"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 15 de janeiro de 2013

JUSTIÇA ANULA LEILÃO DE IMÓVEL ARREMATADO POR LOBÃO NO RIO

CNJ apura se disputa teria favorecido parente de magistrado

A Justiça fluminense anulou o leilão de dois apartamentos arrematados, em 2010, pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, um deles em sociedade com um dos filhos, Márcio Lobão, e com o desembargador Marcelo Buhatem. Este leilão, que incluiu um terceiro imóvel - todos no mesmo prédio em Ipanema (Avenida Henrique Dumont 118, apartamentos 101, 102 e 401) -, é alvo de investigação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) sobre a existência de uma ação entre amigos nas varas empresariais da capital, destinada a favorecer parentes e amigos de juízes com a administração de massas falidas lucrativas.

Os apartamentos foram leiloados por decisão do então juiz Mauro Pereira Martins (promovido a desembargador, em dezembro), na época titular da 4ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro. Ele acolheu pedido da administração da massa falida da Central de Telefones Compra e Venda de Linhas Telefônicas, de Nova Iguaçu. O advogado da massa, Adriano Pinto Machado, é cunhado de Mauro Martins e irmão da juíza Maria Helena Machado.

Ao anular ontem a decisão do colega, a juíza Márcia Cunha, em exercício na 4ª Vara Empresarial, alegou que o leiloeiro desrespeitou uma ordem judicial para suspender o pregão e não deu a devida publicidade ao ato (o anúncio limitou-se ao site do leiloeiro). Também sustentou que seu antecessor desprezou alegações do proprietário do apartamento 401, Aloysio Pereira Dantas, razão pela qual o imóvel não poderia ser leiloado. Os argumentos de Dantas foram anexados ao processo pela defesa do morador.

Lobão, Mauro e Buhatem pagaram R$ 740 mil pelo apartamento, que tem duas salas, três quartos, três banheiros e duas vagas de garagem e fora avaliado por R$ 900 mil (lance mínimo). Pelo 102, Lobão desembolsou R$ 450 mil (lance mínimo de R$ 600 mil), enquanto o terceiro imóvel foi arrematado por R$ 331 mil (mínimo de R$ 400 mil) pelo advogado Kleber Araújo Lima, especialista em avaliação de imóveis.

No despacho, já acessado pela advogada de Aloysio, Patrícia Bittencourt, a juíza disse ainda que o preço dos bens "parece um tanto inferior" ao valor de mercado e que os mesmos foram arrematados por preços em torno de 20% abaixo da avaliação.

A falência da Central de Telefones coube à 5ª Vara Cível de Nova Iguaçu. Porém, uma carta precatória (pedido de um juiz a outro para praticar um ato) permitiu que Mauro Martins, em outubro passado, favorecesse o cunhado ao considerar penhoráveis os três imóveis de Aloysio, desconsiderando como provas de residência (apartamento 401) contas de luz, gás e certificados de propriedade em nome do proprietário.

Filho diz que ministro não sabe detalhes da compra

Márcio Lobão, filho do ministro Edison Lobão e presidente da Brasilcap, braço de capitalização do Banco do Brasil, demonstrou forte indignação ao saber da anulação do leilão e afirmou que pretende recorrer da decisão. Ele negou ter recebido qualquer tipo de favorecimento ou informação privilegiada na compra. Segundo ele, o leilão foi público e teve lances de outros interessados.

- Nem sei quem é o desembargador que permitiu o leilão e o advogado da massa falida - disse. - É lastimável que o Judiciário autorize um leilão e depois diga que está errado. Foi um leilão dentro do TJ, é uma vergonha.

Ele diz que seu pai, o ministro de Minas e Energia, não conhece os detalhes do leilão.

- Ele nem sabe direito o que é, só o chamei para comprar comigo para completar o valor de que eu precisava para a compra - garantiu Márcio Lobão.

De acordo com ele, a compra foi indicada pelo escritório DSV Advogados, especializado em leilões judiciais. O advogado Daniel Garcia Sobrosa, do escritório, confirmou que pretende recorrer da decisão e contestou a afirmação da juíza Márcia Cunha de que o preço de venda foi baixo.

- Era outro mercado no ano do leilão, os imóveis valorizaram muito de lá para cá - afirmou Sobrosa.

Buhatem, por sua vez, frisou que não era desembargador no momento do leilão, que ocorreu quatro meses antes de sua posse no cargo. Quando ocorreu o certame, porém, ele já era promotor de Justiça:

- Tomei posse em 19 de julho de 2010, o que exclui qualquer possibilidade de favorecimento em meu nome. Participei democraticamente, como qualquer um.

O Ministério de Minas e Energia disse ao GLOBO que Márcio Lobão poderia esclarecer o caso. Já o desembargador Mauro Pereira afirmou apenas que não estava na Vara no momento do leilão. O advogado Cleber de Araújo de Silva Lima não atendeu as ligações do GLOBO.

15 de janeiro de 2013
Chico Otávio, O Globo

CARO RUBEM BRAGA

 

Escrevo-lhe estas mal traçadas linhas para comemorar seu aniversário de 100 anos. Sei que me condenaria por este começo de artigo, pois você lutava contra os lugares-comuns da imprensa. Uma vez me disse que demitiria qualquer redator que começasse um texto com "Natal, Natal, bimbalham os sinos" ou então "Tirante, é obvio..." ou ainda "O comboio ficou reduzido a um montão de ferros retorcidos". Sei que, odiando lugares-comuns, você estaria rindo das homenagens que lhe prestam - velhinho com 100 anos sendo tratado como um ser especial, logo você que sempre quis ser um homem comum, sem lugar claro na vida. Você não tinha nada de 'especial', nenhum brilho ostensivo; você não falava muito e tinha a melancolia que lhe dava o posto de observação privilegiado para ver a vida correndo à sua volta 'aos borbotões, a vida ávida e passageira' (perdoe-me de novo...)

A primeira vez que nos vimos foi por volta de 1975, quando lhe pedi autorização para usar Ai de ti, Copacabana como título de meu filme Tudo Bem, que acabei não usando; mas, bem antes disso, eu tinha visto você de longe no Antonio's, nosso bar mitológico, brigando com o Di Cavalcanti ("para de pintar mulatas que você não come!", e tinha lido crônicas geniais como Um Pé de Milho - você observando um grão virar pendão em seu jardim, você, um feliz fazendeiro da Rua Júlio de Castilhos.

Vi você vendo o outono chegar a Botafogo dentro de um bonde, vi você vendo as estações do ano voando sobre Ipanema (desculpe as aliterações...), vi que você via a cidade por baixo das casas e edifícios, a praia dos tatuís hoje sumidos, o vento terral soprando nas praças, senti que você tinha uma saudade não sei de que, uma nostalgia repassava suas crônicas, como em Tom Jobim, em Vinicius, numa época em que a literatura era importante, em que o Rio tinha a placidez baldia de uma paisagem vista de dentro; lembro-me de você espinafrando a destruição de Ipanema pelos bombardeios criminosos de Sergio Dourado e Gomes de Almeida Fernandes, os dois malfeitores que exterminaram a zona sul em poucos anos. "Eu sou do tempo em que as geladeiras eram brancas e os telefones pretos" - você batia na mesa - "e eles destruíram tudo!"

