"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 27 de outubro de 2012

MAIS UMA FRUSTRAÇÃO?

 

Lula, há dias, garantiu que o povo não está nem aí para o mensalão. Estaria mais preocupado com a situação do Palmeiras no campeonato nacional. O mais grave, porém, não é o escárnio com que o ex-presidente avalia o povo, uma entidade que julga dominar. O mais grave é que parece ter razão.
Na maior e mais politizada cidade brasileira, São Paulo, o candidato do PT, Fernando Haddad, tendo como cabo eleitoral confesso um dos réus condenados, José Dirceu, considerado pelo STF o “chefe da quadrilha”, estaria eleito para a prefeitura.

A menos que as pesquisas estejam equivocadas – o que não seria nenhuma novidade -, Haddad deve vencer as eleições. O que se pergunta é como isso é possível.

Além de ter sido um mau ministro da Educação, em cuja administração registraram-se sucessivos fracassos do Enem – evento que mobiliza os sonhos de parcela da juventude -, Haddad carrega consigo outro estigma: o de ter sido o mentor do kit gay, uma iniciativa antipedagógica, criticada pela própria presidente Dilma Roussef, que a proibiu e cancelou, não obstante o MEC ter gasto cerca de R$ 800 mil com sua elaboração.

Ao mesmo tempo, quando indagado a respeito, o povo condena o mensalão e aplaude o STF pela sentença aos réus.

O ministro Joaquim Barbosa, relator do processo, é aplaudido nas ruas e aparece nas redes sociais como herói da Pátria, que estaria dando demonstração de coragem e senso de justiça.

Em contrapartida, o revisor do mensalão, ministro Ricardo Lewandowski, e o ministro Dias Toffoli, que o acompanha em todos os votos, passaram a temer por sua impopularidade.

Os jornais registram que Lewandowski, no dia da eleição, teve que entrar e sair pelos fundos de sua zona de votação.

Já Dias Toffoli, ainda segundo os jornais, teria tido que se retirar de uma feijoada, diante da reação hostil dos convivas.

O povo, pois, não está indiferente ao mensalão, como quer Lula. Apenas não o articula com a eleição, mesmo sendo ambos indissociáveis. Afinal, o que o STF julgou e condenou foi uma forma de fazer política. Uma forma adotada pelo PT.

Os ministros do STF consideraram mais grave que o roubo de recursos públicos – o que, em si, não é novidade - a finalidade que o motivou (esta, sim, inédita): a pretensão de, por essa via, exercer o domínio do Estado.

Os ministros Celso de Mello e Ayres Britto usaram a palavra “golpe de Estado”, que a tanto equivaleria, segundo eles, o sucesso da empreitada, a compra de um poder da República por outro.
O STF condenou José Dirceu como o cérebro por trás do que considerou “um crime contra a democracia”. Mesmo assim, Dirceu, depois de ameaçar ir às cortes internacionais em protesto, não poupou críticas à Suprema Corte.

O mesmo fizeram José Genoíno e João Paulo Cunha, igualmente condenados. O mesmo fizeram os mais altos dirigentes do PT.

O Supremo não reagiu, o que tem estimulado a continuidade dos impropérios contra ele. Os juízes já foram chamados de “capachos de uma elite imunda” e integrantes de “um tribunal de exceção”, ofensas que se estendem a todo o Poder Judiciário, do qual é a mais alta instância.

A demora na dosimetria das penas agrava o ambiente. É possível que a condição de mártires que os petistas condenados se auto-atribuem esteja favorecendo a performance do cabo eleitoral Dirceu, que considerou mais importante eleger Haddad que se defender.

É compreensível: a eventual conquista da prefeitura de São Paulo, cujo orçamento é o do Uruguai e Paraguai somados, favorece a conquista do governo paulista, que é maior que o da Argentina, e propicie a tão sonhada hegemonia do partido.

A dosimetria e os embargos infringentes que os advogados dos condenados interporão levarão o fim do julgamento a meados do ano que vem, quando a composição do Supremo já não será a mesma.
Nesses termos, o julgamento, tido como o maior da história do STF, não terá sido mais que uma nova expectativa de mudança frustrada – como as diretas já, a Constituinte, o impeachment de Collor, a CPI dos anões do orçamento. Etc.

27 de outubro de 2012
Ruy Fabiano é jornalista

A CONFISSÃO E O JORNALISTA

 

Era apenas uma sigla: D.F. Assim os argentinos eram mandados para a morte no governo do general Jorge Videla, que durou de 1976 a 1981. Significa na gíria militar disposición final, destino que se dá a uniformes e objetos que não servem mais. Os que recebiam essa sentença (D.F.) desapareciam, alguns corpos foram queimados em fornos.
Qualquer dúvida sobre o caráter nazista do que houve na Argentina durante a ditadura militar acaba no relato objetivo do jornalista Ceferino Reato. Ele conseguiu

O feito jornalístico foi conseguido, segundo Reato, por acaso. Ele estava entrevistando militares presos para um livro sobre os anos 1970 e viu Videla no pátio da prisão. Abordou-o e foi o início de uma entrevista, em várias etapas, de 20 horas.

Entrevistei Reato na Globonews. Ele veio ao Rio participar da Quinzena da Travessa, que promove debates sobre os regimes militares da América Latina. Quando terminou a entrevista, Reato me contou que Videla lhe disse que ele fora o primeiro argentino a lhe pedir entrevista. Não foi casualidade, portanto, mas senso de oportunidade que todo jornalista deve ter.

Videla confessou na primeira conversa que de sete mil a oito mil pessoas foram mortas num plano deliberado. O governo descentralizou a decisão. O país foi dividido em regiões. Em cada uma, os chefes militares tinham autonomia para decretar a pena capital e decidir o destino dos corpos. Videla era consultado nos casos mais graves.

“Nós chegamos ao golpe de 1976 com um consenso entre os militares. Havia que se matar um número grande de pessoas para ganhar a guerra”, disse Videla a Reato.

O general está convencido de que Deus vai lhe premiar por isso, admitiu que tem uma “dor na alma”, mas que não se arrepende e dorme tranquilo.
É proibido levar gravador para dentro do presídio. Reato transcrevia anotações e levava na conversa seguinte para Videla ler. Ele fazia pequenas correções ou acréscimos e assinava.
Perguntei ao jornalista como os corpos desapareciam:

— Havia vários métodos. Atirar os corpos no mar ou nos rios. Arremessá-los de avião ou helicópteros. Enterrá-los em lugares clandestinos, em valas comuns ou individuais. Às vezes, cemitérios. Na província de Córdoba, em lugares descampados, fora das cidades.
Outros eram queimados em fornos, como se diz que aconteceu na Esma (Escola Superior de Mecânica da Armada), mas também em outros lugares houve fornos gigantescos. E assim os queimavam.

Outra forma de eliminação pelo fogo: juntavam-se pneus velhos de veículos e jogava-se o corpo dentro.
O general tem 87 anos. Deve morrer na prisão. Admitiu o roubo de bebês, mas disse que não era o plano inicial. Segundo ele, o caso saiu do controle.

O jornalista acha que o número de 30 mil mortos, estimativa usada normalmente, é uma cifra não comprovada. A lista feita em 1985, na comissão da verdade do governo Raúl Alfonsín, tinha 9 mil pessoas. Um massacre.

— Quando uma casaca militar ou botas não servem mais, na linguagem militar eles passam à “disposição final”. São descartadas. Essas pessoas eram similares a coisas — diz Reato.

No aconchego da livraria, ouvia essas atrocidades lembrando do dia em que entrei no gabinete de Videla para entrevistá-lo sobre a briga com o Brasil por Itaipu. Ele, no auge da sua glória.
Lembrei de um amigo argentino que, passando em frente à Esma, me disse: “Lá dentro, neste momento, alguém está morrendo.” Tempos loucos.

