Existem pessoas que passam pelo planeta Terra e não deixam nenhuma marca, isso deve-se à pequenez das suas atitudes, das suas ações e dos seus pensamentos. Outras deixam algum mediano vestígio digno de recordação. E, apenas um pequeno número deixa uma mensagem intensa, forte e vibrante, que é impossível não estar sempre a citá-las como exemplo em nossas próprias vidas. Para mim, entre tantos que poderia aqui destacar positivamente, aponto o nome de Pedro de Alcântara João Carlos Leopoldo Salvador Bibiano Francisco Xavier de Paula Leocádio Miguel Gabriel Rafael Gonzaga, conhecido por todas as monarquias do mundo como D. Pedro II.
O Grande Imperador nasceu no Rio de Janeiro, no dia 2 de dezembro de 1825. Filho de Dom Pedro I (Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon), do ramo brasileiro da Sereníssima Casa de Bragança, e da Arquiduquesa Maria Leopoldina (Carolina Josefa Leopoldina Francisca Fernanda de Habsburgo-Lorena). A 7 de abril de 1831, com apenas 6 anos de idade, o Príncipe Imperial Pedro tornou-se "Dom Pedro II, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil”.
Esse homem, que assombrou a todos que o conheceram, devido às suas capacidades intelectuais, teve a infância e a adolescência voltadas para o estudo. Dominava a Antropologia, a Geologia, a Medicina, o Direito, a Religião, a Filosofia, a Geografia, a Pintura, o Teatro, a Escultura, a Fotografia (foi o primeiro fotógrafo do Brasil, tendo, inclusive adquirido uma câmera de daguerreótipo, em março de 1840, além de ter criado um laboratório fotográfico em São Cristóvão), a Música, a Poesia, a Química (criou um laboratório no Rio de Janeiro), a Física (também no Rio de Janeiro implantou um laboratório), a Astronomia (mandou construir um observatório no Paço) e a Tecnologia. Poliglota, dominava perfeitamente bem o inglês, o francês, o alemão, o italiano, o castelhano, o catalão, o latim, o árabe, o grego, o hebraico, o sânscrito, o aramaico, o chinês e o tupi-guarani.
A 23 de julho de 1840, com o apoio do Partido Liberal, e colocando fim ao Período Regencial Brasileiro, a Assembleia Geral do Senado declarou que D. Pedro II estaria apto para subir ao trono, apesar dos seus modestos 14 anos de idade. Assim sendo, foi ali preparada e aprovada a Declaração da Maioridade, que, acreditava-se, e veio a acontecer, voltaria a unir o Brasil, acabando com as revoltas: Farroupilha, Sabinada, Cabanagem, Revolta dos Malês e Balaiada, além de retirar do poder a Regência Una do Partido Conservador. O Grande Imperador foi aclamado, coroado e consagrado quase um ano depois, no dia 18 de julho de 1841.
Foi durante o seu reinado que surgiu o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a Imperial Academia de Música, a Ópera Nacional e o Colégio D. Pedro II.
A Imperial Escola de Belas Artes, criada por seu pai, recebeu inúmeros incentivos financeiros.
Preocupado com a educação espalhou escolas por todo o país e ofereceu bolsas de estudo a inúmeros brasileiros, para que estes pudessem frequentar Escolas de Arte, Conservatórios e Universidades em várias partes da Europa. Financiou a criação do Instituto Pasteur e a Bayreuth Festspielhaus Casa da Ópera (de Richard Wagner).
Devido à infância reclusa, o Grande Imperador era tímido, carente e solitário, vendo o mundo pelo prisma da literatura, sendo esta um refúgio, um porto seguro à sua alma. Aqueles que esperavam um imaturo adolescente a assumir o trono enganaram-se, pois a sua dedicação a todos os assuntos do reino, as suas inspeções diárias, as suas visitas repentinas às repartições públicas, mostraram que ele sabia perfeitamente bem o que o povo necessitava e o que o país esperava de si.