Suas frases ecoam na minha cabeça, não por alguma profundidade ambiciosa, mas justamente por uma 'superficialidade' buscada, como uma conversa de amigos íntimos. Não vou citar nada, mas estou no Rio, em frente do 'velho oceano' (ah! Cuidado com o 'rocambole'!...), são 6 da tarde e vejo ao longe as ilhas Cagarras envolvidas numa névoa roxa, naquela hora em que a linha do horizonte se une ao céu, com o mar imóvel, sólido e cinzento.

A segunda vez que lhe vi foi em sua casa, numa festa pequena para amigos onde eu entrei sem ar (quem me levou?). Ali na varanda em frente de Ipanema estavam homens que eu temia - ídolos de minha juventude angustiada. Ali estavam tomando uísque o Vinicius de Moraes, você, Fernando Sabino e minha paixão literária máxima: João Cabral de Mello Neto, o gênio da poesia. Danuza Leão também estava. Todo mundo meio de porre, principalmente o João Cabral, que bebia mal e implicava com o Vinicius numa agridoce provocação, criticando-o por ter abandonado a poesia pela música popular. João Cabral odiava música, que lhe doía na cabeça como um barulho, estragando seu pensamento obsessivo, piorando suas horrendas dores de cabeça. João Cabral sacaneava: "Que negócio de 'garota de Ipanema', Vina, você é poeta!". O Vinicius ficava puto, mas respondia conciliatório: "Para com isso, Joãozinho; deixa isso pra lá!". O Cabral insistia: "Que tonga da milonga do caburetê que nada...", a ponto de Danuza ralhar com ele: "Deixa de ser chato, João Cabral!". Lembra disso, Rubem? Imagine minha emoção de jovem tiete ao assistir àquela briguinha íntima e mixa entre minhas estrelas. A honraria me sufocava. Você ria dos dois ali no seu jardim suspenso, como um operário de outra construção - crônicas sem ambição e por isso mesmo muito além de teorias.

Lembro que, em dada hora, o João Cabral me segredou (Oh, suprema alegria!...): "O mal que Fernando Pessoa fez à poesia foi imenso." Tremi aliviado, pois secretamente sempre achei a mesma coisa - aqueles delírios portugueses lamentosos e subfilosóficos sempre me encheram. (Por favor: cartas me esculachando para a redação).

Que pena que não lhes conheci mais intimamente, pois tinha medo de vocês - não me achava digno. Naquela época (início dos 70) havia tempo e energia para se discutir literatura. Hoje, neste tempo digital e veloz, ou temos o derrame de besteiras nas redes sociais ou porcarias de autoajuda nas listas de best-sellers.

Só. Naquela época havia o consolo de um sentido, mesmo sob a ditadura, que até enfurecia nossa fome de verdade.

Tenho saudades das polêmicas sobre 'forma', sobre 'mensagens' até caretas, tenho saudades 'das velhas perguntas e das velhas respostas' - como escreveu Beckett.

A última vez que nos vimos, Rubem, foi numa noite chuvosa em que saímos do Antonio's meio de porre e eu lhe dei uma carona até a Rua Barão da Torre. No carro, você me contou, rindo com a voz pastosa, que aparecera uma garota de uns 18 anos em sua casa que resolveu se apaixonar por você e que ia ao seu jardim para 'dar ao mestre'. "Não sei o que ela vê em mim, mas vou comendo..." Adorei a confidência, mas vi que você estava mais velho e cansado, mais bêbado do que eu. Ajudei você a sair do carro até a portaria de sua pirâmide, onde deixei você, meio grato e meio irritado pela ajuda.

Depois, você morreu. Soube emocionado que você contratou a própria cremação - foi a São Paulo e o funcionário perguntou: "Pra quem é?" "Para mim mesmo", respondeu você, poeta macho. Por isso, quando vejo esse papo todo de 'fazendeiro do ar', de 'poeta do cotidiano', imagino que você diria: "Não me encham o saco. Sou apenas um pobre homem de Cachoeiro de Itapemirim..."

Grande abraço e parabéns pelos 100 anos.

15 de janeiro de 2013
Arnaldo Jabor, O Estado de S.Paulo

2012: O PIBINHO DEU MENOS DE 1%


O Brasil deve crescer 0,9% em 2012, após uma desaceleração forte que derrubou as expectativas de expansão, segundo relatório do Banco Mundial divulgado nesta terça-feira (15). Para 2013, a previsão da entidade é que o país cresça 3,4%, com a economia sendo estimulada pela manutenção da política fiscal atual, que deve começar a surtir efeitos.

Segundo a estimativa do Bird no relatório “Perspectivas econômicas globais de 2013”, o PIB do Brasil esperado para 2012 teve uma desaceleração considerável em relação à alta “já modesta” de 2,7% em 2011. A redução do ritmo ocorreu principalmente na segunda metade de 2012 e rendeu um crescimento bem abaixo do que estava sendo esperado: no meio do ano, a expectativa para o ano era de uma alta de 2,9%; mas o fechamento foi em 0,9%.
 
Entre os principais problemas enfrentados pelo Brasil, o Bird aponta a inflação em alta, que permanece com tendência crescente apesar da redução no ritmo do crescimento. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a "inflação oficial" do país, fechou o ano em 5,84%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
 
É uma situação parecida com a vista pela enitdade no México, Rússia, África do Sul e Turquia. “A inflação nestes países parece estar estruturada, pelo menos em parte, em gargalos de demanda, o que sugere que mesmo com o crescimento mais lento, há aperto de estoques tão grandes que, em vez de contribuir para maior crescimento, a demanda maior vai contribuir para um superaquecimento”, diz o relatório.
 
No Brasil, o estudo aponta que a inflação decorre principalmente da pressão dos preços dos alimentos em função da dificuldade de suprir as necessidades de estoque. As medidas tomadas pelo governo para estimular a economia, no entanto, são vistas com algum otimismo pelo Bird. “Os efeitos de taxas de juros baixas devem começar a ser sentidos ao longo do ano, o que deve impulsionar a demanda doméstica”, diz o texto.
 
O estudo aponta que o crescimento na América Latina foi o segundo mais baixo entre as regiões do mundo em desenvolvimento, ficando apenas atrás da Europa em desenvolvimento e a Ásia centra

O relatório aponta os emergentes ainda como uma aposta para o crescimento mundial, diante das dificuldades que continuam a ser enfrentadas pelos países mais ricos. O Bird diz que os países emergentes devem se focar em estimular o potencial de crescimento, já que os países mais ricos devem continuar tendo dificuldades para crescer.
 
“Não podemos esperar pela volta do crescimento dos países mais ricos, então temos de continuar apoiando os países em desenvolvimento a investir em infraestrutura, saúde e educação. Isso vai sedimentar o caminho para o crescimento forte que hoje sabemos que eles podem alcançar nos próximos anos”, disse no relatório o presidente do Bird, Jim Yong Kim.
 
Entre os destaques de crescimento, o Bird aponta o México, que “continuou com crescimento robusto” estimado em 4%, apesar das ligações com a economia norte-americana; e o Chile, que deve crescer 5,8% em 2012.
 
O estudo considera que, em 2012, os países em desenvolvimento tiveram os menores crescimentos da última década, em parte por causa da incerteza zona do euro. No entanto, a perspectiva é que tenha havido melhora ao longo do ano, embora isso não tenha chegado na economia real. “O avanço nos países em desenvolvimento acelerou, mas está sendo travado pelo baixo investimento e da atividade industrial nas economias avançadas”, diz o estudo.
 
