"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 19 de março de 2012

ANOTAÇÕES POLÍTICAS DO SEBASTIÃO NERY

HISTÓRIA DE UMA MENTIRA

RIO – 1. “Meu adversário não é o presidente Sarcozy. Nosso verdadeiro adversário são os bancos, é o mundo das finanças”.

Quem disse isso não foi um radical candidato do PCF (Partido Comunista Francês) à presidencia da França. Foi o moderado François Hollande, do Partido Socialista, disparado à frente nas pesquisas, para 25 mil pessoas, no comicio de lançamento de sua candidatura.

2. - “O capitalismo faliu a sociedade, perdeu o senso moral, o compasso moral. Precisamos redesenhar o modelo, parar com a ganância. O setor financeiro está matando a economia real”.

Quem falou não foi um sindicalista de extrema esquerda. Foi Sharan Burrow, secretaria-geral da Confederação Internacional de Sindicatos”.

CAPITALISMO
3. – “O capitalismo está arriscado a falhar porque perdemos a visão das falhas operacionais da gula desenfreada. Estamos dando as costas a uma grotesca piora da desigualdade de renda e intencionalmente continuando a cortar beneficios sociais... Nossas políticas são cada vez mais perniciosas. Alteramos completamente decisões políticas, no maior lance dos lobbies, e permitimos que os interesses financeiros passem por cima dos controles reguladores”.

Isso está no “Financial Times”, uma das bíblias do sistema financeiro internacional e foi escrito e assinado pelo economista Jeffrey Sachs, professor da Universidade de Columbia, de Nova York, durante o Fórum Economico Mundial, o BBB (Big Bordel do Bial), cabaré universal dos bancos, que se reune uma vez por ano, em Davos, na Suíça.

DIVIDA EXTERNA

E no Brasil? A dívida externa brasileira, em novembro de 2011, era de US$ 301,5 bilhões, informa o Banco Central, em nota à imprensa. Já as reservas internacionais, no mesmo período, atingiram US$ 352,1 bilhões.

Os números demonstram que as reservas superam nossa dívida externa total. A mentira do governo brasileiro é afirmar que a dívida externa foi paga, como incutiu na mente da imensa maioria da população. Nada mais falso, enganador e mistificador.

Segundo o Banco Central, a corrida por dólares no mercado internacional vem gerando a maior expansão da dívida externa brasileira desde a década de 1970: entre 2009 e abril de 2011, a dívida externa brasileira cresceu 42,4%, passando de US$ 198,3 para US$ 300 bilhões.

A falácia da quitação da dívida externa não resiste aos fatos. É demagogia barata induzir a sociedade a acreditar que as reservas internacionais quitaram a dívida externa. O fato de as reservas superarem o montante global da dívida não significa que ela foi liquidada.

Reservas internacionais servem para garantir confiabilidade da comunidade financeira internacional ante turbulências externas. No caso brasileiro, segundo o Banco Central, o passivo externo bruto alcançou, em 2011, US$ 1,43 trilhão, cerca de quatro vezes mais que o total das reservas internacionais. Nos últimos seis anos, esse passivo foi triplicado, gerado pelo crescente déficit em transações correntes.

DIVIDA INTERNA

A verdadeira dívida pública é a interna. Ela ganhou velocidade nos dois últimos governos. Quando Fernando Henrique assumiu, a dívida interna era de R$ 62 bilhões. Ao passar o poder para Lula já era de R$ 687 bilhões. O aumento da dívida interna no governo FHC teve o seu maior montante no fato de a União ter assumido a dívida de todos os Estados brasileiros numa ampla renegociação no pacto federativo. No governo Lula, ao seu final, atingia R$ 1,9 trilhão. Cresceu mais de R$ 1,1 trilhão. E, por cauda dela, o pais pagou, no ano passado, mais de 360 bilhões de juros.

O endividamento público para comprar as reservas internacionais teve papel preponderante nesse crescimento. O governo toma dinheiro emprestado no mercado financeiro para comprar dólares destinados às reservas internacionais. Vale dizer, não é uma “riqueza sólida” acumulada, é contrapartida de uma dívida. O economista Marcos Mendes é didático:

- “Quando o governo compra dólares, ele aumenta o seu passivo (pelo aumento da dívida interna) e o seu ativo (pela compra de dólares). Significa que a dívida líquida (passivo menos ativo) não se altera.”

PREJUIZO

A diferença entre os juros que o governo paga pelos recursos que toma emprestados para comprar as reservas que incidem sobre a dívida interna e os juros que remuneram as reservas internacionais é imensa. Em 2010, o Departamento Econômico do Bradesco avaliou um custo fiscal de R$ 46 bilhões. O custo efetivo de captação foi de 11,83%, enquanto a rentabilidade das reservas foi de 1,9% ao ano. O prejuízo está aí.

Dois terços das reservas estão aplicadas em títulos do Tesouro dos Estados Unidos. A diferença entre o custo médio dos passivos do Banco Central e a rentabilidade das reservas internacionais atingiu aquele prejuizo fiscal de R$ 46 bilhões em 2010. É a historia de uma mentira.

MAS É NA POLÍTICA QUE ELE VEM SE REVELANDO...

COPA 2014 - O ROMARIO , NINGUEM PODE NEGAR , FOI UM TREMENDO JOGADORDE FUTEBOL, FOI DOS MELHORES, MAS É NA POLITICA QUE ELE VEM SE REVELANDO.

Romário fala sobre a Copa do Mundo de 2014: “Esta palhaçada vai piorar quando faltar um ano e meio para o Mundial. O pior está por vir porque o governo deixará que aconteçam as obras emergenciais, as que não precisam de licitações. Ai vai acontecer o maior roubo da história do Brasil”, disse Romário em sua página no Facebook.

Eis sua nota oficial na íntegra:

- “Tem coisas que só existem no nosso País, ou melhor, só acontecem no nosso País. O presidente da FIFA vem ao Brasil e se encontra com a presidente Dilma. Até ai perfeito! Nesse encontro estão presentes Aldo Rebello, ministro dos Esportes, ok; Pelé, embaixador honorário do Brasil para a Copa do Mundo de 2014, ok; Ronaldo, conselheiro do Comitê Organizador Local (COL), ok.

- Só uma pergunta: qual dessas pessoas tem a ver com a Lei Geral da Copa?
Nenhuma. O presidente da comissão da Lei Geral da Copa, Renan Filho, não estava lá. O relator da Lei da Copa, Vicente Cândido, também não. O presidente da Casa onde será votada a lei, Marco Maia, também não estava presente. E muitos outros que tem muito a ver com a Lei Geral da Copa, não estavam presentes.

Na minha concepção de político, a política vai de mal a pior. E o povo tem total razão de reivindicar e cobrar principalmente mais seriedade e responsabilidade das pessoas que têm autonomia para decidir coisas importantes como essa (Copa do Mundo).

Não vou me aprofundar muito, mas é uma pena, ouvir nas rádios, ver na TV, abrir os jornais e ler que o governo federal se uniu a FIFA para que a Copa do Mundo seja a maior de todos os tempos.
Uma mentira descabida! Não será a melhor, e nós vamos passar vergonha. Se continuar acontecendo coisas erradas e estranhas como esse encontro do Blatter com pessoas que não são ligadas a Lei Geral da Copa, ela será uma merda.

E o governo federal está enganando o povo. E a presidente Dilma está sendo enganada ou se deixando enganar.
Brasileiros, continuem cobrando e se manifestando porque essa palhaçada vai piorar quando tiver a 1 ano e meio da copa.
O pior ainda está por vir, porque o governo deixará que aconteçam as obras emergenciais, as que não precisam de licitações. Ai vai acontecer o maior roubo da história do Brasil.
Ai eu quero ver se as pessoas que apareceram sorrindo na foto durante a reunião de ontem, vão querer aparecer.
Esse Brasil é um circo e os palhaços vocês sabem bem quem são”.

PARA LULA, AGNELO ESTÁ CUMPRINDO MISSÃO ESPINHOSA

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em carta nesta segunda-feira (19) que o governador Agnelo Queiroz (PT) cumpre a "missão espinhosa" de resgatar Brasília.

A carta de Lula foi lida em cerimônia de posse de Swedenberger Barbosa, ex-assessor da Presidência da República, como secretário da Casa Civil do Distrito Federal.

"Agnelo e sua equipe estão cumprindo missão espinhosa: resgatar a administração e credibilidade do Distrito Federal. E isso não se faz da noite para o dia. Além de firmeza ética, exige muita paciência e perseverança", disse Lula, em carta lida pelo ministro Gilberto de Carvalho, secretário-geral da Presidência.

19 de março de 2012
(Da Folha Poder)
coroneLeaks

AS GUERRAS DO POBRECON

Você pode até desejar, do fundo do coração “gauchiste”, que o império americano seja um dia enterrado pelas forças populares globais. Mas, até que isso aconteça, a razão manda admitir que a boa saúde dos EUA é do interesse do Brasil e das demais nações. Os mercados sabem disso, claro. A Bovespa subiu forte na última terça, com as demais bolsas mundiais, na esteira de informações que confirmaram a recuperação da máquina americana.

A lógica começa bem simples. Se tudo correr bem, o consumidor dos EUA vai torrar no shopping mais de US$ 10 trilhões neste ano. Comprando o quê? Mercadorias “made in China”, certo, mas também produzidos no mundo todo, incluindo Brasil. Além disso, para montar o que vende nos EUA, a China importa matérias-primas e componentes do mundo todo — e roda a economia de novo.

Eis por que os investidores correram a comprar ações quando souberam que as vendas no varejo nos EUA, em fevereiro, haviam subido expressivamente. Além do mais, o fortalecimento da atividade econômica lá no império revigora o dólar, ou seja, valoriza as verdinhas em relação às demais moedas.

No outro lado, na Europa, a ação do Banco Central — emprestando caminhões de dinheiro barato para os bancos — e o bom andamento da reestruturação da dívida grega afastaram a ameaça de crise aguda por pelo menos três anos.

Portanto, boas notícias, certo? O problema é que esse panorama perturba o que se poderia chamar de “Pensamento Oficial Brasileiro Econômico” (Pobrecon), conforme tem sido exposto por diversas autoridades, a começar pela presidente Dilma. Não é que torça para isso, mas o Pobrecon, digamos, precisa de um agravamento da crise internacional para fechar sua lógica.

O Banco Central, por exemplo, sustenta que essa crise, ao derrubar o crescimento global, produz efeitos “desinflacionários” pelo mundo afora, Brasil incluído. Logo, ele, BC, pode reduzir a taxa básica de juros mais agressivamente. Já na versão do Palácio do Planalto e da Fazenda, o Pobrecon precisa do “tsumani monetário” global. Se os EUA e a Europa estão colocando tanto dinheiro barato no mercado, isso é uma nova modalidade de guerra cambial. Em outras palavras, os ricos estariam fazendo isso só para desvalorizar suas respectivas moedas, fortalecer suas exportações e, assim, arrasar a expansão dos emergentes que resistiram melhor à crise financeira de 2008/09.

Com isso, o Pobrecon justifica as medidas protecionistas, que bloqueiam importações e a entrada de dólares, aumentando preços internos e atrapalhando, por exemplo, as viagens de brasileiros que vão ao exterior em busca de produtos mais baratos e melhores.