27 de outubro de 2012
Miriam Leitão, O Globo

ZÉ: E SE EU FOR ABSOLVIDO PELO SUPREMO, COMO É QUE FICA?

CARTAS DE BUENOS AIRES: A CAPITAL DOS PEQUENOS TRAMBIQUES

 

“Eles estão, mas você não os vê. Estão, mas não estão. Fique de olho na sua bolsa, na bagagem, na porta, na janela e no carro. Cuide do próprio rabo. Porque eles estão aqui, vão sempre estar aqui. Não são ladrões comuns. São picaretas, trombadinhas, trapaceiros, malandros, bandidos, arrebatadores, batedores de carteira, vigaristas, larápios, gatunos, vagabundos, pixotes, golpistas, tapeadores, embusteiros, pivetes, trapaceiros...”

O trecho acima é extraído do filme argentino “Nove Rainhas”, de 2001, que já virou um clássico no que diz respeito ao mundo dos picaretas locais, e retrata a Buenos Aires cheia de trambiques que em geral continua a mesma.

Um dos principais destinos de turistas brasileiros, Buenos Aires, ainda que mais segura que muitas das grandes capitais brasileiras, pode causar muitos dissabores aos desatentos.

O problema aqui, pelo menos no diz respeito ao turismo, é a abundancia de pequenos golpes que, normalmente, não envolvem armas nem agressões físicas.

Entre os crimes mais comuns está a troca de notas verdadeiras por falsas. O problema ficou tão grave que impulsionou o consulado brasileiro a alertar turistas no ano passado, enquanto o governo local faz vista grossa para não admitir que perdeu totalmente o controle.

Em 2010, até velhinhos chegaram a denunciar o pagamento da aposentadoria com notas de dinheiro falsas retiradas dos bancos.

O truque é velho e simples: o turista paga com uma nota de cem pesos, o garçom ou taxista aceita a nota, trocando, a pretexto de que não possui troco, por outra falsa.

Segundo a Defensoria do Turista, são pelo menos 500 queixas formais por dia. A Associação Argentina de Direito Turístico (ADETUR) informa que, só no ano passado, os crimes contra viajantes cresceram cerca de 50%. Nos pontos turísticos, a malandragem rola solta.

Em Palermo, um bairro de classe media da capital, e no centro, proliferam os motochorros, ladrões de moto que são capazes de puxar uma bolsa e desaparecer com ela em questão de segundos.

Como são os golpes e trambiques ao redor do mundo é o tema da nova série “Scam City” (A capital do delito), da National Geographic. Um dos primeiros capítulos contempla nada menos do que Buenos Aires.

Nele, o aventureiro e apresentador Conor Woodman (foto abaixo) mostra em detalhes os truques e armadilhas mais comuns que podem acometer um turista em visita à capital.


O programa vai ao ar no Brasil nesta segunda-feira (dia 29) às 14h20, segundo a grade de programação do canal. Vale a pena conferir e se precaver para que a visita a Buenos Aires não se transforme em um tango. Malandro é malandro e mané é mané, muchachos.

27 de outubro de 2012
Gabriela G. Antunes é jornalista e nômade. Cresceu no Brasil, mas morou nos Estados Unidos e Espanha, antes de se apaixonar por Buenos Aires. Na cidade, trabalhou no jornal Buenos Aires Herald, mantém o blog Conexão Buenos Aires e não consegue imaginar seu ultimo dia na capital argentina.

A VIRGEM OFERECIDA

 



Para fugir do Mensalão, escolhi um assunto mais ameno e incomum. Se a virgindade deixou de ser tabu, se pertence a um código de honra ultrapassado e se já não é mais um valor moral a ser preservado, como indicam recentes pesquisas, como explicar que o leilão pela internet do hímen de uma catarinense de 20 anos tenha alcançado o lance de R$ 1,5 milhão?

A disputa, que terminou nesta quarta-feira, foi vencida por um japonês, que vai consumar o ato a bordo de um avião num vôo da Austrália para os EUA, obedecendo a interdições como beijo na boca e a exigências como uso de camisinha e tempo de no máximo uma hora para realizar a proeza.

“Estou nesse projeto há dois anos”, contou Carolina Migliorini, a virgem. “Começou quando vi uma reportagem sobre um cineasta australiano que estava à procura de uma virgem para um documentário.”

Dizendo-se leitora de Dostoiévski, Hemingway, Albert Camus e Rousseau, além dos filósofos Sócrates e Sêneca, e confessando-se “muito romântica”, a bela donzela pretende usar parte do dinheiro para estudar medicina na Argentina.

“Já estava até matriculada, mas decidi adiar para 2013. Quando me inscrevi, menininha de 18 anos, achei que não receberia proposta.” Talvez não tenha recebido tantas quanto uma colega americana, que em leilão parecido vendeu o seu precioso bem por 3 milhões de euros a um empresário australiano, um dos 10 mil candidatos a desbravadores.

Repetindo: como explicar o fenômeno? Uma hipótese é que o hímen está custando caro porque justamente é um bem raro, em extinção. Com a palavra os sociólogos do comportamento.

Ó tempos! Ó costumes! Como dizia o grande Cícero em Roma, antes da chegada de Cristo para botar moral no pedaço.

E a BBC, hein? Tão respeitada pelo seu jornalismo, não foi capaz de descobrir que tinha dentro de casa, como famoso apresentador, um tarado sexual que durante anos abusou de cerca de 300 menores.

E o “NY Times”, hein? Tão rigoroso nos seus critérios de avaliação e escolha, aceitou ter como novo presidente o ex-diretor-geral do veículo inglês na época, Mark Thompson, que, apesar do cargo, nada viu e nada soube do escândalo que está sendo chamado de “tsunami de sujeira”.

Com o aumento brutal de homicídios e o descontrole geral da violência em SP, Sérgio Cabral precisa tomar cuidado: Alckmin pode querer levar o Beltrame para lá.

O meu sonho é chegar à idade do Ziraldo igualzinho a ele: cheio de energia e otimismo. E sem prazo de validade.

27de outubro de 2012
Zuenir Ventura, O Globo

IMAGEM DO DIA

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  • Apagão atinge estados do Nordeste e parte da região Norte do país
    Apagão atinge estados do Nordeste e parte da região Norte do país - Vaner Casaes/Ag. BAPRESS/Folhapress
     
    27 de outubro de 2012

    "O MENSALÃO E A CULTURA DA IMPUNIDADE"

    O julgamento deve ser símbolo de um extenso trabalho estratégico de mudanças de leis e ritos, para que o crime deixe de ser incentivado pela certeza da falta de punição
    Nos dias que correm, a coincidência da condenação de mensaleiros com a prisão preventiva de um banqueiro, Luiz Octávio Índio da Costa, do Cruzeiro do Sul, atende aos anseios de Justiça da opinião pública. Mas não significa que a impunidade no Brasil esteja banida, é claro.

    A audiência obtida pela transmissão ao vivo das históricas sessões do STF de julgamento do mensalão indica o alto interesse no assunto. As seções de cartas dos jornais, por sua vez, estão repletas de votos esperançosos de que o fato de mensaleiros de trânsito fácil no PT e em Brasília terem sido condenados sirva de “marco zero” de uma forma ética de se fazer política no país. Quanto mais não seja, pelo temor diante dos limites estabelecidos pela maioria dos ministros do STF para o exercício da representação pública.

    Mensaleiros punidos e um banqueiro atrás das grades devido a fraudes cometidas — e que podem, cedo ou tarde, espetar uma conta no bolso dos contribuintes — aplacam a indignação pessoal diante da questão grave da impunidade na sociedade brasileira. Mas não encobre a extensão do problema.

    A questão é fazer com que o exuberante exemplo de eficácia da Justiça e de cumprimento do seu papel na democracia que vem sendo dado pelo Supremo no processo do mensalão não seja um caso único, mas se torne um padrão para os tribunais. Bem como o Ministério Público, responsável pela formulação da denúncia contra os mensaleiros. O mesmo vale para a ação dos organismos de Estado no caso do Banco Cruzeiro do Sul. Precisa ser a norma no tratamento de fraudes financeiras.

