"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 2 de setembro de 2012

OZYMANDIAS


 

No filme do Woody Allen “Para Roma, com amor”, dois personagens dizem estar sofrendo de Melancolia Ozymandias. O termo foi inventado pelo próprio Woody Allen para seu personagem num dos seus filmes mais subestimados, “Stardust memories”, sua versão do “8 e meio” do Fellini.

A referência é a um famoso poema de Percy Shelley, escrito no século dezenove, que fala da descoberta de uma estátua colossal com a seguinte inscrição na base: “Meu nome é Ozymandias, Rei dos Reis. Contemplem a minha obra, ó poderosos, e desesperem.” Mas em torno da estátua não há vestígio de obra alguma, há só um deserto até o horizonte.

O Ozymandias de Shelley adverte contra a vaidade e a soberba e lembra que tudo no mundo é transitório, incluindo o poder e a glória. A melancolia que leva seu nome vem da constatação da precariedade da vida, do amor e das nossas obras, que mesmo não sendo ozymândicas mereceriam — pelo menos na nossa opinião — resistir aos séculos. Tudo passa, nos diz o poema. No fim, de um jeito ou de outro, sempre vence o deserto.

Com sua preocupação constante com a morte, o Woody Allen não deve estar brincando quando se atribui a tal melancolia. Sua obra talvez dure mais do que a de Ozymandias, de cujo império nunca mais se ouviu falar — apesar da especulação de que “Ozymandias” seria o nome grego do faraó Ramsés II — principalmente agora que a estocagem digitalizada de filmes e fitas os tornou praticamente eternos.

Mas Allen não deve encontrar consolo na ideia de que daqui a mil anos sua obra ainda estará sendo vista. Ele preferiria estar lá para explicá-la. Ele mesmo já disse que não teme a própria morte, desde que não esteja presente na ocasião.

Mas é curiosa a evocação de Ozymandias no filme. Roma é o melhor exemplo mundial de uma civilização vivendo nas ruínas das muitas civilizações que a precederam. De certa maneira, Roma é um antídoto para a melancolia Ozymandias. Nela tudo que já passou continua lá, como paisagem, e a vida que continua entre as ruínas é bela e ensolarada — nos filmes, ao menos — e não dá o menor sinal de ceder ao deserto.

02 setembro de 2012
Luis Fernando Veríssimo

CAIU A FICHA DOS PETISTAS



A condenação pelo STF do deputado João Paulo Cunha (PT-SP) era esperada no partido. Mas não que ela fosse também pelo crime de lavagem de dinheiro. A partir de agora, os réus no processo do mensalão avaliam que podem ir para a cadeia.

Os ex-presidentes do PT José Genoino e José Dirceu estão a cada dia mais apreensivos com os rumos do julgamento do mensalão. O caso mais grave é o de Genoino. Deprimido, na volta das férias, deve pedir licença do Ministério da Defesa.

Mesmo com o apoio do novo presidente do STJ, Félix Fischer, Sérgio Kukina não deve ser nomeado para a vaga do Ministério Público no STJ. No Planalto, ele é considerado tucano. A tendência da presidente Dilma é pela nomeação do procurador Sammy Barbosa, que tem o apoio do vice do STJ, Gilson Dipp, do governador Tião Viana (AC) e do senador Jorge Viana (PT-AC).

02 de setembro de 2012
Ilimar Franco, O Globo

A PRIVATARIA ARRUINA A BIBLIOTECA NACIONAL

 

Biblioteca, como diz o nome, é um lugar onde se guardam livros catalogados, acessíveis ao público. No caso da Biblioteca Nacional, um transeunte que entra no prédio para sapear o catálogo precisa deixar até os cadernos na portaria. Caneta não entra, só lápis preto.

Se alguém for à página da BN na internet, terá à mão um catálogo de 576 mil obras, apesar de o acervo ser de pelo menos dois milhões. Mais, nas palavras do seu Relatório de Gestão: “Para evitar sobrecarga (da rede elétrica), não é permitido aos leitores utilizar carregadores para equipamentos como computadores, gravadores e assemelhados.”

Neste ano, em duas ocasiões, vazamentos do sistema de ar-refrigerado inundaram áreas em vários andares, formando poças com até dez centímetros de profundidade. Há estantes que dão choque, sua fachada centenária solta pedaços, e tapumes protegem os pedestres.

Funcionários da instituição fizeram uma manifestação na sua escadaria celebrando “o aniversário das baratas que infestam o prédio, com destaque para seu ‘berçário’, no quinto andar; das pragas que gostam muito de papel: brocas, traças e cupins” bem como “dos ratos do primeiro andar”.


Nesse cenário de real ruína, ressurge a cantilena: faltam recursos. Coisa nenhuma. O governo da doutora Dilma e a administração do companheiro Galeno Amorim, atual diretor da BN, botam dinheiro da Viúva em coisas que nada têm a ver com a tarefa de guardar, catalogar e tornar acessíveis os livros.

Em 2011 o Orçamento deu à BN R$ 30,1 milhões para gastos sem relação com pessoal e encargos. De outras fontes públicas, para diversas finalidades, recebeu mais R$ 63,4 milhões. A digitalização dos sacrossantos “Anais da BN” parou em 1997, mas ela gastou alguns milhões em coedições, no patrocínio de traduções (inclusive para o croata) e na manutenção de um Circuito Nacional de Feiras do Livro.

Colocou R$ 16,7 milhões num programa de compra e distribuição de livros populares, ao preço máximo de R$ 10, para distribuí-los pelo país afora. (Quem achou que por R$ 10 compram-se também estoques de livros encalhados ganha uma passagem de ida e volta a Paris.)

A criação de um polo de irradiação editorial pode ser uma boa ideia, mas essa não é a atribuição da Casa. Mercado de livros é coisa privada, biblioteca é coisa pública. Se ela não tivesse ratos no primeiro andar, baratas em todos, estantes que dão choque e um catálogo eletrônico mixuruca, poderia entrar no que quisesse, até mesmo na exploração do pré-sal.

Se Galeno Amorim pode revolucionar o mundo editorial brasileiro, a doutora Dilma deveria criar o Programa do Livro Companheiro, o Prolico. Nomeando-o para lá, deixaria a Biblioteca Nacional para quem pudesse cuidar dela.

02 de setembro de 2012
Elio Gaspari, O Globo

MOEDAS DO ESCAMBO: PROPINA, BOLA, PEDÁGIO

 

Quem pratica o maior dano às instituições? A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, com a franqueza da linguagem mineira, não tem dúvidas: é a corrupção. E puxa a orelha dos corruptos, quando compara a vida a uma estrada.
Não adianta uma pessoa andar mil quilômetros em linha reta, se entra na contramão e bate em alguém. E ensina: “não dá para um cidadão ir dormir imaginando que no espaço público está fazendo alguma coisa errada”.

A elevação moral que se pinça da peroração da magistrada não chega a comover os travesseiros dos malfeitores. Que continuam, em nossos trópicos cheios de contramão, a dormir o sono dos justos. Só abrem os olhos quando acordados pelo ferrão da Justiça. Mesmo assim, quando acordam, mostram-se dispostos a “sacudir a poeira e dar a volta por cima”.

Qualquer semelhança com o Grupo OK, do ex-senador Luiz Estevão, que vai devolver R$ 468 milhões aos cofres públicos, não é mera coincidência. O fato é que, apesar dos esforços do Ministério Público e do Judiciário para multiplicar diques de contenção, ondas de corrupção continuam a devastar o terreno da administração pública nas três instâncias da Federação.