O governo Lula ganhou muita popularidade com o dólar barato e seus subprodutos: consumo local estimulado por preços baixos e a “bolsa Miami”, a facilidade da nova classe média para estrear seu passaporte. Mas o mundo mudou, diz o Pobrecon, agora estamos em guerra e a culpa é dos ricos.

A ironia da história é que o “tsunami” está funcionando como esperavam seus autores. A enxurrada de dinheiro, a juros perto de zero, reequilibrou o sistema financeiro, afastou a ameaça de quebra de bancos e vai recompondo a concessão de crédito para empresas e consumidores. No primeiro momento, o tsumani derruba o valor de dólar e euro, espalha dinheiro barato pelo mundo. No segundo, a atividade econômica começa a engrenar de novo — e a “guerra” vai terminando.

Ora, se isso se confirmar ao longo deste ano e se a China desacelerar suavemente, mantendo ainda um bom nível de expansão, estaremos deixando para trás o ambiente sombrio de meados de 2011.

A boa notícia é que, mantida essa tendência mundial, o Pobrecon terá mais chance de alcançar sua outra meta, a de levar o Brasil a um crescimento de 4,5% neste ano. (Ou 5% se o mundo for favorável, como já disse o ministro Mantega).

A má notícia é que, se crescer isso tudo, a inflação também deve subir — como sempre acontece quando o país acelera — e isso atrapalha o outro objetivo do Pobrecon, que é colocar a taxa de juros lá em baixo. Também cria dificuldades para uma outra meta do Pobrecon, que é colocar o real acima de R$ 1,80 por dólar. Dólar caro, importações mais caras, financiamento externo mais caro, tudo isso é inflacionário e atrapalha a atividade econômica imediata.

Resumo da ópera: se tem guerra, os juros podem cair e o dólar subir, mas o país não cresce aquilo tudo. Se crescer, ajudado pelo fim da guerra, sobem a inflação e os juros, mas não o dólar. Mas vai ver que essa é a sacada do Pobrecon: relaciona tantos objetivos, tão diferentes e contraditórios, que pode cantar vitória qualquer que seja o resultado. Mas que deixa investidores e consumidores confusos, isso deixa. Talvez uma guerra de verdade ajudasse. Problema: quem vamos invadir?

16 de março de 2012
Carlos Alberto Sardenberg
Fonte: O Globo, 15/03/2012
19 de março de 2012

GRAÇA E BELEZA

GASTOS SECRETOS DE DILMA COM CARTÃO CORPORATIVO CHEGAM A R$ 89,7 MILHÕES

O primeiro ano do governo Dilma Rousseff trouxe novidades em favor da transparência, como, por exemplo, a Lei de Acesso às Informações Públicas, que começa a vigorar em maio.
Apesar disso, entre 2009 e 2011, os gastos sigilosos do governo federal por meio do cartão corporativo – cuja natureza não pode ser divulgada “para garantia da segurança da sociedade e do Estado”, nos termos da legislaçãoatingiram a cifra de R$ 89,7 milhões.
O valor representa 44,1% do total de gastos com cartões corporativos durante o período.

Em 2011, os gastos secretos do cartão corporativo atingiram o montante de R$ 29,9 milhões, cerca de R$ 2 milhões a menos do que em 2010, quando R$ 32 milhões foram empregados nas despesas deste tipo. Contudo, em 2009, R$ 27,8 milhões foram utilizados nas despesas secretas do cartão.

Nos três últimos anos, o órgão superior que mais se utilizou da confidencialidade de gastos foi a Presidência da República (PR), com montante de R$ 48,5 milhões – R$ 16,5 milhões apenas em 2011. Logo em seguida está o Ministério da Justiça, com despesas no valor de R$ 40 milhões.

Para fechar a conta, vêm bem atrás o Gabinete da Vice-Presidência da República (R$ 1,8 milhões), o Ministério da Fazenda (R$ 488 mil) e o Ministério da Defesa (R$ 92,4 mil).

Dentro das despesas não descriminadas da PR, 61,8% são de responsabilidade da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), totalizando R$ 29,3 milhões, com gastos aproximados de R$ 6,8 milhões em 2009, R$ 11,2 milhões em 2010 e R$ 11,3 milhões em 2011.

O restante dos gastos secretos, realizados através do cartão corporativo, foi feito pela Secretaria de Administração da Presidência da República, com cerca de R$ 18,1 milhões – que, ao contrário da ABIN, apresentou processo de redução desse tipo de despesas no período, com R$ 6,8 milhões em 2009, R$ 6,2 milhões em 2010 e R$ 5,2 milhões em 2011.

Da parte do Ministério da Justiça, quase a totalidade dos gastos secretos nos três anos foi destinada ao “Fundo para Aparelhamento e Operacionalização das Atividades-Fim da Polícia Federal” (PF), ultrapassando a marca de R$ 39,9 milhões.

As despesas foram majoritariamente empregadas nas superintendências regionais da PF nos estados (cerca de R$ 29,1 milhões), mas também há despesas referentes à Coordenação de Administração (R$ 9,2 milhões), Diretoria Técnico-Científica (R$ 181,9 mil), além de outras unidades gestoras igualmente vinculadas à PF.

O Gabinete da Vice-Presidência da República, por sua vez, teve aumentos gradativos de gastos dessa espécie durante os anos. Foram aproximadamente R$ 469,8 mil em 2009, R$ 618,6 mil em 2010 e R$ 672,5 mil em 2011.

Nesse espaço de tempo, 77,3% dos gastos restritos do Ministério da Fazenda, cerca de R$ 377 mil, provieram da Coordenação-Geral de Pesquisa e Investigação da Receita Federal. O restante dos dispêndios está relacionado ao Fundo Constitucional do DF e à Polícia Civil.

Dentro do Ministério da Defesa (R$ 92,4 mil, já citados), os gastos dessa natureza correspondem a R$ 11,7 mil do Comando do Exército, R$ 25,7 mil da Marinha e R$ 55 mil da Aeronáutica.

Controle

De acordo com recomendações da Controladoria Geral da União (CGU), os servidores que utilizam o cartão devem se pautar pelos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

O cartão substitui a modalidade de gasto chamada suprimento de fundos. Nela, um adiantamento é concedido ao servidor, a critério e sob a responsabilidade da figura do controlador de despesas em cada instituição. Há um prazo estipulado para a aplicação e a comprovação dos gastos, mas não há um controle na internet como ocorre com os cartões.

Além do controle interno, o Tribunal de Contas da União (TCU) também atua na fiscalização destes gastos. Entre as irregularidades já identificadas pelo tribunal estão a aquisição de material permanente e os pagamentos de gratificações a informantes e colaboradores.

Do Contas Abertas
Dyelle Menezes e Yuri Freitas
10 de março de 2012

LÍDER DO PT: NÃO SE DEVE TRATAR IDELI COMO GENI



Líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA) saiu em defesa da ministra Ideli Salvatti. Acha que não é correto culpar a coordenadora política de Dilma Rousseff pela crise que eletrifica as relações do governo com sua base congressual.

Pinheiro traçou um paralelo entre Ideli e uma personagem do cancioneiro popular: “Como diz o nosso velho e bom Chico Buarque, fazendo uma analogiazinha, é o ‘joga pedra na Ideli’. É fácil fazer isso, responsabilizá-la.”

Fácil, porém, impróprio, disse Pinheiro. Para ele, desde que assumiu a pasta das Relações Institucionais, Ideli não fez senão aprimorar o relacionamento com as bancadas que integram o condomínio governista.

Por que, então, a crise? Para Pinheiro, o principal problema que havia no Senado era um conflito interno na bancada do PMDB. O partido já não se sentia representado por Romero Jucá, até a semana passada líder do governo.

Daí a decisão de Dilma Rousseff de trocar Jucá (PMDB-RR) por Eduardo Braga (PMDB-AM). Para complementar a mudança, acrescentou Pinheiro, o governo precisa aperfeiçoar sua relação com os aliados.

“Mesmo que seja para dizer não. O silêncio ou o desprezo é pior do que qualquer coisa”, declarou. Acha que, para eliminar os “ruídos”, Ideli precisa, por exemplo, assegurar que os ministros deem atenção aos congressistas.

“A ministra tem de puxar a orelha dos ministros. Essa é uma das tarefas dela.” Sugere inclusive a instituição de uma espécie de “plantão do ministro” no Legislativo.

Na opinião de Pinheiro, é preciso acabar com “essa história de que ministro não vai [ao Congresso]. Qual é o problema? Seja para projeto, seja para programa, para responder a acusação… Qual é o problema?”

Acrescentou: “Ministro não pode ter medo de ir à Casa legislativa. Comigo não tem essa história de blindagem. Ministro tem de se dispor a isso.” Não exclui do “plantão” nem mesmo o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Conforme noticiado aqui no final de semana, inaugurou-se nos subterrâneos do condomínio governista um movimento para levar à bandeja o escalpo de Ideli. As críticas à ministra desconsideram um detalhe essencial: ela não faz senão ecoar Dilma.

19 de março de 2012
Josias de Souza

COLLOR CONFIRMA: O BRASIL MUDOU PARA PIOR

Em junho de 1992, quando se soube que um Fiat Elba a serviço da Casa da Dinda fora comprado por Paulo Cesar Farias, Fernando Collor começou a deixar de ser presidente. Era dinheiro da quadrilha gerenciada pelo notório PC, tesoureiro das campanhas do chefe de governo.

Neste março, soube-se que o senador Fernando Collor poderia ter comprado 11 Fiat Elba-92 com os R$ 69.694,73 que torrou em janeiro e fevereiro (veja reportagem na seção O País Quer Saber). O dinheiro foi desviado da “verba indenizatória” distribuída mensalmente pelo Senado, sempre sob o patrocínio involuntário dos pagadores de impostos.

Passados 20 anos, Collor continua o mesmo. Diferente ficou o Brasil. No inverno de 1992, o PT reagiu histericamente à deliquência protagonizada pelo inimigo.
No verão de 2012, a seita lulopetista estendeu ao parceiro da bancada do cangaço ─ à vontade na Casa do Espanto desde o discurso de estreia, como registra o post na seção Vale Reprise ─ a rede de proteção que cobre todos os prontuários companheiros. O senador por Alagoas é um dos recentes amigos de infância do chefe. E virou conselheiro da presidente. Os três se merecem.

O rebanho de devotos têm razão: depois de nove anos de governo Lula-Dilma, o país mudou. Com a aliança entre o PT e a base alugada, foi institucionalizada a corrupção impune. E o Brasil ficou bem mais cafajeste.

19 de março de 2012
augusto nunes

AS HIENAS DO KREMILIM

Quando recebi a nota do PCB, “Por que ladram os cães de pijama listrado”, e li algumas de suas linhas, lembrei-me imediatamente do mundo natural que está abarrotado de animais perigosos dos mais variados tipos.

Existem os peçonhentos, os que provocam alergias, os que transmitem doenças, os nojentos, os animais violentos e os assassinos natos. Na categoria de assassinos natos, estão as hienas. É um animal sem atrativos. Seu modo furtivo, sujo, o grito áspero e o cheiro desagradável não ajudam muito sua reputação. Dentre elas há uma extremamente traiçoeira, que eu chamo de hienas do Kremlin.

Nada como receber algo proveniente das hienas do Kremlin, ainda mais com a validade de ser uma nota política. Para bom entendedor, um pingo é letra. Isto é, uma nota de cunho ideológico marxista-leninista! E como tal, seguindo o instrumental teórico marxista, plena de acusações descabidas, mentiras, meia-verdades, falsidades, etc...

