"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 3 de junho de 2012

DESENTUSIASMO



Ruth Costas, correspondente da BBC Brasil em Londres, escreve um alentado artigo intitulado “Desaceleração estoura ‘bolha’ de entusiasmo com o Brasil”, do qual apresento aos leitores um extrato:

“Nos últimos anos, quando o Brasil ganhou a preferência de investidores estrangeiros, os holofotes da mídia internacional e, de quebra, o direito de sediar uma Olimpíada e uma Copa do Mundo, o termo “Brasilmania” passou a ser usado para referir-se ao crescente interesse internacional pelo País. Richard Lapper, do Financial Times, jornal inglês, diz que, no mercado, o clima é de que a festa brasileira acabou. Nouriel Roubini, economista conhecido, informa que, da mesma forma como o Brasil subiu com os preços das commodities, pode cair com uma eventual desvalorização dos mesmos provocada pela desaceleração da economia chinesa. Recomenda aos investidores um choque de realidade em relação a isso.
Neil Shearing, da consultoria Capital Economics, em Londres, um dos analistas “decepcionados” com o Brasil, diz que o problema é que o crescimento brasileiro ficou atrás não só dos outros Brics, mas também de outros latino-americanos, como o México: “Havia uma bolha de entusiasmo pelo Brasil – e agora ela estourou”.

Para a Foreign Policy, por exemplo, o escritor e jornalista Bill Hinchberger defendeu que o crescimento de 2,7% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2011, fez o Brasil “acordar em uma quarta-feira de cinzas” de ressaca da euforia do crescimento da década passada. “O carnaval acabou”, anunciou.

A revista The Economist ilustra um artigo sobre as “fraquezas” da economia brasileira com uma imagem grandiosa: um boi debatendo-se para tentar sair de um pântano.

Marcos Troyjo, da Universidade de Columbia, em um artigo para a BBC Brasil, apesar de a Brasilmania ter feito muitos acreditarem que o PIB do Brasil “estava destinado a um ascensão irresistível e sem escalas”, o País não aumentou muito sua fatia da economia global na última década e só consegui tornar-se a sexta economia do mundo por causa do real valorizado. No plano internacional, o foco das preocupações hoje são as incertezas sobre a zona do euro e a as perspectivas de um desaquecimento da China – cenário que levaria a uma redução das exportações brasileiras e desvalorização das commodities.

O consultor britânico Simon Anholt: “O Brasil era em 2011 o único País em desenvolvimento entre os 20 mais admirados”, explica. “Mas curiosamente a sua imagem mudou pouco mesmo nos anos de bonança, estando fundamentalmente ligada a chavões como futebol e carnaval. É um País que desperta carinho, mas não respeito.”

Como se vê das posições mundiais que Ruth enumera, é hora da senhora dona presidente, como costuma dizer o Magu, botar as barbas de molho porque, com o “staff’ de incompetentes que ela tem, logo a tripulação de ratos começarão a abandonar o navio. E nós, infelizmente, somos os passageiros. Outro Titanic anunciado?

Elgien
03 de junho de 2012

RESENHA


O que me interessou em falar a respeito foi a legenda que Augusto colocou junto da foto que ilustra este texto, coisa que me tocou muito, de quem sabe escrever:


“Getúlio entre a multidão, que viria a idolatrá-lo durante seus anos de governo: a platéia da política brasileira continua a mesma, desinteressada dos rumos da nação; já o elenco mudou dramaticamente, e hoje, em vez dos atores brilhantes de ontem, é composto de canastrões incuráveis e celebridades que não se dão nem merecem respeito.”

Poucas vezes tive chance de ler uma conclusão tão lúcida, que, em tão poucas palavras, sintetizou o ambiente de nosso país, fazendo uma similitude com uma peça teatral, melhor dizendo uma tragicomédia, do que é a política brasileira.
Em certo momento do texto crítico, diz que os netos dos que viam em Getúlio o “pai dos pobres” agora enxergam no etílico príncipe de Caetés o “exterminador da fome”, e ainda aplaudem as oníricas proezas imaginárias da pretensamente super-executiva exterminadora dos gêneros da escrita portuguesa.
Encômios a Augusto Nunes, que ele merece.


(*) Foto: Getulio Vargas saudando a multidão

03 de junho de 2012
Magu

HORA DE ACORDAR

Durante todo o perigo de euforia de um “Milagre Econômico” cantado em prosa e verso pela equipe do governo Lula e posteriormente do governo Dilma, os cronistas deste Blog se sentiram “cassandras” (*) , pois não conseguiam enxergar como o Brasil poderia evitar problemas mais à frente.

A imprensa internacional também se iludiu ou foi bem remunerada para nada mencionar quanto à impossibilidade de permanecer um país de ‘Marolas”num mundo de macaréus. Até dez meses atrás seguia ecoando as loas da imprensa chapa branca do Brasil. Notícias positivas na imprensa brasileira pareciam alimentar notícias boas na imprensa internacional que por sua vez realimentavam a euforia da imprensa dentro do Brasil.


 

Sutilmente, lentamente, revistas como a The Economist e o jornal Financial Times começaram a recuar, a ver o problema da perda de empregos no setor industrial, na queda do valor das commodities, no custo inerente às más estradas que não são consertadas, a malha rodoviária que não é expandida, nos portos obsoletos. É como se o Brasil tivesse sido um anunciante pagando bem por manchetes positivas num jornal de repente tivesse deixado de anunciar.

Contudo, subitamente o periódico Foreign Affairs, uma publicação trimestral (outono/inverno/primavera/verão) em formato de livro/brochura do Council for Foreign Affairs se manifesta. É importante notar que as pessoas que são convidadas a escrever nessa publicação normalmente são do primeiro time.

Na década de setenta quando todos tentávamos entender melhor o Japão um dos que escreveu sobre o sistema de convivência governo-empresa do Japão foi Peter Drucker.
Quando ficou claro que a CIA devia ser desmontada e montada de novo, lá por 1974-5 a revista pediu uma análise do Almirante Stansfield Turner. Vinte e quatro meses depois Turner assumira direção da CIA.
Um dia, ainda nos anos setenta, li um artigo do líder do minúsculo Partido da República, na Itália. Tempos depois ele surgia como primeiro-ministro de consenso num dos muitos momentos difíceis da vida republicana da Itália.
Pois bem, a edição de primavera contém uma análise de Ruchir Sharma, diretor de Commodities e Assuntos Globais da Morgan Stanley sobre as perspectivas de continuar a driblar a crise de 2008.
Deixa claro que se a China não estivesse percorrendo os fornecedores do mundo atrás de commodities o Brasil jamais teria tido essa sensação de bem-estar. Praticamente diz que o governo, nos últimos nove anos pegou uma onda chinesa.
Caso contrário teria sido necessário construir algo mais permanente em cima da estabilização deixada pelo governo FHC.

Fica claro que o investimento em educação de qualidade e fatores infra-estruturais foi insuficiente, e que o país dependerá de programas mais sérios neste sentido para aproveitar, dentro de alguns anos a próxima fase boa dos mercados mundiais, mas que o Brasil já interdepende tanto do seu relacionamento com os grandes mercados que a ambição de viver do intercâmbio com a América Latina não tem como atender as verdadeiras necessidades, se for para manter na classe média os milhões de pessoas que teriam nela ingressado nos últimos anos.

Este claramente vê que não se pode depender de impostos altos, juros altos mas taxas de investimento baixas, extensas políticas de subsídios sociais, tudo isto pendurando nos setores de commodities num mundo em que grandes pulmões do sistema estão em crise.
Ou seja, como estamos carecas de saber. O Brasil precisa ser governado por cabeças pensantes. Não larápios assaltantes

(*) Vidente da mitologia grega. Por recusar-se a deitar com Apolo este colocou um feitiço que fazia com que as pessoas não acreditassem nela. Assim, apesar de ter avisado Priamo de Tróia de que deveria destruir o Cavalo de Madeira não lhe deram ouvidos, o cavalo foi trazido para dentro das muralhas e Tróia caiu.

(*) Fotomontagem: A “presidenta” com cara de cachorro que quer brigar e o ministro da fazenda com a do gato que quebrou o pires.