Eliminar as manchas de corrupção do corpo do Estado é tarefa complexa. A realidade mostra que não se muda uma cultura por decreto. O vírus da corrupção, como é sabido, inoculou-se nas veias da Nação em seu berço civilizatório, espraiando-se por ciclos históricos, imbricando-se aos governos, adentrando os compartimentos legislativos e deitando raízes no sagrado corpo da justiça.

Voltemos ao passado. Em primeiro de maio de 1500, na famosa Carta do Descobrimento do Brasil, ao pedir a El Rei a “graça especial” de mandar vir da Ilha de São Tomé seu genro, Jorge de Osório, que lá estava preso, Pero de Vaz de Caminha abria o repertório de proveitos, adjutórios e jeitinhos que circundam (e corroem) a vida de nossas instituições políticas e sociais.

Os pequenos desvios de ontem deram lugar aos gigantescos escândalos de hoje, dentre eles, os mensalões, o caso Luis Estevão, os bingos e cartões corporativos, as sanguessugas (ambulâncias), a CPI das ONGs etc.

Hoje, o custo das “coisas erradas” na administração pública é estratosférico: entre R$ 80 a 100 bilhões, segundo um estudo da FIESP, algo em torno de 1,4% do PIB ou mais de 20% dos recursos movimentados pela corrupção no mundo, que a Transparência Internacional calcula em US$ 1 trilhão por ano.

A indagação é rotineira: por que os malfeitores continuam a agir de maneira desabrida? Conhece-se a resposta: porque as causas que determinam comportamentos erráticos persistem. Elas abrigam o cenário institucional e as mazelas abertas pelo Estado, a partir da empedernida burocracia e a escancarada impunidade.

Veja-se esta última. Análise feita pela Controladoria Geral da União dá conta que a probabilidade de um funcionário corrupto ser punido é de menos de 5%. Logo, a prática de “criar dificuldades para obter facilidades” ganha corpo na vasta seara das administrações. Adiantar expedientes, “fabricar” textos de licitações para beneficiar grupos, liberar recursos estão entre os exercícios que entram na contramão apontada pela ministra Cármen.

Nesse ponto, o Estado hipertrofiado sobe a montanha burocrática. Visões obsoletas e grupos indolentes esbarram nos obstáculos: restrições comerciais; medidas que desestimulam a produção; vieses protecionistas; fartos subsídios para uns produtos e regras pesadas contra outros; falta de celeridade da Justiça; farta, confusa e injusta legislação tributária e ausência de planejamento.

Esse é o fertilizante jogado no terreno da corrupção, onde nasce a equação que junta estruturas arcaicas e quadros esfomeados. Dessa forma, as florestas da União, Estados e Municípios garantem a moeda do escambo da res publica: a propina, a bola, o pedágio, as comissões.

O exercício da corrupção, é oportuno registrar, é também facilitado pelo contingente de jardineiros dispostos a semear o vírus. Veja-se. O número de pessoas em cargos de confiança no governo federal facilita a extensão de ilícitos: 90 mil pessoas. Em países como Estados Unidos, essa quantidade não ultrapassa 10 mil servidores e, na Inglaterra, não passa de 300.

Por último, vale destacar que a temperatura ambiental também propicia a proliferação da doença. Afinal, mais de 70% da população, segundo o Ibope, se diz tolerante com a corrupção, enquanto o percentual que admite ter cometido algum deslize ético e poderia cair na malha corruptiva, caso fosse nela jogado, é até maior.

Ou seja, o jeitinho para driblar os caminhos da lei e substituir as retas pelas curvas parece encarnado na alma popular, o que remete a uma reflexão sobre os valores que formam o ethos nacional, entre eles, a flexibilidade, a improvisação, a criatividade, a rebeldia, o gosto para fugir à norma estabelecida.

Sérgio Buarque de Holanda, no clássico Raízes do Brasil, já contrapunha nossa tradição cultural à herança nórdica protestante. Cultivamos um “individualismo amoral”, que descamba na ausência do associativismo racional típico dos países protestantes, o que explica nosso atraso social.
Não conseguimos cultivar o controle racional dos afetos. A nossa ética joga os interesses de curto prazo sobre os de longo prazo.

Sob essa moldura comportamental, o que fazer para tapar os buracos abertos pelos aríetes da corrupção? Fazer a reforma da gestão do Estado, que pressupõe ações que coíbam práticas ilícitas, como o Orçamento impositivo, pelo qual o Poder Executivo se obrigaria a executar a programação orçamentária aprovada pelo Congresso.

Hoje, com o orçamento autorizativo, a liberação de recursos passa por um extenso corredor, dando margem à manipulações. Noutra ponta, fechar as portas da impunidade e acelerar os processos contra os meliantes, ao mesmo tempo em que todos os centavos surrupiados deverão ser devolvidos ao Tesouro.
Para começo de conversa.

02 de setembro de 2012
Gaudêncio Torquato

POR QUE ROMERO JUCÁ DEFENDE A EXPLORAÇÃO DE OURO EM ÁREAS INDÍGENAS

O novo eldorado da família do senador

 

PEPITAS O senador Romero Jucá. Sua filha quer explorar minério em Roraima,  na fronteira com  a Venezuela  (Foto: Celso Junior/AE)
 
Na tarde do dia 17 de maio, uma quinta-feira de trabalho no Congresso, o senador Romero Jucá, do PMDB de Roraima, subiu à tribuna para, como de hábito, defender os mais caros interesses do país.

Desta vez, exortaria os parlamentares a legalizar a mineração em terras indígenas, prevista num projeto de lei patrocinado por ele. Jucá se ajeitou na tribuna, empertigando-se diante do microfone, e se pôs a falar:

“Quero aqui registrar a importância deste debate. Para o Brasil, é muito importante (a aprovação da lei)”. Passou, então, a explicar os benefícios da proposta: “Haverá pagamento de royalties ao Poder Público e também à população indígena.
Ganhará o direito à mineração aquele que pagar mais à comunidade indígena. Haverá uma licitação. Haverá todo o cuidado ambiental, todo o cuidado antropológico da Funai”.

Jucá – talvez convencido de que comovera os colegas por ter, pela primeira vez na carreira, empregado no mesmo discurso os termos “licitação”, “cuidado ambiental” e “cuidado antropológico” – encerrou com um apelo para que o projeto seja aprovado logo, ainda neste ano. Por que Jucá tem pressa?

Em 2 de abril – portanto, um mês antes do discurso de Jucá –, a empresa Boa Vista Mineração pedira autorização ao governo para explorar ouro em nove terras que contêm áreas indígenas. O pedido fora feito ao Departamento Nacional de Produção Mineral, o DNPM, instância burocrática que cuida do assunto.

A quem pertence a Boa Vista Mineração, uma empresa com capital de R$ 2 milhões?
A sócia majoritária chama-se Marina Jucá, de 29 anos, filha do senador Romero Jucá. Outros dois sócios dela no negócio também são ligados ao senador. O tino empresarial de Marina Jucá é recente. Não faz muito tempo, era empregada no gabinete do pai e fazia faculdade em Brasília.

