"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 16 de junho de 2013

MINHA CASA, MINHA CAIXA-PRETA


O Minha Casa, Minha Vida é um excelente programa.

Ficará melhor ainda quando entregar o que promete.
Poderá tornar-se quase perfeito se disser de onde vem o dinheiro que financia suas obras. Será louvado se deixar de ser usado como mera peça de campanha publicitária.
 
Tal como existe hoje, é uma caixa-preta.

O programa foi lançado há pouco mais de quatro anos. Inicialmente, tinha como objetivo entregar 1 milhão de moradias.

Com Dilma Rousseff já na presidência, a meta dobrou. O governo afiança que a maior parte (60%) destina-se a famílias com renda de até três salários-mínimos, em que se concentra o grosso do déficit habitacional do país.

A despeito de ainda não ter cumprido o compromisso ao qual se propôs, o governo petista segue inflando suas metas. Os números parecem ganhar vida própria e vão surgindo aos borbotões. Agora, a promessa da presidente é fazer 3,75 milhões de habitações, conforme
disse anteontem em Brasília.

Ela só não eu como fará.É meritório que intenções nobres como possibilitar a quem não tem teto adquirir sua casa própria cresçam e se multipliquem. O problema é quando tais pretensões se restringem a meros números vazios. No Minha Casa, Minha Vida, as contas não fecham.
Sobra saliva e falta areia, concreto e brita.
 
Para inflar seu desempenho, o governo limita-se, na maior parte dos casos, a informar o número de unidades habitacionais "contratadas" e não as efetivamente "construídas". Como entre contratação, construção e ocupação vai muito cimento, a realidade acaba sendo bem distinta, e bem pior, que a expressa no discurso oficial.
São parcos os balanços sobre o programa e opaca a sua contabilidade. A partir da "Mensagem ao Congresso Nacional" enviada pela Presidência da República em fevereiro, fica-se sabendo que 1,05 milhão de unidades foram finalizadas. 

Destas, menos de um terço destinam-se às famílias mais pobres: 
das 1,2 milhão de unidades prometidas para esta faixa de renda, só 291 mil foram entregues. 
Este é apenas um dos problemas. 
 
Outro, que afeta muito mais gente, é a origem dos recursos que estão sendo usados para bancar as obras. O governo está simplesmente metendo a mão no FGTS dos trabalhadores para financiar as moradias, sem, contudo, ressarcir o fundo como deveria. Desde 2011 tem sido assim - nos dois anos anteriores, o ressarcimento foi apenas parcial. 
As dívidas do Tesouro com o FGTS já ultrapassam R$ 4,8 bilhões, em valores atualizados. Em 2012, do R$ 1,8 bilhão que o Tesouro deveria ressarcir, nada foi pago, mostrou O Globo anteontem. 
Além disso, desde abril do ano passado a União deixou de repassar ao fundo os recursos da contribuição extra de 10% paga pelas empresas em casos de demissões sem justa causa: 
só aí foram tungados mais R$ 2,8 bilhões, utilizados para ajudar a maquiar os resultados fiscais de 2012. 
Agora, o dinheiro do trabalhador também poderá vir a ser usado para financiar a compra de eletrodomésticos e mobiliário a juros camaradas. O governo não explica de onde virá a maior parte dos R$ 18,7 bilhões anunciados anteontem. 
Diz apenas que injetará mais R$ 8 bilhões na Caixa e, "enquanto durarem as operações", abrirá mão da maior parte de seus dividendos no banco - que renderam R$ 7,7 bilhões ao Tesouro no ano passado, segundo o Valor Econômico.

Além de gatunar o FGTS do trabalhador e ajudar o governo petista a inflar artificialmente o superávit fiscal, o Minha Casa, Minha Vida também é útil para anabolizar os resultados do Programa de Aceleração do Crescimento e tornar menos anêmicos os números relativos ao investimento público.
Dos R$ 557 bilhões que a gestão federal diz ter aplicado no PAC até hoje, 32% referem-se a financiamentos habitacionais concedidos no âmbito do programa. A continuar assim, é possível que as prestações que os mutuários pagarão às Casas Bahia para ter um fogão novo e uma TV digital logo, logo estarão engordando a contabilidade oficial da gestão Dilma...O Minha Casa, Minha Vida é uma boa ideia que o governo do PT, infelizmente, tem se mostrado capaz de desvirtuar. O programa habitacional é uma verdadeira caixa-preta, sobre a qual não se sabe ao certo quantas famílias estão sendo beneficiadas, quantas moradias foram efetivamente construídas, de onde estão vindo os recursos, nem em quais condições. 
 
É mais uma boa intenção das quais o inferno está lotado.

Fonte: Instituto Teotônio Vilela 
Minha casa, minha caixa-preta
16 de junho de 2013

"É A VOZ DO POVO" - DIZ CAFU SOBRE VAIA A DILMA NA ABERTURA

No Rio, capitão do penta reconhece que a saia-justa em Brasília 'pegou mal'

 
Presidente Dilma é vaiada durante a abertura da Copa das Confederações
Presidente Dilma é vaiada durante a abertura da Copa das Confederações (Ivan Pacheco )
 
"Ninguém quer ver a nossa presidente vaiada. Ela comanda o nosso país. É que tem sempre os do contra, é assim no Brasil", disse Lucas
 
O técnico Luiz Felipe Scolari não quis nem sequer tocar no assunto depois da estreia do Brasil, no sábado, contra o Japão, em Brasília. Mas seu capitão na conquista do penta, em 2002, falou abertamente sobre as vaias à presidente Dilma Rousseff no Estádio Nacional Mané Garrincha, na abertura da Copa das Confederações.
 
Hoje, o ex-lateral é integrante do Comitê Técnico da Fifa, e participa do torneio como observador. Na manhã deste domingo, na sala de imprensa do Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, Cafu reconheceu a repercussão negativa do episódio mas em nenhum momento se prestou a defender a presidente. "Foi uma situação desagradável, uma situação ruim, não pegou muito bem. Mas é a voz do povo brasileiro", afirmou o ex-atleta da seleção brasileira.
 
"Ela é a presidente, é a autoridade máxima do nosso país, e sem dúvida alguma impõe respeito. Mas não é possível para conter a todos em meio ao povo."
 

