"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 7 de setembro de 2012

PENSAMENTO DO DIA

 

Livre pensar é só pensar (Millôr Fernandes)

 



07 de setembro de 2012

A PERGUNTA É A MESMA

 


Onde é que nos estamos? é o título de meu artigo para o Blog de 1º de junho de 2006, no qual pergunto:

Na Terra do Nunca? Na Ilha da Fantasia? (...) O presidente-candidato, esse está no País das Maravilhas, tomando chá com o Coelho e com o Chapeleiro Maluco. Aliás, creio que ele incorporou a Alice, é mesmo o Lulalice...

Vejam se não tenho razão: em seus papos radiofônicos, ou mesmo nas conversas de palanque, o presidente-candidato descreve um país extraordinariamente bem resolvido. Fome? não há mais. Educação? todas as crianças estão na escola. Saúde? quase perfeita. Economia? de vento em popa. E por aí vai ele, cantando em prosa os feitos de seu governo. Defeitos, se ainda os há, são os herdados. Erros: os cometidos pelos outros, os traidores. Quem são esses Calabares? O presidente-candidato não sabe, não faz a menor ideia de quem sejam.

Na História deste país nunca se fez tanto, se trabalhou tanto, se construiu tanto, se inaugurou tanto. Nunca ninguém se amou tanto quanto o presidente-candidato, se curtiu tanto, se elogiou tanto. Chegou a dizer que dona Marisa é muito bem casada, é mesmo uma das mulheres mais bem casadas do Brasil! Isso num microfone, para uma plateia, com o testemunho da própria ao lado, sorrindo, feliz de ouvir o marido se referir a ela com tal elogio.

Creio que dona Dilma já se mudou para esse lugar encantado. Pelo menos o paraíso que ela descreve na nota enviezada, quer dizer, na nota oficial de presidente da República dirigida indiretamente ao ex-presidente Fernando Henrique, é um resumo do que Lulalice dizia.

A nota assinada pela presidente responde a um artigo que não lhe foi endereçado; não responde a nenhum item mencionado no artigo, só repete a eterna cantilena: "Recebi um país mais justo e menos desigual"; "O ex-presidente Lula é um exemplo de estadista"; "Recebi um Brasil mais respeitado lá fora". E patati, patatá.

Sobre o episódio mais entusiasmante de nossa história recente, nem um pio. Será que ela não sabe do esforço dos onze (agora dez) juízes do STF para desentortar o Brasil? Que cada um deles vem dando muito de si? (Alguns até surpreendentemente, pelo menos para mim). Que os ministros Rosa Weber e Luiz Fux foram ótimas escolhas?

Deve saber sobre o surto do presidente do PT, partido que chefia a coalizão que sustenta seu governo. Não que seja coisa para preocupar. A Guerra de Osasco seria a chanchada do século, mas é um acinte com o STF deixar solto na área o senhor Falcão.

Quem foram os Calabares? Será que o senhor Falcão sabe? Se a presidente o enviar para a Terra do Nunca pode bem ser que o Capitão Gancho consiga que ele nomeie os traidores.Time is Money e isso economizaria um bom tempo do STF. Pense nisso, dona Dilma.

07 de setembro de 2012
Maria Helena RR de Sousa

DOMÍNIO DOS FATOS

 

Os ministros do Supremo Tribunal Federal têm se notabilizado pela nitidez na forma e no conteúdo de seus votos, em atendimento ao sagrado direito do público de entender o que está em jogo no julgamento do processo do mensalão.

Portanto, é sem prejuízo do reconhecimento a esse esforço do colegiado que se constata a clareza solar do ministro Luiz Fux por ocasião de duas manifestações nos primeiros dos sete itens a serem examinados conforme a metodologia proposta pelo relator e acatada pelo tribunal.

Quando julgava o ponto do qual decorreu a condenação de João Paulo Cunha, Marcos Valério e associados por corrupção, peculato e lavagem de dinheiro, Fux discorreu sobre a questão do ônus da prova argumentando que a presunção de inocência não desobriga o réu de contar uma história bem contada em sua defesa.

Não basta negar a acusação, disse o ministro em termos mais elaborados. É preciso apresentar uma versão verossímil face à realidade "de como as coisas são", para usar expressão da ministra Rosa Weber na sessão de quarta-feira ao analisar a denúncia de gestão fraudulenta contra dirigentes do Banco Rural.

Naquela mesma audiência, Luiz Fux desatou outro nó ao explicitar o papel do banco no esquema: "uma lavanderia de dinheiro" que, por intermédio das agências de publicidade de Marcos Valério, deu suporte a "uma agremiação partidária".

O Supremo Tribunal Federal vai assim há mais de um mês contando uma história que aponta para um desfecho cada vez mais próximo da narrativa da acusação sobre a existência de uma organização criminosa cujo objetivo era arrecadar e distribuir recursos a partidos aliados mediante o uso do aparelho de Estado.

O entendimento da maioria dos ministros guarda léguas de distância da versão da defesa sobre a ocorrência apenas (como se fosse pouco) de crime eleitoral desconectado de uma sistemática de dolo coletivo e até agora segue, em seu arcabouço, a lógica do relator Joaquim Barbosa.

No primeiro capítulo, o STF mostrou o modus operandi de desvio de recursos públicos para as contas de empresas de Marcos Valério - por contratos de publicidade firmados com o Banco do Brasil e com a Câmara dos Deputados - e delas repassados aos políticos, elegendo como exemplo inicial o deputado João Paulo Cunha e os R$ 50 mil retirados em espécie no banco por ordem da agência SMPB.

No segundo capítulo, o Supremo desvendou a montagem de empréstimos fraudulentos no tocante às normas bancárias para ocultar a origem dos recursos. No terceiro, mostrará como o dinheiro foi lavado.

A partir daí, desenrolar-se-á o novelo em que dificilmente deixarão de se enredar os integrantes do chamado núcleo político, beneficiário, mandante e consequentemente dono do domínio dos fatos que resultaram na urdidura de um esquema que a Corte vai reconhecendo como criminoso.

Bicudos. Para que não se faça de Fernando Henrique Cardoso uma vítima eterna dos equívocos do PSDB e se respeitem os fatos, cumpre não esquecer que o então presidente na eleição de 2002 não escondeu a satisfação de incluir em seu currículo o fato de ser sucedido por um "operário".

Se de um lado foi largado pelos tucanos, de outro não impôs reparos ao apoio implícito de muita gente do governo à eleição de Lula nem ao abandono explícito de setores do partido à candidatura de José Serra.

Aí incluídos o presidente do PSDB, Tasso Jereissati, cabo eleitoral assumido de Ciro Gomes, e o então candidato a governador de Minas, Aécio Neves, arquiteto do voto "Lulécio".

