Um painel político do momento histórico em que vivem o país e o mundo. Pretende ser um observatório dos principais acontecimentos que dominam o cenário político nacional e internacional, e um canal de denúncias da corrupção e da violência, que afrontam a cidadania.
Este não é um blog partidário, visto que partidos não representam idéias, mas interesses de grupos, e servem apenas para encobrir o oportunismo político de bandidos.
Não obstante, seguimos o caminho da direita. Semitam rectam.
"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)
"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...) A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville (1805-1859)
Se alguém tinha alguma dúvida sobre a percepção da população sobre a inflação, basta olhar o quadro acima, da pesquisa CNI-Ibope, publicada hoje. 57% da população desaprova o combate à inflação do governo do PT e da Dilma.
Será que já temos 57% de elite golpista no Brasil?
A eleição presidencial iraniana produziu dois resultados importantes: a vitória do candidato menos radical, Hassan Rouhani, e o fim do lamentável Mahmud Ahmadinejad, presidente desde 2005.
O presidente eleito fez campanha com o slogan “prudência e esperança”, o que está longe de ser uma plataforma arrojada, mas acenou com um ambiente de maior liberdade pessoal.
Muito relevante foi sua postura, como ex-negociador nuclear, favorável a uma redução das tensões nessa matéria entre o Irã e os principais países ocidentais para permitir o abrandamento das sanções do Conselho de Segurança da ONU que estão sufocando a economia iraniana.
Quanto a Ahmadinejad, ele teve um de seus poucos momentos de glória no dia 16 de maio de 2010, quando o presidente do Brasil ergueu seu braço e proclamou vitória no confronto com aqueles que queriam cercear o programa iraniano de “uso pacífico” da energia nuclear”. Deu no que deu: uma derrota esmagadora no Conselho de Segurança da ONU.
Ao fim de seu mandato, restam para o povo iraniano uma das maiores taxas de inflação do mundo, elevados índices de desemprego, violenta queda das receitas de petróleo em resultado das sanções internacionais da ONU.
Mestre da bazófia inflamada e das posições radicais, Ahmadinejad entra para a História como um pária internacional .
As eleições presidenciais do dia 14 de junho podem vir a reduzir a intransigência do regime. É óbvio que Rouhani, como aiatolá que é, não representa um opositor ainda que velado da teocracia. Alguns de seus predecessores
no cargo também eram clérigos xiitas e também buscaram uma abertura política, com êxito muito relativo. Quem detém o poder, acima de todos, é sempre o aiatolá Khamenei, “líder supremo”. Para usar a expressão de um estrategista político brasileiro do passado, o regime iraniano avança por sístoles e diástoles. Em todo caso, pelo que se pode ler na imprensa internacional, Hassan Rohani, que foi o negociador nuclear de seu país, é o mais moderado de todos os que disputarama eleição.
É interessante sublinhar que, mesmo com ênfases teocráticas e militaristas, o regime de Teerã promove regularmente transições de poder, fenômeno raro no Próximo Oriente. Contudo, como atesta a violenta supressão do Movimento Verde de protestos, com sua agenda reformista, em 2009, o Irã não é uma democracia nos moldes ocidentais.
Mestre da bazófia inflamada e das posições radicais, Ahmadinejad entra para a História como um pária internacional
Com a recentíssima eleição, o regime adquiriu indiscutivelmente mais legitimidade. A questão que se põe é se o Irã poderá desempenhar um papel internacional mais construtivo sob o próximo presidente. A busca de armas nucleares poderá abrandar, permitindo uma atenuação das sanções do Conselho de Segurança? Veremos.
Haverá modificação em outra coluna mestra da política regional de Teerã: o apoio ao regime sanguinário de Bashar Assad? Sabe-se que a ingerência direta do Irã nos assuntos da Síria e do próprio Líbano continua a atear mais fogo nos conflitos internos desses países.
Em minha opinião, o propósito de aumentar e consolidar sua influência em toda a região é um cânone do política externa iraniana que será mantido, seja qual for o resultado das eleições, com os métodos que forem necessários. Resta a conhecer quais métodos serão empregados doravante pelo Irã.
Se Rohani não tiver poder para alterar profundamente os rumos do Irã, enquanto durar o regime retrógrado dos aiatolás o país não poderá exercer na sua região uma influência positiva, no plano cultural e político, compatível com sua grande herança cultural, seu peso específico e a contribuição do segmento mais culto de sua população. O presidente eleito vai assumir suas funções com muitos desafios.
O primeiro deles será afirmar-se na política iraniana em meio às lutas entre ultraconservadores que sempre ameaçam o equilíbrio interno.
