"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 7 de abril de 2012

PODER E COMPETÊNCIA - PARTES 1/3

SABE COM QUEM VOCÊ ESTÁ FALANDO?

A REVOLUÇÃO DOS BICHOS CAP. 10 FINAL

CAPÍTULO X

Passaram-se anos. As estações vinham, passavam e a curta vida dos bichos se consumia. Tempo chegou em que ninguém mais se lembrava de antes da Revolução, com exceção de Quitéria, Benjamim, o corvo Moisés e alguns porcos.

Maricota morreu; Ferrabrás, Lulu e Cata-vento morreram. Jones também morreu num asilo de alcoólatras, noutra cidade. Bola-de-Neve fora esquecido. Sansão também, exceto pelos poucos que o haviam conhecido. Quitéria era agora uma égua velha, corpulenta, com os olhos atacados pela catarata. Já ultrapassara de dois anos a idade de aposentadoria. Aquela história de reservar um pedaço de campo para os animais idosos não era mais nem mencionada. Napoleão tornara-se um cachaço madurão de uns cento e cinqüenta quilos. Garganta estava tão gordo que mal conseguia abrir os olhos. Somente Benjamim continuava o mesmo, apenas de focinho um pouco mais grisalho e, desde a morte de Sansão, mais rabugento e taciturno do que nunca.

Agora existiam muito mais criaturas na granja embora o índice de crescimento não fosse aquele que esperavam nos primeiros anos. Haviam nascido muitos animais, para os quais a Revolução não passava de uma obscura tradição transmitida verbalmente, e outros que nem sequer tinham ouvido falar coisa nenhuma a respeito. A granja contava agora com três cavalos além de Quitéria. Eram bichos formidáveis, trabalhadores incansáveis, bons camaradas mas muito estúpidos. Nenhum se mostrou capaz de aprender o alfabeto além da letra B. Aceitavam tudo quanto lhes era dito a respeito da Revolução e dos princípios do Animalismo, especialmente por Quitéria a quem dedicavam um respeito filial, mas era duvidoso que entendessem lá grande coisa.

A granja prosperava e estava mais bem organizada; fora até aumentada pela compra de dois tratos de terra ao Sr. Pilkington. O moinho de vento afinal, fora concluído com êxito e a granja possuía uma debulhadeira e um elevador de feno próprio, e construções novas se haviam erguido. Whymper comprara uma aranha. O moinho de vento, entretanto, não era usado para gerar energia elétrica. Usavam-no para moer cereais, coisa que dava bom dinheiro. Os animais estavam a braços com a construção de outro moinho de vento; quando este estivesse concluído, dizia-se, seriam instalados os dínamos. Mas naquele luxo de que Bola-de-Neve lhes falara certa vez, baias com luz elétrica e água quente e fria, e na semana de três dias, não se falava mais. Napoleão denunciara tais idéias como contrárias aos princípios do Animalismo. A verdadeira felicidade, dizia ele, estava em trabalhar bastante e viver frugalmente.

De certa maneira, parecia como se a granja se houvesse tornado rica sem que nenhum animal tivesse enriquecido - exceto, é claro, os porcos e os cachorros. Talvez isso acontecesse por haver tantos porcos e tantos cachorros. Não que esses animais não trabalhassem, à sua moda. Garganta nunca se cansava de explicar que havia um trabalho insano na ação de supervisionar e organizar a granja. Grande parte desse trabalho era de natureza tal que estava além da ignorância dos bichos. Tentando explicar, Garganta dizia-lhes que os porcos despendiam diariamente enormes esforços com coisas misteriosas chamadas "arquivos", "relatórios", "minutas" e "memorandos". Eram grandes folhas de papel que precisavam ser miudamente cobertas com escritas e, logo depois, queimadas no forno.

Era tudo da mais alta importância para o bem-estar da granja, dizia Garganta. A verdade é que nem os porcos nem os cachorros produziam um só grama de alimento com o seu trabalho; e havia um bocado deles, com o apetite sempre em forma.

Quanto aos outros, sua vida, ao que sabiam, continuava a mesma. Geralmente andavam com fome, dormiam em camas de palha, bebiam égua no açude e trabalhavam no campo; no inverno, sofriam com o frio; no verão, com as moscas.

De vez em quando, os mais idosos rebuscavam a apagada memória e tentavam determinar se nos primeiros dias da Revolução, logo após a expulsão de Jones, as coisas haviam sido melhores ou piores do que agora. Não conseguiam lembrar-se. Nada havia com que estabelecer comparação: não tinham em que basear-se, exceto as estatísticas de Garganta, que

invariavelmente provavam estar tudo cada vez melhor. Os bichos consideravam o problema insolúvel; de qualquer maneira, dispunham de muito pouco tempo para essas especulações. Apenas o velho Benjamim afirmava lembrar-se de cada detalhe de sua longa vida e saber que as coisas nunca haviam estado e nunca haveriam de ficar nem muito melhor nem muito pior, sendo a fome, o cansaço e a decepção, assim dizia, a lei imutável da vida.

Mesmo assim os bichos nunca perdiam a esperança. Mais ainda, jamais lhes faltava, nem por instantes, o sentimento de honra pelo privilégio de serem membros da Granja dos Bichos que continuava ser a única em todo o condado - em toda a Inglaterra! - de propriedade dos animais e por eles administrada. Nenhum deles, nem mesmo os mais moços, nem mesmo os chegados de outras granjas, situadas algumas a dez ou vinte quilômetros de distância, jamais deixaram de maravilhar-se com isto. E quando ouviam o tiro da espingarda e viam a bandeira flutuando no topo do mastro, seu coração se inchava de orgulho e a conversa passava a girar em torno dos históricos dias de antanho, da expulsão de Jones, da inscrição dos Sete Mandamentos, das grandes batalhas em que os invasores humanos haviam sido derrotados.

Nenhum dos antigos sonhos fora abandonado. A República dos Bichos, que o velho Major havia previsto, quando os verdes campos da Inglaterra não mais seriam pisados pelos pés humanos, era coisa em que ainda acreditavam. O dia havia de chegar. Podia ser mais cedo ou mais tarde, talvez não acontecesse durante a vida de qualquer dos animais de então, mas havia de chegar. Até a melodia de Bichos da Inglaterra talvez fosse cantarolada secretamente aqui e ali; de qualquer maneira, a verdade é que cada bicho da granja a conhecia, embora nenhum tivesse coragem de cantá-la em voz alta.

Talvez fosse verdade que a vida era difícil e que nem todas as suas esperanças se haviam concretizado; mas tinham a consciência de não serem iguais aos outros animais. Se tinham fome, não era por alimentarem alguns tirânicos seres humanos; se trabalhavam arduamente, pelo menos trabalhavam em seu próprio benefício.

Nenhuma criatura dentre eles andava sobre duas pernas. Nenhuma criatura era "dona" de outra. Todos os bichos eram iguais.

Certo dia, no início do verão, Garganta mandou que as ovelhas o seguissem e levou-as para um campo situado nos confins da granja, que fora tomado de brotação de vidoeiro. As ovelhas passaram o dia inteiro roendo as brotações, sob a supervisão de Garganta. À noite, ele regressou à granja, mas, como disse às ovelhas que permanecessem lá, terminaram ficando a semana toda durante a qual os outros bichos nem as enxergavam. Garganta passava com elas a maior parte do dia. Estava, explicou, ensinando-lhes uma nova canção para a qual precisava de certo sigilo.

Foi logo após o retorno das ovelhas, numa noite agradável, quando os bichos haviam terminado seu trabalho e regressavam à granja, que se ouviu, vindo do pátio, um relinchar horripilante. Arrepiados os animais estacaram. Era a voz de Quitéria. Ela relinchou outra vez e os bichos dispararam a galope para o pátio. Viram, então, o que ela havia visto. Um porco caminhava sobre as duas patas traseiras. Sim, era Garganta. Um tanto desajeitado devido à falta de prática em manter seu volume naquela posição, mas em perfeito equilíbrio, passeava pelo pátio. Momentos depois, saiu pela porta da casa uma comprida coluna de porcos, todos caminhando sobre as patas de trás.