Isso me traz a mente, de imediato, o livro do ex-capitão da então Artilharia soviética, também, um grande escritor, Alexandre Soljenítsin. É o autor do livro “Arquipélago Gulag”, um campo de concentração criado por Stalin, onde esteve por vários anos, modelo para vários outros, em toda a União Soviética, com o intuito de reeducar políticamente milhões de soviéticos que não aceitavam a tirania comunista.

Foi um livro escondido pelo sanguinária ditadura comunista soviética durante anos, a mesma ditadura que vocês comunistas, capachos da então União soviética, aqui tentaram implantar em 1935, assassinado companheiros na calada da noite, enquanto dormiam e no período de 64 à 74, utilizando o terrorismo, seqüestros, assaltos, assassinatos, a mentira, tudo aquilo que existia nos campos de concentração do Arquipélago Gulag, tudo visto e vivido por Alexandre Soljenítsin e por milhões, repito para melhor enfatizar, milhões de seres humanos que não aceitavam e não tinham a liberdade para não aceitar, a feroz ditadura comunista e que perderam as suas vidas em atroz sofrimento !

Foi contra isso, com muito orgulho, que lutaram os militares brasileiros em 35 e no perído de 64 a 74, permitindo a vocês, hienas do kremilin, hoje, a liberdade que usam para tentar matá-la.

Ora! Isso não é surpresa, pois, as hienas figuram com honras na categoria dos animais nojentos. Isso porque a hiena vive de comer restos, porque, como as hienas do Kremilin, são na maioria das vezes predadores oportunistas.
Predadores como vocês, hienas do kremilin, dos direitos humanos e das liberdades que qualquer cidadão tem o direito de usufruir.



19 de março de 2012
Gen Marco Antonio Felício da Silva

BOTA PRESSÃO

Não é só a base, não é só o PT, não é só boa parte do ministério. Agora até as entidades dos "dereitos umanos" estão botando pressão na presidente. Vejam o que publicou o Painel da Folha:

Mais pressão 1.

Entidades ligadas aos direitos humanos divulgaram nota aberta, que circulou inclusive no PT, criticando Dilma por não responder a pedido de audiência feito há quatro meses para tratar da composição da Comissão da Verdade.

Mais pressão 2.

No manifesto, os grupos dizem que o "silêncio" de Dilma sobre a comissão "é facilitador para que manifestações extemporâneas" de setores militares que, dizem, "negam o direito à memória e à verdade e apoiam o obscurantismo" ocupem espaço na imprensa.

19 de março de 2012
coroneLeaks

ESTE RIDÍCULO PAÍS DO FUTEBOL

Duas leis estão na pauta da Câmara. A Lei Geral da Copa e o Código Florestal.

Este ridículo país do futebol não pára de discutir se deveria ser permitido ou não vender cerveja dentro dos estádios, no breve período da competição.
Como se isto fosse uma discussão que enriquece ou empobrece o país. Como se isto fosse um debate estratégico para o futuro. Como se isto fosse resolver o problema do alcoolismo, ou fosse deixar alguém mais perto ou mais longe do céu.


Ora, este país vende cerveja para menores em posto de gasolina e em porta de escola, que morrem aos milhares alcoolizados a cada ano, em brigas de torcidas organizadas ou em acidentes de trânsito.

A discussão da cerveja fica irrelevante quando comparada com a necessária aprovação do Código Florestal. Ele atinge a vida de milhões de trabalhadores e produtores brasileiros, pois a agropecuária representa 1/4 do PIB e 1/3 dos empregos.

A nova lei ambiental tem impacto direto na redução da fome no Brasil e no mundo pois, é óbvio, se a produção for reduzida pelo ambientalismo brutal que vigora em nosso país, o preço dos alimentos vai subir.
É revoltante ver um país pensando na cerveja antes de pensar na cevada, no trigo, no arroz e nos cereais indispensáveis para a sua fabricação.


Um pais que não percebe que o leite vem da vaca que pasta no campo e não da caixinha de tetrapack da gôndola do Carrefour.
Um país que discute uma lei para 30 dias, dando-lhe a mesma importância de uma lei para 30 anos, que retira das costas do agricultor brasileiro um passivo de 300 anos. Um ridículo país do futebol.


Um país que não tem a mínima noção das prioridades para o seu crescimento jamais será uma verdadeira nação.

19 de março de 2012
tribuna da internet

ARÁBIA SAUDITA ENVIA MATERIAL MILITAR A REBELDES SÍRIOS PELA JORDÂNIA. iSSO É NORMAL?

A Agência France Presse revela que “a Arábia Saudita envia, através da Jordânia, material militar para equipar o Exército Sírio Livre (ESL), formado por militares dissidentes”, segundo informou à AFP uma fonte diplomática árabe.

A justificativa é de que “o envio é parte de uma iniciativa da Arábia Saudita destinada a acabar com as matanças na Síria”. E o tal diplomata acrescentou que “os detalhes da operação serão anunciados posteriormente”, sem revelar os números sobre as cargas enviadas aos rebeldes.

A Arábia Saudita, um verdadeiro peso pesado do mundo árabe, tem criticado energicamente o governo sírio pela repressão da revolta popular. Na quarta-feira, anunciou o fechamento de sua embaixada em Damasco e a saída de seus diplomatas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG

Esta notícia saiu no Correio Braziliense e em outros grandes jornais.
Pela forma como é publicada, significa que os jornalistas ocidentais acham normal essa interferência de um país em assuntos internos de outro. E os jornalistas brasileiros também concordam, pois não há a menor crítica a essa iniciativa intervencionista da Arábia Saudita.
Como se vê, no dia em que as grandes potências decidirem internacionalizar a Amazônia, o mundo inteiro vai bater palmas.

tribuna da internet
19 de março de 2012

ADVOGADOS TAMBÉM NÃO ACREDITAM NO JUDICIÁRIO

A segunda edição da pesquisa nacional do Índice de Confiança dos Advogados na Justiça, feita pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da USP, indica que os advogados veem muito mais deficiências do que virtudes no Judiciário brasileiro.

Os números são preocupantes, os advogados acreditam que a Justiça brasileira é pouco eficiente. Somente 0,3% responderam que O Judiciário é muito eficiente, contra 70,8% que reclamaram da sua pouca eficiência.
21,9% responderam que o Judiciário não tem nenhuma eficiência.
Quanto à igualdade de tratamento, somente 0,3% dos pesquisados concordam que a Justiça do Brasil não se importa com meios econômicos, contatos pessoais ou filiação política.


Já o número que acredita numa Justiça pouco igual é de 51,7%. O resultado dos que acreditam que a Justiça brasileira estará muito melhor daqui a cinco anos é de apenas 1,4%, e de 44,1% para melhor, de que 68,5% que a Justiça é muito lenta (0,1% muito rápida; 1% rápida).

De acordo com uma sondagem realizada no mês de março de 2010 pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a morosidade do Judiciário para solucionar os diversos conflitos que chegam aos 91 tribunais do país, é o maior entrave apontado pelo brasileiro no item que trata da confiança da população na Justiça.
Até então, com 70 milhões de processos ativos, o Judiciário brasileiro amargava seu pior momento, com a média geral, eis que 92,6% da população reprovam a Justiça no quesito celeridade.

O levantamento faz parte do cálculo do Índice de Confiança na Justiça (ICJBrasil) do 1º trimestre de 2010, organizado pela Escola de Direito de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que chegou a 5,9 pontos, em uma escala de 0 a 10.

Longe do tolerável, os índices apurados nas pesquisas decrescem a cada ano. A queda vertiginosa se deve a dois fatores: isolamento do Judiciário com a sociedade e a soberba de seus integrantes. Assim, a Igreja deu um gigantesco passo na preferência da população, quando marcou sua posição na disputa à presidência da Republica no segundo turno das eleições – passou de 7º lugar no ranking de confiança nas instituições para a 2ª posição.

JUSTIÇA CUSTA CARO

Em 2008, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) (não existe números divulgados em 2009, 2010 e 2011), revelou que o judiciário brasileiro gastou neste ano para manter o Judiciário funcionando R$ 33,5 bilhões, valor superior ao ano anterior (2007) quando a despesa foi de R$ 29,2 bilhões. O levantamento mostra, ainda, que em 2008 chegaram mais processos à Justiça do que no ano anterior.

Em comparação ao número de habitantes, o Judiciário gastou R$ 177,04 por brasileiro em 2008, enquanto no ano anterior, foi registrado o custo de R$ 158,87 por habitante. Embora os gastos e a demanda tenham aumentado, o número de juízes se manteve praticamente o mesmo: em 2007, havia 15.623 profissionais. No ano seguinte, 15.731. O número atual de juízes é considerado baixo – 7,78 por grupo de 100 mil brasileiros.

No entanto, em todos os ramos do Judiciário os custos com a folha de pagamento dos funcionários foram os mais expressivos em 2008: foram R$ 29,5 bilhões gastos com pessoal, ou 88% do total da despesa do poder. A Justiça do Trabalho é a vilão, custaram R$ 9,2 bilhões, dos quais R$ 8,5 bilhões referem-se à folha de pagamento.

Eu tenho defendido que o segmento sindical por ser o mais intimo das questões trabalhistas, ainda é o melhor caminho para ajustar o desacerto da JT. A sutura dessas questões pontuais, a saber: celeridade, comportamento dos juízes e administração da justiça não pode ser submetida aos integrantes da JT.

O fato é que essa justiça jamais se ajustou a realidade e responsabilidade social que lhe é mister, existe um claro divórcio entre a terceira instituição que é Ordem dos Advogados, e assim os segmentos, justiça laboral, sindicalismo, advogados trabalhistas e sociedade não se interligam, isso porque a célula cancerosa é a da JT.

Os números por si já traduzem fielmente o quanto este judiciário está debilitado, senil e sem a menor perspectiva. Lá na frente, quando os legisladores saírem da sonolência em que estão submetidos, vão entender, que deixaram no meio do caminho, a oportunidade de corrigir essa gritante distorção existente entre este judiciário a própria realidade e necessidade dos que o procura.
Não se pode olvidar que no processo de execução, por mais que se crie dispositivos, os juízes estarão voltados para seus “enunciados genéricos”, engenhados no ódio ao empregador, com roupagem pseudo ideológica da entrega do direito, completamente judicializado e inacessível.

Roberto Monteiro Pinho
19 de março de 2012

A PRÓPRIA FUNAI INCENTIVA ÍNDIOS A ASSINAREM CONTRATOS COM EMPRESAS ESTRANGEIRAS

O comentarista José Guilherme Schossland, sempre presente, mostra que em 2010 já encontrávamos um pequeno esboço do quadro atual da questão indígena, conforme o blog horaciocb.blogspot.com.br/, que divulga este importante artigo.

A FUNAI E OS CONTRATOS DOS ÍNDIOS
Orlando Calheiros

Janeiro de 2010, ainda nos primeiros dias de minha pesquisa de campo entre os Aikewara, povo Tupi-Guarani do Pará, ouvi falar de uns tais “suecos” -outros diziam “finlandeses”, de fato pouco importa-, que supostamente estariam prestes a aportar nos limites da Terra Indígena trazendo consigo um “projeto de desenvolvimento sustentável” para a população local.

