"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

ADIVINHEM!

Lula falta à cerimônia de posse de Haddad para fugir da imprensa
VOCÊS SABEM O QUE TEM AQUI DENTRO?

02 de janeiro de 2013

"PRECISAMOS POLITIZAR AS RELAÇÕES PESSOAIS"


 
Roberto DaMatta_Instituto Millenium
A Câmara dos Deputados aprovou a criação de 150 novos cargos comissionados no último dia 5 de dezembro. No nível estadual, os deputados da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) estudam a viabilidade de 228 novos postos de trabalho que também serão ocupados por funcionários indicados.

Para entender como a contratação de pessoal não concursado pela administração pública reflete um comportamento da sociedade brasileira, o Millenium entrevistou o antropólogo e escritor Roberto DaMatta.

Autor de importantes estudos sociais, como “A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil” (1984), DaMatta propõe a politização das relações pessoais e destaca a importância do concurso e da meritocracia no processo de seleção para cargos públicos.

 “Não posso montar uma peça de Shakespeare com amadores. As relações entre o ator e o papel devem ser medidas de maneira precisa. A indicação pessoal pode ser por simpatia e a desculpa para nomeação de parentes é brasileiríssima. Eles nomeiam seus filhos ou irmãos porque tem uma confiança absoluta neles. E se essas pessoas cometerem desvios eles dirão que não acreditam que sejam culpados pelo mesmo motivo”, afirmou.

Instituto Millenium: Ao instituírem o sistema de indicações de funcionários, os representantes do poder político estão refletindo a postura dos brasileiros, isto é, há uma transposição do comportamento privado para a esfera pública?

Roberto DaMatta: Estamos começando a politizar a questão dos papéis sociais e não é à toa que o Instituto Millenium recebe fogo de todo os lados. Os conflitos de interesses que estão sempre presentes nos papeis públicos que todos nós, do lixeiro ao garçom, passando pelo professor universitário, pela secretária e, sobretudo, por aqueles que são representantes do povo brasileiro nas instâncias municipal, estadual e federal, desempenhamos.
A questão é quando os papéis desempenhados em casa junto aos familiares, compadres e amigos, cujo pressuposto é sempre a ajuda e o socorro mútuo, se confundem com o uso do cargo público.
Não faz parte da nossa tradição política a discussão do uso dos recursos públicos porque temos um centralismo administrativo muito grande. Passamos da monarquia para a república com poucas discussões sobre o federalismo. O federalismo foi praticamente colocado como tabu no Brasil, sob o argumento de que promoveria a centrifugação do país. A monarquia foi como quase que incorporada pela república, porém os poderes dados ao presidente da república, após a Revolução de 30, foram maiores.

Imil: Essa ausência de esclarecimento sobre a coisa pública passa pela falta de uma separação clara dos conceitos de política e governo no Brasil?

DaMatta: O funcionamento do nosso Estado se dá através de uma entidade que chamamos de governo, que é personalizada. Esse é o pulo do gato do ponto de vista analítico. No Brasil, a sociedade foi pouco incentivada pelo empresariado e cidadãos a discutir o seu papel na construção do país. Por isso, o Instituto Millenium tem uma função importante.
Quando você trata do governo há toda uma conjuntura, mecanismos de relações pessoais, de leis, que passam propositalmente despercebidas, e de atos secretos, como aconteceu no Senado federal. O Senado não se sentia na obrigação de prestar contas à sociedade sobre um conjunto de atos secretos. No entanto, é a sociedade que paga os custos operacionais dos senadores que tem até 14º salário, o que mais ninguém tem.

Imil: Uma medida como essa, que cria novos cargos comissionados, vai causar despesas. Qual é o papel desses funcionários? Eles são importantes? Vão desempenhar um papel fundamental para a sociedade brasileira?
DaMatta: O ano de 2012 talvez seja central para o retrocesso da democracia brasileira ou para o seu avanço em razão do julgamento do mensalão. O desdobramento do affair entre Rosemary Noronha e o ex-presidente Lula é fundamental. Ou nós, como cidadãos, entramos no jogo escrevendo em jornais e fazendo movimentos contra determinadas medidas e determinados planos ou, então, nós vamos retroceder. Há um excesso de personalismo e decisões que estão totalmente fora daquilo que o país tem necessidade.

Imil: Por que é importante usar o sistema meritocrático, através da realização de concursos públicos, para preencher as vagas do funcionalismo público?

DaMatta: Do ponto de vista sociológico, concurso e meritocracia é a indicação impessoal e relativamente automática daqueles que se candidatam livremente e em condições igualitárias. É uma tentativa de equilibrar a pessoa e o papel. Eu não posso montar uma peça de Shakespeare com amadores, se pretendo que o público pague pela peça. As relações entre o ator e o papel devem ser medidas de maneira precisa, o que não existe no caso da indicação pessoal, que pode ser por simpatia e a desculpa para nomeação de parentes é brasileiríssima. Eles nomeiam seus filhos ou irmãos porque tem uma confiança absoluta neles. E se essas pessoas cometerem desvios eles dirão que não acreditam que sejam culpados pelo mesmo motivo.

Imil: As indicações desestimulam os brasileiros que estão se dedicando para prestar concursos para o funcionalismo, afastando profissionais mais bem preparados da administração pública?

DaMatta: Sem dúvida. Uma coisa que Tocqueville diz é que a democracia muda o estilo de convivência social. O que ele percebeu ao visitar os EUA, na década de 30, foi que a calibragem do igualitarismo, que ele chama de princípio gerador da democracia, e da liberdade como valores criam um estilo de pertencimento social que tem conseqüências positivas e negativas.
Ele mostra a importância dos jornais e do poder Judiciário como elementos de equilíbrio entre a liberdade e a igualdade; que promove o civismo – uma marca não só do sistema americano, mas das democracias estabelecidas.
Como vou ter um comportamento cívico, se estou queimando as pestanas para fazer um concurso e fico sabendo que há indicações para cargos até melhores? Isso significa um retrocesso da democracia porque é de fato uma aristocratização através de mecanismos pretensamente democráticos. Aí está a calhordice desse tipo de coisa.
Imil: A consolidação do sistema democrático é o caminho para impedir que antigos hábitos da sociedade, como a apadrinhamento, tenham reflexos na política?


DaMatta: O sistema democrático é o caminho, mas ele precisa ser traduzido para a população. Quando proclamaram a república, em 1889, ninguém sabia o que era a república nesse país. Até hoje ninguém sabe direito o que é democracia. Uma coisa é você ter a democracia escrita em um papel, que foi o que os republicanos fizeram em 89, ter essa democracia reescrita em várias constituições, outra coisa é ela ser aplicada.

A exigência da impessoalidade, que é a exigência de uma equidistância dos cargos públicos, é elementar na democracia. O cargo público não pertence aos governantes, mas ao país como um todo. No Brasil não se pode nem despedir os funcionários públicos. Há uma diferença fundamental entre trabalho e emprego.
Algumas pessoas não querem trabalho, querem emprego. O emprego público é o ideal porque você vai ganhar bem e vai virar um filho do Estado para o resto da sua vida.

Imil: O sistema de indicação de funcionários no poder Legislativo e no outros poderes contribui para a manutenção da corrupção nessas instituições?

DaMatta: Não tenho a menor dúvida.

Imil: O senhor acredita que hábito do apadrinhamento está impregnado de forma irreversível no funcionalismo público, isto é, estamos fadados a repetir práticas clientelistas baseadas em trocas de favores e em interesses individuais que têm pouco ou nada a ver com a coletividade?

DaMatta: Está e não está. Se estivesse totalmente enraizado essa entrevista não estaria sendo feita e nem existiria o Instituto Millenium. O liberalismo brasileiro já teria sucumbido há muito tempo. Há um desconforto, um mal estar no Brasil que é promovido por um governo que foi eleito com uma agenda democrática e que se comporta de maneira autocrática, que se recusa a admitir culpa e promove obstáculos às investigações dos seus próprios atos quando esses atos são notoriamente desviantes de uma conduta normal de um governante que tem preocupação com a coisa pública.

As práticas de compadrio e de amizade devem que ser disciplinadas e a única maneira é admitir que elas existem e são um problema político importante. O que eu estou propondo é uma politização das nossas relações pessoais para podermos dar o salto que todas as sociedades que adotaram o sistema liberal democrático deram. Essa distinção nítida entre o que é meu e aquilo que pertence ao coletivo.
O papel do administrador público tem que ser profundamente discutido no Brasil.
Em uma democracia não pode existir a famosa frase “sabe com quem está falando?”. Todos nós sabemos com quem estamos falando em uma democracia, falamos com uma pessoa igual a nós.

