Há uma estranha tendência de se apresentarem soluções parciais, às vezes simplórias, como um grande achado para resolver todos os males do nosso sistema político-eleitoral. A redução drástica do número de partidos existentes é uma delas.
Não seria melhor que se pensasse numa mudança radical que transformasse os partidos políticos em verdadeiros representantes das tendências e das aspirações da sociedade para que o povo, através do voto, se transformasse no verdadeiro dono do poder? Que diferença faz se hoje eles são 30 e amanhã serão 50?
Se todos são iguais, se representam apenas interesses de pequenos grupos que disputam o poder somente para dele se servirem, se têm donos, se não passam de balcões de negócios, se não praticam nem sequer a democracia interna, como poderão se arvorar em instrumentos de sua prática?
Que diferença faz a quantidade deles? Agora mesmo estamos assistindo à criação de mais um ministério – falta um para termos 40 – e a designação de um ministro filiado a um partido que foi afastado do poder em virtude das “maracutaias” que cometeu no mesmo ministério.
LOTEAMENTO DO PODER
É o “presidencialismo de coalizão” que vai loteando, aparelhando e criando novos cargos públicos para garantir sua permanência no poder. Criar partidos é indispensável para participar do loteamento do poder, das comissões que as obras públicas possibilitam, dos contratos de consultoria quando são substituídos nos cargos públicos, das viagens e das festas, do acesso à mídia, da propaganda eleitoral gratuita, do Fundo Partidário, da grande farra às nossas custas.
Uma parte da população defende uma reforma política de profundidade que mude paradigmas, que convoque o povo a uma grande discussão sobre qual o melhor sistema de representação, aquele que impeça a transformação da política numa profissão de esperteza vitalícia, que não faça da impunidade um estímulo permanente a toda sorte de crimes, especialmente o de corrupção.
É claro que uma reforma que aborde minimamente essas ideias não interessa à maioria do Congresso Nacional nem aos donos dos partidos.
O que eles querem é mais dinheiro para o Fundo Partidário, para o financiamento público das campanhas eleitorais e o voto nas listas que eles vão fazer e na ordem que lhes derem mais vantagens. Roger Garaudy já dizia que não existem partidos verdadeiramente democráticos.
No Brasil, a maioria deles é dirigida por “comissões provisórias” nomeadas por seus donos.
Em vez de querer limitar o número de partidos, não seria melhor proibir as coligações, acabar com o Fundo Partidário, com o voto obrigatório e com a chatice da propaganda gratuita?
(transcrito do jornal O Tempo)
14 de abril de 2013
Antônio de Faria Lopes