Ralph J. Hofmann
03 de junho de 2012

"MEU PRIMO ANARQUISTA"

CRÔNICA

Esse meu primo nascera em 1900 e emigrou para o Brasil pelos anos 1920, numa época que a Itália, especialmente a sua região, era expulsora. Chegou à Santos e seguiu direto para São Paulo, arranjou logo um emprego num restaurante como lavador de pratos, mas ficou sem ter onde morar e antes de receber seu primeiro salário e poder ir para uma pensão, durante a noite, por ser verão, dormia num banco do Jardim da Luz.
Uma vez estando em seu “banco moradia” viu um casal de namorados que discutiam, a moça foi embora e o rapaz desolado foi sentar-se nesse dito banco, mas falava sozinho e xingava em dialeto vêneto, foi o gancho para que ele fizesse sua primeira amizade no Brasil. Começaram a conversar no idioma mater, o namorado desiludido perguntou onde morava e ao saber que era naquele banco convidou o conterrâneo a ir dormir em sua casa.



Esse último chamava-se Ferruccio, viera com a família em 1912 e era de fato meu primo, pois sua mãe era irmã de meu avô materno, mas essa é outra história.

Seu nome era Luigi Carlo Cariner, ficou morando num quarto na casa de minha tia avó, deixou de lavar pratos e foi ser vendedor dos produtos da fábrica de cerâmica que seus hospedeiros possuíam. Vendeu tão bem que um dia foi até a patroa, dona Ema (minha tia avó) e comunicou-lhe que casaria com sua filha mais velha Flória, a futura sogra para fazer juz à fama do parentesco disse somente:
“Não concordo, mas não posso impedir, de mim não esperem nada”.

Nesse mesmo dia, Flória e Cainer foram até o pretório casaram-se, findo o ato ele levou a mulher até uma loja de modas e comprou dois de cada, isto é, vestido combinação, calcinhas e sutiã, tudo igual e mandou que a esposa já saísse vestindo um conjunto novo, das roupas deixadas mandou fazer um embrulho, foi até a casa da sogra e disse:
“Estou devolvendo os trapos com que sua filha saiu de casa”.

Cainer tinha um grande desafeto, era o gerente da fábrica de cerâmica de sua sogra que desejara casar com a filha da patroa, não perdoava seu rival e sempre procurava um método de diminuí-lo. Cainer, ficara, como se dizia na época, fraco dos pulmões e fora curar-se uma em Campos do Jordão, vindo a São Paulo foi junto com a mulher visitar a sogra na fábrica, lá chegando seu rival não perdeu a oportunidade de destilar seu veneno de ciúmes; ao ver Cainer, magro, pálido e abatido foi logo dizendo perante todos:
“Você está tão mal e tão magro que te faria cair com um sopro”.
Cainer sem titubear respondeu no ato:
“Pudera, com esse mau hálito!”

O espírito anárquico e anti-clerical de nosso personagem pode ser resumindo em um fato que no seu âmago tem uma grande dose de crueldade.
Eu tinha ido passar minha férias em sua casa, devia ter um 13 anos, ele me perguntou onde estudava, disse-lhe que no colégio Salesiano.
“Então você estuda a bíblia” – disse ele
“Sim, gosto muito de apologética”.
“Me conta então a história de Abraão e Isaac, você sabe, não é?”
Feliz por ter sido argüido em assunto que sabia bem, fui logo deitando falação. Contei que Abraão, marido de Sara não tivera filhos com a mulher e quando ele estava com cem anos e ela com noventa o pai eterno informou-lhe que teriam um filho, ambos riram muito e Sara fez saber ao Senhor que já nem lembrava mais como se fazia amor. Este para mostrar que pode tudo, fez com que Sara engravida-se e desse a luz a um filho que recebeu o nome de Isaac, este cresceu e um dia o Senhor resolveu por em prova Abraão, disse-lhe que em sua oferta sacrificasse seu filho, sem titubear o pai pegou todas as coisas para o ritual. Isaac sentiu que faltava o carneiro para o sacrifício e perguntou por ele, ao que foi respondido que Deus o proveria. Abraão chegando ao local determinado preparou o altar e quando propunha-se a matar o filho surgiu um anjo que impediu o feito. Conclui dizendo que assim Deus provara o fidelidade de Abraão.
“Foi assim?” – perguntou-me Cainer
“Sim foi”. – respondi
“Mas aí nessa história ficou faltando uma pergunta: Qual filho gostaria de ter um pai como esse?” – conclusão final.

(*) Ilustração: O sacrifício de Isaac. Pedro Orrente (1580/1645)

03 de junho de 2012
Giulio Sanmartini
NOTA AO PÉ DO TEXTO

Foi com essa narrativa bíblica que um filósofo dinamarques. de nome Soren Kierkegaard, intrigado e angustiado com a fé de Abraão, a ponto de sacrificar seu unigênito, depois de noites e noites maldormidas, dando tratos ao bestunto, levantou a mais intrigante questão sobre a fé de Abraão, com a pergunta: "haveria uma suspensão teleológica?"
m.americo

SOBRE MEDICINA E RELIGIÃO


Minha crônica de domingo passado, sobre as medicinas do Além, rendeu não só cumprimentos, mas também magoados protestos de crentes ofendidos. Me escreve um leitor: “você parou para pensar que você pode estar desrespeitando a sua equipe médica? E se o seu médico é católico ou de qualquer outra religião? Esse é o grande problema dos seres humanos... se acham superiores a tudo e a todos... é lamentável...”

Para início de conversa, isso de achar que ninguém é superior a alguém é ideologia massificante de católicos e comunistas. É óbvio que somos superiores a muitos seres humanos. E inferiores ante outros. Uma pessoa que lê é claramente superior em relação a uma que não lê. Um poliglota é de longe culturalmente superior a um monoglota. Um homem urbano e ciente do valor da vida humana é nitidamente superior a um bugre que enterra crianças vivas, seja porque são gêmeas, seja por porque são filhos de mãe solteira. Um homem com noções de Estado e cidadania é moralmente superior a um silvícola que só tem noção de tribo.

Me considero serenamente superior a esses desmiolados que enchem os templos evangélicos ou os shows de rock, a essa gente que vai xingar a mãe do juiz nos estádios e passa discutindo um jogo de futebol durante uma semana. A essa gente que assiste novelas da Globo e lê Harry Potter. Me considero obviamente superior a leitores de Paulo Coelho ou padre Marcelo, e aqui minha superioridade se estende sobre milhões.

Em contrapartida, me sinto pequeno ante um Platão, Alexandre, Nietzsche, Swift, Schliemann, Fernão de Magalhães ou Champollion. Mais próximos de nós, José Hernández, Orwell, Pessoa. Meu herói dileto é o Alexandre. Não era exatamente um pensador, mas guerreiro e homem de ação. Em 33 anos, conquistou impérios e civilizou nações. O judeu aquele que foi crucificado pelos judeus aos 33 anos – e hoje goza de muito mais mídia que o filho de Olímpia – tem em seu currículo apenas três anos de conversa fiada. Três anos que fizeram a humanidade regredir séculos.

Se algo aprendi de minhas leituras, é que o avanço no tempo não torna ipso facto um homem moralmente superior a seus antepassados. A humanidade jamais produziu um outro Alexandre. Nem produzirá outro Platão. Meus santos tutelares não são contemporâneos, mas homens de séculos atrás.

Voltando à mensagem do leitor: de médicos católicos eu só quero distância. Em meus dias de Florianópolis, encontrei um destes senhores. Estava de partida para a França e ele me advertiu: cuidado com o vinho. Seja moderado. E muito cuidado com os queijos e foie gras. Ora, considero que prescrições médicas devem ser levadas a sério. Era no mês de meu aniversário. Amigos me receberam com muito vinho, champanhe, queijos e foie gras. Eu, beliscando como um tico-tico. Bebendo pouco e comendo menos ainda.

Vai daí que, ao tomar o avião de volta, comprei um Nouvel Observateur. A reportagem de capa era sobre o “paradoxe du Périgord”, algo que até hoje perturba a medicina politicamente correta. Por este paradoxo entende-se o estranho fenômeno de o Périgord ser uma região de alto consumo de patês, queijos e vinhos e, no entanto, seus habitantes gozarem de excelente saúde cardíaca e vascular. Um médico declarava, na reportagem, que inclusive um pouco de boudin no leite das crianças era muito saudável. Boudin é a versão francesa da nossa morcilha. Mais suave e um de meus pratos prediletos. Me senti roubado.