02 de janeiro de 2013
IMIL, Entrevista

GAROTINHO DIZ QUE LINDBERGH FARIAS VIROU ALVO DO PREFEITO DE NOVA IGUAÇU

 

FotoSENADOR LINDBERGH FARIAS
O deputado Anthony Garotinho (PR-RJ) afirmou nesta quinta-feira (2), em seu blog, que o senador Lindbergh Farias (PT - RJ) está em maus lençóis.
 
Segundo ele, o parlamentar já terminou o ano de 2012 de baixo astral após ter sido condenado por improbidade e ter ficado inelegível e, agora, ainda terá de enfrentar uma péssima notícia: o novo prefeito de Nova Iguaçu, Nelson Bornier (PMDB) anunciou uma devassa nas contas dos últimos 8 anos no intuito de encontrar provas para denunciar Lindbergh, que ocupou o cargo em seis dos últimos oito anos.
 
Assim que tomou posse, Bornier ordenou que o prédio da prefeitura fosse lacrado para buscar as provas necessárias para atingir Lindbergh. “posso lhes adiantar que a devassa faz parte de um acordo fechado com Cabral para destruir Lindbergh”, disse Garotinho.
 “Cabral vai ajudar a prefeitura de Nova Iguaçu e em troca Bornier vai revirar as irregularidades da gestão de Lindbergh, que deve ter começado o ano com uma tremenda ressaca política”, concluiu.
 
02 de janeiro de 2013
claudio humberto

FRACASSA EXPEDIÇÃO AO ÁRTICO



Tromsø é nome pouco conhecido no Brasil. Conheci a cidade em 2000, graças à uma empresa abominável, que felizmente hoje jaz morta, a Varig. Baixinha queria gelo, neves,fjordes, e pensamos na Patagônia. Pesquisei preços e descobri que uma passagem São Paulo-Ushuaia ida e volta custava 1.500 dólares. Te importa se o gelo for ao norte? Não, não tinha objeção nenhuma. Enderecei minhas pesquisas para a Noruega. E consegui uma passagem São Paulo-Oslo-Estocolmo-São Paulo, pela Swissair... por 669 dólares. Para me levar até ali na Argentina, a Varig me cobrava mais de duas vezes o preço que a Swissair me propunha para me deixar lá na outra ponta do planeta.

Fomos em julho de 2000, no verão ártico, o que não excluía nem gelo nem neve. Tromsø, o sol da meia-noite e a Hurtigruten foram a mais fantástica viagem de nossos dias. Em 2008, repeti a viagem com a Primeira-Namorada. Em plena meia-noite, ela não acreditava no sol que aquecia e animava a cidade. Esse sol tem de cair – disse. Não vai cair. Vamos tomar mais uma garrafa de vinho e esperar pelos acontecimentos. Claro que não caiu.

O verão ártico é uma das mais tocantes experiências que pode viver quem lá não vive. Um sol paranoico percorre o planeta o dia todo, quase paralelo ao horizonte. Vontade nenhuma de dormir, pelo menos para nós, homens dos trópicos. Bares simulam noite com grossas cortinas de veludo preto. Você sai do bar a uma da madrugada e o sol lhe bate na cara. Verão ártico não exclui frio. Pode fazer zero grau e nos bares há cobertores nas cadeiras para abrigá-lo do clima estival.

E aqui entra a Hurtigruten, que em língua de gente quer dizer Rota Expressa - ou Expresso Costeiro – é uma frota de doze soberbos navios que fazem diariamente o trajeto entre Bergen, no sul do país, e Kirkenes, ao norte, já na fronteira com a Rússia. A um dia de navegação antes de Kirkenes está Tromsø, cidade universitária além do Círculo Polar Ártico, e por isso chamada de a Paris do Norte. Mas só por isso, já que fora de universidade nada tem a ver com Paris.

Os navios, quando sobem, vão entrando pelos fjordes e atracando em cidades e ilhas, o que permite aos passageiros tanto descer em qualquer porto como dar um giro pela cidade. Você também pode, se quiser, deixar o barco em uma cidade, percorrer os fjordes por terra e retomar o navio lá adiante. O passeio também é culinário, e você pode degustar o bacalhau norueguês, cujo preparo nada tem a ver com o português. Bom lembrar nestas horas que a Noruega é o quarto país mais caro do mundo, e isto você sente a cada garfada e a cada gole de vinho.

É a fórmula mais prática de viajar pela Noruega, uma tripa de país montanhoso. Mais ainda: viajando pela Hurtigruten, viajar é melhor que a viagem. O primeiro fjord é o Geiranger. Fascinante. Cachoeiras caem o tempo todo dos penhascos, de picos sempre cobertos por neves, mesmo no verão. Em determinado momento, sete cachoeiras se reúnem. São as Sete Noivas. Espetáculo de cortar a respiração. Mais adiante, os penhascos se afunilam e a largura do fjord se reduz a uns trezentos metros. Na penúltima viagem, foi precisamente neste momento em que a Força Aérea norueguesa deu sua contribuição ao show. Dois caças sobrevoaram o navio e mergulharam naquele estreito abismo. Não pode ser coincidência, pensei. Não era. Todos os dias, mais ou menos ao meio-dia, os caças voltavam para abrilhantar o espetáculo. Uma espécie de lembrete: a Noruega não tem apenas uma portentosa frota naval, mas também uma Força Aérea.

Mas se você perdeu a respiração nas Sete Noivas, guarde um restinho de fôlego para o que vem pela frente. Um pouco antes de chegar a Tromsø, na altura das ilhas Lofoten, o mais lindo dos fjordes o espera, o Trollfjorden. É pequeno, coisa de dois quilômetros. Mas a beleza é tanta que dá vontade de chorar. Vontade não, chorei mesmo. Visitei-o pela primeira vez em 2000, com a Baixinha. Eu lia no lounge do Vesterålen, quando ela desceu do convés, desesperada. “Sobe logo, nem imaginas o que está acontecendo lá fora”. Era meia-noite, uma daquelas meias-noites irreais de sol de meio-dia. Frio de lascar. Era uma espécie de cinema em 360 graus, onde era difícil saber para onde olhar. Confesso que nem no Sahara vi algo tão belo. Muito menos na Terra do Fogo. Nos foi servida uma sopa de mariscos, que aqueceu até a alma.

Desta vez, fui no inverno. O objetivo era outro, uma aurora boreal, fenômeno que ocorre nas proximidades do Círculo Polar Ártico. A economia norueguesa parece reduzir-se basicamente a três produtos: petróleo, bacalhau e auroras boreais. Acompanhado de minha fotógrafa particular e sua mãe, rumamos a Tromsø de avião, para depois descer pela Hurtigruten. Três dias na Paris do Norte, e mais outros quatro de navegação, ainda com chances das luzes do norte, como são conhecidas as auroras.

Em vão. A moça, caprichosa, não deu o ar de sua graça. Há expedições organizadas para caçar auroras. Isto é, os turistas saem em um ônibus à cata de lugares ermos e escuros, onde as luzes da cidade não atrapalhem as auroras. Se você tem o hábito de pensar à frente, já terá deduzido que a aurora caçada não será das mais brilhantes, já que só pode ser vista no escuro.

Saímos à caça de uma. A previsão do passeio era de sete horas, das seis da tarde (isto é, da noite) até a uma da madrugada. Lá pelas tantas, já perto de Kirkenes, na fronteira com a Rússia, o ônibus estacionou em um ermo junto a um fjord. Os caçadores foram convidados a sair, descendo por um arriscado declive de gelo endurecido. Antes da excursão, cada turista assina um compromisso de que está ciente dos riscos e que, em caso de acidente, terá de esperar pelo menos quatro horas por socorro.

Mal saí do ônibus, dei meia volta. A temperatura deveria estar em torno a -10º. Não havia aurora, por linda que fosse, que me fizesse deixar o quentinho do ônibus e ficar parado no meio do gelo. Perguntei ao guia quanto tempo pensavam esperar lá fora. “Toda a noite, se for preciso”. Não acreditei. Quinze minutos depois, voltavam os primeiros valentes. Por que não esperar dentro do ônibus? Quando a aurora pinta, todo mundo sai pra fora, ora bolas.