Ponto final. A oposição pode ser "suja", a elite "preconceituosa", a imprensa "reacionária" e a Justiça "instrumento de golpistas", como diz o presidente do PT, Rui Falcão.
Mas quem flerta com a possibilidade de ver correligionários na cadeia é o PT.

07 de setembro de 2012
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo

STF CONDENA METÁFORAS DE DJAVAN

 

LINHA DO EQUADOR - Por oito votos a três, o Supremo Tribunal Federal julgou incompreensíveis as metáforas compostas por Djavan. "Aos poucos, essa egrégia Corte está prestando contas de suas dívidas históricas com o povo brasileiro. Em recurso definitivo, julgamos incompreensíveis os versos 'Açaí, guardiã / Zum de besouro um imã / Branca é a tez da manhã'", disse o presidente Ayres Britto, ele próprio autor de seus versinhos.

Destacados dos demais mortais pela linguagem de alto teor poético e pela profusão de malabarismos sintáticos, os ministros do Supremo reconheceram, embora deveras frustrados, que são incapazes de desvendar metáforas como "Raio se libertou / Clareou / Muito mais / Se encantou / Pela cor lilás".

"Data vênia, que raios significa isso: 'A luz de um grande prazer é irremediável neon / Quando o grito do prazer açoitar o ar, reveillon'", indagou o ministro Celso de Mello.





   Djavan foi absolvido da responsabilidade de ter legado Jorge Vercillo ao mundo

Como punição, a ministra Rosa Weber sugeriu que o compositor fosse condenado a aprender japonês em braile para ensinar às crianças carentes. No final do dia, o Supremo apertou a pena: "A obra de Djavan deverá ser relida por Pedro Bial", sentenciou Gilmar Mendes.

Em sua coluna no jornal O Globo, Caetano Veloso reagiu indignado: "Precisamos djavanear o STF". E concluiu, de maneira cristalina: "A vida é oca / como a touca / De um bebê sem cabeça". Depois riu à beça.

07 de setembro de 2012
The i-Piaui Herald

MEMÓRIA HISTÓRICA DE PRONUNCIAMENTOS ANTOLÓGICOS

(Nota postada aqui em 30.12.2005)


"Acontece que quatro anos para quem está governando é muito pouco, mas para quem está na oposição quatro anos é uma eternidade". (Lula.)

"A direita está fazendo com o PT o que a ditadura militar fez com João Goulart e o que fez no passado com Getúlio e JK. (...) Se não formos para as ruas agora, eles não vão parar. Querem desestabilizar nosso governo". (José Dirceu, ex-deputado.)

"O futuro de José Dirceu a Sepúlveda Pertence". (De um baiano anônimo.)

"Pelo bem ou pelo mal, não tem como o presidente da República dizer que não tem responsabilidade". (Lula, no Roda Viva da TV Cultura.)

"Que eu saiba, não sei." (Vladimir Poleto, ex-assessor de Palocci, na CPI dos Bingos.)

"Respeito a ingenuidade. Não sei, no entanto, de onde imaginavam que o dinheiro viria - se do céu, num carro puxado por renas e conduzido por um senhor vestido de vermelho". (Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT.)

"Esse, que devia ser o governo das nossas vidas, foi o governo da nossa tragédia. Já chorei muito. Quando olho as novas gerações indagando "O que aconteceu?". E vejo que cada vez mais terei de dizer que fracassamos, sinto uma dor terrível". (Chico Alencar, deputado que trocou o PT pelo PSOL.)

"Mentira, canalha, safado!" (Severino Cavalcanti, presidente da Câmara, ao desmentir o empresário que havia confessado tê-lo subornado.)

"Como eu dizia no Chile, pode ser um governo de merda, mas é o meu governo. O PT, só não rasgo a carteirinha, porque, quando entrei, ainda era um partido sério. Enquanto eu tiver saúde, eles vão saber o que é gritar". (Maria da Conceição Tavares, economista.)

"Não sei quantos brasileiros e brasileiras podem encostar a cabeça no travesseiro à noite e dormir o sono dos justos. Eu durmo o sono de um homem que sabe o que quer, que sabe o que este país precisa, que sabe o que o nosso país deseja". (Lula.)

"O de Collor foi o melhor. O de FHC foi marrom' (marromenos). O de Lula estava bom demais para ser verdade". (Jeany Mary Corner, cafetina, sobre seus negócios ao longo dos governos.)

"Eu sou daqueles que preferem perder um voto do que perder a vergonha". (Lula.)

"O PT é um navio que foi atingido, está prestes a afundar e se recusa a jogar a carne podre fora para ficar mais leve". (Jefferson Perez, senador do PDT-AM)

"Se eu tivesse um buraco para me meter entraria nele para sempre". (Marcos Valério, empresário e avalista do PT.)

"Na melhor das hipóteses, Lula, o senhor é um idiota. Na melhor. Na pior, o senhor é um corrupto." (Arthur Virgílio, líder do PSDB no Senado.)

"Nós dilapidamos o nosso capital moral perante a sociedade". (Tarso Genro, presidente nacional do PT.)

07 de setembro de 2012
blog do noblat
 

O SERVILISMO DO PARTIDO DA IMPRENSA GOVERNISTA (PIG)

O PIG (Partido da Imprensa Governista) começou a descer o pau no ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do Mensalão.

Por que?

Por que o desempenho de Barbosa até aqui desagrada ao PT?

Por que ele foi nomeado ministro por Lula, mas procede com a independência que se espera de todo juiz?

Naturalmente, o PIG (Partido da Imprensa Governista) não alega tais razões. Se o fizesse seria repelido por seu próprio patrão.

O PIG (Partido da Imprensa Governista) apenas argumenta que ele está sendo rigoroso demais.

Compara-o com inquisidores da Idade Média que torturavam e matavam inocentes.

Ora, o ministro não julga sozinho. E os demais ministros não são uns bundas-moles. Pelo contrário.

(Bem, alguns podem ser. Mas o coração desses bate pelo PT. Ou lhe deve favores.)

Por 9 x 1, Joaquim foi derrotado quando pediu a condenação de uma das ex-diregentes do Banco Rural, Ayanna Tenório.

As decisões do Supremo no caso do mensalão estão sendo tomadas por larga maioria.

O PIG (Partido da Imprensa Governista) não precisava ser tão servil. E burro.

07 de setembro de 2012
Ricardo Noblat

 

FRASE DO DIA

O julgamento caminha para um retrocesso, como desconsideração dos atos de ofício. Um julgamento que não assegura algumas garantias. Há erros de fatos vários, critérios diferentes. Talvez por ser um processo tão grande. Vamos entrar com embargos. Há um endurecimento do tribunal e uma flexibilização no julgamento [sobre a não exigência de provas].