Jucá afirma que não há conflito de interesses em defender uma lei que beneficia sua filha
O clã Jucá quer explorar ouro em reservas dos índios macuxi e uapixana, em terras que somam 90.400 hectares (algo como a extensão da cidade do Rio de Janeiro).
O garimpo ficará próximo à fronteira com a Venezuela, em Roraima.

Em Brasília, está tudo preparado para a criação do eldorado de Jucá. O relator na Câmara do projeto de Jucá é o deputado Édio Lopes, também do PMDB de Roraima, e amigo do senador. Sérgio Dâmaso, que dirige o DNPM e pode conceder as autorizações à empresa de Jucá, é bancado no cargo pelo PMDB. Se a proposta for aprovada, é provável que a empresa de Jucá consiga as autorizações de imediato, sem licitação, porque as havia pedido antes de a nova lei passar a valer.

Procurado por ÉPOCA, Jucá limitou-se a dizer, por e-mail, que não tem nada a ver com a empresa da filha. Disse ainda que a defesa que faz no Congresso Nacional da aprovação do projeto de lei não representa conflito de interesses com a atividade empresarial de Marina Jucá.
“É de interesse do país que esse assunto seja regulamentado.”

02 de setembro de 2012
MARCELO ROCHA

PAIS, MÃES E FILHOS

 

Mesmo que o conceito de família, como se tem muito noticiado, não viesse sofrendo mudanças ocasionadas por novos valores, as descobertas da ciência imporiam - e já começaram a impor - alterações jurídicas complicadas, que a gente ainda não sabe direito em que é que vão dar.
Agora mesmo, ouvi a observação casual de uma comentarista de tevê, segundo a qual o aluguel de uma boa barriga está em torno de 200 mil reais. É claro que deve haver normas e conceitos aplicáveis a essa locação e as consequências de abdicar do sonho da barriga própria também terão implicações legais.

Por exemplo, o aluguel da barriga envolve somente a obrigação de portar o feto no útero e parir, mais nada? A locadora não tem também de amamentar a criança, ou isso seria classificado como adicional de peito e pago separadamente? É válido o contrato que não garanta à criança esse direito? Incorrerá a locadora no delito de negação de peito, caso a locatária não possa arcar com as despesas extras? O preço da barriga é social e, nos casos de locatárias de baixa renda, deve ser subsidiado pelo Estado? Os custos dos cuidados pré-natais são, como as taxas de condomínio, responsabilidade da locatária? Como distinguir um mal-estar causado pela gravidez de outro, que não tenha a ver com ela?
Em caso de defeito no produto final, será sempre possível diferençar um problema originado dos pais biológicos daquele advindo de alguma imprudência ou acidente de responsabilidade da locadora? Haverá seguro compulsório? Cabe indenização, cabe devolução do produto, cabe queixa ao Procon? No caso de a criança vir a ser rejeitada e oferecida para adoção, a locadora tem preferência?
 
Irmão de barriga será uma das novas categorias, provavelmente com a designação politicamente correta de "irmão couterino".
Caberá à lei estabelecer se isso implica algum grau de parentesco, além de definir outros pontos delicados, como, por exemplo, se todos os couterinos terão direito a chamar a dona da barriga de aluguel de "mamãe", detalhe que parece simples, mas logo se vê que não é, quando se levam em conta aspectos psicológicos e de vida social.
E até ocorrências triviais talvez necessitem revisão, como no caso de xingamentos, pois poderá haver discussão sobre se ambas as mães, ou somente uma delas, poderão considerar-se injuriadas, difamadas ou caluniadas, quando objeto de alguma ofensa.
 
Como sabem os leitores das páginas de ciência dos jornais, os avanços nessa área estão longe de limitar-se à hoje quase corriqueira barriga de aluguel. Já é possível "produzir" uma criança com material genético de um ou mais pais e/ou mães.
Não sem razão, os cientistas empenhados nesse campo argumentam que, assim, podem substituir genes defeituosos que seriam herdados, por outros, de genitores excluídos desse risco.
E esse interesse é suficiente para estimular a pesquisa. Teremos, portanto, mais dia menos dia, a figura de outro "co", no caso o copai ou a comãe.
 
Pensar nos parentescos possíveis, a partir somente disso aí, já deixa o sujeito zonzo. Dá pena do advogado formado no tempo do "mater certa, pater sempre incertus", quando uma boa ação de investigação de paternidade era uma aventura de suspense e emoção e não essa coisa sensaborona e sem arte, exame de DNA.
Daqui a pouco, vai-se ver com problemas de patrimônio e sucessão antes inimagináveis. Haverá meios-irmãos por parte de pai e por parte de mãe, ou por ambos, e a confusão já começará no registro civil. Quando chegar a alguma herança, declarar-se-á um aranzel jurídico indescritível, em que vai ser difícil alguém tomar pé.
 
Até porque os, digamos, multiparentescos não vão limitar-se a um genitor extra em cada caso. Na verdade, não é absurdo prever-se que material genético de vários "colaboradores", de ambos os sexos, poderão vir a ser utilizados na produção ou "aperfeiçoamento" genético de um embrião humano. Ou seja, é possível que haja um filho de diversos pais e mães, uma obra coletiva, por assim falar.
 
Não deixa de ser uma ideia curiosa e não hão de faltar comitês de amigos que se unam para perpetuar-se como grupo, na figura de um único rebento, que, para acabar de enlouquecer o advogado, usará uma barriga de aluguel.
Creio já poder adivinhar que o bebê assim produzido será chamado de "poligênico", sua figura paterna será um álbum e seu Édipo terá um harém. Com toda a certeza, pelo menos uma torcida organizada criará um menino com material genético doado pelos craques do clube - e o menino receberá o nome de Cocktailson, comerá a bola desde os 5 anos de idade e passará oito minutos dedicando seu primeiro gol como profissional à família.
 
Finalmente, nestes tempos em que essa festinha de suspender impostos a qualquer hora vai ter que acabar e cairemos na real, é alentador ver as primeiras manifestações do que certamente será uma próspera economia, geradora de empregos e oportunidades.
Em relação às barrigas de aluguel, o mínimo que se pode antecipar é a institucionalização da profissão de corretor de barriga, que deverá trazer segurança para os interessados, além de alguma ordem para um mercado que, do contrário, poderia ficar à mercê de aproveitadores e monopolistas.
 
E serão eles os primeiros grandes clientes dos cadernos especiais que os jornais, da mesma forma que em relação a carros e imóveis, passarão a publicar, com anúncios e matérias envolvendo desde a cotação do sêmen e do óvulo de primeira até ofertas de excedentes de produção, pontas de estoque, etc. Só não creio que veiculem anúncios de um DNA com características que dificultem seu receptor vir a ser um adulto corrupto. Não há mercado, todo mundo pensa no futuro de seus filhos.

02 de setembro de 2012
João Ubaldo Ribeiro - O Estado de S.Paulo

TOLERÂNCIA ZERO

 

A contundência e o rigor da escolha das palavras têm sido a marca dos votos dos ministros do Supremo Tribunal Federal no trato do mensalão, desde o acolhimento da denúncia da Procuradoria-Geral da República, em agosto de 2007.

Há cinco anos expressões como "esquema escancarado" (Marco Aurélio Mello); "fatos extremamente graves" (Celso de Mello); "denúncia típica de quadrilha ou bando" (Ayres Britto); "mentor supremo da trama", de Joaquim Barbosa ao apontar a existência de indícios suficientes para que José Dirceu merecesse "ser investigado", surpreenderam.