Por outro lado, bem que podiam propiciar ao turista um abrigo aquecido – uma tenda samer, por exemplo, se quisessem dar um toque local. Nada disso. Os turistas ficavam, enregelados, junto à água, esperando uma moça que não tinha pressa alguma em vir. E que, aliás, não veio. Pelo jeito, os organizadores da excursão queriam dar ao passeio um toque de aventura. Recompensa, sim. Mas só depois de muito sofrimento.

Lá pelas tantas, o motorista anunciou uma aurora. Os que estavam no ônibus puseram o nariz para fora. O guia apontava no céu lácteo uma mancha também láctea que, segundo ele, se movia. Era a aurora. Alguns turistas disseram tê-la visto. Não vi nada. Foi como se o sol girasse nos campos da Cova de Iria, em Fátima. Setenta mil portugueses disseram ter visto o sol girar. Estivesse eu lá, certamente também não teria visto nada. A aurora anunciada pelo guia me pareceu estar mais para uísque paraguaio.

Voltamos, o guia se congratulando por termos visto o fenômeno. Ateu, continuei com minha fome de auroras. Esperamos pela moça mais dois dias em Tromsø, e navegamos mais três com chances de ver uma. Nada feito.

Concluí que aurora boreal é ilusão. Isto é: aquelas gloriosas, resplandecentes, orgíacas como orgasmos múltiplos, aquelas que desejamos ver, ocorrem raras vezes no ano. No mais das vezes, vê-se apenas fiapos de aurora. Encontramos um casal que já fizera o percurso quatro noites consecutivas e nada feito. Ficar uma semana e ver uma aurora como sói é privilégio dos abençoados pelos deuses do Valhala. Digamos que você fique um mês em Tromsø. Lembre-se que a Noruega é cara e suas cidades são hostis no inverno. A cidade estará mergulhada em uma noite eterna e em ritmo de hibernação. Mesmo assim, nada garante uma aurora pra valer. Minha sugestão: deixe a moça de lado. Nenhuma mulher vale tanto. Melhor marcar encontro com ela em um planetário. Garantido e mais barato.

Uma outra atração da saison, são os passeios de trenós puxados por renas ou huskies siberianos. Já ressabiado com a caça à aurora, preferi não ir e ficar no lugar sabidamente mais aconchegante de Tromsø, o quarto do hotel. Minhas valentes foram. – 18°. Contou-me Isa que mal tirava o dedo da luva para clicar, tinha de protegê-lo de novo, para não enrijecer. Cabem algumas perguntas.

Por uma hora, sofrendo um frio do cão – sem trocadilhos – o turista se traveste de lapão. E paga caro por isto. Perguntinha que me parece procedente: será que os lapões costumavam passear alegremente na neve em seus momentos de lazer, sob estimulantes 18 graus negativos? Eu, sem ser especialista em civilizações primitivas, diria que não. Suponho que um samer só enfrentaria aquele suplício se a mãe estivesse morrendo e precisando de socorro. E isso se houvesse chance de sobreviver. Se não, nem vale a pena atrelar os cães ou as renas. Deixa a velha morrer no quentinho. O sentido de tais excursões, a meu ver, é fazer o turista sofrer, para mais valorizar o que pagou.

Em suma, minha expedição ao Ártico foi um rotundo fracasso. Mesmo assim, valeu pela estranha sensação de visitar um planeta sem sol.


02 de janeiro de 2013
janer cristaldo

O FIM DO ENLATADO AMERICANO

 

Não há como negar: a TV mudou. O que era considerado um primo pobre e mainstream da sétima arte ganhou força e hoje apresenta semanalmente uma revolução. São novos atores, roteiristas, tramas complexas e personagens únicos.
Desde a expansão dos canais americanos e a possibilidade de um orçamento mais acessível, a TV vem mostrando grandes obras, se arriscando e inovando, não só em termos de narrativa, mas de ações de marketing.
São conteúdos transmídia, Social TV, second screen, enfim, a plataforma apresenta atualmente um produto único e que reflete a multiplicidade do novo espectador.

A TV trouxe aos roteiristas a liberdade. Se antes eles eram instruídos a seguir regras e fórmulas já testadas e aprovadas pelos bambambãs de Hollywood, hoje existem inúmeras possibilidades e, acima de tudo, a presença do público segmentado.
Há uma versatilidade de tramas, personagens, arcos narrativos que são explorados aos poucos, sem a pressa e a fugacidade das bilheterias. Histórias profundas e complexas que vão sendo desmembradas a cada temporada de take em take.
Em sua plena Era de Ouro, a TV vem atraindo nomes já consagrados do cinema. Nomes como Martin Scorsese e Steven Spielberg, que deixaram suas produções milionárias para se dedicar a séries com custos menores, mas com tempo hábil para desenvolver longos diálogos e estabelecer uma relação de proximidade com o público, coisa que só acontece na TV.

Revolução assistida

A linguagem televisiva tem a pausa necessária para o espectador e o intérprete digerirem os acontecimentos.
Grandes performers, como Jessica Lange e Glenn Close, hoje nos presenteiam com interpretações brilhantes e personagens redondas com camadas profundas que casam perfeitamente com suas tramas.
E não é só de gênios já consagrados que vive a TV, afinal o que dizer de Lena Dunham? A jovem escritora acumula funções em Girls e inova ao retratar uma geração que se afoga em informações, tem a possibilidade de se conectar com o mundo, mas se sente sozinha a todo instante.

Hoje, a TV atinge sua maturidade e temos a sorte de poder desfrutar de tantas obras de qualidade. Porém, ainda é preciso conquistar o olhar sem preconceito dos estúdios e dos tão “selecionados” amantes do cinema para reconhecer que, agora, a TV está à frente. Vivemos uma revolução assistida!

***

02 de janeiro de 2013
[Daiana Sigiliano é integrante do grupo de estudos e projetos EraTransmídia dos Inovadores ESPM e jornalista]

DESREGRAS PARA UM COSMOS HUMANO

 

No livroRegras para o Parque Humano. Uma resposta à carta de Heidegger sobre o humanismo (2000), o filósofo Peter Sloterdijk defendeu os seguintes argumentos:

1) as sociedades humanas são um zoológico humano, onde as bestas expostas à visitação somos nós mesmos, de forma auto-reflexiva, de tal modo que vemos e somos vistos no parque de nossos afazeres de bestas humanas;

2) cada modelo de sociedade pressupõe um modelo de gestão de um determinado tipo de zoológico humano, de tal maneira a podermos falar em zoológico ocidental, zoológico oriental, pré-moderno, moderno;

3) o humano é uma invenção do animal humano em conformidade às instituições ou jaulas do zoológico em que se nasce e se vive;

4) o humanismo letrado diz respeito a um modelo de zoológico social, devotado ao projeto de domesticação do animal humano, tendo como referência a cultura letrada ou mais especificamente a leitura de obras produzidas pela tecnologia alfabética, eleita pela civilização ocidental como suporte gráfico de canonizados livros de literatura, de filosofia, de ciências;

5) a civilização ocidental, centro do projeto de domesticação, via escrita, do animal humano, dividiu o mundo entre civilizados e bárbaros, num contexto em que o letrado domesticado é o civilizado e o bárbaro é ou o analfabeta ou o precariamente letrado nas línguas alfabetizadas do humanismo letrado: inglês, alemão, francês, italiano, espanhol, português – línguas canônicas dos canônicos livros da metafísica da canônica prosódia, do canônico civilizado, do canônico intelectual, do canônico pretendente a domesticar e a ser domesticado pela cultura letrada da civilização ocidental;

6) o canônico civilizado da civilização ocidental é precisamente aquele animal de zoológico educado para se comportar como o colonizador civilizado do parque humano letrado em expansão planetária;

7) após o surgimento do rádio, em1914; e da TV, em 1945, a civilização ocidental abandonou o projeto de domesticação do humano, via cultura letrada, a fim de assumir, através das tecnologias midiáticas, outro modelo de zoológico para o parque humano, agora planetário, a saber: o zoológico da cultura de massa global;

8) se a antiga Grécia foi o bucólico cenário de fundação do humanismo letrado, por sua vez o Coliseu Romano, logo o império romano, é o cenário das origens do zoológico humano planetário da cultura de massa, razão pela qual, em substituição ao homem domesticado da cultura letrada, o perfil de humano onipresente no zoológico humano midiático é, ao mesmo tempo, o do domesticado expectador e o do gladiador de ringue da cultura de massa planetária: o primeiro é o passivo que sonha ser o ativo implacável matador, que é o segundo, por isso o primeiro é o expectador;

9) tal como na Roma Antiga o gladiador do parque humano da cultura de massa atual é o escravo treinado para matar sem piedade, sendo esta a sua função de fera na jaula midiática das telas de TV, de cinema, de celular, de computador, em suas primeiras, segundas, terceiras gerações tecnológicas.

