Prezado Jornalista Hélio Fernandes,
Celso Ming publicou, vomitou, uma série de bobagens na coluna dele no jornal Estado de São Paulo, não sei se você as conhece, referem-se à Petrobras.
Como empregado dessa Empresa, Maiúscula mesmo, me senti na obrigação de responder, certamente o Estadão não publicará.
Se achar oportuno publicar e esmiuçar o artigo e minha contribuição, o Brasil e este cidadão agradecem.
Antonio Callado
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A PETROBRAS E O "DESASTRE DE 2012″
Celso Ming (O Estado de S.Paulo)
Depois que a própria direção reconheceu o desastre de 2012 e previu que resultados ainda piores podem vir em 2013, é preciso entender que a Petrobrás não está dando conta das tarefas de que foi investida.
É areia demais para seu caminhão. Não consegue cumprir todas as metas impostas pelo governo. Não se mostra capaz de, ao mesmo tempo, aumentar a produção, ajudar no combate à inflação, fazer caixa para o enorme programa de investimentos, servir de alavanca para a indústria nacional de fornecimentos e, ainda, contribuir decisivamente para as contas públicas de Estados e municípios, com polpudos pagamentos de royalties.
Essa múltipla trombada entre objetivos de política econômica é recorrente no governo Dilma – que também quer derrubar os juros a níveis recordes, puxar o câmbio para dar competitividade à indústria, emplacar um "pibão grandão" a cada ano, manter a inflação mais ou menos controlada, investir centenas de bilhões de dólares por ano sem ter poupança para isso e continuar gastando à vontade para fazer uma política anticíclica e, além disso, tentar ostentar um mínimo de austeridade fiscal.
O resultado é a progressiva desarrumação da economia, provavelmente nas mesmas proporções em que estão sendo desarrumadas as finanças da Petrobrás. Pelo menos a presidente, Graça Foster é mais sincera sobre estragos na área dela do que tem sido o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre os estragos na área dele.
A política de congelamento de preços dos derivados de petróleo é da mesma qualidade que a política de congelamento de preços e salários imposta pela presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Mas não é só por isso que ela é condenável. É, também, por sabotar a capacidade de investimentos da Petrobrás. Ou o governo Dilma revê o Plano de Negócios da Petrobrás ou revoga esse regime de preços dos combustíveis.
Há seis anos não é realizada nova licitação de áreas para exploração de petróleo. O governo Dilma finalmente concordou em fazer mais duas: uma na área do pós-sal (acima da camada de sal), agendada para maio, e outra, no pré-sal, prevista para novembro.
O novo marco regulatório exige que, nas licitações do pré-sal, onde o regime de concessão será de partilha, a Petrobrás será obrigada a entrar em todos os projetos com participação de, ao menos, 30% em cada um. Entre as áreas a serem licitadas está o Campo de Franco, comprovadamente uma jazida gigantesca de óleo e gás. Significa que o prêmio a ser pago pelos vencedores da licitação dessa área pode chegar a dezenas de bilhões de dólares. Ou a Petrobrás será obrigada a concorrer com novos e enormes desembolsos ou a licitação será novamente adiada – até que a capacidade de investimentos da Petrobrás seja recomposta. Outra hipótese será a revogação da exigência dos 30%.
Não só os governos Dilma e Lula devem ser responsabilizados pelo desmanche da Petrobrás. Seus funcionários, sempre grandes parceiros no processo de engrandecimento da empresa, hoje se omitem. Mobilizam-se para greves com o objetivo de elevar sua participação nos lucros da empresa. Mas não se mostram empenhados em que a Petrobrás se restabeleça e volte a apresentar bons resultados.
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A PETROBRAS E "A REPÚBLICA SINDICALISTA"
Antonio Callado
Ilustre senhor, não é areia demais para a Petrobras dar conta de todas as responsabilidades que ela tem, muito pelo contrario, tem competência e tecnologia de sobra para dar conta desses e de muitos outros desafios. Os problemas da Petrobras são outros, talvez o senhor os conheça e poderia de fato ajudar se de boa fé os colocasse claramente ao invés de fazer considerações sem fundamentos.
A trombada entre objetivos e política de governo a qual o senhor se refere tem fundamento, toda vez que se utiliza uma empresa estatal para governar, é quase certo cometer erros maiores ou menores. Querer que a Petrobras alavanque a economia sequer é preciso, pois a atividade e os investimentos que estão por serem feitos falam por si. O que o senhor não menciona e deveria mencionar é o apagão tecnológico da educação técnica que o Brasil enfrenta, a mão de obra especializada inexistente e o parque tecnológico sem capacidade de atender o volume de demandas produzidas pela Petrobras.
O senhor também esquece que a iniciativa privada no Brasil não gosta e não corre riscos como em outros países, aqui a iniciativa privada quer investir com contrato de venda nas mãos. Risco de investimentos e aplicações em tecnologia de ponta, só se o governo financiar, ou seja, a grande maioria dos empresários continua trabalhando como se estivéssemos ainda em plena ditadura, quando os governos bancaram a nacionalização de equipamentos e a Petrobras e outras estatais pagaram o preço exorbitante que as indústrias "nacionais" cobravam para atenderem as demandas das estatais.