Mas, postas no contexto de um processo que apenas se iniciava e da descrença generalizada na Justiça, tendo ainda como única referência de comparação mais ou menos à altura a absolvição de Fernando Collor 13 anos antes, aquelas palavras soavam a mera retórica.

Uma hipótese remota de condenação que vai agora se materializando na montagem de um quebra-cabeça, cuja junção das peças desenha um cenário de punições.

Collor foi absolvido da acusação de corrupção passiva por falta de provas cabais sobre a existência do ato de ofício. O entendimento hoje é outro, com a maioria dos ministros admitindo não ser indispensável a demonstração de causa e efeito.

O que mudou? A audácia foi ao topo e, no exagero, cavou seu fundo de poço. O Judiciário não ficou imune à realidade de exorbitâncias e conivências dos últimos anos descrita no discurso de posse do ministro Marco Aurélio Mello na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, em maio de 2006.

Ao apontar a "rotina de desfaçatez e indignidade que parece não ter limite", Marco Aurélio ressaltava a urgência de se iniciar um "processo de convalescença e cicatrização" no qual o Judiciário teria necessariamente de "assumir sua parcela de responsabilidade nessa avalancha de delitos que sacode o País".

Tanto a corda foi esticada, tantos abusos foram cometidos sob olhares benevolentes e gestos coniventes de autoridades e sociedade, que ao Supremo só restou a opção da resposta em grau de tolerância zero.

Mal na foto. Se prêmio houvesse para quem disse ou fez algo que parece agora falácia ou manobra à luz da conclusão da primeira etapa do julgamento do mensalão, a medalha de ouro iria para o ex-presidente Lula em seu anunciado intuito de "desmontar" a aludida "farsa".

Dividindo a prata, os ministros Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. Não pelos votos de absolvição a João Paulo Cunha, mas por seus argumentos terem sido considerados pelo advogado Márcio Thomaz Bastos como uma "vitória" da tese do caixa 2.

Convenhamos: não fica bem um magistrado ser apontado como arauto de uma prática que o próprio advogado quando ministro da Justiça havia classificado como "coisa de bandido".

O bronze, por ora, fica com os conselheiros do Tribunal de Contas da União que aprovaram parecer que conferia ares de legalidade aos desvios de dinheiro do Banco do Brasil considerados ilegais pela unanimidade do STF.

Na categoria "hors concours", temos a Câmara dos Deputados que no dia 5 de abril de 2006 considerou João Paulo Cunha inocente da quebra de decoro - agora motivo de condenação por corrupção passiva - por ter recebido R$ 50 mil do valerioduto e cinco anos depois viria a aceitar placidamente que o deputado presidisse a comissão de Constituição e Justiça da Casa.

Ponte. Estremecido com o PSB por causa das disputas no Recife e em Belo Horizonte, Lula na sexta-feira mandou sua assessoria telefonar para os governadores Eduardo Campos e Cid Gomes convidando para uma reunião no próximo dia 16.

Assunto: participação de ambos na campanha de Fernando Haddad, em São Paulo. Resposta: em exame.

02 de setembro de 2012
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo

EX-MINISTROS "DEFINEM" SUCESSOR DE PELUSO

Independência, visão de estadista e olhos voltados para modernidade são traços essenciais de ministro do STF, dizem veteranos da Corte


BRASÍLIA - Para ocupar a cadeira de Cezar Peluso, que se aposentou na sexta-feira, 31, do cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal, a presidente Dilma Rousseff deve escolher um jurista não só independente, mas com visão de estadista e antenado com as mudanças da sociedade.
Se for mulher, ainda melhor. As opiniões são de ministros aposentados do STF que passaram pela Corte desde a década de 1980 e que hoje advogam e dão pareceres, aulas e palestras.

Veja também:
Substituto de Peluso deve ser "independente" - Dida Sampaio/AE
Dida Sampaio/AE
 
Substituto de Peluso deve ser "independente"

Na prática, a presidente tem a chance de, até o ano que vem, indicar até três novos ministros para a Corte. Além de Peluso, que já se despediu, o atual presidente, Carlos Ayres Britto, aposenta-se em novembro e é possível que o ministro Celso de Mello antecipe sua saída no início de 2013.
Com isso, Dilma seria responsável pela nomeação de praticamente metade do Supremo - ela já indicou os ministros Luiz Fux e Rosa Weber.

Para ex-integrantes do tribunal, essas futuras escolhas devem ser feitas com grande critério. Aos 91 anos, o decano no quadro de 16 ministros aposentados do Supremo, Aldir Passarinho, advoga até hoje e afirma que, além de dedicado ao trabalho, entender de direito e ter boa reputação, o ministro do STF deve sempre se atualizar a respeito das mudanças da sociedade.

O tribunal recentemente deu decisões na área de costumes sociais, reconhecendo a união entre pessoas do mesmo sexo, autorizou as pesquisas com células-tronco embrionárias e liberou a interrupção de gestações de fetos com anencefalia.

Aposentado compulsoriamente há seis anos, o hoje advogado Carlos Velloso ressalta que o escolhido deve ter perfil progressista. "Eu penso também que ele deve saber mais do que o direito. Deve ser humanista, aberto às ideias progressistas, saber conciliar o novo com o tradicional', avisou. "Caso contrário vai fazer uma justiça de laboratório. O mundo evolui, o direito evolui e quem não evolui morre."

Velloso participou em 1994 do julgamento do ex-presidente Fernando Collor de Mello, votou a favor da condenação e foi vencido: o tribunal absolveu o ex-presidente por falta de provas.

Ele entende que bastaria receber uma vantagem indevida para ficar configurado o crime de corrupção, sem necessidade do chamado ato de ofício.
A tese, derrotada à época, tem prevalecido no julgamento do mensalão. "Hoje a tese é vitoriosa no Supremo." Os atuais ministros "estão interpretando as provas (do mensalão) com muito cuidado", diz ele, e as condenações "vão ter um alto teor pedagógico".

Limite maior. Passarinho considera interessante que haja, na composição do tribunal, um magistrado como Peluso, juiz de direito de carreira. "É interessante que haja sempre um representante da magistratura de carreira, porque valoriza o magistrado", avalia.

Tanto Passarinho quanto Velloso são favoráveis a uma ampliação da idade limite para a aposentadoria compulsória do ministro. "Acho que o limite está muito baixo. Poderiam alterar para 75 anos", afirmou Passarinho. Tendo deixado o tribunal em 1991 por causa da compulsória, ele avisa que, se pudesse, teria ficado mais.

Aos 80 anos, o ministro aposentado Néri da Silveira é contra aumentar esse limite. "Aposentei-me com mais de 50 anos de função pública. Eu teria condições de continuar", diz ele. "Mas é preciso entender que somos um País novo, em que a renovação é sempre importante.
O STF adota esse critério há mais de um século, e ele vem funcionando bem."
Néri da Silveira avalia que, além de conhecimento jurídico, para ser ministro é necessário ter independência. "O que mais destaco é esse atributo, a independência do magistrado."

Néri da Silveira considera ideal que a Corte não seja composta exclusivamente por magistrados de carreira - o que é também destacado pelo ministro aposentado Francisco Rezek.

"No Supremo, não há reserva de mercado", disse Rezek, ao comentar que o tribunal é integrado tradicionalmente por juristas vindos da magistratura, da carreira acadêmica, da advocacia, do Ministério Público e até da política. Como ministros oriundos da política ele citou Paulo Brossard e Aliomar Baleeiro.