Ao voltar a Santa Catarina, busquei meu médico. De Nouvel em punho. Doutor, o senhor ouviu falar disto, o paradoxo do Périgord? Não, não havia ouvido falar. Então leia esta reportagem. Não leio em francês, disse-me. Tudo bem – respondi – eu traduzo. E traduzi.

Ele fez marcha à ré. Bom... meia garrafa de vinho por dia é sempre bom para o coração. Ou duas doses de uísque. Entende-se que o boudin seja saudável às crianças, contém ferro. Mas nós, médicos, não podemos admitir isto. Seria estimular o alcoolismo.

Não acho. Sempre discordei do conceito médico de alcoolismo. Com o tempo, descobri que médicos formados nos Estados Unidos são sempre mais intolerantes em relação ao álcool que os formados na Europa. Coisa de puritanos. Na Espanha, França, Itália ou Portugal, o vinho faz parte de qualquer refeição.

Antes do final do século passado, uma médica me proibiu qualquer gota de álcool. Consulente disciplinado, passei dois anos sem beber. Minha vida se tornou um inferno. Meus amigos bebiam e eu só tomava cerveja sem álcool. Em alguns bares, fui apelidado de Kronenbier. Meus amigos entravam em uma outra fase e eu restava sóbrio. Horror. Troquei de médica. De início, já fui claro: Doutora, eu estou trocando de médica porque a anterior me proibiu o álcool. Estou buscando uma que o libere. Ela topou e eu voltei ao mundo dos vivos.

Alguns anos depois, voltando de mais um giro pela Europa, fiz meus exames de rotina. Todos os índices vitais, glicemia, colesterol, triglicérides, transaminases, excelentes. Levei-os feliz à minha nova médica. E confessei. Dra! Eu só não bebi no café da manhã. E assim mesmo, em alguns hotéis, não resisti ao champanhe que acompanhava o café.

- Agora, só depois dos exames, é que você diz isso?
- Exato, Dra!
- Bom, então acho que vou te prescrever uma viagem à Europa a cada dois meses.

O que me pareceu ser uma sábia prescrição. Quando vivia em Curitiba, encontrei um gastro, também católico, que ousou me afirmar sem nem ao menos enrubescer: a dose permissível de cerveja é meio copo de cerveja. Ora, Dr! Meio copo de cerveja não existe. Se existissem, os copos não seriam copos, mas meios copos. Alguns anos mais tarde, eu trabalhava aqui em casa e deixei a televisão ligada. Lá pelas tantas ouço um fragmento de frase: meio copo de cerveja. Só pode ser aquele cretino, pensei. Fui conferir. Era.

No Sírio-Libanês, me deparei com um técnico do aparelho de radioterapia que era testemunha de Jeová. Após uma sessão de radiação, eu o ouvi opinando sobre a Bíblia. Dizia umas bobagens sem fundamento algum, aquele papo furado de crente que carrega a Bíblia sob o sovaco e da Bíblia nada entende. Chamei-o às falas. A discussão foi longa. Acabei descobrindo que os testemunhas de Jeová mantém equipes em vários hospitais do país, para dar assistência aos pacientes que se recusam a transfusões de sangue. Essa gente deveria estar na cadeia.

Não, meu caro leitor. De médicos católicos – ou de qualquer outra religião – procuro manter distância. Considero inclusive que se alguém sai da universidade crendo nas coisas do Além, isto é a prova mais evidente de que a universidade fracassou.

Já um dentista católico, nenhuma objeção. Odontos não se metem na vida da gente.
03 de junho de 2012
janer cristaldo

SUGESTÕES DE CONVOCADOS PARA A COMISSÃO DA VERDADE. LEMBRAM DE TENÓRIO JR.?

Embora extemporânea e até por isso mesmo um tanto duvidosa, a iniciativa de criar essa Comissão para ouvir os torturadores de mais de 30 anos atrás pode trazer benfícios, vá. Mas seria importante, já que começaram com isso, convocar para depoimentos o pessoal da Operação Condor, gente como os majores Souza Batista e Batista Vieira e ainda um certo capitão Visconti, que torturaram o pianista Tenório Jr. em Buenos Aires por nove dias na Escola Mecânica da Armada, endereço do horror na capital portenha.

Tenório não era militante, nem sabia discernir esquerda de direita. Preso por conveniência e truculência de agentes videlistas, não havendo motivo qualquer senão um estilo de trajar diverso dos argentinos e o fato de estar parado num local onde se daria um encontro entre dois resistentes, foi torturado e depois morto com um tiro de fuzil FAL desferido pelo então tenente da Marinha Alfredo Astiz, responsável também pela morte de duas freiras francesas.

Responde também por essa barbaridade inominável o então conselheiro diplomático Marcos Henrique Camilo Côrtes, filho do general Menezes Côrtes, deputado udenista na década de 50. O conselheiro engavetou o habeas corpus impetrado por Vinícius de Morais – que fazia dupla com o violonista Toquinho, a quem Tenório acompanhava em turnê – e até esteve com Tenório na ESMA, deixando o pianista entregue à própria sorte embora sabendo tratar-se de um inocente.

Tudo isso está relatado no livro “O Crime contra Tenório – Saga e Martírio de um Gênio do Piano Brasileiro”, de minha autoria, e que jamais encontrou uma editora comercial para publicá-lo desde que ficou pronto, em 1997.

A família do pianista vive sérias dificuldades desde o desaparecimento, em março de 1976. O livro, editado precariamente por uma gráfica sul-mineira e praticamente distribuído apenas para amigos e amigos de amigos, pretendia trazer à tona, mesmo já tardiamente, o crime covarde dos videlistas e revelar a colaboração da turma do SNI brasileiro e de um membro de nossa diplomacia com os golpistas que derrubaram o governo constitucional de Evita Perón.

Lá foi criada, imediatamente após a derrocada da ditadura, uma “comissão da verdade”, em 1985, fazendo sentarem no banco dos réus os militares envolvidos no extermínio de algo em torno de 30 mil opositores ao regime de Videla.
Prosseguirá o silêncio sobre o martítio do pianista e ficarão livres os responsáveis por essa que é a maior chaga na história da música brasileira e possivelmente do mundo?

EUA TENTAM PRESSIONAR O BRASIL PARA QUE ROMPA RELAÇÕES COM O GOVERNO DA SÍRIA

Era só o que faltava. Segundo a agência internacional EFE, os Estados Unidos querem ver mais ação por parte do Brasil nas reações da comunidade internacional ao conflito entre oposição e governo na Síria, afirmou sexta-feira o porta-voz do Departamento de Estado, Mike Hammer.

“Queremos ver atividade no Conselho de Segurança da ONU e queremos que o Brasil faça parte desses esforços. Acreditamos que um país do nível do Brasil pode ter bastante influência e queremos que faça parte do esforço para pressionar [o presidente sírio, Bashar al] Assad e seus militares”, disse Hammer.

Washington cobrou também mais apoio de Brasília ao plano de paz proposto pelo enviado especial da ONU, Kofi Annan, divulgado em abril.

Enquanto isso, a mídia ocidental faz pressão, distribuindo informações de que após o acordo de cessar-fogo proposto pelo enviado especial da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, quase 2 mil pessoas já morreram por conta da repressão do regime sírio e de confrontos com os movimentos insurgentes. Não se sabem onde os “correspondentes de guerra” conseguem esses números, que usados como verdades absolutas.

O presidente sírio Assad diz que tenta obedecer ao cessar-fogo, mas a guerra civil não vai parar enquanto os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, continuarem municiando as forças rebeldes e contratando mercenários para lutar contra o regime.

Na última semana, dez países ocidentais romperam relações com a Síria, expulsaram os diplomatas ou os declararam personas non gratas.

Mas o Brasil não aderiu à expulsão e o ministro de Relações Exteriores, Antônio Patriota, já disse ser contrário à medida, no que faz muito bem. Chega dessa história de o Brasil seguir obedecendo aos interesses dos Estados Unidos. Na política internacional o governo do PT tem uma posição altiva, não há dúvida. Merece elogios.

03 de junho de 2012
Carlos Newton

RATOS E COBRAS



Leio no caderno de Ciência do jornal O Globo sobre a grande conquista da neurociência: “Rato paralítico volta a andar”. Diz a matéria: “Uma técnica revolucionária que une estimulação neuronal e reabilitação com auxílio de uma espécie de vestimenta cibernética permitiu que ratos que perderam os movimentos das patas por causa de lesões graves na medula voltassem a anda e até correr em pouco tempo, uma esperança para pessoas com paralisia”.