    Criou-se no Brasil uma cultura da impunidade. Nas altas esferas políticas e empresariais os efeitos desta cultura são conhecidos. É evidente que o esquema do mensalão foi montado porque todos os seus participantes, dos mais graduados aos menos, dos corruptos ativos aos passivos, todos confiavam em que nada lhes aconteceria. Tudo acabaria numa estrondosa “piada de salão”. Afinal, costumava ser sempre assim. Até este julgamento.

    A mesma cultura também se desenvolveu no universo da criminalidade comum. Devido a falhas de legislação e de execução de penas, a relação custo-benefício do crime passou a compensadora. E sob a sombra desta leniência a criminalidade se organizou.

    A abordagem da mazela da impunidade precisa ser ampla. Passa por reformas de legislações — como ocorre no momento com o Código Penal —, pelo aperfeiçoamento de jurisprudências — caso do STF no julgamento de crimes de “colarinhos brancos” — e também por ações dos conselhos de “controle externo” da Justiça e Ministério Público, em seu trabalho de corregedoria e no incentivo à adoção das melhores práticas administrativas por juízes, procuradores e promotores.

    É um longo, difícil, mas estratégico trabalho a ser feito. O mensalão deve mesmo servir de símbolo desta enorme empreitada.

    27 de outubro de 2012
    Editorial de O Globo

    "POLÍTICA E MENTIRAS"

     
    Acontecimento da maior importância para o avanço de nossas instituições republicanas e democráticas, o julgamento do mensalão pelo STF se encaminha para a finalização dos procedimentos.


    Acostumado a governar sem entraves, o PT não contava com este inesperado revés. Atônito, esboçou um ataque direto ao STF e recuou, concentrando esforços nas eleições. A vitória - especialmente em São Paulo - supostamente atenuaria os estragos causados pela condenação.

    Parece difícil que a eventual vitória nas urnas tenha esse efeito. Ganhando ou perdendo as almejadas prefeituras, o partido necessitará de uma estratégia para lidar com o devastador efeito do julgamento, sendo que não são muitas as alternativas à sua disposição.

    Uma delas seria o acatamento às decisões do STF, a aceitação das condenações e as devidas penas, motivo para uma ampla reflexão sobre a forma como tem conduzido o poder. Ao que tudo indica, tal encaminhamento é pouco provável. Persistirá a negação pura e simples do mensalão? Continuará a tentativa de substituir os fatos sobejamente apurados por artefatos fictícios, o imaginado complô engendrado pela "direita", pela "elite", pela "imprensa comprada"? Será possível manter essa postura? Por quanto tempo e a que custo?

    Há pouco, Fernando Gabeira comparou neste jornal a tática usada por Lula e outros próceres do PT, que insistiam em afirmar que o mensalão nunca existiu, à de Maluf, que, contra todas as evidências, continua negando ter dinheiro em contas no exterior. Em ambos os casos, há um deliberado ataque à verdade e sua substituição por uma mentira mais adequada a seus propósitos.

    Tal prática é de rigor nos regimes totalitários, mas não apenas neles. A mentira parece ser intrínseca à prática política e fica muito explícita por ocasião das eleições, quando os candidatos fazem promessas mirabolantes, das quais têm plena consciência que jamais teriam condições de cumprir. Atualmente a situação fica ainda mais complicada quando lembramos que as campanhas seguem modelos advindos da publicidade comercial e os políticos são vendidos como produtos para o consumo.

    Essa importante questão é examinada em toda sua complexidade por Derrida em História da Mentira - Prolegômenos (texto disponível na internet). Antes de abordar sua incidência no campo da política, Derrida deixa de lado o enfoque moralista e se estende sobre a mentira como uma contingência humana, indissociável das práticas sociais, discriminando-a do erro e da ignorância, caracterizando-a como o deliberado empenho de enganar o outro e levantando a questão de cunho psicanalítico sobre a possibilidade de mentir a si mesmo, o autoengano.

    Não é possível resumir a amplitude de seu raciocínio, me atenho a apontar alguns itens do roteiro por ele empreendido na abordagem do tema. Partindo de um texto de Nietzsche que especula se existe um mundo "verdadeiro" em oposição a um mundo "de mentira", Derrida comenta as ideias de Platão, Santo Agostinho, Kant, Benjamin Constant, Koyré e Hanna Arendt sobre a mentira, ilustrando os argumentos com vários exemplos da história política recente.

    De Hanna Arendt examina com detalhe o Truth and Politics (capítulo de Entre o Passado e o Futuro - Editora Perspectiva - e também disponível em inglês na rede), um artigo que ela escreveu para a The New Yorker em 1967, cujo disparador foi a controvérsia gerada por sua reportagem publicada como Eichmann em Jerusalém (Companhia das Letras).

    Ali mostra a insuperável tensão entre o poder e a verdade, da qual decorre a importância da mentira no discurso político: "As mentiras sempre foram consideradas instrumentos necessários e legítimos, não somente do ofício do político ou do demagogo, mas também do estadista. Por que será assim? O que isso significa quanto à natureza e dignidade do campo político por um lado, quanto à natureza e dignidade da verdade e da boa fé por outro lado?"

    Arendt acredita que na modernidade teria havido uma mutação na história da mentira, pois ela se tornou "completa e definitiva" no campo político, tendo chegado a um extremo que transforma a própria história em mentira absoluta: "A possibilidade da mentira completa e definitiva, que era desconhecida em épocas anteriores, é o perigo que nasce da manipulação moderna dos fatos. (...)

    A tradicional mentira política, tão proeminente na história da diplomacia e dos negócios de Estado, costumava dizer respeito ou a verdadeiros segredos - dados que nunca haviam sido expostos ao público - ou intenções (...) Ao contrário, as mentiras políticas modernas lidam eficientemente com coisas que definitivamente não são segredos e sim conhecidas praticamente por todos. Isso é óbvio no caso em que se reescreve a história contemporânea na frente daqueles que a testemunharam".

    A relação da mentira com a política apontada por Arendt não deve ser entendia como uma depreciação definitiva da prática política. Para ela, como sublinha Derrida, "entre mentir e agir, agir em política, manifestar a própria liberdade pela ação, transformar os fatos, antecipar o futuro há como que uma afinidade essencial. (...) A imaginação é a raiz comum à 'capacidade de mentir' e à 'capacidade de agir'. (...) A mentira é o futuro, podemos nos arriscar a dizer para além da letra, sem trair a intenção de Arendt nesse contexto. Ao contrário, dizer a verdade é dizer aquilo que é ou terá sido, seria antes dizer o passado.(...) Há uma afinidade inegável da mentira com a ação, com a mudança do mundo, ou seja, com a política".

    Essa visão da onipresença multifacetada da mentira nas relações humanas, e especialmente na política, não retira dela a conotação perversa, e menos ainda anula a necessidade radical de contrapô-la à verdade, mostra que essa não é uma tarefa de pouca monta.

    Fora de seu rico contexto e denso embasamento, as ideias de Arendt e Derrida talvez pareçam esquemáticas e simplistas, o que seria um equívoco. Elas mostram formas pelas quais o poder é exercido, o que nos ajuda a vê-lo de forma mais adulta e realista. Quem sabe as citações sirvam como um estímulo à leitura desses dois textos fundamentais.