A Fifa evitou comentar o assunto, até porque o presidente da entidade, Joseph Blatter, também foi vaiado - principalmente quando cobrou o torcedor pelo comportamento hostil à presidente. "Amigos do futebol, onde está o respeito, onde está o fair play?", perguntou, irritado, provocando uma vaia ainda maior. Entre os jogadores da seleção brasileira, Lucas - um atleta acostumado a ser aclamado pelo público nos jogos do Brasil, em que sempre tem seu nome gritado quando está no banco - saiu em defesa da presidente antes de deixar o estádio em Brasília.
 
"Ninguém quer ver a nossa presidente vaiada. Ela comanda o nosso país. É que tem sempre os do contra, é assim no Brasil", disse o jogador.
 
No momento em que foi vaiada, Dilma apareceu nos telões do estádio ao lado de Blatter, ambos de pé nas tribunas, com microfones em mãos. Fora da cena, do outro lado da presidente, estava o cartola José Maria Marin - que, curiosamente, vinha sendo isolado pelo governo justamente em função de sua impopularidade.


Marin tentou diversas vezes chegar a Dilma nos últimos meses, mas não foi recebido pela presidente, que não queria ter sua imagem associada à do presidente da CBF e do Comitê Organizador Local (COL) da Copa do Mundo.
 
Durante o jogo, trocaram algumas palavras e se cumprimentaram depois do primeiro gol. A interação entre os dois, porém, foi bastante limitada. Dilma também dividia a tribuna de honra com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que apareceu para o jogo do Brasil não com o uniforme da equipe de Felipão, mas sim com uma camisa da seleção de vôlei, com marca (Olympikus) e patrocinador (Banco do Brasil) concorrentes dos parceiros oficiais do evento (Adidas e Itaú) e da CBF (Nike e Itaú).
 
Ao lado de Gleisi estava o controverso presidente da Federação Alagoana de Futebol de Alagoas, Gustavo Feijó, escolhido por Marin para ser o chefe da delegação brasileira na competição.

16 de junho de 2013
Giancarlo Lepiani, Veja

O OUTONO DA IGNORÂNCIA

 

RUTH DE AQUINO  é colunista de ÉPOCA raquino@edglobo.com.br (Foto: ÉPOCA)
Até demorou. Não se dizia que os brasileiros eram passivos demais, sem consciência política? Um povo inebriado por futebol, Carnaval e cerveja, que só se aglomerava em show, bloco e passeata gay ou evangélica?
Agora, uma fagulha, o aumento das tarifas de ônibus, incendiou multidões. São especialmente jovens. Como em qualquer lugar do mundo.
Entre os que protestam pacificamente com flores na mão, há os vândalos que, rindo e xingando, depredam o patrimônio, quebram lojas, incendeiam ônibus. Alguma novidade? Sempre foi exatamente assim, em Paris, Londres, Buenos Aires ou Istambul.

Os excessos devem ser repudiados, os vândalos detidos. Mas a reação truculenta das tropas de choque e as declarações de prefeitos e governadores de todos os partidos mostram algo preocupante: o poder – no Brasil, como na Turquia – não faz a menor ideia de como coibir com eficácia protestos que resvalem para a violência. Policiais e políticos igualam-se aos arruaceiros na ignorância, tornam-se delinquentes por trás de armaduras e gravatas, tacham de ilegítimas todas as manifestações, não param para escutar, entender ou negociar.

O resultado é este: cidadãos encurralados na volta do trabalho, crianças atemorizadas. Os jornalistas são feridos pela polícia com balas de borracha, bombas de gás e spray de pimenta nos olhos. São coagidos e xingados por jovens mascarados e desinformados.

Os preços sobem, a inflação está em alta, os impostos absurdos não revertem em saúde, moradia, transporte e educação para a população, os empregos para a juventude começam a minguar, as empresas demitem em massa sem repor vagas. A presidente Dilma diz que a economia está sob controle. A farra nos Três Poderes continua. Ninguém aperta o cinto de couro em Brasília. O noticiário continua coalhado de mordomias no Legislativo, Judiciário e Executivo.

No Brasil, o poder não faz
a menor ideia de como coibir protestos que resvalem
para a violência 
O jornalista Zuenir Ventura um dia cunhou a expressão Cidade Partida para se referir à divisão entre asfalto e morro, no Rio de Janeiro. Hoje, está claro que vivemos num País Partido.
O Brasil dos que produzem e trabalham quase cinco meses só para pagar impostos... e o Brasil dos que mamam nas tetas do Estado, com aposentadorias vitalícias polpudas e múltiplas, e ainda têm a cara de pau de discutir o rombo da Previdência. É corrupção, nepotismo, promiscuidade, formação de quadrilha nas altas esferas, desmoralização dos sindicatos que se lambuzam com o melado federal. A casta superior do País Partido insiste em ignorar o sentimento de vulnerabilidade da população assalariada.

Com a ditadura, o Brasil se desacostumou a conviver com manifestações e greves. Tudo vira sinônimo de anarquia. Estava em Londres em 1979, no “winter of discontent”, o inverno da insatisfação, que encheu a cidade de lixo e mau cheiro e derrubou os trabalhistas, abrindo o caminho para Margaret Thatcher. Trafalgar Square equivale simbolicamente à Praça Taksim, de Istambul – mas com os bobbies (policiais ingleses) protegendo os manifestantes.

Estava em Paris no outono de 2005, quando jovens da banlieue (a periferia) invadiram a Rive Gauche e saíram quebrando tudo, em protesto contra a situação de jovens imigrantes nos subúrbios. Foram 19 noites de distúrbios na França, 9 mil carros queimados, 3 mil jovens presos.

Essa revolta saiu de controle. A “manif” já faz parte da cultura parisiense – quase como a praia no Rio de Janeiro e o restaurante em São Paulo. Não há fim de semana em que avenidas não sejam bloqueadas por protestos. As tropas de choque se organizam, com o objetivo de garantir a passeata, e não de fomentar a violência.

No Brasil, o Movimento do Passe Livre é o estopim, ou a parte visível de um descontentamento que não pode ser minimizado. O péssimo serviço de ônibus, metrôs e trens, aliado a aumentos nas passagens, é, sim, revoltante. Ouvir de Sérgio Cabral, Geraldo Alckmin e Fernando Haddad que os protestos “têm motivação política” causa risos. É lógico que protestos sejam políticos. Não existe crime nisso. Ouvir das autoridades que os manifestantes são mauricinhos causa desconforto. É preciso ser prostituta para defender os direitos da classe nas ruas? É preciso ser povão para protestar contra a indignidade dos trens?