O segundo desafio estará em combater a crise econômica que deriva sobretudo do maior conjunto de sanções jamais impostas a um país e que cortaram mais de 50% das exportações de petróleo e gás do Irã. O terceiro teste de Rouhani será conseguir avanços nas negociações nucleares sem ser atacado internamente como um vende-pátria. Três enorme desafios.
A Pérsia foi a primeira superpotência da Antiguidade. Na época em que atacou a Grécia, sob Dario, em 490 AC, e dez anos depois, sob seu filho Xerxes, o império chegava à Índia e poderia ter-se firmado na Europa, não fossem as vitórias gregas em Maratona e Salamina.
Com os hebreus, os persas são os únicos povos antigos cujos textos sobreviveram nos tempos modernos. “A ascensão dos aiatolás tem sido um rebaixamento do país no sentido da violência feita às grandes tradições do passado iraniano”, como disse Robert Kaplan. Esperemos que Hassan Rouhani consiga reverter este curso.
19 de junho de 2013
Luiz Felipe Lampreia
Fonte: O Globo
É hora de fechar o cerco aos comparsas que debocham do povo com a celebração do legado inexistente da Copa da Ladroagem
Em outubro de 2007, tão logo a Fifa anunciou oficialmente que o Brasil seria o anfitrião da Copa de 2014, Lula e Ricardo Teixeira entoaram em dueto a introdução da ópera dos embusteiros: não será gasto um só centavo de dinheiro público, garantiu a dupla cada vez mais afinada. Passados sete anos, registra o comentário de 1 minuto para o site de VEJA, o ex-presidente enriquece como camelô de empreiteiro e o monarca destronado da CBF gasta em Miami o muito que roubou. Sobrou para os pagadores de impostos a conta da gastança que chegou nesta terça-feira a 28 bilhões de reais „Ÿ e continua subindo. O palanque ambulante e o cartola gatuno fazem de conta que não têm nada com isso. Lula também finge que não ouve direito uma das palavras de ordem berradas por centenas de milhares de brasileiros que se manifestam diariamente nas ruas do país: “Copa eu não quero, não. Quero dinheiro para saúde e educação“. Cumpre aos ativistas apressar o desmonte do monumento ao cinismo. Cancelar o evento esportivo que subordina o país aos interesses, aos caprichos e à arrogância da Fifa talvez aumente o tamanho do prejuízo. Pode ser tarde. Mas há tempo de sobra para aplicar o Código Penal aos delinquentes que enterraram em estádios inúteis o dinheiro que falta para reduzir as gigantescas carências do Brasil real. As multidões indignadas acabam de conseguir a redução das tarifas de transporte público. Os pais-da-pátria estão assustados com a descoberta de que a paciência aparentemente infinita acabou. É hora de intensificar a ofensiva contra os quadrilheiros „Ÿ políticos, empresários, cartolas e demais comparsas „Ÿ que continuam a debochar do povo com a celebração do legado inexistente da Copa da Ladroagem.
A voz que emana das ruas merece, acima de tudo, respeito. Ainda que não se saiba de forma exata quais são suas reivindicações mais amplas é extremamente saudável que os cidadãos tenham voltado a demonstrar sua capacidade de se indignar. O grito das multidões está mostrando que, mais que o conforto monetário, o brasileiro preza valores. De tudo, parece ser possível tirar um recado indubitável: o que se quer é mudança.
A voz que emana das ruas merece, acima de tudo, respeito. Ainda que não se saiba de forma exata quais são suas reivindicações mais amplas – que transcendem, e muito, a mera revisão de reajustes de passagens de ônibus – é extremamente saudável que os brasileiros tenham voltado a demonstrar sua capacidade de se indignar. De tudo, parece ser possível tirar um recado indubitável: o que se quer é mudança.
Há tempos se ouve e se lê que o brasileiro está satisfeito com o emprego que lhe é oferecido, com a prestação do financiamento que não lhe aperta o bolso, com a sensação de bem-estar que o dinheiro compra. Há tempos se diz que, tudo mais constante, o brasileiro não busca nada além disso; basta-lhe a sombra e a água fresca que a carteira pode garantir.
O grito das ruas diz outra coisa. Revela uma gente cansada de ver que as mazelas do país se aprofundam, que o vale-tudo é transformado em prática corriqueira, que a corrupção, a esperteza e o malfeito são aceitos e impostos como regra do jogo. O brasileiro está mostrando que, mais que o conforto monetário, preza valores, quer que a dignidade, a seriedade e o respeito prevaleçam. Isso não tem preço.
Há anos, somos tratados como um país de consumidores, não um país de cidadãos com direitos a serem respeitados e deveres a serem cumpridos. Há anos, a dignidade foi resumida a carnês de financiamento, a acesso a shoppings centers. Viramos um país que se contenta em consumir o presente sem construir e investir no futuro. A isso, as ruas dizem "não”.