No decorrer das semanas, conversando com alguns dos mais jovens da aldeia, descobri que o “projeto” era, na verdade, um acordo de venda de créditos de carbono com uma empresa estrangeira. Perguntar por maiores detalhes era invariavelmente escutar que deveria procurar pelo “Seu Tibério”.

“Seu Tibério”, ou melhor, Tibério Joaquim da Cunha Neto, era, na época, o chefe de posto da Terra Indígena Sororó, lotado na sede da coordenação regional da Funai em Marabá (PA) há mais de um ano. Sob a desculpa de falta de quadro funcional na sede, não havia um chefe de posto residente na aldeia.

Finalmente, no mês de março, praticamente dois meses após minha chegada, acompanhado de dois indígenas, Mairá Surui (o cacique) e Arikasá Surui, pude encontrá-lo para, entre outros assuntos, falar sobre os tais “suecos”.

O chefe de posto, sem revelar diretamente o nome da empresa, contudo, aludiu se tratar da mesma empresa que recentemente havia tentado fechar um acordo com os Tembé, C-Trade. Ele confirmou com certo orgulho que todo o processo era fruto da iniciativa e do esforço da coordenação regional.

Registrei a fala de Tibério em meu caderno de campo: “quando vimos isso (o acordo com os Tembé) pensamos logo em vocês”. Segundo ele, mostrando papéis em sua mesa, o projeto já estava pronto e prestes a ser encaminhado para a empresa.

Durante o decorrer dos meses em que permaneci entre os Aikewara, sempre que falava sobre o assunto obtinha como resposta um: “o povo da Funai é quem sabe!”.

Até que, em agosto, Mairá, recém-chegado de Marabá, reuniu os Aikewara para dizer que havia conversado com “Carlitos” – Carlos Borromeu Pereira, coordenador regional da Funai, e que o acordo com os os “suecos” estava para, finalmente, ser consolidado.

Naquela noite, a fala do capitão indígena se deteve no papel da comunidade, na forma como esta deveria se policiar contra possíveis exageros na temporada de feitura de roças que se avizinhava: cada alqueire desmatado representaria uma diminuição substancial nos recursos financeiros vindouros.

Em setembro daquele mesmo ano, Carlos Barromeu, em viagem extra-oficial feita em carro particular, foi até a aldeia Sororó para falar sobre as eleições, pedir votos para os candidatos da legenda de seu partido, o PT. Durante os meses que vivi entre os Aikewara, aquele foi o único momento que o vi na aldeia.

Na ocasião, interpelado pela população sobre o andamento do processo, na minha presença, afirmou que estava tudo correndo bem e que até o fim daquele ano tudo estaria resolvido.

Ao longo do ano de 2011, período em que apenas fiz curtas visitas à aldeia Aikewara, pouco ou nada me falaram sobre o tema. Pudera, os indígenas estavam muito mais preocupados com os incêndios que assolavam a mata e a presença de uma mineradora (a notória Dow Corning) nos limites de sua terra.

O tempo passou e o assunto parece ter sido esquecido, mas atualmente está encarado pelos indígenas como apenas uma falsa promessa feita pela coordenação regional.

De fato, em que ponto a negociação acabou ou se é que ela realmente existiu, é difícil saber. O que sei e relato foi aquilo que vi e escutei daqueles que, em tese, deveriam proteger os Aikewara deste tipo de acordo.

19 de março de 2012
Orlando Calheiros é antropólogo, doutorando do Museu Nacional.”
Fonte: http://blogdaamazonia.blog.terra.com.br

NOSSA GRANA LITERALMENTE DERRETENDO

Ou Minha Caixa D´Água Minha Vida
Com informações do UOL Notícias


Como tudo que essa raça ruim e larápia faz, no afã de vender a imagem de rapidez e eficência na solução do problema deca-milenar das secas do nordeste para reeleger o 9 dedos e depois eleger a governANTA, o (des)governo federal e seus cupinchas estaduais decidiram implantar um tal programa Água para Todos, ou Seca Zero, ou Minha Caixa d´Água Minha Vida, sei lá o nome que deram a essa enganação.

Como não pensam pequeno, a meta seria um milhão de cisternas no semiárido nordestino entre 2003 e 2008, usando um novo e revolucionário modelo de reservatório feito de polietileno, as famosas cisternas de plástico, como ficaram conhecidas as trapizongas. Só que esqueceram que o nordeste é seco porque é MUITO quente.

Como tudo prá essa corja visa taxas de sucesso essas coisas custam mais que o dobro daquelas construídas com placas de cimento, como manda a boa e velha engenharia da qual faço parte.
Deu um buxixo danado por lá. Virou alvo de reclamações, protestos e gozações, que aumentaram recentemente quando os tanquinhos começaram a ser substituídas por semelhantes depois de apresentarem enormes deformações, com menos de três meses de uso.
Veja na foto aí de cima. Parece aquelas bolas de brinde quando ficam sob o sol.

Os gênios do governo federal insistem que a tecnologia é moderna e segura e que será uma solução draconiana para completar a tal conta do milhão de unidades, só que o horizonte já aumentou para 2014, data mágica para a solução de todos os problemas brasileiros.

Prá garantir que alguns nordestinos sobrevivam à seca prá votar, também serão construídas 450 mil cisternas tradicionais de placa de cimento, como as que se vê abaixo, o que já se faz desde os tempos de Duarte Coelho, donatário da capitania de Pernambuco.


Pelo memos nos orçamentos da curriola, cada cisterna de pRástico custa instalada R$ 5.090, mais que o dobro da cisterna de placas de cimento que sai por aproximadamente R$ 2.200,00.
Mantendo esta referência, e para fazer idéia, um total de 300 mil cisternas de polietileno vão custar R$ 1,5 bilhão aos cofres públicos, enquanto que se a tecnologia utilizada fosse a de placas, esse valor seria de R$ 660 milhões.

Essa fuzarca do milhão de cisternas tem o financiamento do MDS (Ministério do Desenvolvimento Social - aquele da Teresa Campelo, desconfiam quem seja? Nem eu...) e a meta deveria ser cumprida originalmente em cinco anos.
Mas como o calendário dos petralhas não é o Gregoriano e os anos têm 2.975 dias, passados nove anos do lançamento, apenas 40% do total foi alcançado até 2011, se se somarem também as cisternas feitas em placas de cimento.

Nos oito anos do governo do 9 dedos, que começou este excelente mas infelizmente deturpado programa, só foram construídas 325.960 cisternas, uma média de 40 mil por ano.

Com o uso dos baldões de pRástico, é claro que a média subiu para coisa de 83.000 por ano em 2011. Mas a que custo e com que qualidade?

Como sempre contando com os investimentos dos outros nas suas estatísticas, os estatísticos do governo consideram que, entre iniciativas públicas e privadas, tenham sido construídas até hoje 482 mil cisternas no Nordeste, sem dizer quanto é de cada categoria.

Há uns dias atrás, a CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba), confraria dos irmãos e parentes da famíla Coelho de Petrolina, responsável pela instalação e manutenção das cisternas, informou que a responsável pela fabricação foi notificada e já teria entregado duas novas cisternas.
Pergunto: DUAS? Só podem estar brincando. Foram 350 mil...


Eles continuam jurando com a mão na bíblia (de satã?) que a vida útil dos baldões é de no mínimo 20 anos, mas o argumento é rebatido por especialistas.

"Essas cisternas têm um ciclo pequeno. Daqui a um tempo, vai ser um monte de lixo plástico espalhado pelo Nordeste. Além disso, estive falando com famílias, e elas questionam, porque não têm como entrar e lavar, o manuseio é diferente. Na cisterna de placa, a própria família pode consertar. São cisternas para 30 anos, mas essas com três meses estão deformando. Eles repuseram, mas vão repor até quando?", alegou o técnico do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada, em Juazeiro (BA), José Carlos dos Santos Neri.

Além disso, a genial idéia de fazer os tanques de pRástico eliminou a possibilidade e o direito de empresas nordestinas participarem no processo de construção, pois não se inserem na realidade local e agridem um item "secundário" que seria a geração de emprego e renda nas obras das cisternas de concreto.

As cisterna de pRástico vêm de São Paulo e são implementadas sem nenhuma participação da comunidade, que apenas assiste com o dedo na boca. Quando elas apresentam algum problema, as comunidades não sabem o que fazer nem como reparar. Nesse novo modelo, a empresa vem, fura um buraco e joga a cisterna dentro, sem contratar um pedreiro que seja nos estados da região.

Pipocam em várias cidades protestos públicos com milhares de pessoas reclamando contra esse absurdo. Oxalá tenha a consciência de que foram enganados e nunca mais votem nessa corja, com baldões ou não.

19 de março de 2012

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Postei no blog matéria muito interessante sobre o assunto dessas cisternas, abordando inclusive, o desinteresse da comunidade onde eram implantadas a novidade podre de plástico, porque não participavam da sua construção com a mão-de-obra local.
Não tenho a data do arquivo, pois deve ser do ano de 2011, possivelmente lá pelo mês de outubro;novembro.
Aborda ainda, as empresas envolvidas nessa empreitada.
m.americo

"FANTÁSTICO": ESQUEMA DE PROPINA NAS LICITAÇÕES

QUEREM O BANIMENTO DA MENSAGEM "DEUS SEJA LOUVADO" DAS CÉDULAS...

Duas notícias em sequência: neo ateus não se cansam, e agora querem tirar a mensagem “Deus seja louvado” das cédulas

Notícia 1: “Petição pela retirada de Deus do real já tem mais de mil adesões”

A petição on-line ao CMN (Conselho Monetário Nacional) da LiHS (Liga Humanista Secular do Brasil) pela retirada da expressão “Deus seja louvado” das cédulas do real já tem mais de mil adesões.

A LiHS congrega céticos, agnósticos, ateus e livres-pensadores em torno de valores éticos. Tem se destacado na defesa do Estado laico.

Em dezembro de 2011, o Ministério Público Federal em São Paulo encaminhou ao Banco Central pedido pela supressão da frase de cunho religioso. Como resposta, o BC disse que se trata de uma questão da alçada do CMN.

Algumas pessoas estão justificando sua adesão à petição, como Henrique Jucá. Ele disse que o Estado brasileiro deve estimular a diversidade, mas não pode privilegiar a divulgação de nenhum credo.

Para Natasha Avital, é uma afronta aos brasileiros não cristãos terem de “passar adiante uma profissão de fé” toda vez que usam uma cédula do real.

Rafael Andrade argumentou que, em um Estado laico, abonar a frase “Deus NÃO seja louvado” seria tão inconcebível quanto propagar “Deus seja louvado”, como está ocorrendo.

Notícia 2: “Ministério Público vai pressionar ministro para que tire Deus do real”

Jefferson Aparecido Dias, procurador dos Direitos do Cidadão, do MPF (Ministério Público Federal) em São Paulo, vai pedir ao ministro Guido Mantega (Fazenda) a retirada da inscrição “Deus seja louvado” das cédulas de real porque essa mensagem religiosa é incompatível com laicidade do Estado brasileiro.

Em dezembro de 2011, o MP já tinha apresentado o pedido ao Banco Central. Como a resposta do BC foi de que a questão é da alçada do CMN (Conselho Monetário Nacional), Dias vai agora pressionar Mantega, que é o presidente do conselho da instituição.

Para Dias, que é católico praticante, “Estado e religião têm de estar bem distantes entre si” e, por isso, não se justifica a menção de Deus no dinheiro.