(G1 Economia)
15 de janeiro de 2013
in coroneLeaks

BRASIL MARAVILHA SEM "MARQUETINGUE"

  Preço da cesta básica sobe acima da inflação em 2012


O valor da cesta básica em São Paulo teve alta de 8,64% em 2012 ante 2011, indica pesquisa da Fundação Procon-SP divulgada nesta terça-feira, 15. A variação ficou acima do índice oficial de preços, o IPCA, que fechou o ano com alta de 5,84%

De acordo com o levantamento, o preço médio do grupo de 31 produtos que compõem a cesta aumentou de R$ 347,26, em 27 de dezembro de 2011, para R$ 377,26, em 28 de dezembro de 2012.

Entre os três grupos de produtos que compõem a cesta, alimentação teve o maior aumento de preços no período, 9,22%. Higiene pessoal subiu 8,78% e limpeza cresceu 3,59%.

Dos 31 produtos que compõem a cesta, 24 apresentaram alta e sete tiveram os preços reduzidos ao longo do ano. As maiores altas foram da batata (62,42%), cebola (59,76%),
arroz (43,73%),
alho (42,18%) e feijão carioquinha (27,66%).

As maiores quedas foram da carne de primeira (-11,05%),
açúcar refinado (-9,84%),
carne de segunda sem osso (-3,83%),
água sanitária cândida (-3,13%) e biscoito maisena (-2,26%).

Dezembro

Na comparação entre dezembro e novembro do ano passado, o preço da cesta aumentou 1,34%. De acordo com o levantamento, o preço médio do grupo de produtos que compõem a cesta era de R$ 372,27 no dia 30 de novembro (data base) e passou para R$ 377,26 em 27 de dezembro.

O grupo que registrou o maior aumento foi limpeza, com variação positiva de 2,57% no período. Higiene pessoal e alimentação tiveram altas de 1,27% e 1,21%, respectivamente. Dos 31 produtos pesquisados, 23 apresentaram alta, sete diminuíram de preço e um permaneceu estável.

Entre os produtos que registraram as maiores altas estão macarrão com ovos (7,69%),
feijão carioquinha (7,42%),
batata (6,25%),
cebola (6,07%) e frango resfriado (4,38%).

As maiores baixas ficaram com carne de segunda sem osso (-3,66%),
alho (-2,83%),
papel higiênico fino branco (-2,16%),
carne de primeira (-1,27%) e óleo de soja (-1,16%).
 
camuflados
15 de janeiro de 2013
 

COCHILANDO COM A INFLAÇÃO

 

A estabilização da moeda é uma das maiores conquistas da história recente do país, que, ao longo dedécadas, conviveu com a chaga da hiperinflação. Infelizmente, nos últimos anos, e na contramão de todo o resto do mundo, o Brasil voltou a flertar perigosamente com o descontrole de preços. A experiência ensina:
com a inflação não se brinca.

Nos últimos dez anos, a inflação brasileira só não superou o centro da meta estipulada pelo Comitê de Política Monetária em três ocasiões: 2006, 2007 e 2009.
Em todos os demais exercícios, inclusive o de 2012, os preços subiram acima do planejado - desde 2005, a meta anual é de 4,5%.

No ano passado, o IPCA, que baliza o regime de metas para inflação no país, atingiu 5,84%. A julgar pelas projeções mais recentes, não deve decair deste patamar: segundo a edição do boletim Focus divulgadaontem pelo Banco Central, o índice deve atingir 5,53% até dezembro.

Não será surpresa, porém, se a realidade contrariar os prognósticos, para pior.

Para 2014, a previsão também é de novo estouro da meta, com os agentes de mercado trabalhando com a perspectiva de inflação de 5,5% no ano. Se isso se confirmar, Dilma Rousseff terá entrado e saído do governo sem conseguir fazer com que a média geral de preços na economia se comporte de acordo com os objetivos da política oficial.
Isso significa que há, portanto, clara desconfiança dos chamados formadores de preços em relação à consistência da política econômica posta em prática por Brasília. Como a autoridade monetária projeta atingir determinado alvo, mas não se importa quando, de maneira recorrente, erra a mão, sua credibilidade vê-se arranhada.
O quadro inflacionário só não piorou mais porque o governo federal vem adotando uma série de malabarismos para domar os índices.
Postergou reajustes necessários, como o da gasolina; mudou metodologias de cálculo; atuou arbitrariamente na formação de preços; manipulou tarifas públicas, como as de energia e transportes públicos, como mostra a Folha de S.Paulo hoje.

Sem estes moderadores, a situação já estaria bem mais preocupante.

Quando Dilma assumiu o poder, a inflação vinha em escalada, alimentada pelos deslavados gastos da gestão Lula para excitar a economia e produzir ambiente favorável à eleição da petista. O primeiro remédio adotado pela presidente foi aumentar os juros, para, em seguida, cortá-los a machadadas - redução, diga-se, elogiável.
Mas os preços mal se alteraram: altos estavam, altos continuaram.

É corrente entre petistas a tese de que uma inflação mais alta é aceitável a fim de estimular a economia. A formulação é uma das mais furadas da teoria econômica e a experiência da atual gestão está aí para comprovar: embora o nível geral de preços tenha se mantido em alta no país, o crescimento econômico mergulhou à pior média em 20 anos, de 1,8% anual.
Com isso, o Brasil de Dilma tornou-se uma jabuticaba mundial: cresce pouco, mas convive com uma inflação alta demais para os padrões globais.
Alguns exemplos: a Rússia tem uma inflação relativamente próxima à nossa, porém cresceu 2,9% até o terceiro trimestre;
a China fechou 2012 com inflação de 2,5% e crescimento de 7,4%;
a Índia terá inflação de 7,24% com expansão de 5,3%;
e os EUA devem fechar o ano próximo a 2%, com crescimento de 3,1%, conforme levantamentodo economista Jason Vieira.

A inflação é uma das manifestações mais salientes da política econômica desequilibrada que a gestão petista põe em prática no país. O mais lamentável é que são justamente os mais pobres os que mais sofrem com a carestia e com o descontrole de preços.
Preservar a estabilidade da moeda - uma conquista lograda pelos presidentes Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso - é um valor do qual a sociedade brasileira não abre mão. O governo Dilma não pode cochilar.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Cochilando com a inflação
15 de janeiro de 2013