As pessoas parecem ter se enchido do marketing cor-de-rosa, da publicidade enganosa, da propaganda mentirosa que mostra um Brasil que só existe em anúncios de margarina. Resolveram se indignar e mostrar que o país que elas querem não é este; o Brasil do futuro é outro, diferente e não cabe na camisa de força na qual o discurso oficial quer aprisioná-lo.
A voz dos manifestantes mostra que os que resolveram ocupar as ruas não aceitam mais ver a corrupção tratada com naturalidade pelos seus governantes. Segundo pesquisa do Datafolha divulgada hoje, esta era a razão manifestada por 38% das 65 mil pessoas que protestaram anteontem em São Paulo.
São pessoas que buscam demonstrar que não toleram ver o dinheiro pago em impostos sendo desperdiçado em más gestões, usado para beneficiar amigos do rei e da rainha, torrado em estádios – já são R$ 28 bilhões e serão bem mais – enquanto escolas apodrecem e postos de saúde e creches continuam só na promessa.
Este grosso caldo de rejeição e insatisfação encontrou na alta disseminada dos preços um catalisador poderoso. Um povo que se amedrontou com o monstro da hiperinflação e que lutou muito por reconquistar a estabilidade de sua moeda não aceita ver a carestia voltar a pôr em risco o conforto do seu presente e o direito de planejar o seu futuro.
Além de respeito, é necessário ter humildade ao tentar entender a mensagem das manifestações. Seus protagonistas parecem querer deixar claro que prescindem de tradutores, de intérpretes. Querem ter sua voz ouvida. É bom que seja assim, respeitado o sagrado estado democrático de direito e rejeitadas as ações violentas, como as vistas ontem em algumas capitais do país.
É repulsivo que alguns busquem apropriar-se de movimento tão espontâneo e autêntico. Como tenta fazer, por exemplo, o PT e governo federal em sua estratégia de metamorfosear-se e irmanar-se às manifestações como se não fosse também alvo dos que protestam.
Como quem se inspirou em Lampedusa e seu "O leopardo”, a presidente Dilma Rousseff disse ontem que seu governo também quer a mesma mudança que emana das ruas. Só se for para que tudo fique como está. Segundo O Estado de S.Paulo, até o anúncio de novos programas para beneficiar a juventude já está em estudo pelo governo petista, talvez na crença obtusa de que o grito da moçada será calado com migalhas e ilusionismos.
O PT e seus líderes querem tratar a voz aguda das multidões de maneira oportunista. Provavelmente, creem que é possível manejar a insatisfação por meio de reuniões de seus "estrategistas”. Revelam não ter compreendido nada e, pior ainda, demonstram que continuam a crer que com sua esperteza são capazes de transformar a massa em matéria-prima para suas manobras. Juntam-se a cegueira e a surdez.
A pauta dos manifestantes pode ser por demais ampla, difusa e às vezes até confusa. Mas baseia-se em insatisfações que se referem a fatos reais, a problemas cotidianos, a dificuldades diárias. Quando o povo, enfim, se manifesta por si próprio, cabe a quem governa, a quem tem o poder de decidir e intervir no futuro do país respeitá-lo, ouvi-lo e agir. É o primeiro passo para que mudanças verdadeiras aconteçam.
Um surto de manifestação como o que se espalhou pelo Brasil nos últimos dias
nunca tem uma explicação simples. É preciso humildade para admitir que ele não
está inteiramente compreendido. Existem pistas. Ele tem a vantagem de quebrar a
convicção de que o brasileiro suportaria todo o desaforo sem reagir: da
deterioração dos costumes políticos ao desconforto econômico. Há razões conjunturais e outras mais antigas para justificar qualquer
manifestação de protesto no Brasil. A inflação está alta há muito tempo, o nível
de inadimplência cresceu e isso eliminou o amortecedor que o crédito vinha
exercendo, o desemprego de jovens chega a quase 16% em São Paulo. No início da nova legislatura, o Congresso escolheu, para presidentes das
duas Casas, líderes e integrantes de comissões que foram vistos como um acinte
pela população. A lista com 1,3 milhão de assinaturas coletadas em tempo recorde
contra Renan Calheiros na presidência do Senado foi ignorada com desprezo.
O mamútico governo federal, montado com 39 ministérios, faz anúncios
sequenciais de planos que não se transformam em realidade. Em cada
pronunciamento de sua campanha eleitoral antecipada, a presidente Dilma desenha
um país cor de rosa onde tudo está resolvido, exceto por alguns da “turma do
contra”. Ontem, ela elogiou o movimento das ruas. Falta só agora conciliar o elogio
aos protestos com a sua visão de que o governo faz tudo certo, que o país vai
muito bem, e só os que torcem pelo pior é que não reconhecem. O movimento é heterogêneo, apartidário, sem lideranças claras. As
reivindicações são muitas. Como em qualquer onda de descontentamento, há sempre
um estopim. Desta vez foi o aumento da tarifa de ônibus, que havia sido adiado.