Fantástico! Por outro lado, o mesmo jornal noticia que certo Ratinho, com aspecto humano, recebeu o ex-presidente Lula para “entrevista” em seu programa no SBT. Não há estímulo neuronal ou vestimenta cibernética que faça esse Ratinho andar! Sua vocação é rastejar mesmo, como fazem as cobras. Conforme divulgou Lauro Jardim em sua coluna do Radar on-line, a primeira entrevista de Lula após o tratamento do câncer não foi capaz de alterar o ibope do programa, de apenas 8 pontos.

Por falar em cobra, o ex-presidente Lula levou a tiracolo o candidato Fernando Haddad ao programa. Haddad, para quem não lembra, é aquele do “Kit Gay”, o ministro da Educação que conseguiu desmoralizar de vez com o Enem. É também autor de tese de mestrado sobre o sistema soviético, e de doutorado sobre Marx.

O programa de entrevista acabou se transfigurando em campanha política do candidato esquerdista, em pleno ano eleitoral. Haddad teve até a cara-de-pau de lançar plataformas de campanha à prefeitura de São Paulo durante o programa, para tentar sair dos míseros 3% de intenção de votos até o momento. Já Lula, que preferiu não comentar as acusações do ministro Gilmar Mendes, encontrou espaço para afirmar que não vai “permitir” novamente um tucano na presidência.

Todos sabem que o PT em geral e Lula em particular nunca demonstraram muito apreço pelas instituições republicanas, pela divisão de poderes e pelas leis eleitorais. Ainda assim, quando eu soube disso tudo, bateu-me um espírito de Galvão Bueno e automaticamente perguntei: Pode isso, Arnaldo?! Arnaldo não respondeu, mas sei o que qualquer juiz sério diria: cartão vermelho para eles!
 
03 de junho de 2012
Rodrigo Constantino

É UM CIRCO OU NÃO É?


Ultimamente, faço um esforço enorme para não perder a esperança em nosso país, em nossa capacidade de nos comportarmos com um mínimo de respeito pelo interesse público, pelos valores éticos, enfim, por construirmos uma nação digna deste nome.

É que, a cada dia, como você, fico sabendo de coisas que me desanimam. Parece que a corrupção tomou conta do Estado brasileiro, que não há mais em quem confiar. O que desanima não são apenas as falcatruas praticadas por parlamentares, ministros, governadores, prefeitos, juízes... O pior é que esses dados refletem uma espécie de norma generalizada que dita o comportamento das pessoas e o próprio funcionamento da máquina pública.

Um pequeno exemplo: o precatório. Se ganhas na Justiça uma ação que obriga o governo a te indenizar, ele está obrigado a te pagar, não? Só que ele não paga, não cumpre a decisão judicial, e fica por isso mesmo. A Justiça sabe que sua decisão não foi obedecida e nada faz.

Pior, às vezes esse dinheiro é apropriado por altos funcionários da própria Justiça. Enquanto isso, as pessoas que deveriam ser indenizadas esperam 20, 30 anos, sem nada receber. É como um assalto em via pública. Este é um fato corriqueiro num país dominado por uma casta corrupta.

E eu, burro velho, embora sabendo disso tudo, não paro de me surpreender. Acontece de tudo, até CPI criada pelo governo. Nunca se viu isto, já que CPI é um recurso da oposição; quer dizer, era, porque a de Cachoeira foi invenção do Lula e seu partido, e conta com o apoio da presidente Dilma. Isso porque, no primeiro momento, os implicados pareciam ser apenas adversários deles, a turma do mensalão.

Eis, porém, que novas revelações envolveram gente do PT e aliados do governo, sem falar numa empresa corrupta que é responsável por grande parte das obras do PAC, o Plano de Aceleração do Crescimento do governo federal.

Mas o que fazer, agora, se a CPI já estava criada? Voltar atrás seria impossível, e nem era preciso, uma vez que, dos 30 membros da CPI, apenas sete são da oposição, quer dizer, não decidirão nada.

Mas essas revelações punham em risco um dos principais objetivos de Lula, que era usar a CPI para desqualificar o processo do mensalão, prestes a ser julgado pelo STF. Essa intenção foi favorecida por um fato que envolve o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, a quem caberá fazer a denúncia da quadrilha chefiada por José Dirceu.

O PT tentou desqualificá-lo, apresentando-o como ligado a Demóstenes Torres e, portanto, a Cachoeira. A jogada não deu certo e, além do mais, está aí a maldita imprensa, que insiste em criar problemas, por levar à opinião pública informações inconvenientes.

De qualquer modo, a CPI teria que ouvir Carlinhos Cachoeira, e só Deus sabe o que ele poderia revelar. Deus e nós também: nada, como se viu.

É que ele se valeu do direito, que a Constituição lhe concede, de permanecer calado para não produzir provas contra si mesmo. Quem quer que tenha inventado isso -sempre em defesa dos inocentes, claro- com frequência favorece aos culpados, uma vez que o inocente, por nada temer, faz questão de contar toda a verdade. Calar, portanto, é confissão de culpa.

De qualquer modo, Carlos Cachoeira, a conselho de seu advogado, não respondeu a nenhuma das perguntas que lhe foram feitas, deixando os parlamentares, que inutilmente o interrogavam, em situação constrangedora. Aquela sessão da CPI, em Brasília, só pode ser comparada a um espetáculo circense.
E quem é o advogado de Cachoeira? Nada menos que o ex-ministro da Justiça de Lula, Márcio Thomaz Bastos, que, sentado a seu lado, como um segurança jurídico, ouvia os deputados e senadores se referirem a seu constituinte como "bandido, chefe de uma quadrilha de ladrões". Estava ali por vontade própria ou por imposição do cliente? Não se sabe, mantinha-se indiferente, como se nada ouvisse.

Foi por saber Cachoeira culpado de todas aquelas falcatruas que o aconselhou a nada responder. Resta à CPI recorrer às provas documentais. Por isso mesmo, Thomaz Bastos já pediu a anulação delas. Cachoeira pode não ter razão, mas dinheiro não lhe falta. E o espetáculo continua...
 
03 de junho de 2012
Ferreira Gullar, Folha de SP

A SOBREVIDA DE CHÁVEZ

 
Hugo Chávez, o ditador disfarçado da Venezuela, cuja atuação deplorável é elogiada e invejada por Luiz da Silva - o apedeuta- sobrevive graças a remédios fortes e controlados.
Suas dores, insuportáveis, são amenizadas por substâncias mais fortes que a morfina, cuja ação já não consegue lhe dar conforto físico.
 
O tratamento de Chávez tem sido paliativo. Sua cura parece impossível. A utilização de tecnologia de ponta poderia estar lhe proporcionando uma sobrevida de difícil administração. Seu dia a dia está cada vez mais difícil podendo inviabilizar sua investidura em novo cargo de Presidente.
 
O ditador pode não morrer logo, mas seu sofrimento será contínuo. Seu corpo já rejeita alguns remédios específicos e outros já nã fazem mais o efeito desejado.
É o princípio do fim.
 
03 de junho de 2012
Blog do Mario Fortes

A MAIOR NOTÍCIA DO SÉCULO

 


Benito Mussolini havia sido enforcado dez dias antes e Adolf Hitler tinha se suicidado na semana anterior; os russos estavam em Berlim e as tropas nazistas já haviam se rendido em Itália, Dinamarca, Noruega e Países Baixos.

A Segunda Guerra Mundial estava por um fio, com Winston Churchill, Josef Stalin e Harry Truman prontos para fazer seus discursos de vitória. Faltava, porém, um comunicado oficial atestando o final da carnificina que já durava seis anos.

Eram 3h24m da tarde de 7 de maio de 1945 quando o escritório da agência de notícias Associated Press (AP) em Londres recebeu o telefonema que acabou com a guerra antes do combinado. A ligação chegara através de um canal militar não sujeito à censura, e tinha o chefe do escritório de Paris da AP no outro lado da linha.

“Aqui é Ed Kennedy. A Alemanha capitulou incondicionalmente. Repito, capitulou incondicionalmente. É oficial. Coloque Reims, França, como procedência e solte a notícia, já.”

Não discutiu sua decisão com nenhum chefe. O texto tinha perto de 300 palavras. “Agora é esperar para ver o que acontece”, comentou, após desligar.