E NA REPÚBLICA DE TORPES

 
    A AUTOMUTILAÇÃO(DA$ NULIDADE$) DO CONGRE$$O


A proximidade da renovação das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, na abertura do ano legislativo a se iniciar em fevereiro, põe em foco - mais uma vez - a esqualidez do Congresso Nacional, que deveria ser a principal instituição política da República.
Expõe também os deploráveis usos e costumes dos seus prováveis dirigentes na segunda metade da atual legislatura, decerto compartilhados por sabe-se lá quantos de seus pares. O definhamento do Congresso, diga-se desde logo, não resulta de terem sido as suas funções úsurpadas pelos dois outros Poderes, o Executivo e o Judiciário.
O Legislativo só tem a si próprio a culpar pela sua consolidada desimportância e a degradação incessante de sua imagem. A instituição parlamentar renunciou, por livre e espontânea vontade, à posição que lhe cabia ocupar na vida política brasileira.
Os seus integrantes de há muito deixaram de ser os formuladores da agenda nacional e os interlocutores por excelência da sociedade, nas suas agruras e aspirações. Possuídos pelo varejo dos seus cálculos de conveniência, prontos a trocar a sua pri-mogenitura na família institucional do País pelos pratos de lentilhas saídos da cozinha do Planalto, deputados e senadores formam uma versão mumificada do vibrante corpo legislativo que deu ao País a Carta de 1988 - avalie-se como se queira o produto de seu trabalho.
Nas democracias autênticas, o Parlamento deve fiscalizar os atos do governo, legislar e debater as questões nacionais. No Brasil, o Congresso não faz nada disso. O seu papel fiscalizador ele mesmo desmoralizou com as suas CPIs de fancaria, criadas a partir de interesses partidários, conduzidas com escandaloso facciosismo pela maioria de turno e encerradas sob acordos espúrios para salvar a pele dos suspeitos de lá e de cá.
Quanto às leis, ora as leis. Se os congressistas se permitem terminar um período dito legislativo sem votar nem ao menos o Orçamento da União para o ano vindouro o projeto mais importante que incumbe ao Parlamento a cada exercício , que dirá de tudo o mais? Propostas de autoria própria nascem, em geral, para constar.
As excelências preferem contrabandear para dentro das medidas provisórias (MPs) do Executivo cláusulas que convêm às clientelas patrocinadoras de suas campanhas -e que não guardam a menor relação com o objeto da MP. O governo, por sua vez, aceita a farsa. De todo modo, se vetar partes do projeto de conversão afinal aprovado, a vida segue - mais de 3 mil vetos, muitos já encanecidos, aguardam apreciação parlamentar.
O debate dos grandes assuntos, por fini, foi abandonado.
O sistema de funcionamento das duas Casas do Congresso desencoraja, na prática, os pronunciamentos e réplicas que mereceríam ocupar o horário nobre de uma sessão. Em conseqüência, o plenário se tornou irrelevante para a imjprensa.
Ao mesmo tempo, Câmara e Senado criaram monumentais aparatos multiniídia de comunicação, que servem para os seus membros, reduzidos muitos à çDndição de vereadores federais, mostrarem serviço às bases e pteparairefti a sua reeleição. A regra não escrita é simples os representantes do povo pervertem em privilégios as prerrogativas que se conferiram a pretexto de atender os seus representados.
Não há perigo de melhorar.
O favorito para presidir a Câmara é o atual líder do PMDB, Henrique Alves, na Casa há 42 anos. O Ministério Público o açusà de enriquecimento ilícito. Êmáoo2, a sua ex-mulher informou què ele tinha US$ 15 milhões em contás não declaradas no exterior. Naqüele ano, o seu patrimônio dèdarado èra de R$ 1,2 milhão. Em 2010, somou R$ 5,5 milhões. Segundo a Fôlha de S.Paulo, dinheiro de emendas parlamentares de sua autoria e de um órgão federal por ele controlado betieficiou a empresa de um de seus.âssessores.
já o Senado voltará a ser presidido pelo também peemedebista Renan Calheiros. 2007, acusado de ter despesas pessoais pagas pelo lobista. de uma empreiteira, renunciou ao cargo para escapar (por pouco) à cassação do mandato. Há inquérito sobre o caso no Supremo Tribunal Federal, onde Calheiros é alvo de mais díms investigações. No Congresso, em suma, tudo que pode dar errado dá errado.

O Estado de S. Paulo
15 de janeiro de 2013

E PRO BRASIL REAL... ÓÓÓ 'PROCEIIIS' !!!


O governo terá que contar com a sorte para que a inflação não fure o teto da meta deste ano, de 6,5%. A maioria dos economistas espera um primeiro trimestre de preços sob pressão, principalmente os dos alimentos.
 
E como ninguém acredita que o Banco Central mexerá na taxa básica de juros (Selic) tão cedo — o indicador deverá permanecer em 7,25% em 2013 — para não prejudicar a retomada do crescimento, qualquer evento extraordinário pode provocar uma disparada no custo de vida.
 
Na avaliação da economista Tatiana Pinheiro, do Banco Santander, a inflação deste ano ficará em ao menos 6%. Para ela, não haverá alívio no valor dos alimentos a curto prazo, sobretudo porque tudo dependerá de um fator imponderável, o clima, que afetará, além dos produtos agrícolas, o frágil sistema de eletricidade do país.
 
Para piorar, a maior seca dos últimos 50 anos nos Estados Unidos continua a fazer estragos. Ou seja, há a possibilidade de eventos externos e domésticos elevarem os preços dos alimentos para muito além do desejável. O que Tatiana vê nas projeções dos gráficos do computador, a dona de casa Maria Eunice Oliveira, 32 anos, já está sentido no orçamento doméstico.
 
Com renda familiar mensal de R$ 700 e nove bocas para alimentar, manter o mínimo de bem-estar da família tem sido uma tarefa difícil, tamanha é a carestia nos supermercados.
 
“Tivemos que diminuir a quantidade das compras, porque não temos como pagar tudo. Hoje, com R$ 300, R$ 400, não dá mais para levar nem o necessário. E olha que isso é quase a metade de tudo o que ganhamos”, reclamou. Além do marido, Edilson Santos de Oliveira, 42, que é caseiro, dos três filhos e do irmão, Jail Gonçalves de Brito, 44, que está desempregado, Eunice alimenta cunhadas e sobrinhos, que vêm de longe para trabalhar e estudar.
 
“Está muito difícil dar o que comer para todo mundo. A cada semana que vou ao supermercado, tudo está mais caro”, assinalou. Apenas para comprar um pacote de cinco quilos de arroz, um quilo de feijão, um litro de leite, um quilo de tomate, uma lata de óleo e um quilo da carne mais barata, precisa desembolsar mais de R$ 50. O problema é que esses produtos duram, no máximo, quatro dias, assim mesmo, com muito racionamento.
 
Repasses
 
Responsável pelo mercado Dona de Casa, no Paranoá, Morais Alves disse que a alta de preços está assustando a todos. “Os alimentos já chegam às distribuidoras com preços bem elevados. Os reajustes vêm desde o meio do ano passado. Está impossível para nós não repassar os aumentos para a clientela”, frisou.
 
A faxineira Maria José Rodrigues, 51, notou os reajustes. Ela contou que gasta a maior parte do salário no supermercado, com comida. “Nos últimos meses, só levo para casa o básico”, ressaltou. Além das despesas com alimentação, Maria sente o aumento dos medicamentos.
 
“De uns três meses para cá, deu para ver uma diferença de até R$30 em alguns remédios. Às vezes, abro mão de cuidar da minha saúde para não deixar de comer”, afirmou. A situação não é muito diferente na casa da comerciante Irani Oliveira da Silva, 42. “Estou cortando uma série de produtos da minha lista de supermercado. Tomate, por exemplo, não compro mais, pois está custando até R$ 9 o quilo. Iogurte e suco, só das marcas mais baratas.
 
Tudo ficou muito caro de uns três meses para cá:
óleo, arroz, carne, feijão. Ela lembrou que, há um ano, gastava cerca de R$ 350 com a compra mensal de alimentos. Hoje, desembolsa, no mínimo, R$ 700. Diante desse quadro, está difícil para os consumidores entenderem a tranquilidade do governo quando se refere à inflação.
 
Pelos dados oficiais, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou em 5,84%, com os alimentos subindo quase o dobro. Segundo o Banco Central, apesar de pressionados no primeiro trimestre deste ano, os preços vão ceder ao longo de 2013, fechando em 4,7%.
 
“Sinceramente, não acredito nesses números. Para mim, a inflação real é a que encontro nas gôndolas do supermercado. E ela está muito alta, subindo todos os meses”, disse o marceneiro José Antunes, 34.
 