    27 de outubro de 2012
    Sérgio Telles, O Estado de S.Paulo

    DIRCEU JÁ QUER SABER SE NO PRESÍDIO TERÁ ESPAÇO PARA VISITAS ÍNTIMAS

     
    A decadência da turma do "corrompe, mas faz". A condenação de Dirceu e Genoino por formação de quadrilha representa a decadência de um tipo político: aquele que invoca um "passado de lutas" como álibi para os crimes do presente
     
    FIM DE JOGO José Dirceu e José Genoino. Antes da condenação pelo STF, Genoino já se tornara um zumbi eleitoral, e Dirceu perdera poder dentro do PT (Foto: Rodrigo Dionisio/Frame/Estadão Conteúdo e Nilton Fukuda/Estadão Conteúdo)
     

    José Dirceu é um pragmático. Condenado na semana passada por formação de quadrilha no Supremo Tribunal Federal (STF) – condenação que se soma à sofrida por corrupção ativa, duas semanas atrás –, o ex-ministro da Casa Civil do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ligou para o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

    Dirceu encara a prisão como algo inevitável. Queria saber se no presídio onde deverá ficar, em Tremembé, no interior de São Paulo, existe um parlatório confortável para receber advogados e espaço para visitas íntimas.

    Perguntou também se, em sua cela, haveria espaço para uma TV de tela plana. De acordo com o criminalista Luiz Flávio Gomes, Dirceu deverá ser condenado de 10 a 12 anos de prisão, tomando como parâmetro a punição imposta pelo STF ao ex-publicitário Marcos Valério – 40 anos e um mês.

    Se isso se confirmar, Dirceu ficará preso em regime fechado por aproximadamente dois anos. Gomes diz que o início da execução da pena ainda é uma incógnita. Antes, é necessária a publicação do acórdão do julgamento. Depois, os advogados apresentarão os embargos. Só depois de julgados os embargos, Dirceu – ou qualquer outro réu – poderá ser preso.
     Quando o mensalão foi denunciado, em 2005, poucos brasileiros acreditavam que seus coordenadores iriam para a cadeia. Entre eles estava Dirceu. Em rodas de amigos, ele comentava que, se algo assim acontecesse, o povo iria às ruas protestar. Dirceu foi condenado – e ninguém protestou nas ruas.

    Pouco antes do início do julgamento, ele tentou organizar manifestações com militantes políticos do ensino secundário – na juventude, ele foi líder estudantil. Sua convocação teve adesão mínima.

    Depois da condenação da semana passada, Dirceu postou em seu blog: “Minha geração, que lutou pela democracia e foi vítima dos tribunais de exceção, especialmente após o Ato Institucional número 5, sabe o valor da luta travada para erguer os pilares da nossa atual democracia. Condenar sem provas não cabe em uma democracia soberana”.

    A frase tem três imprecisões:

    1) dentro da teoria do domínio do fato que embasou os votos do STF, havia provas abundantes para condenar Dirceu como coordenador do mensalão;

    2) não é possível insinuar que o STF é um tribunal de exceção (tribunais de exceção, nas palavras do filósofo Roberto Romano, “operam em segredo”, não em julgamentos exibidos pela televisão);

    3) ao contrário do que diz Dirceu, o julgamento do mensalão representou um ápice na luta dos brasileiros pela democracia. Afirmou-se um poder – o Judiciário – essencial ao equilíbrio democrático.

    27 de outubro de 2012
    ALBERTO BOMBIG E MARCELO ROCHA, COM ANGELA PINHO, LEANDRO LOYOLA E MURILO RAMOS

    "MENSALEIROS VENCERAM. CORRUPTO DIRCEU AINDA É O PRINCIPALCABEÇA DO PT"

    Os mensaleiros venceram. Pimentel, com milionárias consultorias fantasmas, vendidas como amigo da presidente, continua a viver de favor no Ministério

    O Brasil continua assistindo ao julgamento do mensalão como um filme de época. O STF está prestes a dar as sentenças, e o público aplaude a virada dessa página infeliz da nossa história, quando a pátria dormia tão distraída etc. O problema é que a pátria continua dormindo profundamente.

    José Dirceu, o grande vilão, o homem que vai em cana condenado pelo juiz negro, nesse duelo que faz os brasileiros babarem de orgulho, não é um personagem do passado. Está, hoje mesmo, regendo o PT no segundo turno das eleições municipais. Ainda é a principal cabeça do partido que governa o país.

    E o eleitorado não está nem aí. A campanha de Fernando Haddad em São Paulo é quase uma brincadeira com o Brasil. Um candidato inventado por essa cúpula petista que só pensa naquilo (se pendurar no poder estatal) consegue uma liderança esmagadora no segundo turno. O projeto parasitário de Dirceu, que tem Lula como padrinho e Dilma como afilhada, pelo visto não vai sofrer um arranhão com a condenação no Supremo. O eleitor não liga o nome à pessoa.

    Fernando Haddad foi um sujeito inexpressivo de boa aparência colocado no Ministério da Educação para fazer política. Sua candidatura é a menina dos olhos de Lula, mais um plano esperto dessa turma que descobriu que pode viver de palanque sem trabalhar.

    O fenômeno Haddad conseguiu bagunçar a vida dos vestibulandos por três anos seguidos, com erros primários no Enem, típicos de inépcia e vagabundagem. Se fosse no Japão, o então ministro teria se declarado humilhado e se retirado da vida pública. No Brasil, vira um “quadro” forte da política.

    Haddad fez com a pobre educação brasileira o que o PT sempre faz no poder: marketing do oprimido. Defendeu livros didáticos com erros de português, tentou bajular os gays com cartilhas estúpidas, fez demagogia progressista com o sistema de cotas. Enquanto os estudantes se esfolavam no Enem, ele estava nos comícios de Dilma para presidente.

    Tudo conforme a lógica mensaleira da agremiação que governa o Brasil há dez anos: usar os mandatos para garimpar votos e arrecadar fundos (para pagar os Dudas lá fora, o que o Supremo já disse que está OK).

    O ex-ministro Haddad é filho dos mentores do mensalão, assim como os ministros do STF Ricardo Lewandowski e Dias Toffoli. Nunca se viu espetáculo tão patético na esfera superior do Estado: dois supostos juízes usando crachá partidário e obedecendo às ordens do principal réu. Contando, ninguém acredita.

    Esse sistema desinibido de prostituição da democracia vai de vento em popa, porque a pátria-mãe tão distraída resolveu acreditar que a vida melhorou porque Lula é (era) pobre e porque Dilma é mulher. O Brasil não faz mais questão de nada: nem a entrega do “planejamento” da infraestrutura à quadrilha Delta-Cachoeira comoveu os brasileiros.

    O prefeito Eduardo Paes disse que o Brasil está jogando fora a chance de se organizar, e o ministro dos Esportes ficou zangado. A turma do maquinário detesta quando alguém lembra que eles não trabalham. O ministro Aldo Rebelo é companheiro de partido do seu antecessor, o inesquecível Orlando Silva, rei das ONGs. Nas mãos do PCdoB, o Ministério dos Esportes estava aproveitando a Copa do Mundo no Brasil para montar seu pé-de-meia companheiro — o que é absolutamente normal, dentro da ética mensaleira.

    Aí surgem as manchetes intrometidas e Dilma tem que encenar a faxina, a contragosto, cobrindo de elogios o companheiro decapitado e entregando a boca para um colega de partido. Assim é em todo o primeiro escalão do governo, mas eles ficam muito chateados se alguém lembra que esse esquema malandro não serve para organizar o país para uma Copa, para uma Olimpíada ou para um futuro decente.

    Enquanto a pátria continuar dormindo e sonhando com o heroísmo de Joaquim Barbosa, a república mensaleira seguirá em frente. Ninguém deu a menor bola para o escândalo denunciado pelo ex-ministro do STF Sepúlveda Pertence.

    Dilma Rousseff aproveitou o espetáculo no Supremo e cortou a cabeça dos dois conselheiros “desobedientes” da Comissão de Ética da Presidência. Marília Muricy e Fábio Coutinho ousaram reprovar a conduta dos ministros companheiros Carlos Lupi e Fernando Pimentel. A presidente teve que demitir Lupi, que transformara o Ministério do Trabalho numa ação entre amigos do PDT — partido que o demitido continua comandando, em apoio ao governo popular.
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    Mas Pimentel, com suas milionárias consultorias fantasmas, vendidas graças aos seus belos olhos de amigo da presidente, continua vivendo de favor no Ministério do Desenvolvimento.