Torço para que os manifestantes expulsem de suas alas os marginais que aterrorizam exatamente aqueles que mais se servem do transporte público. Espero que os governos não mandem às ruas policiais despreparados, brutamontes e enraivecidos, que atacam pelo prazer da repressão. “Baderna é inaceitável”, diz Alckmin. Concordo. Mas os piores baderneiros são os armados pelo Estado. Deslizes policiais e insensibilidade governamental podem nos lançar ao caos.


16 de junho de 2013
RUTH DE AQUINO é colunista de ÉPOCA

COISA DO DEMÔNIO

 

Em qualquer atividade e para qualquer um, perder uma oportunidade é deixar passar uma chance que poderia ser única.

Na política isso pode ser fatal. Situação, oposição e até os que não têm cheiro tentam se aproveitar ao máximo quando elas surgem. Absolutamente legítimo.

Mas, não raro, oportunidades acabam por irrigar canteiros de oportunistas - gente que rouba, que vende voto, que leiloa o mandato. E de oportunistas ideológicos - aqueles que em público xingam o demônio e que entre quatro paredes com ele se confraternizam.

O discurso do presidente do PT deputado Rui Falcão, na quinta-feira, em Curitiba, em mais uma comemoração pelos 10 anos de invenção do Brasil, é um exemplo acabado disso. “São quatro grandes monopólios ou oligopólios que urge desmontar: o monopólio do dinheiro, controlado pelo capital financeiro; o monopólio da terra, em mãos dos latifundiários que se opõem à reforma agrária; o monopólio do voto, garantido pelo financiamento privado e o poder econômico; e o monopólio da opinião e da informação, dominado pelos barões da mídia”, disparou Falcão.

Rui Falcão, presidente do PT

Uma fala inflamada para alegrar a militância e fazer bonito frente ao ex-presidente Lula e à presidente Dilma Rousseff, estrelas maiores do encontro.

Nela, ele xinga os demônios, cospe no prato em que come e esconde os conchavos que há anos sustentam o PT.

Que monopólio do dinheiro? O que está concentrado nas mãos de empreiteiros – os mesmos para os quais Lula tem sido garoto propaganda? Dos banqueiros aliados que lucram ano a ano e ainda fazem transações espúrias com o partido, como o BMG do mensalão?

O monopólio da terra abriga o agronegócio, setor que cresceu 9,7%, evitando o completo desastre do já tão magro PIB de 0,6% do primeiro trimestre. É com esse oligopólio do capeta, e com a representante dele – senadora Kátia Abreu (PSD-TO) –, que Dilma conta.

O monopólio do voto? O maldito dinheiro privado que abarrota o caixa oficial e o caixa 2 confesso das campanhas do PT, as mais caras desde 2004, ano da primeira eleição depois que Lula chegou ao poder?

Por fim, os barões da mídia. Como se o incômodo fosse com os donos da mídia, com quem governos sempre se compõem. A pedra no sapato é o jornalismo - classificado por Dilma como “terrorismo informativo” - e os jornalistas, “vendedores” ou “profetas do caos”. Gente que ousa relatar que a inflação bateu no teto da meta, que mostra erros de gestão, gastos a rodo, obras de infraestrutura caras e em passo de tartaruga; desacertos e improvisações na política econômica e fiscal.

O problema são esses diabos que não batem ponto e não estão à venda.

16 de junho de 2013
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília.

A FERVURA É GERAL

 

Aversão itinerante da aclamada conferência de ideias TED, realizada anualmente nos Estados Unidos e cuja participação custa US$ 7.500 (R$ 16.500) por cabeça, atende pelo nome de TEDGlobal. É um pouco menos salgada — US$ 6.000 por quatro dias de apresentações e palestras de 18 minutos. A edição 2013 foi encerrada esta semana em Edimburgo, capital da Escócia, e a próxima ocorrerá no Rio, em outubro de 2014.

A intervenção de um dos palestrantes surpreendeu pela franqueza. “Não me surpreende que tantos líderes políticos, e não me excluo desta lista, perderam a confiança de seu povo. Quando tropas de choque da polícia precisam ser chamadas para proteger [prédios públicos] e o Parlamento é porque algo está muito errado com nossas democracias”, disse Georgios Papandreou, terceiro da dinastia de políticos que governaram a Grécia.

Georgios Papandreou

Papandreou, como se sabe, estava no poder em 2009 quando seu país foi a primeira nação europeia a degringolar ruína abaixo, puxando o fio da meada do desemprego, da insolvência e da bancarrota que ronda boa parte da zona do euro.

Papandreou foi, também, o primeiro chefe de governo desses novos tempos de bloco na rua a ter meio milhão de cidadãos manifestando na principal praça de Atenas contra os planos de austeridade que se anunciavam. Era maio de 2011, a primeira passeata-monstro brotara de forma espontânea, da vontade de se fazer ouvir. Vieram outras mais, a rotina urbana interrompeu-se. Seis meses depois, com as ruas falando sozinhas, Papandreou renunciou.

Quase à mesma época, nascia na Espanha igualmente depauperada o movimento social mais importante desde o final do franquismo: o “Indignados”. Politicamente organizado e astuto no uso das redes sociais, passou a fazer parte do teste de governabilidade das principais cidades espanholas, onde o desemprego entre os jovens de 25 a 29 anos atingiu o obsceno índice de quase 60%. Também as forças da ordem tiveram de se moldar ao teste de governabilidade.

Do mesmo modo na França, Chipre, Itália, Inglaterra, Alemanha — todos países democráticos — a rua tem servido de ponto dentro da curva da insatisfação crescente com a surdez dos governantes eleitos. Passeatas são cada vez mais frequentes, elas provocam transtornos consideráveis na vida dos munícipes, mas os governantes e seus instrumentos de ordem foram obrigados a aprender a conviver dentro destes parâmetros.

Vale lembrar que durante quase dois meses de 2011 um pedaço do cartão-postal financeiro mais conhecido do mundo — Wall Street, em Manhattan — permaneceu sob ocupação de um movimento de protesto particularmente incômodo e ruidoso.