Uns melhor que os outros, um ou dois até meio desequilibrados e dando a impressão de que apreciariam o apoio de uma bengala, mas todos fizeram a volta ao pátio bastante bem. Finalmente houve um alarido dos cachorros, ouviu-se o cocoricó esganiçado do garnisé e emergiu Napoleão, majestosamente, desempenado, largando olhares arrogantes para os lados, com os cachorros brincando à sua volta. Trazia nas mãos um chicote.

Houve um silêncio mortal. Surpresos, aterrorizados, uns junto aos outros, os bichos olhavam a fila de porcos marchar lentamente em redor do pátio. Pareceu-lhes enxergar o mundo de cabeça para baixo.

Então veio um momento em que, passado o choque e a despeito de tudo - a despeito do terror dos cachorros e do hábito, arraigado após tantos anos, de nunca se queixarem, nunca criticarem, pouco importava o que sucedesse -, poderiam lançar uma palavra de protesto.

Porém, exatamente nesse instante, como se obedecessem a um sinal combinado, as ovelhas, em uníssono, estrondaram num espetacular balido: - Quatro pernas bom, duas pernas melhor! Quatro pernas bom, duas pernas melhor! Quatro pernas bom, duas pernas melhor!

Baliram durante cinco minutos sem cessar. E, quando se calaram, fora-se a oportunidade da palavra de protesto, pois os porcos já haviam voltado para dentro da casa.

Benjamim sentiu um focinho esfregar-lhe o ombro. Era Quitéria. Seus olhos pareciam mais encobertos que nunca. Sem dizer palavra, ela o puxou delicadamente pela crina, levando-o até o fundo do grande celeiro, onde estavam escritos os Sete Mandamentos. Durante um ou dois minutos ficaram olhando a parede alcatroada com o grande letreiro branco.

Minha vista está falhando - disse ela finalmente. - Mesmo quando eu era moça não conseguia ler o que estava escrito aí. Mas parece-me agora que a parede está meio diferente.

Os Sete Mandamentos são os mesmos de sempre, Benjamim?

Pela primeira vez, Benjamim consentiu em quebrar sua norma, e leu para ela o que estava escrito na parede.

Nada havia, agora, senão um único Mandamento dizendo:

TODOS OS ANIMAIS SÃO IGUAIS

MAS ALGUNS ANIMAIS SÃO MAIS


Depois disso, não foi de estranhar que, no dia seguinte, os porcos que supervisionavam o trabalho da granja andassem com chicotes nas patas. Nem estranharam ao saber que os porcos haviam comprado um aparelho de rádio, que estavam tratando da instalação de um telefone e da assinatura de jornais e revistas.

Não estranharam quando Napoleão foi visto passear nos jardins da casa com um cachimbo na mão, nem quando os porcos se assenhorearam das roupas do Sr. Jones e passaram a usá-las, sendo que Napoleão apresentou-se vestindo um casaco negro, calças de caçador e perneiras de couro, enquanto sua porca favorita surgia com o vestido de seda que a Sra. Jones usava aos domingos.

Uma semana mais tarde, após o meio-dia, apareceram numerosas charretes subindo rumo à granja. Uma representação de granjeiros vizinhos fora convidada a realizar uma visita de inspeção. Toda granja lhes foi mostrada e eles expressaram admiração por tudo quanto viram, especialmente pelo moinho de vento.

Os bichos estavam limpando a lavoura de nabos. Trabalhavam diligentemente, mal levantando o olhar do chão e sem saber a quem temer mais, se os porcos, se os visitantes humanos.

Naquela noite, altas risadas e cantorias chegaram da casa. Lá pelas tantas, ante o som das vozes misturadas, os bichos encheram-se de curiosidade. Que estaria acontecendo lá dentro, agora que, pela primeira vez, encontravam-se em teremos de igualdade os animais e os seres humanos?

Pensando todos a mesma coisa, dirigiram-se furtivamente para o jardim da casa. No portão titubearam, um tanto temerosos, mas Quitéria deu o exemplo e entrou. Andaram, pé ante pé, até a casa, e os mais altos espiaram pela janela da sala de jantar. Lá dentro, em volta de uma mesa grande, estavam sentados meia dúzia de granjeiros e meia dúzia de porcos dentre os mais eminentes, Napoleão no lugar de honra, à cabeceira.

Os porcos pareciam perfeitamente à vontade em suas cadeiras.

O grupo estivera jogando cartas, mas havia interrompido o jogo por instantes, evidentemente para os brindes. Um grande jarro circulava e os copos se enchiam de cerveja. Ninguém notou as caras admiradas dos bichos, que espiavam pela janela.

O Sr. Pilkington, de Foxwood, levantara-se com o copo na mão. Disse que ia convidar os presentes para um brinde. Mas, antes, desejava dizer algumas palavras, que julgava de seu dever pronunciar.

Era motivo de grande satisfação para ele - e tinha certeza de que falava por todos os demais - sentir que o longo período de desconfianças e desentendimentos chegara ao fim. Tempo houvera - não que ele ou qualquer dos presentes tivesse pensado dessa maneira -, mas tempo houvera em que os respeitáveis proprietários da Granja dos Bichos haviam sido olhados, não diria com hostilidade, mas com uma certa apreensão, por seus vizinhos humanos. Ocorreram incidentes desagradáveis e idéias errôneas haviam circulado.

Parecera a muitos que a existência de uma granja pertencente a animais e por eles administrada era coisa um tanto fora do comum e poderia vir a causar transtornos à vizinhança.

Muitos granjeiros supuseram, sem as verificações devidas, que em tal granja prevaleceria um espírito de licensiosidade e indisciplina. Haviam-se preocupado com o efeito de tudo isso sobre seus próprios animais e, até mesmo, sobre seus empregados humanos. Mas todas essas dúvidas estavam agora dissipadas. Hoje ele e seus companheiros haviam visitado a Granja dos Bichos, inspecionando cada metro quadrado com seus próprios olhos, e que haviam encontrado? Não apenas métodos dos mais modernos, mas uma ordem e uma disciplina que podiam servir de exemplo. Julgava poder afirmar que os animais inferiores da Granja dos Bichos trabalhavam mais e recebiam menos comida do que quaisquer outros animais do condado. Para falar a verdade, ele e seus companheiros de visita haviam visto, naquele dia, muita coisa que pretendiam introduzir imediatamente em suas próprias granjas.

Finalizaria suas palavras, continuou, assinalando mais uma vez os sentimentos de amizade, que prevaleciam e deviam prevalecer entre a Granja dos Bichos e seus vizinhos. Entre os porcos e os seres humanos não havia, e eram inteiramente inadmissíveis quaisquer conflitos de interesses. Suas lutas e suas dificuldades eram uma só. Pois o trabalho não constituía o mesmo problema em toda parte? A essa altura evidenciou-se que o Sr. Pilkington pretendia soltar para a platéia algum dito espirituoso, mas por alguns momentos pareceu por demais dominado pelo gozo da própria piada, para poder dizê-la. Depois de muita

sufocação, que deixou vermelhos os seus vários queixos, ele conseguiu largá-la: "Se os senhores têm que lutar com os seus animais inferiores, nós temos as nossas classes inferiores". Este bon mot causou sensação na mesa, e o Sr. Pilkington novamente felicitou os porcos pelas baixas rações, pelas muitas horas de trabalho e pela ausência geral de tolerância que observara na Granja dos Bichos.

E agora, disse finalmente, convidava o grupo a levantar-se e verificar se os copos estavam cheios. - Senhores - concluiu o Sr. Pilkington - proponho um brinde: À prosperidade da Granja dos Bichos!

Houve uma entusiástica saudação e depois muitas palmas. Napoleão ficou tão emocionado que deixou seu lugar e deu a volta à mesa para tocar com seu copo o do Sr. Pilkington, antes de esvazia-lo. Quando as felicitações acabaram, Napoleão, que permanecera de pé, disse que iria também proferir algumas palavras.