Como este texto não tem o objetivo de ser uma mera resenha, aponto três ausências de humanoides não contemplados por Peter Sloderdijk, em seu livro Regras para um parque humano. A primeira ausência é possível detectá-la através das seguintes perguntas: por que domesticar o animal humano?

O que está em jogo na produção social de um perfil humano que assume a função de bárbaro, embora aparentemente passivo, espectador à procura de sangue? Qual o objetivo implícito e explícito ligado à produção de um perfil humano preparado para matar, como o gladiador – ou o soldado – numa guerra?
Por que, enfim, esses perfis de humanos sanguinários e não uma infinidade de outros possíveis, como o do solidário, o do livre humano insubmisso, preparado não para matar, mas para amar, criar, viver individual e coletivamente?

O perfil humano do oligarca

A resposta para todas estas perguntas é uma só, além de ser muito simples: produzimos zoológicos humanos nos quais a maioria de nós nos matamos, trabalhando e guerreando, sem cessar, porque temos sido devotos escravos de oligarcas, de modo que o zoológico humano ideal para estes últimos é aquele cujas jaulas ou instituições sejam eficazes para a produção geral de humanos tomados por uma servidão voluntária, tanto sob o ponto de vista individual como coletivo.

Esta é, portanto, a primeira ausência no parque humano de Peter Sloterdijk: a dos oligarcas de ontem e de hoje, com seus muitos iguais nomes parasitários: reis, sacerdotes, aristocratas, tiranos, déspotas, burgueses. O zoológico humano de Sloterdijk, portanto, tem nome próprio: Parque dos Oligarcas.

Cada período histórico, tendo em vista as grandes civilizações, constitui-se como um parque específico, como o parque dos oligarcas da civilização egípcia, grega, romana, otomana, chinesa, mesopotâmica, asteca, burguesa. De qualquer forma, essa importante ausência levou Sloterdijk certamente a outra muito mais importante que a primeira, a qual trarei à tona, tornando-a presente, através de uma única e não menos simples pergunta: qual perfil humano os oligarcas do passado e do presente tentam evitar a todo custo?

Se o principal objetivo dos parques humanos oligarcas é o a produção de perfil humano voluntariamente servil ao oligarca de plantão, disposto a trabalhar, a matar e a se matar por ele, obviamente que o perfil humano que o oligarca de ontem e de hoje esconjurou e esconjura não pode ser outro senão o humano insubmisso, disposto a romper com todas as grades das jaulas institucionais dos parques humanos oligarcas, a fim de produzir o humano como infinita potência de invenção de si e de outrem, de forma revolucionariamente dialógica, porque não concebe a expressão livre de si senão na relação promocional com a expansão igualmente livre de outrem, fora de qualquer forma de privilégio econômico, étnico, simbólico, de gênero, linguístico ou qualquer outro.

Um legado indispensável para poetas e escritores

Sob o ponto de vista dessa segunda ausência, o que Sloterdijk não considerou, em Regras para um parque humano, foi o fato de que a cultura letrada não produziu apenas humanos domesticados pela disciplina da leitura de textos escritos, mas também uma cultura dissidente, insubmissa, sobretudo no decorrer da modernidade, período histórico no qual a escrita passou a ser uma importante ferramenta de contestação política, estética e ética à medida que mais e mais pessoas iam aprendendo a ler e a escrever, tendo como referência de leitura não apenas os domesticados cânones pedagógicos da tradição ocidental, mas também livros libertários, marcados por uma alta-voltagem experimental, criativa, contestatória.
Para além do humano domesticado, a tecnologia gráfica abrigou também a livre expressão de perspectivas não oligárquicas, comprometidas com a construção de um mundo emancipado da opressão e da tutela de elites.

Defendo que a cultura letrada liberadora, contestatória, experimental agitou a modernidade capitalista até a Segunda Guerra Mundial de forma singular e incisiva, com densidade pública. O protagonismo político, estético e ético dessa cultura letrada insubmissa foi tão importante que é impossível separá-lo dos direitos civis, sociais e econômicos conquistados, através de lutas efetivamente protagonizadas por diversos povos do mundo.
Diferentemente dos argumentos de Slorterdijk, esse lado imprevisto da cultura letrada deixou de realizar a função de domesticar, passando a se comprometer com o disfuncional exercício político de liberação, emancipação, experimentação, ousando criar o não criado, pensar o não pensado, escrever o não escrito e, por consequência, mudando de forma positiva, e em perspectiva, a despótica e usurpadora face aristocrática do mundo.

Pensadores como Leibniz, Espinosa, Marx, Nietsche, Freud, Darwin e tantos outros constituem importantes personagens dessa cultura letrada insubmissa, legando para os sucessores uma herança de contestação utópica, de base revolucionária e experimental. Diferentemente das belas letras, a literatura surge como libertária contestação e, com Shakespeare, Sóror Juana de la Cruz, Cervantes, Gregório de Matos, Mallarmé, Rimbaud, Proust, Laurence Sterne,Walt Whitman, Machado de Assis, José Martín, Dostoievski – e uma profusão de outros autores – produziu um legado indispensável para as futuras gerações de poetas e escritores, tomando de assalto o melhor das vanguardas do início do século 20 e ricocheteando pelo mundo afora até os dias atuais.

O lugar da liberdade de expressão

A importância coletiva dessa cultura letrada insubmissa e experimental é tão grande que ela transbordou o campo específico da escrita, constituindo-se como uma referência dialógica benfazeja, complexa e instigante para o melhor que o cinema, a música, a pintura, a arquitetura, a política, a jurisprudência produziram no decorrer da modernidade.
Se essa cultura letrada liberadora perdeu a força experimental e libertária não é porque era natural que viesse a perdê-las, mas precisamente – e aqui compartilho com Slorterdiyk – porque o rádio e a televisão sequestraram o alcance público da cultura letrada contestatória, confinando-a a guetos e a especialistas.

Por outro lado, o rádio e a televisão não são essencialmente reacionários (e aqui me distancio de Sloterdijk) e vilãos. Defendo que o que ocorreu com a cultura letrada, com a sua democratização insubmissa, no decorrer da modernidade, pode e deve ocorrer no campo das tecnologias midiáticas. E aqui é preciso ter clareza e dar nomes aos bois.
Se as tecnologias midiáticas (a internet aponta para o retorno do melhor da cultura letrada liberadora), sobretudo considerando o rádio e a televisão, não produziram uma cultura contestatória, liberadora, experimental, emancipada, é porque está sob o despótico e inaceitável controle de oligarquias, em todo o mundo, e não apenas no Brasil.

A luta, pois, pelo retorno da cultura letrada liberadora, plena de demandas por justiças civis, sociais, econômicas, mais que nostálgica, é inseparável do destronamento do domínio oligárquico das tecnologias midiáticas. É nesse sentido, penso, que é preciso deixar claro o lugar da liberdade de expressão. Esta só existe e é realmente democratizante no campo da contestação antioligárquica.
O domínio oligárquico-corporativo da cultura midiática constitui a mais aberrante, insustentável e violenta usurpação da infinita liberdade expressiva do animal humano, capaz de se inventar não apenas como domesticado e bárbaro gladiador de si mesmo, mas antes de tudo como criativo e imaginativo autor de sua própria emancipação, em relação a quaisquer formas de jugos despóticos, oligárquicos, opressivos, assassinos.

A passividade subserviente

Se é verdade, com Sloterdijk, que a massificação da humanidade constitui o retorno do bárbaro gladiador romano e se é igualmente verdade que o retorno do gladiador romano transforma o mundo todo – porque a cultura midiática é planetária – num imenso Coliseu romano, não tenhamos dúvidas de que essa situação só ocorre porque as tecnologias midiáticas estão sob o domínio despótico de corporações oligarcas.
São estas corporações que realizam, pois, de forma consciente, o retorno da besta humana treinada para matar e rir de sua própria desgraça, enquanto o oligarca de plantão concentra mais poder, mais riquezas, mais gozo narcísico e despótico, às custas do trabalho coletivo humano, empurrando-nos ao abismo de genocídios, como temos a infeliz oportunidade de ver por todos os lados no planeta.