Mas o estopim é só isso: a gota que transborda o copo já cheio pelos desaforos
diários. O Brasil sofre uma aguda crise de representação política. Nossa democracia
envelheceu precocemente pela repetição do jogo dos conchavos, pelas escolhas
erradas para cargos importantes, pela mesmice de oligarquias que controlam
partes da federação e nacos da administração pública. Ainda que o protesto seja contra políticos em geral, e todos devem pôr suas
barbas de molho, é preciso ponderar um fenômeno recente. O governo do PT cooptou a maioria das organizações de representação da
sociedade civil. Sindicatos e centrais sindicais, algumas ONGs, movimento
estudantil, e até o Movimento dos Sem-Terra, recebem recursos federais e ficam
na órbita do governo. Já não representam os interesses dos representados. A UNE acaba de eleger sua nova presidente. Mais uma vez não se sabe como foi
a escolha, mas já se sabia de antemão que seria do PCdoB. Como tem sido por
décadas. Há muito tempo a UNE deixou de justificar o nome e virou um feudo do
partido da base governista. É plataforma de lançamento do partido. Na economia, a inflação de alimentos está em 13,5% e tem estado
persistentemente em níveis altos, a de serviços está em 8,51%, as famílias já
comprometem quase um quarto da sua renda mensal com o pagamento de dívidas. O desemprego de jovens tem índices de 12,6% no Rio, 15,9% em São Paulo e
17,4% em Salvador. Nada disso é novo, mas o torniquete foi rodando. Famílias com
ambições recentes alimentadas pela abundância do crédito já sentem o efeito
colateral. Para a imprensa, o desafio é enorme diante de tantas demonstrações de
protesto. O maior erro dos jornalistas e das pesquisas de opinião foi não ter
percebido o avanço do descontentamento. Mas, se nessa pilha de motivos para a insatisfação fosse necessário escolher
um, talvez o mais acertado seja essa sensação de divórcio entre os governantes e
os brasileiros. Movimentos como esse produzem alguns excessos, mas sempre
fortalecem a democracia. É preciso ouvi-los.
Uma das perguntas que mais ouvi nestes últimos dias foi sobre as semelhanças
e diferenças entre as manifestações de agora e as de 1968. Seria a reedição 45
anos depois de um modelo-matriz ou um fenômeno de massa inteiramente novo? Ou
seria um pouco de cada coisa? Talvez isso. Começando pelas mudanças: o país não vive mais numa ditadura (embora a
polícia às vezes tenha agido como se vivesse); os jovens não pertencem mais a
uma só geração, mas a diferentes tribos. E, sobretudo, existe hoje a onipresente
internet, capaz da mobilização instantânea, viral e sem limites. Distantes os
tempos em que a organização de uma passeata exigia longa preparação e
intermináveis discussões em assembleias. De semelhante entre os dois momentos, permanece a disposição estudantil que
parecia anestesiada, como também naquela época (na França, um sociólogo
perguntava: “Por que não acontece nada por aqui?” No dia seguinte, Paris pegou
fogo). De igual ainda, o sentimento difuso de insatisfação, que é cumulativo e não
depende apenas de uma única motivação ou pretexto. Vem vindo, vem vindo até que
uma gota (ou alguns centavos) no pote até aqui de mágoa provoca o
transbordamento.
Os sinais emitidos nem sempre são captados, porque parecem desconectados,
quando na verdade estão formando uma rede com poder de contágio. Só o governo
talvez não tenha percebido que o fantasma da inflação, a corrupção desenfreada,
a incerteza econômica, a alta no custo de vida, a queda de oito pontos na
popularidade de Dilma, a vaia no estádio Mané Garrincha, tudo isso fazia parte
do mesmo e crescente caldo de rejeição. Pelo menos uma lição de 68 não foi aprendida e assim não se evitou o
incidente mais lamentável das manifestações do Rio: coquetéis molotov atirados
contra a Alerj e carros incendiados na marcha dos 100 mil anteontem. Em julho de 68, na lendária Passeata dos 100 Mil, Vladimir Palmeira, o líder
do movimento no Rio, convidou os participantes a se sentarem no chão, o que
proporcionou a Nelson Rodrigues uma fina gozação. Segundo ele, médicos, poetas,
atrizes, sacerdotes, todos obedeceram. “A única que permaneceu de pé e assim
ficou foi uma grã-fina, justamente a que lera as orelhas de Marcuse”. Muito tempo depois, Vladimir explicou o que pretendeu com o gesto: demonstrar
as “intenções pacíficas da manifestação para a polícia e para alguns
companheiros”. Assim, os “porra-loucas” desistiram de invadir rádios, como
queriam, e os policiais não ousaram bater em pessoas sentadas no chão, inclusive
freirinhas.