Márcio Thomaz Bastos, advogado de um dos réus do processo do mensalão

07 de setembro de 2012

IMAGEM DO DIA

  • Próxima Foto
  • Cão durante forte chuva na Cidade de Guatemala
    Cão durante forte chuva na Cidade de Guatemala - Reuters
     
    07 de setembro de 2012

    PT À DERIVA

     


    Com o partido ameaçado de derrota em 25 capitais, Rui Falcão pode presidir um naufrágio eleitoral.
     
    07 de setembro de 2012

    AQUI SE ESCONDE O LARANJA QUE PODE ESCANCARAR O PROPINODUTO DA DELTA

    VEJA desta semana revela que uma operação foi montada para ninguém chegar perto de Bruno de Freitas. Ele pode revelar o propinoduto da empresa no Rio

    Leslie Leitão
    LIGAÇÃO PERIGOSA - Da favela para o condomínio Terra Nossa: Bruno (à esq.) tem muito que contar sobre seus negócios com a Delta de Cavendish (à dir.)
    LIGAÇÃO PERIGOSA - Da favela para o condomínio Terra Nossa: Bruno (à esq.) tem muito que contar sobre seus negócios com a Delta de Cavendish (à dir.) (Oscar Cabral/Ed Ferreira/AE)
     
    O paradeiro do contínuo Bruno Estefânio de Freitas, 20 anos, paira como um mistério na favela do Muquiço, Zona Norte do Rio de Janeiro, de onde ele evaporou sem deixar rastros há cerca de um mês. VEJA sabe para onde Bruno foi levado. Ele está instalado em uma confortável casa de condomínio fechado em Jacarepaguá.

    Atualmente, divide-se entre esse e outro endereço, onde vive sob permanente escolta de seguranças e de onde só sai mantendo-se invisível por trás dos vidros fumê dos carros. Mas por que tamanho empenho para fazer o contínuo desaparecer de circulação?

    A resposta emerge das próprias investigações. Bruno é peça-chave na rede de laranjas e fantasmas aos quais a construtora Delta repassou quase 1 bilhão de reais para irrigar campanhas e bolsos de políticos de todo o país.
    Recém-saído da adolescência e hoje desempregado, o rapaz consta como dono de uma pujante empresa de terraplenagem que, entre março de 2011 e maio de 2012, recebeu 33 140 000 reais da Delta.

    VEJA revelou em julho que ele entrara no radar do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, ao chegar a uma agência bancária na Barra da Tijuca, com escolta armada, e sacar de uma só vez 5 milhões de reais.
    A CPI que investiga o bicheiro Carlinhos Cachoeira, enroladíssimo no esquema, está ciente da existência de Bruno - o único, entre vários laranjas já identificados, a ser flagrado com a mão na massa. Na semana passada, chegou-se a discutir sua convocação.
    Mas, em vez de darem o passo decisivo para revolver o lamaçal de corrupção, os deputados e senadores optaram por suspender os trabalhos até o fim do primeiro turno das eleições municipais.

    Confira outros destaques de VEJA desta semana

    Nas últimas três semanas, VEJA rastreou os passos do contínuo, que foi instalado com pai, mãe e irmãos em uma casa de quatro quartos, piscina e churrasqueira no Condomínio Terra Nossa, vizinhança onde os altos muros garantem a privacidade. Segundo um funcionário, há pouco mais de um mês um homem passou de carro pela portaria perguntando se havia casas para alugar. “Eu disse que tinha duas.

    Poucos dias depois, ele voltou com o caminhão de mudança acompanhado desse rapaz, o Bruno.” Desde então, o vaivém de veículos no lugar aumentou muito.

    Em 12 de agosto, Dia dos Pais, Bruno foi visto circulando ali a bordo de um Gol preto, com um homem ao lado e mais dois carros atrás. “Parece um esquema profissional de escolta”, diz um vizinho. Há duas semanas, ele não é mais visto no condomínio. Tem passado a maior parte do tempo na outra casa próxima que o esquema de corrupção pôs à sua disposição.

    No casarão do Terra Nossa, VEJA encontrou a mãe de Bruno, Sandra, que se assustou ao ser questionada sobre quem estaria escondendo seu filho: “Pelo amor de Deus, não pergunta nada porque eu não posso responder”.
    Proprietário do imóvel, o engenheiro panamenho Roberto Castrejón Cedeño afirma que o aluguel é pago em dia. “Não sei nada dessa história de laranja. Antes de fechar o negócio, chequei as informações do locatário e concluí que era uma pessoa idônea”, limita-se a dizer Castrejón. Tivesse se dado ao trabalho de visitar a sede da empresa da qual Bruno é sócio, a MB Serviços de Terraplanagem, em Saquarema, a 100 quilômetros do Rio, teria chegado a outra conclusão. No local funciona uma consultoria financeira onde ninguém nunca ouviu falar do contínuo. Além da Delta, a MB não tem nenhum outro “cliente”.

    As respostas à maioria das questões que envolvem o nome do laranja estão ao alcance da CPI. O próprio quadro societário da MB fornece uma pista. Um dos sócios, Marcelo Astuto, é parceiro em outra empresa do operador de mercado financeiro Horácio Pires Adão, processado em 2005 junto com ninguém menos do que o dono da Delta, Fernando Cavendish - por fraudes no fundo de pensão dos funcionários da companhia de águas e esgotos do estado do Rio, Cedae.

    O fato de ter ido a um banco e sacado milhões comprova que Bruno tem participação ativa no bando e, se resolver falar, pode implicar muita gente. “Temos informações de que ele não é um mero laranja, mas sim um operador do esquema do PMDB no Rio”, afirma o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), membro da CPI. Com os trabalhos em Brasília suspensos, o contínuo, que trocou de endereço duas vezes em um mês, ganha tempo para submergir de novo.

    Leia também: Redutos da base concentram repasses federais à DeltaRede de escândalos: o caso Cachoeira

    07 de setembro de 2012

    "INTERVENÇÃO TARDIA E INCOMPLETA"

     
    Se a intervenção da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em oito distribuidoras do Grupo Rede tem o objetivo de "garantir a segurança do fornecimento de energia no País", como alegou o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, ela é tardia. Há muito tempo as autoridades do setor e as empresas de energia elétrica conhecem a difícil situação financeira do controlador dessas distribuidoras, que atuam em cinco Estados.