É, pois, o controle oligárquico dos meios de comunicação que tem transformado o planeta Terra, ele mesmo, num Coliseu romano a céu aberto, cosmologicamente tomado por satélites espias com o objetivo de esquadrinhar, guerrear e matar qualquer vestígio de contestação libertária, na atualidade.

Se, portanto, Sloterdijk omite, em seu livro, o oligarca e a contestador, ele omitiu o mais importante: a dimensão política, entendida como o lugar da livre decisão humana, em relação a seu próprio destino de ser. Embora, sob esse ponto de vista, seus argumentos teatralizem a radicalidade de um pensamento crítico humano demasiadamente humano, sem Deus, sem tutelas, sem transcendências, por outro lado a omissão da decisão política, em Regras para um parque humano, torna tal obra inevitavelmente conservadora, posto que comprometida com a premissa de que o animal humano é incapaz de se inventar de forma realmente liberadora, livre de quaisquer formas de tutelas e domínios oligarcas.

Não é, pois, circunstancial que Slorterdijk tenha omitido, após o advento das tecnologias de massa, um terceiro personagem: o homem domesticado da cultura letrada canônica, de base aristocrática, eurocêntrica. Ao argumentar que, com o advento do rádio e da televisão, o homem domesticado da cultura letrada isolou-se, perdendo sua dimensão pública protagônica, Sloterdijk omite a sua presença traidora no interior da cultura midiática que domina o planeta na atualidade.

Por acaso, a passividade subserviente e submetida aos gladiadores mundo das corporações dos personagens do mundo político no Ocidente, sobretudo na Europa e nos EUA, não é a prova cabal de que o homem domesticado que a cultura letrada ocidental produziu milenarmente não está encarnado precisamente num Obama, numa Merkel, num François Hollande, Mario Monti, Rajoy, Papandreo, Pedro Passos Coelho? Não é o mesmo mundo domesticado que prevalece no campo dos saberes institucionais do Ocidente e mesmo do mundo todo? Não são os mesmos déspotas esclarecidos, secretamente desejosos de sangue alheio, que prevalecem hoje, como autores de destaque, no mundo do cinema, da literatura, da música, da pintura e das novas formas de arte do contemporâneo?

O domínio corporativo das mídias

Com Hamlet, personagem da peça homônima de William Shakespeare, é preciso perceber que o homem pode sorrir e ser infame, sendo exatamente esse o lugar do domesticado homem das letras – político profissional ou não – no mundo midiático contemporâneo: fazer-se como o infame que sorri midiaticamente, dissimulando elegância, espírito democrático, enquanto ocupa o verdadeiro lugar do tirano, pois sorri diante dos milhões de humanos que são massacrados nas guerras bárbaras em todo o planeta, guerras marcadas pelos augúrios e auspícios de domesticadas (literalmente assumem uma função de domesticar, a qual dão o homem de guerras humanitárias) agências e instituições tais como Departamento do Estado, dos EUA, Pentágono, CIA, FMI ( no que diz respeito ás guerras financeiras), Otan e tantas outras conhecidas e secretas.

E aqui é preciso aproveitar a oportunidade a fim de realizar uma crítica ao comportamento e, por consequência, às escolhas realizadas por boa parte das esquerdas contemporâneas, principalmente as que se autodenominam de radicais, no contexto não apenas brasileiro, mas mundial. Tal crítica não tem como objetivo desqualificar de forma maniqueísta, a partir de hierarquias do tipo a verdadeira esquerda e a falsa esquerda.
 Todos erramos. Assumir nossos erros não é de forma alguma uma diminuição de nosso valor de revolucionários, mas a própria essência do espírito revolucionário, que necessita pensar e agir com unidade a partir mesmo das diferenças de perspectivas, rechaçando tanto os incestos das linhas partidárias dogmáticas, como os ódios edípicos.

Dito isso, acredito que a esquerda do mundo pós-moderno tem errado não por má-fé, mas porque é herdeira do Iluminismo, sobretudo de sua versão francesa, diretamente vinculada à Revolução Burguesa de 1789.
Não sou daqueles que defendem o fim dessa herança, decretando seu anacronismo. Penso que as propostas de um mundo marcado pelos ideais de igualdade, de liberdade e de fraternidade continuam mais atuais do que nunca, pois simplesmente são as que nos têm faltado.

Minha crítica deriva da observação ou argumento de que a herança Iluminista foi domesticada pelo eurocentrismo da cultura letrada oligárquica do Ocidente e é precisamente a sua dimensão domesticada que está sendo explorada pelo imperialismo americano e europeu na atualidade, seja no seu aspecto evidentemente bélico, a invadir países usando o pretexto de guerras fundadas em supostas razões humanitárias (leia-se iluministas), seja no seu aspecto midiático, pois tendemos a ser complacentes com o domínio oligárquico das tecnologias midiáticas, ancorados que estamos na boa-fé de que devemos respeitar a liberdade de expressão, enquanto que é precisamente em nome da liberdade de expressão, que instigou e produziu o melhor da cultura radical e contestatória das esquerdas, no decorrer da modernidade, que devemos nos opor claramente ao domínio corporativo das mídias no capitalismo contemporâneo.

As alegrias infames dos famosos midiáticos

Penso que a esquerda radical do mundo está, portanto, referendada pelo Iluminismo domesticado, de base eurocêntrica, a serviço do gladiador-mor da atualidade, o imperialismo ocidental. É por isso que tal esquerda apoiou a invasão da Líbia, assim como está apoiando a invasão imperialista da Síria e apoiará, se ocorrer, a invasão do Irá, não sendo casual que não se questione verdadeiramente sobre as edições midiáticas oligárquicas dos acontecimentos belicosos do mundo contemporâneo, principalmente no que diz respeito à Primavera Árabe, mas também ao massacre dos palestinos pela, a um tempo, domesticada e predadora ideologia sionista – os mais antissemitas dentre os antissemíticos.

Esse foi também o erro do governo Lula da Silva no Brasil e tem sido igualmente o erro principal do governo de Dilma Rousseff: acreditar que a oligarquia midiática esteja, minimamente que seja, a serviço da liberdade de expressão, num contexto em que verdadeiramente o que ela faz e tem feito é fomentar diariamente o Caldeirão do Huck da versão brasileira do bárbaro mundo do Coliseu midiático planetário, que não vive sem reificar sanguinários gladiadores, aplaudindo-os como os heróis matadores da atualidade.

A cultura letrada de base contestatória, libertária, experimental que a modernidade produziu constitui um indispensável arquivo para a radicalização democrática da cultura midiática oligárquica que domina o planeta, na atualidade. Através dela podemos, por exemplo, aprender, com Marx e Engels, “que tudo que é sólido se desmancha no ar” e que a única solidez das mídias corporativas, que transformam o planeta todo num Coliseu romano, é a das alegrias infames dos famosos midiáticos; e infames porque não passam de intervalos de propaganda de dentifrício entre um massacre que já ocorreu e a nova real cena de morticínio que ocorrerá, no thriller escrito pelas domesticadas oligarquias da sociedade do espetáculo em que vivemos.

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02 de janeiro de 2013
[Luis Eustáquio Soares é poeta, escritor, ensaísta e professor de Teoria da Literatura na Universidade Federal do Espírito Santo]

INFLAÇÃO DE KIRCHNER FOI A 164% EM 5 ANOS


Inflação na Argentina foi de 164% nos últimos 5 anos, diz fundação. Relatório apresentado pela Libertard y Progreso analisa índices desde o início do primeiro mandato de Cristina Kirchner; já os dados oficiais indicam resultado inferior a 45%
 
BUENOS AIRES - A Fundação Libertard y Progreso anunciou em um relatório que a inflação acumulada nos últimos cinco anos na Argentina, desde o início do primeiro mandato da presidente Cristina Kirchner, foi de 164%. De acordo com os dados oficiais, elaborados pelo Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), a inflação argentina acumulada nesse período sequer alcançou os 45%.
Os economistas da fundação afirmam que o governo não pode argumentar que a alta de preços é definida pelos custos internacionais, já que desde 2007 os preços do petróleo caíram 6%, enquanto que o trigo teve uma queda de 2%. Além disso, destacam que o índice de commodities da Dow Jones e da UBS aumentou 23% nessa meia década.