19 de junho de 2013
Zuenir Venturaé jornalista. O Globo
O que quer a multidão que saiu às ruas, sem liderança, sem bandeiras claras?
Os cartazes carregados por eles dão algumas pistas...
Os gritos animados de “é só o começo!” ainda ecoam nos meus ouvidos. Ainda
meio atordoada com o movimento inesperado das ruas e acreditando na disposição
dos que bradam que só está começando, pergunto-me: É só o começo de quê? Há dias
me questiono: para onde vai essa história? Algumas características dessa multidão meio sem forma que tomou as ruas
brasileiras podem ser percebidas se olharmos um pouco mais perto as
manifestações. Acompanhei os manifestantes em São Paulo e uma das coisas que observei, em
meio à multidão, na última segunda-feira, foi que a qualquer movimentação mais
agressiva de algum participante, o grupo gritava: “Sem depredar!!!”, preocupado
com o que havia acontecido em outras manifestações e tentando evitar que se
repetisse. Outro pedido constante: “Sem partidos!” era ouvido sempre que as bandeiras de
tradicionais partidos políticos de esquerda (como PSOL e PSTU) eram
erguidas.
Foto: Romulo de Sousa / G1 AM A juventude sem partido é também a juventude sem bandeiras. Ou com muitas
bandeiras. Ou melhor, com cartazes nas mãos – vi centenas deles – escritos com a
velha técnica cartolina /canetão, que tanto ajudou nossos pais, e os avós deles,
nas manifestações pró-democracia. Mídia rápida, barata, que passa longe da tecnologia, e que permite gritar o
que se queira e mudar de demanda quando se bem entender. Cartazes são leves,
podem ser escritos na hora, podem ser compartilhados, transmitem mensagens
instantâneas, para quem está perto e também para quem está fotografando. A tecnologia das redes sociais ajuda a reproduzir o que foi escrito no papel.
Uma análise geral desses cartazes ajuda a entender um pouco do que está
acontecendo: “Justiça!”; “Liberdade aos manifestantes presos”; “Fora Feliciano”; “Fora
Alckmin”; “Fora Dilma”; “Fora Haddad”; “Não a Belo Monte”; “Educação para
todos”; “Fim da corrupção”; “Abaixo a repressão”; “Não pagaremos mais R$0,20”;
“Não é só por R$0,20”! Esses foram alguns dos cartazes que vi nas mãos dos
manifestantes, havia dezenas, centenas de outros com as demandas mais
variadas. Essa quantidade de reivindicações mostra uma insatisfação geral, não focada,
de uma geração que parece ter suportado todo tipo de incômodo calada, protegida
do mundo real atrás das telas de computadores e que agora parece ter percebido a
força que a presença física e a multidão têm. E isso dá gancho para entendermos
mais alguns cartazes que encontrei por lá. Havia um grupo de manifestantes que apontava para a própria participação no
ato: “Saí do Facebook”; “Verás que um filho teu não foge à luta”; “O gigante
acordou”. Gritos de uma geração acusada de ser omissa, acomodada, alienada. E
que, agora, resolveu se mostrar e mostrar que está se mostrando. Seriam
alienados ou seriam superprotegidos? Meninos de classe média, “criados com leite A”, que não teriam nenhum motivo
para protestar, como diria Arnaldo Jabor, antes de pedir desculpas e reconhecer
que errou. “Rebeldes sem causa”. Não teriam causas mesmo? Ou será que nós, já
mais velhos e que tanto defendemos o direito de ir às ruas protestar, os
educamos para que não tivessem motivos – ou achassem que não têm? Entendo a surpresa de quem, como Jabor, num primeiro momento, não compreendeu
o que eles estavam fazendo e porque estavam fazendo. Fomos todos surpreendidos!
