Embora atingissem aos marujos, a maioria deles já havia adquirido anticorpos e, por uma dramática ironia da história, as doenças iriam se revelar inestimáveis aliadas no processo da conquista colonial, já que dizimariam os nativos. Embora muitos marinheiros sobrevivessem às enfermidades inúmeros sucumbiam nos naufrágios, já que dois de cada três navios que zarpavam de Lisboa não retornavam.
 
Além disso, à medida que as viagens foram ficando cada vez mais “largas” – enquanto prosseguia a obsessiva busca dos portugueses pelas riquezas da Índia –, uma nova e devastadora doença irrompeu em cena. De início, a misteriosa moléstia, que parecia esconder-se na terrível cloaca do porão dos navios, não tinha nome.
Cerca de um século após ter eclodido pela primeira vez, foi batizada de “escorbuto” – palavra holandesa que significa “ventre aberto”. Sorrateiramente, em meio a tantas doenças de pele, chagas e misérias cotidianas, o “mal das embarcações” rompia a parede dos vasos sangüíneos, fazia inchar as gengivas, provocava a queda dos dentes e produzia insuportável mau hálito. Os horrores da moléstia foram cantados por Luís da Camões:
 
“E foi que de doença crua e feia
A mais que eu nunca vi, desampararam
Muitos a vida, em terras estranhas e alheias
Os ossos para sempre sepultaram
Quem haverá que, sem o ver, o creia?
Que tão disformemente ali lhe incharam
As gengivas na boca, que crescia
A carne, e juntamente apodrecia”
 
O escorbuto manifestava-se após 68 dias de alimentação desprovida de vitamina C, causando a morte depois de três meses de indizíveis sofrimentos As péssimas condições sanitárias a bordo e a virtual ausência de hábitos de higiene pessoal faziam com que a doença se espalhasse com espantosa velocidade.
Os marinheiros de Vasco da Gama foram os primeiros a sofrer da estranha moléstia que cessou, sem motivo aparente, tão logo a expedição aportou na costa oriental da África e lá recolheu frutas e legumes frescos.

Vasco da Gama malcheiroso na Índia
 
Naquela breve escala em Mombaça, no Quênia, ocorrida em 7 de abril de 1498, Vasco da Gama não obteve apenas víveres: ali capturou também um piloto árabe, cuja identidade se mantém controversa. Com a ajuda dele e das monções, os portugueses puderam cruzar o oceano Índico em apenas 41 dias, seguindo a rota que os muçulmanos dominavam há séculos. E assim, no entardecer de 18 de maio de 1498, Gama e seus homens avistaram o Monte Eli, “o trono do deus Shiva”, ponto culminante das montanhas vestidas de verde do Malabar. Tinham acabado de “descobrir” a Índia.
 
Aquele dia tem sido apontado como o do advento da Idade Moderna – ou, quando menos, o momento em que se iniciou o que já foi chamado de “a era da dominação européia na história”. Pois foi exatamente então que, após 80 anos de tentativas incessantes, os lusos desvendaram o caminho marítimo para as Índias, abrindo as portas para o mundo globalizado. Trata-se também do instante a partir do qual os costumes dos europeus e seus hábitos de higiene (ou a falta deles) foram observados pela primeira vez pelos hindus – e lhes causaram grande consternação.
 
“Jamais se viu gente tão inculta, bárbara e suja quanto aquela que acaba de desembarcar aqui”, informou um mercador árabe a seu patrão, sediado no Cairo. Mesmo levando-se em conta o fato de tal depoimento ter sido dado por um inimigo da cristandade, a verdade é que, após dez meses no mar, os recém-chegados estavam maltrapilhos e mal-cheirosos. E isso só fez aumentar o constrangimento que caracterizou o primeiro encontro entre Vasco da Gama e Glafer, o rajá de Calicute – cidade na qual os portugueses aportaram ao final de uma viagem épica.
 