"Se a inflação estivesse determinada por fatores externos, deveríamos esperar que não atingissem apenas a Argentina, mas também todos os países da região. No entanto, não foi isso que aconteceu", sustenta o relatório.

Maquiagem. Segundo os analistas econômicos, a inflação argentina é maquiada desde que o Indec ficou sob intervenção federal em janeiro de 2007, logo após o fracasso da política do então presidente Néstor Kirchner (2003-2007) de congelar os preços.

Os analistas econômicos sustentam que o Indec anunciaria nos próximos dias que o ano 2012 foi encerrado com uma inflação "oficial" inferior a 10%. No entanto, consultorias econômicas, associações de defesa dos consumidores e sindicatos sustentam que na realidade, 2012 teve uma inflação "real" superior a 25%.

Para 2013 o governo calcula uma inflação de 10,8%, enquanto que os economistas preveem que o ano que inicia terá uma escalada de 27% ou 28%.

Mas, enquanto isso, segundo uma pesquisa elaborada pela Universidade Di Tella, os argentinos possuem expectativas inflacionárias mais elevadas, pois temem que nos próximos 12 meses a alta de preços supere os 30%.

Golpistas. No entanto, durante sua recente visita à Universidade de Harvard, EUA, a presidente Cristina Kirchner menosprezou os cálculos das consultorias e disse que se o país tivesse uma inflação de 25% "a Argentina explodiria".

A presidente e seus ministros e secretários aplicam os adjetivos de "desestabilizadores" e "golpistas" para os economistas, sindicalistas e políticos que contradizem os índices oficiais de inflação.

As consultorias econômicas estão proibidas de divulgar suas estimativas próprias de inflação sob o risco de serem multadas pelo secretário de comércio interior, Guillermo Moreno. Por esse motivo, nos últimos dois anos os parlamentares da oposição elaboram um índice alternativo, com base nos cálculos das principais consultorias da city financeira portenha.

02 de janeiro de 2013
Ariel Palacios, correspondente de O Estado de S.Paulo

QUANDO O HUMOR DESENHA A REALIDADE

5,74%?! ALGUÉM ESTÁ MENTINDO PARA MIM...

02 de janeiro de 2013

"TALVEZ O JEITO SEJA MESCLAR CHAMPOLIM COM DE GAULLE"

 
Ao longo do ano que terminou anteontem, o de 2012, brilhou a estrela do Supremo Tribunal Federal (STF) no céu da Pátria, acostumada aos brilharecos de marketing do Poder Executivo e aos buracos negros do Legislativo, que, apesar de representar o cidadão, continua de mal com ele, segundo pesquisa do Ibope.

Estreante na pesquisa, o órgão máximo da Justiça superou a própria em prestígio - o que é natural, e até óbvio, porque, enquanto a instituição absorve golpes no plexo pela lerdeza e pela parcialidade, citados pelo novo presidente, Joaquim Barbosa, na posse, a Corte maior foi festejada pela publicidade explícita de um julgamento arrasa-quarteirão, o do mensalão.


A discussão em torno de um nome, um voto - do ministro Luiz Fux -, contudo, terminou por abrir, antes das festas de Natal e da virada do ano, uma discussão sobre um flanco, se não aberto, pelo menos mal vigiado, do Supremo, o que não põe em risco sua supremacia, mas em debate sua independência.

A indicação do nome dos 11 membros do STF por decisão solitária do chefe de outro Poder, o presidente da República, poderia levantar suspeitas quanto à isenção dos indicados, apesar de serem estes sempre submetidos à arguição de uma das Casas do Congresso, o Senado? A decisão do Supremo de contrariar duas vezes - ao não adiar o julgamento, que já tardava sete anos, a pretexto da iminência das eleições municipais, e condenar seus companheiros de partido e churrasco - o ex-

Dos 11 ministros que deram início à maratona, 7 foram indicados por Lula ou por Dilma, sua correligionária do Partido dos Trabalhadores (PT), sua aposta solitária na campanha sucessória e sua ex-chefe da Casa Civil. Como arguir qualquer suspeição se o relator do processo e o responsável pela mediação das votações, o presidente, foram indicados - de fato nomeados, porque nunca o Senado faz qualquer objeção às indicações presidenciais - por petistas de carteirinha?

A fidelidade canina com que o revisor, Ricardo Lewandowski, e outro ministro, Dias Toffoli, se opuseram aos votos da maioria é exceção que, longe de negar a regra geral do modelo traçado pelo colegiado de magistrados, a confirma. A discussão, tornada pública pelo próprio Luiz Fux, em torno de insinuações malévolas a respeito de eventual compromisso previamente assumido por ele de absolver réus petistas no processo também serve menos para fragilizar sua posição de julgador.

E mais para condenar quaisquer tentativas de subordinar a decisão de um ministro à gratidão por quem o investiu no cargo. Este é vitalício e, portanto, infenso a quaisquer retaliações de outros Poderes e poderosos.

Talvez por pretender defender-se dessas maldades, Sua Excelência deu entrevista a Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo, na qual narrou seu périplo por gabinetes importantes na República para obter apoio à sua indicação para o topo da carreira, primeiro pelo ex-presidente Lula, depois pela presidente Dilma. Chegou a ser publicada afirmação atribuída a Lula de que desconfiava de alguém com apoios da direita, Delfim Netto, czar da economia na ditadura, e da esquerda, João Pedro Stédile, chefão do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

A afirmação do guru petista é falaciosa, pois os extremos foram procurados pelo fato óbvio de que tinham amplo acesso a seus pavilhões auriculares. Além do mais, pouco tempo depois, ele foi fotografado beijando a mão de outro egresso da ditadura, Paulo Maluf, no jardim de sua mansão, para obter o apoio dele à campanha municipal paulistana do petista Fernando Haddad, como Dilma, uma aposta de altíssimo risco que acabou ganhando.

A procura de apoio ecumênico às pretensões de alguém no Brasil remonta à época dos "pistolões", que decidiam desde a nomeação de delegados de polícia no interior até o preenchimento de vagas no ensino superior.

O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, informou que Fux lhe dissera que "não havia provas" contra os réus do mensalão e que sua atuação seria "muito clara". São truísmos que nada elucidam e lembram a máxima de Chacrinha:

"Eu não vim para explicar, mas para confundir". O próprio Fux já havia dito antes que se surpreendera com a quantidade de provas e nenhum brasileiro que o viu atuar no julgamento poderia acusá-lo de falta de clareza. Mas não é bem disso que estamos tratando aqui e, sim, da forma da escolha dos membros do colegiado ao qual são submetidos os julgamentos finais em casos de violação da ordem constitucional.

A cândida confissão de Carvalho reforça a sensação de que os figurões federais foram surpreendidos com a aplicação pelos ministros do STF da mistura de frases de Chapolim - "eles não contavam com minha astúcia" - e de Charles de Gaulle - "a maior virtude de um estadista é a ingratidão". O PT, habituado a subordinar tudo - do Banco do Brasil ao Tribunal de Contas da União (TCU) -, dava como favas contadas o aparelhamento do topo do Judiciário pela força da gravidade. E quebrou a cara.

Agora tenta desqualificar o Supremo levantando suspeitas sobre a campanha pela indicação que os eventuais candidatos à boa vaga fazem. Trata-se de uma ignomínia! Não há alternativas à vista: indicação pelo Congresso? É brincadeira! O Senado nem dá conta da sabatina, vai dar conta da indicação? Além do mais, o Congresso nomeia os membros do TCU.

Recentemente, indicou Ana Arraes e o sobrenome ilustre não a impediu de tentar ajudar a companheirada considerando lícitas manobras de Marcos Valério, réu do mensalão condenado por unanimidade! E que tal a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)? Ou as associações de juízes? Aí, meus amigos, seria o caso de seguir a receita de Dilma para apagões: gargalhar.

Talvez a saída seja deixar como está e esperar que o cargo vitalício inspire a independência do julgamento do ocupante.

02 de janeiro de 2013
 José Nêumanne, O Etado de S.Paulo

QUANDO O HUMOR DEBOCHA DA REALIDADE




02 de janeiro de 2013
 

A NOTÍCIA MAIS INTRIGANTE DE 2012: ESTUDOS SOBRE O CÉREBRO DE EINSTEIN PODEM EXPLICAR SUA INTELIGÊNCIA FORA DE SÉRIE


O estudo dos pesquisadores Dean Falk, Frederick E. Lepore e Adrianne Noé, da Universidade do Estado da Flórida e Museu Nacional de Saúde e Medicina dos Estados Unidos, foi publicado originalmente pela revista médica “Brain”, em novembro, e repercutiu em jornais, revistas, rádios e televisões do mundo inteiro.