Era a turma do Occupy Wall Street, que acabou dando filhotes mundo afora. Montaram barracas numa das áreas mais valorizadas de Nova York, e dali não arredaram pé em protesto contra a ganância financeira, a corrupção e a desigualdade social.

Durante o dia chegavam a reunir de 5 a 10 mil manifestantes no entorno da Bolsa de Nova York. À noite, algumas centenas de empedernidos dormiam no assentamento montado num parque próximo. Ali também cozinhavam, lavavam roupa, defecavam.

Quando as condições sanitárias se tornaram insustentáveis, o prefeito Michael Bloomberg recorreu à tropa de choque para a dura retirada forçada. A tentativa de reocupação recebeu repressão mais dura ainda, com imagens de violência que correram mundo.

Só que o recurso a tropas de choque para controlar um movimento de desobediência civil que saiu de controle acabou sinalizando mais fraqueza de planejamento do que força do prefeito.

De todo modo, o protesto continuou sob outra roupagem. Está entendido que se trata de um movimento legítimo. Para o presidente Barack Obama, ele “exprime as frustrações do povo americano... que vê os protagonistas da maior crise financeira desde a Grande Depressão... tentando manter as mesmas práticas irresponsáveis”.

Na Turquia, o despertar político do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan só ocorreu depois de duas semanas de monólogo dos cidadãos nas ruas, respondido com uma truculência policial que causou quatro mortos e fez perto de cinco mil feridos.

É arrogância temerária para um político achar que, hoje em dia, por ter sido democraticamente eleito (mesmo que por três vezes, como Erdogan) ele está dispensado de acompanhar as miudezas, anseios, teimosias ou alegrias que fazem pulsar o seu país — sintonias que passam pelas redes sociais, não por pesquisas de marqueteiro.

Uma democracia que não é forte o suficiente para aguentar períodos de descontentamento público sem recorrer a medidas repressivas desmesuradas acaba se encrencando. É provável, portanto, que o primeiro-ministro turco tenha percebido a armadilha na qual ele mesmo se colocara.

Anunciou, na tarde de sexta-feira, que seu governo aceitava suspender a construção do polêmico shopping center que originou os primeiros protestos na Praça Taksim até que uma Corte analise as objeções urbanísticas dos manifestantes ao projeto. Caso haja divergência entre a avaliação da Corte e o veto dos manifestantes, será realizado um plebiscito, e a população de Istambul decidirá o que prefere fazer com esta única área verde da principal praça da cidade.

A ideia de que munícipes possam decidir o destino que querem dar a uma área de seu interesse cotidiano foi saudada com entusiasmo. Não é garantido, porém, que, de uma só penada, tudo volte a ser como antes e o descontentamento acumulado contra o estilo impositivo de Erdogan saia das ruas. Vai depender, e muito, do uso futuro que ele pretende fazer de sua tropa de choque.

Em tempo: para impedir a “tomada” da Avenida Paulista por um grupo pequeno de mascarados e arruaceiros exógenos à manifestação grande e ordeira da quinta-feira, o governo de São Paulo recorreu à Tropa de Choque, à Força Tática e à Cavalaria. Da próxima vez, também drones?

16 de junho de 2013
Dorrit Harazim, O Globo

POR QUE O GOVERNO DO PT ESTÁ DERRETENDO?




 
A base de Dilma Rousseff no Congresso é ampla - ao menos numericamente. Mas se o governador pernambucano, Eduardo Campos, lançar sua candidatura à presidência, abrirá uma alternativa para partidos aliados que, ao mesmo  tempo em que estão insatisfeitos com a presidente, não pretendem se aliar ao oposicionista Aécio Neves. O PSB de campos, hoje aliado da presidente, é tradicional aliado do PT. Por isso, uma ruptura significaria uma perda relevante para a candidatura de Dilma. Parte do impacto seria medida nos palanques estaduais. Em Santa Catarina, por exemplo, lideranças do PSD já declararam apoio a Campos - e não à presidente, como pretende o comando nacional do partido. (Fotos do site da revista Veja)
A presidente Dilma Rousseff se elegeu sem ter jamais disputado uma eleição, manteve a popularidade a despeito de seguidos escândalos de corrupção e demonstrações de ineficiência administrativa.
Agora, no 30º mês de governo, um elemento novo passou a afetar diretamente o seu apoio entre a população: a inflação.
Dos temas que levam alguém a decidir se dá ou não sua confiança a um político, a economia costuma ser o número um. E dentre os temas econômicos, a inflação está entre os que mais diretamente influenciam a avaliação de um governo.
  Pesquisa divulgada na última semana pelo Instituto Datafolha mostra que a avaliação do governo piorou: a aprovação caiu de 65% para 57% em três meses. E que, no cenário eleitoral de 2014, a vantagem de Dilma Rousseff não é incontestável. Isso está longe de significar um cenário apocalíptico. Dilma ainda desfruta de índices de aprovação superiores aos dos dois antecessores no mesmo período do governo. Ela também tem ampla vantagem na intenção de voto.
Mas o cenário de incertezas na economia e a ausência de perspectiva de grandes realizações nos próximos meses tornam o cenário nebuloso. Além disso, na eleição de 2014 Dilma deve ter três adversários competitivos: Eduardo Campos (PSB), governador de Pernambuco, tem potencial para tirar votos da petista no Nordeste. Marina Silva (Rede) é popular em grandes centros urbanos. E o senador Aécio Neves (PSDB) é o favorito para levar os dois maiores colégios eleitorais do país, Minas Gerais e São Paulo.
  Economia se torna mico de governo - Desde que assumiu o poder, em 2011, Dilma, graduada em Economia, não conseguiu colher os louros de um crescimento robusto, tal como seu antecessor.
O melhor desempenho registrado até o momento foi em seu primeiro ano de mandato, quando o Produto Interno Bruto (PIB) expandiu 2,7% - número considerado decepcionante à época. De lá para cá, a cada divulgação do PIB, surge uma nova frustração. No ano passado, o crescimento não passou de 0,9%. E, dado o ‘pibinho’ do primeiro trimestre de 2013 (avanço de 0,6%), as expectativas para o acumulado deste ano não são as mais animadoras.
(...)
 