    As dificuldades financeiras impediram que o grupo investisse até mesmo o mínimo para assegurar a manutenção da qualidade dos serviços de suas controladas. Por isso, suas tarifas não foram corrigidas, o que agravou seus problemas.
     
    Dias antes de a Aneel anunciar sua decisão, o governo editou a Medida Provisória (MP) 577, que permite a intervenção nas concessionárias para assegurar a adequada prestação dos serviços públicos de energia elétrica "e o fiel cumprimento das normas contratuais, regulamentares e legais pertinentes".

    O Grupo Rede cresceu graças a aquisições de outras companhias, sobretudo depois das privatizações no setor elétrico. Transformou-se num dos maiores do ramo no País. Mas passou a ter problemas financeiros. Desfez-se de empresas de geração, para se concentrar na área de distribuição. Mas os problemas persistiram. A intervenção deveu-se às dificuldades do grupo para obter financiamentos para seu programa de investimentos, à dívida de R$ 5,7 bilhões e à queda dos índices de qualidade dos serviços de suas controladas.

    Outra distribuidora controlada pelo Grupo Rede, em parceria com a Eletrobrás, é a Celpa, que, por estar sob o regime de recuperação judicial, foi excluída da lista das que sofreram intervenção.

    A MP estabelece prazos para os controladores das distribuidoras sob intervenção apresentarem um plano de recuperação. Se aceito pela Aneel, a intervenção será suspensa. Senão, a Aneel poderá extinguir as concessões e realizar novas licitações. As dívidas que persistirem serão de responsabilidade dos controladores.

    Se vale para empresas privadas, a justificativa para intervir em concessionárias com o objetivo de assegurar a continuidade da prestação de um serviço essencial para o País deveria se aplicar também a empresas públicas de desempenho operacional e financeiro notoriamente ruins. Nos casos de antigas empresas distribuidoras controladas pelos Estados com histórico de maus serviços e de dilapidação do dinheiro público, no entanto, o governo optou por uma solução paternalista, que impede a devida responsabilização daqueles que geraram essa situação.

    Oito distribuidoras estaduais em fase pré-falimentar - controladas pelos governos do Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Goiás, Piauí, Rondônia e Roraima - foram absorvidas pela Eletrobrás, com toda sua ineficiência, seus custos políticos excessivos, seus imensos prejuízos. Elas mantiveram existência fiscal e contábil independente e, por isso, seus resultados continuam muito ruins, impondo gastos adicionais à controladora Eletrobrás.

    No parecer dos auditores independentes divulgado pela Eletrobrás junto com as informações econômico-financeiras relativas ao primeiro trimestre deste ano, lê-se que "as empresas controladas (da Eletrobrás) do segmento de distribuição têm apurado prejuízos em suas operações e as distribuidoras Amazonas Energia e Ceal (Alagoas) apresentaram excesso de passivos sobre ativos circulantes no encerramento do trimestre no montante de R$ 1,18 bilhão". Estão tecnicamente quebradas e sua continuidade operacional depende de dinheiro da Eletrobrás. As outras controladas na Eletrobrás não estão em situação muito melhor.

    Por que, em vez de investir recursos escassos da Eletrobrás nessas empresas, o governo não faz o mesmo que fez com as distribuidoras do Grupo Rede, intervindo nelas e, depois de saneá-las, com a devida responsabilização de seus antigos controladores, transferindo-as para grupos que possam geri-las com competência?
    O fato de a lista incluir empresas de Estados como o Amapá do senador José Sarney, fiel amigo dos governos petistas, talvez explique tudo.

    07 de setembro de 2012
    Editorial do Estadão

    "AINDA HÁ JUÍZES EM BERLIM"

     
    Este episódio teria ocorrido em meados do século 18. E, a esta altura, ninguém mais sabe dizer quanto de verdade ou de ficção há nele. Mas é emblemático e eloquente. E isso já é mais do que o suficiente para reproduzi-lo. Governava a Prússia o rei Frederico II, que acabara de construir o seu castelo de verão, o Sans-Souci. Correu tudo de acordo com o planejado, não fosse um imprevisto: do palácio se via um antigo moinho que enfeava a paisagem. O que fazer?
     
    O rei tinha fama de ser um déspota esclarecido. Jamais poderia valer-se de um gesto de arbítrio que pudesse levar a perder uma reputação de tolerância duramente conquistada. Mas suportar aquele moinho caindo aos pedaços ali não dava. A princípio tentou comprá-lo. Em vão. O seu proprietário recusou todas as atraentes propostas que os enviados do soberano lhe levaram. A coisa chegou a tal ponto que o próprio rei chamou ao palácio aquele renitente moleiro.

    O sujeito apresentou as suas razões para não efetuar a venda: em primeiro lugar, ali haviam vivido o seu pai, o seu avô e o avô do seu avô; em segundo lugar, a renda que o moinho lhe proporcionava era pequena, mas era mais do que suficiente para manter o seu modesto padrão de vida, e, por fim, ele já era velho demais para começar uma nova vida em outro lugar.

    Frederico II começou a perder a paciência.

    - O senhor parece desconhecer o fato de que eu sou o rei! Eu poderia simplesmente usar da força e desalojá-lo!

    - O senhor não fará isso!

    - E por que não?

    - Porque ambos sabemos que ainda há juízes em Berlim.

    É muito oportuno relembrar essa história, principalmente em épocas como a presente, em que o partido que está no poder entende que, por ter vencido as eleições, todo o restante da Nação lhe deve vassalagem.

    Não deve. Existem direitos e garantias individuais cujo valor não provém exclusivamente do fato de estarem insculpidos na Constituição, mas, sim, porque eles correspondem à vontade de todos nós.

    Felizmente para nós, da mesma forma que existiam juízes em Berlim, existem também em Brasília. Briosos, intimoratos, eles têm demonstrado ter a têmpera do aço: quebram, mas não se dobram.

    No presente episódio, o julgamento do mensalão, a princípio alguns deles se mostraram tímidos, abúlicos até. Mas bastou a imprensa instigá-los para que todos reagissem da maneira que o povo brasileiro esperava deles. O relator apresentou o seu relatório e o revisor - embora não com a veemência que se esperava dele - também cumpriu a sua parte, e eis que o julgamento está ocorrendo.

    Pena do nosso reizinho, que acreditava que "quem ganha leva tudo". Na prática não é bem assim. Nas democracias existem instituições e são elas que dirigem a nação. O nosso aprendiz de tirano parece que ignorava tudo isso. Tanto que chegou ao ponto de interpelar um ministro do Supremo Tribunal Federal com o fim de dissuadi-lo de levar à frente o julgamento. O ministro, com toda a razão, repudiou tal intimidade e levou o diálogo para a imprensa. E esta tratou de divulgar o fato.

