"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

MINISTRA ELIANA CALMON

ATÉ SÍTIO, CARA PÁLIDA?!

O EX presidente, o Enfermo Tio Chico Defuntus Sebentus, vai passar as festas de final de ano no sítio de sua propriedade em Atibaia.
Até aí nada demais, mas o que me incomoda de verdade é lembrar que até 2002 o Sebentão morava em São Bernardo em um imóvel "emprestado" do empresário Roberto Teixeira. Que depois da posse do "apadrinhado" teve uma "certa" participação na estranha e imoral venda da Varig. E se não me engano durante essa época teve suas contas pessoais pagas por Paulo Okamoto que depois acabou sendo "agraciado" com uma boquinha como presidente do Sebrae.
Ou seja, o Sebento até assumir o poder não tinha nem onde morar, já que morava de favor. Após a posse morou no Palácio da Alvorada, e depois que sai do governo vemos que além de apartamentos no Guarujá, em São Bernardo, tem um sítio em Atibaia. E sabe-se-la o que mais.
Sem contar que durante o bota fora da presidência arrastou 11 caminhões de badulaques, quinquilharias e alguns objetos de arte amealhados durante os 8 anos em que esteve a frente do DESgoverno. Fora as trés aposentadorias que recebe, sendo uma delas livre de IR.
O filho se torna mega empresário em uma meteórica carreira que parte de monitor de zoológico para sócio de várias empresas entre elas uma que recebeu 5 milhetas em investimentos públicos para seu fomento.
A premera muda que comeu feijão segurando o prato nas mãos por décadas, se tornou uma "japonesa" de tantas plásticas e botox que usou para melorá o shape, e não esqueçamos o volume em dinheiro que ela torrou nos cartões corporativos, nunca trabalhou um dia sequer pelo país e hoje leva vida de madame. Claro que de pés sujos, mas uma madame.
Ainda consegue cidadania italiana para ela e toda a ninhada em uma visível demostração de ignorância e afrontando a população do país, pois uma primeira dama que em vez de pensar num Brasil melhor, prefere uma cidadania estrangeira para assegurar o futuro da ninhada. è de phoder!!
E segundo dizem por aí, o Sebentinho comprou uma fazenda de quarenta e sete milhetas na alta noroeste paulista, mais precisamente em Valparaíso, uma cidade que fica entre Araçatuba e "NEVERLANDradina."
Quando eu lembro de uma propaganda política lá nos anos 90 que dizia que o "Sebento é um brasileiro igual a você" que eu ficava iradíssimo por conta da comparação, fico ainda mais indignado por ver que esse espertalhão que segurou a bandeira da ética e da moralidade na política por mais de duas décadas, na verdade queria apenas iludir os esquerdofrênicos de boa fé. Pois assim que assumiu o poder seu projeto de vida era se dar bem. E foram 8 anos cavando os cofres públicos em busca do pote de ouro da imoralidade e da bandalheira.
E hoje quando olho, e analiso essa situação, percebo que esse espertalhão fez muito mais para si próprio e sua família em matéria de "enriquecimento pessoal" em 8 anos de poder do que muito empresário que trabalha a 30/40 anos dando empregos e pagando impostos e salários.

Mas isso é Brasil.
A terra da caridade e da oportunidade.
Para poucos, of course.
o mascate

RETROSPECTIVA OU RETROCESSO?

MORALIDADE PÚBLICA NA ESPANHA E NO BRASIL

Jorge Brennand
Deu no jornal:

a) Na Espanha: “Justiça indicia genro do rei Juan Carlos, por desfalque de dinheiro público, falsificação de documentos e prevaricação. Total do desvio: 2,3 milhões de Euros“.

b) No Brasil: “Supremo Tribunal Federal julgou Jader Barbalho limpo e puro e mandou o Senado Federal empossá-lo como senador, aplicando a Doutrina Fux”.

Jader Barbalho surrupiou dos cofres públicos, nos diversos cargos que ocupou, valores superiores a R$ 60 milhões, ou seja, quantia superior a 26 milhões de Euros, o que o Supremo, pela decisão proferida, acha pouco. O Senado Federal deu posse a Jader Barbalho durante o recesso parlamentar.

Senadores declararam que não podiam ficar sem a experiência dele no trato com o dinheiro público. O filho de Jader Barbalho já está treinando para ser seu suplente; puxou ao pai.

Durante a cerimônia de posse, metade dos presentes era de opinião que Jader Barbalho regressa ao lugar certo, que é digno do Senado; a outra metade achava que o Senado é que é digno dele. Essa dúvida será solucionada com o voto de minerva do senador José Sarney.

O TEMPORA, O MORES!

DEPUTADO DO DÓLAR NA CUECA PODERÁ SER O NOVO LÍDER DO PT NA CÂMARA FEDERAL

Guimarães: baixo clero

O PT deve escolher nas próximas semanas o sucessor de Paulo Teixeira (SP) na liderança do partido na Câmara. Até agora, existem dois candidatos: Jilmar Tatto (SP) e José Guimarães (CE).

Para os esquecidos, Guimarães está intimamente ligado ao advento de uma vertente da corrupção que até hoje faz a alegria dos humoristas: o carregamento de dólares na cueca.

Um assessor do deputado foi preso quando lançava a moda, em 2005. Os 100 000 dólares, concluiu o Ministério Público, tinham origem em desvios no Banco do Nordeste.
Se Guimarães tem um histórico desabonador, o concorrente também não é dos mais inocentes: Tatto já respondeu a processo por irregularidades em licitações na prefeitura de São Paulo, onde era secretário de Marta Suplicy.
E foi acusado, dentre outras coisas, de receber 500 000 reais para favorecer um grupo de perueiros ligados ao PCC. Do site da revista Veja

NOTA AO PE DO TEXTO

Entao e isso? Ninguem diz nada? Esse consentimento mudo que fere a dignidade do pais fica assim, sem qualquer reacao?
Nao basta Paulo Cunha na Comissao de Justica? E Tirica na de Educacao?
Entao e assim? E uma vergonha...
Somos refens de corruptos, que se locupletam e se apropriam do poder, para ditar regras a uma sociedade bestificada, sem reacao.
Vivemos um tempo de trevas, de escuridao etica, de silencio cumplice.
Temos Jose Sarnento eternizado na presidencia do senado, e agora, se todo o esquema der certo, o 'o homem do dolar na cueca' como lider da camara.
Quem sabe nao teremos o Barbalho na casa civil? O inacreditavel ja aconteceu, por graca e obra do Supremo Tribunal Federal, e dai para a frente uma caixinha de surpresas.
Entre Guimaraes e Tatto, que diferenca fara para o povo brasileiro. E mais ou menos como aquela interrogacao: tudo bem, somos a 'sexta' economia - nao vamos entrar no merito dessa anedota economica - e dai? Alguma coisa mudou em sua vida? Por acaso voce dormiu brasileiro e acordou japones?
O tempora, o mores!
m.americo

SANATÓRIO DA NOTÍCIA

AUSTERIDADE

O governo gastou mais de R$ 11 mil em cartões de Natal com a foto da primeira-mulher-presidenta Dilma. E você aí, não teve dinheiro para reformar o banheiro e nem para pintar a sua casa, sua vida. Austeridade é isso.

RADIO

Quando a equipe médica do Sistema Único de Saúde que trata da garganta de Luiz Erário Lula da Silva nos corredores do hospital Sírio-Libanês avisou-o de que no dia 4 começaria o seu período de radioterapia, o Cara ficou eufórico. Pensou que voltaria a apresentar o programa radiofônico "Café com o Presidente" com o qual engambelou os ouvintes durante oito anos.

Reprodução
O moleque Daniel, filho de Jader Barbalho roubou a cena de posse do pai. É uma questão de hereditariedade. O talento para roubar a cena revela que está pronto para ser político. Se a criatura entrasse hoje no lugar do seu criador ninguém notaria a diferença.

REGIME NDN

A propósito, a posse do ficha-suja Jader Barbalho no Senado Federal, provocou pronta reação do Movimento Nacional contra a Corrupção Eleitoral. O sentimento não é só do Movimento, é de todos que ainda tenham vergonha na cara. A reação deve ser, mais do que contra Barbalho, contra o Supremo que, muito mais do que um tribunal, se julga uma entidade divina, acima do bem do mal. Trata-se apenas de mais um organismo do regime DND - Núcleos de Dominação Nacional, implantado por Lula com sua perniciosa "estratégia de coalizão pela governabilidade"

TANTO FAZ

Ao lançar a teoria da conspiração do câncer contra "líderes" da América Latina, o debilóide Hugo Chávez deu um nó na cabeça dos médicos venezuelanos. Eles já desconfiam que o tumor de Chávez não é na próstata é na cabeça. O que, no caso do poltrão bolivariano, vem a dar no mesmo. Para ele tanto faz dar na cabeça, como nos fundilhos dar.

GOZO DE FÉRIAS

Em despachos publicados no Diário Oficial da União, a primeira-presidenta Dilma Rousseff - em pleno gozo de férias na Base Naval de Aratu até o dia 10 de janeiro, e passará o Ano-Novo na Base Naval de Aratu - autorizou períodos de descanso para quatro de seus ministros que estavam sem mais o que fazer neste Réveillon.

Ideli Salvatti e Miriam Belchior saem de férias - cada uma pro seu lado - neste sábado e retornam só no dia 16 de janeiro; já Fernando Bezerra e José Elito Siqueira - que devem termais o que fazer - deixam a Esplanada na segunda-feira e retornam dia 10, mesmo dia em que a patroa volta ao trabalho.

O que será do Brasil sem a proficuidade e o exausitvo trabalho desses ínclitos e divertidos ministros da República?!? Só o tempo dirá. E olha que logo vem por aí mais um carnaval.

sanatorio da noticia

PI do B

Projeto do senador Cristovam Buarque - aquele que era ministro da Educação e foi demitido por Luiz Erário da Silva por telefone nos primórdios do primeiro governo lulático - quer acabar com os partidos de aluguel.

Vai dar com os burros n'água. A bagaceirada da politicália não vai deixar. O que Buarque propõe é que os filiados aos partidos recém-inventados só possam ser candidatos cinco anos depois da data de fundação. É um esticão. Mas a reforma política passa sim, pelo fim desse excesso de balcões de negócios.

O Brasil é uma farra partidária. Um banda bandalha. Há quatro ou cinco partidos de verdade e o resto é o resto. Peguem aí o PSDB, o PMDB, o PT e até o PDT e o DEM... Separem. Os outros, mais de vinte ou trinta, são todos farinha do mesmo saco.

Uma pandilha ambiciosa se fixa numa ideia e coloca-lhe um P na frente. Pronto, eis aí o PIdoB - Partido da Ideia do Brasil. E logo sai angariando seguidores e vendendo alianças e coalizões. Ponham todos no mesmo pacote. São todos eles a mais perfeita e legítima imitação.

Nem poderia ser diferente. Quantas ideologias políticas há pela face da terra: direita, esquerda, centro-direita, centro-esquerda, extrema-isso, extrema-aquilo, extrema-unção?!? Mais do que isso não há. Tudo o mais é derivação barata. Que nos custa os olhos da cara.

Os partidos sem ideologia, sem voto, sem eleitores que proliferam nesse carnaval de políticos de ocasião formam o tradicional bloco dos sujos que pulam e dançam na rabeira das grandes escolas que desfilam imponentes nessa grande avenida de ilusões, nesse interminável e momesco balcão de compra e venda que é o Brasil da Silva.