    Um dia já houve a expectativa de que Marcos Valério, uma vez apanhado, abriria o bico. Hoje o bico de Valério não vale mais um centavo. O golpe já foi revelado, e a real academia mensaleira continua comandando a política brasileira. Testada e aprovada pelo povo.

    27 de outubro de 2012
    guilherme fiuza, O Globo

    FASCISMO

     


    Pois não é que o juiz mineiro iluminado, Geraldo Claret de Arantes (foto. Que o G.A.D.U., o grande arquiteto do universo, o mantenha assim!) decidiu que uma viúva que perdeu metade da aposentadoria tenha recomposto o valor integral porque a Reforma é nula, por ter sido aprovada por parlamentares condenados pelo STF. Leiam detalhes naquele comentário (1).



    Mas que os outros não se animem muito, nem a própria viúva. Após os recursos de praxe, a serem examinados pelo Tribunal Estadual e pelo STJ, (reexame obrigatório quando um ente público perde a causa; outra putaria jurídica bem brasileira) e que tenham ganho de causa, chegará ao Supremo. Esse mesmo que hoje seus ministros, nem todos, foram elevados à categoria de heróis da nação.

    Pois esse mesmo STF teve a indignidade de aprovar a iniciativa do Supremo Molusco em descontar 11% dos aposentados, com as mais esdrúxulas e vergonhosas justificativas, a título de suporte social, apenas para diminuir o desembolso do governo, para sobrar mais para pagar os apaniguados que incharam a folha de pagamento da União Federal. Será que os ministros do STF terão a ombridade de desconstituir a decisão anterior? Tenho minhas dúvidas. Em todo caso, sugerirei ao meu sindicato que entre com ação para isso.

    Mesmo que leve muitos anos. Quem sabe, quando eu precisar pagar um asilo para mim mesmo, eu tenha dinheiro para pagar um asilo decente, que tenha Oficiais de Higienização Doméstica no estilo em que nosso redator Hélio já teve a chance de mostrar em publicações neste nosso jornal. A despeito que eu não possa usufruí-las…

    (1) O juiz entendeu que aprovação da Emenda Constitucional 41/2003 possui um “vício de decoro parlamentar” que “macula de forma irreversível” a Reforma da Previdência e “destrói o sistema de garantias fundamentais do Estado Democrático de Direito”. Para sustentar seu entendimento, o juiz lembra que o “voto histórico” do relator Joaquim Barbosa foi seguido pela maioria do STF. “A EC 41/2003 foi fruto não da vontade popular representada pelos parlamentares, mas da compra de tais votos”, diz a sentença, publicada no dia 3 de outubro.

    “Diversos vícios podem afetar a lei: um deles é o vício de decoro. Há uma falta de decoro quando um parlamentar recebe qualquer vantagem indevida”, disse o juiz Antunes ao Última Instância, observando que há flagrantes violações da Constituição Federal (artigo 55, parágrafo 1º) e do Código de Ética e Decoro Parlamentar (artigo 4º, inciso III, e artigo 5º, incisos II e III).

    27 de outubro de 2012
    Magu

    RELEVANTE VALOR SOCIAL É O CAZZO!

     


    "Não pode afrouxar agora! Você topou, então tem que enfrentar o rio de piranhas..."

    Todavia, a dosimetria da pena que levará o comparsa Marcos Valério a passar um bom período encarcerado, serviu de aviso para o chefão José Dirceu e seus lugares-tenentes, José Genoino e o próprio Delúbio que o trio terá o mesmo destino.
    Na foto pode-se ver um Dirceu irritado que cobra de Delúbio a tal piada de salão que o outro, por mais esforço que faça não consegue lembrar.

    "Não é moleza ser boi de piranha..."
    Mas o advogado de Dirceu, José Luiz de Oliveira Lima, resolveu esse problema, ao criar uma historinha realmente hilariante e obscena. Ele vai apelar para o artigo 66 do código penal que reza:

    “A pena poderá ser ainda atenuada em razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não prevista expressamente em lei”.

    27 de outubro de 2012
    Giulio Sanmartini


     

    SAMBA DA PRESIDENTA DOIDONA

    “Aqui nós vamos construir o trem de alta velocidade, que vai mudar a cara de Campinas. O aeroporto de Viracopos, que será, sem sombra de dúvida, o maior aeroporto deste país. Aqui ficará o grande aeroporto, ligado com o trem de alta velocidade. Por isso que nós estamos construindo BRTs aqui, para dar uma estrutura decente para o transporte urbano. Por isso estamos investindo em saneamento, no esgoto. Que como dizia o presidente Lula, ninguém gosta de investir no esgoto porque não aparece. Nós gostamos, porque nós vemos por trás do investimento no esgoto a criança que não tem mais diarreia, por que não foi contaminada pela água do esgotamento que não existiu.”

    Dilma Rousseff, no meio do palavrório no comício em Campinas, capturada pela comentarista Campineira quando resolveu compor o Samba da Presidenta Doidona, versão em dilmês do Samba do Crioulo Doido.

    COMO UM VIGARISTA CONSTRÓI SEU PEDESTAL


    O ano de 1997 viu desmoronar no Brasil um dos mitos mais frágeis criado pela intelligentsia brasileira. Ou talvez fosse melhor falarmos de burritzia.

    O mito em questão é o senador monoglota Darcy Ribeiro, que construiu toda sua vida e carreira sobre mentiras.
    Morreu em fevereiro deste ano e deixou um lixo póstumo, Mestiço é que é bom (Editora Revan, Rio, 97).

    Antes de entrarmos nas falcatruas do senador, leiamos algumas pérolas de seu pensamento. Neste livro, Darcy é entrevistado pelos mais ilustres comunossauros tupiniquins, como Antonio Callado, Antonio Houaiss, Eric Nepomuceno, Ferreira Gullar, Oscar Niemeyer, Zelito Viana e Zuenir Ventura. A relação destes nomes é importante.

    Não fosse o testemunho destes seus amigos, seria difícil de acreditar nos parágrafos seguintes.


    O terror das virgens

    Uma das revelações surpreendentes de sua obra póstuma é o prazer cultivado pelo ilustre humanista de Minas Gerais em espancar mulheres. Oscar Niemeyer, um dos mais sólidos bastiões do stalinismo no Brasil, levanta a bola e Darcy chuta em gol:

    OSCAR NIEMEYER - Teve uma história que você me contou uma vez que era mais complicada, que jogaram você numa estrada de ferro.

    DARCY - Foi em Paris, na primeira vez que eu fui a Paris, em 54. Lá, encontrei uma coisa incrível, uma menina, de família turca, libanesa, de Rio Claro, em São Paulo. Ela tinha ganho, aos dezoito anos, o prêmio de língua francesa, era estudante. Eu cheguei lá, vindo da Suíça, tinha passado um mês na Suíça, trabalhando. Quando cheguei em Paris, por acaso encontrei com a menina, gostei da companhia, fiquei andando com ela.

    Ela estava com uma vergonha enorme de ser virgem - a francesa é muito mais cuidadosa da virgindade que a brasileira, a francesa de família burguesa - mas ela, vivendo na Rive Gauche, lá ela estava com vergonha de ser virgem, porque os meninos namoravam e queriam trepar. Eu também quis trepar e ela não trepou. Eu já estava enjoado dela e ela me procurando como um carrapato, agarrada em mim, mas não me dava. Ia na minha pensão e não me dava. Pensão daquele tempo, em Paris! Essa menina estava com muita vergonha de ser virgem, mas com muito medo.