Ex-chanceler e ex-juiz da Corte Internacional de Justiça, em Haia, Rezek disse que tem esperanças de que Dilma indique uma outra mulher para o STF. Atualmente o tribunal conta com duas ministras - Cármen Lúcia e Rosa Weber. "Duas mulheres para 11 cadeiras (de ministro do STF) eu acho muito pouco. Essa proporção eu acho muito insatisfatória", disse, lembrando que as mulheres são a maioria da população brasileira.

Aos 84 anos, o advogado Célio Borja afirma que o ministro do STF deve ser "moralmente inatacável". Para ele, o cargo não pode ser o "último posto da magistratura".

"Ele é sui generis. Ele é o tribunal constitucional do País, o tribunal da federação e o árbitro de todas as demandas da República. Não é um tribunal comum, não faz parte da carreira da magistratura", afirmou.

Segundo ele, atualmente há equilíbrio entre a quantidade de ministros oriundos da Justiça e de outras carreiras. Sydney Sanches, que está com 79 anos e também advoga, diz que o integrante do Supremo deve ser um estadista. "Que seja um estadista, e não com uma visão para agradar amigos ou facções de grupos."

02 de setembro de 2012
Mariângela Gallucci e Ricardo Brito, Brasília - O Estado de S.Paulo

POLVO MALANDRO

“Eu não acredito no enfraquecimento da CNB. Eles são como o polvo que às vezes submerge e logo em seguida volta com força total”.


Jilmar Tatto, líder do PT na Câmara dos Deputados, sobre as consequências do julgamento do mensalão sobre a corrente Construindo um Novo Brasil, majoritária no partido e liderada por Lula e José Dirceu, surpreendendo o mundo com a descoberta de um polvo que só para de nadar na superfície do mar e submerge espertamente ao perceber a aproximação de uma daquelas lanchas doadas à guarda costeira por Ideli Salvatti quando foi ministra da Pesca.

02 de setembro de 2012
Augusto Nunes

INSPIRAÇÃO DA ESTUDANTE ISADORA FABER VEIO DA ESCÓCIA

Entrevista: Martha Payne

Garota de 9 anos criou blog para criticar a qualidade da merenda de sua escola. O resultado: 8 milhões de visitas e 356.000 reais para caridade

 
Martha Payne
Martha Payne, autora do blog NeverSeconds e inspiração de Isadora Faber (Divulgação)

Nesta semana, Isadora Faber ganhou status de heroína ao atrair para sua página no Facebook quase 200.000 fãs. Em Diário de Classe, a menina de 13 anos, estudante do 7º ano da Escola Municipal Maria Tomázia Coelho, de Florianópolis (SC), conta os problemas que atingem a maioria das escolas públicas: professores desinteressados, infraestrutura precária e falta de manutenção.
 
A inspiração, contou Isadora, veio de Martha Payne, uma escocesa de 9 anos que desde abril mantém o blog NeverSeconds ("É proibido repetir o prato", uma ordem de fato vigente na sua escola), onde avalia – e espinafra, por vezes – a merenda servida a ela e aos seus colegas. Martha é um sucesso.
 
Hoje, seu blog soma quase 8 milhões de visitas e recebeu elogios até do chef e apresentador de TV britânico Jamie Oliver.
Martha diz que foi fácil conseguir o apoio de amigos e professores, mas seu diário on-line despertou a ira do conselho regional de educação, que chegou a proibir a menina de fotografar a comida da escola.
Sem poder alimentar o blog temporariamente com suas próprias fotos, ela abriu o espaço a colaborações - que logo chegavam de todas as partes do mundo.
Martha foi além: deu início a uma campanha internacional para arrecadar dinheiro para crianças que não têm o que comer. Na semana passada, totalizou 110.000 libras (cerca de 356.000 de reais) em doações, dinheiro que será destinado a uma instituição de caridade.
 
No fim de setembro, Martha vai ao Malaui entregar parte da verba e já está escrevendo um livro sobre a experiência. Na entrevista a seguir, concedida ao site de VEJA, Martha Payne fala sobre como, aos 9 anos, já transformou a vida de tanta gente, inclusive a de Isadora.
Confira:
 
O que a motivou a fazer o blog?
Em sempre quis escrever diariamente sobre alguma coisa, como os jornalistas. Ao mesmo tempo, eu estava insatisfeita com a merenda da minha escola. Juntei as duas coisas.

Como seus professores e amigos receberam o projeto?
Todos na minha escola gostaram muito da ideia, mas o conselho de educação, que gere as escolas da região, não gostou nada do meu blog.
 
Você chegou a ser impedida de publicar as fotos, não é?
Sim, o conselho me proibiu de escrever sobre a merenda da minha escola, mas as pessoas começaram a reclamar e eles voltaram atrás. Então, decidi dar voz a crianças de outras escolas. Hoje, pessoas de diferentes partes do mundo escrevem durante uma semana no meu blog contando sobre a comida de seus países.
 
Com a pressão do conselho, você não pensou em desistir?
Nunca. Estou adorando ter convidados no meu blog. Gostaria até de convidar a Isadora para escrever lá.
 
Você conversou com seus pais antes de começar o blog?
Sim. Meu pai me ajudou a fazer o blog e também pedi a permissão da escola para esse projeto. A coordenação pediu ao meu pai que me acompanhasse de perto.
 
Sua vida mudou bastante depois do blog?
Eu me exercito menos agora porque fui convidada a escrever um livro sobre meu blog. Agora também tenho mais amigos fora da Escócia. Um dia quero conhecer todos eles.
 
E a merenda da sua escola, mudou?
Sim, melhorou!
 
Você também transformou a vida de muita gente com o seu blog. Como surgiu a ideia de ajudar outras crianças por meio da caridade?
Meu avô me apresentou a Mary’s Meal, uma organização internacional que leva comida a crianças do mundo todo. No ano passado, eu ajudei a organizar um evento na escola e arrecadamos 70 libras (226 reais) para essa organização.
Quando o meu blog ficou famoso, comecei a receber comentários de pessoas do mundo todo e algumas me diziam que eu tinha muita sorte de ter o que comer.
Então, criei um site (www.justgiving.com/neverseconds) para arrecadar dinheiro para as crianças que não têm merenda. Daqui a quatro semanas, vou ao Malaui entregar uma parte do dinheiro que eu levantei.
 
Você recebe muitos e-mails de crianças que se inspiram no seu blog?
Recebo alguns, sim. Mas o caso da Isadora é o melhor até agora.
 
Como você se sente inspirando outras crianças?
Fico um pouco nervosa com isso, mas me sinto feliz. As crianças que eu inspiro também inspiram outras crianças.
 
Que conselhos você dá para a Isadora e para as demais crianças querem fazer o que você faz? Sejam honestas, usem muitas fotos e escrevam o que estão sentindo.

Quais os seus planos para o futuro?

Depois que eu voltar do Malaui, não sei o que vou fazer. Acho que o Malaui me fará pensar bastante sobre a vida. Muito em breve vou completar 10 anos... quem sabe o que vai acontecer?