RODAPÉ - Você está vendo que não se falou em democracia, socialismo, nazismo, fascismo, anarquismo, essas coisas... Então, o que você está esperando? Funde logo o seu partido e leve a vida numa boa. Como eles.
Portal iG

A ARTE DO EUFEMISMO

Eufemismos que tornam até assassinatos respeitáveis

Polidez artificial e mensagens ambíguas: um guia para eufemismos
30/12/2011

Palavras curtas e fortes podem esclarecer pontos importantes. Mas as pessoas muitas vezes preferem suavizar suas falas com eufemismos: uma combinação de abstração, metáfora, gírias e atenuação que oferece proteção contra o ofensivo, áspero ou repentino. Em 1945, em um dos grandes eufemismos da história, o Imperador Hirohito do Japão informou seus súditos que seu país estava se rendendo incondicionalmente (depois de duas bombas atômicas, a perda de três milhões de vidas e a ameaça iminente de invasão) com as palavras, “A situação de guerra se desenvolveu de forma não necessariamente vantajosa para o Japão.”

Eufemismos estão em toda a parte, da diplomacia (“o ministro está indisposto” significa que ele não vai vir) ao quarto (uma grande horizontale na França é uma cortesã admirável). Mas é possível tentar formular uma taxonomia eufemística. Uma forma de categorizá-los seria pela ética. Em Política e a Língua Inglesa, George Orwell escreveu que a linguagem política capciosa é feita para “fazer com que mentiras soem verdadeiras e o assassinato seja respeitável”. Alguns eufemismos de fato distorcem e enganam; mas alguns são motivados pela gentileza.

Outra maneira de tipificá-los seria por tema. Uma terceira – e uma forma útil para se começar – é por nacionalidade. Um eufemismo é uma forma de mentira, e as mentiras que pessoas em países diferentes contam a si mesmas são reveladoras.

Eufemismos norte-americanos pertencem a uma classe própria, principalmente porque eles parecem envolver palavras que poucos considerariam ofensivas para começar, substituídas por frases inutilmente ambíguas: tecido de banheiro (bathroom tissue) para papel higiênico, aplicativos dentários (dental appliances) para dentaduras, carro de propriedade prévia (previously owned) ao invés de usado, centros de bem-estar (wellness centers) para hospitais, onde se realizam procedimentos (procedures) e não operações.

Sensibilidade chinesa

Alguns eufemismos chineses também decorrem do excesso de escrúpulos e discrição. Ao invés de perguntar sobre a vida sexual de um paciente, os médicos costumam indagar se ele tem conseguido fazer fang shi (negócios de quarto). Sites online de produtos sexuais vendem qinqgu yongpin, literalmente “interessantes produtos de amor”.

Os britânicos são provavelmente os campeões mundiais do eufemismo. Os melhores são amplamente compreendidos (pelo menos entre nativos), criando uma agradável sensação de cumplicidade entre o “eufemista” e sua audiência. Obituários de jornais britânicos são uma fonte rica: ninguém gosta de falar mal dos mortos, mas muitos apreciam uma pista quanto a verdade sobre a pessoa que “faleceu”. Um bêbado é descrito como “festivo” ou “animado”. Tagarelas insuportáveis são“sociáveis” ou o pavoroso “exuberantes”; “sagacidade vivaz” significa uma tendência a contar histórias cruéis ou sem graça. “Austero” e “reservado” significa triste e deprimido.

Sala de reuniões, quarto de dormir

Uma taxonomia temática do eufemismo deve ter uma categoria reservada para o comércio. Uma residência “bijou” é minúscula (também pode ser “charmosa”, “aconchegante” ou “compacta”). Uma vizinhança “vibrante” é ensurdecedoramente barulhenta; se é descrita como “emergente” tem taxas de criminalidade assustadoras, enquanto a “um passo de” geralmente significa que você precisaria de uma catapulta para chegar ao centro da cidade.

Sexo supera até excreção como fonte de eufemismos. A Bíblia está cheio deles: “pé” no lugar de pênis, “conhecer” no lugar de relações sexuais. Uma prostituta abordando um cliente nas ruas do Cairo vai perguntar Fi hadd bitaghsal hudoumak? (Literalmente, “Você tem alguém para lavar suas roupas?”)

Eufemismos politicamente corretos estão entre os mais nocivos. Bom e mau se transformaram em “apropriado” e “inapropriado”. Um problema terrível vira uma menos alarmante “questão desafiadora”. Gastar é investir; cortes são economias.“Afetado por erro matemático” (na terminologia da União Europeia) significa dinheiro roubado do orçamento.

Mas eufemismos também podem ser benignos, até mesmo necessários. Às vezes a necessidade de não ferir sentimentos tem precedência justa sobre a clareza. Dizer que crianças muito retraídas ou muito agitadas tem “necessidades especiais”, ou que elas exibem “comportamento desafiador”, não as torna mais fáceis de se ensinar – mas pode fazer com que elas não sejam alvo de provocações ou se sintam desencorajadas. “Frágil” (sobre uma pessoa idosa) é mais gentil do que fraco ousenil. Eufemismos podem ser uma forma de mentira, mas alguns deles são mentiras brancas.Uma cultura sem eufemismos seria mais honestas, porém mais dura. Aqui vai uma resolução de Ano Novo: tire os eufemismos das suas conversas por um dia. Os resultados vão te surpreender.

HISTÓRIAS D`ANTANHO

Policiando a Polícia

José Américo, governador da Paraíba (50 a 54) pelo PSD-PL, nomeou o tenente Luís de Barros delegado de polícia em Espírito Santo, onde mandava a família Ribeiro Coutinho, da UDN, seus adversários. O comando da Polícia Militar se reuniu e considerou o ato uma ofensa aos brios da corporação, porque o tenente era mal visto por eles. Escolheram uma comissão (o comandante e três coronéis) para irem ao governador manifestar o desgosto e a inconformidade da polícia.

José Américo os recebeu sentado, eles todos de pé em sua frente. Falou o comandante, coronel Ivo Borges:

- Governador, o ato de V. Excia. repercutiu muito mal no alto comando, porque o tenente Luís de Barros é execrado na Polícia Militar da Paraíba.
A nomeação não foi bem recebida, não pode ser executada.

***
JOSÉ AMÉRICO

José Américo levantou-se e ajeitou o cinto da calça com a mão direita, um hábito que ele tinha:

- Coronel Ivo Borges, mande formar sua polícia em frente ao palácio, em farda de gala.

- Pois não, governador. Para quê?

- É que eu quero, com um decreto, dissolver essa polícia de merda.

A comissão saiu e o tenente ficou delegado.

***
PETRONIO

Outra história. No dia 7 de abril de 77, o presidente Geisel fechou o Congresso por 14 dias e baixou o “Pacote de Abril”, que impôs a Reforma do Judiciário, criou os senadores biônicos e submeteu todas as campanhas eleitorais à Lei Falcão: os candidatos não podiam falar na TV, só a cara. Desci em Brasília, telefonei para Petrônio Portela, presidente do Senado pela Arena. Ele marcou um café da manhã bem cedo, na casa dele, no dia seguinte. Cheguei já com o gravador ligado, conversamos quatro horas. No dia seguinte, esta TRIBUNA DA IMPRENSA e o “Correio Braziliense” publicavam na íntegra a entrevista exclusiva, de duas páginas inteiras:

“Petrônio: Não aceito a Presidência da República porque não teria condições para o exercício do cargo”. Foi a última grande entrevista que ele deu. (Está em meu livro “Pais e padrastos da pátria”: “Petrônio, o profissional”.)

***
COMO NO PIAUÍ

Começou lá de trás, desde os tempos de estudante no Rio (de 47 a 51), ligado à esquerda e líder na Faculdade Nacional de Direito e na UNE. Deputado em 50 e 54, prefeito de Teresina em 58, governador em 62:

“Eleito governador pela UDN, encontrei o funcionalismo com três meses de atraso. Minha preocupação era deixar uma obra administrativa em um estado cujos governantes eram obrigados a mergulhar numa rotina de nomear e demitir professores e delegados. Fiz um plano de austeridade administrativa muito grande, com o objetivo de no primeiro ano sanear as finanças”.

“Isto me valeu uma impopularidade terrível. Logo no começo do ano a Polícia Militar, através de seus comandos, foi à minha presença pedir aumento, o que foi terminantemente negado por mim, com o fundamento de que não era possível aumentar os vencimentos deles, quando não havia recursos para aumentar o de todo o funcionalismo”.

***
CHAMOU O EXÉRCITO

“Misturado com a política partidária, criou-se uma situação de sublevação no estado e ameaçadora à minha própria segurança pessoal. As ameaças se multiplicavam, o quartel da PM se transformou em um parque de comícios da oposição. A associação comercial mandou uma comissão ao meu gabinete oferecendo apoio para aumentar os impostos e dar o aumento da PM. A minha resposta foi não. Absolutamente não. O problema era de resguardar a autoridade. E a polícia não teria privilégios”.

“A coisa tomou um aspecto belicoso tal, que fui obrigado a solicitar força federal ao ministro da Guerra e ao ministro da Justiça, para garantir o governo ameaçado. Vinte e quatro horas depois, chegava a autorização para a tropa federal, que cercou o quartel da Polícia Militar. Isto foi em agosto de 63, o presidente era João Goulart, ministro da Guerra o general Jair Dantas Ribeiro. O da Justiça era Abelardo Jurema”.

A crise acabou. A Polícia também precisa ser policiada.
Sebastião Nery

LIMINARES E HABEAS CORPUS NÃO DEVEM SE ETERNIZAR NO SUPREMO

O ministro Carlos Ayres de Brito, presidente em exercício do Supremo Tribunal Federal, de acordo com reportagem de Isabel Fraga, O Globo de quarta-feira 28, afirmou não ter pressa em decidir a respeito de liminar do ministro Ricardo Levandowsky que suspendeu as investigações do Conselho Nacional de Justiça sobre patrimônio de magistrados em descompasso com os vencimentos que recebem.

As investigações iniciadas pelo ex-corregedor, Gilson Dipp, ministro do STJ, e aprofundadas pela ministra Eliana Calmon, como era de prever, provocaram uma tempestade no Judiciário. Quando o STF retornar do recesso, assegura Ayres de Brito, o tema da controvérsia entrará em pauta. O Tribunal completo, em sessão plenária, decidirá o destino da liminar. Aires de Brito poderia cassá-la, porém não desejou agir assim. Não ficaria eticamente bem, tampouco a liminar é de extrema urgência. Mas ele assegurou que ela será votada.

Brito afirmou a Isabel Braga que não deseja antecipar seu pensamento. Sinalizou, entretanto, caber ao CNJ zelar pelo cumprimento do artigo 37 da Constituição Federal, que trata dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência da administração pública. Estou transcrevendo o que diz exatamente esse artigo.

A discussão em torno da liminar dividiu a magistratura em correntes e colocou tais correntes em choque. Diversos choques, aliás, como acontece em matérias interpretativas. Umas sustentam a improcedência da liminar, outros pensam o contrário, um terceiro enfoque não entra no mérito da medida, mas acredita que um ministro da Corte Suprema não pode editar liminar contra um Conselho presidido pelo próprio presidente do STF. O tema possui assim vários prismas. É complexo.

No entanto, o debate desloca-se do caso específico e se projeta no universo geral das decisões judiciais. Algumas liminares, inclusive, se eternizam. Habeas Corpus também. O que constitui um absurdo e, em inúmeros casos, subverte o conceito de justiça, contribuindo de fato para transformar o episódico em permanente. Por exemplo: o médico Roger Abdulmasi obteve habeas corpus e fugiu do país. Alguns anos atrás, o mesmo ocorreu com Salvatore Cacciola, que terminou preso no Principado de Mônaco, ao esquecer que a saída de território italiano o levaria a cumprir a pena a que fora condenado no Brasil.

O ex-presidente do Banco Central no primeiro governo FHC, Francisco Lopes, foi condenado a oito anos de prisão. Alcançou um habeas corpus que está assegurando sua liberdade no tempo. Afinal de contas, o habeas corpus é decisão de emergência contra o arbítrio do poder. Não surgiu no mundo, século 16, na Inglaterra, para absolver pessoa alguma. O jornalista Pimenta Neves, assassino da repórter Sandra Gomide, condenado pelo Tribunal do Juri, permaneceu anos livre em decorrência de um habeas corpus.