Como todos os discursos de Napoleão, aquele foi curto e direto ao assunto. Também ele, disse, alegrava-se de que o período de desentendimentos tivesse chegado ao fim. Por longo tempo houve rumores - inventados, acreditava, e tinha razões para isso, por algum inimigo mal-intencionado - de que havia algo de subversivo e mesmo de revolucionário nos pontos de vista seus e de seus companheiros.

Tinham passado por desejosos de fomentar a rebelião entre os animais das granjas vizinhas. Nada podia estar mais longe da verdade! Seu único desejo, agora como no passado era viver em paz e gozando de relações normais com os seus vizinhos. Aquela granja que ele tinha a honra governar, acrescentou, era um empreendimento cooperativo. As escrituras que estavam em seu poder conferiam a posse a todos os porcos. Não acreditava que ainda restassem quaisquer das velhas suspeitas, mas certas modificações na rotina da granja haviam sido introduzidas com o fito de promover uma confiança ainda maior. Até aquele momento os bichos haviam conservado o hábito imbecil de dirigirem-se uns aos outros pela alcunha de "camarada". Isso ia acabar. Existira também o costume insólito, cuja origem era desconhecida, de marchar aos domingos, desfilando frente a uma caveira de porco pregada num poste. Isso também ia acabar, e a caveira já for a enterrada. Os visitantes com certeza teriam observado também a bandeira verde que tremulava no poste. Nesse caso teriam notado que as antigas figuras do chifre e da ferradura, em branco, haviam sido suprimidas. Daí por diante seria uma bandeira puramente verde.

Tinha apenas um reparo, disse, a fazer ao excelente discurso, bem próprio de um bom vizinho, do Sr. Pilkington.


O Sr. Pilkington referira-se o tempo todo à "Granja dos Bichos". Naturalmente ele não podia saber - mesmo porque Napoleão o estava proclamando, naquele instante, pela primeira vez - que a denominação "Granja dos Bichos" for a abolida. A partir daquele momento, sua granja voltaria a ser conhecida como "Granja do Solar", que, aliás, parecia-lhe, era seu nome correto e original.


Senhores - concluiu Napoleão , levantarei o mesmo brinde, mas sob forma diferente. Encham, até a borda, seus copos. Senhores, este é o meu brinde. À prosperidade da Granja do Solar!

Houve as mesmas calorosas felicitações de antes, e os copos foram esvaziados. Mas aos olhos dos bichos, que lá de fora a espiavam, pareceu que algo estranho estava acontecendo. Que diabo teria alterado a cara dos porcos? Os olhos embaçados de Quitéria iam de uma cara para outra. Algumas tinham cinco queixos, outras quatro, outras três. Mas alguma coisa parecia misturá-las e modificá-las. Então, findos os aplausos, o grupo pegou novamente nas cartas, reencetando o jogo interrompido, e os animais afastaram-se silenciosamente.

Não haviam, porém, chegado sequer a vinte metros quando se detiveram, ante o vozerio alto que vinha lá de dentro. Voltaram correndo e tornaram a espiar pela janela.

Realmente, era uma discussão violenta. Gritos, socos na mesa, olhares suspeitos, furiosas negativas. A origem do caso, ao que parecia, fora o fato de Napoleão e o Sr. Pilkington haverem, ao mesmo tempo, jogado um ás de espadas.

Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco.

Sansão era a admiração de todos. Já era trabalhador no tempo de Jones; agora, como que valia por três. Dias houve em que todo trabalho da granja parecia recair sobre seus fortes ombros. Da manhã à noite lá estava ele, puxando e empurrando, sempre, no lugar onde o trabalho era mais pesado. Fizera um trato com um dos galos para ser chamado meia hora mais cedo que os demais, todas as manhãs, e empregava esse tempo em trabalho voluntário no que parecesse mais necessário. Sua solução para cada problema, para cada contratempo, era "Trabalharei mais ainda", frase

que adotara como seu lema particular.
07 de abril de 2012
Cap. 9 no arquivo  de 29 de março dde 2012.

CARLINHOS CACHOEIRA SE ESTREPOU. SEU MUNDO É FIEL.

Esse episódio do Carlinhos Cachoeira tomou conta de mim. Isso pode querer dizer, por exemplo, que eu sou a alma nacional. Ou não. Ninguém precisa se apegar assim a um raciocínio i/lógico e abstrato e concreto. Ou também não. E ainda não. Mil vezes, não!

Que porra de palavra é essa que não vale bosta nenhuma? Se não for a expressão máxima e explícita da hipocrisia humana, ela não é nada.

Ou você acha que, na política, existe fidelidade partidária? Ou que, na sonhada vida a dois, há fidelidade conjugal? Porra, o que seria da masturbação, cara?!? E sem a punheta, cara, o que seria do mundo? Os tarados tomariam conta da sociedade! Sua mulher, para o seu bem e libertação, seria atacada, estuprada, vilipendiada!

Se houvesse fidelidade partidária, jamais o Sarney seria quem é: amigo de Renan, de Collor, de Lula, de Dilma, de Tancredo, de FHC, do maridoo de Roseana... E olha que ele é um dos mais fiéis que se conhece: fiel à Arena, ao PDS, ao PMDB, tudo farinha do mesmo saco de gatos.

Caso fidelidade fosse verdade, o que seria dos seminaristas, dos votos que fazem pelos mosteiros e perdem nos travesseiros? E por falar em voto, nem pense na castidade, muito menos em fidelidade...

Voto mesmo de fidelidade é o da contravenção, aquele do jogo do bicho que condena pra sempre o Carlinhos Cachoeira, adepto de fidelidade canina ao preceito de "vale o que está escrito".

Carlinhos Cachoeira se estrepou, cara. Pra sempre. Ele é fiel. Jamais vai salvar-se da cana braba. Nunca, por princípio e hombridade, deixará de ser fiel. Seu mundo não admite a delação premiada. Isso seria fatal no seu mundo. Um mundo bem mais confiável que o nosso.

Ou você é fiel a seus votos, a sua mulher, ao seu time quando perde, ao seu patrão, aos seus subalternos, ao seu partido, as suas, ou aos seus amantes?!? Confessa, cara, se você não é gay, já foi noutras horas, noutros mundos que ninguém alcança na solidão de sua consciência.

Afinal, você é, ou não é aquele que não resta a menor dúvida? Você é sempre fiel a você mesmo e aos outros? Cadê a sua consdtância, a sua firmeza nas afeições, nos sentimentos?... Qualquer três doses de uísque acima do nÍvel do mar, servem como desculpa para os seus tropeços... Ou encontrões. Boas desculpas. Grandes desculpas!

Cadê a sua perseverança, cara? Você observa rigorosamente a verdade? Então, porque fajutou a expectativa dos seus filhos, dos seus irmãos, dos seus amigos? Você honrou pai e mãe?

Você está longe - me desculpe - de ser uma balança que assume a mesma posição quando cutucada por forças e palpiteiros iguais.

Então, me perdoe, o seu som não está chegando aos meus ouvidos. Não têm o sinal original que me faça respeitar a nossa relação.

Ainda que não pareça, estamos de mal. Não confio plenamente em você!

ENTRELINHAS - Tamerda! Agora você já sabe porque eu sou sempre tão azedo. É nisso que dá, tomar umas biritas num feriadão. A gente acaba abrindo o jogo.

RODAPÉ - Quer saber duma boa? Ninguém tomou birita nenhuma aqui no Sanatório. Esta é a expressão da verdade. Ou não. E talvez eu até nem esteja no Sanatório.
 
07 de abril de 2012
sanatório da notícia

VEM AÍ O CÓDIGO VENAL BRASILEIRO



 No ensejo das transformações absurdas que explicam porque os postes mijam nos cachorros, os criminosos presos recebem pensões do Estado (isto é, de nós), e os crimes de corrupção dos dois últimos governos ficam impunes, uma sociedade limitada (gemeinschaft) de notáveis socialistas – também conhecida como Comissão de Juristas – pensa modificar o Código Penal Brasileiro, acrescentando mudanças que bem poderiam constituir um novo Código, por mim chamado de Código Venal Brasileiro.