    A partir desse momento, qualquer manobra protelatória se tornou impossível. E o sonho de absolvição de muita gente por decurso de prazo acabou não passando disso, um sonho.

    Os senhores magistrados estão mostrando a que vieram, por que existem. E isso é muito útil para a Nação. Doravante, independentemente da posição social, econômica ou política, todos os que ousarem burlar a lei já sabem, antecipadamente, o tratamento que a Justiça lhes dedicará.

    O velho ditado de que na Justiça brasileira todos são culpados até que provem ser influentes, de repente, perdeu o sentido. Foram condenados, até agora, líderes políticos influentes, proprietários de bancos e mais uma penca de pessoas que, até dois meses atrás, nós jamais poderíamos imaginar ver atrás das grades.

    E é o caso de perguntar: cadê o Delúbio Soares, que no auge do escândalo teve o atrevimento de comentar que, passados dois anos, tudo aquilo não passaria de uma piada de salão? Cadê o José Dirceu, que ainda sonhava em se eleger deputado e retomar a sua carreira política? Cadê o carequinha Marcos Valério, que, agora se vê, de careca não tinha nada? Pelo que se sabe, andava esbanjando dinheiro por aí. Provavelmente agora não poderá fazê-lo mais. E cadê a poderosa banqueira que fornecia dinheiro para o esquema em troca de favores do governo?

    O Brasil não se tornará um país mais honesto somente por causa disso. Apenas os assaltantes do erário terão de ter mais cautela de hoje em diante.

    Muita gente acreditava que os nossos juristas não tinham nem capacidade nem discernimento para julgar causas mais complexas, em especial aquelas que envolvem crimes de colarinho-branco. Talvez não tivessem, realmente. Mas ficou provado que, quando eles se cercam de uma boa assessoria técnica, são capazes de operar milagres. Quem não ficou surpreso com o grau de certeza com que os senhores magistrados brandiram argumentos outrora privativos da área financeira?

    O reizinho, a esta altura, deve estar muito preocupado. Não era ele que dizia as quatro ventos que dedicaria seu primeiro ano fora do poder a provar que o mensalão nunca existiu? Que tudo se tratava de uma armação da imprensa golpista, que não aceitava a ideia de ter um humilde operário ocupando a Presidência da República?

    Por enquanto ele pode dormir sossegado, porque o mensalão somente pôde ser julgado porque o excluiu da lista de réus. Mas, e depois? E se, porventura, ocorrer um novo escândalo envolvendo a sua gestão? Ele não poderá mais alegar inocência, porque será moralmente reincidente.

    Mesmo assim, não tem problema. Afinal, se Deus lhe deu um par de pernas covardes, porque ele não as usaria para correr?

    07 de setembro de 2012
    Estadão

    "TRAGÉDIA BRASILEIRA"

     
    Conversas de bastidores dão que Luiz Inácio Lula da Silva está triste e abatido com as primeiras condenações no julgamento do mensalão. Na ala mais próxima ao ex-mandatário, já há quem fale em traição, uma vez que, dos oito ministros que chegaram ao STF por indicação de governos petistas, seis consideraram João Paulo Cunha, "primeiro medalhão do partido a enfrentar o tribunal", culpado.

    Como bem observou Rogério Gentile ontem neste espaço, Lula parece dar mais importância a valores como gratidão e companheirismo do que a princípios como imparcialidade e independência entre os Poderes.

    Não resisto a temperar a discussão com elementos de classicismo.

    O ex-presidente estaria evocando aquilo que os gregos chamavam de "díke", que pode ser traduzido como "costume" ou "justiça", notadamente a justiça divina. A lealdade é uma obrigação que os próprios deuses impõem aos homens. Já os que damos preferência a princípios republicanos nos apoiamos no "nómos", a "lei", em especial a lei positiva.

    Quando as duas concepções entram em choque, nasce a tragédia. Édipo foi punido porque violou a "díke" ao matar o pai e deitar-se com a mãe, ainda que, do ponto de vista da lei humana, fosse inocente, já que ignorava a identidade dos genitores.

    Já Antígona conheceu a perdição porque, ao dar sepultura ao irmão Polinices, fez o que a "díke" exigia, mesmo sabendo que isso contrariava o "nómos" ditado por seu rei e tio, Creonte, que declarara Polinices um traidor, indigno de honras fúnebres.

    Lula não é Édipo, nem Cármen Lúcia, Antígona, mas o esquema das tragédias ensina que a tensão entre justiça, que opera numa dimensão psicológica, e lei, imposta externamente a todos, é um problema que nos atormenta desde sempre. O mais próximo de uma solução que me ocorre é a lição de Charles de Gaulle, que teria dito que homens públicos têm o dever de ser ingratos.

    07 de setembro de 2012
    Hélio Schwartsman
    Folha de São Paulo

    O 'CAPO' LULA, O SUB DIRCEU E MÁRCIO THOMAZ BASTOS DISCUTEM O MENSALÃO

     
    O PT pós-mensalão

    Lula: ele já calibra o tom do discurso contra uma eventual condenação ampla, geral e irrestrita

    Que avaliação deve ser feita do julgamento do mensalão? O que o PT deve fazer se a condenação for generalizada?

    As duas perguntas foram o centro de um sigiloso encontro no dia 2, no Instituto Lula, em São Paulo, que reuniu nada menos do que Márcio Thomaz Bastos, José Dirceu, Rui Falcão, Sigmaringa Seixas, e, claro, Lula.

    Uma das conclusões foi a de que todo o esforço para a vitória nas grandes capitais deve ser feito. Elas seriam usadas como base do discurso de defesa, na linha “O STF condenou,
    mas o povo continua com o PT ”.


    Outra decisão: os dirigentes petistas têm que partir para o ataque imediatamente. Resultado disso foi a patética declaração de Falcão, dada dias depois, de que o STF, “unido a uma elite suja e reacionária”, faria parte de um “golpe” para derrubar o PT.

    De acordo com um dos participantes da reunião, as decisões do STF estão levando Lula à beira do descontrole.

    07 de setembro de 2012
    Lauro Jardim - Radar - Veja

    "RATOS E HOMENS"


    Quando o ex-presidente Lula indicou o nome do procurador Joaquim Barbosa para o Supremo Tribunal Federal, em 2003, aplaudiu a si mesmo por mais esse lance da genialidade política que lhe é atribuída.

    Tornava-se, com isso, “o primeiro presidente deste país” a levar um negro à mais alta corte de Justiça do Brasil – o que não é bem assim, pois antes de Barbosa o STF teve dois ministros mulatos, já esquecidos na bruma dos tempos.