O economista Eduardo Velho, da Planner Corretora, reconhece o descontentamento dos consumidores. E avisou que, com a carestia dos alimentos e a alta dos preços dos serviços e da educação, a inflação ficará, nos próximos meses, bem acima do centro da meta, de 4,5%, perseguida pelo Banco Central. Nas suas contas, somente na primeira quinzena de janeiro, o reajuste médio dos alimentos foi superior a 2,5%.
Não à toa, Sílvio Campos Neto, economista da Consultoria Tendências, mostra preocupação com os fatores de risco que podem elevar o IPCA nos próximos meses.
Além da retomada do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), para 3,2% no ano, haverá reajustes nas tarifas de ônibus urbanos e nos combustíveis, e o retorno do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros e eletrodomésticos, que estavam zerados. “O sinal é de alerta”, disse.

Sofrimento para idosos
Os produtos de consumo básicos pesaram mais no bolso dos idosos. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3I), as famílias constituídas por pessoas com idade superior a 60 anos enfrentaram alta de 5,84% em 2012, taxa maior do que a inflação dos demais brasileiros (5,74%). Somente no quarto trimestre do ano passado, o indicador medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) computou aumento de 1,59%, puxado pelos gastos com transporte, vestuário, habitação, saúde, educação e recreação.

Segundo o vice-presidente da Confederação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (Cobap), Moacir Meireles, entre os aposentados, o que mais pesa no bolso são os gastos com alimentação e medicamentos. “O segurado da Previdência Social não tem condições de bancar o lazer, vive para comer e comprar remédios, e ainda fica devendo todo mês. Infelizmente, quanto mais idade, mais despesas”, afirmou.
VÂNIA CRISTINO e PRISCILLA OLIVEIRA Correio Braziliense
15 de janeiro de 2013

EX-PREFEITOS SÃO PRESOS ACUSADOS DE CORRUPÇÃO NO ES

Detidos são acusados de fraudar licitações públicas para a contratação de uma empresa privada em troca do pagamento de propina
 
A Polícia Civil do Espírito Santo prendeu na manhã desta terça-feira oito ex-prefeitos de municípios do estado em um desdobramento da Operação Derrama, deflagrada em 27 de dezembro. As prisões foram ordenadas pelo Tribunal de Contas do Espírito Santo (TC-ES). De acordo com o Tribunal de Justiça do estado, foi revelado um esquema de corrupção nas cidades de Guarapari, Linhares, Aracruz, Anchieta, Jaguaré e Marataízes.

Em dezembro, onze pessoas foram presas, entre as quais oito funcionários da prefeitura de Aracruz, onde os desvios dos cofres públicos somam 13 milhões de reais entre 2007 e 2012. Também foram detidos Romário Martins de Oliveira, funcionário do Tribunal de Contas, Claudio Salazar, auditor fiscal da prefeitura de Vitória, além dos sócios da companhia privada CMS Assessoria e Consultoria Ltda, Cláudio Mucio e seu filho Cláudio Mucio Filho.
As investigações apontam a empresa como o centro do esquema criminoso. Os sócios contavam com o apoio de prefeitos, procuradores municipais e secretários municipais, que, em troca do pagamento de propina, fraudavam licitações para a contratação da CMS em obras públicas.
Com a apreensão de documentos importantes na primeira etapa da Operação Derrama, descobriu-se que a extensão dos crimes articulados pela companhia era maior do que se havia investigado. Diante dos novos fatos, o Ministério Público do Espírito Santo decretou a prisão de oito ex-prefeitos na última quarta-feira.
O Núcleo de Repressão às Organizações Criminosas e à Corrupção (Nuroc), da Polícia Civil, executou a ordem nesta manhã. Entre os detidos estão o ex-prefeito do município de Anchieta Moacyr Carone Assad; Guerino Luiz Zanon, ex-prefeito de Linhares; Rogério Feitani, ex-prefeito de Jaguaré; Edson Figueiredo Magalhães, ex-prefeito de Guarapari e Ananias Francisco Vieira, ex-prefeito de Marataízes.
15 de janeiro de 2013
Veja
 

MAUS AUGÚRIOS PARA 2013


A economia brasileira terá mais um ano de crescimento medíocre, segundo as previsões e avaliações do mercado financeiro nacional e da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Se as análises forem confirmadas, em 2013 o Brasil ficará de novo - pelo terceiro ano consecutivo - entre os últimos colocados na corrida global da produção. Em quatro semanas o mercado reduziu de 3,4% para 3,2% a projeção do PIB para 2013, segundo a pesquisa Focus do Banco Central divulgada ontem. O pessimismo afeta igualmente as estimativas para 2014 - em um mês a expectativa de crescimento diminuiu de 3,81% para 3,6%.
 
No mesmo dia a OCDE apresentou sua pesquisa mensal de indicadores antecedentes, uma coleção de sinais usados para identificação de tendência - itens como encomendas à indústria, construções aprovadas, evolução dos preços das matérias-primas e decisões de política monetária, entre outros dados. Também desse ângulo as perspectivas do Brasil são pouco entusiasmantes e até piores que as de alguns países desenvolvidos e, portanto, mais afetados pela crise financeira e fiscal.

Os indicadores antecedentes publicados pela OCDE referem-se ao mês de novembro. No caso do Brasil, o indicador só avançou 0,01% em um mês, apontando apenas uma "estabilização do crescimento". Até na zona do euro a variação foi maior, 0,06%. Nos Estados Unidos (0,11%) e no Reino Unido (0,2%) os sinais detectados foram de expansão mais firme nos próximos meses.

No terceiro trimestre o PIB americano cresceu em ritmo equivalente a 3,1% ao ano, um resultado invejável para a maioria das economias ricas e até para algumas emergentes. Mesmo um avanço um pouco mais modesto ao longo de 2013 será altamente positivo para os Estados Unidos e para a economia global, se for sustentável. Na China e na Índia, os sinais, de acordo com o levantamento, são de uma virada de tendência, depois de uma desaceleração em 2012.

Na pesquisa Focus, o aumento previsto para a produção industrial brasileira, de 3,24%, é pouco superior ao estimado na semana anterior, 3%, mas bem menor que o projetado quatro semanas antes, de 3,7%. O crescimento esperado para 2014 - 3,6% - também é muito modesto.

As autoridades brasileiras continuam tentando transmitir otimismo aos empresários, investidores e consumidores. Segundo o ministro interino do Desenvolvimento, Alessandro Teixeira, a indústria brasileira iniciou 2013 melhor do que 2012. Alguns indicadores antecedentes, como a venda de papelão ondulado e o fluxo de veículos pesados em rodovias com pedágio, diminuíram de novembro para dezembro e ainda recuaram em relação aos números do ano anterior, mas, mesmo diante desses dados, Teixeira sustentou seu otimismo, falando à imprensa depois da inauguração da feira Couromoda, em São Paulo.

Mas a indústria precisa de um combustível muito mais forte que o otimismo oficial para deslanchar, ganhar velocidade e conquistar posições melhores na corrida global. Em dez anos, segundo a Confederação Nacional da Indústria, a produtividade da mão de obra ficou praticamente estagnada. Cresceu apenas 0,6% ao ano entre 2000 e 2010, contra 6,9% em Taiwan, 6% na República Checa, 5,2% nos Estados Unidos, 4% na Finlândia e 1,2% na Espanha, para citar uns poucos exemplos.

O investimento geral da economia brasileira tem oscilado, nos melhores períodos, na faixa de 18% a 19% do PIB e ainda caiu em 2012. No ano passado, os industriais pouco se arriscaram na compra de máquinas e equipamentos, numa demonstração de insegurança diante das perspectivas da economia.