O Novo Mandamento, em substituição ao "antigo" e "ultrapassado" Código Penal, que representava a versão moderna da Justiça e do Direito consagrada pelos países mais desenvolvidos do mundo, representará os mais novos e ardentes anseios da Nova Família Brasileira (vejam a definição nos posts abaixo). A Justiça ficará finalmente democrática. A coisa toda prosperará, tenho certeza, e aqui já estou prevendo os próximos passos.
É evidente que a sociedade representada pelos juristas mais brilhantes do pensamento socialista brasileiro está consoante à Nova Família Brasileira. Ela, a sociedade maior – a gesselschaft –, não terá mais com que se preocupar. O peso da culpa será retirado de cima dos expoentes mais carentes dessa espécie de Justiça, também conhecidos pelo antigo nome de criminosos, segundo o Código Penal anterior. Em breve, nem se falará mais em prisões lotadas, nas condições deploráveis das cadeias da democracia brasileira, e na infestação da corrupção nas entranhas das instituições. As cadeias ficarão vazias de apenados pelo antigo Código Penal, e ficarão lotadas de vítimas dessa nova sociedade. A Nova Família Brasileira agora terá o Código Venal que merece e necessita.
O que se espera mesmo e o que se terá, é que o crime, como era entendido antigamente, será liberado. No capítulo que tratará de terrorismo, os Movimentos Sociais, categoria especial da dessa sociedade, terão tratamento diferenciado. Não serão chamados de terroristas porque receberão graduações e qualificações. Como dizem alguns amigos meus, serão criados dois terrorismos: o do Bem, e o do Mal. Os terroristas hediondos não serão mais assim chamados dependendo do desejo da judiciosa Comissão. Por exemplo, movimentos sociais que invadem propriedades e cometem crimes até contra a vida, não poderão ser chamados de terroristas. Não haverá crime de terrorismo no caso de conduta de pessoas movidas por propósitos sociais e reivindicatórios, “desde que objetivos e meios sejam compatíveis e adequados a sua finalidade”.

INCÊNDIO DO MST NA BAHIA

Vá agora você constituir um grupo para defender-se destas invasões e você estará capitulado no Código Venal Brasileiro como um terrorista hediondo, anti-social.
O Novo Código Venal muito em breve poderá ser aplicado por Comissões de cidadãos desde que devidamente reconhecidos pelo Estado-Governo e que poderão aplicar as penas ainda por decidir. A Justiça do Novo Código Venal Brasileiro ganhará impressionante rapidez e será exemplar. Se alguém objetar que isso é muito parecido com um Tribunal Canguru chinês ou cubano, estará obviamente enquadrado. Com as prisões doravante vazias, qualquer cidadão recalcitrante estará até bem acomodado nelas. O Novo Código Venal Brasileiro pensou em tudo.
Lembrando o inesquecível Millôr Fernades:
Cometa agora os crimes; não deixe para amanhã quando poderão estar proibidos.
Que visão, hein? Como os “anistiados”, você poderá ganhar uma bolada. Vejam as perspectivas lucrativas que se abrem. Isso acabará com o desemprego. No futuro todos seremos funcionários públicos a serviço do regime.
No Título II, Capítulo das Impunidades, pouca coisa será mudada. Um grande avanço na revolução coletivista brasileira já fora conquistado pela a Justiça brasileira. Nos últimos 20 anos tem-se a impressão que a Impunidade, um reconhecimento final de que o crime compensa, veio para ficar. Vide o processo contra os mensaleiros. Eu a imagino como parte fundamental da Nova Família Brasileira. Imaginem os ganhos dos advogados e de tribunais auferidos com a dilação dos prazos, com os engavetamentos legais e com os embargos não constrangedores dos processos. Impunidade dá dinheiro. São peças integrantes essenciais a essa instituição da Impunidade. Agora mesmo, ainda sob a égide (que coisa ultrapassada essa palavra!) da velha Justiça e do vetusto Código Penal, o Senado Federal está paralisado pela falta de um presidente da Comissão de Ética. Ninguém se habilita, ou ninguém está à altura? Pois isso o código de Ética vai acabar; uma nova ética está a ser criada que acabará com esses constrangimentos. No final, e tendencialmente, sequer haverá imputação criminosa porque o próprio conceito de crime mudará. Isso não é um avanço social? A Impunidade é a verdadeira instituição.
Deverão ser criadas Ouvidorias Populares. Nelas qualquer cidadão identificado com o regime poderá ser ouvido. Isso não é fantástico? Vejam as possibilidades: qualquer cidadão será um juízo de primeira instância. Para que existir juízes togados e tribunais lentos e onerosos? Basta um telefonema e a Justiça revolucionária será feita. Não fique calado: denuncie! Finalmente o Bem e o Mal estarão nitidamente caracterizados. O Bem serão Eles (representados pela Comissão), o Mal somos Nós. Isso por enquanto, porque tudo poderá mudar; quem é Bem hoje, amanhã será Mal, e vice-versa. Demóstenes Torres será o próximo herói nacional.
Seja você mesmo o Procurador Geral da República, o Ouvidor Geral da República, o Informante Geral da República. O Novo Código Venal Brasileiro acabará com os nossos problemas – ele será uma espécie de quimioterapia jurídica que acaba com o tumor da corrupção e do crime nosso, mas também dá uma diminuída legal na população de “comedores inúteis”. Enfim um Código ad hoc, para não-comunistas.

07 de abril de 2012

SE VOCÊ DESEJA UM BRASIL DECENTE, DIVULGUE E PARTICIPE...

 


MARCHA CONTRA CORRUPÇÃO - acesse para mais informações
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ATENÇÃO, verifiquem os endereços de todas as cidades do Brasil
 
07 de abril de 2012

FALOU, TÁ FALADO!

Demóstenes Torres (DEM) afirmou em entrevista que o viés de Márcio Thomaz Bastos é defender bandidos


Em 2003, o senador Demóstenes Torres (DEM) afirmou em entrevista que o viés de Márcio Thomaz Bastos é defender bandidos. Será que a opinião continua valendo agora que o criminalista também defende seu amigo, sócio e “professor” Carlinhos Cachoeira?
M

Thomaz Bastos foi titular da Justiça durante o primeiro governo Lula. Não será bom para ele, sob a ótica da opinião pública, assumir este novo mandato. Ele que já atua na defesa de um réu do mensalão.

 

07 de abril de 2012

 tribuna da internet

 

 

EM VÍDEO, A SESSÃO DE DESAGRAVO A DEMÓSTENES

Quarenta e quatro dos 72 senadores presentes ao plenário no dia 6 de março prestaram solidariedade ao senador goiano. Um mês depois, com o desenrolar das investigações, ele não tem apoio público de nenhum deles mais

Teve toques de ópera-bufa política o primeiro – e único – discurso em que Demóstenes Torres, no Plenário do Senado, tentou explicar sua relação com Carlinhos Cachoeira. Acompanhadas de gestual a conotar firmeza de caráter, a prosódia era aplicada pelo senador com desenvoltura teatral – o pronunciamento, com o desenrolar dos fatos, revelar-se-ia pura retórica. Apartes surgiam de 44 senadores de todos os matizes partidários, irmanados em entusiástico tom de solidariedade e desagravo ao colega de instituição.
Naquele dia, 6 de março, o painel eletrônico do palco das decisões da Alta Casa registrou a presença de 72 dos 81 senadores em exercício. Ao todo, a sessão de solidariedade durou cerca de 1h40 minutos.