Eles não estavam alheios, embora pudessem, eles mesmos, acreditar que
estivessem. Uma das minhas ex-alunas, hoje uma jovem jornalista, me escreveu “É difícil
livrar-se de um estereótipo imposto... Cresci (crescemos) ouvindo que os jovens
de hoje são despolitizados, apáticos”. Eles querem mostrar que não são e esses
cartazes apontam para isso. A “geração leite A” viveu protegida demais do mundo
e isso nos leva para um terceiro grupo de cartazes. Um dos slogans dessas manifestações é “Vem pra rua!”. Ele é curioso, já parte
de uma inversão, pois surgiu de uma campanha feita pela FIAT para a Copa das
Confederações que convoca a participação do povo na festa e afirma: “Vem pra rua
porque a rua é a maior arquibancada do Brasil”. O “vem pra rua”, assim transformado, assusta os organizadores da própria
competição esportiva. Porque eles, os manifestantes, não querem ir para a rua e
ficar na arquibancada. Eles querem a rua como palco. O “vem pra rua” que foi transformado em hashtag nas redes sociais e aparecia
em grande quantidade nos cartazes, fazia um convite inusitado, vindo de quem
veio. Historicamente, a ocupação do espaço público foi um dos grandes impulsos /
impulsionadores do homem moderno. O moderno era o homem que queria ver e ser
visto, circular pelo espaço público, “estar entre”. Com o passar do tempo, sobretudo a partir do final do Séc. XX, a rua que
atraia passou a expulsar. Os excessos da modernidade (barulhos, poluição, gente,
violência, movimento) fizeram com que esse mesmo homem se afastasse do espaço
antes ocupado por ele. Em grandes cidades, como São Paulo, fomos criando bolhas de segurança e
passamos a viver dentro delas, buscando um certo isolamento do ambiente que
tanto nos atraia no passado. Bolhas-carros, bolhas-condomínios, bolhas-shopping
centers. Bolhas que nos deram certa segurança artificial e que, como consequência, nos
fizeram abandonar o nosso espaço público, o espaço público que ajudou a criar o
que somos hoje. A geração que hoje convida: “Vem pra rua” e que não aceita o “Vocês não podem
estar aí” é exatamente a geração criada em bolhas. Eles quiseram tomar a rua da
qual sempre foram protegidos. Eles estouraram a bolha. A análise dos cartazes e dos gritos entoados nas manifestações das últimas
semanas ajuda a entender um pouco o cenário. Mas não permite perceber o que vai
acontecer agora. Uma força enorme, sem lideranças, sem bandeiras claras é também uma força
suscetível a virar massa de manobra ou a ser convencida por líderes de todo
tipo. Pode apagar-se, exatamente por falta de foco ou porque acabou a graça da
novidade. Ou pode significar mudança. Talvez as mudanças de que tanto
precisamos. Vou continuar de olho na rua para tentar entender um caminho que me parece
cheio de riscos, mas também de possibilidades. Por enquanto, estou entre o “E
agora?” e o “É agora?”
19 de junho de 2013
Denise Paiero é jornalista e professora de Jornalismo na
Universidade Presbiteriana Mackenzie, Doutora e Mestre em Comunicação e
Semiótica.
Dilma só se assusta com passeatas, enquanto Dólar sobe, e Lula já admite trocar Mantega por Meirelles
Perguntinha que não quer calar: Por que a Presidenta Dilma Rousseff perdeu ontem, tanto tempo, em reuniões fechadas em um hotel paulista com o ex-Presidente Lula da Silva, seu marketeiro João Santana, e os ministros Gilberto Carvalho e Aloísio Mercadante, para tratar do tema “passeatas e protestos fora de controle e sem liderança política concreta”, em vez de concentrar atenção em assunto mais fundamental para o País, como a alta persistente do Dólar, que vai gerar inflação e ferrar todos os brasileiros?
A resposta é bem simples: os petistas só se importam com aquilo que pode representar um risco imediato de desgaste para uma futura perda de poder. Eles só esquecem que o pirão econômico desandando tem o mesmo efeito dos protestos sem fim e causa. A irresponsabilidade do governo com a questão econômica ficou ainda mais clara e evidente com a estranha sinceridade do presidente do Banco Central do Brasil, Alexandre Tombini, que admitiu no Senado que a cotação do Dólar em relação ao Real continuará subindo.
Tombini alertou para “momentos difíceis e trepidações” que o mercado de câmbio sofrerá. O BC do B já está pronto para fazer novas intervenções na vã tentativa de segurar o Dólar – mais tenso que a garotada das passeatas. Só ontem, foram duas intervenções. Assim, a economia brasileira permanecerá refém da alta da moeda fabricada e controlada pela Oligarquia Financeira Transnacional - dona do Banco Central privado dos EUA, o Federal Reserve.
O Dólar não sai às ruas para protestar contra tudo de errado que acontece no Brasil, mas fará grandes estragos se continuar se valorizando. Tirando os exportadores (que ganham com as subidas), o resto todo mundo se dana. Desgraça maior para empresas com dívidas em moeda estrangeira.