Além disso, acumularam-se os receios de intervenções desastradas do governo. As autoridades permaneceram empenhadas, de acordo com uma das piores tradições brasileiras, em favorecer empresas e setores escolhidos em Brasília para ser vencedores. Para 2013, o governo promete, até agora, mais do mesmo. É preciso mais que isso para desemperrar a economia.

15 de janeiro de 2013
Editorial do Estadao

A EXPLORAÇÃO TOTALITÁRIA DE UMA DOENÇA

Por um mínimo de coerência, o Brasil deveria propor a suspensão da Venezuela do Mercosul visto o absoluto desrespeito à sua própria Constituição

A morte é o fim de um ciclo de vida individual, algo próprio da condição humana e animal em geral. No caso humano, ela é intensamente vivida sob a forma de uma angústia diante da finitude, o que dá ensejo a concepções religiosas prometendo uma outra forma de vida, a da beatitude diante de Deus. Estabelece-se, assim, religiosamente um nexo entre o finito e o infinito, o temporal e o eterno, mesmo sob o império do término das condições de vida propriamente terrenas.

No caso de líderes totalitários, o dirigente mor é investido de um manto de eternidade, no qual terminam se identificando a sua pessoa física, mortal, com a político-jurídica, avessa a qualquer forma de temporalidade e finitude. Na pessoa do líder totalitário, confunde-se a sua vida com a do seu regime político, como se a sua morte equivalesse à morte do regime nele identificado. O medo dos seus herdeiros e discípulos é que com o fim da vida do líder máximo esteja sendo sinalizado, senão concretizado, o fim de sua forma de exercício do Poder.

O segredo é a forma dada a essa forma de doença totalitária. Os “companheiros” temem, antes de mais nada, a transparência, pois ela seria uma forma de tornar público o que está acontecendo. Dirigentes totalitários abominam, sobretudo, a prestação pública de suas ações, pois execram a democracia baseada na liberdade de imprensa e dos meios de comunicação, assim como o exercício de Poderes, como o Legislativo e Judiciário, que sejam autônomos e independentes. A “Suprema” Corte venezuelana é “mínima”, sendo, nada mais, do que uma porta-voz do Supremo Hugo Chávez.

A doença de Hugo Chávez é um exemplo particularmente elucidativo de sua natureza totalitária. Acometido de um câncer, optou pelo segredo de Estado e por tratamento em Cuba, país sem nenhuma capacitação médica para esse tipo de tratamento. Entre a sua vida pessoal e a preservação do regime, escolheu essa última. Diante da morte, o seu medo maior é a prestação pública diante dos cidadãos do seu país, que teriam todo o direito de saber o que está acontecendo com o seu presidente.

Em vez disso, os cidadãos venezuelanos e a opinião pública mundial têm direito aos “comunicados” lidos por lideranças chavistas, que estão comprometidas com a mentira e não com a verdade. Acreditar nas “informações” chavistas equivale a acreditar na existência de vida na Lua.

A melhor analogia cabível no caso seria a de compará-la com a doença e morte de Stálin, também tratada sob a forma do maior sigilo. Ademais, o líder soviético tinha tanto medo de sua morte, digamos política, que os mais próximos, quando de sua última crise, temiam chamar médicos e tocar no seu corpo. O maior segredo consistia na doença do líder totalitário, considerado em sua “imortalidade” e “onisciência”.

Aliás, Stálin deve estar ruborizado com a falta de tato dos seus discípulos bolivarianos. Não conseguem nem mesmo respeitar a Constituição por eles mesmos elaborada em seus mínimos detalhes. Fazem uma coisa, dizem outra, quando na dizem coisas distintas e contraditórias entre si. Deve o finado líder soviético estar pensando que bolchevismo com república de bananas não pode mesmo dar certo!

Até para mentir são eles incompetentes. Para justificar suas ações, suas aparições públicas são equivalentes a uma ópera bufa. Considerar, por exemplo, a posse do presidente para novo mandato, na data aprazada, como uma mera “formalidade” significa dizer que toda a Constituição é, na verdade, uma mera formalidade. Formalidade essa que será seguida ou não conforme os dirigentes totalitários assim o decidirem.

Nesse contexto, a ida do assessor da Presidência da República a Cuba para se inteirar da saúde de Hugo Chávez e para se informar das condições de sua sucessão adicionou um toque de ridículo ao que já é, de per si, hilariante. Voltou afirmando a “constitucionalidade” da violação constitucional em curso na Venezuela.

Inteirar-se da constitucionalidade de uma medida com Fidel e Raul Castro e com o Vice-presidente Nicolas Maduro equivale a diagnosticar uma doença com curandeiros ou mágicos. Os irmãos Castro nem sabem o que significa uma Constituição, têm um desconhecimento e desprezo total pelo Estado Democrático de Direito. Os bolivarianos são seus pequenos aprendizes, embora o dano causado por eles seja enorme. São pequenos em estatura política e moral, porém grandes em seus malfeitos.

Por muito menos, o Paraguai foi suspenso do Mercosul, por esse país não ter supostamente obedecido à “cláusula democrática” em vigor nesse tratado. Tal ação liderada por Hugo Chávez e orquestrada por Nicolás Maduro contou com todo o aval e apoio do governo brasileiro.

Acontece que, no caso paraguaio, a Constituição daquele país foi plenamente respeitada, enquanto no caso Venezuelano ela está sendo claramente pisoteada. Por um mínimo de coerência, o Brasil deveria propor a suspensão da Venezuela do Mercosul visto o absoluto desrespeito à sua própria Constituição. O que ocorre, porém? O governo está dando mais uma vez aval à subversão democrática chavista.

Hugo Chávez está entre a vida e a morte. Se constitucionalmente caberia estabelecer se sua ausência é temporária ou permanente, tal diagnóstico só poderia ser feito por uma junta médica, independente e agindo por razões científicas. Em vez disso, temos os “comunicados” bolivarianos que usam a mentira como instrumento de governo. Uma junta médica independente poderia dar transparência a um processo politico desse tipo. Contudo, o que mais temem os totalitários é a verdade.

Enquanto isso, atabalhoadamente, resolvem os seus conflitos e disputas internas de Poder, estabelecendo as condições de manutenção de um regime que vive da figura de seu líder máximo. Ganham tempo tratando politicamente da doença de Chávez. Dão um golpe à Constituição por eles mesmos elaborada e, tipicamente, seguindo a cartilha totalitária, acusam os outros de estarem tramando um golpe. A exploração totalitária da doença não tem limites!