O outrora implacável senador Demóstenes

Clique aqui e veja o que disseram os 44 parlamentares

“Minha vida sempre foi um livro aberto, e continuará sendo”, garantiu Demóstenes, que utilizou a tribuna por 8 minutos e 22 segundos para fazer a defesa. Senadores imediatamente se mostraram seduzidos pela cantilena do parlamentar goiano, diante de um discurso ensaiado e bem redigido em conjunto com seu departamento jurídico.
Como não raro acontece no Senado – quando um dos seus tem destaque negativo na imprensa e se diz injustiçado ou caluniado, acorrendo ao calor humano do plenário –, verificou-se uma enxurrada de palavras amigas ao colega. Quando Demóstenes já recolhia seus papéis e se preparava para descer do púlpito, Eduardo Suplicy (PT-SP) pediu a palavra, prontamente concedida.

Confira aqui o discurso de Demóstenes e os primeiros apartes de apoio:

http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=NtEELwRLLqM


http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=xCW3xapXAZI


http://www.youtube.com/watch?v=CYaIKVyRA1I&feature=player_detailpage

07 de abril de 2012












NA ARTE, É LINDO! NA VIDA É CRIME.


Pois é! Maomé, o profeta analfabeto, fundador de uma das religiões que hoje mais avançam no mundo, a rigor teria direito a quatro mulheres. Por deferência especial de Alá, teve quinze. Sua última mulher foi Aicha, que foi sua noiva aos seis anos e deflorada aos nove.

Coisas da Hégira, seis séculos depois da era cristã. Que não era muito diferente. Maria foi emprenhada aos treze anos. E não foi por nenhum menininho de sua idade, o que segundo conceitos contemporâneos não é pedofilia. Foi engravidada por um senhor bem mais idoso. Aliás, idoso é eufemismo. O Espírito Santo, o pai do judeu aquele, era eterno. A diferença de idades era incomensurável. Seria o Paráclito um pedófilo? Deixo a questão para os teólogos.

Já escrevi sobre o assunto, há meia dúzia de anos, quando a Folha de São Paulo lançou, com uma tiragem de um milhão e cem mil exemplares, Lolita, de Vladimir Nabokov. O livro foi distribuído gratuitamente em uma edição dominical, a todos seus compradores e assinantes do jornal. Exceção feita dos livros didáticos, jamais uma obra teve tal difusão no país. É como se a imprensa, que já destruiu a vida de tantas pessoas com a acusação de pedofilia, fizesse então um mea culpa.

Meio século depois de publicado, o romance conserva ainda seu potencial subversivo. Este vigor não decorre da obra em si. Mas da oposição a uma época que, de repente, parece ter optado pela hipocrisia e conservadorismo. Em boa parte dos países do Ocidente, enquanto se beatifica o homossexualismo, passou-se a criminalizar a prostituição. Desde a liberal Suécia, que nos setenta guindava a profissional do sexo à condição de assistente social e hoje as reprime com rigor, até as libertinas França e Itália, que cantaram as prostitutas em prosa e celulóide e hoje as expulsam das ruas, vê-se hoje uma diretriz que tende a eliminar da face da terra os encantos do sexo pago. Nos Estados Unidos, Bush destinou milhões de dólares para incentivar a castidade. Em meio a esta onda de moralismo tardio, legisladores incomodados com o prazer alheio, querem condenar ao báratro os cultores da sensualidade adolescente. Esquecidos de que o mito maior e mais intocável do Ocidente, a mãe-virgem, concebeu seu filho aos quatorze anos.

Com seu romance, Nabokov imortalizou a personagem da adolescente sensual, que desde há muito tem perturbado homens maduros. Para começar, foram as prediletas de Lewis Carrol, não por acaso um escritor que cultivou o gênero infanto-juvenil. Thomas Mann cria uma versão masculina da adolescência erótica, com Tadzio, em Morte em Veneza. Tadzio tem quatorze anos e espicaça o desejo do senil Aschenbach. Lolita tem doze. Wilhelm von Gloenden, em Taormina, fotografa adolescentes nus com um realismo que Visconti jamais ousaria. Segundo as más línguas, a fama dos meninos de Von Gloenden teria feito até mesmo Nietzsche rumar até a Sicília.

É curioso constatar como absolvemos estas transgressões, quando transmutadas pela arte. Tanto os livros de Mann e Nabokov, como os filmes a partir deles gerados, marcaram a sensibilidade de gerações. Mas vá um comum mortal assumir as preferências de Aschenbach ou Humbert Humbert. Será execrado como monstro pela mesma sociedade que aplaudiu os livros e os filmes. Com restrições, é verdade. Se Mann não teve maiores problemas com a censura, Nabokov teve não poucas dificuldades para editar seu livro. Mas, apesar do moralismo contemporâneo, a obra foi distribuída aos milhões no Brasil. E de graça.

Nabokov é um escritor bafejado pelas musas. Conseguiu, como Cervantes, criar um personagem que se torna referência universal. Lolita hoje é substantivo comum. Milhões de pessoas que sequer têm idéia de quem tenha sido Nabokov, sabem o que seja uma lolita. É um daqueles raros momentos na história da literatura, em que o personagem mata o autor. Não confundir, bem entendido, a sensual Lolita com nossas milhares de adolescentes, que se tornam mães ou por moda, ou para independentizar-se dos pais, ou para brincar de bonecas. Lolita é sexo puro, nada a ver com poedeiras precoces. Este nosso país tropical banalizou Lolita, ao despi-la de sua sensualidade e transformá-la em monótona estatística.

Humbert Humbert pode reconhecer a crueldade e a vileza de suas ações como pedófilo. Para bom entendedor, vê-se que é um recurso do autor para preservar sua obra. A cautela de Nabokov não convence. Seu crime (?) é relatado com uma volúpia que até hoje subverte.

Repito tudo isto para falar de Roman Polanski, o cineasta polonês detido no mês passado na Suíça, em função de uma affaire pendente nos Estados Unidos há 30 anos. Polanski, premiado por filmes como O Bebê de Rosemary (1968), Chinatown (1974) e O Pianista (2002), foi retido no aeroporto de Zurique, onde chegou para receber um prêmio de um festival de cinema. O caso data de 1977, quando os pais de uma adolescente de 13 anos apresentaram um processo contra Polanski, acusado de drogar e estuprar a jovem modelo.

Embora Polanski tenha se declarado culpado de "relações sexuais ilegais", a relação foi consensual. Permaneceu na prisão em "avaliação" durante três meses, onde só passou 47 dias. No final de 1978, Polanski, em liberdade sob fiança, pegou um avião para a Europa e nunca mais voltou a solo americano.

Em 2003, Samantha Geimer, a menina “estuprada” por Polanski, deu entrevistas apoiando a indicação do cineasta ao prêmio de melhor diretor pelo trabalho em O Pianista. "Acho que as pessoas querem que eu fique realmente brava com ele; honestamente, não me sinto assim. Acho ele um diretor realmente bom", disse.

Samantha, a suposta vítima, não tem queixa nenhuma contra o cineasta. Polanski foi preso em função da hipocrisia de um Estado onde um blow job hoje é praticamente uma cortesia obrigatória de qualquer adolescente. Isso, na vida cotidiana.

Na arte, toda transgressão é linda.

Na vida, vira crime.

07 de abril de 2012
janer cristaldo

"NÃO CREIO QUE CHÁVEZ ESTEJA CONOSCO EM NOVEMBRO OU DEZEMBRO", AFIRMA MÉDICO VENEZUELANO


Este vídeo reproduz entrevista do médico venezuelano Jose Rafael Marquina, que trabalha nos Estados Unidos, à TV NTN24, do Estado da Florida (EUA) a respeito do estado de saúde do caudilho Hugo Chávez, em meio à notícia que estaría preparando-se para viajar ao Brasil.
Segundo Marquina, o estado de saúde de Chávez é muito grave e o câncer que lhe acomete é um sarcoma, espécie muito agressiva e seu organismo não responde ao tratamento à base de quimioterapia e radioterapia.
Marquina é peremptório nesta entrevista ao afirmar que não acredita que Chávez sobreviva além dos meses de novembro ou dezembro. Também não crê que Chávez concorde em se tratar no Brasil, a despeito do que vem sendo noticiado desde quinta-feira.
 