Em minha opinião, liminares e habeas corpus devem se destinar a prazos relativamente curtos. Os nomes estão autodefinindo a providência. A palavra liminar traduz-se por si mesma. O habeas corpus é um remédio de extrema urgência. Como agora, no caso Ricardo Levandovsky estamos diante de liminar, mas neste caso com julgamento pelo plenário do Supremo assegurado por Ayres de Brito, cabe supor que chegou o momento de a Corte Suprema editar uma súmula que resgate o peso das palavras e das idéias.

Liminar não pode ser algo permanente. Caso contrário, um despacho solitário transforma-se em decisão efetiva dos tribunais plenos. Uma simples questão de lógica. Implantada tal súmula, centenas de julgamentos saem das gavetas e prateleiras e serão remetidas ao palco efetivo de Justiça. Isso é essencial.
Pedro do Coutto

CUIDADO COM A ANTI-REFORMA

Detectam-se os primeiros sinais. Tendo o Brasil assumido o patamar de sexta economia do mundo, e com o ministro Guido Mantega prevendo que em 2015 passaremos a França para ocupar o quinto lugar, voltam as elites retrógradas a falar em “reformas”. Jamais aquelas pelas quais João Goulart sacrificou seu mandato, as “de base”, mas as destinadas a fazer os ricos mais ricos e os pobres, mais pobres. Prevê-se para o próximo ano campanha coordenada pela mídia amiga e as associações patronais de classe. Aliás, já começaram, neste restinho de ano.
Vão exigir do governo as reformas tributária, trabalhista, previdenciária e outras. Todas destinadas a aumentar-lhes os privilégios e as benesses, penalizando a classe média e as massas, da mesma forma como aconteceu no governo Fernando Henrique Cardoso.

Vale começar pela tributária. Nossa carga é a maior do mundo, beira os 40% de todos os ganhos, com a peculiaridade de que as empresas podem repassá-la ao preço dos produtos e serviços, mas o cidadão comum, assalariado, não. Ele paga mesmo.
O lógico na reforma tributária seria diminuir seu percentual, especialmente o que incide nos salários e vencimentos. Não é o que pretendem certas elites, muito pelo contrário. Já fazem renascer a canhestra sugestão de que se houver mais gente que paga impostos, todos pagarão menos.

Todos quem, cara pálida? O trabalhador de salário mínimo ou pouco mais, que só enfrenta impostos indiretos, e a classe média, pressionada pelos dois lados. Trata-se de esperteza.
Mais uma, porque o sociólogo eximiu o capital especulativo estrangeiro de pagar imposto de renda, liberou as remessas de lucros, privatizou patrimônio público e revogou direitos sociais. O que se pretende agora é a continuação do massacre.

Sem falar na mágica de despejar a desoneração das folhas de pagamento sobre os ombros do trabalhador, primeiro estágio da reforma trabalhista. Essa é tão perigosa quanto a anterior, na medida em que pretendem revogar as indenizações por dispensa sem justa causa e fatiar o décimo-terceiro salário e as férias remuneradas em doze parcelas anuais. Com o correr dos anos e a compressão salarial em andamento, logo desapareceriam esses dois benefícios, incorporados. Não demora muito e irão propor o fim do vale-transporte e do vale-refeição.

Tão perniciosa quanto as outras é a reforma previdenciária. O governo Lula e agora o governo Dilma seguem na esteira anterior do neoliberalismo, aumentando o salário mínimo pouco acima da inflação, mas sacrificando os aposentados com direito a quantias superiores. A meta é nivelar todo mundo por baixo, ou seja, em pouco tempo a totalidade dos aposentados receberá apenas o salário mínimo.
Menos, é claro, os privilegiados das chamadas carreiras de estado. Desejam, também, aumentar o tempo de trabalho de quem pretende aposentar-se.

A conversa é a mesma, falaciosa: “A Previdência Social dá prejuízo!” Mentira. Aqui e ali, ex-ministros do setor, como Antônio Brito e Waldir Pires, provaram que dá lucro, mas por conta de repasses e de químicas, generalizou-se ser deficitária. Bela desculpa para incentivar a Previdência Privada e aumentar ainda mais o lucro dos bancos.

Em suma, é bom tomar cuidado com a euforia despertada pelo suposto crescimento de nossa economia. Os mesmos de sempre pretendem tirar vantagem, sem atentar para o fato de que a distribuição de renda no Brasil é das piores do planeta. Basta atentar que o salário mínimo subirá no primeiro dia do ano. Passa de 545 para 622 reais. Uma porcaria. Seria tentador imaginar como um desses defensores das “reformas” sobreviveria assim. De vez em quando surgem estatísticas lembrando que se o salário mínimo tivesse mantido a proporção de quando foi criado, estaria hoje em 2.500 reais.

Getulio Vargas, quando voltou ao poder, em 1951, tentou recuperar o valor de sua criação, permitindo que o ministro do Trabalho, João Goulart, propusesse a imediata duplicação. Caíram os dois. Explica-se, também, porque os governos dos trabalhadores saltam de banda e ainda se auto-elogiam com o reajuste anual da remuneração da imensa massa de trabalho nacional. Sem um reparo que seja por parte do PT, do PTB, do PDT e outros partidos ditos trabalhistas.

Para concluir, um alerta. As elites ainda não tiveram tempo para examinar e sugerir outra reforma, a política, discutida de mentirinha no Congresso. Tomara que não se lembrem, pois logo estarão pregando o fim do voto universal e obrigatório, trocado pelo voto facultativo e, quem sabe, como no Império, pelo direito de votar apenas para quem dispuser de determinada renda. Claro que muito superior ao salário mínimo…
Carlos Chagas

OS TRÊS MOSQUETEIROS DO CORPORATIVISMO JUDICIÁRIO: MARCO AURÉLIO, CEZAR PELUSO E RICARDO LEWANDOWSKI.

Não representou qualquer novidade o fato de o presidente do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso, antes do recesso do Judiciário, ter resolvido manter a decisão do ministro Marco Aurélio Mello que proíbe o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) de iniciar processos disciplinares contra magistrados. Há vários meses Peluso se comporta como um verdadeiro algoz da corregedora do CNJ, ministra Eliana Calmon, e tudo faz para limitar os poderes do órgão de controle externo do Judiciário.

Da mesma forma tem se comportado outro ministro, Ricardo Lewandowski, que seguiu na balada de Marco Aurélio e também suspendeu a apuração sobre a folha de pagamento de servidores do Judiciário em 22 tribunais, nos quais o CNJ averiguava movimentações financeiras atípicas.

Acontece que o próprio Lewandowski, que era desembargador no Tribunal de Justiça de São Paulo, assim como Peluso, receberam pagamentos a título de auxílio-moradia. Mesmo assim, por estarem envolvidos (embora ainda nem estejam sendo investigados pelo Conselho), deviam se declarar suspeitos e se afastarem da questão. Mas não. Muito pelo contrário, os dois fazem questão de investir contra o CNJ e contra a corregedora, ministra Eliana Calmon.

No início da semana passada, como se sabe, o ministro Marco Aurélio Mello já havia concedido uma liminar retirando poderes do Conselho Nacional de Justiça e beneficiando os juízes que estão sendo investigados.

A própria Advocacia Geral da União (AGU) contestou a decisão e pediu outra liminar, para suspender a decisão de Marco Aurélio Mello e possibilitar a continuação das investigações. Mas Peluso negou e, com isso, somente em fevereiro o Supremo irá avaliar, em plenário, se o CNJ tem ou não poderes para iniciar investigações contra magistrados.

A AGU argumentava que Marco Aurélio Mello violou o regimento do STF ao conceder liminar durante o recesso do tribunal, uma vez que a decisão do ministro foi anunciada mais de duas horas depois do encerramento do ano judicial. Durante o recesso, em casos urgentes, só quem pode decidir é o presidente do STF – no caso, o próprio Peluso – e Marco Aurélio Mello não teria demonstrado a urgência do tema.

“O dispositivo destaca que é atribuição do presidente do STF decidir questões urgentes nos períodos de recesso ou de férias”, alegou a AGU. Peluso, porém, não entendeu dessa maneira e optou por pedir informações ao próprio Marco Aurélio e à Procuradoria Geral da República (PGR) antes de analisar a questão em definitivo. Traduzindo: empurrou o caso com a barriga.

Mas o tempo conspira contra Peluso, Lewandowski e Mello, porque está ganhando cada vez mais força o movimento a favor do CNJ e da corregedora Eliana Calmon, que se consolida como uma verdadeira Dama de Ferro, em meio à estrutura apodrecida do Poder Judiciário.

Juristas, juízes, desembargadores e ministros de tribunais superiores agora se apressam em apoiar a corregedora Eliana Calmon, cientes de que se estabeleceu uma nítida linha divisória entre quem está a favor da corrupção e quem está contra. Melhor assim.

Carlos Newton

ADVOGADO TINHA 18 MIL AÇÕES FALSIFICADAS

Realmente, estamos vivendo em um país onde ninguém sabe a quem recorrer em certos momentos, visto que certas autoridades federais, estaduais e municipais em todas as áreas aparecem, cotidianamente, nos noticiários devido serem suspeitas ou estarem mesmo envolvidas com práticas criminosas de todos os tipos. E isto, muitas vezes, serve de exemplo e até mesmo de incentivo para outras categorias de profissionais e, neste sentido, aparecem alguns advogados desonestos atuando em diversos tribunais do Brasil.

No Rio de Janeiro, por exemplo, o presidente do Tribunal de Justiça do Estado, desembargador Manoel Alberto Rebêlo dos Santos, adverte que, as quadrilhas de advogados fraudadores que atuavam no Judiciário fluminense têm organização “muito maior” do que se pensou inicialmente. “Somente um advogado tinha cerca de 18 mil ações em andamento, todas falsificadas. Outro casal de advogados tem 7 mil processos em seus nomes. Acreditamos que esses grupos atuam há pelo menos dois anos no Rio”.

O desembargador também informou os nomes dos dez investigados que tiveram a prisão preventiva decretada: o ex-advogado Jorge Baptista Rangel Filho (expulso da Ordem dos Advogados do Brasil) e os advogados Anderson da Costa Gadelha, Ângela Maria Rios Gomes Soares Brandão, José Orisvaldo Brito da Silva, Ilza de Souza, Fabio Santos Vidal, Fabiano Silva Rodrigues, Pedro Borba Taboas e Fernanda Kengen Taboas, além do estagiário Leonardo Ferraz Cuerci.

Desse total, apenas seis foram presos, sendo que um (José Orisvaldo Brito da Silva) conseguiu um habeas-corpus. Continuam foragidos Pedro e Fernanda Taboas, Jorge Filho e Fabiano Rodrigues.

“Após a criação da comissão e a identificação dos acusados, houve redução de 30% no número de ações distribuídas no primeiro grau”, ressalta o desembargador Carlos Eduardo Passos. Segundo o relatório elaborado pelo grupo de magistrados, as fraudes ocorriam em processos de indenização por dano moral decorrentes de inscrição em cadastros restritivos de crédito. “As investigações também revelam que, muitas vezes, as partes não sabiam que existiam processos em seus nomes”, disse o desembargador Sérgio Lúcio de Oliveira e Cruz.

“Os juízes perceberam um grande número de ações idênticas contra as mesmas empresas e desconfiaram que houvesse algo errado. A partir daí, começaram as investigações e as fraudes foram descobertas”, destaca a juíza Ana Lucia Vieira do Carmo.

O presidente do Tribunal informa que o relatório irá para o Ministério Público Estadual para o oferecimento das denúncias, mas a comissão de juízes continuará com as investigações. “Como os advogados pertenciam a grandes escritórios com atuação em mais de um Estado, também vou encaminhar o relatório da comissão para todos os tribunais de Justiça do País”.

Paulo Peres

IMAGEM É TUDO...