    Mas o que vale nas coisas da política, em geral, é o que se diz – e o que se disse ali é que havia um plano magistral.

    O novo ministro, agradecido pela honra recebida, seria um belo amigo do governo nas horas difíceis. Acontece que os melhores planos, muitas vezes, não acabam em bons resultados; o que decide tudo, no fim das contas, são os azares da vida.

    O grande problema para Lula foi que o único negro disponível para ocupar o cargo era Joaquim Barbosa – e ali estava, possivelmente, uma das pessoas menos indicadas para fazer o que esperavam dele.

    Para começo de conversa, Barbosa dá a impressão de detestar, positivamente, o rótulo de primeiro “ministro negro” do STF.

    Não quer que pensem que está lá para preencher alguma espécie de “cota”; a única razão de sua presença no STF, julga o ministro, são seus méritos de jurista, adquiridos em anos de trabalho duríssimo e sem a ajuda de ninguém.

    Nunca precisou de ajuda da “comunidade negra”, nem da secretaria de igualdade racial, ou coisa que o valha. Também não parece se impressionar, nem um pouco, com gente de origem humilde.

    É filho de um pedreiro do interior de Minas Gerais, tornou-se arrimo de família na adolescência e ao contrário de Lula, que não bate ponto desde que virou líder sindical, em 1975, Barbosa começou a trabalhar aos 16 anos de idade e não parou até hoje.

    O ministro, além disso, é homem de personalidade notoriamente difícil, sujeita a ásperas mudanças de humor e estoques perigosamente baixos de paciência.

    É atormentado por uma hérnia de disco que lhe causa dores cruéis e o obriga muitas vezes a ficar de pé durante as sessões do STF. É, em suma, o tipo de pessoa que se deve tratar com cuidado.

    Lula e o PT fizeram justamente o contrário.

    Quando Barbosa se tornou relator no processo do mensalão, em 2006, continuaram apostando todas as fichas na histórica impunidade com que são premiados no Brasil réus poderosos e capazes de pagar advogados caros.

    Descobriram, agora, que o trabalho de Barbosa puxou as condenações em massa no julgamento do mensalão – e jogou uma banana de dinamite no sistema de corrupção que há dez anos envenena a vida pública no Brasil.

    A primeira trovoada séria veio quando o ministro aceitou a denúncia da procuradoria contra os quarenta do mensalão. Na época, o único deles com cabeça foi o ex-secretário-geral do PT, Sílvio “Land Rover” Pereira; não contestou a acusação, foi punido com prestação de “serviços comunitários” e acabou resolvendo seu caso a preço de custo.

    Os demais, guiados pelo farol de Lula, preferiram ficar debochando.

    Durante todo o tempo, ele sustentou que o mensalão “nunca existiu”. Quando o julgamento começou, disse que não iria acompanhar nada: “Tenho mais o que fazer”.

    Delúbio Soares, operador-mor do guichê de pagamento do esquema, afirmou que tudo iria acabar em “piada de salão”.

    O presidente nacional do PT, Rui Falcão, garantiu que o povo estava interessado, mesmo, é na novela das 9.

    O que queria com isso?

    Imaginavam que Joaquim Barbosa, trabalhando como um burro de carga, com a tortura da dor nos quadris e seu temperamento de porco-espinho, estava achando engraçado que o seu esforço era uma palhaçada inútil?

    Lula e sua tropa tinham certeza de que o processo iria se arrastar até o Dia do Juízo Final.

    O ministro Barbosa, hoje, poderia dizer: “Não contavam com a minha astúcia”.

    No caso, sua astúcia foi entender a diferença entre “muito tempo” e “nunca”.

    Tudo seria demorado, claro. Mas ele tinha certeza de que terminaria o seu trabalho – e que os 80% de popularidade de Lula, aí, não iriam servir para nada.

    Em sua curta obra prima Ratos e Homens, um dos clássicos da literatura populista americana, John Steinbeck se inspira num antigo poema escocês para nos dizer que os mais bem cuidados planos deste mundo, sejam feitos por ratos ou por homens, são coisas frágeis; podem ser desfeitos pela roda do acaso, que é indiferente tantos aos projetos mais humildes quanto aos mais ambiciosos, e só acabam deixando mágoa e dor.

    Joaquim Barbosa talvez faça com que os mensaleiros se lembrem disso por muito tempo.

    07 de setembro de 2012
    J.R.Guzzo, Veja

    COMBATE À CORRUPÇÃO LULISTA ENTRA EM PAUTA NO DIA 7 DE SETEMBRO

    Combate à corrupção entra em pauta no dia 7 de setembro. Em Brasília e SP, grupos protestam; em Guapimirim, após prisão de prefeito, festa é cancelada

    
Protesto de combate à corrupção em Brasília
Foto: AFP
    Protesto de combate à corrupção em BrasíliaAFP

    A celebração da independência do Brasil neste 7 de setembro foi usada como pretexto para a realização de dois protestos anticorrupção, tanto em Brasília quanto em São Paulo. Enquanto isso, em Guapimirim, no estado do Rio, um desfile que seria realizado para comemorar a data cívica foi adiado. O prefeito do município foi preso esta semana por estar supostamente envolvido em um esquema de desvio de verbas públicas.
     
    
    Duas ativistas do grupo Femen foram detidas durante o desfile de 7 de setembro, em Brasília
    Foto: Reuters
    Organizada pelas redes sociais, a "Marcha Brasil Contra a Corrupção" ocupou parte da Esplanada dos Ministérios. Nesta sexta-feira, um grupo de manifestantes foi às ruas para protestar a favor da punição dos réus do mensalão e contra o contraventor Carlinhos Cachoeira, principal investigado pela CPI que leva o seu nome.
    Já em São Paulo, cerca de 600 pessoas protestaram na Avenida Paulista - 100 delas chegaram a bloquear a via. Por volta das 15h30, a pista sentido Consolação teve o fluxo totalmente interrompido. A via só foi totalmente liberada perto de 17h20. Manifestantes carregavam cartazes contra a impunidade e se vestiam, em sua maioria, de preto.
    Em Guapimirim, a prisão de Júnior do Posto (PMDB), chefe do Executivo municipal, fez com que a realização de um desfile fosse cancelado. Ele foi preso e o presidente da Câmara de Vereadores, Marcelo do Queijo, é considerado foragido. Segundo a Polícia Civil, os dois faziam parte de um esquema que desviou R$ 48 milhões. O vice-prefeito, Marco Aurélio Dias, que deveria assumir o governo da cidade, ainda não se apresentou à prefeitura.
    Nas ruas de Guapimirim, o clima é de revolta e medo. Moradores, que pediam anonimato, denunciaram na quinta-feira que os jornais de grande circulação foram comprados no início da manhã, logo após a abertura das bancas.
     