O problema, que vem sendo apontado desde 2010, último ano do governo Lula, e negligenciado pelo governo Dilma, só ganhou importância no seio do Palácio do Planalto depois que uma emblemática escalada no preço do tomate devolveu a inflação ao repertório de assuntos das famílias, no primeiro trimestre deste ano.

“A inflação está trazendo desconforto para a população”, diz o ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola. “Esse é um flagelo que a sociedade brasileira não tolera mais.”
 Contudo, a subida de juros – remédio necessário para conter a inflação, mas impopular porque afeta diretamente o consumo – veio em momento tardio.

Conforme argumentou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em evento nesta semana, apenas a subida da Selic não será suficiente para deter o avanço do IPCA. “É preciso um ajuste fiscal”, disse FHC. Para o economista e ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman, o remédio tardio terá de vir em doses mais fortes - e nocivas politicamente. “A alta da Selic para 9,0% ou 9,25% até o final do ano não vai mexer na inflação. O governo não fez a lição de casa”, diz.
 
 
16 de junho de 2013
in aluizio amorim

DEPUTADO REVELA DOCUMENTOS QUE COLOCAM EM XEQUE A NACIONALIDADE DE NICOLÁS MADURO. SERIA COLOMBIANO?


 
Enquanto o governo de Nicolás Maduro procura desesperadamente algo que lhe confira a legitimidade presidencial que segue sendo contestada pela maioria da população venezuelana, surge mais uma denúncia que se for comprovada anula a eleição de 14 de abril deste ano: Maduro teria nascido na Colômbia.
 
Ao recurso apresentado à Suprema Corte da Venezuela pelo advogado Adolfo Márquez, questionando a nacionalidade de Nicolás Maduro, junta-se agora o deputado à Assembléia Nacional pelo Estado de Táchira, Abelardo Díaz, que vem fazendo uma minuciosa pesquisa que aponta, segundo documentos, que os pais de Nicolás Maduro são colombianos.
 
Facsímiles desses documentos encontrados pelo deputado Abelardo Díaz e as informações pertinentes, estão publicados no site de notícias ACN - Agencia Carabobeña de Noticias.
 
De acordo com a Constituição, só podem ser presidente da República e Comandante das Forças armadas os cidadãos nascidos na Venezuela.
Transcrevo no original em espanhol parte da reportagem da agência ACN com link ao final para leitura completa e acesso ao acervo de documentos.
 
Leiam:
 
Nicolás Maduro: colombiano?
EN ESPAÑOL - Según informó en su cuenta de la red social Twitter el diputado a la Asamblea Nacional por el estado Táchira, Abelardo Díaz, se está llevando a cabo una investigación sobre la nacionalidad del presidente Nicolás Maduro.
 
El diputado Díaz comentó que siempre ha sentido curiosidad del por qué el presidente Maduro ha ocultado su origen y cuando se le comenta al respecto evade el tema, así mismo dijo que se inició una investigación luego que el gobernador del estado Táchira, José Gregorio Vielma Mora diera unas declaraciones según las cuales Maduro nació en el estado Táchira y que luego de revisar quedó descartado que el presidente haya nacido en este estado.
 
Debido a que el día de hoy ha estado muy activo en Twitter el Hashtag #MaduroEsCucuteño tomó la determinación de compartir con toda la comunidad tuitera algunos detalles de la investigación sobre el origen del primer mandatario que se está llevando a cabo.
 
Tal como se puede apreciar en la imagen siguiente, la madre de Maduro nació en Cúcuta, Colombia el 01 de junio del año 1929, La cédula de ciudadanía colombiana de la señora Teresa de Jesús Moros Acevedo es 20.007.077 expedida el 9 de diciembre de 1956 en Bogotá DC Cundinamarca.
 
Igualmente, el diputado Abelardo Díaz compartió en su cuenta de twitter @abelardo_diaz copia del acta de nacimiento original de la señora Moros con la nota marginal del matrimonio efectuado en Bogotá con el señor Jesús Nicolás Maduro, padre del actual presidente venezolano.
 
Así mismo compartió parte del árbol genealógico de Nicolás Maduro Moros donde se aprecia que es nieto de Pablo Antonio Moros y Adelina Acevedo, bisnieto de Rafael Moros, Natividad Rodríguez, José María Acevedo y Simona Escalante, todos de nacionalidad colombiana.
 
La madre de Nicolás Maduro se casó en la parroquia “Nuestra Señora de Fátima” en la ciudad de Bogotá (Colombia) con Jesús Nicolás Maduro el 01 de septiembre de 1956.
 
Del papá del primer mandatario venezolano se conoció que su vida transcurrió en Colombia ya que estudió en Ocaña, vivió en Bogotá y Cúcuta, se casó en Bogotá y aparece cedulado venezolano en San Cristóbal aunque nunca vivió en esa ciudad ya que establecieron su domicilio en el Barrio Carora, cerca del sector Cerro Bolívar en la ciudad de Cúcuta, departamento Norte de Santander del vecino país.
 
La primogénita del matrimonio Maduro Moros, María Teresa de Jesús nació en Cúcuta (Colombia) el 21 de diciembre de 1.956 y posee cédula de identidad venezolana.
 
El diputado también compartió que la investigación no ha terminado y que hay cosas que aún no puede publicar pero hay algunas interrogantes, como son las siguientes:
 
Nicolás Maduro nace en 1962, dos de sus hermanas nacieron en 1960 y 1961, ellos tres y la madre aparecen cedulados venezolanos por la unidad móvil 52 en Caracas y causa extrañeza que tanto el actual presidente como sus hermanas tuvieran números de cédula consecutivos, María Adelaida V-5.892.462, Josefina V-5.892.463 y Nicolás con el 5.892.464 tal como se puede apreciar en las capturas de pantalla del sistema público del Consejo Nacional Electoral.
 
 
16 de junho de 2013
in aluizio amorim

SANATÓRIO (OU SANITÁRIO) DA "POLÍTICA" BRASILEIRA

Autoridade moral


“Amigos do futebol brasileiro, onde está o respeito e o fair play, por favor?”

Joseph Blatter, presidente da Fifa, desconcertado com a vaia endereçada a Dilma Rousseff por quase 70 mil torcedores, tentando convencer a multidão a tratar a chefe de governo com o respeito e o fair play exibidos pelo supercartola no esforço para esconder da polícia e da Justiça as trambicagens bilionárias dos parceiros João Havelange e Ricardo Teixeira.
 