07 de abril de 2012
aluizio amorim
alu
"SOBRE A MORTE E O MORRER", AS ETAPAS QUE HUGO CHÁVEZ COMEÇA A ENFRENTAR, COMO TODOS OS MORTAIS.
O jornalista Merval Pereira continua sendo o único profissional pertencente à Rede Globo, a merecer atenção e crédito, justamente porque não apanha press-release em ante-sala de repartição pública controlada pelo PT e muito menos no instituto lulístico, como fazem seus colegas do jornal O Globo. Por isso transcrevo abaixo, após este prólogo, um ótimo post que está em seu blog, intitulado "Etapas", em que analisa o rumoroso caso do câncer que acomete Hugo Chávez e as consequências nefastas de um regime que proscreve o direito dos cidadãos venezuelanos de saber a verdade sobre o estado de saúde do caudilho.
O governo de Hugo Chávez é, por isso mesmo, uma verdadeira ditadura e está umibilicalmente conectado ao atual governo brasileiro chefiado por Lula, Dilma e seus sequazes. A diferença está apenas no método, mas na essência o governo petista é unha e carne do governo do caudilho de Miraflores, como o é também do nefasto títere do Equador e seus colegas da Bolívia, Argentina, Nicarágua, Paraguai e Peru. As diretrizes de ação de todos esses governos são dadas pelo Foro de São Paulo. Este dado não é citado por Merval Pereira, mas seria muito interessante e últil para brecar o avanço desses tarados ideológicos que Merval Pereira, que escreve e fala através do maior complexo de comunicação da América Latina, que é a Rede Globo, prestasse a atenção no Foro de São Paulo revelando a verdade a toda opinião pública brasileira e latino-americana.
Todos esses governos são ditaduras que avançam de forma sorrateira para liquidar a liberdade individual e, para tanto, utilizam a maior arma do movimento comunista do século XXI, que procede dos ditames do pensamento politicamente correto, no que são ajudados pela maioria dos jornalistas que são comunistas de carteirinha. Alguns por idiotice congênita, outros pelo mais vulgar e vergonhoso oportunismo.
Transcrevo na íntegra o artigo de Merval Pereira, que também poderá ser lido e difundido através das redes sociais pelos inúmeros leitores venezuelanos do BLOG DO ALUIZIO AMORIM e que também me acompanham pelo Twitter e o FaceBook.
Abaixo do post se encontram as ferramentas de compartilhamento. E seria interessante também que este post fosse traduzido para o espanhol e divulgado amplamente pelas redes sociais na Venezuela.
Leiam:

*** *** ***
A dramática exortação a Cristo feita pelo presidente venezuelano Hugo Chavez, entre lágrimas, para que lhe dê mais tempo de vida – “Não me leve ainda por que tenho muitas coisas a fazer” – é o diagnóstico mais próximo da realidade que se pode ter num governo quase ditatorial onde as informações sobre a saúde de seu presidente são consideradas de “segurança nacional”.
Essa obsessão pelo segredo pode ter custado a Chavez a chance de tratar o câncer que o acometeu de maneira mais profissional e com tecnología mais avançada.
Visivelmente necesitando de apoio emocional, Chavez, que regressara de Cuba,onde se submetera a mais uma etapa de um tratamento que não vem dando resultados, disse que sentía vontade de revelar seus sentimentos mais íntimos, e contou: “Há anos comecei a asumir que tinha uma enfermidade muito maligna que marca o fim do caminho de muita gente”.
Mesmo que tenha pensado que morreria logo, Chavez garantiu que se sente forte para continuar a lutar “porque há muitas razões”.
A vinda ao Brasil, oficialmente para uma visita ao ex-presidente Lula, podea contecer tarde demais para que seja tratado no Hospital Sírio e Libanês, onde poderia ter sido internado desde o início da doença, não fossem as exigencias inaceitáveisque impôs na ocasião.
O governo venezuelano queria interditar dois andares do Hospital Sírio e Libanês em São Paulo e colocar o Exército para tomar conta do hospital, revistando todos os visitantes. E ainda proibir a divulgação de boletins médicos.
A falta de transparência na Venezuela e em Cuba, onde ele afinal foi se tratar, é tamanha que até o momento não se sabe oficialmente em que local do corpo de Chavez está localizado otumor originário.
Sabe-se que poderia estar na “região pélvica”, mas não há mais detalhes. O máximo que se sabe, e assim mesmo por informações fragmentadas, é que se trata de um câncer "colorretal" que abrange tumores em todo o cólon, reto, e apêndice.
As informações vazadas através de alguns twitters e na coluna do jornalista Nelson Bocaranda indicam que o tratamento em Cuba teve vários erros, até mesmo queimaduras na radioterapia, e por falta de equipamentos alguns exames tiveram, que ser enviados para hospitais no Brasil e até nos Estados Unidos.
O jornalista venezuelano diz que uma equipe precursora já partiu de Caracas para preparar a visita de Chavez ao Brasil, e que ele se submeterá a um exame de scanner no Hospital Sirio Libanês em São Paulo.
Há, no entanto, grupos políticos ligados a Chavez que são contra a vinda dele ao Brasil, alegando as mesmas razões anteriores, de segredo e segurança.
Na Venezuela, há a certeza de que no Hospital Sirio e Libanês o presidente venezuelano será melhor tratado, mas também que as informações sobre sua doença, até agora mantidas em segredo de Estado, serão reveladas em boletins médicos, mesmo que certas informações possam ser enquadradas no sigilo médico.
O mais provável é que Chavez tenha sido convencido por Lula, com quem conversou pelo telefone sobre seu tratamento, a fazer alguns exames no hospital paulista e receber orientações, numa atitude de desespero diante da gravidade da doença, que tem resistido à quimioterapia e à radioterapia em Cuba.
Há informações de que opresidente teve problemas intestinais devido à evolução da doença, já em processo de metástase.
A questão central, no entanto,continua sendo a eleição de outubro. Numa corrida contra o tempo, Chavez tem seis meses até as urnas para tentar a reeleição, e está fazendo o possível e o impossível para manter-se em condições de enfrentar uma campanha eleitoral que certamente será a mais dura que ele já enfrentou.
Embora sua popularidade aumente à medida que suas aparições na televisão se tornam cada vez mais emotivas, misturando a política com a fé religiosa, ele pode não ter tempo de vida útil.
Sua reação à doença até o momento vem obedecendo a uma escala descrita por Elisabeth Kübler-Ross no que é conhecido como “o modelo Kübler-Ross” de reações a notícias trágicas ou doenças terminais, registrada no livro On Death and Dying (Sobre a morte e o morrer) de 1969, publicado no Brasil pela Editora Martins Fontes.
Nem todas as pessoas afetadas passam pelas cinco etapas desse processo doloroso. A médica suíça que morreu em 2004 explicava que essas etapas não se sucedem necessariamente nessa ordem, e nem todos os pacientes passam por todas as etapas, mas todos passarão por pelo menos duas delas.
Normalmenteas pessoas passam por esas etapas em um efeito que ela chamou de “montanha-russa”, indo de uma para outra diversas vezes até o desfecho.
Na véspera de viajar para Cuba para os exames que confirmaram que tinha um novo tumor, em fevereiro, Chavez apareceu em público para afirmar que o câncer “se fora” de seu corpo.

Assim como,quando regressou de Cuba depois da primeira operação, declarou-se “curado”. Essa é a primeira etapa, a da “negação”.
A segunda etapa seria a “ira”, quando a pessoa se indigna com o que está acontecendo considerando-se injustiçada: “Como isso pode estar acontecendo a mim?”.

A terceira etapa é a da negociação, que parece ser a em que está o presidente venezuelano a esta altura de sua tragédia pessoal. O apelo para que tenha mais alguns anos de vida para fazer o que falta é típico do indivíduo que tenta retardar o final. A “depressão” é a etapa seguinte, quando a pessoa começa a assumir a inexorabilidade da doença. A médica Elisabeth Kübler-Ross diz que essa etapa é importante de ser vivida pelo paciente, e não é recomendável que se tente tirar a pessoa da depressão.