Tragédia enorme para a Petrobrás – que aumenta seu rombo de caixa com a importação mais cara de combustíveis, sem que o acionista majoritário (governo) autorize um reajuste dos combustíveis (para segurar o aumento do custo de vida e da inflação). Indústrias que dependem de insumos importados também gastam mais, e tendem a repassar sua maior despesa para os preços.
Depois da declaração do presidente do BC do B na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, ninguém duvida que o Dólar pode chegar, facilmente, aos R$ 2,20 – ou até acima disto. Diante das incertezas econômicas, o mercado volta a especular politicamente com um eventual retorno do ex-Presidente do BC do B, Henrique Meirelles, ao governo. Meirelles iria para o lugar do ministro Guido Mantega – que já cansou de pedir para sair da Fazenda. Dilma até gostaria de atender o desejo do apadrinhado de Lula, mas isto seria admitir que algo não vai bem na economia.
A verdade é que a especulação na economia assusta mais a turma da Dilma Rousseff que a onda de passeatas ainda inorgânicas, sem um foco específico, apesar do aparelhamento político-ideológico inicial. O problema é que o governo, por motivos políticos, não pode passar um mínimo recibo de probleminhas ou fracassos. O que fica mais difícil a cada dia é a pirotecnia para esconder que a situação só vai bem na propaganda oficial.
Por enquanto, o ente mercado e sua bolsa de valores ainda não são diretamente afetados pela onda crescente de protestos nas ruas dos grandes centros urbanos (com episódios pontuais de radicalização e violência banal bem programada, como anteontem no Rio de Janeiro e ontem em São Paulo. Mas na hora em que o “Inverno Brasileiro” começar a mexer com os ânimos e expectativas mercadológicas –focando em problemas econômicos bem concretos, como a alta absurda do custo de vida e dos impostos que inviabilizam o Brasil, aí sim o bicho vai começar a pegar.
FIFA PT DA VIDA COM A MOCINHA
A charmosa Carla Dauden esculhamba o Brasil em um vídeo que virou febre no YouTube.
Ela demonstra conhecer melhor o Brasil do que muito jovem que agora anda protestando nas ruas contra tudo e todos...
Em outro planeta?
De Joseph Blatter. Chefão da FIFA, analisando a conjuntura de protestos – inclusive contra a Copa das Confederações e a Copa do Mundo de 2014:
“Temos uma competição muito boa e estou seguro de que as manifestações vão se acalmar. O Brasil é um país que preza pela liberdade. Eu posso entender que as pessoas não estão felizes. Mas o futebol está aqui para unir as pessoas. O futebol está aqui para construir pontes, para trazer emoções, para trazer esperança. O Brasil nos pediu para sediar a Copa do Mundo. Nós não impusemos a Copa do Mundo ao Brasil. É evidente que foi preciso construir estádios, que não são a única coisa de uma Copa do Mundo: há estradas, hotéis, aeroportos e muita coisa que são itens que ficam como legado”.
Pois é exatamente o desejado legado, em estradas, hotéis, e aeroportos que não saíram e nem devem sair do papel ou melhorar suas condições depois das dispendiosas competições de bola no Brasil – que darão muito lucro para a FIFA e seus parceiros...
Virando de costas
Protesto programado a pedido das redes sociais para o começo do jogo entre Brasil e México, às 16 horas, no Castelão, em Fortaleza.
Assim que começar a tocar o Hino Nacional Brasileiro, todos devem ficar de pé na arquibancada, porém de costas para o campo e para a seleção.
Torcedores-manifestantes também prometem o protesto “Mais pão, menos circo” antes do jogo pela Copa das Confederações.
Fora, Dilma
Já começa a circular, nervosamente, nas redes sociais, o pedido de assinatura para um impeachment da Presidenta Dilma Rousseff.
Vai dar em nada – como de costume -, mas se tiver muitas assinaturas vai aumentar o desgaste político do desgoverno petralha:
A campanha acima também circula a todo vapor no Facebook – o que comprova a tese do professor Fabrizio Albuja de que o Mark Zurkerberg inventou mesmo um jeitinho eficaz de ferrar com a petralhada...
Promete julgar?
O jovem ministro José Antônio Dias Toffoli prometeu ontem julgar o recurso apresentado pelo PT contra a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de aprovar com ressalvas as contas do partido no distante ano de 2003.
Toffoli só não disse quando vai cuidar do caso, alegando que tem muitos outros processos na frente deste do PT...
Toffoli deveria ser impedido de avaliar tal caso por vários motivos, principalmente por ter sido advogado eleitoral do PT na época da bronca com as contas irregulares do mensalão e, pior ou tão grave ainda, por ter julgado a Ação Penal 470 no Supremo – que sacramentou a ilegalidade criminosa nas contas do PT.
Já planejaram a Rota de Fuga?
Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus.