02 de setembro de 2012
Nathalia Goulart, Veja

MG: CANDIDATO A PREFEITO JÁ VEM COM TORNOZELEIRA ELETRÔNICA

Reportagem de VEJA desta semana mostra como o prefeito Antônio Cordeiro, acusado de desviar recursos dos cofres municipais, pede votos

 
TEMPO REAL - Toninho, sua tornozeleira e o monitoramento da PF: ele estava em Brasília
TEMPO REAL - Toninho, sua tornozeleira e o monitoramento da PF: ele estava em Brasília (Cristiano Mariz/Rodrigo Oliveira)
 
O vasto anedotário da política nacional, no igualmente farto capítulo das malfeitorias, já incluía personagens tão curiosos quanto o "homem do dólar na cueca", Silvinho Land Rover, os aloprados e o impagável "Vavá dá dois pau pra eu". Agora, um novo tipo vem juntar-se a essa galeria.

Um passo à frente, por favor, Toninho Tornozeleira. A população de Coração de Jesus, município no norte de Minas Gerais, assim apelidou o seu prefeito, Antônio Cordeiro (PSDC). Candidato à reeleição, ele foi afastado do cargo por denúncias de corrupção e, desde a semana passada, é obrigado pela Justiça a andar com uma tornozeleira eletrônica - aquele acessório destinado a evitar que criminosos que escaparam por pouco da prisão escapem também do radar da polícia.
 
A PF descobriu, em junho, que um esquema atribuído a Toninho surrupiou 2,7 milhões de reais de verbas federais destinadas à prefeitura. O dinheiro vinha de dois convênios com o Ministério da Integração Nacional. Um contrato, de 2009, destinou 1,2 milhão de reais à reconstrução de uma ponte e à reforma de duas barragens.
 
Outro, de 2010, no valor de 1,5 milhão de reais, previa a recuperação de 100 quilômetros de estradas vicinais. Segundo a polícia, nenhuma obra foi realizada, e o dinheiro acabou repartido entre Toninho, o contador da prefeitura (seu atual candidato a vice), o secretário municipal de Transportes e os donos das duas construtoras que venceram as licitações fraudulentas.
 
Cada um teria amealhado 540 000 reais. Durante a investigação, servidores e empresários disseram que estavam sendo ameaçados pelo grupo do prefeito para mentir nos depoimentos e negar os desvios. A PF pediu, então, a prisão dos envolvidos.
 
A Justiça rejeitou a solicitação, mas impôs medidas alternativas: afastou Toninho e os dois assessores dos cargos, mandou-os ficar a pelo menos 100 metros da prefeitura e proibiu o contato entre eles.
Para verificar se as ordens estão sendo cumpridas, determinou que os três utilizem tornozeleiras eletrônicas - monitoradas em tempo real na tela dos computadores da PF. Se alguma condição for violada, um alerta será disparado automaticamente - e o infrator pode ir para a cadeia.
 
O monitoramento não tem prazo estabelecido. A Justiça decretou o uso do equipamento até o fim das investigações, ainda sem previsão de conclusão. Toninho Tornozeleira nega todas as acusações: "Sou vítima da maior perseguição política da história do Brasil". Enquanto isso, o prefeito afastado tenta reverter a decisão por conta própria.
 
Depois de cruzar 500 quilômetros de estrada, passou a última semana inteira em Brasília, articulando com amigos e apoiadores o fim do seu "constrangimento", como ele diz. Sobre isso, afirma o delegado da PF Marcelo Freitas: "O político deveria ficar constrangido por roubar dinheiro público, não por usar uma tornozeleira". E a galeria cresce...

02 de setembro de 2012
Marcelo Sperandio, Veja

LARÁPIO CONSTRANGIDO

“Sou vítima da maior perseguição política da história do Brasil”.


Antonio Cordeiro, afastado da prefeitura de Coração de Jesus (MG) por ter desviado R$ 2,7 milhões de verbas federais destinadas ao município e obrigado pela Justiça, desde a semana passada, a disputar a reeleição monitorado por uma tornozeleira eletrônica, pedindo ajuda aos amigos de Brasília por sentir-se “muito constrangido” com o novo apelido: “Toninho Tornozeleira”.

“O político deveria ficar constrangido por roubar dinheiro público, não por usar uma tornozeleira”.  (Marcelo Freitas, delegado da Polícia Federal).

COTAS OBRIGATÓRIAS EM TV POR ASSINATURA

Jeca Tatu dá a mão a Policarpo Quaresma no lombo de um jumento


Os pacotes de TV por assinatura terão de cumprir cotas, incluindo canais nacionais. É, assim, o Jeca Tatu dando a mão a Policarpo Quaresma no lombo de um jumento. O objetivo oficial é estimular a produção nacional.
 
E como decidem fazer isso? Obrigando o assinante a pagar por aquilo que não quer. Você já ouviu falar do Prime Box Brasil ou da CineBrasilTV? Ouvirá em breve. Esses canais vão ser remunerados, claro!, pelas TVs, que cobrarão dos assinantes.
É uma espécie de Lei de Informática da área audivisiual. A Ancine (Agência Nacional de Cinema) já divulgou a lista.
 
Leiam o que informa a Folha


 A Ancine (Agência Nacional do Cinema) divulgou ontem a lista dos canais brasileiros aptos a cumprir as novas cotas obrigatórias em pacotes de TV por assinatura.
Essas mudanças, previstas na lei nº 12.485/11, cuja regulamentação entra em vigor amanhã, devem chegar aos assinantes a partir de 1º de novembro. Com o objetivo de incentivar a indústria audiovisual brasileira, a nova lei da TV paga determinou cotas nacionais para canais e produções.
 
A relação divulgada ontem inclui os chamados canais brasileiros de espaço qualificado, que são obrigatórios em todos os pacotes por assinatura. Até setembro de 2013, os assinantes deverão ter um canal brasileiro para cada três estrangeiros (não inclui jornalismo e esportes), até o limite de 12 por pacote. Ao menos dois devem exibir 12 horas de conteúdo nacional por dia.
 
Na relação aparecem emissoras desconhecidas como CineBrasilTV, Prime Box Brazil e O Canal Independente. GNT, Off e o novato Arte 1 (da Band), que exibem também produções estrangeiras, foram incluídos, mas atendem a menores exigências de conteúdo nacional. A lista completa está em www.ancine.gov.br.
 
02 de setembro de 2012
Por Reinaldo Azevedo

REVERENDO MOON MORRE AOS 92 ANOS EM SEUL

Fundador da seita Unificação pela Paz Mundial, famosa por realizar cerimônias de casamento com milhares de casais, estava hospitalizado havia um mês

O reverendo Sun Myung Moon
O reverendo Sun Myung Moon (Jo Yong-Hak/Reuters)
 
O controverso líder religioso Sun Myung Moon, conhecido como reverendo Moon, fundador da seita Unificação pela Paz Mundial, morreu neste domingo, aos 92 anos, em um hospital de Seul, na Coreia do Sul.

Ele estava hospitalizado desde o mês passado, depois de sofrer complicações em decorrência de uma pneumonia. Na sexta-feira, Sun Myung Moon apresentava disfunção crítica dos órgãos vitais e sua situação era considerada "irreversível" pelos médicos.
A seita fundada por Moon ficou famosa pelas cerimônias de casamento que reúnem milhares de casais.