15 de janeiro de 2013
Denis Lerrer Rosenfield é professor de filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul
O Globo

SENADORES LANÇAM MANIFESTO CONTRA CANDIDATURA DE RENAM À PRESIDÊNCIA

Senadores independentes divulgaram nesta terça-feira, 15, um manifesto em que compara a volta do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), à presidência da Casa, à escolha feita pelos antigos “Coronéis do Interior” na época da Primeira República (1889-1930). “Voltaremos (do recesso parlamentar) apenas para ratificar o nome, nomeado sem apresentar qualquer proposta que mude o nosso funcionamento. Votaremos como os eleitores que iam às urnas na Primeira República, levando a cédula sem conhecer o nome do candidato escrito nela pelos antigos Coronéis de Interior”, afirma.
Veja também:
O documento, intitulado “Uma nova presidência e um novo rumo para o Senado”, é uma plataforma de propostas de modificação no funcionamento administrativo e legislativo da Casa, abalada nos últimos anos por sucessivas crises, como a saída de Renan, em 2007, da presidência, após ser absolvido de dois processos de cassação em plenário, e os atos secretos revelados pelo Estado, em 2009, que quase derrubaram o atual presidente José Sarney (PMDB-AP).
Mesmo com remotas chances de impedir a eleição de Renan, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) – que participou da elaboração do texto – vai entrar na disputa, marcada para o dia 1º de fevereiro. “A crítica está aí, mas se a carapuça servir? Eu acho que ele (Renan Calheiros) tem responsabilidades com o maior partido do Congresso, que deve presidir a Câmara e o Senado, partido do qual ele é líder”, afirmou Randolfe.
“Não é contra o Renan, mas a maneira como o processo está sendo conduzido. Na Câmara, os candidatos estão rodando o Brasil fazendo campanha, enquanto no Senado ninguém fala quem é o candidato”, completou o senador Cristovam Buarque (PDT-DF), um dos idealizadores do documento.
Credibilidade. No manifesto, os senadores dizem que a principal causa da perda de credibilidade da Casa é “consequência de nosso comportamento e nossa ineficiência”. “Nos últimos anos o Senado tem acumulado posicionamentos que desgastaram sua imagem perante o povo brasileiro, especialmente pela falta de transparência, pela edição de atos secretos, pela não punição exemplar de desvios éticos e pela perda da capacidade de agir com independência”, afirmou.
Os parlamentares lembram no documento que os últimos dias de 2012 mostraram “claros exemplos” da inoperância da Casa, como a divulgação da existência de 3.060 vetos presidenciais pendentes de apreciação há quase duas décadas e a não votação do orçamento de 2013 e das novas regras para o rateio de recursos do Fundo de Participação dos Estados (FPE).
Entre as 17 propostas de mudança que constam do manifesto, estão a limpeza da pauta de votações, com a apreciação dos vetos presidenciais e do FPE, o fim das votações simbólicas nas comissões e no plenário, a diminuição do número de comissões temáticas e a criação de um comitê composto por senadores para acompanhar os gastos da Casa.
O senador Cristovam Buarque, responsável pela divulgação do documento, disse tê-lo enviado para o gabinete de mais de 30 parlamentares. O pedetista afirmou que não encaminhou o documento para Renan, porque espera que ele apresente sua própria plataforma de campanha para a Casa. “Vou esperar ele mandar para mim. Senão mandar, eu mandarei a nossa plataforma”, afirmou.
 
15 de janeiro de 2013
Por Ricardo Brito, da Agência Estado

SOBRE UM MONUMENTO


Nasci em um deserto verde, onde o ser humano vivia longe do ser humano. Eu tinha um tio a meio quilômetro de minha casa, outro a meia légua
e depois o Uruguai, em cuja fronteira só havia um castelhano, Don Floro Rocha. Nesta geografia, cada gesto toma um sentido distinto do sentido urbano. Uma visita não é apenas uma visita. Se alguém aperava seu cavalo e ia até algum vizinho próximo – coisa de mais de légua, digamos – e na casa do vizinho havia moça solteira, a visita era quase um compromisso de noivado.

A vida social era feita nos bolichos, as vendas de secos e molhados, onde aos domingos o que mais se vendia era cachaça. Ou nas missas dominicais, na capelinha das Três Vendas, que eram mais um pretexto para o jogo de osso e mais tarde – quem sabe? – um baile. Não havia telefone e radiotransmissores eram privilégio de estancieiros. A comunicação de casa a casa era feita por espelhos.

O gaúcho que conheci – e que não mais existe – era um homem taciturno. Vivia sempre calado, que mais não seja porque não tinha com quem conversar. Trabalhava de sol a sol na lavoura ou com o gado, acompanhado apenas de seus pensamentos. Esta solidão está manifesta no poema de Hernández. Na pampa, Martín Fierro tem poucos interlocutores: o sargento Cruz, el viejo Viscacha, el Moreno e, mais tarde, seus filhos.

O encontro com outro ser humano era sempre uma festa, ocasião para uma charla e para inteirar-se do que ocorria nos pagos. Se um gaúcho cruzava por outro na Linha, sempre o cumprimentava, mesmo que não o conhecesse. O mais provável é que encostassem cavalos e ficassem proseando, sentados no lombilho. Ou apeavam e ficavam de cócoras conversando, durante horas, em uma posição em que poucos suportam dez minutos. As ocasiões de conversar eram raras e não podiam ser desperdiçadas.

Já provoquei não poucas discussões entre a gauchada, ao comentar a paz farroupilha, paz que não foi paz, mas rendição. Os rio-grandenses – como também os paulistas, ao celebrar a Revolução de 32 – comemoram uma derrota. Algo como se os franceses celebrassem Waterloo, como se os portugueses festejassem Alcácer Quibir, ou os espanhóis saudassem a derrota da Invencível Armada para Francis Drake. Com um agravante: os rio-grandenses consideram-se todos brasileiros da gema e cultuam um movimento separatista.

Independentemente de discussões sobre os farrapos, encontrei em Dom Pedrito um monumento dedicado a tal de paz farroupilha que me fez evocar meus dias de campo. O monumento tem elementos que talvez passem despercebidos aos contemporâneos.

Primeiro, a forma com que soldado e farroupiha se cumprimentam. É uma maneira antiga, hoje em desuso. Cada um avança o braço, bate a mão na mão, a mão no cotovelo e a mão no ombro. Se eu cumprimentar assim alguém de minha idade, serei correspondido. Os mais novos já não entendem esse gesto.

No monumento, o farroupilha usa botas de garrão de potro. Confesso não saber se os farrapos as usavam, são calçados dos tempos de Fierro. Tirava-se o garrão do potro inteiro, que era enfiado no pé. Os dedos ficavam de fora, livres para segurar um braço da boleadeira.


De meus dias de guri, lembro de uma adivinhação, gênero muito cultivado entre a gauchada. Propunha-se um enigma, geralmente em forma de verso, e o interlocutor tinha de adivinhar do que se tratava. Uma das quadrinhas falava da filha de um prisioneiro, que levava como presente ao juiz um potrilho:

En los brazos tengo el hijo,
En los pies traigo su madre.
Adevine, señor juez,
O entonces suelte mi padre.

O enigma exigia algum conhecimento dos tempos antigos. A mulher usava botas feitas com o garrão da mãe do potrilho.

Hoje, as botas de garrão de potro são usadas em CTGs, aqueles circos onde homens urbanos se fantasiam de gaúcho para relembrar um passado mítico. Nem tão mítico, pois de fato existiu, mas não da maneira como é narrado. Lembro ter visto algumas, mas apenas cobrindo a canela, com uma espécie de sapatilha em baixo. Que isso de andar de dedinhos de fora não é para gaúchos de asfalto.

Enfim, se a homenagem repousa numa ficção, o escultor sabia o que era o gaúcho.


15 de janeiro de 2013
janer cristaldo

A PIOR E MAIS VERGONHOSA DAS DERROTAS

 

Com a transformação do poder público em um covil de bandidos inaugurou-se no Brasil uma nova era de escravidão em que todos são “obrigados” a trabalhar sem contestação para sustentar vagabundos, corruptos, corruptores e subornadores.

O desgoverno do PT perdeu todo e qualquer respeito pelos princípios legais, morais e éticos e para quem quer que seja, tendo como cúmplices os poderes Legislativo e Judiciário que já são lacaios declarados do poder Executivo com a independência entre os poderes jogadas no lixo.