    07 de setembro de 2012

    NO MOMENTO MENOS OPORTUNO

     


    De uma feita, estava jogando conversa fora com o amigo Jorge Malaquias dos Santos, o filósofo do Engenho da Rainha, quando adentra no bar uma bela mulher de seus 40 anos, pede um maço de cigarros, olha para Malaquias, o cumprimenta com um aceno de cabeça e como entrou saiu.

    Malaca, responde ao aceno, mas imediatamente, com os olhos rútilos, entra estranha viagem. Quando retornou ao mundo dos simples mortais, não resisti e perguntei:

    - E aí criolo?

    - Pos é, da Melhor Qualidade, a situação mais embaraçante que um ser humano pode viver e no momento em que estiver praticando com a parceira uma felação invertida (1), solte um sonoro e fétido flato. Não é mesmo?

    - E daí? – continuei

    - Tive um inicio de caso com essa uma que você acabou de ver, quando sentimos vontade de partir para intimidade, aluguei um quarto na casa da dona Palmira, e partimos para lá cheios de desejos. As coisas foram se desenrolando o melhor possível, num lapso de tempo entramos na putaria desenfreada, mas quando estávamos na tal felação invertida, a criatura me solta um pum com tal sonoridade que fui tomado por uma brochura irreversível”.

    Poderá me perguntar o leitor:
    “E o que isso tem a ver?” e eu respondo:
    “Discursos de certos políticos, pela inoportunidade se assemelham ao flato da história acima. Me refiro especificamente ao imbecilizado presidente do Partido dos Trabalhadores PT, Rui Falcão (foto). Na segunda feira (3/9), em Osasco durante a escolha do candidato a prefeito que substituirá o ladrão João Paulo Cunha, ele mostrou que deve estar vivendo em outro país, quando num delírio afirmou:

    “Vocês sabem que mexeram com o PT, um golpe grande, que faz parte de uma ação daqueles que foram derrotados nas urnas três vezes. São esses conservadores que diziam que o Brasil não podia crescer mais de 3%, que não podia dar aumento de salário, que gerava inflação. São esses mesmos conservadores que, junto com os setores da grande mídia, perderam na urna e tentam nos derrotar por outros meios (…)Essa elite suja, reacionária, não tolera que um operário tenha mudado o país. Não tolera que uma mulher dê continuidade a esse projeto (…) E isso, para quem mantinha o povo subjulgado, é inaceitável. E quando eles são derrotados nas urnas, eles lançam mão dos instrumentos de poder que ainda dispõe, desde a mídia conservadora, passando pelo Judiciário, para tentar nos derrotar”.

    Quer dizer, que qualquer providência que se tome contra o roubo, o peculato, a safadeza e a incompetência, para esse energúmeno trata-se de uma tentativa de golpe e que o país vive uma situação de crescimento e abundância.

    Finaliza inda com uma ameaça subversiva: “Eu queria dizer para vocês: não mexam com o PT. Porque quando o PT é provocado, ele cresce”.

    Quando se pensa que o país atingiu o fundo do poço, aparece um desclassificado mostrando que ainda se pode fazer pior.

    (1) Claro que Malaquias não usou estas palavras, ele apelou para o popular 69.

    07 de setembro de 2012
    Giulio Sanmartini

    PPP (PATIFARIA PÚBLICA PRIVADA)

     

    O caminho mais curto para destruir a confiança e implantar o caos: levar vantagem em tudo, PAC, PPP, imunidades, carga tributária impagável, desenfreado gasto público, dízimo partidário pago com dinheiro público, lobistas, empreiteiros e a compra de votos, eufemisticamente chamado de Bolsa-Família.

    Coitados dos consumidores, porque quando o patrão é o governo, o lombo do povo fica vergado e manchado de feridas:/ eficiência não casa com PPP.

    Ela exige exclusividade no mercado, liberdade para arbitrarem os preços e, como de hábito, isenção de impostos. Se possível uma filial em cada bairro, rua, cidade ou repartição. Cada filial contará com diretoria indicada pelo partido.

    Estas PPPs devem render muitas “sobra de campanha”, porque estão querendo criar outras.
    A experiência que deveria ser retirada das que já existem parece não ser suficiente. Basta analisar as concessões dos serviços públicos.

    O concessionário desses serviços é um tipo de empresário defensor da “livre empresa”, que exige mercado cativo e o consumido,r seu exclusivo escravo. Eles querem e exigem o poder de estabelecer as taxas, o preço dos serviços, o preço dos produtos e a liberdade de transferir até o IR para o lombo do consumidor.

    Assistindo e sofrendo com tudo que se assemelha a PPP ou que ainda está na mão do governo, basta ver o abuso nas contas de energia (elétrica, da geração até a distribuição e mercado livre para combustíveis), água e esgoto ou Infraero, temos a certeza de que as companhias que ainda são geridas pelo governo deveriam ser vendidas ou doadas. Que todas fossem disputar um autêntico livre mercado e defender, com unhas e dentes, a livre iniciativa. Inclua no rol o Banco do Brasil, com taxas e serviços caríssimos, parâmetros ideais para todos os outros bancos, que vivem aplaudindo-o.

    Quem não sofre com o falso “livre mercado” do setor bancário? Tudo é combinado e regido pelo Banco Central;/ não é por outro motivo que sempre é indicado um banqueiro para presidí-lo.

    O Governo é o maior tomador, combinou que vai absorver tudo que puderem emprestar; as taxas são as maiores do mundo, tudo combinado entre Banco Central e Febraban. E saber que tudo terá que ser pago pelos contribuintes!

    Só louco ainda não percebeu que no tempo da CSN (Cia. Sid. Nac) e da Vale (Vale do Rio Doce) em que o patrão era o governo, a pelegada só organizava greves, o tesouro socorria os buracos e tudo que produzissem era considerado verba para distribuir entre os funcionários. Hoje, na mão da livre iniciativa, QUE DIFERENÇA!

    O erro das estatais de então é igual às atuais: o perdularismo na remuneração dos seus funcionários. Pelegada e diretores comendo no mesmo prato;/ combinam como esconder as regalias;/ escondem o crime de serem desastrados gestores públicos.

    É por tudo isto, benéfico que as companhias que ainda estão na mão do governo sejam vendidas ou até doadas. O lombo do consumidor não deve mais ser a piscina para funcionário público (ou de estatal) nadar e se refrescar; sem ninguém que lhes cobre a eficiência ou a virtude que a CSN e Vale, agora na mão de particulares, passou a cobrar. E ter resultados.