Dia do Fico

“Para mim foi muito importante o apoio da presidente. Saí da conversa fortalecida”.

Luizianne Lins, ex-prefeita de Fortaleza, depois da audiência em Brasília em que Dilma Rousseff prometeu arranjar-lhe um empregão federal se desistir de trocar o PT pelo PSB, informando que nada consegue deixá-la tão fortalecida do que receber um bom salário sem precisar trabalhar.

Caso perdido

“As agências internacionais de avaliação de risco deveriam estar dando palpite na Espanha, França, Estados Unidos, e não no Brasil”.

Lula, na quermesse em louvor dos 10 anos de governo do PT, recomendando que as agências internaciais avaliem governos recuperáveis porque o poste que instalou no Planalto é um caso perdido.

Pai é isso

“Posso dizer olhando pra vocês como se estivesse olhando pros meus filhos: nenhum deles tem a competência da companheira Dilma Rousseff”.

Lula, nesta quinta-feira, na quermesse em louvor dos 10 anos de governo do PT, confessando que seus filhos são piores que a Mãe do PAC.

Partido dos Vigaristas do Brasil

“Uma parte da imprensa parece partido político. Seria melhor que lançasse candidato”.

Lula, durante a quermesse da companheirada, insinuando que gostaria de disputar um terceiro mandato com o apoio dos colunistas federais, dos blogueiros estatizados e dos jornalistas de aluguel.
 

Vivendo e aprendendo

“Há pouco tempo tentaram se aproveitar de fatores naturais transitórios para dizer que a inflação estava voltando e o governo perdera o controle das contas públicas. Isso é uma grande falsidade”.

Dilma Rousseff, na quermesse em louvor dos 10 anos de governo do PT, ensinando que, na novilíngua companheira, a expressão “fatores naturais transitórias” quer dizer “incompetência do governo federal” ou “besteirol do Guido Mantega”.

Confiança é tudo

“Não entendo a desconfiança da oposição e da imprensa com a economia brasileira”.

Lula, nesta quinta-feira, a quermesse em louvor dos 10 anos de governo do PT, com cara de quem anda depositando dinheiro em contas bancárias no exterior.
 

Bom candidato

“Para cumprir nossa missão, é fundamental, agora, travar uma ampla disputa de ideias na sociedade, para derrotar os profetas do caos, os porta-vozes do neoliberalismo, os agourentos do terrorismo econômico ─ esta barulhenta torcida do contra, cujo coro ortodoxo vocaliza tons numa escala que vai de um ex-presidente da República até uma desmoralizada agência de avaliação de risco e suas notas fajutas”.

Rui Falcão, presidente do PT, formalizando a candidatura ao título de Besta Quadrada da Década.

Truque de condenado

“Obama segue os passos de Bush?”

Título do artigo escrito por José Dirceu, decidido a tratar de assuntos que desconhece completamente para não ficar pensando em cadeia.

Lanterninha feliz

“Quem começa com 3% dá sorte no final”.

Alexandre Padilha, ministro da Saúde  e possível candidato do PT ao governo de São Paulo, sobre seu desempenho na pesquisa Datafolha, caprichando na pose de lanterninha feliz.

16 de junho de 2013
augusto nunes
sanatório geral

"ESTÁ TUDO ÓTIMO"


O texto abaixo é o resumo de uma crônica da americana Dorothy Parker publicada em coletânea organizada e traduzida por Ruy Castro no livro Big loira e outras histórias de Nova York, de 1987. Chama-se Você estava ótimo.

O rapaz de tez pálida acomodou-se lenta e cuidadosamente no sofá e reclinou a cabeça em direção a uma almofada fresca que lhe confortasse a face e a têmpora.

– Aiii – gemeu. – Ai, ai, ai. Aiii.

A jovem de olhos claros, sentada firme e ereta na poltrona, lançou-lhe um sorriso malicioso.
– Não está se sentindo bem hoje?

– Oh, estou ótimo, borbulhante, eu diria. Sabe a que horas eu me levantei? Às quatro da tarde, em ponto. Tentei me levantar antes, mas toda vez que punha a cabeça para fora do travesseiro ela rolava para debaixo da cama.

– Quer um drinque para se sentir melhor?

– Para afogar a ressaca em mais bebida? Não, obrigado, parei de beber, de vez, nem mais uma gota. Diga uma coisa: eu me comportei mal ontem à noite?

– Ontem? Ora, que nada. Todo mundo estava meio alto. Você estava ótimo.
– Alguém reclamou de mim?

– Deus do céu, claro que não. Todo mundo achou você terrivelmente engraçado. Claro, Jim Pierson ficou um pouco brabo com você durante o jantar. Mas conseguiram segurá-lo na cadeira e ele se acalmou.

– Jim queria me bater? O que foi que eu fiz?

– Ora, você não fez nada. Você estava ótimo. Mas sabe como Jim fica quando pensa que alguém está dando em cima de Elinor.

– Eu estava cantando Elinor? – disse ele.

– Claro que não – ela disse – Você estava só brincando. Ela o achou tremendamente divertido. Só parou de rir um pouco quando você despejou as lulas “en su tinta” pelo decote dela.
– E agora, o que vou fazer?

– Ora, ela vai ficar boa. Mande-lhe flores no hospital. Não se preocupe, não foi nada.

– Cometi mais alguma façanha fascinante no jantar?


– Você estava ótimo. Não seja tolo. Todo mundo estava louco por você. O maître ficou um pouco aborrecido porque você não conseguia parar de cantar, mas, no fundo, não se importou. Só disse que a polícia talvez fechasse de novo o restaurante por causa do barulho.

– Quer dizer que eu cantei. Deve ter sido formidável.

– Não se lembra? Uma música atrás da outra. Todo mundo ficou ouvindo. E adorou. Foi só quando você insistiu em cantar qualquer coisa sobre fuzileiros, que as pessoas começaram a fazer psiu, psiu e você insistia em cantá-la de novo. Foi uma maravilha. Tentamos fazer com que parasse e comesse um pouco, mas você nem queria saber.

– Por quê? Eu não estava comendo?