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Preso seis vezes, uma delas em 1985, nos Estados Unidos, por sonegação fiscal, Moon respondeu por crimes como tráfico de armas e aliciamento de jovens. Mas nada o abalava: proclamava-se o escolhido por Jesus Cristo para salvar a humanidade.
Aos 16 anos, quando ainda vivia na Coreia do Norte, onde nasceu, o reverendo dizia ter tido uma revelação. Jesus deu-lhe uma missão. Só o reverendo poderia ajudá-lo a terminar seu trabalho de salvação da humanidade.
Caberia a Moon criar a família ideal e, a partir dela, a nação ideal, o mundo ideal. Por isso, os casamentos arranjados são comuns entre os seguidores de Moon.
O reverendo determinava quem deveria casar com quem, e os casais recebiam as bênçãos dele e de sua mulher, Hak Ja Han Moon. O líder, acreditam, sabia o que era melhor para todos.
Brasil - Nos anos 90, Moon deu início a um ambicioso projeto no Brasil: transformar a cidade de Jardim, no Pantanal Mato-Grossense, em uma “Nova Coreia” – e inundou a cidadezinha a 270 quilômetros de Campo Grande com milhares de coreanos e japoneses.
 
A chegada em massa dos orientais à pequena cidade causou toda espécie de estranhamento. Os seguidores de Moon foram acusados de estar na região para extrair órgãos de criancinhas e mandá-los para uma rede mundial de traficantes.
Também corria a história de que o vinho servido na fazenda continha sangue do próprio reverendo. Ou que não se podia chegar perto dos coreanos, porque eles praticavam lavagem cerebral.

Bispos inconformados com a presença dos seguidores do norte-coreano enviaram carta ao então ministro da Justiça, Nelson Jobim, querendo saber se Moon podia fazer sua empreitada brasileira. Se não, que fosse embora.
Era natural que a hierarquia católica se incomodasse com os seguidores de Moon. Para eles, a mãe de Cristo não era virgem nem o pai era José. O reverendo disseminava a ideia de que Maria foi visitar uma prima, Isabel, e lá conheceu o marido dela, Zacarias, que a engravidou.
O movimento de Moon afirma que evangeliza em cerca de 200 países e reivindica três milhões de adeptos.
02 de setembro de 2012
(Com AFP) Veja

EDUCADORES NÃO ESTÃO PRONTOS PARA LIDAR COM "ISADORAS"


Segundo estudiosos, professores e diretores são despreparados para responder a denúncias como a da estudante que usou o Facebook

Sala de aula do Ensino Médio do Escola Móbile, em Moema

Imagem feita por Isadora Faber, de 13 anos, na Escola Básica Municipal Maria Tomázia Coelho, em Florianópolis, e publicada na página "Diário de Classe", no Facebook. Ela diz que as deficiências da escola começam na "porta de entrada" - Reprodução

Aos 13 anos, a estudante Isadora Faber, de 13 anos, já detonou uma pequena revolução. Queixando-se, no Facebook, dos problemas de sua escola, atraiu em menos de dois meses cerca de 200.000 fãs para a página virtual "Diário de Classe", motivou reportagens na imprensa e provocou uma reunião de emergência na Secretaria de Educação de Florianópolis, que resultou em promessas imediatas de providências para sanar as falhas.


Saltam aos olhos no episódio a força que uma ferramenta como o Facebook, quando bem usada, pode ter em benefício da educação e também o quão desatentos e despreparados estão os educadores para isso. Prova disso é que a secretaria admitiu que conhecia as denúncias de Isadora, mas só decidiu tomar providências depois que o caso virou assunto nacional.

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Após reclamação de aluna, Prefeitura de Florianópolis convoca reunião
No Facebook, estudante narra rotina de problemas de escola pública

"As redes sociais são armas poderosíssimas e os jovens descobriram isso antes dos adultos", afirma Maria Elisabeth de Almeira, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). João Mattar, pós-doutor pela Universidade Stanford e especialista no uso de tecnologias na educação, concorda. Para ele, as instituições ignoram as redes sociais porque não sabem o que está acontecendo nelas. Quando tomam conhecimento, consideram que as manifestações não são importantes.


Após a repercussão do caso, a Secretaria Municipal de Educação determinou reforma na escola, começando pelos banheirosBebedouro que não funcionava também foi trocado e Isadora publicou a imagem do novo equipamento em seu "Diário de Classe"

Após a repercussão do caso, a Secretaria Municipal de Educação determinou reforma na escola, começando pelos banheiros - Reprodução
Entre os especialistas, é consenso que reprimir ou ignorar as queixas dos estudantes é a pior alternativa. "Um profissional sem experiência pode achar que apagar um comentário resolverá o problema, mas ele não lembra que provavelmente aquele texto já circula em outro ambiente virtual", afirma Mattar. Ao se deparar com alguma crítica, os educadores devem procurar o estudante – via mensagem privada, por telefone ou pessoalmente – para ouvi-lo. "A escola precisa de uma atitude pró-ativa", diz.

De acordo com o educador João Manuel Moran, especialista em novas tecnologias, a ação de Isadora foi inovadora. Para ele, os professores ainda veem a rede social como um repositório de queixas sobre professores ou provas, por exemplo. No momento em que as reclamações se dirigiram para a infraestrutura escolar e suas falhas, os docentes e direção foram surpreendidos. "Isadora contribuiu efetivamente para a melhoria do sistema. Isso é um fenômeno novo, para o qual as escolas não estão preparadas. Elas só reagem depois que algo acontece", diz.

Para evitar surpresas desagradáveis, o secretário-adjunto de Educação do Estado de São Paulo, João Cardoso Filho, afirma que a secretaria está insistindo com os coordenadores pedagógicos das escolas para reativar os grêmios estudantis. O objetivo é estimular um canal pelo qual os estudantes se expressem –  e reclamem. "A manifestação dessa aluna deve ter ocorrido porque ela não encontrava espaço para falar de suas angústias", diz Cardoso Filho.

02 de setembro de 2012
Lecticia Maggi, Veja

OS ELOGIOS DE LULA E DILMA AO COMPANHEIRO CORRUPTO EXPLICAM POR QUE OSASCO FICOU FORA DO TURNÊ DO PALANQUE AMBULANTE


O PT de Belo Horizonte esperava juntar 50 mil pessoas no primeiro comício estrelado por Lula na temporada eleitoral de 2012. Apareceram 5 mil ─ e o início da turnê do palanque ambulante foi um fiasco. Para recuperar a autoconfiança abalada pelo fracasso de público, o orador deveria programar com urgência uma escala em Osasco. Além dos devotos sempre prontos para aplaudir a palavra do mestre, a discurseira seria certamente engrossada por milhares de curiosos.
 
Todos estariam interessados em saber o que tem a dizer o ex-presidente sobre o que disse de João Paulo Cunha no comício promovido em 20 de agosto de 2010, durante a campanha presidencial. A voz é de antigamente, mas o vídeo de 1min10 foi gravado há apenas dois anos. Começa no meio do palavrório no palanque: “Tem um cumpanhero que todas veiz que a gente pudé ajudá-lo a gente tem que ajudá, que é o cumpanhero João Paulo Cunha, que é aqui de Osasco”.

Logo atrás do chefe, Dilma Rousseff sorri. À direita do chefe, Marta Suplicy sorri e bate palmas. À esquerda do chefe, Netinho de Paula sorri com a expressão triunfante de quem nem desconfia que está prestes a naufragar nas urnas. João Paulo chega do fundo do palco, consegue um espaço entre o chefe e Marta e sorri enquanto Lula retoma a lengalenga: “Por tudo o que ele sofreu nesse período… “.
A gravação é interrompida antes que Lula berre que o mensalão não existiu, e que é preciso reparar com votos as dores impostas a um inocente pelos inventores da farsa concebida para derrubar o governo do operário que construiu o Brasil Maravilha. Na cena seguinte o artista principal reaparece depois de encerrado o comício, suando ao pé do palanque.
 