Eintein era mesmo diferente

Após a morte de Einstein em 1955, seu cérebro foi removido e fotografado de diversos ângulos, com a permissão de sua família. O órgão foi seccionado em 240 blocos, a partir dos quais foram preparadas lâminas histológicas – mas a maioria das fotografias, blocos e lâminas ficou perdida por mais de 55 anos. As 14 fotografias usadas pelos pesquisadores estão agora em poder do Museu Nacional de Saúde e Medicina dos Estados Unidos.

Os três cientistas estudaram minuciosamente14 fotografias tiradas do cérebro de Albert Einstein logo após sua morte, que mostram características incomuns. As imagens, nunca divulgadas e analisadas antes, apontam para uma maior complexidade do córtex cerebral do físico alemão. Essa região do cérebro, rica em neurônios, é responsável pelo processamento neural mais sofisticado.

O cérebro de Einstein tem um córtex pré-frontal extraordinário, o que pode ter contribuído para os substratos neurológicos que lhe deram suas conhecidas habilidades cognitivas.

O antropólogo Dean Falk, da Universidade do Estado da Flórida, afirmou que as imagens foram comparadas com fotos de 85 cérebros humanos considerados normais. A maioria das fotografias descobertas foi tirada de ângulos incomuns e mostram estruturas que não eram visíveis nas imagens que já haviam sido divulgadas.

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DIFERENÇAS

De acordo com Falk, o achado mais surpreendente diz respeito à complexidade e ao padrão de concavidades e saliências do córtex cerebral de Einstein.
De acordo com os pesquisadores, esses complexos padrões podem ter sido responsáveis por dar à área cerebral uma grande superfície — o que pode ter contribuído para o desenvolvimento das habilidades cognitivas de Einstein.

Uma particularidade do cérebro do físico está na região somatossensorial, responsável por receber informações sensoriais do corpo. Nela, o lado correspondente à mão esquerda é mais expandido.
Os pesquisadores acreditam que isso pode ter contribuído para suas realizações ao tocar o violino, por exemplo.
Os lóbulos parietais (parte superior do cérebro) de Einstein também são incomuns e podem ter fornecido algumas das bases neurológicas para suas habilidades visuais, espaciais e matemáticas.

02 de janeiro de 2013
Carlos Newton

...EM CIDADE DE DEUS


Imagem 2680Corria o ano de 1966 e, naquela época, nosso editor chefe, por acaso, tinha sido nomeado o primeiro administrador da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro (muito antes do filme).

O lugar era tão “calmo”, que a polícia evitava ir até lá. Quem resolvia os casos era ele, sendo 90% deles de marido enfiando porrada na mulher, sem fazer miséria. Tinha um que foi muito especial.

O casal tinha uma filha de uns 3 anos e um bebê. O povo no bar enchia o saco do sujeito dizendo que o bebê não era dele. E ele, chegando em casa bêbado, todos os dias, batia na mulher.

Uma vizinha, dna Zulmira, era quem apartava as brigas. Naquele dia, a briga foi mais feia, e dna Zulmira mandou chamar o administrador.
Ao chegar, ele viu dna Zulmira encostada na janela, junto com a menina de 3 anos, e o pau comendo solto.

De repente, ele vê o bebê voando fora pela janela. De pronto, dna Zulmira agarra-o no ar, com uma habilidade tal de fazer inveja ao Gilmar.
E a menina de 3 anos, que estava ao lado, ao assistir a cena, exclamou:
Calaio!

02 de janeiro de 2013
Magu

A MANOBRA DA CARRETA

Estávamos justamente comentando sobre o quanto de coisa esquisita acontece por ali. O que há de mais inusitado só deixa para desaguar em Palmares. Aos pouquinhos, os meninos começaram a descer, primeiro devagar e depois às carreiras, no rumo do Colégio das Freiras.
A seguir, os homens e, logo após, também as mulheres se desembestaram para engrossar a multidão. Curiosos, já prenunciando mais uma, largamos a cerveja e nos dirigimos ao local.
De longe, avistamos uma enorme carreta, desses com 18 pneus, metade numa rua e metade em outra. Pensamos em atropelamento ou batida e apressamos o passo.
Uma dona-de-casa nos ultrapassou com um menino encangado nas ancas e arrastando mais três pela mão. Suava e recomendava pressa às crianças:
- Se nós não se avexa, num dá tempo de vê.

Um sapateiro passou correndo, nu da cintura para cima, óculos de grau, e segurando um sapato no qual estivera trabalhando até que avistara a carreta. Era gente de entupir a rua. Chegamos, nos integramos à multidão e, depois de nos inteirarmos do assunto, sentamos nos degraus da porta de uma venda que havia em frente e mandamos descer uma cerveja para, assim bem acomodados, podermos assistir ao espetáculo.

A carreta estava vindo do sul do país, tinha placa do Paraná, com uma carga para Natal. Ao passar em Palmares, ao invés de seguir por fora da cidade, na outra margem do rio, rumo ao Recife, o motorista resolvera entrar naquela terra diferente, e aí começou a novela. A carreta, gigantesca e pesada, entupia as ruas estreitas e desiguais. Até que, chegando no oitão do Colégio das Freiras, tentou entrar na Rua Coronel Izácio e entalou: nem pra frente, nem pra trás.

A multidão ia aumentando e ajudava a manobra aos gritos:
- Mais pra frente!
- Vai bater no muro!
- Pra trás uma beirinha só…

O motorista suava na cabina e parecia assustado com a multidão. Diabo de terra que juntava gente para ver uma carreta manobrar! De vez em quando, ele descia e se juntava ao povo para tirar medidas e verificar suas chances de sucesso na manobra. Os motoristas da cidade estacionavam seus carros e vinham, solícitos, prestar solidariedade ao colega.

Milímetro a milímetro, para frente e para trás, a carreta se enroscava cada vez mais, e a multidão não parava de crescer e opinar. O sapateiro se espantava e examinava a placa com seus óculos de grau:
- Dezoito “pnéis”. Apucarana, Paraná. Tá é fodido. Sim, senhor…

Alguns especulavam sobre a carga, bem protegida por uma lona. Os meninos se penduravam na carroceria, e as mulheres soltavam gritinhos quando a carreta se encostava perigosamente no muro das freiras.
O meu amigo mineiro estava extasiado e, enquanto tomava cerveja, também ajudava na manobra, gritando junto com a multidão.

- Vai que dá! Aí tá bom, agora pra trás.

Um tempo comprido, sem conta. A rua completamente tomada, pelo povo e pela carreta. Aos poucos, o motorista foi conseguindo completar a manobra. O suor gotejava em seu rosto; tirava a camisa e cavalgava sua máquina de peito nu.
De repente, um grito uníssono escapou da boca de todos:
- Conseguiu!

Uma salva de palmas irrompeu espontaneamente junto com os gritos de viva. O motorista endireitou a carreta na beira do meio-fio e vestiu a camisa. Subiu no estribo e olhou a multidão. Nova salva de palmas. Ele acenou e olhou para o relógio, calculando o atraso.

A carreta foi-se arrastando lentamente, até sumir no fim da rua.
Meu amigo olhava espantado a multidão se dissolvendo entre comentários e risos. Embicou o último copo de cerveja e me tomou pelo braço:
- É mais espantoso ainda do que o que você diz.

(Do livro “A Prisão de São Benedito”, edição de 1982)

02 de janeiro de 2013
Luiz Berto
in giulio sanmartini

LULA FALTA À CERIMÔNIA DE POSSE DO PUPILO FERNANDOHADDAD PARA MAIS UMA VEZ FUGIR DA IMPRENSA

 

(Foto: Fábio Braga - Folhapress)

Fugindo da raia – A situação de constrangimento de Luiz Inácio da Silva, por causa dos escândalos de corrupção que o atingem, é tão grande, que o ex-presidente foi obrigado a sair pela por dos fundos de um hotel espanhol, depois de atravessar a cozinha do estabelecimento, para evitar os jornalistas que o aguardavam na porta principal.

A menção do seu nome nos escândalos foi suficiente para o cancelamento de algumas palestras que o ex-metalúrgico faria em vários países, o que mostra que as consequências são imprevisíveis.