Dois minutos mais tarde, Londres transmitia a bomba para a central em Nova York, que ainda segurou a notícia por oito minutos antes de colocá-la no ar. Instantaneamente rádios por toda a América interromperam suas programações para dar a grande nova, edições extras de jornais inundaram as ruas e o furo tinha tudo para ser o momento de maior triunfo profissional e pessoal de Edward Kennedy, já consagrado como um dos grandes nomes de sua geração.

Os fatos seguiram outro roteiro. Passadas menos de 24 horas, Kennedy fora suspenso por tempo indeterminado e seria demitido mais tarde, sem alarde. No mesmo dia, o presidente do Conselho da AP divulgava um comunicado lamentando “profundamente” o monumental furo obtido pelo jornalista.

Perto de 50 correspondentes de guerra do front europeu recomendaram a revogação de sua credencial. Kennedy acabou expulso da França pelo Comando Supremo das Forças Aliadas e teve de retornar aos Estados Unidos. “Faria tudo de novo”, declarou apenas, ao desembarcar.

Conseguiu emprego como redator-chefe num pequeno jornal da Califórnia, o “Santa Barbara News-Press”, fez uma tentativa como publisher do “Monterrey Peninsula Herald” e morreu num acidente de automóvel aos 58 anos de idade. Seu pecado capital foi ter desafiado a censura e atropelado um embargo de notícia.

Passaram-se 67 anos desde então. Somente agora, três semanas atrás, a Associated Press admitiu oficialmente que Edward Kennedy fizera o certo.

“Foi um dia negro para a Associated Press, que administrou o fato da pior maneira possível”, desculpou-se em nome da empresa Tom Curley, atual diretor executivo da agência noticiosa e coautor do prefácio do livro, de onde foram tiradas as informações para este artigo.

O pedido póstumo de desculpas veio junto com a chegada às livrarias do livro de memórias do jornalista — “Ed Kennedy’s War: V-E Day, Censorship and the Associated Press”, disponível na Amazon. Recomenda-se a leitura a todo jornalista, uma vez que o dilema que se apresentou para Kennedy, além de universal, é atualíssimo.

“Se você dá a alguém uma caneta e a autoridade de um censor, estranhas coisas acontecem”, costumava dizer Kennedy, que seguiu à risca a demarcatória definida por Franklin D. Roosevelt: a censura só é justificada se estiver a serviço da proteção das forças aliadas em combate.

Na noite da rendição, Kennedy integrava o grupo de 17 correspondentes de guerra reunidos às pressas pelo comando aliado para testemunhar o momento. Todos tiveram de assinar um termo de sigilo a bordo do avião militar que os levou de Paris para Reims, no nordeste da França, onde o general Dwight Eisenhower havia instalado seu QG avançado. Só divulgariam o que veriam quando autorizados pelo comando Aliado.

Em princípio, o embargo acordado duraria apenas algumas horas, mas logo os jornalistas foram informados de que ao fim da Segunda Guerra Mundial só poderia ser noticiado 36 horas depois, às três da tarde do dia seguinte.

Só que passadas doze horas da capitulação, uma pequena rádio alemã da cidade de Flensburg vazara a informação e Kennedy procurou dobrar os censores americanos. Nada feito.

“O general Eisenhower até desejaria que a notícia seja divulgada de imediato para que vidas sejam salvas, mas suas mãos estão atadas por esferas políticas superiores”, respondeu-lhe à época o porta-voz do comandante.

As esferas políticas superiores chamavam-se Stalin, Truman e Winston Churchill. Os três haviam concordado em bloquear a notícia da capitulação por um dia para dar tempo ao marechal russo de também preparar a cerimônia de rendição que presidiria em Berlim.

Assim, todos fariam comunicados simultâneos a seus povos, pontualmente às 3 horas da tarde do dia 8 de maio de 1945.

Kennedy tomou a decisão de furar unilateralmente o acordo ao constatar que não estaria colocando em risco a vida de nenhum soldado. Pelo contrário, abreviaria a matança em algumas horas, o que já era muito.

De fato, naquele mesmo 7 de maio, um submarino alemão afundara duas embarcações na costa da Escócia e os combates prosseguiram na Checoslováquia e na Iugoslávia. Ademais, com a assinatura da rendição, a própria função dos censores militares perdia validade, a seu ver.

Duas vozes contundentes saíram em sua defesa à época. A primeira foi a de A. J. Liebling, na revista “New Yorker”, em artigo intitulado “A rendição da AP”. A segunda foi a de Wes Gallagher, despachado pela Associated Press para substituir Kennedy no escritório de Paris.

Por ocasião de seu primeiro encontro com Eisenhower, o repórter comentou com o general que no lugar do antecessor teria feito a mesma coisa, acrescentando: “Apenas teria lhe telefonado antes.” Ike retorquiu que, nessa hipótese, teria ordenado sua prisão. Resposta de Gallagher: “Mas isso não teria abortado a notícia.”

03 de junho de 2012
DORRIT HARAZIM - O Globo

"GILMAR x LULA: PERGUNTAS QUE SOBRAM"

Suponhamos que, no encontro do dia 26 de abril entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro Nelson Jobim e o ministro Gilmar Mendes, do STF, tudo tenha se passado exatamente como este último relatou à revista Veja, embora os outros dois neguem tratativas sobre o processo do chamado mensalão e a oferta de blindagem ao magistrado na CPI do Cachoeira, por parte de Lula, em troca do adiamento do julgamento. A execração do ex-presidente foi imediata, por parte dos que tomaram a narrativa do ministro como verdade indiscutível. Falta perguntar , porém, se a conduta de Gilmar, como magistrado da corte suprema, foi correta. Manteve ele o decoro que deve ser exigido não apenas dos parlamentares e dirigentes do Executivo?
 
Foram observados os preceitos do Código de Ética da Magistratura Nacional, instituído em 2008 por Resolução baixada por ele mesmo, quando era presidente do STF, e por decorrência, do CNJ? Tal Código determina que o exercício da magistratura seja norteado “pelos princípios da independência, da imparcialidade, do conhecimento e capacitação, da cortesia, da transparência, do segredo profissional, da prudência, da diligência, da integridade profissional e pessoal, da dignidade, da honra e do decoro.”
 
Manda o Código que o magistrado, buscando sempre a verdade nas provas, mantenha “distância equivalente das partes e evite todo tipo de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito”. Mas Lula não é réu no caso do mensalão e por isso o encontro em si não foi aético ou indevido, como alguns disseram. Manda ainda o Código que o magistrado denuncie todas as tentativas de cercear sua independência.
 
Supondo que Lula o tenha mesmo pressionado, oferecendo proteção política em troca da postergação do julgamento, o ministro indignado procurou imediatamente seus pares para relator o ocorrido, de modo reservado, pautado pelo decoro? Aqui, cabe ainda outra pergunta: Se Lula, tendo perdido todo o tino político, estava disposto a enfiar o pé na jaca para cooptar ministros do STF, por que não começou pelo ministro Levandovski, que na condição de ministro revisor é quem, de fato, tem poder para ditar o timing do julgamento? Gilmar disse ter comentado com alguns colegas, só informalmente, antes de fazer o relato a Veja.
 
Exige o Código que os magistrados sejam contidos na relação com os meios de comunicação, evitando a autopromoção e a busca de reconhecimento, e mantendo reserva quanto aos processos em curso. E ainda que façam uso de “linguagem escorreita, polida, respeitosa e compreensível”. É pródigo em vedações sobre condutas e obtenção indevida de vantagens e benefícios. Se a viagem para Berlim foi paga pelo próprio STF (parcialmente, tendo o ministro comprado bilhete complementar com dinheiro próprio), a carona em jatinho para Goiânia não seria uma infração? Gilmar foi coerente com o Código que baixou?
 
Mas supondo sempre que tudo ocorreu como relatou o magistrado, constatanos que pelo menos uma acusação sem provas ele fez a Lula, a de que estaria espalhando boatos sobre seu suposto envolvimento com Demóstenes/Cachoeira. E ainda outra, a de que o delegado federal aposentado Paulo Lacerda estaria assessorando Lula e o PT com a missão de destruí-lo, a ele Gilmar. Lacerda, sabemos, deixou a ABIN no Governo Lula após ser acusado por Gilmar de ter grampeado conversa sua com o senador Demóstenes.
 
O áudio nunca apareceu e ficou por isso mesmo. Disse ainda o magistrado que Lula estaria a serviço de “bandidos”, “gângsters” e “chantagistas” interessados em “melar o julgamento”, “arrastando o Judiciário para a vala comum”, “criando uma crise no Judiciário”.
 