    Então, fiquei passeando com ela em Paris. Num certo momento, nós fomos pegar o último metrô, tínhamos que pegar ou andaríamos quarteirões. Fomos para o metrô, estávamos na beira do metrô, esperando, e ela sabia que, quando chegássemos, ela ia ser comida, porque senão eu quebrava a cara dela. Logo depois eu iria embora, então era o dia dela ser comida, ela estava muito nervosa. Então, a filha da puta, num certo momento, me jogou na linha do metrô, lá embaixo. Aquele negócio é eletrificado, eu podia ter morrido! Eu fiquei querendo levantar, apoiado com a mão na beirada da plataforma, e ela pisando na minha mão. Eu fiquei com uma raiva danada e dei uma surra nela.

    HOUAISS - Você conseguiu se levantar e sair de lá?

    DARCY - Consegui levantar - hoje, não conseguiria -, ela pisando na minha mão. Dei uma surra nela, rapaz! Ela ficou quietinha, chorou muito e depois me deu. Por isso é que eu estava, agora, faz pouco, andando com minha chefe de gabinete, que é uma mulher muito bonita, e com o marido dela na feira de Montes Claros e eu cheguei e disse para uma daquelas feirantes - muitas delas me conhecem:
    - Como vai?
    Ela perguntou:
    - Quem é essa, é sua mulher?
    - Não, trabalha comigo e não me dá.
    - Bate nela que ela dá.


    O Don Juan da aldeia

    Não satisfeito em proclamar seus dotes de espancador emérito, o senador passa a gabar-se de suas aventuras sexuais como etnólogo, quando faturava algumas “índias decadentes”. Quem levanta a bola, desta vez, é o também finado Antônio Callado:

    CALLADO - Darcy, a primeira vez que eu fui ver os índios, em 50 ou 51, já estava muito estabelecido que índia não se comia, para não bagunçar muito o coreto, era mais ou menos tradicional, para não começarem a comer as índias todas. Tanto é assim que, quando eu estive lá, o Leonardo Villas-Boas já estava na Fundação Brasil Central, sendo forçado a deixar o Serviço de Proteção ao Índio porque ele tinha comido uma índia, com quem se casou. Quando é que você chegou lá pela primeira vez? Nessa época já tinha essa lei?

    DARCY - É verdade. Eu comecei com os índios em 46. Essa lei existe até hoje, por causa do Rondon e da antropologia clássica. Eu fui educado para não trepar com índia porque, para o antropólogo, no meu caso específico, pesquisas longas eram difíceis. Hoje em dia é que as moças começaram a dar para os índios, as antropólogas dão para os índios, gostam de transar com eles, para fazer intimidades. Tão dando mesmo, dão para eles também. Coitado, índio também é gente. Então, dão. E como elas dão, os homens também começaram a comer as índias, antropólogos de primeira geração. (...) Eu passei meses com os índios, arranjava um jeito de ter uma. Por exemplo, eu não comia as índias Urubus-Kaapor porque eu estava trabalhando com os Kaapor, mas comia índia Tembé, que eram umas índias decadentes que havia lá.


    Teologia barata e anti-semitismo

    Vejamos esta brilhante interpretação do Gênesis proposta pelo senador:

    DARCY - Aliás, eu preciso contar para vocês uma coisa muito interessante que eu desenvolvi ultimamente, meio literária mas muito bonita. E uma história sobre Eva, eu estive meditando sobre Eva e descobri que Eva é trotskista. É a primeira revolucionária da história. Nós devemos coisas fundamentais a Eva.
    Primeiro, Eva fundou a foda. Adão era um bestão, estava lá, com aquele penduricalho dele e não sabia o que fazer. Eva disse:
    - Vem cá Adãozinho.
    Ele pôs dentro dela e foi aquele gozo, ele teve o orgasmo e, quando deu aquele gozo, o anjão desceu e disse:
    - Deus não gosta, Deus está puto com vocês, fora!
    E os pôs para fora do Paraíso. O Paraíso era uma merda, não era de matéria plástica porque não existia matéria plástica, era de papel crepom. Porque a flor é o órgão genital das plantas, fode, não poderia ter no paraíso flor fodendo. Era de papel crepom. Quando o anjão pôs eles para fora, obrigou o seguinte:
    - Vamos fazer o comunismo, vamos fazer o Paraíso lá fora.
    Eva também foi fazer o comunismo.

    E já que falamos de temas bíblicos, cabe dar uma olhadela na concepção que tem Darcy Ribeiro dos judeus:

    DARCY - Os judeus são tão filhos da puta que, de vez em quando, colocam na menina o nome de Lilith. Lilith é a Eva pecaminosa, a que dá a bocetinha ambulante, fogosa.


    Racismo anti-branco

    Admitamos que estas confissões sejam produto de muito álcool na cuca. O que aliás as torna mais graves: in vino, veritas. Mas é de supor-se que o senador monoglota não estaria bêbado quando escreveu na Folha de São Paulo: "A expansão do homem branco foi a maior catástrofe da história humana”.

    Fosse esta afirmação feita por um analfabeto qualquer, sem maiores noções de história ou geografia, a frase passaria como mais uma das tantas bobagens reproduzidas diariamente pela mídia. Ocorre que ela foi proferida por um senador da República, cujo pensamento, profissão, vida e carreira - apesar de seu monoglotismo e carência de cultura universitária - foram nutridos pela Europa. Partindo de quem parte, tal bobagem merece algumas considerações.

    Que os brancos europeus mataram, tanto em seu continente como nos que conquistaram, ninguém em sã consciência vai negar. Mas também mataram os chineses, os mongóis, os turcos, os árabes, os japoneses. Também negros e índios mataram e continuam matando. Em se tratando de seres humanos, a única afirmação abrangente que podemos fazer, sem incorrer em falácia, é que os homens verdes, como também os azuis, jamais mataram seus semelhantes. Pelo singelo fato de que não existem homens verdes nem azuis.

    O primeiro homem a criar embriões de universidade mundo a fora - e isso 300 anos antes de Cristo - saiu matando e conquistando, a patas de cavalo, desde a Macedônia até a Ásia. Não fosse Alexandre, o diálogo entre Oriente e Ocidente se atrasaria por séculos. Houve tempos em que a cultura seguia a espada e estes tempos não estão muito distantes de nós. O conquistador europeu abafou o neolítico de Pindorama? Que bom! Não fosse isso, Darcy Ribeiro não teria acesso à bomba de cobalto que, nos anos 70, lhe deu longa sobrevida.


    Virando o cocho

    O branco europeu matou e destruiu, como matam e destróem todos os homens, exceto os homens verdes e azuis. Mas também descobriu a penicilina e a fissão nuclear, foi à Lua, já está pensando em Marte e seus olhos eletrônicos já se aproximam de Plutão. Nos deu Mozart e Vivaldi, a ópera e o cinema, as comunicações e o computador. O próprio cristianismo, apesar de sua fúria assassina medieval, nos legou uma estética que não pode ser jogada na famosa lata de lixo da história. Não há termos de comparação entre a Notre Dame e um terreiro de umbanda. Nem se pode confundir uma oca de bugres com a torre Eiffel. Muito menos o cacique caiapó Paiakan com Casanova.

    Rechaçar a expansão do branco, ou seja, a cultura européia, é negar Sócrates e Platão, Cervantes e Shakespeare, Dante e da Vinci, Schliemann e Champolion, Fernão de Magalhães e Armstrong, Pasteur e Einstein. Sem falar em Hegel e Marx, que no fundo embasam a "Weltanschaaung" de Darcy Ribeiro. Se aceitamos sua ótica fundamentalista, que as telas de Van Gogh ou Bosch sejam largadas aos papeleiros, para reciclagem industrial. Os grandes acervos dos museus poderiam servir para construir diques na Holanda. Que sejam fechados o Louvre e o Hermitage, queimadas as bibliotecas, hemerotecas e filmotecas, e proibidos os computadores e as antenas parabólicas, como aliás já está ocorrendo no mundo islâmico. A primeira providência dos fanáticos talebans, ao entrar em Cabul, no Afeganistão, foi destruir os aparelhos de televisão.