A última etapa seria a da “aceitação”.
merval pereira
07 de abril de 2012

EU ME LEMBRO MUITO BEM

          Artigos - Movimento Revolucionário        

Em momento algum daqueles anos loucos usaram a palavra democracia de um modo que não fosse para a desqualificar como serva dos interesses da burguesia.

Em março de 1960 eu era um adolescente interiorano, recém chegado a Porto Alegre, iniciando o Curso Científico no tradicional Julinho, como era conhecido o Colégio Estadual Julio de Castilhos. Nunca vira uma escola com tanta gente, tamanha efervescência política e professores tão exigentes. Mas o que importa aqui é a política. Até sobre as provincianas disputas estudantis daqueles anos incidiam os reflexos da Guerra Fria. Os comunistas do Julinho - e havia muitos - cantavam uma espécie de grito de guerra em que se anunciava que "a vil reação vai virar sabão". Havia estudantes profissionais, com idade para serem pais dos colegas, incumbidos, pelo "Partidão", de angariar militantes para a prenunciada cadeia produtiva de sebos e sabões que usaria como matéria-prima a nós, os adolescentes da "direita reacionária".

Ainda hoje, quando encontro por aí alguns desses camaradas, me retornam à mente suas desajeitadas figuras juvenis cantando ameaçadores refrões pelos corredores do colégio.
Posteriormente, na Faculdade de Arquitetura, testemunhei o upgrade da insanidade ideológica. Professores expurgados, colegas que desapareciam para, meses depois, reaparecer no Chile ou em algum lugar da Europa. Aquilo mexeu comigo. Como era contra radicalismos e violências suscitei malquerenças de ambas as trincheiras. Protestei contra o expurgo de professores. Fui fichado no DOPS. Reinava a desarmonia nas turmas, construíam-se sólidas inimizades e havia um mal-estar permanente nas salas de aula e na política estudantil. O país inteiro, aliás, não teve mais normalidade institucional até a eleição de Tancredo Neves. Sequestravam-se de diplomatas. Colegas envolveram-se numa ação fracassada contra o cônsul norte-americano em Porto Alegre. Bombas explodiam em atos terroristas. Assaltos a bancos, carros fortes, joalherias e supermercados eram "ações expropriatórias" para atender a crescente demanda da revolução comunista por recursos financeiros. A esquerda dava uma de Fidel e Che - os Batman e Robin da luta armada latino-americana. Sequestrava aeronaves, explodia quartéis, roubava armamentos. E repressão, claro. Como não?
Por volta de 1985, a abertura estava concluída. Haviam retornado os que saíram do país. Foram criados novos partidos. Completara-se a anistia de 1979 com o perdão aos que haviam cometido crimes de sangue. O passado não era consertável, mas o futuro sim.
Contamos, hoje, mais de um quarto de século de estabilidade num ambiente político marcado, até aqui, por muito menos ódios e ressentimentos. No próximo pleito presidencial, os adversários do regime instalado em 1964 terão exercido o poder por duas décadas consecutivas. Fernando Henrique esteve no exílio. Lula tinha sido líder sindical, passou uns dias na cadeia e fora afastado da presidência do seu sindicato. Em 2010 elegeu-se uma companheira em armas, como a ela se referiu o bem informado José Dirceu quando lhe passou a chefia da Casa Civil. Vinte anos.
Como podem, agora, falar em Comissão da Verdade para "pacificar o país" e "completar a redemocratização"? Nada desmente mais essa farsa revisionista e revanchista do que o estresse político causado nas últimas semanas por sucessivos episódios. Vivem eles a nostalgia dos ideais revolucionários que se corromperam no poder. Foram-se as utopias e sucumbiu a reputação. É preciso, agora, posar como flagelados de uma guerra santa, como heróis e mártires de uma ingente luta pela democracia. É preciso suscitar ódios para recuperar o amor - ainda que seja, apenas, o amor próprio.
Falsários! Com a dócil e emasculada aquiescência dos herdeiros do MDB, mais interessados em gravitar perto das prateleiras do almoxarifado do poder, tomam nas impróprias mãos uma bandeira democrática que nunca ergueram, fosse para a defender a democracia, como alegava fazer a ARENA, fosse para a restaurar enquanto esteve perdida.Em momento algum daqueles anos loucos usaram a palavra democracia de um modo que não fosse para a desqualificar como serva dos interesses da burguesia. Quando sequestraram o embaixador norte-americano Burke Elbrick, exigiram e conseguiram que fosse lido um manifesto em rede nacional. Com uma oportunidade de ouro dessas nas mãos, falaram em democracia? Não! Nem de passagem. Falaram em novos assaltos, sequestros, "justiçamentos" e extensão da guerrilha ao campo. Os panfletos que deixavam nos locais de suas ações tampouco usavam essa palavra. Os nomes das dezenas de organizações que atuaram no período ostentavam os vocábulos marxista, leninista, maoísta, revolucionário, comunista, socialista, proletário. Mas a palavra "democrático" jamais aparece! Não há um "D" em qualquer das siglas. Então, para alcançarem o intuito - bem stalinista, por sinal - de reescrever a história será preciso passar a borracha em muita coisa redigida por eles mesmos.

07 de abril de 2012
Percival Puggina  

QUANDO O CHULO PODE SER UM DITO ESPIRITUOSO, NA TERRA DO ESCULACHO

O diretor da Petrobras que “enfia o dedo” na democracia e “rasga-a”. Ele ainda não foi demitido, Graça Foster?

José Eduardo Dutra, Diretor Corporativo e de Serviços da Petrobras, postou em seu perfil no Twitter, como viram, a seguinte mensagem quando se informou o resultado da pesquisa Ibope sobre a popularidade de Dilma: “Como se diz lá em Sergipe, enfia o dedo e rasga”.

Escrevi um post a respeito. Em qualquer país do mundo que não estivesse moralmente corrompido, seria demitido no ato. Aqui, há o risco de o acharem espirituoso. Até cheguei a imaginar um diálogo seu com a presidente da empresa, Graça Foster, que era a musa do gás e agora é a minha musa muito além dos pélagos, como diria o poeta. Camões tinha as ninfas do Mondego; Adamastor tinha Tétis. Ulisses corria o risco de ser tragado pelas sereias e botou cera nos ouvidos. No Brasil, a gente venda os olhos e mergulha nas profundezas do pré-sal…

É um esculacho! A Petrobras é uma empresa de economia mista, com ações negociadas em Bolsa. Está servindo à politicalha. Não por acaso, o mercado deu um tombo nas ações da empresa. Percebeu que está sendo gerida por políticos, não por técnicos. Na segunda, Graça deveria pôr o autor da graça na rua. Mas não vai. Não vai porque não quer. Não vai porque, ainda que quisesse, não poderia.
Dutra resolveu escrever mais quatro tuítes, aí como reação aos meus posts. Vejam abaixo.
dutra-mais-tuites
VolteiNo primeiro, diz que está rindo dos seus “trolls” e dos que xingam a sua mãe. Não creio que estivessem fazendo isso. Mas, se fosse verdade, por que riria esse rapaz? A possibilidade de que ainda não tenha encontrado o remédio certo é grande.

Em seguida, estranhou a reação, já que havia postado a mensagem havia dois dias. Aí descobriu o motivo: “Ah bom! Agora entendi. Foi aquele blogueiro especialista em baixarias que determinou ordem unida aos pseudo indignados . Não vou nem dormir”. Está se referindo a mim, claro! O diretor de Assuntos Corporativos e de Serviços recomenda à oposição: “Enfia o dedo e rasga”, mas diz que sou “especialista em baixarias”.

Mesmo??? Neste blog, não se recorre a palavras de baixo calão. Muito pelo contrário! Num outro tuíte, ele diz que vai assistir à novela “Avenida Brasil”. Pois é… Baixaria? Eu poderia tratar de lixão, por exemplo, quando falo sobre as suas peripécias, mas recorro a Castro Alves, a Camões, a Homero… Só nomes superiores, mesmo quando o assunto é inferior. Os meus leitores merecem o melhor.