Não é preciso usar toga para concluir que um grande mal foi feito à imagem do Supremo pelo ministro Gilmar ao acender esta fogueira, na qual fez crepitar também informações nocivas a si mesmo. Há uma estranha irraciionalidade em tudo o que ele fez. Ou foi um surto, ou há muita água turva neste caso.
 
03 de junho de 2012
Tereza Gruvinel - Correio Braziliense

"RASGANDO A LITURGIA"

 
O anúncio de que a presidente da República teria manifestado ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) preocupação com o desdobramento do entrevero Lula-Gilmar Mendes põe no ar a questão: o caso tem potencial para gerar uma crise institucional nas relações entre o Executivo e o Judiciário? A resposta é negativa.

Há consenso de que as instituições nacionais devem ser preservadas e as relações entre os Poderes, harmônicas e respeitosas, mesmo sob eventuais abalos que envolvam atitudes ou declarações de seus componentes (ou ex), como este que coloca na arena do embate um ex-presidente da República e um ministro da mais alta Corte, que também já a presidiu. Não significa negar ou mesmo diminuir a gravidade do encontro entre Gilmar Mendes e o ex-presidente, principalmente levando em conta a contundente denúncia de que "chantagistas, bandidos, gângsteres" agem com o objetivo de atrapalhar o julgamento do mensalão, "por meio de informações mentirosas de que a Corte estaria envolvida em corrupção".

Mais: Lula seria "a central de informações". É razoável supor que, sob o escudo da vitaliciedade, os membros do STF conservem a altanaria e a independência para ministrar a justiça, não se curvando a eventuais pressões que chegam aos seus ouvidos.

O imbróglio abre um leque de abordagens. A primeira aponta a inconveniência da reunião, marcada por Nelson Jobim, amigo dos dois interlocutores e também ex-ministro da Corte, em seu escritório. Seria ingenuidade imaginar que uma conversa de duas personalidades públicas, sob sigilo, tivesse como foco uma cordial confraternização, ainda mais quando se sabe que um dos participantes, em convalescença, se cerca de cuidados para evitar os "tragos nossos de cada dia", sob o ar esfumaçado de um bom charuto.

A regra de respeito aos contrários, própria ao sistema democrático, comporta contendas no plano do discurso e posições divergentes de contendores. Com essa garantia, o ex-presidente Luiz Inácio investe-se da condição de cidadão com direito a emitir juízos de valor sobre quaisquer matérias e defender causas de seu legítimo interesse nos foros que julgar apropriados. Direito, aliás, revigorado pelo empuxo de uma democracia participativa em expansão, como a que se vê por estas plagas, e desenvolvida pela miríade de organizações que abrem a locução, fazem pressão, batem bumbo nos espaços institucionais, desfraldando bandeiras de todas as cores.

Não bastasse, Lula soma à identidade bagagem de monta: ascendeu ao posto mais alto da República saindo das bases da pirâmide social, deixou o governo depois de oito anos aplaudido pelas massas, impregna-se de carisma e continua a ser a principal liderança do partido que ocupa vãos e desvãos do poder central. É compreensível que, sob esse manto, a autoridade carismática de Lula sirva de transporte para um projeto de poder de longo prazo.

O empreendimento que se desenvolve nos laboratórios do PT é o de alongar e alargar os domínios políticos no País para horizontes que ultrapassem a faixa de 20 anos, o que pressupõe fincar estacas profundas no território a partir das municipalidades. Pular de 650 para 1.000 prefeitos é uma das metas na frente de fixação de estacas para este ano.

Mas há um rolo compressor que pode atrapalhar os avanços das retroescavadeiras. Foi batizado como mensalão, derivação do termo mensalidade, denunciado em 2005 pelo então deputado Roberto Jefferson para se referir a uma suposta mesada paga a deputados para apoiarem projetos de interesse do Executivo.

O então presidente Lula, angustiado, chegou a desabafar na época: "Eu me sinto traído por práticas inaceitáveis. Indignado pelas revelações que chocam o País, e sobre as quais eu não tinha qualquer conhecimento. (...) Não tenho nenhuma vergonha de dizer que nós temos de pedir desculpas.

O PT tem de pedir desculpas. O governo, onde errou, precisa pedir desculpas". De 40 denunciados pelo então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, 37 são réus no STF. Hoje o coordenador político do governismo, Luiz Inácio, se esforça para demonstrar que não houve mensalão. Organiza as estratégias do PT, aplaina caminhos, impõe candidatos às prefeituras, articula acordos, aprova parcerias e faz articulações nas altas esferas.

Dito isto, aflora a questão: o ministro Gilmar Mendes não imaginou que o mensalão poderia ser objeto da conversa? Se pensou que o tema poderia vir à tona, mesmo sob a capa de leve sondagem, por que aceitou o encontro? Ao se deparar com uma abordagem com jeito de pressão e chantagem, como chegou a admitir, por que não deu basta à interlocução e se retirou?


Afinal, há uma liturgia do poder que recomenda respeito ao rito, rigidez no protocolo, obediência às normas, defesa dos papéis institucionais. A propósito, faz tempo que por aqui se rasga o manto da liturgia, a começar pelo próprio Lula, que cobrava de Fernando Henrique compostura de ex-presidente, recomendando-lhe recolhimento. Agora esforça-se para elevar a aura carismática, deixando-se embalar em aplausos embriagantes e a acenar para as massas, como a querer dizer: aqui estou eu, mais forte e vivo do que nunca, curado e pronto para abrir novas fronteiras.

O perigo mora próximo do líder carismático que se coloca em pé de igualdade com o sagrado. Mais cedo ou mais tarde, o herói se achará tão potente a ponto de querer tomar o lugar de Deus.

Da parte do ministro Mendes, persiste a impressão de que, ao descerem do Olimpo das Cortes para habitar a planície dos simples mortais, magistrados, como ele, podem até vir a ganhar a simpatia social. Atitudes enviesadas diminuem, porém, a taxa reverencial condizente à condição de juiz. O encontro de um alto magistrado e de um ex-presidente da República, para debater questões importantes da vida republicana, deve revestir-se da dignidade que seus perfis recomendam. Sob pena de ambos caírem na vala aberta pelo descrédito.

Gaudêncio Torquato
03 de junho de 2012
O Estado de S.Paulo

E NA CPIZZA DO CACHOEIRA... A HORA E A VEZ DA DESFAÇATEZ E DA CARA DE PAU

AHHH!!!! VÃO PRA POTAQUEOSPAREU!!!!

Estes dois conhecidos senhores, fazem parte da CPIzza do Carlos Cachoeira.
 
Olhando bem para a imagem, e não sendo um brasileiro médio que não possui memória curta ou seletiva. Pergunto:
Quem será que deu "pano" para que essas duas manjadas figuras do mundo da esbórnia e da bandalheira com dinheiro público iludam o povo alegando que tem cacife para apontarem seus imundos dedos para alguém tão corrupto quanto eles, ou fazerem, acusações se passando por entidades de ilibada moral e de ética inquestionável?
Como se já não bastassem os showzinhos de falsa moral a que uma parcela dos integrantes da CPIzza fazem toda vez que a sessão é transmitida ao vivo.
Agora ainda temos que aguentar o que há de mais bizarro na política Tupiniquim fazendo os mesmos julgamentos de valores a que já foram questionados em passado recente.
Membros da página policial do legislativo e executivo Tupiniquim, hoje estão se passando por juízes de um igual, que foi pego cometendo os mesmos delitos a que ambos já tiveram problemas no passado.
Ou eles acreditam nas próprias mentiras, ou tem a mais absoluta certeza que na pocilga todo mundo é otário....
Isto é Brasil senhoras e senhores, o país da piada pronta e da desfaçatez absoluta.
 
03 de junho de 2012
omascate

DÍVIDA E AUTERIDADE. A GEOPOLÍTICA DA CRISE PERMANENTE

“Por um lado, a moral ascética do trabalho e da dívida; por outro, a moral hedonista do consumo de massa. E ambas se contradizem abertamente, uma vez que são os dois lados da mesma moeda”
Um artigo repassado pelo coletivo Vila Vudu, condensando o ensaio “La fabrique de l’ homme endetté, essai sur la condition néolibérale”, de Maurizio Lazzarato, traz mais luzes sobre as trevas do modelo neoliberal implantando em todo o planeta, especificamente na UE, ora atravessada por uma crise sem precedentes.