D. Pedro II herdou um Império quase extinto, porém, a sua grandeza de espírito, a sua força interior, o seu modo de ser e estar, fizeram do Brasil a grande potência emergente daquela era. A estabilidade política, a liberdade de expressão, o crescimento económico veloz, o respeito aos direitos civis, todo um conjunto de fatores que foi marcando o seu nome na história das Monarquias, fez com que o Brasil fosse catapultado para uma esfera altíssima de respeito e admiração internacional, porém, foi a sua forma direta de governo, uma monarquia parlamentar constitucional, a raiz de todo o sucesso. A Monarquia de Dom Pedro II foi a verdadeira Democracia coroada.
D.Pedro II - cerca de 1887
As dificuldades apresentavam-se a todo o instante, por exemplo: três conflitos internacionais de grande monta: a Guerra do Prata, a Guerra do Paraguai e a Guerra do Uruguai, além de vários “enervamentos” caseiros, sim, por que apesar do sucesso do seu reinado, os insatisfeitos, naturalmente os que ambicionavam o poder e os benefícios deste, estavam sempre a tentar perturbar a paz instalada.
D. Pedro II foi um fervoroso adepto da abolição da Escravatura, logo conquistando muitos inimigos, foi também um incentivador e patrocinador da cultura e da ciência, e com tanto sucesso que recebeu congratulações, respeito, admiração e amizade de ilustres figuras, entre elas: Friedrich Nietzsche, Charles Darwin, Alexandre Herculano, Alexander Graham Bell, Louis Pasteur, Victor Hugo, Henry Wadsworth Longfellow, Arthur de Gobineau, Frédéric Mistral, Alessandro Manzoni, Camilo Castelo Branco, James Cooley Fletcher, Richard Wagner, Louis Agassiz, John Greenleaf Whittier, Michel Eugène Chevreul, e António Carlos Gomes. Foi, deste último, um grande mecenas, bem como de Vítor Meirelles, Pedro Américo, Gonçalves Dias, Gonçalves Magalhães, entre outros, apoiando-os social e financeiramente na carreira que abraçaram.
No ano de 1875, foi eleito com pompa e circunstância Membro da Academie des Sciences de France, é de destacar que somente Pedro, o Grande e Napoleão Bonaparte receberam igual honraria até àquela data.
O Grande Imperador foi um dedicado investigador das novas tecnologias, logo, interessou-se pelo telefone (foi o primeiro brasileiro a falar num aparelho desses, e isso ocorreu numa conversa com Graham Bell, no ano de 1876, na Exposição Universal, em Filadélfia, Pensilvânia, na comemoração do Centenário de Independência dos Estados Unidos, que foi inaugurada pelo próprio D. Pedro II e pelo presidente americano Ulysses S. Grant, nascido Hiram Ulysses Grant), pelo telégrafo, pelo cabo submarino, pela implantação da maior rede ferroviária da América do Sul, pela abertura de vários estaleiros para a construção naval, pela apresentação do comércio brasileiro para o capital externo, pela inauguração da iluminação a gás no Rio de Janeiro, pela permissão e apoio da entrada de europeus no Brasil, sendo também um incentivador e financiador da agricultura, do comércio e da indústria em solo brasileiro.
O povo admirava e respeitava o seu Imperador, mas, os inimigos do reino, acompanhados por um pequeno grupo de militares, desejavam a instalação da República e para ela trabalharam na sombra, minando diversos setores da nação. Inesperadamente um estúpido golpe de Estado retira D. Pedro II do trono. Um final incomum para um homem brilhante.
Com a deposição do Grande Imperador sucederam-se longos períodos de governos fracos, de crises financeiras, culturais e educacionais, além de ditaduras que mancharam o bom nome do Brasil perante o mundo.
Aquele fatídico 15 de novembro de 1889, dia da rebelião que depôs D. Pedro II, é uma mancha na história do Brasil.