Em 2011, a Corte Suprema dos Estados Unidos recusou um pedido de um ateu para que fosse retirada das moedas e cédulas do dólar a inscrição In God we trust (Confiamos em Deus).

No Brasil a questão também poderá acabar indo para o STF (Supremo Tribunal Federal), onde já tramita uma Adin (Ação Direta de Inconstitucionalidade) proposta pela Procuradoria Geral da União para que o governo discipline o ensino religioso de acordo com o caráter laico do Estado.

Meus comentários

Como sempre, o Jefferson Aparecido Dias de novo. Lembram-se dele do tempo das trucagens em que tentou acusar o Silas Malafaia de “homofóbico”? Se não lembram, eu lembro.

Fica bem claro que o Sr. Jefferson se especializou na agenda da esquerda: gayzismo, anti-religião, etc. Qual será a próxima ação dele? Talvez propor aborto, programa de controle de mídia e qualquer outra coisa que atenda à estratégia gramsciana.

Se a Corte Suprema dos Estados Unidos recusou um pedido de um ateu para que fosse retirada das moedas e cédulas do dólar a inscrição In God we trust, é importante que os juristas de orientação cristã do Brasil fiquem atentos aos truques anti-religiosos que eles tentaram por lá e que foram devidamente refutados.

Pois com anti-religioso não há outra coisa a fazer senão mapear a estratégia, identificar as rotinas, e refutá-las. Em termos intelectuais, não há nada que preste que surja a partir deles.

Ou alguém em sã consciência teria a pachorra de dizer que “notas com a inscrição ‘Deus seja Louvado’” implicam em “proteção a um grupo religioso sobre outro”? E violação ao estado laico seria exatamente isso (proteção a um grupo religioso em detrimento de outro).

Exemplo. Uma adaptação do conceito de estado laico para o futebol. Imagine que nas repartições, por questões culturais, exista uma bola. Isso por que a bola está enraizada na cultura do país, conhecido como país do futebol. Mas o estado “laico em questões futebolísticas” implica que nenhum clube seja beneficiado sobre outro. Então, o estado não beneficia o torcedor do Flamengo sobre o torcedor do Cruzeiro, nem o torcedor do Corinthians sobre o torcedor do Palmeiras. Algum a-futebolista (que odeia futebol) poderia dizer: “Essa bola me ofende nas repartições públicas, é violação ao estado laico futebolístico”. É claro que o máximo que poderíamos fazer é rir na cara desse sujeito.

Posso até sugerir que uma hipotética campanha de refutação aos neo ateus deveria mostrar que eles são patéticos em sua interpretação expandida (e como sempre safada) do que realmente significa o estado laico.

LUCIANO AYAN
Fonte: Paulopes
19 de março de 2012

NOTA AO PÉ DO TEXTO

Alguém já viu galinha ciscando lixo? Claro que todos já vimos, com exceção de uma ou mais gerações, que apenas conhecem o frango assado, aquele que fica douradinho na televisão de cachorro. Não tem penas, não tem bico, nem olhos e nem pés, mas é o que as gerações urbanas mais novas conhecem.
Essa petição me traz a lembrança essa imagem de galinha ciscando no lixo. Pô, convenhamos! Pessoas mais inteligentes, que estão revirando o paradigma de cabeça para baixo, a gente ainda consegue discutir as idéias propostas, mas ciscar pedrinhas e pequenos insetos, para peticionar? Tenha dó!
Já não basta o besteirol da retirada dos crucifixos, agora essa macaqueação importando o besteirol americano de retirar o "In God We Trust" das verdinhas? Sejam mais criativos! Alguma coisa mais brasileira... Hummm! Deixe-me ver... Fica difícil imaginar alguma coisa nesses tempo de plim-plim!
m.americo

HISTÓRIAS DO FOLCLORE POLÍTICO BRASILEIRO

RIO - Sergipano, baixinho, gorduchinho, atarracado, ambicioso, o coronel Humberto de Melo era o chefe do Estado Maior da VIª Região Militar na Bahia, no golpe de 64. Com cursos no Panamá, nos Estados Unidos, era um “homem de informações”. Na época, isso queria dizer ligado à CIA.

Bebia muito, detonava uísque. Udenista, tinha sido secretario de Segurança do governo Juracy Magalhães. No golpe, tomou conta do Estado e de Sergipe. O comandante da Região, general Manoel Pereira, era uma simpática e lerda rainha da Inglaterra. Humberto de Melo resolveu derrubar o governador Lomanto Junior, do PTB, e assumir o governo do Estado.

UDN e PSD armaram tudo na Assembléia que, acovardada, já tinha numero de sobra para aprovar o impeachment de Lomanto. Marcaram sessão extraordinária para uma segunda-feira, à tarde. De manhã cedo, desce de surpresa em Salvador, de um avião militar, saido de Recife, com um punhado de oficiais, o general Justino Alves Bastos, comandante do IV Exercito e chefe de Humberto de Mello. Foi direto para o palácio da Aclamação e avisou :

- Vim almoçar com meu governador, que vai continuar governador. E ninguem mais falou em derrubar Lomanto.

LOMANTO

Todo milagre tem seu santo. O de Lomanto foi o simpático e bem falante Paranhos, que se dizia deputado pelo Estado do Rio, mas era apenas suplente, e aterrissou de repente na casa do saudoso Marcelo Gedeon, presidente do Conselho dos Produtores de Cacau e aparentado de Lomanto.

Compadre do general Justino, Paranhos esteve antes às pressas na Bahia e acertou a ficada de Lomanto com Lelivaldo Brito, cunhado do governador, rico e presidente do Banco do Estado (morreu pobre há pouco em Salvador).

A filha de Justino ia casar. Lomanto, que nunca tinha visto a filha do general, virou padrinho do casamento e Lomanto e Lelivaldo deram à noiva polpudos presentes, inclusive um resplandescente Pulmann esporte.

E Lomanto continuou governador até o ultimo dia.

MEIRELLES

A qualquer dia vai descer em Brasília um manda-chuva norte-americano (ou dos norte-americanos) como o secretario do Tesouro, o presidente do Banco Central, o diretor-geral do FMI, o presidente do Banco Mundial, como o general Justino desceu em Salvador. Apenas para dar a ordem a Lula:

- Vim almoçar com meu presidente do Banco Central, o Meirelles.

BAHIA

Claudemiro Suzart, farmacêutico generoso e amigo dos pobres, candidato do PTB à prefeitura de Feira de Santana, na Bahia, contra Arnold Silva da UDN e Froes da Motta, do PSD, foi fazer comício na Rua do Meio, que em 1958 era centro da zona boemia, do meretrício na cidade:

- Meus amigos, vocês precisam ver a vida dos candidatos, desde o nascimento deles, onde moram, como vivem, o que fazem, para saberem bem em quem votar. Arnold Silva, candidato da UDN, nasceu num palacio, tomou banho em bacia de prata, nunca falou com o povo. O que é que ele é?

- O candidato dos milionários!

- Isto mesmo! Não pode ter o voto do povo!

FEIRA

E Claudemiro continuava, com a rua larga lotada :

- Meus amigos, Froes da Mota, candidato do PSD, nasceu e viveu numa fazenda muito rica, nunca soube das dificuldades do povo. O que é que ele é?

- Candidato dos latifundiários!

- Isso mesmo! Não pode ter o voto do povo. Eu, meus amigos, como vocês sabem, eu nasci aqui na Rua do Meio. O que é que eu sou?

Lá do fundo, um negão gaiato, alto, forte, enorme, a boca cheia de dentes, gritou :

- Filho da puta!

Acabou o comicio. Ganhou Froes da Mota.

(No palanque, o advogado, ex-vereador e futuro prefeito de Feira em 62, cassado em 64 e depois deputado federal, Francisco Pinto. E eu, jornalista).

GIBSON

Gibson Barbosa, ministro De Relações Exteriores de Médici, fez um périplo africano por sete paises. Gorda comitiva. Na véspera da viagem, percebeu a gafe. Não havia um só negro na delegação.

A “carrière” não tinha negro. Gibson convidou um amigo médico,negro,para acompanha-lo.E apresentava orgulhoso o dr. Jair:

- Meu médico.

Uma noite, na Nigéria, foram a uma solenidade. O presidente da mesa chamava os que iam compo-la e perguntava a função :

- Dr. Jair. Função?

- Médico.

- Especialidade?

- Ginecologista.

E era. O elegante Gibson quase desaparece por baixo da mesa.

19 de março de 2012
jornalista sebastião nery

PELÉ E OS NEGÓCIOS SUSPEITOS DE ANGOLA

Rei do Futebol se envolve em escândalo imobiliário no país africano ao se declarar sócio de empresários brasileiros que venderam, e não entregaram, casas em condomínios de luxo na capital Luanda
Flávio Costa


Em outubro de 2009 e abril de 2010, Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, desembarcou em Luanda para oferecer o prestígio do seu nome na divulgação de empreendimentos imobiliários de quatro empresários brasileiros na capital de Angola.
Hospedou-se no Hotel Alvalade, de onde saiu para participar de entrevistas, fazer comerciais, posar ao lado de protótipos das casas e até visitar o presidente José Eduardo dos Santos, no poder desde 1979.

Nessas ocasiões, o maior jogador de futebol de todos os tempos se apresentou como sócio da empreitada.
“Fico feliz por investir em Angola”, disse, à época.
“Deus sempre me coloca em equipes vencedoras.” Dois anos depois, o megaprojeto residencial ruiu, emaranhado numa sucessão de escândalos, pelo não cumprimento de pelo menos 540 contratos de vendas das unidades de classe média e alta, ao não entregá-las no prazo combinado.

E o tom do Rei do Futebol mudou completamente. O staff de Pelé afirma que ele atuou apenas como garoto-propaganda da marca Build Angola. A sociedade, tão decantada no grandioso lançamento, é agora negada.

Os empresários Antonio Paulo de Azevedo Sodré, João Gualberto Ribeiro Conrado Jr., Paulo Henrique de Freitas Marinho e Ricardo Boer Nemeth, donos das empresas angolanas Readi Angola e Galson, venderam apartamentos, lofts, casas e quintas a preços abaixo da média do mercado angolano (leia quadro).
“Eu comprei minha casa no Bem Morar, ainda na planta. Paguei US$ 105 mil à vista”, afirma a diretora da Televisão da Província do Bengo, Ana Paula Esteves. “Trabalhei muito para conseguir esse dinheiro e agora me sinto roubada”, diz a executiva, que deveria ter recebido as chaves de sua casa há um ano.
De acordo com informações colhidas junto ao Tribunal de Justiça de São Paulo, Sodré responde a uma ação penal interposta pelo Ministério Público por crimes contra a fé pública, em um processo por irregularidades na importação de avestruzes, no início dos anos 2000.


BONS TEMPOS
Outdoors com a imagem de Pelé foram espalhados por toda Luanda. Os sócios
Paulo Marinho, João Gualberto Conrado Júnior, Paulo Sodré e Ricardo Boer com o Rei.


Com uma estratégia agressiva de publicidade, que incluiu ainda estrelas da televisão local, a Build Angola obteve êxito até setembro de 2010, quando começaram a circular e-mails de supostos clientes afirmando que a empresa não iria honrar seus contratos. “Fomos vítimas de uma campanha de difamação arquitetada por um ex-funcionário nosso chamado Werther Mujjali, que mandou mensagens com nomes falsos”, afirma Paulo Sodré, em entrevista à ISTOÉ, ao lado dos seus três sócios, no escritório localizado na Vila Olímpia, região nobre de São Paulo.