Embora vestidos com suas melhores roupas – “mui bem ataviados”, como disse o cronista Álvaro Velho, testemunha ocular da história –, Gama e seus acompanhantes foram vistos como visitantes de segunda categoria assim que o altivo Samutri-raj, ou “senhor do mar” de Calicute, dignou-se a lhes conceder uma audiência. Para isso certamente contribuiu a mesquinhez dos presentes que os portugueses tinham a oferecer àquele soberano: quatro capuzes de lã, seis chapéus, quatro colares de coral, seis bacias de cobre, dois barris de azeite e dois de açúcar.
 
“Até o mais pobre mercador de Meca é capaz de ofertar mais” disseram os assessores do samorim, recusando-se a entregar as oferendas. “O que, afinal, vieram vocês descobrir aqui: pedras ou homens?”, perguntaram. “Se foram homens, porque trouxeram presentes tão pobres?”.
 
Embora os rubis, as esmeraldas e as pérolas da Índia – muitas das quais adornavam o corpo e as roupas de musselina e de seda do rajá – evidentemente interessassem aos lusos, eles na verdade não estavam ali em busca nem de pedras nem de homens. Como qualquer secundarista sabe, o que os levou até o Oriente foram as especiarias. Em meio à obsessão européia por temperos e ervas – então transformados em mercadorias de grande valor especulativo –, ressaltam-se questões de higiene (tanto pública quanto privada), uma vez que tal busca estava ligada diretamente à preservação de alimentos e à procura de medicamentos.
 
Fora para driblar a barreira imposta pelo Islã após a tomada de Constantinopla, em 1453, que os portugueses – financiados por capitais florentinos e genoveses – lançaram-se em sua aventura ultramarina. Mas não era só a pimenta que interessava àqueles aventureiros e a seus sócios. A noz-moscada, o cravo, a canela, o açafrão e o cardamomo – todas as especiarias, enfim – eram tidas em alta conta. Mais do que meros temperos e conservantes, eram remédios de reputado valor: o cravo mitigava a dor de dente, um dos tormentos mais freqüentes dos europeus desde o início da Idade Média; a canela era anti-séptica e boa para os pulmões; usado em pílulas o açafrão servia para combater a peste.
 
O contraste entre o estilo de vida europeu e o indiano não poderia ficar mais claro do que no encontro entre Vasco da Gama e o samorim, ocorrido a 29 de maio de 1498. Enquanto o primeiro exalava o odor acre de quem não se banhava há mais de ano e cuja alimentação não incluía produtos frescos, o samorim dispunha de fontes termais, ungüentos, cosméticos e perfumes, alimentando-se de peixe, arroz, laticínios e frutas. Sua cidade era limpa e ajardinada, repleta de fontes e cisternas que adornavam templos nos quais sacerdotes também desempenhavam funções médicas e distribuíam conselhos sobre higiene pessoal.
 
Quando o samorim enfim chamou os portugueses para o interior da salão real, os sacerdotes espargiram os estrangeiros com borrifos de um líquido perfumado, que os recém-chegados interpretaram como sendo “água benta”. Ao lhes servirem de água, os assessores de Glafer solicitaram que não tocassem com os lábios nos recipientes de prata – “por medo da sujidade de nossos beiços” – e determinaram que, ao dirigirem a palavra ao samorim, tapassem a boca com a mão esquerda, “para não o macular com seu bafo”, exigindo ainda que se abstivessem “de escarrar e arrotar”.
 
Na solene penumbra da sala, o rei de Calicute sentava-se no topo de um estrado drapeado de veludo verde, recoberto por uma túnica bordada com rosas de ouro e adornado com uma tiara reluzindo de pérolas e pedrarias. Seus longos cabelos negros cintilavam, sedosos. As unhas de suas mãos e pés estavam imaculadamente esmaltadas e ele mascava uma mistura aromática constituída de bétel, cânfora e âmbar utilizada para purificar o hálito.
 
07 de julho de 2013