Sereno, o Grande Imperador, quando soube da sua deposição, teve a modéstia e a simplicidade a ampará-lo: “Se assim é, será a minha aposentadoria. Trabalhei demais e estou cansado. Agora vou descansar”. Sendo obrigados a exilarem-se, D. Pedro II, a esposa Dona Teresa Cristina de Bourbon-Duas Sicílias (Teresa Cristina Maria Giuseppa Gasparre Baltassarre Melchiore Gennara Rosalia Lúcia Francesca d'Assisi Elisabetta Francesca di Padova Donata Bonosa Andréa d'Avelino Rita Liutgarda Geltruda Venância Taddea Spiridione Rocca Matilde, 1822 – 1889) e as filhas, princesas Dona Isabel (Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon, 1846-1921) e Dona Leopoldina (Leopoldina Teresa Francisca Carolina Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bragança e Bourbon, 1847-1871). A Família Imperial seguiu para a Europa a 17 do mesmo mês e ano (o casal teve outros dois filhos, porém, estes morreram em tenra idade: os príncipes Dom Afonso (1845-1847) e Dom Pedro (1848-1850)). O novo regime político suprimiu com severa brutalidade todas as tentativas de impedir a partida do Grande Imperador. A Liberdade foi tolhida, a voz do povo silenciada.
A Imperatriz Dona Teresa Cristina faleceu poucos dias depois da sua chegada à cidade do Porto, em Portugal.
D. Pedro II refugiou-se em Paris onde viveu dois anos cheios de tristeza e nostalgia. Vítima de uma pneumonia, a 5 de dezembro de 1891, às 00:35 horas, o seu coração parou.
Trezentas mil pessoas, entre elas, quase todos os representantes do governo francês, além de Francisco II, ex-rei das Duas Sicílias, Isabel II, ex-rainha da Espanha, Luís Filipe, Conde de Paris, representantes de outros governos, dos continentes americano, europeu e asiático. A maioria dos membros da Academia Francesa, do Instituto de França, da Academia de Ciências Morais, da Academia de Inscrições e Belas-Artes, da Royal Society, da Academia das Ciências da Rússia, das Reais Academias de Ciências e Artes da Bélgica, da Sociedade Geográfica Americana, compareceram às homenagens fúnebres. Quando estas terminaram, o esquife foi levado em cortejo até à estação dos caminhos-de-ferro, com destino a Lisboa, onde chegaria aclamado pela população e autoridades. A 12 de dezembro foi depositado no Panteão dos Braganças, na Igreja de São Vicente de Fora.
Quando soube da morte do Grande Imperador, o povo brasileiro cobriu-se de luto (sendo ferozmente combatidos pelos republicanos), fechando as portas dos estabelecimentos comerciais, ostentando tarjas negras nas roupas, colocando bandeiras a meia haste, executando toques de finados, realizando missas solenes por todo o país, pronunciando inúmeros discursos fúnebres em quase todo o território nacional.
Para o povo do Brasil, de Portugal e de muitas outras nações, com a morte de D. Pedro II, desaparecia um governante sábio, austero, honesto, benevolente e caridoso.
Em 1921, os seus restos mortais (bem como os da Imperatriz Dona Teresa Cristina) foram levados para o Brasil. Foi decretado feriado nacional. Uma grande manifestação popular ocorreu nesse momento, com o povo ajoelhando-se perante a passagem das urnas, batiam-se palmas, os mais velhos choravam, os mais novos mantinham a fronte baixa, não se via diferenças de raça, não se sabia quem era monárquico ou republicano, eram todos brasileiros, a clamar pelo seu Imperador.
O maior de todos voltava à sua pátria, para ali ficar para todo o sempre.
E eu, daqui do meu exílio, ofereço a minha mais alta estima e consideração a Sua Majestade Imperial Dom Pedro II, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil.
04 de junho de 2013
Rui Calisto
in Jornaleco