Segundo perícia feita por profissional contratado pelos brasileiros, as mensagens partiram do computador desse ex-funcionário, com quem travam uma batalha judicial pela marca Build. Sodré diz que as dificuldades começaram a partir da disseminação desses e-mails, já que os compradores deixaram de pagar as parcelas das casas.

As unidades eram tocadas somente com o dinheiro das vendas e pararam por completo em 2011. Procurado pela reportagem, Werther Mujjali não retornou as ligações. ISTOÉ apurou que a situação se agravou no início deste ano, com funcionários brasileiros da Build Angola recebendo ameaças, operários angolanos sem salários e registros de invasão dos escritórios da empresa em Luanda.
Uma comissão que representa 300 compradores entrou com processos na Justiça e há queixas registradas na polícia.

“Eles cometeram uma sucessão de erros e é evidente que houve má administração do dinheiro que receberam das vendas”, disse à ISTOÉ um empresário brasileiro do ramo imobiliário de Angola, cujo mercado não oferece as mesmas condições apresentadas no Brasil, onde há financiamento bancário e uma rede de seguros para incorporações.

O Instituto Nacional de Defesa do Consumidor de Angola comunicou o caso à embaixada brasileira e oficiou autoridades policiais para que abrissem investigação. “Esses sujeitos agiram de má-fé e mancharam a imagem do Brasil aqui. Agora é comum ouvir na rua que todo brasileiro é vigarista”, diz o empresário do setor de hotelaria e navegação Hélder Rosa, que gastou US$ 496 mil por uma casa no Bem Morar. A moradia está em pé, mas não há ligação com rede de esgoto nem abastecimento de água e luz.


“Eles diziam que iriam sair do país sem resolver a situação”
Marcos Regina, ex-sócio da Build Angola

Colonizada por Portugal, e flagelada por uma guerra civil que começou em 1979 e perdurou até 2002, Angola é uma nação rica em petróleo e com uma economia pulsante. Mas também é um dos países mais corruptos do mundo, ostentando o 168º lugar num total de 183, segundo o ranking da Transparência Internacional.

Ex-presidente do Banco Nacional de Angola e ex-coordenador da Agência Nacional de Investimento Privado, Aguinaldo Jaime era próximo da Build Angola – esteve no encontro entre Pelé e o presidente José Eduardo Santos, por exemplo.
Jaime foi flagrado por uma investigação do Senado dos Estados Unidos na tentativa de desviar US$ 50 milhões do governo angolano para uma conta particular em um banco americano.
“Em conversa por telefone com o senhor Aguinaldo Jaime, ele me confessou que pagou à Build US$ 400 mil por uma loja da Pastelândia e esse dinheiro nunca entrou no caixa da empresa”, acusa o dono da rede Pastelândia, Marcos Regina, ex-sócio do quarteto brasileiro na franquia e na Build.

Os quatro negam qualquer contato comercial com Jaime. “Testemunhei reuniões em que eles diziam que iriam se livrar do negócio (Build Angola)”, rebate Regina. Ele afirma ter sofrido um prejuízo de US$ 1,2 milhão por conta da parceira. Por sua vez, a Build Angola diz ter encontrado, por meio de auditoria, desvio de dinheiro de US$ 600 mil durante a administração de Regina.

A direção da Build Angola afirma que tem a receber US$ 34,6 milhões da sua carteira de clientes e precisa pagar outros US$ 23,7 milhões para concluir as obras. “Estamos perto de fechar uma negociação dos nossos ativos para dois grandes grupos empresariais angolanos que vão assegurar o término e a entrega das casas”, declara Paulo Marinho.

Em meio a essa situação indefinida, apenas uma coisa parece certa. A imagem do Rei Pelé foi atingida. “Nós estamos decepcionados; 90% das pessoas só acreditaram na Build Angola porque Pelé emprestou sua credibilidade à empresa”, diz Hélder Rosa. “O que posso adiantar é que não existe nenhum tipo de sociedade.
O que foi feito e já expirou foi um contrato de Cessão de Uso de Imagem para o lançamento desses empreendimentos”, afirmou o advogado de Pelé, Paulo Gustavo. ISTOÉ apurou que o Rei do Futebol tem a receber, a título de pagamento, quatro unidades residenciais cuja construção também não terminou.
Na hipótese mais benigna, Edson Arantes do Nascimento é vítima do empreendimento que Pelé garantia.


ERRATA: Nesta reportagem, o condomínio que aparece em uma das fotos não pertence à marca Build Angola . Trata-se do Condomínio Residencial Luar de Talatona, da empresa MF/PV - Promoções Imobiliárias Consultoria e Serviços LDA.

O PARTIDO PARTIDO...

FÁCIL DEFENDER O QUE ESTÁ LONGE

Quem gosta de cachorros e crianças não pode ser bom caráter – dizia William Thackeray. A frase do novelista inglês deve provocar arrepios nesta nossa época em que os cães estão substituindo os seres humanos na escala dos afetos. Gosto de cães, mas com distância. Tive vários em minha infância, adorava brincar com eles no campo e tive de deixá-los, quando fui para a cidade. Meus pais consideravam que cidade não é pra cachorro.
Quando os revisitava no Ponche Verde, eles me reconheciam de longe e saíam a fazer-me festa.

Mas nunca consideramos cachorro como gente. Nós vivíamos em casa. Eles, lá fora. E que tratassem de seu sustento. No campo havia muita caça. Fora isto, alguma sobra de cozinha, e olhe lá. Meu espanto com o tratamento recebido pela raça começou em Estocolmo, anos 70, quando vi pela primeira vez um manual de culinária canina. (Hoje, em São Paulo, já há chefs para cães). E continuou em Paris, onde o direito de visita ao cão virou objeto de disputa judicial entre casais que se separavam.

Criado e nascido no campo, estas deferências para com os cães, que são tratados com um carinho que supera o dedicado aos seres humanos, até hoje me chocam. O cachorro acabou se adaptando, ou foi adaptado, à cidade, e hoje faz parte da geografia urbana. Eu que o diga, que vivo no bairro de maior concentração canina de São Paulo. Certa vez, eu conversava com uma wicca – é, isto também existe em São Paulo – que se fazia acompanhar de um imenso labrador. Lá pelas tantas, chegaram à mesa algumas amigas suas, apresentadas incontinenti ao cachorro. Fui solenemente ignorado. A mesa toda concentrou-se em torno ao animal. Discretamente, peguei meus jornais e dei no pé. Minha saída nem foi notada.

As páginas dos jornais estão recheadas de crimes medonhos, que parecem não mais causar espécie a ninguém. É o caso daquela moça que foi esquartejada e incinerada a mando de um goleiro de futebol. Ou daquela jovem advogada, que namorava um ex-inspetor de polícia. E tantos outros. Não tenho encontrado, nos ditos sites de relacionamento, manifestações de solidariedade a tais pessoas. Mas basta que um cachorro perambule pelas ruas, abandonado, e chovem manifestações em defesa do bicho. O Facebook, sem ir mais longe, virou um templo para cachorrófilas. Pelo que se vê, o cachorro goza de muito mais apreço que os seres humanos.

Até que entendo. O cachorro, mesmo se maltratado, recebe seu dono com um afago de volta. São incondicionalmente carinhosos, não têm vontade própria e assumem a ideologia do dono. Cachorro tem ideologia. Você já viu um gato policial? Certamente não. Mas cachorros policiais existem às pampas.

Reacionário e conservador, continuo preferindo a companhia dos bípedes. Ser humano é mais difícil que cachorro, é claro. Mas prefiro as arestas de meus semelhantes ao amor incondicional dos caninos. Em meio a isso, me espanta que até hoje os cachorrófilos não tenham reivindicado um status jurídico para os cães.

Já se tentou para os gorilas. Há uns cinco anos, ativistas da Nova Zelândia exigiam a extensão da comunidade dos iguais para incluir todos os antropóides: seres humanos, chimpanzés, gorilas e orangotangos. Como se igualdade houvesse entre racionais e irracionais. Enquanto o ser humano constrói desde pirâmides a cidades, desde televisores a iPods, os símios continuam pendurados pelo rabo nas selvas.

Os militantes da nova causa querem garantir aos símios o direito à vida, a proteção da liberdade individual e a proibição da tortura. Estão chovendo no molhado. Tais direitos sempre foram garantidos a essas espécies, sem declaração alguma de direitos dos símios. A liberdade individual pode até ser ameaçada pelos circos. Mas seria o caso de perguntarmos a um macaco – se é que ainda não é crime de racismo chamá-lo de macaco – o que ele prefere, se o conforto do circo ou a dura luta pela vida na selva. É claro que ele não vai responder.

Não bastasse este sofisma dos tempos modernos – a igualdade entre humanos e símios – ativistas mais exaltados querem agora conferir “direitos humanos” às orcas e golfinhos. O parque aquático Sea World, nos EUA, foi processado por confinar cinco membros de sua equipe em um espaço diminuto e obrigá-los a fazer rotineiramente apresentações para o público. As autoras da ação? Um grupo de cinco orcas.

Sei! As cinco orcas se reuniram na praia, elaboraram um habeas corpus, o assinaram e deram entrada no tribunal. Mas parece que não foi bem assim. As orcas foram representadas por uma ONG de direitos dos animais, que entrou com o pedido. Embora o juiz tenha optado por não levar o caso adiante, essa foi a primeira vez que um tribunal federal americano chegou a analisar algo do tipo. Perguntinha que se impõe: quem passou procuração à tal de ONG? As orcas não terão sido.

Junto aos direitos humanos das orcas, quer-se reconhecer também os direitos humanos dos demais cetáceos, que inclui os golfinhos e as baleias. Thomas White, especialista em ética da Universidade Loyola Marymount, nos EUA, é o principal defensor da causa. O que já é uma inovação: animais, hoje, passaram a ser sujeitos de uma ética. Reacionário como sempre, sempre imaginei que ética regulamentasse – ao lado do Direito – as relações entre seres humanos.

Ó tempora, ó mores! Uma carta de direitos dos cetáceos já está sendo cogitada. Para quando uma carta de deveres? Enquanto isso, seres humanos morrem aos magotes, em guerras e epidemias. Seria talvez oportuno elaborar uma declaração de direitos animais e nela incluir os humanos, para a proteção destes.

Em 2010, em um congresso em Helsinki, na Finlândia, foram decididos os pontos principais desse documento. Agora, White e outros cientistas viajam o mundo tentando difundi-lo. No mês passado, eles foram a um dos maiores eventos científicos do mundo, a reunião anual da AAAS (Sociedade Americana para o Progresso da Ciência) em Vancouver, no Canadá, tentando engajar os cientistas e a opinião pública em favor da causa dos cetáceos.

Defender baleias e golfinhos é fácil, eles continuam lá longe no mar enquanto seus defensores participam de congressos nas mais prestigiosas metrópoles do mundo. Difícil mesmo é defender o pobre diabo que morre de frio e fome a nosso lado, nas calçadas das grandes cidades.

19 de março de 2012
janer cristaldo

O ANTIFILISTEU

Artigos - Cultura

Joaquim Nabuco guiava-se segundo aquele ideal de nobreza que Ortega y Gasset definiu como uma “vida dedicada, sempre disposta a superar a si mesma, a transcender do que já é para o que se propõe como dever e exigência”.