Abordando particularmente o binômio “Dívida e Austeridade” (o modelo alemão do emprego precário), ele abre com nada menos que uma citação de Marx: “O endividamento do Estado é, bem ao contrário, de interesse direto da fração da burguesia que governa e legisla nos Parlamentos.

O déficit do Estado era, precisamente, o objetivo ao qual visavam às especulações e principal base do enriquecimento daquela fração. Ao final de cada ano, um novo déficit . Ao cabo de quatro ou cinco anos, novo empréstimo.
Ora, cada novo empréstimo dava à aristocracia nova ocasião para cobrar resgate para ‘salvar’ o Estado, o qual, mantido artificialmente à beira da bancarrota, era forçado a negociar com os banqueiros sob condições as mais desfavoráveis.
Cada novo empréstimo era nova ocasião para roubar o público que aplica seus capitais em papéis do Estado…” ( Les luttes de classes en France [jan.-nov./1850).
A sensação de “déja vu” é tão forte que é como se Marx estivesse falando do estado da geopolítica atual.

O autor considera que as saídas da crise estão fora dos caminhos traçados pelo FMI. Essa instituição propõe sempre o mesmo tipo de contrato de ajuste fiscal, que consiste em diminuir o dinheiro entregue às pessoas – salários, aposentadorias, pensões, auxílios públicos, mas também às grandes obras públicas que geram empregos –, para pagar aos credores todo o dinheiro economizado.
É absurdo. Depois de anos de crise, não se pode continuar entregando o dinheiro sempre aos mesmos.
Ora, é exatamente o que, hoje, querem impor à Grécia! Diminuir tudo, para entregar aos bancos.

O FMI transformou-se numa instituição encarregada de proteger, exclusivamente, os próprios interesses financeiros (conquanto tenha sido criada justamente pelos motivos opostos: socorrer países em crise). Quando se está numa situação desesperada, como a Argentina em 2001, é preciso mudar de rota.
Menos de vinte anos depois da “vitória definitiva contra o comunismo” e quinze após o chamado “fim da história”, o capitalismo está num impasse. Desde 2007, vive de injeções de somas astronômicas de dinheiro público e, apesar disso, gira no vazio.
No máximo, reproduz-se a si próprio, destruindo todas as conquistas sociais dos dois últimos séculos. Depois da “crise das dívidas soberanas”, o capitalismo exibe um espetáculo hilariante do próprio funcionamento.

As normas econômicas de “racionalidade” que os “mercados”, as agências de risco e os especialistas impõem aos Estados para sair da crise da dívida pública são as mesmas que levaram à crise da dívida privada (que está na origem da dívida pública).

Os bancos, os fundos de pensão e os investidores institucionais exigem que os Estados ponham em ordem os orçamentos públicos, dado que os bancos ainda têm em carteira milhões de títulos podres, frutos de sua política de substituição de salários por dívidas. Depois de dar nota AAA a títulos que hoje nada valem, as agências de risco trabalham “para, contra todas as evidências, impedir a boa avaliação e as boas medidas econômicas”.

Os especialistas (professores de economia, consultores, banqueiros, servidores do Estado e outros) – nos quais a cegueira sobre os estragos que a autorregulação dos mercados e da livre concorrência só é proporcional ao próprio servilismo intelectual – foram catapultados para postos “técnicos” de governo que lembram irresistivelmente “os comitês de comércio da burguesia”. Trata-se mais de novas “técnicas autoritárias e repressivas de governo”, em ruptura com o “liberalismo” clássico, que de “governos técnicos”.

O prêmio do ridículo máximo cabe à imprensa, a chamada ‘mídia’: a “informação” distribuída por noticiários de televisão e entrevistas (talk shows) que “explica” que a crise é culpa de vocês [telespectador e leitor pagante], que se aposentam cedo demais, que consultam médicos sem necessidade, que trabalham pouco e por pouco tempo e querem trabalhar cada vez menos e por menos tempo que o necessário; vocês não são flexíveis e desgastam-se depressa demais. Vocês, afinal de contas, são culpados por consumir pouco e viver abaixo dos próprios meios.

Paradoxalmente (ou não) a publicidade – diferente dos discursos em que se culpam economistas, especialistas, jornalistas e políticos – diz exatamente o contrário ao público: Você é imaculadamente inocente. Você não tem responsabilidade alguma! Não há mácula, nem vestígio de sentimento de culpa ou de responsabilidade na sua alma pura. Você merece tudo, sem exceção, sem interrupção, tudo de todos os paraísos de nossas mercadorias. Seu dever é consumir, consumir, consumir compulsivamente.

Farejam-se de longe as “ordens”, os imperativos: ‘faça’, ‘compre’, ‘procure’, etc., e injunções dos significantes semióticos da culpa/culpabilização/culpabilidade e das semióticas icônicas e simbólicas da inocência.

Por um lado, a moral ascética do trabalho e da dívida; por outro, a moral hedonista do consumo de massa. E ambas se contradizem abertamente, uma vez que são os dois lados da mesma moeda.
Mais do que sugerir alguma saída da crise, essa agitação assemelha-se mais a um círculo vicioso no qual o capitalismo parece ter-se emparedado.
Em entrevista recente, o presidente do Banco Central Europeu recomenda, com cinismo thatcheriano, receitas para reembolsar os credores (as quais, não só causaram a crise, como ainda podem agravá-la): baixar impostos para enriquecer os ricos e reduzir despesas sociais para empobrecer os pobres.

Os políticos nada são além de contadores e office-boys do capital. Sarkozy propôs que as receitas para pagar “os juros da dívida grega sejam depositadas numa conta bloqueada, que garantiria que as dívidas de nossos amigos gregos serão honradas.” Favorável a essa ideia, Angela Merkel acredita que a medida permitirá “ter certeza de que esse dinheiro permanecerá disponível por longo tempo.”
Se há uma constante no capitalismo recente é o estado de guerra ao qual o liberalismo o levou de modo quase automático.
A guerra intercapitalista parece hoje menos intensa que a guerra que cada capital nacional combate contra seu ‘inimigo interno’. Sem acordo sobre como dividir o bolo da exploração global, os diferentes capitalismos convergem apenas nas formas de como intensificar a exploração no plano de cada Estado.
Márcia Denser
03 de junho de 2012
 
* A escritora paulistana Márcia Denser publicou, entre outros, Tango fantasma (1977), O animal dos motéis (1981), Exercícios para o pecado (1984), Diana caçadora/Tango Fantasma (Global,1986, Ateliê, 2003,2010, 2a.edição), A ponte das estrelas (Best-Seller,1990), Caim (Record, 2006), Toda prosa II - obra escolhida (Record, 2008). É traduzida em nove países e em dez línguas: Alemanha, Argentina, Angola, Bulgária, Estados Unidos, Espanha (catalão e galaico-português),Holanda, Hungria e Suíça. Dois de seus contos - "O vampiro da Alameda Casabranca" e "Hell's Angel" - foram incluídos nos Cem melhores contos brasileiros do século, organizado por Ítalo Moriconi, sendo que "Hell's Angel" está também entre os Cem melhores contos eróticos universais. Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é pesquisadora de literatura e jornalista. Foi curadora de literatura da Biblioteca Sérgio Milliet em São Paulo.

SUPREMO MONTA BLINDAGEM PARA EVITAR ATRASOS EM JULGAMENTO DO MENSALÃO

O surgimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no radar do julgamento do mensalão alertou para um movimento subterrâneo detectado pelo Supremo Tribunal Federal (STF): manobras projetadas para embaraçar o processo e jogar a sentença final para depois das eleições.
Veja também:

Diante disso, o presidente da Corte, Carlos Ayres Britto, prepara em conjunto com os colegas alguns antídotos para anular estratégias que podem ser usadas pelos advogados dos réus do mensalão para retardar o julgamento do processo. Com 38 réus a serem julgados e número ainda maior de advogados envolvidos com o caso, os ministros sabem que todos os subterfúgios legais e chicanas poderão ser usados nas sessões de julgamento.

Britto pediu à Defensoria Pública que preparasse de cinco a sete defensores para que fiquem de sobreaviso. Eles serão sacados para atuar no julgamento caso algum dos advogados peça adiamento da sessão por estar doente ou se algum dos réus convenientemente destituir seu advogado e pedir prazo para contratar um novo defensor.