Sem ter dado qualquer explicação aos brasileiros sobre o esquema de corrupção e tráfico de influência desbarato pela Polícia Federal, na Operação Porto Seguro, e que funcionava com seu conhecimento, Lula ainda é alvo de Rosemary Noronha, integrante da quadrilha e que se apresentava como namorada do petista.

A proximidade de Rosemary, a Marquesa de Garanhuns, com a cúpula do poder petista ficou evidente nos dois telefonemas que fez tão logo a PF chegou ao seu apartamento. A ex-chefe de gabinete do escritório da Presidência em São Paulo, mantida no cargo a pedido de Lula, telefonou para José Dirceu e para o ministro da Justiça, José Eduardo Martins Cardozo.

Percebendo a extensão do estrago provocado pelos seguidos casos de corrupção, o PT deflagrou na última semana do ano uma operação para blindar Lula, evitando que o mesmo seja investigado pelo Ministério Público Federal ou acabe como alvo de uma CPI no Congresso Nacional.

A gravidade do momento enfrentado por Lula é de conhecimento de muitos e ficou evidente com a decisão do ex-presidente de não comparecer à posse de Fernando Haddad como prefeito da cidade de São Paulo. Haddad, que imposto como candidato por Lula, escapou de uma saia justa que certamente estragaria a solenidade de transmissão do cargo, pois Lula inevitavelmente seria cobrado pela imprensa.

A assessoria do Instituto Lula informou que o petista não compareceu à cerimônia porque está em viagem com a ex-primeira-dama Marisa Letícia. Quando voltar, Lula terá de levar a namorada para passear, até porque um relacionamento de duas décadas não pode ser mandado pelos ares da noite para o dia.

02 de janeiro de 2013
ucho.info

PRESIDENTE DO PT, RUI FALCÃO, ADERE AO PLANO PARA SALVAR LULA E FALA EM "PRÁTICAS EQUIVOCADAS"

 


Novo defensor – Preocupado com o desdobramento dos recentes escândalos envolvendo a legenda e o próprio Lula, o PT, como já noticiou o ucho.info, começa a adotar um discurso mais brando para evitar que o ex-presidente seja alvo de investigações, como quer a oposição.

Presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, Rui Falcão, que até outro dia afirmava que o Mensalão foi um golpe e criticava setores da imprensa e o Judiciári por isso, agora fala em “práticas equivocadas”. “O principal [erro] foi, em alguns momentos, termos enveredado por práticas comuns a outros partidos, mas que o PT não deveria ter se enveredado por elas”, declarou Falcão.

“Vamos fazer uma iniciativa forte, quem sabe até com a coleta de assinaturas nas ruas, para realizarmos a reforma política, principalmente com o financiamento público exclusivo das campanhas [eleitorais]“, completou o presidente dos petistas.

Quem ninguém se deixe levar por esse discurso oportunista e maroto, porque o PT partidarizou a máquina federal e não consegue viver longe da corrupção. Trata-se de uma estratégia criada por marqueteiros nababescamente remunerados, para que a opinião pública seja enganada e passe a ter compaixão pelos integrantes da legenda que protagonizou o período mais corrupto da história nacional.

Mesmo que Rui Falcão, em nome dos companheiros, esteja fazendo uma mea culpa, os crimes cometidos até agora devem ser investigados, começando pelas recentes denúncias de Marcos Valério, que acusou Lula de saber do esquema do Mensalão do PT e de ter autorizado os empréstimos bancários para a compra de parlamentares no Congresso Nacional.

Fora isso, no balaio das investigações deve ser inserido o “Escândalo de Rosemary”, a Marquesa de Garanhuns, que estava no topo de uma organização criminosa desbaratada pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro. A ousadia de Rosemary Noronha era tamanha, que ela não apenas falava em nome de Lula, mas se apresentava como sua namorada.

Um dos líderes do esquema e indiciado criminalmente pela PF, Paulo Vieira já avisou que não sairá do escândalo como único culpado e ameaçou falar o que sabe, inclusive revelando os nomes de políticos e autoridades que participavam do esquema de venda de pareceres técnicos em agências reguladoras e órgãos do governo federal.

A fala de Rui Falcão, de encomenda, diga-se de passagem, é o mais novo capítulo da epopeia petista para salvar Lula. O primeiro a puxar a fila foi o ministro José Eduardo Martins Cardozo, da Justiça, seguido pelo governador do Rio Grande do Sul, o petista e peremptório Tarso Genro. Esse é mais um rapapé que o PT tenta aplicar nos incautos brasileiros.

02 de janeiro de 2013
ucho.info

EVO MORALES É O MAIS NOVO INTEGRANTE DA FARSA QUE ENVOLVE O DITADOR HUGO CHÁVEZ

 


Capítulo inédito – Mais um cinzel da esquerda latino-americana entra em cena para ajudar a esculpir a notícia da morte de Hugo Chávez, que ainda não foi liberada por razões diversas.

Depois de informações desconexas nas últimas horas, por parte de autoridades venezuelanas, agora é a vez do índio-cocalero Evo Morales, presidente da Bolívia, a falar sobre o tema e lamentar o estado de saúde do líder bolivariano.

Nesta quarta-feira (2), Evo Morales afirmou que a situação de saúde de Chávez é “muito preocupante”. “Tomara que em breve possamos vê-lo e acompanhá-lo, mas a situação é muito preocupante”, afirmou Evo Morales em entrevista concedida na Colômbia.

A declaração de Morales é no mínimo estranha, porque o serviço secreto da Colômbia tem informações seguras de que Chávez não resistiu à septicemia. Fora isso, um ex-agente da CIA, cubano que reside em Miami, confirmou ao ucho.info que são quase nulas as chances de o tiranete venezuelano ainda estar vivo, de acordo com informações recebidas de Havana.

Entre as razões que postergam o anúncio da morte do ditador está a necessidade de o núcleo do governo venezuelano costurar um acordo com o Exército e com a Assembleia Nacional que garanta a eleição do vice-presidente Nicolás Maduro em nova eleição a ser convocada em breve.

Outro motivo para adiar a informação é a preocupação de frequentadores do Palácio Miraflores em relação à possibilidade de uma guerra civil, protagonizada entre partidários de Chávez e oposicionistas.

A derradeira razão é que o governo cubano precisa selar um acordo com Nicolás Maduro, garantindo que os petrodólares que nos últimos anos têm recheado os cofres da ditadura comandada pelos irmãos Castro continuem chegando à ilha caribenha. Se isso não ocorrer, Cuba pode entrar em colapso econômico em questão de meses.

A manobra que está sendo pilotada pelas autoridades venezuelanas em relação ao falecimento de Hugo Chávez nos obriga a voltar na história e recordar a morte do cardeal Albino Luciani, o papa João Paulo I.

Pouco mais de um mês após Luciani assumir o pontificado, o vaticano divulgou a informação que o papa falecera em razão de um enfarto fulminante.
O editor do ucho.info teve a oportunidade de ver o corpo do então sumo pontífice antes da maquiagem funerária e sua aparência era esverdeada. João Paulo I morreu por envenenamento, apenas porque ousou acabar com a bandalheira que reinava nos intramuros da Praça São Pedro.

Meses depois da morte de Albino Luciani, estourou o escândalo do Banco Ambrosiano, instituição financeira do Vaticano que funcionava como lavanderia de dinheiro para a máfia turca e a maçonaria italiana.

02 de janeiro de 2013
ucho.info

DOM SEBENTUS E SUAS DUAS PRIMEIRAS DAMAS


Marsisa: A Premera Muda
O Brasil mais uma vez inova em matéria de democracia confusa.
Nem Jorge Amado criou um personagem tão bizarro quanto D. Sebentus e suas duas mulheres.

É um dos poucos, ou talvez, o único país democrático cristão do planeta que tinha duas primeiras damas.
A oficial, Marisa Letícia, a Prêmera Muda, que nada sabia, nada via e nada falava.
E a outra.
Rosemary Noronha, a premera Trampolineira, a que tudo sabia, tudo ouvia e de tudo fazia.
Em comum entre as personalidades apenas o amor ao cartão corporativo da presidência da república onde gatavam sem dó.

Se uma das duas um dia, resolver abrir a boca e contar tudo que sabe....PHODEU!!!

Rose: A Premera Trampolinera
Te cuida, Sebento!!!
 
02 de janeiro de 2012
omascate