COMPUTADOR AINDA NÃO ENTROU NA SALA DE AULA BRASILEIRA

Levantamento nacional mostra que só 4% das escolas públicas nacionais contam com uma máquina em sala de aula

Para a escola pública brasileira, a tecnologia ainda é um desafio. Essa é a conclusão de pesquisa divulgada nesta terça-feira pelo Comitê Gestor da Internet (CGI.br) que aponta que 100% das unidades possuem ao menos um computador e 92% delas têm acesso à internet. No entanto, apenas 4% possuem computadores instalados em sala de aula (88% instalaram a máquina na sala da coordenação) e 81% das unidades contam com laboratório de informática.

As escolas apresentam em média 23 computadores instalados, sendo 18 em funcionamento, a cada 800 alunos matriculados. Cerca de 50% das instituições afirmam ter uma pessoa contratada para trabalhar especificamente com a internet. Uma pesquisa divulgada há pouco pela OCDE, organização que reúne os países mais desenvolvidos do mundo, aponta que o Brasil possui a terceira pior taxa de computador por aluno.

A pesquisa revela que 18% dos professores usam internet na sala de aula. Em geral, são jovens e habituados a se relacionar com esse tecnologia fora do ambiente escolar. Escolas públicas localizadas na região Sul apresentam o maior índice de utilização das tecnologias pelo professor em atividades com alunos. Um exemplo é a atividade de “pesquisa de informações utilizando o computador e a internet”, praticada por 56% dos professores do Sul, enquanto o percentual do Brasil é de 44%.

A principal limitação para maior uso das tecnologias na escola está relacionada ao nível de conhecimento dos professores acerca dessas tecnologias. A maioria deles (64%) concorda que os alunos sabem mais sobre computador e internet do que os docentes. Para 75%, a principal fonte de apoio para o desenvolvimento de suas habilidades tecnológicas são os contatos informais com outros educadores. Na perspectiva do docente, ele depende principalmente de sua motivação pessoal e da ajuda dos colegas para desenvolver habilidades no uso de computador e da web.

Devido ao baixo envolvimento do professor com as tecnologias, as atividades que tomam mais tempo do professor - como aula expositiva, interpretação de texto e exercícios práticos e de fixação do conteúdo - utilizam muito pouco o computador e a internet. A rotina das salas de aula se apoia em práticas que mantêm o professor como figura central.

Na pesquisa amostral, foram estudadas 497 escolas públicas municipais e estaduais urbanas do país. Participaram do estudo 4.987 alunos, 1.541 professores, 428 coordenadores e 497 diretores de escolas. O objetivo da pesquisa foi identificar o uso e a apropriação da internet banda larga nas escolas públicas urbanas do país.

TAXA DE PARTICIPAÇÃO DE ALUNOS DA REDE PRIVADA NO ENEM 2010 SUPERA A DA PÚBLICA EM 85%


Para especialistas, exame não motiva estudantes de escolas públicas, nem democratiza acesso deles ao ensino superior.

Nathalia Goulart

Tradicionalmente, as escolas privadas obtêm as primeiras colocações no ranking por instituições do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – confira os resultados de 2010. Os dados divulgados pelo Ministério de Educação (MEC) nesta segunda-feira, relativos à edição 2010 da prova, revelam também que as instituições particulares são responsáveis por levar proporcionalmente mais participantes à avaliação federal.

Em média, 70,4% dos estudantes de escolas privadas compareceram ao exame. Entre as unidades públicas, a taxa foi de 38,07%. A primeira supera a segunda em 85%.

Leia mais sobre o assunto:
Como esperado, escolas particulares dominam Enem 2010

Pela primeira vez, o MEC decidiu dividir o resultado das instituições de ensino de acordo com a taxa de frequência de seus alunos na prova. São quatro os grupos:

Participação entre 75% e 100%
Participação entre 50% e 75%
Participação entre 25% e 50%
Participação menor que 25%

Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais (Inep), autarquia do MEC responsável pelo Enem, a intenção é evitar a formação de um ranking de instituições que poderia ser distorcido por situações pontuais. Como o exame não é obrigatório, uma escola poderia eleger seus melhores alunos para prova, deixando outros de fora, e, assim, obter uma maior pontuação no ranking. Outra instituição poderia obter média inferior, embora comparecendo em peso à avaliação.

Das 6.689 escolas privadas representadas por candidatos no Enem de 2010, 52% registraram alta participação de estudantes – o que significa que ao menos 75% de seus alunos compareceram à avaliação. Na rede pública, a situação foi oposta: apenas 6% das 17.211 escolas atingiram tal índice. Na outra extremidade, a das instituições que registraram baixa participação de alunos, apenas 6% das escolas privadas tiveram 25% ou menos de seus estudantes na prova; entre as públicas, a taxa foi cinco vezes superior, chegando a 30%.

Olhando de outra forma: na rede privada, 68% dos estudantes são oriundos de unidades de ensino que registraram alta participação. Na rede pública, a cifra é cinco vezes inferior: só 12% dos alunos estavam em instituições que levaram ao menos 75% de seus estudantes ao Enem 2010.

Para os especialistas, duas razões principais explicam a disparidade entre a participação de estudantes das redes privada e pública. A principal delas é o desinteresse dos estudantes das escolas públicas pelo Enem.

“Ainda existe entre alunos das escolas públicas a percepção de que eles não estão preparados para disputar uma vaga em universidades federais e estaduais, para as quais o Enem se tornou passaporte de entrada, ao ser considerado como parte integrante do processo seletivo”, diz o sociólogo Cesar Callegari, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE) e presidente do Instituto Brasileiro de Sociologia Aplicada (IBSA). “Portanto, aqueles estudantes até se inscrevem no exame, mas optam por não fazer a prova porque têm a percepção – acertada, aliás – de que a educação que recebem é fraca e insuficiente para os levarem ao ensino superior público.”

A segunda razão para o desestímulo dos estudantes da rede pública estaria na já conhecida fraqueza desse setor de ensino nacional. “O que difere as duas redes, a pública e a privada, é a gestão do ensino. Existe uma presença maior dos diretores e professores na vida do aluno no setor particular: são eles que incentivam o estudante e o acompanham desde a inscrição até a realização de provas”, diz Amabile Pacios, presidente da Federação Nacional da Escolas Particulares (Fenep). “O envolvimento é o diferencial.”

Há ainda outra questão a salientar a gravidade do problema. Estudantes oriundos da rede pública que realizam o exame no ano em que se formam no ensino médio são isentos do pagamento da taxa de inscrição na avaliação federal, de 35 reais. Como mostram os números, contudo, muitos alunos favorecidos pela medida faltaram à prova.

“Isso nos faz repensar a idéia de que apenas livrar esses alunos do pagamento basta. Precisamos de outros mecanismos de incentivo para essa faixa de jovens brasileiros”, diz Isabel Cappelletti, professora da Faculdade de Educação da PUC-SP e especialista em avaliação educacional. “O Novo Enem, como ficou conhecido esse novo modelo de prova, pretendia maior democratização no acesso ao ensino superior, mas isso ainda não acontece.”

Ainda de acordo com balanço do MEC, 23.900 escolas participaram do exame, sendo 6.689 (28%) privadas e 17.211 públicas (72%). Desse total, 4.486 instituições ficaram sem média porque registraram índices de participação inferior a 2%. As escolas que levaram à prova menos de dez estudantes também estão fora da lista. Foram consideradas unidades de ensino ensino médio regular, normal magistério e/ou integrado à educação profissional. Ao todo, 1.011.669 estudantes que concluíram o ensino médio em 2010 fizeram a prova.

O Enem 2010 foi aplicado entre os dias 6 e 7 de novembro e foi marcado por falhas, como o erro de impressão em um lote de provas da cor amarela e a inversão dos cartões de reposta. Alem disso, houve suspeita de vazamento do tema da redação e denúncias do uso do microblog Twitter por participantes dentro dos locais de prova. Cerca de 9.500 estudantes foram convocados a realizar uma nova prova e o exame se tornou alvo de uma intensa batalha judicial.

VERDADES E MENTIRAS DO CENSO DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

Enquanto o Plano Nacional de Educação (PNE) 2001-2010 previa atingir a meta de 30% de jovens em universidades, o número não passou de 14,4%.
Branca Nunes

Embora se note um certo imobilismo no universo de estudantes matriculados em cursos universitários presenciais, aumentou consideravelmente a procura por cursos tecnológicos e a distância.

O Censo da Educação Superior 2010 confirma que as estatísticas podem não mentir, mas quase sempre omitem parte da verdade. Divulgado nesta segunda-feira, o estudo aponta, por exemplo, que o número de matrículas no ensino superior aumentou 110% entre 2001 e 2010. Mas a papelada esquece de registar que o número de jovens (entre 18 e 24 anos) matriculados em cursos superiores cresceu apenas 2,4 pontos percentuais no mesmo período – de 12%, em 2001, para 14,4%, em 2010, segundo dados do próprio Ministério da Educação (MEC). Segundo o Plano Nacional de Educação (PNE) 2001-2010, o governo federal pretendia chegar a 30%.

Como não conseguiu atingir nem metade da porcentagem, o novo PNE, que faz previsões para a próxima década, resolveu repetir a meta. Agora, espera-se atingir 33% de jovens matriculados no ensino superior. Só que o prazo se estendeu até 2020. “Quando observamos esses números, percebemos que ainda estamos engatinhando”, constata Mozart Neves Ramos, membro do Conselho Nacional de Educação e conselheiro do movimento Todos pela Educação. “O México e o Chile têm de 30% a 40% dos jovens no ensino superior. Na União Europeia, o número salta para 70%”. A informação ajuda a explicar por que – apesar da chiadeira do governo federal – o Brasil continua na 84ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

A classe C - Para Ramos, a baixa qualidade dos ensinos fundamental e médio é uma das explicações para o reduzido número de jovens brasileiros matriculados em universidades. Quando entram na universidade, muitos estão despreparados para acompanhar as aulas e desistem facilmente.
Em março deste ano, numa entrevista ao site de VEJA, Eduardo Alcalay, diretor-presidente da Universidade Estácio de Sá, contou que a faculdade implantou aulas de reforço escolar de português e matemática para tentar mudar tal realidade. Na mesma época, Heitor Pinto Filho, então reitor da Uniban, revelou que a taxa de evasão chegava a 15% no primeiro ano – justamente porque as aulas mais complexas eram incompreensíveis para alguns alunos.

Além do déficit de aprendizado, as desistências no meio do curso universitário são causadas por dificuldades financeiras e pelo próprio perfil do estudante da classe C – público alvo das grandes universidades privadas do país. “Nosso estudante padrão vem de uma classe social baixa e frequenta o curso noturno, depois de ficar o dia inteiro no trabalho”, informou Pinto Filho. “A família desse aluno sai de uma categoria D e vai para uma B justamente por causa desse estudante. Na maioria das vezes, ele é a primeira pessoa a conseguir fazer uma faculdade naquela casa”. Alcalay resume o objetivo das dessas instituições de ensino: “O que queremos é que o aluno chegue aqui como um office boy que ganha 1.000 reais por mês e saia um analista contábil ganhando 3 mil reais”.

Presencial X a distância - O perfil desse novo estudante universitário é exposto no censo 2010. Na última década, as matrículas em cursos noturnos, por exemplo, passaram a representar 63,5% do total – contra 56,1% em 2000. Nas instituições privadas, elas correspondem a 72,8% das matrículas. Embora se note um certo imobilismo no universo de estudantes matriculados em cursos universitários presenciais, aumentou consideravelmente a procura por cursos tecnológicos e a distância. Em 2001, os cursos tecnológicos registravam 69.797 matrículas. Em 2010, o número saltou para 781.609.

Hoje, a modalidade não-presencial representa mais de 14% dos estudantes do ensino superior. Segundo o censo, a faixa etária média desses alunos é de 33 anos (contra 26 do ensino presencial). Isso significa que um contingente significativo não teve chances de ingressar numa faculdade na idade adequada. A procura também é explicada pela flexibilidade de horários, uma vez que muitos já estão inseridos no mercado de trabalho.