Baluarte do movimento abolicionista, representante da quarta geração de sua família no parlamento brasileiro, “monárquico de razão e sentimento”, como ele próprio se define, a Joaquim Nabuco aplica-se, com perfeição, o ideário de Russel Kirk, cujos Dez princípios conservadores encontram-se dispersos nas páginas de Minha formação, um dos melhores exemplos da memorialística nacional, gênero narrativo infelizmente pouco desenvolvido em nosso país, mas que deu sinais de revivescer, há algumas décadas, graças à obra de Pedro Nava.

A maneira como Nabuco analisa, por exemplo, o sistema republicano, considerando-o inferior à monarquia constitucional, pelo fato de se basear na “ausência de unidade, de permanência, de continuidade no governo” e por construir um Estado “em que todos pudessem competir desde o colégio para a primeira dignidade”, sua qualificação da república como “utopia sem atrativo, o paraíso dos ambiciosos, espécie de hospício em que só se conhecesse a loucura das grandezas”, apresentam, no substrato, o desejo do que Kirk chamaria de “ordem moral duradoura”, uma sociedade na qual haja “um forte sentido de certo e errado”, onde os cidadãos não vivam “moralmente à deriva, ignorantes das normas, e voltados primariamente para a gratificação de seus apetites”.

Tal certeza se amplia quando Nabuco recorda a política que encontrou nos Estados Unidos, durante viagem realizada entre 1876 e 1877. Ele não se satisfaz em definir o país como “uma torre de Babel bem-sucedida” e grava sua impressão geral: “a de uma luta sem o desinteresse, a elevação de patriotismo, a delicadeza de maneiras e a honestidade de processos que tornam na Inglaterra (…) a carreira política aceitável e mesmo simpática aos espíritos mais distintos”. Nabuco também critica o jornalismo, cuja “obrigação” é “rasgar a reputação” do candidato, “reduzi-lo a um andrajo, rolar com ele na lama. Para isso não há artifício que não pareça legítimo à imprensa partidária; não há espionagem, corrupção, furto de documentos, intercepção de correspondência ou de confidência, que não fosse justificada pelo sucesso”. E completa:

O efeito de tal sistema pode ser moralizar a vida privada, pelo menos a dos que pretendem entrar para a política, se há moralidade no terror causado por um desses formidáveis exposures eleitorais, os franceses diriam chantage. A vida política, porém, ele não tem moralizado.

Comparando as instituições norte-americanas às inglesas — estas, sim, dignas de incessantes elogios —, Nabuco mostra-se ainda mais severo:

A atmosfera moral em roda da política era seguramente muito mais viciada; a classe de homens a quem a política atraía, inferior, isto é, não era a melhor classe da sociedade, como na Inglaterra; pelo contrário, o que a sociedade tem de mais escrupuloso afasta-se naturalmente da política. A luta não se trava no terreno das idéias, mas no das reputações pessoais; discutem-se os indivíduos; combatem-se, pode-se dizer, com raios Roentgen; escancaram-se as portas dos candidatos; expõe-se-lhes a casa toda como em um dia de leilão. Com semelhante regímen, sujeitos às execuções sumárias da calúnia e aos linchamentos no alto das colunas dos jornais, é natural que evitem a política todos os que se sentem impróprios para o pugilato na praça pública, ou para figurar em um big show.

Suas críticas aumentam ao analisar o republicanismo francês, marcado por um “fermento de ódio, uma predisposição igualitária que logicamente leva à demagogia”. Realidade, aliás, possível de ser constatada em diferentes momentos da história republicana brasileira e que, na última década, além de nos oferecer amostras da típica agressividade esquerdista, tem se configurado, como bem define Nabuco, num “fenômeno de retração intelectual” que conduz à “hipertrofia ingênua da personalidade”. Em outro trecho, no Capítulo XII, ao retomar a discussão, ele conclui:

O fato é que no republicanismo, falo do sincero, do verdadeiro, há um ideal, como no socialismo, no comunismo, no anarquismo há ideal, mas há também inveja, e desta é que parte, quase sempre, o impulso revolucionário.

Admirador do ensaísta Walter Bagehot — autor de The English Constitution e memorável editor da The Economist —, Nabuco não é só um crítico da República e das revoluções, mas também da política que chama de “baixa”, isto é, a política profissional, da luta partidária cotidiana, “espécie de oclusão de pálpebras”. Considerando-se “antes um espectador do meu século do que do meu país”, aponta, com acerto, que “para ser um homem de governo é indispensável fixar, limitar, encerrar a imaginação nas coisas do país e ser capaz de partilhar, se não das paixões, decerto dos preconceitos dos partidos (…)”.

Nabuco não fazia esses comentários no papel de um observador distante. Ao contrário, participou, no início da vida pública, dos embates partidários e sofreu as vilanias típicas da política menor, estreita, que produz raríssimos estadistas. Gradativamente, contudo, libertou-se dos interesses comezinhos, apegando-se à causa da abolição da escravatura e, depois de proclamada a República, impondo-se o ostracismo que só não o afastou da vida intelectual. São os anos, aliás, de maior produtividade, quando publica, em 1896, a biografia de seu pai, Um estadista do Império, outro de seus clássicos. Alguns historiadores defendem a idéia de que, a partir de 1900, ao reingressar no serviço diplomático, Nabuco teria se tornado republicano, mas prefiro crer que entendia seu trabalho como um gesto de patriotismo.

Na verdade, Joaquim Nabuco foi movido por um sentimento aristocrático que se mostrou muito superior ao mero apoio político à monarquia brasileira. Guiava-se segundo aquele ideal de nobreza que Ortega y Gasset definiu como uma “vida dedicada, sempre disposta a superar a si mesma, a transcender do que já é para o que se propõe como dever e exigência”. Sabemos que, para o filósofo espanhol, “a vida nobre se contrapõe à vida vulgar e inerte, que, estaticamente, se restringe a si mesma, condenada à imanência perpétua, a não ser que algum fator externo a obrigue a reagir”. Esse princípio — definido por Nabuco como ser “sensível à impressão aristocrática da vida” — o impediu de se tornar republicano.

Tal elã conservador é, nos dias atuais, incompreensível, inalcançável à maioria das pessoas. Primeiro, por um motivo que, sob determinados aspectos, chega a ser dramático: a república presidencialista arraigou-se à história, aos hábitos e ao imaginário nacional, respondendo à doentia necessidade de sermos comandados por um pater familias e ao desejo submisso de que ele detenha mais que a patria potestas e possa resolver, num passe de mágica, todos os nossos problemas. Segundo, porque a maioria de nós ainda acredita que o sufrágio universal é um sistema democrático, quando, na verdade, como ensina Ortega y Gasset, “no sufrágio universal não são as massas que decidem, seu papel consiste em aderir à decisão de uma ou outra minoria”. Esses dois aspectos da nossa organização social, somados ao desprezo e à chacota das panelinhas marxistas, contribuem para revestir um escritor conservador daquele manto de excentricidade que afasta o leitor médio. Salientemos, no entanto, outra tendência atual: a de reler Nabuco com um olhar esquerdista, o que, além de estrambótico, só cria deturpações.

Mas há uma quarta razão: com o advento do homem-massa, passamos a sofrer do mal que Ortega y Gasset chama de “estranha pretensão”: a de “ser mais que qualquer outro tempo passado; mais ainda: por se desligar de todo o passado, não reconhecer épocas clássicas e normativas, e ver-se a si mesmo como uma vida nova superior a todas as antigas e irredutível a elas”. Assim, para apontar apenas uma das graves conseqüências desse quadro patológico, nossos estudantes saem do ensino médio completamente ignorantes da história brasileira, incapazes de escrever uma lauda, por exemplo, sobre o 2º Império ou qualquer período republicano. Mostrem-me um jovem vestibulando capaz de escrever cinco parágrafos razoáveis sobre o governo Floriano Peixoto ou a Revolução de 1930 e eu lhes mostrarei um bezerro que voa.

Em tal conjuntura, não causa surpresa que ler Joaquim Nabuco tenha se transformado, infelizmente, numa irregularidade, ocorrência extemporânea, de alguma forma prevista pelo próprio escritor durante seus anos de afastamento da vida pública, quando, movido por certa melancolia, afirmava:

O público, os grandes auditórios eram para mim o que é hoje a minha cesta de papel, ou a labareda que dá conta da exuberância supérflua do pensamento. Só muito tarde compreendi por que os que vieram antes de mim se retraíam, quando eu me expandia: em muitos era a saciedade, o enojo que começava; em alguns a troca da aspiração por outra ordem de interesses mais utilitária (…).

Antes desse período, entretanto, Nabuco será uma das principais vozes do movimento de libertação dos escravos, drama para o qual despertara na infância, de maneira inesperada: sentado na entrada da casa-grande do engenho em que vivia, surpreende-se com um jovem negro que se lança aos seus pés, “suplicando-me pelo amor de Deus que o fizesse comprar por minha madrinha para me servir. Ele vinha das vizinhanças, procurando mudar de senhor, porque o dele, dizia-me, o castigava, e ele tinha fugido com risco de vida…”. A partir daí, sua visão evoluirá, a ponto de, na vida adulta, fazê-lo encarar a diplomacia e a política como questões menores. Para ele, o centro de sua existência se resumiu aos dez anos de dedicação exclusiva à campanha abolicionista: “A feição política tornar-se-á secundária, subalterna, será substituída pela identificação humana com os escravos e esta é que ficará sendo a característica pessoal, tudo se fundirá nela e por ela”.

Estilo e ironia

O Nabuco que escreve suas memórias é, antes de tudo, um estilista. Quem se aproximar de seus livros buscando algo que não se assemelhe à sobriedade da frase ou ao uso lapidar da língua se decepcionará. As pistas sobre a formação de seu estilo são múltiplas, mas ele salienta a cópia, na juventude, de páginas das leituras preferidas, as que mais lhe “feriam a imaginação”. Sobre esse exercício, defende uma tese curiosa:

(…) ninguém escreve nunca senão com o seu período, a sua medida, Renan diria a sua eurritmia, dos vinte e um anos. O que se faz mais tarde na madureza é tomar somente o melhor do que se produz, desprezar o restante, cortar as porções fracas, as repetições, tudo o que desafina ou que sobra: a cadência do período, a forma da frase ficará, porém, sempre a mesma.

O fato de manter, desde sempre, o francês como primeira língua também não é desprezível. A intimidade com o idioma estrangeiro leva-o a considerar sua frase como uma “tradução livre”, sendo que “nada seria mais fácil do que vertê-la outra vez para o francês do qual ela procede”, o que o obriga a “constante vigilância”:

Falta-me para reproduzir a sonoridade da grande prosa portuguesa o mesmo eco interior que repete e prolonga dentro de mim, em gradações curiosamente mais íntimas e profundas, à medida que se vão amortecendo, o sussurro indefinível, por exemplo, de uma página de Renan.

Finalmente, não podemos esquecer de suas leituras, nas quais se misturam romancistas, poetas e historiadores: William Thackeray, Thomas Macaulay, John Keats, Ernest Renan, Cícero, Theodor Mommsen, Hippolyte Taine, Jacob Burckhardt e outros.