    A tecnologia branca transportou Darcy Ribeiro com seus jatos aos países onde degustou “o amargo caviar do exílio”. Na hora de escolher refúgio, optou por países de cultura branca, a cultura que, ao expandir-se, segundo sua acusação, foi a maior catástrofe da história. Já perto da morte, Darcy decidiu virar o cocho em que se nutriu.

    Hierático, gozando da absolvição que a morte confere, morreu em aura de santidade. Nem por isso podem ser perdoadas as infâmias que proferiu postumamente, graças ao esforço editorial de seus “compagnons de route”. Tantas besteiras proferidas por um intelectual de renome internacional têm uma explicação: Darcy foi toda sua vida um embuste.


    O escroc acadêmico

    Além de gabar-se de ser monoglota, exibia como titulação universitária um diploma da Escola de Sociologia e Política, de São Paulo, curso que jamais foi reconhecido pelo Ministério de Educação e Cultura. Em seu currículo enviado ao Senado, espertamente se intitulou etnólogo, ofício que, como o de antropólogo, prostituta ou psicanalista, ainda não foi regulamentado no Brasil. Gozou de três aposentadorias federais, uma delas pela Universidade de Brasília, com a qual jamais teve vínculo de emprego. Sua carreira é a de um escroc acadêmico.

    Não bastasse isto, dizia ter fundado a Universidade de Brasília. Não fundou. Nem nela lecionou, embora tenha por ela se aposentado. Segundo o Dr. José Carlos de Almeida Azevedo, ex-reitor da UnB, Darcy nela jamais teve um só aluno e foi “reintegrado” para “aposentar-se”, sem jamais ter vínculo de emprego com a universidade, já que era “requisitado”. A propósito, cito artigo do ex-reitor, publicado em 24/06/96 na Folha de São Paulo:

    “Servidor do antigo SPI, hoje Funai, e da UFRJ, Darcy apareceu na comissão convocada pelo então ministro da Educação, Clovis Salgado, para cumprir determinação de JK, no sentido de “...fundar Universidade Brasília... em moldes rigorosamente modernos...”. Na comissão, presidida por Pedro Calmon, Darcy era o único que jamais havia concluído, ou iniciado, um curso superior, mas foi Reitor da UnB e ministro da Educação, poucos meses em cada lugar, sem deixar qualquer vestígio do que fez”.

    A citação será longa, mas pertinente. Continua Azevedo:

    “No final de 1968, cinco anos depois que Darcy deixou a reitoria, os esgotos da UnB eram a céu aberto; não havia galeria de águas pluviais, e tudo inundava; porque só havia uns mil metros de asfalto, era um lamaçal; havia uns cinco telefones, um computador de 6k nunca usado; uma só quadra de esportes, simples chão cimentado e dita “polivalente”; nenhum curso reconhecido havia, além de Direito e Economia. Toda a administração era na “munheca”, nada mecanizado. Em uns seis barracos de madeira, amontoavam-se o restaurante, o alojamento estudantil, algumas unidades de ensino e os serviços gerais. À beira do lago, outros três barracos, malocas de índios e sebastianistas. Era ver para crer. Os alunos, uns 2.000, amontoavam-se em três prédios de dois andares, com uns 2.000 m² cada um, com a pequena biblioteca e laboratórios. (...) Nem as escrituras do imóveis tinha e, por isso, perdeu uma centena de terrenos comerciais e um enorme prédio”.

    Concluí o ex-reitor:

    “Ao autoproclamar-se fundador e criador da UnB, beneficiando-se disso ad perpetuam, o Darcy usurpa méritos exclusivos de Juscelino Kubitschek, de seu ministro Clovis Salgado e de Anísio Teixeira, comprovados em relatório oficial do MEC e em depoimento do ministro. O primeiro mandou criar a universidade, compreendendo sua importância; o segundo criou todas as condições, e Anísio a organizou. (...) A construção, institucionalização e consolidação da UnB devem-se aos reitores Caio Benjamin Dias, Amadeu Cury e, em escala menor, a este modesto escriba, que a ela serviram, a convite exclusivo do Conselho da Fundação UnB”.

    O senador monoglota dizia ainda ter fundado a Universidade Nacional de Costa Rica. Tampouco a fundou. Aliás, nem existe tal universidade. Conforme nos informa o professor Augostinus Staub, “existe, sim, a Universidade Nacional, na cidade de Herédia, criada em 1970, pelo presbítero Benjamin Nuñez Gutierrez, e não por Darcy Ribeiro”.

    Gabava-se de ter um diploma de Dr. Honoris Causa pela Sorbonne. Pura fraude intelectual. O Honoris Causa, Darcy o recebeu em 1978, quando não mais existia a Sorbonne. O diploma foi conferido pela Universidade de Paris VII e entregue em uma sala do prédio da antiga Sorbonne, o que é muito diferente. Sem falar que diploma Honoris Causa só serve para enfeitar cartão de visita e não confere nenhuma capacitação acadêmica a seu portador.


    Rumo à lata de lixo

    Darcy sabia muito bem que, neste país sem maiores critérios de avaliação da inteligência, enganar é o recurso mais ao alcance do homem inculto para subir na vida. Mentindo sempre, foi guindado a um ministério e ao Senado. Uma vez no poder, do alto de seu cursinho secundário, o senador monoglota condenou, em uma só frase, a cultura na qual nasceu e mamou.

    Ao tentar fugir da morte espiritual, Ribeiro não optou pelo tantã ou pelo relato oral sob a sombra de um baobá, mas por gráficas modernas montadas pelo branco que tanto abomina. Tentando fugir da morte física, reação instintiva de todo ser humano, o antropólogo não recorreu a pajelanças, mas a hospitais de primeira linha. Quando Jesus estava chamando, não buscou salvação junto a xamãs. Preferiu pedir água a representantes da cultura que o gerou e, depois, virando o cocho, passou a abominar.

    A maior catástrofe da história humana, "a expansão do homem branco", gerou este país que gerou Darcy Ribeiro, temperou este caldo cultural no qual o senador, com suas manhas de mineiro, fez sua carreira e prestígio. Antes de morrer, organizou uma fundação, para que seu “pensamento” não morresse. Grafômano contumaz, tem obra tão vasta que já nem sabe quantos livros escreveu nem em quantos idiomas está traduzido. Graças a quem? A um europeu chamado Gutenberg.

    É moda entre antropólogos, sociólogos, psicólogos e outros óologos, negar sistematicamente os valores da cultura ocidental, ou seja, da cultura branca, cujas bases estão na Grécia e em Roma, em favor de culturas primitivas, que muitas vezes nem chegaram a um alfabeto e, se lá chegaram, hoje vivem encharcadas no sangue de guerras tribais. Mais que moda, esta tendência é uma verdadeira conspiração dos derrotados da História, que assestam seu ressentimento surdo contra o que de melhor a humanidade produziu.

    Em vida, o senador Darcy Ribeiro chutou neste imenso time de ressentidos. Morto, virou estátua. Por mais monumentos e salas com seu nome que lhe outorguem seus amigos e compagnons de route, sua trajetória é a de um escroc acadêmico. Quando a burritzia tupiniquim receber notícias de que o Muro de Berlim já caiu, Darcy assumirá seu merecido espaço, a famosa lata de lixo da história.


    (*) Minha homenagem aos 90 anos do senador monoglota. Este artigo foi publicado em outubro de 1997. Versão para anglófonos: http://www.brazzil.com/pages/p24oct97.htm

    27 de outubro de 2012
    janer cristaldo

    CAI O ÚLTIMO ARGUMENTO DOS MACONHEIROS: DROGA É MAIS PREJUDICIAL DO QUE ÁLCOOL E TABACO, SIM!