“Eu acho que o João Paulo precisa ser eleito”, vai em frente. “Deve ser eleito com uma grande votação, porque o João Paulo é um extraordinário cumpanhero, um extraordinário deputado”. Olha diretamente para a câmera e conclui: “Portanto, vote em João Paulo para deputado federal”. Corte. Close em Dilma Rousseff, pronta para mostrar que sabe falar e andar ao mesmo tempo. “João Paulo, toda sorte do mundo para ti”, capricha o neurônio solitário. “Você merece, você é um guerreiro. Sorte. E tenho certeza que cê será um grande deputado”.
 
O Supremo Tribunal Federal discorda. Depois de descobrir que o extraordinário deputado de Lula é um caso de polícia, resolveu que o guerreiro de Dilma vai batalhar no presídio. O ex-presidente solidarizou-se por telefone com o companheiro corrupto. A sucessora, nem isso. Pelo palavrório de 2010, ambos estão obrigados a visitar João Paulo Cunha na cadeia. Pelo menos um domingo por mês.
 

O TIRANETE DE ANGOLA E O CINISMO DA GRANDE MÍDIA EMBALADO PELO JORNALISMO AMESTRADO



José Eduardo dos Santos: 33 anos no poder em Angola.
 

Os jornalistas da grande imprensa brasileira, além de sabujos do esquerdismo em sua esmagadora maioria, agora deram para praticar o cinismo puro e simples.
Essa matéria sobre a "eleição" de Angola é emblemática. O tirano José Eduardo dos Santos está "apenas" há 33 anos no poder e o jornal trata esse troço como se fosse um país democrático.

Além de designar esse tiranete de "presidente", o cinismo da Folha intitula a matéria assim: "Presidente de Angola deve obter a reeleição", quando todos sabem que o pleito é um jogo de cartas marcadas. Em Agola, o candidato "obtém" a reeleição, no modelo do PT, de Chávez, Evo Morales, e demais comunistas vagabundos que infestam a América Latina.
E sabem quem fez marketing do tiranete, ora, João Santana, o marketeiro do PT, especializado em em eleger mensaleiros e todos os tipos de tiranos. Tanto é que assessora a campanha do velho caudilho Hugo Chávez. Leiam:
O partido MPLA, do presidente José Eduardo dos Santos - que está há 33 anos no poder- obteve 74% dos votos na eleição de Angola, de acordo com resultados parciais divulgados ontem.

Até a noite de ontem, 70% dos votos já haviam sido apurados, segundo a Comissão Nacional Eleitoral. O partido opositor Unita tinha cerca de 18% da preferência do eleitor, enquanto a sigla Casa, criada neste ano e também de oposição, contava quase 5%.

De acordo com a Constituição angolana aprovada em 2010, o chefe do partido vencedor do pleito será automaticamente o presidente. Confirmado o resultado, Santos, que tem 70 anos, continuará comandando o país até 2017.
Esta é a segunda eleição para presidente em Angola desde a independência do país de Portugal, em 1975.

No pleito de 1992, Santos -que já era presidente desde a morte de Agostinho Neto, em 1979- foi para o segundo turno com o candidato do Unita.
O processo, contudo, foi abortado pelo partido opositor, e a guerra civil no país, reiniciada. O conflito durou 27 anos, de 1975 a 2002.

Santos manteve-se no cargo, mas esta deverá ser sua primeira eleição, de fato, ao cargo que já ocupa há três décadas.

Líder do MPLA, Santos é um político de origem marxista. Sua campanha foi feita pelo marqueteiro petista João Santana, que adaptou para Angola bandeiras como o Minha Casa, Minha Vida.

SOB ANÁLISE

O líder da coalizão Casa, Abel Chivukuvuku, disse que seu partido -que, junto com a Unita vinha condenando irregularidades ao longo do processo eleitoral- vai analisar os resultados antes de decidir se irá aceitá-los.

Apesar das várias manifestações que antecederam o pleito no país, a votação transcorreu normalmente ontem.
Da Folha de S. Paulo deste domingo.

ENQUANTO A FOLHA DE S. PAULO chama de 'presidente' um tiranete vagabundo, leia esta matéria que segue. Link ao final para leitura completa. É sobre Angola, onde 37% da população vive abaixo da linha da pobreza sob o reinado do ditador comunista. Claro, o tirano e seus acólitos e cúmplices brasileiros vivem uma vida nababesca. Leiam:

Quando o empresário Valdomiro Minoru Dondo encomendou um bolo gigante, em forma de bolsa Louis Vuitton, a intenção era agradar à mulher, que comemorava 40 anos em festa no Museu Histórico Nacional, na Praça XV. Sem querer, porém, o anfitrião ajudava ali a escrever um pedaço da História de Angola.
Naquela noite de novembro de 2008, Agla Dondo não seria a única homenageada. Ao brindar ao casal, os convidados festejaram também a entrada em cena de uma nova elite econômica da África.
Gente como os Dondo, que souberam fazer fortuna ao sabor do milagre angolano alavancado pelo petróleo (salto de 0,1% do PIB nos anos 1990 para uma previsão de 10,5% no ano que vem).
Filho de imigrantes japoneses, Minoru nasceu no interior de São Paulo. Jovem, mudou-se para o Rio. Mas foi em Angola, após cair nas graças do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), partido há três décadas no poder, que ele virou mito.
 
Num país devastado pela guerra civil, enriqueceu tendo como sócias as mesmas autoridades que compram os seus seviços. Ele garante que não está entre os 20 maiores empresários daquele país, mas é modéstia.
 
Minoru é visto como um dos dez homens mais ricos de Angola, lista praticamente composta por generais e outros membros do governo central.
Seus negócios, iniciados nos anos 1980, prosperam na mesma velocidade em que correm as histórias sobre a sua obscura relação com o poder, marcada por denúncias de favorecimento, licitações fraudulentas e evasão de recursos.
— Intriga de funcionário demitido. Sofremos uma ampla investigação, mas a Inspeção Geral do Estado nos inocentou — disse o empresário.
Com mais de 20 empresas em Angola, cinco no Brasil (no ramo de importação e exportação) e residências no Rio, Luanda e Miami, Minoru não gosta de perder tempo em aeroportos. Com cidadania angolana, não precisa de visto em Luanda.


É amigo do presidente José Eduardo dos Santos e oferece apartamentos para reuniões ministeriais. No Rio, amizades na Polícia Federal e no mundo do samba lhe garantem regalias e discreta notoriedade. Ao desembarcar, não entra em fila. Há sempre um policial a aguardá-lo. Na quadra da uma escola de samba do Grupo Especial, já foi chamado de patrono.
No Aeroporto Internacional do Rio, não é difícil saber quando Minoru está chegando. Basta conferir a presença do agente federal aposentado Aroldo Oliveira Mendonça, sempre pronto a livrá-lo de incômodos do desembarque.
Aposentado há três anos, Aroldo entra livremente na área restrita. Ex-dirigente da Unidos da Tijuca, amigo dos diretores da Liga das Escolas de Samba, o agente passou parte da carreira no aeroporto. Hoje, quer ser sócio de Minoru.
Clique AQUI para ler TUDO
 
02 de setembro de 2012
in aluzio amorim