– Toda vez que o garçom vinha servi-lo você lhe devolvia o prato dizendo que ele era seu irmão postiço, trocado no berço da maternidade por uma quadrilha de ciganos e tudo o que você tinha pertencia a ele. O garçom ficou uma onça com você.

– Bem, o que aconteceu depois desse estrondoso sucesso com o garçom?

– Ah, pouca coisa. Você aparentemente discordou do estampado da gravata de um senhor de cabelos brancos, sentado do outro lado da sala, e foi lá lhe pedir satisfações. Mas conseguimos sair com você do restaurante antes que ele ficasse furioso.

– Ah, fomos embora, saí andando?

– Andando! Claro que sim! Você estava perfeitamente bem. Tanto que, quando você tropeçou no meio-fio e caiu sentado, ninguém se importou. Poderia ter acontecido com qualquer um.

A graça da crônica de Parker é a discrepância entre a versão e os fatos. Lembra a narrativa da presidente Dilma Rousseff sobre a situação da economia, que de resto não tem a menor graça.
Escola. Muito melhor a referência de Dilma aos Lusíadas que as metáforas futebolísticas de Lula. Ao menos se aprende algo.

16 de junho de 2013
DORA KRAMER, Estadão

TRÊS NOTAS DE CARLOS BRICKMANN


Quem paga a conta

 O Movimento Passe Livre foi criado no Fórum Social Mundial de Porto Alegre em 2005 ─ promovido, como de hábito, com dinheiro público. O endereço eletrônico do Movimento pertence a uma ONG chamada Alquimídia. Até a quinta-feira, o site da Alquimídia trazia os logotipos da Petrobras e do Ministério da Cultura.
O custo dos logos foi de pouco mais de R$ 750 mil.

Ah, Petrobras

 O país está mudando. Antes, o Governo só atrapalhava a vida dos cidadãos; agora, está atrapalhando também a vida do próprio Governo. A Procuradoria da Fazenda Nacional cancelou a certidão negativa de débitos da Petrobras, empresa controlada pelo Governo. Sem a certidão, a Petrobras não pode importar, nem exportar.

Os débitos cobrados estão sendo contestados na Justiça, mas mesmo assim a Petrobras foi atingida. E não pode sequer fazer o depósito em juízo, já que a dívida cobrada é de R$ 7,5 bilhões.

Resumo do caso: entre 1999 e 2002, a Petrobras não recolheu imposto de renda sobre o pagamento de plataformas petrolíferas móveis.
Foi autuada, contestou a autuação (considera indevida a cobrança), e desde 2003 a questão está na Justiça. E agora está em risco uma das maiores empresas do país. Mas nosso Governo é assim mesmo. Ele constrói, investe, anuncia, cobra, não paga, protesta e paralisa.
Não precisa de oposição.

Ah, Rio

 Dois dos principais candidatos ao Governo do Rio, no ano que vem, são o vice-governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) e o senador Lindbergh Farias (PT).

1 - O ministro Dias Toffoli, do Supremo, quebrou o sigilo bancário, fiscal e de Bolsa de Lindbergh Farias.Ele responde a inquérito sobre desvio de R$ 356,7 milhões no Fundo de Previdência dos Servidores Municipais de Nova Iguaçu.

2 - a Justiça suspendeu a licitação para o aluguel de dois jipões blindados, com tração nas quatro rodas, para uso de Pezão. Custo previsto: R$ 261.600 por ano. Pezão diz que precisa de carros com tração integral porque mora em área rural. Não é bem assim, informa Aziz Ahmed, de O Povo, do Rio: Pezão mora no Leblon, praia nobre. E sua casa de veraneio, em Piraí, fica no centro da cidade.

16 de junho de 2013
CARLOS BRICKMANN

OS MANIFESTANTES NUNCA PROTESTAM CONTRA O QUE É MUITO MAIS GRAVE


PASSADO

Avenida Rio Branco, Rio de Janeiro. Eu com bolas de gude esperando a cavalaria do Exército chegar para derrubar os cavalos. E apanhando de cassetete. Motivação: a volta da democracia, o fim das torturas e da ditadura. Ser contra era um risco REAL de vida. Havia um decreto (477) que expulsava estudantes de Universidades e impedia que retornassem pelos dez anos seguintes. O habeas corpus estava “suspenso”.

Havia uma Justiça Militar com leis próprias e que absolvia SEMPRE os militares e condenava SEMPRE os civis. Uma Lei de Segurança Nacional, que não definia o que seria isto; podia ser tudo! Advogados eram presos por defenderem opositores dos gorilas. As mulheres militantes, antes de serem torturadas, eram seviciadas. De preferência na frente de namorados, maridos ou filhos.

A censura impedia que jornalistas publicassem fotos ou filmagens. Quem desobedecia ─ como Vladimir Herzog ─ era achado enforcado em alguma cela do DOPS. Não havia uma orientação política, embora houvesse grupos de diversas tendências na luta e nas ruas. Com um só objetivo: TERMINAR COM A BARBÁRIE.

PRESENTE
  
Ontem no Brasil: o STF decidiu que o Congresso pode alterar o poder político no Brasil, criando partidos de primeira e de segunda. Assim a REDE de Marina Silva pode ATÉ ser criada, mas não terá direito a espaços na televisão ou ao Fundo Partidário. E o tempo de TV nas eleições ficará assim dividido: 72% para o PT e seus aliados e 28% para o resto dos partidos.
 
NINGUÉM PROTESTOU.
 
O governo forjou um projeto aceito pelos parlamentares na PEC 37: os promotores estão  proibidos de investigar qualquer denúncia que chegue ao Ministério Público! A investigação é da Polícia. (NOTA: mais de 80% dos crimes de corrupção no Brasil foram DESCOBERTOS pelo MP!).
 
NINGUÉM PROTESTOU.
 
Nesta semana o ministro Toffoli afirmou que o “julgamento” do mensalão ainda irá demorar mais 2 ANOS! (Vão aceitar embargos infringentes no STF. Ou seja, a última instância deixou de ser a última!)
 
NINGUÉM PROTESTOU.

Faz 203 dias que Rosemary No
ronha foi identificada como lobista. Era declaradamente amante de LULA, trocou mais de 200 mails com empresários informando expressamente que iria conseguir o “favor” solicitado. Conseguia. Algumas destas empresas são as mesmas para as quais LULA hoje trabalha como lobista!
 