     

     
    Um dos lobbies mais organizados, mais influentes e mais aguerridos do Brasil é o dos maconheiros. Não há, já demonstrei aqui — acho que em centenas de textos —, uma só centelha lógica em seus argumentos. Ao contrário: no fim, tudo termina na mais pura irracionalidade. Não repisarei argumentos.
    O capítulo 3 de “O País dos Petralhas II” chama-se “Das milícias do pensamento” — um dos subcapítulos tem este título “Da milícia da descriminação das drogas”. Como, em certas franjas, o consumo da maconha — e de algumas outras substâncias — se mistura com hábitos próprios dos endinheirados, a descriminação ganhou porta-vozes influentes.
    Por incrível que pareça, está presente até na eleição do comando da OAB…
     
    Leiam reportagem de Adriana Dias Lopes, que é capa da VEJA desta semana. Cai por terra a mais renitente — embora, em si, seja estúpida, já demonstrei tantas vezes — tese dos defensores da descriminação da maconha: a de que a droga ou é inofensiva ou é menos danosa à saúde do que o tabaco e o álcool, que são drogas legais. Errado! Leiam trecho da reportagem:
    (…)
    A razão básica pela qual a maconha agride com agudeza o cérebro tem raízes na evolução da espécie humana. Nem o álcool, nem a nicotina do tabaco; nem a cocaína, a heroína ou o crack; nenhuma outra droga encontra tantos receptores prontos para interagir com ela no cérebro como a cannabix. Ela imita a ação de compostos naturalmente fabricados pelo organismo, os endocanabinoides. Essas substâncias são imprescindíveis na comunicação entre os neurônios, as sinapses.
     
    A maconha interfere caoticamente nas sinapses, levando ao comprometimento das funções cerebrais. O mais assustador, dada a fama de inofensiva da maconha, é o fato de que, interrompido seu uso, o dano às sinapses permanece muito mais tempo — em muitos casos, para sempre, sobretudo quando o consumo crônico começa na adolescência.
    Em contraste, os efeitos diretos do álcool e da cocaína sobre o cérebro se dissipam poucos dias depois de interrompido o consumo.
     
    Com 224 milhões de usuários em todo o mundo, a maconha é a droga ilícita universalmente mais popular. E seu uso vem crescendo — em 2007, a turma do cigarro de seda tinha metade desse tamanho. Cerca de 60% são adolescentes.
    Quanto mais precoce for o consumo, maior é o risco de comprometimento cerebral. Dos 12 aos 23 anos, o cérebro está em pleno desenvolvimento.
     
    Em um processo conhecido como poda neural, o organismo faz uma triagem das conexões que devem ser eliminadas e das que devem ser mantidas para o resto da vida. A ação da maconha nessa fase de reformulação cerebral é caótica. Sinapses que deveriam se fortalecer tornam-se débeis. As que deveriam desaparecer ganham força”.

     (…)
     
    Leiam a íntegra da reportagem especial na edição impressa da revista e depois cotejem com tudo o que anda dizendo a turma da descriminação, cujo lobby é tão forte que ganhou até propaganda gratuita na TV aberta, o que é um despropósito.
     
    Para encerrar este post, vejam alguns dados cientificamente colhidos sobre os consumidores regulares de maconha:

     – têm duas vezes mais risco de sofrer de depressão;
    – têm duas vezes mais risco de desenvolver distúrbio bipolar;
    – é 3,5 vezes maior a incidência de esquizofrenia;
    – o risco de transtornos de ansiedade é cinco vezes maior;
    – 60% dos usuários têm dificuldades com a memória recente;
    – 40% têm dificuldades de ler um texto longo;
    – 40% não conseguem planejar atividades de maneira eficiente e rápida;
    – têm oito pontos a menos nos testes de QI;
    – 35% ocupam cargos abaixo de sua capacidade
     
    E, digo eu, por tudo isso, 100% deles defendem a descriminação…
     
    PS – O lobby da maconha pode desistir. Este blog tem lado nessa questão e não cede a pressões organizadas. Comentários favoráveis à legalização das drogas não serão publicados. Não percam tempo.
     
    27 de outubro de 2012
    Por Reinaldo Azevedo

    LA DOLCE VITA DEL "PUDÊ" : A FATURA MILIONÁRIA DOS JETONS

     


    Ministros recebem R$ 1,1 milhão por ano com os extras pagos por estatais.
    AGU anuncia que vai recorrer na semana que vem contra a decisão que proíbe o pagamento aos ocupantes do primeiro escalão da Esplanada
    Denunciados em uma ação popular por acumular cargos no governo federal com funções consultivas em empresas estatais e privadas e receber acima do teto constitucional, os 11 ministros citados no processo na Justiça Federal de Passo Fundo (RS) que resultou na suspensão do pagamento dos jetons na última quinta-feira ganham, juntos, mais de R$ 1,1 milhão por ano.
    O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, é o que embolsa o maior valor. Ele é o presidente do Conselho de Administração do BNDES. Além dos R$ 26,7 mil recebidos mensalmente pela chefia da pasta em Brasília — teto do funcionalismo público brasileiro —, ele garante mais R$ 18 mil do banco.
    A Advocacia-Geral da União (AGU) deve recorrer da liminar na próxima semana.
    O Ministério Público Federal (MPF), que também foi ouvido no processo judicial na cidade gaúcha, é contrário ao acúmulo de cargos em que a soma das remunerações ultrapassa o teto previsto constitucionalmente. Para o MPF, a atuação dos ministros nos conselhos consultivos é usada como artifício com a finalidade de proporcionar remuneração acima do permitido para integrantes do alto escalão do governo.
    “Não são necessárias maiores digressões para concluir pela imoralidade da utilização do pagamento de jetons para burlar a norma constitucional”, afirmou o órgão em parecer.
     
    Responsabilidade
    A AGU, que defendeu a União no caso e apresentará o recurso na próxima semana, acredita na legitimidade do exercício concomitante dos cargos. “A retribuição pelo exercício de função em conselho de entidade de direito privado guarda um caráter próprio, correspondente à retribuição de representação”, argumentou.
    O ministro da AGU, Luís Inácio Adams, é o quarto na lista dos ministros que mais recebem jetons. Ele participa de dois colegiados na Brasilprev e na Brasilcap.
    Antes dele, na conta dos mais contemplados, estão os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento), integrantes de dois conselhos na Petrobras. Cada um recebe R$ 16,5 mil.
    Mantega é o presidente do Conselho de Administração da estatal, que conta ainda com a presença do empresário Jorge Gerdau e de Luciano Coutinho, presidente do BNDES.
    O ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, aparece no último lugar da fila: recebe R$ 1,8 mil por participar da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba).
    Para o consultor econômico Raul Velloso, é preciso saber se o ocupante de um conselho é mera figura decorativa ou se ele de fato exerce aquilo que está previsto legalmente no colegiado.
    “Na minha experiência de 20 anos atrás no serviço público, quando estava no governo, eu tinha a sensação de que os jetons eram meros complementos salariais, porque as pessoas, em sua maioria, não interferiam na administração daquela empresa. Nos conselhos, há responsabilidades e funções a serem exercidas”, afirma.

    Em toda a administração pública, o número de servidores que recebe jetons chega a 408. A minoria deles participa de mais de um conselho.
     
    408 Total de servidores públicos que recebem jetons, segundo dados do Portal da Transparência
     
    No topo
     
    Confira a lista dos ministros que mais recebem jetons por participação em conselhos de empresas estatais e privadas
     
    Ministro Valor dos jetons Empresa
     
    Fernando Pimentel (Desenvolvimento) R$ 18 mil BNDES

    Guido Mantega (Fazenda) R$ 16,5 mil Petrobras

    Miriam Belchior (Planejamento) R$ 16,5 mil Petrobras

    Luís Inácio Adams(AGU) R$ 13,2mil Brasilprev e Brasilcap
    Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência)R$ 8,1 mil Sesc
    Fonte: Portal da Transparência
    LEANDRO KLEBER/Correio
    27 de outubro de 2012