“O Brasil se tornou economicamente mais competitivo”, explica Célio Cunha, professor do programa de doutorado na área de educação da Universidade de Brasília (UnB). “Isso explica o aumento na procura por cursos tecnológicos, que têm como função diminuir a carência de mão de obra especializada”. Embora elogie o aumento dos cursos a distância, “uma tendência mundial”, Cunha adverte: “É preciso que eles sejam avaliados com mão firme, para que possamos garantir a qualidade”.

Outro ponto levantado pelo censo é que a participação percentual no número de matrículas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste aumentou de 2001 para 2010. Em contrapartida, houve um decréscimo da participação das regiões Sudeste e Sul. Enquanto o volume de nordestinos matriculados em universidades representava 15,2% do total do país há uma década, em 2010 foi de 19,3%. Os universitários do Sudeste eram 51,7% em 2001. Em 2010, 48,7%. As mulheres continuam em maioria: 56,3% em 2001 e, 10 anos depois, 57%.

O docente - Tanto Cunha quanto Ramos acreditam que a qualidade do ensino fundamental e médio e, consequentemente, a do superior, só será alcançada com a valorização do corpo docente. “A escola tornou-se desinteressante, os currículos estão defasados”, argumenta Cunha. Ramos afirma que o magistério precisa se tornar uma carreira atraente, o único caminho para se formar bons professores.

Ex-secretário da educação de Pernambuco, Ramos insiste numa questão que considera fundamental. “É preciso saber que faculdades diferentes têm missões diferentes”, compara. “Não é necessário que todas as universidades tenham a excelência em pesquisa de uma USP tem. Uma instituição localizada no interior do Nordeste pode, por exemplo, formar professores para trabalharem naquela zona. Isso não a desmerece”. É por isso, insiste, que deveria haver avaliações diferentes para universidades públicas e privadas, ou mesmo para as diferentes regiões brasileiras.

De acordo com Ramos, os 33% pretendidos pelo PNE só serão alcançados com essas três mudanças básicas: maior qualidade dos ensinos fundamental e médio, qualificação do corpo docente e avalições diferenciadas para as várias universidades. Quem sabe assim as estatísticas se aproximarão um pouco mais da verdade.

CERCA DE METADE DOS ESTUDANTES BRASILEIROS NÃO APRENDE O QUE DEVERIA DURANTE CICLO DE ALFABETIZAÇÃO

Prova ABC mostra que problema se concentra em escolas públicas e nas regiões Norte e Nordeste. Especialista diz que resultado é uma 'tragédia'
Nathalia Goulart

Ao fim do terceiro ano do ensino fundamental, números e letras ainda são um mistério para cerca de metade das crianças brasileiras. É o que revela pesquisa divulgada nesta quinta-feira: aqueles estudantes não dominam as competências básicas de leitura, escrita e matemática. O problema se concentra nas escolas públicas nacionais, em especial nas unidades das regiões Norte e Nordeste.

A pesquisa está baseada nos resultados da inédita Avaliação Brasileira do Final do Ciclo da Alfabetização, batizada Prova ABC, parceria entre o movimento independente Todos Pela Educação, o Instituto Paulo Montenegro/Ibope, a Fundação Cesgranrio e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), autarquia do Ministério da Educação (MEC). A avaliação foi feita no início deste ano letivo com 6.000 alunos do quarto ano de 250 escolas de todas as regiões do Brasil, medindo, portanto, os conhecimentos adquiridos na série anterior.

Os dados mostram que, em média, 43,9% desses estudantes deixam o ciclo de alfabetização sem aprender o que deveriam em leitura. Na lanterna, estão as escolas públicas do Nordeste, onde a taxa chega a 63,5%. Em matéria de escrita, 46,6% não têm o desempenho esperado, sendo que nas unidades dos governos nordestinos apenas uma em cada quatro crianças domina a competência. Em matemática, os números são ainda piores: 57,2% dos estudantes do país não conseguem fazer contas elementares de soma e subtração. Nas escolas públicas da região Norte, três em cada quatro crianças falham na tarefa.

Tragédia. É assim que a especialista em educação Elvira Souza e Lima classifica os resultados da pesquisa. "Se a criança não aprende a ler e a escrever apropriadamente nessa etapa da vida, seu desenvolvimento escolar fica comprometido", afirma a especialista. E esse atraso acarretará prejuízos também a outras disciplinas. "Ler e escrever são habilidades essenciais: sem elas, a criança não consegue aprender outras matérias, inclusive matemática."

As revelações da pesquisa ajudam a explicar outras medições da má qualidade do ensino. Segundo levantamento divulgado no final do ano passado pelo Todos Pela Educação, apenas 11% dos estudantes deixam o ensino médio com o conhecimento apropriado em matemática e 28% sabem o que deveriam sobre língua portuguesa.

"Segundo o que mostra a nova pesquisa, com o aprendizado que as crianças obtêm no ciclo de alfabetização, é praticamente impossível obter sucesso acadêmico mais adiante", afirma Elvira Souza e Lima. A explicação está na neurociência, garante a especialista. "Após os oito anos de idade, o cérebro começa a se transformar e as condições já não são tão propícias à alfabetização. Sem um projeto pedagógico específico, não é possível ensinar a uma criança de 9 ou 10 anos o que se ensina a uma de 6 ou 7."

Outra questão já conhecida dos brasileiros foi também reforçada pelos resultados da Prova ABC: a superioridade do ensino nas escolas privadas diante das instituições públicas. No quesito leitura, por exemplo, 97,7% estudantes das escolas particulares do Sudeste aprendem o que se espera, enquanto que apenas 53,8% dos alunos de unidades dos governos da mesma área geográfica obtiveram desempenho similar.

Outros indicadores já haviam indicado a mesma desigualdade. Na avaliação internacional do Pisa, feita pela OCDE (organização que reúne os países desenvolvidos), os alunos brasileiros da rede privada atingiram 502 pontos, enquanto os estudantes do setor público ficaram com apenas 387. Segundo os especialistas, é como se os alunos das escolas particulares estivessem três séries à frente de seus colegas das instituições públicas.

“Os alunos das escolas particulares em geral possuem uma formação mais sólida do que os estudantes da rede pública – o que facilita a alfabetização na educação fundamental. Isso explica em parte a diferença entre as redes”, explica João Horta, pesquisador do Inep, um dos responsáveis pela avaliação.

AO MENOS 160.000 ALUNOS FAZEM CURSO TECNOLÓGICO RUIM

Em seis anos, as matrículas em cursos tecnológicos cresceram 324%, mas a qualidade desses cursos só começou a ser avaliada nos últimos três anos

Entre 2003 e 2009, as matrículas em cursos tecnológicos no Brasil cresceram 324%. A qualidade desses cursos, no entanto, só começou a ser avaliada nos últimos três anos. E o retrato levantado não é bom: cerca de 160.000 estudantes estão hoje em um curso superior de qualidade ruim. Mais que isso: até agora, apenas 38% deles passaram por algum tipo de avaliação do Ministério da Educação (MEC).

O avanço dos cursos tecnológicos no Brasil foi vertiginoso. Em 2000 havia apenas 364 cursos registrados. Em 2009, o Censo da Educação Superior registrava 4.449 cursos, um crescimento de 1.122%. De todos esses cursos, no entanto, apenas 1.723 já passaram por uma avaliação do MEC. Só 1.216 receberam conceitos. Os demais não tiveram graduandos suficientes para fazer o Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade).

Nos poucos cursos que já foram avaliados, a situação não é boa. Na média dos três anos de Enade, 33% tiveram conceitos de curso inferiores a 1,95 ponto e terão de passar por um processo de supervisão. Em 2008 e 2007, o resultado da avaliação foi ainda pior: mais de 40% dos cursos tiveram os piores conceitos. Em 2009, esse porcentual caiu para 27%. Mas 2009 também foi o ano em que mais cursos ficaram sem avaliação completa, porque eles não ainda possuíam turmas de formandos.

Nos mesmos três anos de avaliação, outros 40% ficaram com conceitos entre 1,95 e 2,95 pontos - o que significa que têm nota 3 para o MEC e são considerados "regulares", mas não que sejam realmente cursos de qualidade. Vinte e nove cursos ficaram com notas abaixo de 1.

(Com Agência Estado)

SÓ 1,4% DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR ATINGE CONCEITO MÁXIMO EM AVALIAÇÃO DO INEP

Dos 25 centros que obtêm nota 5,14 são públicos e 11, privados

Das 1.793 instituições de ensino superior avaliadas pelo Ministério da Educação (MEC), somente 25 obtiveram nota 5, conceito máximo no Índice Geral de Cursos (IGC).
O número representa pouco menos de 1,4% do total. Quatorze delas são públicas e 11, privadas. Os dados fazem do Censo da Educação Superior, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), divulgado nesta quinta-feira.

A escala do IGC monitora a qualidade dos cursos de graduação e divide as instituições em faixas que vão de 1 a 5. Os conceitos 1 e 2 são considerados insuficientes pelo MEC.

As instituições que não atingem nota 3 são supervisionadas pelo ministério. Caso não consigam sanar as deficiências, podem ter diminuído o número de vagas oferecidas ou, em último caso, ter suspenso o recredenciamento de seus cursos.

Do total, 12 instituições tiveram nota 1 e 687 ficaram com nota 2 – o que significa que 40% estão abaixo da qualidade estabelecida pelo MEC. A maioria das instituições, 945, recebeu nota três.

Participaram do levantamento 2.137 universidades, centros universitários e faculdades. Dessas, 344 não tiveram nenhum conceito. Isso porque a nota está atrelada ao desempenho no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade): ou seja, a instituição que não participa do Enade não pode ser avaliada. É o caso da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Confira a seguir as universidades que obtiveram conceito 5:

Escola Brasileira de Economia e Finanças (Ebef)
Faculdade de Administração de empresas (Facamp)
Escola de Economia de São Paulo (Eesp)
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA)
Instituto de Pesquisa (Insper)
Escola de Governo Prof. Paulo Neves de Carvalho (EG)
Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV-Eaesp)
Faculdade de Odontologia São Leopoldo Mandic
Faculdade Fucape
Instituto Militar de Engenharia (IME)
Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp)
Faculdade de Economia e Finanças (IBMEC)
Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (Faje)
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
Universidade Federal de Lavras (UFLA)
Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (Ebape)
Universidade Federal de Ninas Gerais (UFMG)
Universidade Federal de Visçosa (UFV)
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar)
Centro Universitário Municipal de São José (USJ)
Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA)
Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM)
Escola de Direito de São Paulo (Direito GV)
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

MACRAÇAL NO PLANALTO

Um dos símbolos da luta pela democracia durante o regime militar, a Universidade de Brasília tornou-se reduto da intolerância esquerdista.

ESPELHO - Em 1968, militares invadem a UnB. Em 2011, professores reclamam de controle ideológico (Fotos Monique Renne/CB/D A Press e AE)

A Universidade de Brasília teve seu câmpus invadido por forças de repressão, teve estudantes assassinados, professores perseguidos e funcionários demitidos por defender ideias contrárias às do poder dominante. Isso ocorreu durante os períodos mais duros do regime militar. Naquele tempo, a comunidade da UnB sofria por exigir a volta da democracia ao Brasil. Pois não é que a democracia voltou ao Brasil, mas anda em falta justamente em um dos redutos onde mais se lutou por ela, a UnB?

Professores, estudantes e funcionários da Universidade de Brasília têm sido alvo de perseguição da diretoria e de agressões pelo único crime de não pensarem de acordo com a ideologia dominante.
A liberdade de expressão sempre foi um valor sagrado nas universidades, mas na UnB ela foi revogada para que em seu lugar se instalasse a atitude mais incompatível que existe com o mundo acadêmico: a intolerância. VEJA foi ao câmpus da UnB apurar as denúncias de que um símbolo da luta democrática no Brasil está se transformando em um madraçal esquerdista em que a doutrinação substituiu as atividades acadêmicas essenciais.