Aí se nota o tom de desdém: “Nem vou dormir”. Tudo muito adequado ao perfil e à história desse gigante, que conheço faz tempo. Não conciliair o sono, de fato, não é para qualquer um… Ele não se lembra, mas eu sim! Em 1996, almoçamos juntos no restaurante do Senado. Uma jornalista nos acompanhava. Dutra fazia a linha “amigão da imprensa”, papel que os petistas representavam à perfeição quando na oposição. Ali, no bandejão — um petista entre o povo —, fiquei espantado com a sua capacidade de fazer fofoca e com sua vocação para a maledicência, muito especialmente contra seus colegas. Um especialista em baixaria!

Eu era coordenador de política da Sucursal de Brasília da Folha e tinha de ir à Casa de vez em quando dar as caras, fazer os tais contatos e coisa e tal. Vida de jornalista não é fácil. Enquanto tentava vencer um bife duro e frio e uma comida notavelmente salgada — nada estraga mais um prato do que o excesso de sal! —, pensava: “Santo Deus! Isso vai ser poder um dia!” Eis aí.

Não! Não há baixaria neste blog, como sabem os leitores decentes e todos os petralhas. Digamos que houvesse, uma coisa ao menos se deveria dizer em favor da página: não seria financiada com dinheiro público. Eu jamais usei uma estatal para fazer carreira, para fazer proselitismo político, para me eleger e depois para arrumar um empregão. Ao contrário até: ajudei a fundar, quando era “criança”, um sindicato de professores da rede privada de ensino. Não só não me aproveitei disso como mudei de área pouco tempo depois. Acredito em ganhar o pão com o suor do próprio rosto — não com o do alheio.

Eu quero ver é o “geólogo” José Eduardo Dutra ganhar a vida com a sua expertise, com o seu talento, com o seu conhecimento técnico, não como esbirro de um partido. Mas isso eu não verei. Baixaria é ser regiamente pago para servir a uma empresa que, em boa parte, pertence a todos os brasileiros e usar tal condição para fazer proselitismo político de baixo calão. Corresponde a enfiar o dedo na democracia e rasgá-la. É o que ele seus companheiros fazem todos os dias.

Só eles? Não! A lambança, já disse, como evidencia o esquema de Carlinhos Cachoeira — acreditem: ele só é um amador atrevido; os profissionais mesmo estão nas sombras —, é ecumênica. Mas só os petistas transformaram o mau-caratismo numa categoria de pensamento, numa teoria do poder e numa herança que pretendem virtuosa, a ser seguida pelos pósteros.

07 de abril de 2012
 Reinaldo Azevedo

UM TERÇO DOS CONSELHOS DE ÉTICA NA MIRA DO STF

Os dois colegiados que terão a missão de recomendar a cassação de Demóstenes e de deputados envolvidos com Cachoeira reúnem 20 parlamentares com problemas na Justiça


Condenado duas vezes no Conselho de Ética e com processos no STF, Renan Calheiros será um dos senadores que julgarão agora Demóstenes - José Cruz/ABr

Um em cada três integrantes dos Conselhos de Ética da Câmara e do Senado está sob investigação no Supremo Tribunal Federal (STF), onde tramitam os processos contra deputados e senadores. Dos 63 congressistas (entre titulares e suplentes indicados pelos partidos) que compõem atualmente os dois colegiados que terão a missão de encaminhar os processos de cassação contra os parlamentares envolvidos com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, 20 são alvos de inquérito ou ação penal na corte máxima da Justiça brasileira.
Esses parlamentares, regimentalmente incumbidos de “zelar pela observância dos preceitos” do Código de Ética e atuar na “prestação da dignidade do mandato parlamentar”, respondem a 57 investigações no Supremo. As acusações vão de crimes contra a administração pública e contra a Lei de Licitações, passando por corrupção e apropriação indébita previdenciária.

No Senado, onde o Conselho aguarda a definição de novo presidente para começar a investigar a conduta do senador Demóstenes Torres (GO), oito de seus 23 integrantes têm ao menos uma pendência judicial. Em cinco casos, os ministros do Supremo já encontraram elementos contra dois senadores – o atual vice-presidente e presidente em exercício do colegiado, Jayme Campos (DEM-MT), e o presidente do PMDB, Valdir Raup (RO) – para transformá-los em réus.

Suplente do Conselho, Raupp responde a quatro ações penais por crimes eleitorais, contra o sistema financeiro e desvio de verba (peculato). Presidente em exercício do colegiado, Jayme Campos é acusado, em seu processo, de ter falsificado documentos. Ele ainda tem contra si outros três inquéritos (fase preliminar de investigação que pode resultar na abertura da ação penal) por crimes contra a Lei de Licitações, de responsabilidade e contra a administração pública em geral.

Provável presidente

Indicado ontem pelo PT para presidir o Conselho de Ética, Wellington Dias (PT-PI) também é investigado em dois inquéritos. Um dos procedimentos apura a responsabilidade do ex-governador piauiense no rompimento de uma barragem no interior do estado, em 2009, que deixou nove mortos e 2 mil desabrigados. A suspeita é de crime contra a vida e prevaricação (quando uma autoridade se omite de suas funções).

Em maio daquele ano, cerca de 2,6 mil famílias chegaram a ser removidas por causa da iminência de rompimento da barragem. Mas, após vistorias das equipes de engenharia do governo, que afastaram o risco, foram autorizadas a voltar para casa. Dias depois, ocorreu a tragédia. As famílias buscam indenizações na Justiça. O outro inquérito investiga o envolvimento de Wellington Dias em denúncias de irregularidades na construção de um trecho do metrô de Teresina, também durante sua gestão.

Inversão de papéis

A composição do atual Conselho de Ética abriga também quem, até outro dia, estava do outro lado do balcão. Caso do senador Renan Calheiros (PMDB-AL), que teve sua cassação recomendada duas vezes pelo colegiado em 2007, e escapou da perda do mandato nas duas ocasiões graças aos votos secretos em plenário. Renan tem atualmente duas pendências no Supremo. Uma delas apura se um lobista pagou, em nome do senador, pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem o peemedebista tem uma filha. Essa denúncia rendeu o primeiro pedido de cassação contra ele. Na ocasião, um dos principais algozes dele no colegiado foi justamente o senador Demóstenes Torres, em uma inesperada inversão de papéis.

Naquele ano, Renan foi alvo de cinco representações no Conselho de Ética do Senado. Além da denúncia de ter contas pagas por um lobista, também avançou no Conselho a acusação de que ele usou laranjas na compra de veículos de comunicação em Alagoas. O alagoano preservou o mandato, mas teve de renunciar à presidência da Casa. Nos bastidores, Renan trabalha para voltar ao comando do Senado no próximo ano.

Mais um representante da alta cúpula do PMDB igualmente na lista de integrantes do Conselho de Ética e de processados no STF é o ex-líder do governo Romero Jucá (RR).

Orçamento

Outros senadores envolvidos em denúncias recentemente também aparecem na lista dos integrantes do Conselho de Ética sob investigação no Supremo. Gim Argello (PTB-DF) foi obrigado a renunciar à relatoria da proposta orçamentária, em 2010, após ser acusado de direcionar emendas do orçamento para entidades fantasmas. Gim é investigado em dois inquéritos – um por crime contra a Lei de Licitações e outro por apropriação indébita e lavagem de ocultação de bens.

O senador Mário Couto (PSDB-PA), que responde a inquérito por crime eleitoral no STF, teve seu nome envolvido nos últimos meses em investigação movida pelo Ministério Público do Pará, que trata de indícios de irregularidades diversas, como fraudes em licitações e nas folhas de pagamento de servidores da Assembleia Legislativa, entre 2003 e 2007, período em que a Casa era presidida pelo tucano. Em janeiro, o Ministério Público Estadual entrou no Tribunal de Justiça paraense com uma ação civil pública pedindo o bloqueio de bens do senador e outras 15 pessoas, sob a acusação de ter cometido improbidade administrativa.
 
O7 de abril de 2012
POR EDSON SARDINHA, MARIO COELHO E MARIANA HAUBERT