19 de junho de 2013Jorge Serrão é Jornalista, Radialista, Publicitário e Professor. Alerta Total
O garotão aí da foto acima bem que podia estar no tsunami de passeatas que toma conta do Brasil. Mas sua condição de completa indigência não permite. Hoje ele é um septuagenário que o governo petista condena ao exílio no próprio País – em um dos mais escandalosos casos de violação dos direitos humanos na história presente da humanidade.
Na fotografia, José Anselmo dos Santos, um Marinheiro de primeira classe, era tido e venerado pela imprensa, nos idos de 1964. O tal do “Cabo Anselmo” era apontado como o grande agitador das massas no Brasil naquela época.
Agora, em 2013, Anselmo tem negado pelo governo o simples direito a uma carteira de identidade e a uma aposentadoria. Sem falar no direito à anistia política (como centésimo cassado pelo Ato Institucional número 1 de 1964) que lhe foi criminosa e ilegalmente negada pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça.
Quem tem coragem da ajudar a salvar a vida e recuperar a identidade perdida de um brasileiro que já pagou pelos erros ideológicos que cometeu no passado?
Aquele que se habilitar e tiver coragem, publique aqui seu comentário ou mande um e-mail reservado paraserrao@alertatotal.net
Todo mundo já passou por uma situação em que gastou dinheiro à toa em alguma coisa que, no fim das contas, não tem utilidade nenhuma.
Esses canais de televisão que vendem aquelas bugigangas fantásticas que fazem tudo em poucos segundos e no fim das contas dá tanto trabalho para a preparação do evento que fazer as coisas à moda antiga é mais prático.
Um dos exemplos muito comuns é a tal da bicicleta ergométrica. É vendida como esperança de emagrecimento, melhoria do condicionamento físico, qualidade de vida e no fim o legado é a diminuição da calça jeans na cintura.
No começo são horas de tortura e suor gastando os pedais e fazendo a pessoa se sentir um atleta profissional peso pesado. Logo após, a rotina se transforma em obrigação moral e em seguida uma chatice.
Com o tempo, a bicicleta ergométrica passa a ocupar espaço no meio da sala, vira mancebo para pendurar roupas, perde a sua função e na primeira oportunidade ela some mediante um simples anúncio de internet. O investimento passou a ser um grande arrependimento, além de jogar dinheiro fora.
Pois bem, guardadas as devidas proporções, a Copa do Mundo se transformou na nossa bicicleta ergométrica de 28 bilhões de reais. No começo é empolgação, propaganda e até certo ganho imediato, mas após isso, o tal legado vai trazer apenas construções inúteis que ocupam espaço e somente os “corretores” desses imóveis saíram ganhando.
No lugar da bicicleta poderia ter comprado um livro... Imagina investir 28 bilhões em educação?
Pacto de favores
Num país de terceiro mundo, a maioria das pessoas não tem interesse algum pela política. Principalmente porque a política não se faz interessante, já que para entender o significado real de política há que simplifica-la ao máximo e não há cultura suficiente para tal.
Criada na Grécia Antiga, política no fim das contas é troca de favores. E favor não tem valor exato, inflaciona, nunca equilibra, é subjetivo, possui variáveis, é incrédulo, falso, dinâmico e emocionalmente chantagista.
Assim, o Governo atual chegou ao poder mediante a troca de favores. Quem o garantiu foram as empresas automobilísticas nas quais ele teve seu casulo gerado. Em seguida evoluiu como um tumor e no fim se transformou numa bela estrela vermelha. Que coincidência, nunca se vendeu tanto carro neste país.
Para isto foi necessário um novo favor, a abertura do crédito. A tal melhoria na economia é uma falsa ideia de elevação das classes sociais. As classes C e D têm a oportunidade de algumas regalias das classes A e B, mediante um pacto com o diabo ou, melhor dizendo, o pagamento parcelado.
Assim foram gerados esquemas oficiais de agiotagem que vivem em base da amarração dos juros e do tal rotativo, desta forma, novos favores apareceram. Foi então que a derrocada da lógica da ideia do significado de política dá lugar ao “rabo preso”. Chamamos isso de corrupção.
Se o crédito é facilitado para supérfluos, também deve ser para conhecimento, para tecnologia, para informação. O grande erro estratégico da estrela vermelha foi justamente subestimar as variáveis nas quais, por mais chata e desinteressante que seja a politicagem, as pessoas estão tendo acesso a esse tipo de informação, cada vez mais.
Não deixaremos de ser um país de terceiro mundo por conta dos atos revolucionários, mas quem sabe essa educação autodidata da taxionomia da política nacional gere uma ação quimioterápica na administração pública.
19 de junho de 2013Fabrizio Albuja é Jornalista e Professor Universitário.