Os depoimentos colhidos pela reportagem da revista deixam pouca dúvida de que essa tragédia está em pleno curso. Acompanhem. A procuradora de Justiça Roberta Kaufmann conta que viveu a maior humilhação de sua vida em um auditório da UnB, instituição em que concluiu seu mestrado.
Convidada para participar de um debate sobre a adoção de cotas raciais pelas universidades públicas, ela - que é contrária ao projeto - não conseguiu falar. Quando lhe foi dada a palavra, um grupo liderado por professores promoveu um alarido ensurdecedor.
Ela foi chamada de racista, ouviu ofensas impublicáveis e só pôde deixar a universidade horas depois, acuada, com medo de que algo pior acontecesse. Seu carro foi vandalizado. Nas portas, foi pichada a frase "Loira filha da p...". Desde então, Roberta nunca mais voltou à UnB sem companhia. Não se trata de um caso isolado. "A UnB se tornou palco das piores cenas de intolerância. Não há espaço para o diálogo. Ou você compartilha do pensamento dominante ou será perseguido e humilhado", diz a procuradora.

NA CONTRAMÃO - Salas de aula são utilizadas para festas e consumo de drogas. Professora discorda da liberalidade - e é punida

Os professores entrevistados relatam que manifestações de intolerância como essas se intensificaram a partir de 2008, depois da eleição do reitor José Geraldo de Sousa Junior, um dos fundadores do PTPT no Distrito Federal.

José Geraldo, cujo único mérito acadêmico evidente deriva de sua militância política, venceu o pleito ao cabo de uma manobra que deu aos votos dos alunos o mesmo peso dos votos do coro docente e dos funcionários. Segundo a lei, os professores deveriam representar 70% do colégio eleitoral de uma universidade. "Nenhuma universidade de ponta tem esse tipo de sistema eleitoral. Uma instituição controlada por alunos gravita em torno dos pontos mais mesquinhos da pequena política", diz o historiador Marco Antonio Villa.
E existem exemplos dessa contaminação do cotidiano acadêmico pela pequena política. Dois adversários de José Geraldo na eleição para reitor, os professores Márcio Pimentel e Inês Pires de Almeida, foram alvo de retaliação por parte da nova administração, que teria começado logo depois da posse. O crime deles? Terem ousado concorrer ao cargo hoje ocupado pelo militante de mar e guerra, reitor da UnB.

"O propósito da universidade deveria ser a excelência. Na UnB, isso foi substituído pela partidarização do ensino." Frederico Flósculo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Márcio Pimentel e a esposa, a também professora Concepta McManus, desconfiaram que o trabalho de pesquisa de ambos começou a sofrer boicotes -mas tudo de uma maneira sempre muito sutil, indireta.
Como nunca havia ocorrido antes, serviços básicos dos laboratórios, como a limpeza das instalações e a compra de material, foram interrompidos.
Sem explicação, a carga horária de aulas também foi ampliada de maneira claramente exagerada, para que não lhes sobrasse tempo para o trabalho de pesquisa. "Chegou um momento em que uma disciplina ministrada por um colega com metade das turmas que eu tinha foi passada a mim. Não sobrava tempo para o laboratório", disse Concepta McManus a um professor ouvido por VEJA.
A perseguição forçou Pimentel a pedir transferência para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul. No documento de liberação do professor, José Geraldo lamentou protocolarmente que a UnB perdesse um docente da envergadura de Pimentel. "Puro deboche. A saída do Márcio era o sonho da reitoria", afirma o professor de bioquímica Marcelo Hermes-Lima, que testemunhou a hostilidade oficial ao casal de professores.
"A UnB é uma página virada. Não faz mais parte da minha vida", limitou-se a dizer o geólogo Márcio Pimentel ao ser procurado por VEJA. Contra a professora Inês Pires, a outra candidata derrotada, a retaliação foi mais explícita.
Ela perdeu a chefia de um curso e sofreu uma devassa nos projetos de pesquisa que conduzia. "Os analistas não requisitaram sequer a prestação de contas. Foi uma ação com o claro objetivo de tisnar a imagem de uma professora que não pertence ao grupo dominante", conta um professor que acompanhou o caso e fala em condição de anonimato por temer represálias.

"A UnB se tornou palco das piores cenas de intolerância. Não há espaço para diálogo. Ou você partilha do pensamento dominante ou será perseguido." Roberta Kaufmann, procuradora, mestra em direito pela UnB

O jurista Ibsen Noronha, ex-professor voluntário do departamento de direito e um dos maiores especialistas em história do direito brasileiro, deixou a UnB no fim do ano passado. Motivo: sua disciplina desapareceu do currículo.

Para ele, no entanto, foi retaliação diante de sua posição extremamente crítica em relação ao polêmico regime de cotas, uma das bandeiras que tem na atual gestão da UnB seus maiores defensores: "É a primeira vez em trinta anos que a disciplina, um diferencial do currículo da universidade, não foi oferecida. Eu fui aluno da UnB e tive essa aula. A justificativa que a faculdade apresentou é risível: disseram que a matéria foi suprimida por ser optativa. Mas não me foi apresentada nenhuma outra opção no lugar dela. É lamentável testemunhar a transformação da universidade em um instrumento de domínio ideológico", afirma Noronha, que se tornou, em fevereiro, o primeiro brasileiro a lecionar na respeitada Universidade de Coimbra, em Portugal.
O embate é tal que mesmo críticas sem conotação ideológica ou política podem servir como estopim para retaliações.
A professora Tânia Montoro, da Faculdade de Comunicação, conta que foi punida por ter criticado as extravagantes concessões que a atual reitoria faz aos alunos, como a permissão de festas nos prédios onde as aulas são ministradas - que transformaram as salas em território livre para consumo de drogas.
No ano passado, a professora e duas de suas alunas foram escolhidas como palestrantes em um seminário realizado em Bogotá. A UnB autorizouo pagamento da viagem das alunas, mas não da professora. D
epois de duas negativas, Tânia reclamou, mas seu pedido só foi deferido quando não havia mais tempo para o embarque. "Eu tenho uma história de trinta anos nesta universidade, e sou uma pesquisadora produtiva. Não merecia passar por essa vergonha", diz a professora.

"A universidade foi tomada por um patrulhamento ideológico tácito, orquestrado para funcionar sem ser notado. Quem pensa diferente é relegado ao limbo." Ronaldo Poletti, professor de direito

Mesmo em cursos considerados técnicos, como o de arquitetura, a política tem predominado. O urbanista Frederico Flósculo, há dezenove anos professor da UnB, acusa a atual direção de persegui-lo e agir para que seus projetos de pesquisa sejam sistematicamente rejeitados. Diz Flósculo: "Eu fui um opositor ferrenho da gestão passada. Quando José Geraldo assumiu, levou para a reitoria a sua corriola. Nos últimos anos, meus projetos de pesquisa têm sido sistematicamente rejeitados. O propósito da universidade deveria ser a busca da excelência. Isso foi substituído pela partidarização do ensino". O decano da Faculdade de Direito, Ronaldo Poletti, resume o problema: "A universidade foi tomada por um patrulhamento ideológico tácito, orquestrado para funcionar sem ser notado. Quem pensa diferente é relegado ao limbo. Em trinta anos de cátedra, nunca vi a universidade tão distante da sua proposta original - a produção livre do conhecimento".

O reitor da UnB nada vê de extraordinário. "Ninguém tem espaço sem esforço. É preciso analisar se não são os professores que, por falta de competência, perderam visibilidade. A Universidade de Brasília nunca foi tão aberta", afirma José Geraldo.

"A UnB deixou de ser uma instituição acadêmica para se tornar um instrumento de domínio ideológico." Ibsen Noronha, ex-professor voluntário da Faculdade de Direito

Para o sociólogo Demétrio Magnoli, são evidentes os sinais de que algo está deteriorando o ambiente acadêmico do que foi uma das mais respeitadas instituições de ensino do país. Resume Magnoli: "Um câmpus, por definição, deve ser uma praça de debates onde a diversidade de ideias é o maior valor. É preocupante quando uma universidade adota uma posição ideológica. A UnB vive o processo típico de uma instituição que se tornou um aparelho em prol de uma causa".

"A UnB vive um processo típico de uma instituição que se tornou um aparelho em prol de uma causa." Demétrio Magnoli, sociólogo

"Ninguém tem espaço sem esforço. É preciso analisar se não são os professores que, por uma questão de competência, perderam visibilidade." José Geraldo Sousa Junior, reitor da Universidade de Brasília

O PIBÃO E A FALTA DE EDUCAÇÃO

A Veja elaborou um bom estudo sobre a desgraça que é a Educação hoje no Brasil, após a gestão Tarso Genro (2003-2005) / Fernando Haddad. Vai um resumo (íntegra aqui):


1. De acordo com pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgada em fevereiro, 51,4% dos brasileiros não reconhecem avanços no ensino público do país, o que constrasta com resultados dos mais recentes indicadores. O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), por exemplo, mostra que, entre 2007 e 2009, o desempenho dos alunos do ensino fundamental e do ensino médio subiu. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) também apontou avanços significativos, sendo que apenas o Chile e Luxemburgo superaram o salto brasileiro. Apesar da melhora, a posição do país do ranking ainda desaponta: 53ª posição da lista, atrás de nações como Colômbia e Trinidad e Tobago.


2. Apesar do crescimento significativo do número de cursos tecnológicos no Brasil (entre 2003 e 2009, o aumento foi de 324%), o Ministério da Educação (MEC) constatou que mais de 160.000 alunos recebem má formação nessas instituições de ensino. Até fevereiro de 2011, cerca de 38% dos cursos oferecidos foram avaliados: deles, 33% obtiveram conceito inferior a 1,95 e terão de passar por um processo de supervisão. Outros 40% obtiveram conceitos entre 1,95 e 2,95 pontos – o que significa que são apenas regulares.


3. De acordo com o Censo da Educação Superior, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e divulgado em janeiro, das 1.793 instituições de ensino superior avaliadas, somente 25 obtiveram nota 5 – conceito máximo no Índice Geral de Cursos (IGC), que monitora a qualidade dos cursos de graduação e divide as instituições em faixas que vão de 1 a 5. Do total, 12 instituições obtiveram nota 1 e 687 ficaram com nota 2, conceitos considerados insuficientes pelo MEC. Na lista das instituições com nota 5, constam, por exemplo, o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o Instituto de Pesquisa (Insper), a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), a Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM) e a Escola de Direito de São Paulo (Direito GV).


4. Em agosto, pesquisa baseada nos resultados da Avaliação Brasileira do Final do Ciclo da Alfabetização – batizada Prova ABC – mostrou que, ao fim do terceiro ano do ensino fundamental, metade das crianças brasileiras não domina as competências básicas de leitura, escrita e matemática. O problema se concentra nas escolas públicas nacionais, especialmente no Nordeste, onde essa taxa chega a 63,5%. Já nas escolas públicas da região Norte, três em cada quatro crianças não conseguem fazer contas elementares de soma e subtração. A especialista em educação Elvira Souza e Lima classificou o resultado como "trágico".


5. Embora o Censo Nacional da Educação tenha registrado que o número de matrículas no ensino superior aumentou 110% entre 2001 e 2010, o número de jovens (entre 18 e 24 anos) matriculados em cursos superiores cresceu apenas 2,4 pontos percentuais no mesmo período – de 12%, em 2001, para 14,4%, em 2010. A meta do Ministério da Educação era chegar a 30% nesse período. Diante do fracasso, o Plano Nacional de Educação (PNE) estendeu o prazo para 2020. Mozart Ramos, membro do Conselho Nacional de Educação, admitiu que o Brasil ainda está engatinhando quando comparado a nações como México ou Chile, que possuem índices entre 30% a 40% dos jovens matriculados no ensino superior.