O senhor se refere à progressiva desarrumação da economia e da Petrobras, mas não tem a coragem de dizer por que isso acontece e em passado recente. Fale com todas as letras, ilustre jornalista, mostre os pecados deste e de outros governos que o antecederam. O que eles cometeram contra o Brasil. Não precisa ir muito longe, fale dos dois últimos, como conseguiram enganar uma Nação inteira. Um desnacionalizando o que nunca deveria ter sido privatizado, vendendo pelo preço aviltante as estatais, e o outro governo, que o substituiu, conseguiu enganar a todos tendo sido apoiado por segmentos econômicos que nunca ganharam tanto em tão pouco tempo.
O senhor menciona e compara a política de congelamento dos derivados de petróleo e principalmente da gasolina com a Argentina de Cristian Kirchhner, uma comparação sem nexo, não há como se comparar. Aqui a filosofia adotada era criar uma república sindicalista sem pé nem cabeça, manter artificialmente os preços e não permitir que a Petrobras repassasse a elevação dos custos de importação ao valor da gasolina e outros derivados.
Ao mesmo tempo colocaram em postos estratégicos sindicalistas incompetentes que não têm o preparo técnico para ocuparem os postos que por força políticas acabam ocupando. Essa ocupação sindicalista é um veneno para a gestão da Petrobras a curto, médio e longo prazo.
OS EMPREGADOS HONRAM A PETROBRAS
O ilustre jornalista deveria assuntar melhor este problema e ver que os empregados da Petrobras que sempre honraram e continuam honrando a camisa da Petrobras, não sabem mais a quem apelar. A presidente está fazendo a sua parte, precisa correr mais e botar para correr essa cambada de sindicalistas incompetentes que tomou de assalto a Petrobras, como fazer isso e continuar presidente é a equação que deve ser resolvida.
Quanto às novas licitações, para que fazer mais? Se até hoje as que foram realizadas apenas as que sabidamente a Petrobras conhecia tecnicamente muito bem e que estão começando a trabalhar, as demais sequer se provaram seu potencial produtivo e a economicidade.
Diferente do que o senhor coloca no inicio do artigo, o problema é muito maior do que o senhor pensa, entre descobrir, perfurar, provar capacidade produtiva e tornar um poço produtivo são necessários anos contínuos de trabalho, conhecimento, investimento e tecnologia e é exatamente aí que as concorrentes da Petrobras ficam no meio do caminho, quem tem a tecnologia para fazer tudo isso é a Petrobras.
Não adianta chorar e espernear ou a Petrobras faz ou quem quiser fazer vai ter que fazer junto com a Petrobras, ou será que o senhor deseja que a tecnologia que a Petrobras consolidou ao longo da vida da empresa seja repassada gratuitamente, assim como foram tomados os poços que a Petrobras já havia descoberto e feito todo o trabalho de identificação de potencial produtivo?
Não me espantaria que o senhor advogasse também essa possibilidade, afinal o que as grandes companhias de Petróleo interessadas no Petróleo brasileiro desejam é exatamente isso, receberem tudo de graça e ainda passarem recibo de terem resolvido os problemas que a Petrobras não consegue resolver, não é mesmo?
Quanto ao marco regulatório que faz a Petrobras entrar em todos os projetos é para garantir que a tecnologia desenvolvida pela Petrobras possa ser compartilhada e ajudar esse bando de empresas que não possui e nem investiu um tostão nessa tecnologia possa imediatamente lançar mão sem ter gasto um único centavo. O lobby feito para que assim ficasse, o senhor sabe muito bem quanto custou, quem ganhou e vai ganhar com isso.
Por fim o senhor deseja que o governo atual e o passado, e os funcionários da Petrobras, sejam responsabilizados pelos desmandos que têm ocorrido. O ilustre jornalista esqueceu-se dos governos anteriores por quê? Qual foi ou quais formam os governos que deixaram a Petrobras mais de quinze anos sem efetuar um único concurso público para repor a mão de obra necessária e admitir novos profissionais para fazer frente a todos os desafios que ela superou?
TERCEIRIZANDO E FAZENDO A FESTA
Segundo seu entendimento, de que forma uma empresa passa a produzir em dobro e ao mesmo tempo reduzir a metade o seu contingente de empregados próprios? Lógico, como queriam os governos de então e os amigos da riqueza do Estado, terceirizando e fazendo a festa de um poucos empresários que da noite para o dia abriram empresas e passaram a fornecer mão de obra para a Petrobras, e como resultados dessa festança ficaram ricos intermediando o que não precisa de intermediação.
Quanto a última observação, o senhor confirma estar de fato equivocado a respeito dos empregados da Petrobras, estivemos, estamos e estaremos sempre empenhados em fazer a Petrobras cada vez maior e produzindo cada vez mais, para o bem do Brasil e de todos que de alguma forma tem interesses na Petrobrás.
Aproveito o ensejo para pedir que senhor se informe melhor sobre os empregados, salários e as condições de trabalho na qual desenvolvem suas atividades, particularmente quando clamam para que melhores condições de trabalho e ocorrem acidentes de graves consequências.
10 de fevereiro de 2013