Quando uma sociedade é submetida a um regime político-social-econômico que coloca a moralidade, a ética, a dignidade, a honra, a honestidade e o patriotismo como valores insignificantes, e em seu lugar passam a predominar forças políticas fundamentadas na corrupção, no suborno, no peculato, na formação de quadrilha, na degeneração de valores familiares e religiosos, e muitas outras ilicitudes, e que têm sua matriz de influência maior dentro do poder público, ficam algumas perguntas a serem respondidas:

- Como isso pode acontecer?

- Como uma sociedade pode aceitar, de forma sistemática, redundante e escancarada, que quem, regiamente sustentados pelos contribuintes, deveriam dar os bons exemplos de posturas legais, políticas e sociais fundamentadas em princípios morais e éticos, sejam justamente aqueles que dão os piores exemplos, servindo de um espelho multifacetado para a degeneração coletiva que são refletidas diariamente nas relações público-privadas?

Quando uma sociedade é subjugada pela força das armas e do derramamento de sangue, o lado derrotado sempre terá o orgulho, a dignidade, e a honra de ter lutado para defender seus ideais e princípios, mesmo que sofra uma derrota temporária, sabendo-se que muitos outros continuarão sua luta.

No entanto, quando uma sociedade é subjugada sem luta ou contestação relevante, aceitando que princípios contrários à honestidade, à moralidade e a ética, estabeleçam um sórdido referencial de posturas em que prevaleça a ilicitude como fundamento, demonstra não mais ter o direito de exigir qualquer coisa diante dos opressores que sempre poderão dar migalhas da preservação de uma vida medíocre para os derrotados, os seus escravos.

A Fraude da Abertura Democrática impôs à sociedade, sem qualquer resistência, a convivência escrava aos mais sórdidos princípios de dominação de um povo: genocídio disfarçado, falência da educação e da cultura, corrupção, suborno, e formação de quadrilha, entre muitos outros instrumentos de controle de revoltas contra aqueles que subjugam o país.

A triste biografia do nosso país já registra que desde a entrega do poder aos civis o povo tem sido vítima de sistemáticos estelionatos eleitorais sem nunca ter reagido ao caminho da destruição futuro de seus filhos e de suas famílias, tudo em nome do poder das oligarquias e burguesias que desfrutam de uma escravidão cada vez maior de quem trabalha mais de cinco meses por ano para sobreviver, e não para viver com conforto e dignidade, o que seria seu direito.

O Brasil está sofrendo a pior das derrotas e das vergonhas perante o mundo, com uma absurda cumplicidade das casernas, deixando-se dominar sem luta e entregue à covardia, à omissão e à cumplicidade compulsória, com seus algozes do Planalto Central, defensores de princípios leninistas e fascistas para manter a dominação da sociedade, desviando bilhões de reais para o enriquecimento ilícito das elites dos corruptos, corruptores e subornados.

15 de janeiro de 2013
Geraldo Almendra é Articulista.

O DESESPERO DE AARON

Ele tinha 14 anos quando chamou a atenção, pelo brilho, das maiores mentes da internet. Agora, está morto
 
Na sexta-feira, dia 11, Aaron Swartz cometeu suicídio em seu apartamento no Brooklyn, Nova York, onde vivia com a namorada. Tinha 26 anos, se enforcou. Fazia exatos dois anos do dia em que fora preso e seu pesadelo começou.

Era, já desde os 14, uma das mentes mais brilhantes e influentes da internet. Por vezes demais, parece, o gênio da rede está apenas em jovens bilionários do Vale do Silício. Engano. Aaron era do tipo que escolheu não ser um deles.
Um erro de juventude, e a mão pesada do governo americano, parecem ter contribuído na decisão.

RSS é daquelas siglas que poucos conhecem mas sem as quais a internet não funciona. É uma forma de fazer assinaturas de conteúdo na rede. Hoje a tecnologia é usada para que informação flua pelas redes sociais. Não é nunca trivial estabelecer um padrão geral, simples, aberto, com o qual inúmeros fabricantes sintam-se à vontade, que todos aceitem. Aaron foi um dos seus criadores aos 14 anos.

Nascido em Chicago, era um rapaz muito magro, imberbe. Seu computador, um Macintosh portátil já muito velho para o tempo, com inúmeros problemas, a tela já quase incapaz de gerar brilho.
Foi rapidamente adotado por gente como Dave Winer, inventor dos blogs, Cory Doctorow, um dos mais influentes pensadores da internet, e pelo advogado Larry Lessig, de Stanford e Harvard, talvez o maior especialista jurídico do mundo digital.

Aaron fez dinheiro com o Reddit. É, hoje, um dos sites mais visitados do mundo. Nele, os usuários colocam no ar links para o que consideram mais interessante. Estes links ganham votos para cima ou para baixo, o material mais bem votado vai à capa.
Curadoria coletiva. Boa parte do sistema que mantém Reddit no ar saiu do computador do jovem programador. (Já era um Macintosh mais avançado.) Quando o Reddit foi comprado pela Condé Nast, a maior editora de revistas dos EUA, Aaron Swartz botou um bom dinheiro no bolso.

Sua causa: ele acreditava em liberdade do fluxo de informação de interesse público. Bom não confundir com o pirata da esquina. Nunca se meteu com música ou filmes. Seu primeiro feito foi entrar no sistema Pacer, baixar 20% do conteúdo e publicá-lo gratuitamente online.

É o banco de dados onde estão todas as decisões judiciais tomadas nos EUA. Tudo em domínio público, embora o Pacer cobre taxa para acesso. O FBI entrou na investigação, tentou cercá-lo de toda forma, mas ninguém foi capaz de descobrir uma lei que tivesse quebrado.

Universidade e banco de artigos não queriam processo

Estudante em Harvard, Aaron foi além. Tinha acesso ao Jstor, o principal banco (pago) de papers acadêmicos. As universidades americanas pagam para que seus alunos possam consultar o trabalho
publicado de cientistas livremente. Porque tinha acesso legal, Aaron baixou milhões de papers, muitos deles em domínio público, nem todos. Aí tornou tudo disponível. Desta vez, o FBI tinha uma razão para investigá-lo. Prendeu-o, foi solto por ordem do juiz, aguardava julgamento em liberdade.

Seus principais amigos consideram que errou. Mas, juridicamente, o caso é complicado. A turma do Jstor decidiu que não queria processar. Universidades, que pagam pela assinatura, são suas principais clientes e não iam deixar de pagar pelo serviço. O MIT, em cuja rede Aaron estava ligado quando fez o download, se absteve. E papers acadêmicos são, por natureza, já trocados livremente por cientistas.
 
Não são como um DVD, um livro, um disco. A discussão sobre direitos autorais é tensa no meio científico. Preocupam-se mais com autoria. Afinal, é justamente para que informação científica circule com rapidez e facilidade que a internet foi criada. Não é à toa que, diferentemente da indústria cultural, a turma do Jstor simplesmente tirou o corpo fora do processo.

Mesmo que os principais prejudicados não quisessem levar o caso à Justiça, o governo americano decidiu processá-lo. Mais, quis fazer dele um exemplo na luta contra pirataria. Queria uma pena de 30 anos. Nenhum pirata real jamais foi condenado a tanto.

Um único excesso de juventude, a falta de proporção do governo dos EUA e, aparentemente, uma depressão clínica custaram ao mundo um grande talento. Faz mal, até, à causa dos direitos autorais.

15 de janeiro de 2013
Pedro Doria