6. Dados do Ministério da Educação (MEC) divulgados em setembro mostraram que as instituições particulares – além de alcançarem o primeiro lugar no ranking do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) – são responsáveis por levar proporcionalmente mais participantes à avaliação federal. Em média, 70,4% dos estudantes de escolas privadas compareceram ao exame. Entre as unidades públicas, a taxa foi de 38,07%. A primeira supera a segunda em 85%. Para Cesar Callegari, membro do Conselho Nacional de Educação (CNE), alunos de escolas públicas têm a percepção – acertada, aliás – de que o ensino que recebem é fraco e não oferece condições para passar no processo seletivo de uma universidade pública.
Por Ricardo Froes

"AS UNIVERSIDADES PRECISAM FORMAR SÁBIOS."

Nathalia Goulart
Entrevista: Drew Faust

'As universidades precisam formar sábios'

A reitora de Harvard diz que instituições devem resolver questões práticas, mas não podem ignorar a marca do próprio DNA: produzir conhecimento.

Primeira mulher a ocupar o posto de reitora da Universidade Harvard, considerada a melhor do mundo em vários campos de pesquisa, a historiadora americana Drew Gilpin Faust é constantemente instada a fazer com que a instituição que dirige apresente soluções práticas para todos os males que afligem o planeta – do desemprego ao aquecimento global. Harvard não se furta a abordar esses problemas. Mas a reitora faz um alerta. A demanda por respostas instantâneas não pode afastar as instituições de ensino superior de uma missão mais elevada: a produção de conhecimento puro, aquele cuja aplicação muitas vezes não se faz de forma imediata. "A sociedade nos pede soluções. Mas a universidade não deve se preocupar apenas com o bem estar imediato dos seres humanos, precisa fazer também com que eles sejam sábios", diz. A acadêmica esteve no Brasil nesta semana para discutir parcerias com universidades locais. "As instituições brasileiras e americanas têm muito o que aprender umas com as outras", afirma. Na entrevista a seguir, ela explica como Harvard mantém a excelência em ensino e pesquisa, como seleciona seus talentos entre milhares de estudantes e conta como o cargo de reitora alterou sua vida pessoal.

Esta é sua primeira visita ao Brasil e a universidades brasileiras, com as quais a senhora discute parcerias. O que Harvard, considerada a melhor universidade do mundo, pode fazer por nossas universidades?

Vejo nossa relação como uma parceria. O Brasil é uma das economias mais dinâmicas do mundo, tem crescido muito rapidamente e, ao mesmo tempo, enfrenta desafios em áreas pelas quais nos interessamos, como meio ambiente. As instituições brasileiras e americanas têm muito o que aprender umas com as outras.

Segundo João Grandino Rodas, reitor da Universidade de São Paulo, a mais prestigiada instituição do país, o ensino superior local se encontra na mesma situação que o americano há cem anos. O que as universidades brasileiras têm a oferecer a Harvard?

O Brasil tem ótimos pesquisadores e estudantes com perspectivas diferentes daquelas a que estamos habituados. Temos muito o que aprender com essa diferença.

Harvard recebeu mais de 30.000 inscrições de estudantes ano passado, para preencher cerca de 1.600 vagas. Como escolher os melhores?

É preciso ir atrás deles? Sim. Nossos escritórios de admissão visitam escolas dentro e fora dos Estados Unidos para falar sobre Harvard e sobre nosso generoso programa de ajuda de custo. Esse esclarecimento é importante porque a tendência é que o estudante pense que Harvard jamais se interessará por ele ou que ele jamais conseguirá pagar integralmente seus estudos. Por isso, vamos aos estudantes mostrar quem somos, como selecionamos nossos alunos e que apoiamos aqueles oriundos de famílias modestas.

No Brasil, a seleção de alunos é feita a partir de uma única prova. Ao contrário dos Estados Unidos, aqui, não são levados em conta o desempenho dos estudantes no ensino médio ou demais aptidões ou projetos. O sistema brasileiro de seleção prejudica a eficiência de nossas universidades?

Eu não ousaria julgar o processo seletivo das universidades brasileiras, mas posso explicar como fazemos em Harvard. Nosso sistema de seleção também está baseado em exames de qualificação, como o SAT. Além disso, avaliamos ensaios que os candidatos nos enviam. Eles servem para avaliar a escrita e as ideias de cada jovem. Também estamos interessados no histórico escolar do aluno, em como ele evoluiu ao longo do ensino médio, e nas atividades extra-curriculares. É importante mostrar liderança, caráter e diversidade de interesses. A convivência no campus é algo muito valorizado e saber que cada estudante vai contribuir de forma enriquecedora é uma força que nos motiva na hora de selecionar nossos estudantes.

Uma pergunta simples: o que faz de Harvard a melhor universidade do mundo?

Além de Harvard ter uma longa tradição de excelência, nos preocupamos em atrair os melhores talentos. E acredito que isso seja parte significativa do que leva Harvard ocupar e sustentar essa posição de liderança. As pessoas sabem que ali é um lugar que nutre talentos e excelência, e todos querem fazer parte disso. Também fomos, ao longo dos anos, recebendo a ajuda generosa de famílias, apoiadores e ex- alunos, pessoas que continuam a contribuir com Harvard mesmo depois de terem deixado a universidade. Essa ajuda é muito importante para nós.

O caráter multinacional do campus, com pessoas de diversos países e culturas, contribui para a inovação e excelência?

Certamente. Durante minha estadia aqui em São Paulo, conversei com brasileiros que estudaram em Harvard. Eles me falaram sobre esse caráter multinacional e sobre como isso torna animador o ambiente. Somados todos os níveis de graduação, Harvard conta hoje com de 20% de estrangeiros. Isso torna constante o processo de descoberta. Os estudantes vão buscar no mapa onde seus companheiros vivem, começam a se preocupar com o que está acontecendo no mundo e aguçam suas curiosidades por outras culturas. Também incentivamos nossos estudantes a embarcar em experiências fora dos Estados Unidos enquanto estão cursando a graduação.

Em artigo recente para o jornal The New York Times, a senhora afirma que as universidades vivem uma crise de propósitos. Poderia explicar essa ideia?

Um debate frequente de nossos dias é acerca de como as universidades podem contribuir com as necessidades mais imediatas da sociedade. Algumas delas são necessidades econômicas, e os estudantes vão às universidades de forma a serem treinados e qualificados para futuros empregos. Outras são descobertas e inovações e outros tipos de intervenções que podem ter um efeito imediato no mundo, como a cura de uma doença. Mas as universidades têm outros propósitos, que são de longo prazo e que são mais difíceis de mensurar, mas que são extremamente importantes para todos nós. No encontro que tive com os reitores brasileiros, ouvi uma frase que resume esse pensamento: a sociedade nos pede soluções para problemas práticos. Mas a universidade não deve se preocupar apenas com o bem estar imediato dos seres humanos, precisa fazer também com que eles sejam sábios. As universidades têm esse propósito humano, histórico, antropológico, que nos faz transcender o momento presente. Não nos preocupamos apenas se nossos alunos terão emprego amanhã. Precisamos garantir que eles tenham conhecimento.

Os Estados Unidos e o mundo enfrentam grandes desafios, como superar a crise econômica, combater o aquecimento global, garantir o suprimento de energia, entre outros. Como as universidades, do Brasil e dos Estados Unidos, podem ajudar seus cidadãos?

As respostas para esses problemas estão relacionadas ao conhecimento. Portanto, as pesquisas e a educação que as universidades oferecem têm um grande impacto. No ano passado, eu estava em Botsuana e um dos cientistas desenvolveu uma técnica para bloquear a transmissão do vírus da HIV da mãe para o bebê. Foi muito comovente ver como o conhecimento e a pesquisa fizeram uma enorme diferença na vida daquelas crianças. Exemplos como esse mostram como as pesquisas realizadas nas universidades podem realmente fazer a diferença no combate a problemas mundiais.

A crise econômica americana afetou as finanças de Harvard? O que foi feito para superar isso?

Com a crise, uma das nossas maiores fontes de renda – as doações vindas de ex-alunos e outros doadores – foi severamente reduzida. Responsável pelo pagamento de 35% das nossas despesas operacionais, as doações sofreram uma queda de 27,5%. Diante desse cenário, tivemos que reduzir nossos gastos, cortando imediatamente custos que identificamos como desnecessários. Em um segundo momento, começamos a identificar mudanças de longo prazo. Fizemos uma análise sistemática da maneira como estamos organizados e buscamos formas de poupar despesas. Ao mesmo tempo, tomamos muito cuidado para identificar prioridades, cuja manutenção deveria ser assegurada. Uma delas é a ajuda financeira que damos aos nossos estudantes. Protegemos áreas como essas, que julgamos vitais para a universidade.

A senhora é a primeira mulher reitora de Harvard. Quais os efeitos disso entre as mulheres, dentro e fora da universidade?

Acredito que esse cargo tem uma simbologia muito forte. Quando fui nomeada, recebi muitas cartas e e-mails, particularmente de jovens mulheres, que me diziam que fazia diferença para elas saber que uma mulher podia ocupar o cargo. Lembro-me de ter recebido uma carta de um pai que dizia: "Agora, sei que minha filha pode fazer qualquer coisa."

A senhora é uma pesquisadora, especialista na história da Guerra Civil americana, além de mãe de duas filhas. O cargo de reitora de uma das mais prestigiadas universidades do mundo certamente alterou sua rotina, não?

Sim, mudou bastante. Ao menos não precisei contratar uma babá, porque minhas filhas já estão crescidas! Mas meu trabalho atualmente me ocupa integralmente. Vivo em uma casa dentro do campus e, a todo minuto, sinto que a universidade está presente na minha vida. Harvard está sempre no meu pensamento e também está nas minhas atividades. Então, minha vida é completamente diferente hoje.

Divulgação/Universidade de Harvard

O ESCÁRNIO DOS BARBALHOS...

PAPAI BARBALHO SORRI DAS ARTIMANHAS DO MOLEQUE...


O SENADO JÁ FOI UMA CASA RESPEITÁVEL, OU SERÁ QUE OS SENADORES É QUE NÃO SE DÃO MAIS AO RESPEITO?!



BARBALHO EM CRISE TEATRAL...


ENQUANTO ISSO, 'NÓIS' Ó... E A PÁTRIA AMADA Ó...

DELÍRIOS DE UM BEIÇOLA...

Beiçola diz que câncer dos seus amigos - e o seu - é coisa de americano
O pateta-mor, Hugo Chávez, disse estranhar o fato de cinco chefes de Estado da América Latina estarem sofrendo do mesmo mal: tumor maligno. Para Chávez, pasmem, há uma estratégia liderada por norte-americanos para minar os líderes latino-americanos.

Durante seu programa de rádio, Chávez lembrou que há provas de que médicos dos Estados Unidos fizeram, nos anos de 1940, na Guatemala, experiências com cidadãos guatemaltecos sobre doenças sexualmente transmissíveis que levaram 83 pessoas à morte. O caso teve repercussão internacional e o governo dos Estados Unidos se desculpou pelo fato.

“É muito difícil explicar, com base na lei das probabilidades, por exemplo, o que tem ocorrido com alguns de nós [líderes] na América Latina. Fidel sempre me disse: ‘Chávez tenha cuidado, essa gente [os americanos] desenvolveu tecnologia, atenção ao que te dão para comer e cuidado com uma pequena agulha que te injetem e não se sabe o porquê’”.

Como pode um débil mental desses governar um país?
Por Ricardo Froes

DEPUTADO DO PSOL QUER CRIMINALIZAR A BÍBLIA

A imprensa está eivada de palavras malconstruídas, que designam erradamente o que pretendem designar. Xenofobia, sem ir mais longe. Quando os europeus manifestam sua ojeriza aos árabes, são logo tachados como xenófobos. Ora, fobia é medo. E não é exatamente medo que os europeus sentem pelos árabes. Mas asco. Mais ainda, este asco tampouco é dirigido aos árabes, mas aos muçulmanos. Há quem fale em islamofobia. A palavrinha continua errada. O que está em jogo não é o medo.