Desse universo tão particular nascem ótimos trechos, como a definição de certa paisagem do Rio de Janeiro — “um paraíso terrestre antes das primeiras lágrimas do homem, uma espécie de jardim infantil”; sua versão, talvez inconsciente, do famoso verso de Wordsworth (título do Capítulo XI de Memórias póstumas de Brás Cubas) — “O traço todo da vida é para muitos um desenho de criança esquecido pelo homem, mas ao qual ele terá sempre que se cingir sem o saber…”; e a descrição espirituosa de Saraiva, um velho conhecido: “(…) o dicionário português de Londres, verão e inverno em um casacão que lhe descia até os pés, a longa barba inculta, a pele entalhada como um retábulo espanhol, com um montão de livros debaixo do braço e em cada bolso (…)”.

Nabuco é capaz de sínteses inspiradoras: “Cada um de nós é só o raio estético que há no interior do seu pensamento, e, enquanto não se conhece a natureza desse raio, não se tem idéia do que o homem realmente é”. Mas também pode compor longos períodos, exemplos de austeridade — nos quais a pontuação concede às frases um ritmo sereno — e de um escritor que investiga, sem receio, os nichos do seu espírito:

Foi em Londres, graças a uma concentração forçada, a qual não teria sido possível para mim senão em sua bruma, que a minha inteligência primeiro se fixou sobre o enigma do destino humano e das soluções até hoje achadas para ele, e, insensivelmente, na escondida igreja dos Jesuítas, em Farm Street, onde os vibrantes açoites do padre Gallway me fizeram sentir que a minha anestesia religiosa não era completa, depois no Oratório de Brompton, respirando aquela pura e diáfana atmosfera espiritual impregnada do hálito de Faber e de Newman, pude reunir no meu coração os fragmentos quebrados da cruz e com ela recompor os sentimentos esquecidos da infância.

As mesmas qualidades podem ser reencontradas na lembrança da descoberta do mar:

Muitas vezes tenho atravessado o oceano, mas se quero lembrar-me dele, tenho sempre diante dos olhos, parada instantaneamente, a primeira vaga que se levantou diante de mim, verde e transparente como um biombo de esmeralda, um dia em que, atravessando por um extenso coqueiral atrás das palhoças dos jangadeiros, me achei à beira da praia e tive a revelação súbita, fulminante, da terra líquida e movente… Foi essa onda, fixada na placa mais sensível do meu kodak infantil, que ficou sendo para mim o eterno clichê do mar. Somente por baixo dela poderia eu escrever: Thalassa! Thalassa!

E também no final do Capítulo XXV, inteiramente dedicado à figura singular do barão de Tautphœus, trecho no qual Nabuco evoca uma das inúmeras lições ensinadas pelo grande amigo, comparando-a à realidade brasileira:

Oh! que admiráveis monólogos os dele! A última vez que atravessou o nosso mare clausum voltou para casa para morrer. O vestígio do seu pensamento ficou por muito tempo comigo, e ainda por vezes lhe sinto a ondulação fugidia. Foi por minhas palestras com ele que compreendi por fim que um grande espírito podia ficar à vontade, livre, em uma religião revelada, do mesmo modo que foi graças a ele que compreendi que os escritores não formam por si sós a elite dos pensadores, que há ao lado deles, talvez acima, uma espécie de Trapa intelectual votada ao silêncio, e onde se refugiam os que experimentam o desdém da publicidade, de sua ostentação vulgar, de seu mercenarismo mal disfarçado, de seu modo frívolo, de sua apropriação do bem alheio, de sua falta de sinceridade interior. O horror da cena, hoje do mercado, não pode ser um sinal de inferioridade intelectual.

Essa percepção irônica da intelectualidade nacional — atualíssima, aliás — nasceu não só do convívio com as inteligências da época — Nabuco foi grande amigo de Machado de Assis e do grupo responsável pela fundação da Academia Brasileira de Letras —, mas da lenta, e nem sempre prazerosa, construção da autocrítica, faculdade sem a qual é impossível surgir um bom escritor. Nesse sentido, o longo episódio narrado no Capítulo VII merece a leitura de todo candidato a ficcionista ou poeta. Ali, Nabuco nos conta como corria atrás de elogios para os seus primeiros versos — e de que maneira chegou a recebê-los, mas somente para pagar o preço da decepção, ao descobrir que tinham nascido da hipocrisia, do mascaramento das relações sociais. Sua conclusão permanece válida: “O escritor juvenil que não se resignar ao sacrifício da sua honra (grifo do autor) literária não fará progressos em literatura”. Apenas uma pessoa lhe foi sincera: Edmond Schérer — à época, famoso crítico literário da Revue des Deux Mondes —, que reagiu aos seus versos com um “silêncio frio, impenetrável, entretanto polido, atencioso, simpático”.

Aristocracia

No ensaio Um capítulo da higiene mental dos artistas, Hermann Hesse fala sobre a importância do ócio na vida do escritor. O tom às vezes exageradamente hedonístico dessas páginas não me agrada, mas o romancista alemão está certo quando diz que “o trabalho intelectual se deixa envolver e dominar” cada vez mais “pela atividade industrial rude e violenta, sem tradição e bom gosto” e que “retalhamos o tempo em pequenos e ínfimos pedaços, dos quais cada um tem ainda o valor de uma moeda”. O texto, escrito em 1940, permanece atual, com um agravante: a arte, contaminando-se, de maneira crescente, do corriqueiro, do vulgar, passou a obedecer a certo filistinismo hostil, zombeteiro até, em relação à estética que, repelindo a demagogice, anseia preservar um mínimo de virtuoso requinte. Nabuco tinha perfeita consciência disso e denunciava que “o público, o protetor moderno das letras, cuja generosidade tem sido tão decantada, não passa de um Mecenas de meia-cultura”. Não por outro motivo ele alertou, 40 anos antes de Hesse, que

a primeira condição para o espírito receber a impressão de uma grande criação qualquer, seja ela de Deus, seja das épocas — nada é puramente individual —, é o repouso, a ocasião, a passividade, o apagamento do pensamento próprio (…).

Sigamos ou não o seu conselho, nessas palavras — e em toda a obra de Nabuco — encontra-se o signo da verdadeira aristocracia, que não deve oferecer ao leitor apressado a imagem de uma classe supostamente ociosa ou de pessoas que gastam suas vidas em superficialismos. Não. Aqui falamos de altivez, honra e coragem para defender as próprias idéias, mesmo que isso signifique, recordando Ortega y Gasset, possuir elegância digna inclusive para oferecer o pescoço ao golpe da guilhotina. Nabuco, que tinha clara noção de ter sido “uma das mais consistentes figuras da nossa política”, era constituído por tais valores — e, tenhamos esperança, não foi o último de sua espécie.

Rodrigo Gurgel
19 de março de 2012
Publicado no jornal literário Rascunho.

Rodrigo Gurgel é escritor, editor e crítico literário.

OS INIMIGOS DA ANISTIA

Artigos - Governo do PT

"O que está em jogo nesse processo (...) é a disputa da memória e da verdade histórica e política do período. De um lado, os que lutaram contra o golpe militar, pela democracia e pela liberdade em nosso país (...)".
Extraído do site inverta.org.

Não há qualquer novidade nisso. Nem na "disputa da memória e da verdade", nem na deslavada e tão repetida mentira que lhe segue. A pacificação nacional, a normalidade democrática e a anistia, quando necessária para isso, sempre tiveram inimigos. No geral, os mesmos, que se reproduzem e se repetem como ondas chegando na praia das instituições nacionais. Durante os governos militares, a pacificação foi retardada por aqueles que pegaram em armas para derrubar um regime autoritário e implantar um outro, totalitário, infinitamente pior. Impossível negar: sob orientação e financiados por potências estrangeiras, ansiavam por implantar no Brasil uma ditadura do proletariado segundo os modelos que, entre outros, tiranizavam os povos da URSS, China e Cuba.

Em diversos depoimentos, os próprios militantes da luta armada reconhecem que ela serviu para prolongar o regime militar. Assista, a propósito, o filme Hércules 56, onde conhecidos participantes daqueles episódios afirmam-no de viva voz e corpo presente. Não há que negar, tampouco: se entre os que pegaram em armas existiu alguém com afeições democráticas, essa afeição era tão clandestina, tão dissimulada que não chegou a ser conhecida. Jamais deu nome a qualquer de suas organizações ou fez parte de seus documentos ou manifestos. Bem ao contrário. A democracia, para eles, era papo da burguesia.

A própria anistia de 1979 precisou - por incrível que pareça - superar obstáculos interpostos por dois flancos. Pelo flanco da direita agiam militares da chamada linha-dura e políticos civis que anteviram a perda do poder sob o qual vicejavam. Pelo flanco da esquerda atacavam-na políticos de muito mau caráter, receosos da concorrência dos exilados e anistiados que retornariam às refregas eleitorais. Lula chegou a expressar sua contrariedade com a possível volta dos que estavam no exterior em recado enviado ao general Golbery, através de Claudio Lembo, então presidente da ARENA: “Doutor Claudio, fala para o general que eu não entro nessa porque eu quero que esses caras se danem. Os caras estão lá tomando vinho e vêm para cá mandar em nós?" Essa reunião e a resposta de Lula foram testemunhadas pelo jornalista José Nêumanne que relatou o episódio no livro "O que sei de Lula".

Como tudo no Brasil, a anistia virou uma negociata. Milionárias indenizações e farta distribuição de robustas pensões vitalícias se derramam ainda hoje sobre árvores genealógicas inteiras. Em alguns casos fazendo justiça; noutros servindo à sanha de picaretas. E de novo Lula aparece na lista. Virou pensionista por ter sido destituído da presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Pediu e levou. Ligeirinho. Um negócio da China.

Mas o fato é que apesar dos pesares, dos opositores e dos abusadores, a anistia restaurou a normalidade institucional e estamos no rumo para cumprir o mais longo período de estabilidade política da nossa história republicana. Mas isso não satisfaz os revanchistas. Em plena conformidade com a tradição dos totalitarismos, é preciso escrever a história com os substantivos e os adjetivos que lhes convém. É preciso transformar bandidos e traidores em mártires. É preciso pendurar no peito de guerrilheiros comunistas, assaltantes, quadrilheiros, sequestradores, cultores da violência, que sempre desprezaram a democracia e seus valores, a medalha de honra da causa que ridicularizavam. E é preciso acabar com essa tranquilidade porque, como ensinou o camarada Che Guevara de suas surradas camisetas, "o ódio é instrumento de luta".

Escolha o leitor com quem quer ficar. Se com o ódio cultivado de Guevara ou com as palavras que Mandela transformou em vida vivida na África do Sul: "Ninguém nasce odiando (...). Para odiar as pessoas precisam aprender. E se podem aprender a odiar, podem aprender a amar".




Nota:
Magistratura beligerante e totalitária

Uma tal Associação dos Juízes para a Democracia, entidade de militância política que surgiu como fungo no Poder Judiciário, está cobrando do governo federal agilidade da constituição da Comissão da "Verdade". Essa associação, há algum tempo, prestou homenagem a João Pedro "Quebra-Quebra" Stédile, um articulador da ruptura do Estado de Direito, um agravador de magistrados, líder de um movimento que rasga e descumpre ordens judiciais.

Não sei como o CNJ tolera a existência de uma entidade com esse perfil articulando 130 magistrados dos quais todo jurisdicionado (pagador da conta da justiça nacional) haverá de querer distância! Gente sem pudor. Se querem exercer militância política vão buscar legitimidade para isso no voto popular. Valer-se das prerrogativas do cargo para fazer política e semear ideologia é totalitarismo judicial.

Percival Puggina
19 Março 2012