    A exigência governamental de que os entes econômicos paguem os impostos à vista arremessa-os, para poderem existir, a contrariar o que é bíblico: “NÃO BASEIE A TUA PROSPERIDADE NO DINHEIRO EMPRESTADO”. (Abraham Lincoln)

    Os brasileiros, com urgência, precisam voltar a ter orgulho do seu país. E esta é a maior empreitada do Supremo Tribunal Federal. Quando esta causa tiver atenção e também for a prioridade e meta do legislativo, o Brasil voltará a ser o lar da esperança;/ o executivo será acompanhado com a lupa da verdade e a família voltará a ter futuro. Façamos valer o direito de morrer sem ódios, iras ou injustiças, mas morramos em paz, porque cumprimos com nossos deveres e não afugentamos a verdade.

    O Brasil da esperança não pode conviver com as relações clandestinas entre governantes, lobistas, empreiteiros e detentores de incentivos fiscais, porque nenhum deles é benéfico à sociedade. “A diferença entre Juízes de Primeira e Segunda Instância é: os primeiros pensam que são deuses, os outros, têm certeza”. Neste exato momento, antes tarde do que nunca, o Supremo Tribunal Federal está no trono e o povo irá eleger este trono como o seu Rei.

    07 de setembro de 2012
    Walter Marquart

    INTELECTOS EMBOTADOS

     

    Dentro de suas profissões, sejam atores, cantores, escritores ou jornalistas são capazes de trabalho eficiente e eficaz.

    Contudo em termos políticos são culpados de absoluta cegueira e negação. Conseguem achar heróica e justificável uma ditadura de mais de cinqüenta anos em Cuba, não vêem nada de errado com uma FARC que aprisiona pessoas, dentre as quais algumas bastante humildes por cinco, sete ou doze anos como se fossem assassinos.

    Na maioria dos casos prisioneiros da FARC que tivessem sido condenados no Brasil à pena de 30 anos passariam menos anos em uma cela do que os reféns desses terroristas passam na prisão verde da selva colombiana.

                                        
    Além disto, por muito que o trânsito de drogas seja normal em certos meios ditos intelectuais, não deve haver muita dúvida de que o seu trafego, basicamente uma atividade de crime organizado é nefasta para a sociedade.

    E por que este grupo de pessoas consegue desculpar a dilapidação dos recursos do povo, consegue aceitar uma carga de impostos de cerca de 40% do PIB, recaindo com maior peso sobre o consumo das pessoas que estão, a duras penas, saindo do nível de sobrevivência para uma vida digna, sem que esta massa de impostos realmente resolva problemas de estrutura que viriam a baratear a produção nacional de bens.

    Essencialmente o desprezo demonstrado pelos argumentos, infelizmente pouco disseminados de pensadores brasileiros não engajados com o cego socialismo de mentirinha do PT e de outras agremiações seria uma prova de preguiça mental, de falta de vontade de enfrentar seus pares para não ficar isolado?

    Nos últimos quatro anos tenho ouvido muito pouco o termo neoliberal. Foi sepultado possivelmente porque o pouco que deu certo no Brasil nestes onze anos deriva do trabalho dos governos de Fernando Henrique Cardoso, que foi tachado de neoliberal, mas que essencialmente politicamente limitou-se a praticar a arte do possível.

    Aqui faço uma pausa para dizer que Fernando Henrique, a partir de 2007 deveria ter expressado atitudes críticas muito claras para com o PT e Lula. Havia dado ao lulismo sua oportunidade de trabalhar sem ser acossado por críticas e não mudou a sua posição após ficar transparente o mal do mundo lulista, mesmo sendo o único líder com estatura para isto. Com todas as falhas que se lhe atribuíram, com todas as críticas que lhe desejem fazer comparado ao que aí está fez um governo impoluto.

    Mas voltando às figuras do mundo artístico e literário que endossam tudo que estamos vivendo ouvi por estes dias um cronista americano, Pat Sajak analisando a mesma questão em Hollywood.

    Historicamente 80% (O número de simpatizantes dos Democratas talvez tenha baixado para 65% na presidência Obama).do mundo dos artistas apóiam o Partido Democrata.

    O artista se entrevistado acha que paga pouco imposto. Conversa! Na verdade acha que merece tudo que ganha.

    Estes artistas, alguns fazendo quatro filmes ao ano à base de 15 milhões de dólares por filme cuidadosamente empregam os melhores contadores e advogados de direito fiscal para pagar o mínimo possível.

    Segundo Sajak, se quiserem podem emitir um cheque e darem mais algum dinheiro ao Tesouro que aceitará com prazer a contribuição. Alguns poucos talvez até façam alguma coisa, mas o normal é voarem nos seus jatinhos de uma de suas muitas casas para a outra enquanto endossam medias fiscais que cerceiam o desenvolvimento, não dos grandes empreendimentos, que se forem taxados em excesso migrarão e farão seus negócios em países com políticas fiscais menos duras, mas afetam os pequenos e médios negócios bem sucedidos.

    Claramente nenhum deles acha estar sendo excessivamente remunerado, nem que talvez devesse pagar os impostos sem lançar mão de abrigos fiscais contidos na lei.

    Isto chama a atenção num momento em que a presidência Obama endivida o país em projetos que nunca dão certo e joga obstáculos a projetos que gerariam uma recuperação rápida, mas que não se enquadram nos seus ideais socialistas e comunistas.

    Um dos problemas é que os artistas são membros de uma elite criativa. Nas suas profissões são capazes de grandes acertos pela via do instinto. Um músico sabe que isto ou aquilo dará certo, ou ao menos sente que sabe. Um escritor também. Eles podem queimar fases.

    Mas um país não deveria ser dirigido intuitivamente. Ideais não deveriam substituir o planejamento sólido. Um objetivo depois de enunciado deve passar por um processo construtivo que explique com chegamos do status inicial ao objetivo final.

    Exemplos claros no Brasil foram a pletora de refinarias, a transposição do Rio São Francisco, a Ferrovia do Norte do Sarney, a Copa do Mundo e a Olimpíada, todas iniciativas tomadas sem um estudo de viabilidade e de rentabilidade. 

    Enquanto isto as safras não chegam aos portos porque as estradas não comportam os caminhões, os portos não têm capacidade e assim por diante. No entanto o dinheiro esteve disponível para os trabalhos de infra-estrutura necessários, apenas foi destinado para atividades mais vistosas e onde pudesse ser desviado.

    E os “intelectuais” do Brasil de uma forma geral continuam aplaudindo e subindo nos palanques.
    Mas nem pensar em contratar um professor de Introdução à Economia.

    07 de setembro de 2012
    Ralph J. Hofmann