Da mesma forma, homofobia. Que significaria, segundo os dicionários, rejeição ou aversão a homossexuais ou à homossexualidade. A construção continua errada. Estas palavras constituem, em verdade, insultos ideológicos brandidos contra quem se sente em pleno direito de não gostar de estrangeiros, árabes ou homossexuais. Curiosamente, ninguém fala em negrofobia. Aí o insulto preferencial é racismo. Até mesmo os defensores da idéia de que raça não existe, na hora de insultar falam em racismo.

No que a mim diz respeito, não me sinto obrigado a gostar de ninguém, embora goste de muitas pessoas. Essa obrigação moral de gostar universalmente de todos é coisa de cristãos, e eu sou ateu. Não tenho restrições nem a árabes, nem a negros nem a homossexuais. Tive amigos palestinos e argelinos em meus dias de Paris. Tive também amigas persas e libanesas. Obviamente, não pertenciam àquela raça que ergue o traseiro para a lua para cultuar Alá. Com estes, não conseguiria conviver.

Tive amigos negros em meus dias de Rio Grande do Sul. Aliás, nem notava que eram negros. Só notei aqui em São Paulo, ao conviver, por questões profissionais, com negros racistas. Daqueles que jogam a moeda racial a todo instante. Se o garçom demora em atendê-los, lá vem o insulto: você é racista, está demorando porque sou negro. Ora, garçons demoram também para atender brancos.

Quanto a homossexuais, convivi com eles desde meus dias de adolescente. Sempre os vi como rebeldes que não aceitavam a ordenação social vigente. Falo no passado: agora querem casar na igreja, de preferência com véu e grinalda. Mas há um tipo de homossexual que me desagrada profundamente. É essa caricatura de mulher, a bicha. Da mesma forma, convivo tranquilamente com lésbicas. Mas há um tipo de lésbica que não suporto. É aquela caricatura de homem, estilo caminhoneiro. Penso que, para ser homossexual, ninguém precisa renunciar às características de seu sexo.

Assim sendo, defendo o sagrado direito de qualquer pessoa não gostar de árabes ou muçulmanos, de homossexuais ou heterossexuais, de negros, brancos, amarelos ou azuis. Não gostar é direito de cada um. O que não se admite é desrespeitar alguém por questão de religião, pele ou preferência sexual. Com uma nuança: me reservo o direito de crítica a religiões. Criticar não é desrespeitar.

Em meio a isto, está surgindo no Brasil um movimento que pretende proibir qualquer pessoa de não gostar de homossexuais. Há horas venho afirmando que a militância homossexual, que pretende proibir qualquer crítica ao homossexualismo, mais dia menos dia iria tropeçar com a Bíblia. Aconteceu.

Um projeto de lei anti-homofobia pretendeu proibir toda e qualquer crítica ao homossexualismo. Ora, o Levítico é claro: homossexuais devem ser mortos. Proibir críticas ao homossexualismo significa proibir a Bíblia. Verdade que há uma brecha: se um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher. Quanto às lésbicas, nada contra. Profitez-en, jeunes filles!

A senadora Marta Suplicy, que não abre mão do voto dos crentes, abriu uma exceção ao projeto de lei. Nos templos, seria permitida a condenação do homossexualismo. Com isto deixa claro que, fora dos templos, qualquer crítica ao homossexualismo está sujeita às penas da futura lei. Se um padre ou pastor ler o Levítico em um templo, tudo bem. Se ler em praça pública, cadeia nele.

Quem está patrocinando esta tal de legislação anti-homofóbica, como também o malsinado kit anti-homofobia, é o PT e adjacências. E só podia ser. Com a queda do muro de Berlim e o desmoronamento da União Soviética, as viúvas do Kremlin, saudosas da finada luta de classes, criaram agora outros conflitos. Se você for pesquisar os arquivos de jornais – e eu fiz esta pesquisa – verá que na década de 90 a palavra racismo se multiplica por mil na imprensa. Se a luta de classes obsolesceu, vamos agora jogar raça contra raça. Se isto não bastar, jogamos sexo contra sexo. Sem lutas, a Idéia – como se dizia no início do século passado – não avança.

O baiano Jean Wyllys de Matos Santos, que se elegeu deputado pelo PSOL graças à sua exposição no programa "Big Brother Brasil", vai mais longe. Hoje, em entrevista à Folha de São Paulo, falou sobre sua decepção com a suavização do projeto que trata da criminalização da homofobia. "Sabe o que é inaceitável? São as igrejas, por exemplo, financiarem programas de recuperação e de cura de homossexualidade. E o pastor promover esse tipo de serviço nos seus cultos. Homossexualidade não é doença."

Claro que não é. Mas vá alguém convencer um pastor de que não é doença! A Bíblia vai mais longe. Não é doença, é abominação. É normal que o pastor, em seu imenso amor pela humanidade - e pelos dízimos -, queira curar os doentes da abominação. Jean Wyllis quer que toda igreja que prega cura dos gays na TV seja punida. Eleito pela participação em um medíocre programa televisivo – aliás, qual não é medíocre? – o deputado sabe muito bem do que fala. Para um público de templo, o pastor pode pregar à vontade. O que não pode é pregar para um público de televisão. Pode acabar sendo deputado.

- As religiões têm liberdade – diz o parlamentar -. Está na Constituição. Os pastores são livres para dizer no púlpito de suas igrejas que a homossexualidade é pecado, já que assim o entendem. Entretanto, eu não acho que os pastores que estão explorando uma concessão pública de rádio e TV tenham que aproveitar esses espaços para demonizar e desumanizar uma comunidade inteira, como a comunidade homossexual.

Só porque a concessão é pública, os pastores devem ser censurados. Considero uma doença considerar homossexualismo como doença que deva ser tratada. Mas o que o deputado está afirmando, no fundo, é que a Bíblia pode ser lida nos templos. Mas não na televisão.

- Se incitarem a violência por meio de um entendimento de que a homossexualidade é uma degeneração, uma abominação, uma doença, um pecado grave e mortal, aí tem que ser enfrentado. E tem que ter janeruma lei que preveja esse tipo de crime.

O deputado quer criminalizar a Bíblia. Não pelos massacres que Jeová ordena, mas por questões menores, tipo comportamento sexual. Não vai ser fácil.

janer cristaldo

MALTHUS VERSÃO SÉCULO 21


O fantasma da tese de Malthus – a dissonância entre o aumento da população e o da produção de alimentos – foi exorcizado pela produtividade moderna, ou pode sê-lo onde a fome persiste, se complementada pela capacidade institucional, interna e internacional (OMC, FAO). Há bolsões de fome trágica, a exemplo do Sudão, mas a desnutrição ainda manifestada mundo afora resulta mais da falta de renda para adquirir o alimento que da produção insuficiente. Em contrapartida, preocupa a nova versão do fantasma malthusiano: a distância entre, de um lado, demandas essenciais à vida digna de 7 bilhões de seres humanos e crescendo (193 milhões no Brasil), como são emprego e renda, educação, atendimento à saúde, energia, transporte, habitação, água potável, saneamento, seguridade social, e por aí vai, a que se somam as demandas do modelo consumista e lascivo (o uso do carro…), e, do outro, a capacidade do Estado, da sociedade e da natureza (ameaça ambiental, exaustão de recursos naturais) de satisfazê-las. O tema é global, mas vamos desenvolvê-lo referenciado ao Brasil.

Até os anos 1970 o aumento populacional do Brasil era apoiado na ideia, avalizada pela doutrina da segurança nacional da época, que associava progresso e segurança de país extenso à população grande (difícil explicar Canadá e Austrália…) e via a população grande como mercado naturalmente também grande. Essa ideia vem sendo revista e já é consensual que população grande, pobre e mal preparada compromete o progresso em tranquilidade, o meio ambiente, a segurança e a qualidade da democracia. Não acompanhado pelo desenvolvimento com dimensão social, diferente do mero crescimento econômico, o aumento da população é socialmente aviltante, culturalmente mediocrizante e ambientalmente predatório. Haja vista a favelização desordenada, que cria preconceitos prejudiciais à solidariedade social, degrada o meio ambiente e induz a convivência conformada com o delito.

Nossa população aumentou de 30 milhões em 1920 (o Canadá hoje) para 193 milhões em 2011. Nesse período, nosso PIB cresceu a ponto de ser o sexto do mundo. A produção agropecuária acompanhou e ajudou a propulsar o crescimento econômico e demográfico (menos fome, mais saúde), mas a satisfação do imenso rol das demais demandas essenciais do povo, ou nele inculcadas pela sedução da modernidade, não ocorreu em ritmo similar – descompasso transparente no nosso modesto ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), no mundo. Muitas dezenas de milhões de brasileiros vivem hoje prejudicados pela educação medíocre, pelo caótico atendimento à saúde e pelo apoio social e infraestrutural precário, na ilusão da ascensão social via consumo em ene prestações. Ou sobrevivem na informalidade, no subemprego e assistencialismo, que envilecem a dignidade cidadã. Atraídos pelo fascínio do consumismo, mas não compelidos pela fome, muitos milhares praticam o delito como meio de vida.

É bem verdade que o poder público não foi competente na busca da compatibilização da evolução econômica com a social. De qualquer forma, teria sido difícil construir infraestrutura de apoio, instituições de ensino e de saúde e moradias decentes, organizar um modelo socioeconômico com empregos dignos e uma seguridade social eficiente e correta, para quase cinco Argentinas atuais em 90 anos, uma Argentina a cada 22 anos! O ritmo de crescimento da população vem caindo há 40 anos e se aproxima do (ou já é) razoável – o que exigirá (já exige na Europa) a revisão da previdência, que responda ao problema “envelhecimento das gerações da época prolífera versus inserção ativa de menos jovens”. Mas se aproxima do razoável com distorções interativas que complicam a redução do déficit: a base da pirâmide social o reduz mais lentamente que os estratos superiores e o Sul e o Sudeste relativamente ricos, mais rapidamente que as regiões onde a dívida social é maior. Quadro similar ao do mundo, como mostra a diferença entre a natalidade europeia e a africana.

A versão século 21 do fantasma malthusiano está longe de resolvida. Sua solução implica o complexo e demorado atendimento das demandas essenciais esboçadas acima e a revisão do imaginário que, a despeito das limitações, inclusive da natureza, pretende a população idilicamente motorizada e equipada com a miríade de utensílios de última geração, travestidos de necessários – iPads, notebooks, smartphones, videogames, TVs de alta definição, celulares, micro-ondas… -, turistando pelo ar ou em cruzeiros marítimos. Imaginário crescente na metade inferior da pirâmide social, cuja tradição conformista vem sendo aluída pela pressão da lógica do modelo em que a oferta cria a necessidade e a pretensão aos padrões dos estratos superiores. Estes, egoisticamente insensíveis ao fato de que a solução depende também do comedimento em seus padrões hedonistas instigadores de inquietante frustração de bilhões – da classe média (ou “oficialmente” assim interpretada no Brasil…) insatisfeita aos despossuídos.

A continuar o cenário atual de distanciamento (em algumas regiões, aumentando) entre a realidade e o desejado (o de fato justo e o incutido na aspiração popular), no correr deste século a ordem global será tumultuada pela intranquilidade social e política. Tendência já sintomática, por exemplo, na inversão da migração: ao tempo da ameaça original de Malthus, de europeus pobres para os espaços da esperança. Sob a pressão da versão século 21 da ameaça, a migração inversa, de asiáticos (decrescente com o desenvolvimento regional), africanos e latino-americanos para o suposto nirvana europeu e norte-americano, que, além de estar vivendo uma sucessão de crises, já é refratário à imigração, vista como carga social, competidora no mercado de trabalho e fonte de violência e delito.

Em suma, um desafio neomalthusiano para estadistas, no mundo e no Brasil.

30 de dezembro de 2011
Mario Cesar Flores
Fonte: O Estado de S.Paulo, 29/12/2011