Problemas como esses poderiam provocar o adiamento da sessão por semanas. Esses defensores públicos estudam o caso desde abril e estarão, de acordo com integrantes do tribunal, prontos para defender os réus de imediato, sem permitir atrasos no julgamento do processo, que deve se alongar por dois meses.

Os ministros antecipam também estratégias para garantir a execução das penas daqueles que forem condenados. Terminado o julgamento, o tribunal precisa publicar o acórdão - com a íntegra do relatório do caso, os votos de cada ministro e os debates travados na sessão, e a ementa do julgamento.

Nessa etapa do processo, o Supremo costuma perder meses. Cada um dos ministros revê seus votos, lê os apartes que fez aos colegas durante a sessão, retira partes que considerar impróprias - caso haja, por exemplo, alguma discussão mais áspera em plenário - e só então o documento é publicado.

Enquanto o acórdão não é publicado, não é aberto o prazo para que os advogados recorram da decisão ou peçam esclarecimentos sobre determinados pontos. Os ministros imaginam que terão de enfrentar uma sequência de recursos - especialmente embargos de declarações, usados para contestar eventuais omissões ou contradições.

Todos precisam ser julgados para que enfim o processo transite em julgado e os que foram condenados comecem a cumprir as penas. De acordo com assessores, Britto deve discutir com o relator do caso, ministro Joaquim Barbosa, uma forma de tornar mais ágil a publicação do acórdão. Uma possibilidade seria sugerir a Barbosa que deixe pronto um modelo de ementa com base no seu voto.

Caso haja mudanças, o relator do processo iria, ao mesmo tempo, adaptando a ementa. Tudo para evitar que essa etapa posterior possa jogar o cumprimento das penas para o fim de 2013.
Rapidez. Paralelamente às estratégias contra chicanas, parte dos ministros pensa em procedimentos que acelerem a conclusão do julgamento. Antes mesmo de o processo estar liberado para ir a plenário, o presidente do STF e o relator do caso começaram a discutir com os colegas a formatação da sessão.

Joaquim Barbosa, por exemplo, propôs fazer leitura resumida do relatório de 122 páginas, o que foi aprovado pelos colegas.

Os ministros acertaram também que uma sessão extraordinária será feita semanalmente para acelerar os trabalhos. Mas os integrantes do Supremo precisam ainda discutir o calendário exato de sessões.

Barbosa havia proposto, também com o objetivo de acelerar o caso, que o Supremo Tribunal fizesse sessões diárias - de manhã e à tarde - na primeira semana, para que os advogados defendessem seus clientes. No total, os advogados terão 38 horas para as sustentações orais - uma hora para cada réu.

Para que os ministros não se cansassem ou pudessem julgar outros processos, Barbosa teria discutido com os colegas a possibilidade de um revezamento de ministros em plenário, mantendo o número mínimo para garantir o quórum da sessão.

A proposta é polêmica no tribunal e combatida pelos advogados. Integrantes do tribunal dizem que o STF passaria um sinal de que estão deixando a defesa dos réus em segundo plano. Os advogados dizem que seria necessário limitar a quantidade de defesas num dia.
Depois de cinco horas, afirmou o advogado Márcio Thomaz Bastos, os ministros já estarão cansados e não prestarão atenção às sustentações orais.

Todos esses detalhes serão discutidos em sessão administrativa a ser convocada pelo presidente do STF. Nas próximas semanas, o ministro Ricardo Lewandowski, revisor do processo, liberará seu voto. Com isso, a data do julgamento já poderá ser marcada. O mais provável é que o tribunal comece a julgar no início de agosto.

Felipe Recondo - O Estado de S. Paulo
03 de junho de 2012
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OPOSIÇÃO DENUNCIA LULA POR FAZER CAMPANHA ANTECIPADA DE HADDAD NO PROGRAMA DO RATINHO

 
O PSDB e o PPS vão entrar na Justiça Eleitoral amanhã contra a participação do ex-presidente Lula e de seu pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad (PT), no programa do Ratinho, do SBT, alegando que houve propaganda eleitoral antecipada. Os partidos protocolam as ações no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo na segunda-feira.

Como se sabe, na quinta-feira, Lula deu uma entrevista de cerca de 40 minutos ao apresentador Carlos Massa, o Ratinho. Haddad foi chamado para o palco no fim da entrevista e falou sobre a cidade de São Paulo e suas propostas.

No programa, Lula admitiu a possibilidade de disputar a eleição presidencial em 2014, se a presidente Dilma não quiser tentar a reeleição, para evitar que um “tucano volte a governar o Brasil”.
Haddad foi elogiado por Lula e Ratinho. “Ele é bonitão”, disse o apresentador do SBT sobre o petista. Já Lula afirmou que Haddad “já entrou na história como o ministro da Educação que mais criou escolas técnicas neste país”.

O nome de José Serra, pré-candidato do PSDB à Prefeitura e principal adversário de Haddad na disputa municipal foi citado por Ratinho, após Lula falar sobre os tucanos. “José Serra, você está lascado”, disse o apresentador.

Em nota, o PSDB disse que fará a queixa para defender “realização de eleições limpas, justas, de acordo com a lei e o respeito à igualdade entre os candidatos”. Também em nota, o PPS disse que “a lei não permite que um pré-candidato, acompanhado de seu principal cabo eleitoral, transforme um programa de televisão em um palanque de campanha”.

CHARGE DO DUKE

 DU

03 de junho de 2012

PAGOT, EX-DIRETOR DO DNIT DEMITIDO POR CORRUPÇÃO, ENFIM COMEÇA A ENTREGAR O JOGO

Reportagem na Folha de S. Paulo resume as entrevistas que o engenheiro Luiz Antonio Pagot, ex-diretor do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), deu às revistas IstoÉ e Época, nas quais acusa o PT e o PSDB de usarem os governos federal e de São Paulo para bancar as campanhas de Dilma Rousseff e José Serra à Presidência da Republica, em 2010.

À revista “Época”, Pagot disse que o alto escalão do PT pediu auxílio para conseguir doações de empresas que tinham contratos com o Dnit para a campanha da presidente Dilma.

Já à “Istoé”, ele acusou o PSDB de desviar dinheiro da obra do Rodoanel, em São Paulo, para abastecer o comitê do adversário de Dilma na eleição, o tucano José Serra.
Pagot foi exonerado do Dnit em 2011 após suspeitas de que havia um esquema de cobrança de propina no Ministério dos Transportes, ao qual o Dnit é ligado.

À revista “Época”, ele afirmou que foi procurado pelo deputado federal José di Filippi Júnior (PT-SP), tesoureiro da campanha de Dilma, para auxiliar na arrecadação de recursos.
Após o pedido, Pagot, que naquele momento estava no comando do Dnit, afirmou ter se reunido com cerca de 40 empresas. Pelo menos 30 teriam feito doações para a campanha de Dilma.

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SERRA

À revista “Istoé”, Pagot afirmou que foi pressionado a liberar um aditivo de R$ 264 milhões para as obras do trecho sul do Roadoanel, que conta com recursos federais.

Ele disse ainda que as empreiteiras que tocaram a obra sustentaram a campanha de Serra à Presidência. Pagot afirma que 8% do valor do aditivo seriam destinados a Serra e seus aliados: o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (PSD), e o governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Segundo Pagot, quem pediu o aditivo foi o então diretor de obras da Dersa, Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, hoje fora do governo. Em 2010, Souza foi acusado de desviar recursos de suposto caixa dois do PSDB.

Na ocasião, ele negou as acusações e processou os acusadores. Serra primeiro negou que o conhecesse. Souza disse então, em tom de ameaça: “Não se larga um líder ferido na estrada a troco de nada. Não cometam esse erro”. Depois disso, Serra afirmou que se confundiu por conta do apelido quando questionado se conhecia Paulo Preto.

Segundo Pagot, os desvios do Rodoanel não eram divididos de forma equânime entre Serra, Kassab e Alckmin: “Era 60% para o Serra, 20% para o Kassab e 20% para o Alckmin”, afirmou à revista.
Também à “Istoé”, Pagot afirmou ter sido procurado pela ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) para ajudar na campanha dela ao governo de Santa Catarina em 2010. Em nota à revista, a petista negou.

Em função dessas denúncias, membros da CPI do Cachoeira disseram que pretendem convocar Pagot para depor na comissão. Se for, vai ser um arraso.

03 de junho de