NINGUÉM PROTESTOU.
 
A CEF uso o Bolsa Família (com o boato) para acusar a oposição de ter sido a responsável. Descoberta, alegou que foi um erro do assessor do sub-chefe do auxiliar de gerente do secretário do Ministro. Por aí. Ficou por isso mesmo.
 
NINGUÉM PROTESTOU.
 
A inflação VOLTOU (dos 365 itens que compõem o IGP, 250 tiveram aumento de mais de 10% no último ano. DADOS OFICIAIS do IBGE). O real derrete frente ao dólar. O consumo cai. O governo reserva 18 BILHÕES de reais para emprestar aos usuários do Minha Casa Minha Vida para que comprem TVS, cama, computador, etc. Com o NOSSO dinheiro.
 
NINGUÉM PROTESTOU.
 
Dilma perdoa 1 BILHÃO DE DÓLARES devidos ao Brasil por alguns países da África, recém visitados por LULA. Motivo: este “atraso” no pagamento do empréstimo brasileiro impedia que os novos patrões de LULA (OAS, Oderbrecht e Camargo Correia) assinassem novos contratos nestes países. Entre os perdoados COM O NOSSO DINHEIRO DE IMPOSTOS estão dois ditadores africanos. Um deles, genocida, é um dos homens mais ricos da África. E conhecido por manter o povo na miséria enquanto usufrui de jato particular para jogatinas em Mônaco.

NINGUÉM PROTESTOU.
 
O Movimento Passe Livre (PSTU, PSOL, membros do MST (????), o PCdo B (o mesmo que roubou muito no Ministério dos Esportes ─ e continua ROUBANDO!) e a Juventude do PT (!!) querem gratuidade total nas passagens. Recusam-se a conversar. O rombo é de R$ 600.000.000,00 para bancar o aumento menor. São Paulo para pelo 4° dia de manifestação. Rio de Janeiro idem.
Em Porto Alegre e Maceió, manifestações “PREVENTIVAS” (????) contra um aumento de passagens. NOTA: não houve aumento! Eles estão só avisando. E param as duas cidades.
 
Ontem no RJ ─ assim como nas 3 primeiras de SP ─ foram usados coquetéis Molotov. É difícil fazer! Se não for bem feito, explode quando se acende a bucha. Na mão de quem segura. Precisa impedir a saída do vapor, ter um pavio que resista ao menos 30 segundos e que EXPLODA quando o vidro se quebrar. (A gasolina espalha-se em até 3 metros de diâmetro ao redor). Alguém sabe bem montar estas coisas. Quem?
 
Os manifestantes abandonaram a ideia de revogar o aumento. Agora pretendem a GRATUIDADE. É para isso que existe o Movimento Passe Livre. A violência ─ sim, também é violência! ─ de impedir que TRABALHADORES voltem para casa em uma cidade já caótica não foi notada. E foi rebatida por quem deve nos proteger.

FUTURO.

Um país que NÃO PUNE poderosos corruptos (E CORRUPTORES), que instituiu a MENTIRA como argumento (o eterno “eu não sabia”!), que substituiu a meritocracia pela indicação a partir da carteirinha do Partido, que tem 39 (!!!!) ministérios, que não aceita opositores, que deseja um projeto de poder ilimitado, que quer CONTROLAR o Judiciário (como já controla o Legislativo!), que criou tantas estatais como a ditadura militar (e só emprega nestas os apadrinhados), SÓ PODE ter uma visão DISTORCIDA de valores. E de prioridades.
 
Qual a prioridade? Por que as manifestações que OBRIGARAM que o STF ao menos JULGASSE o mensalão teve em BH, 200 MANIFESTANTES? Estive lá NAS DUAS VEZES! A maioria esmagadora de pessoas acima dos 40, 50 anos! EM UM SÁBADO! E EM UM FERIADO!
 
Qual a prioridade? Se as manifestações de ontem em SP, RJ, POA e Maceió não fossem inibidas, o que ocorreria? Pacífica? E os molotovs no RJ? E os incêndios em lixeiras? E as invasões a 4 bancos no RJ, após destruírem as portas e fachadas? E as pichações em igrejas e monumentos? A depredação de pontos de ônibus e metro? Por que o uso de máscaras tapando o rosto? E qual seria o resultado PRÁTICO?
 
1 ─ Acusações aos governadores (QUE CONTROLAM AS PMS E não têm nada a ver com os AUMENTOS decretados pelos prefeitos) por NÃO AGIREM, deixar o caos se instalar, querer prejudicar prefeitos de oposição, etc.
 
2 ─ Conseguiriam que as reivindicações fossem atendidas? Imaginemos que SIM! Quem iria pagar a operação INUSITADA da gratuidade? O governo gera renda? NÃO! Arrecada de quem trabalha! Ou seja, VOCÊ pagaria esta gratuidade. Vitória!
 
Enquanto isso, os mensaleiros estariam livres, os juízes ameaçados pelos governantes, as Universidades Públicas caindo aos pedaços, a carteirinha do Partido valendo mais que o curriculum, as amantes sendo bancadas com sua grana, o Parlamento sem oposição, a mentira sendo repetida, etc.
 
E NINGUÉM IRIA PROTESTAR!!!!
 
Amanhã haverá manifestação em Belo Horizonte!

Vâmbora, galera! Vamos para as ruas. Sugiro que coloquemos fogo nas lixeiras da Savassi, que arrebentemos os shoppings, que coloquemos fogo nos ônibus (especialmente a Conexão Aeroporto que é muito caro!), que enchamos de porrada os caras que usem gravata (tem muitos ali ao lado do Fórum Lafayette), que depredemos tribunais e fóruns, que façamos estes movimentos a partir do meio-dia (sábado) na Afonso Pena, Amazonas, Contorno e o mais perto possível de hospitais! Sugiro ainda tacar fogo no McDonalds (TODOS no caminho) e em algumas bancas de jornais! Essencial também é riscar os carros (especialmente os mais novos!) com pregos.
 
Assim teríamos aprendido com as “manifestações” de São Paulo!
A exigência desta manifestação! Sei lá!

(Só não pode ser contra a corrupção, contra a censura à imprensa pretendida, contra o projeto que não permite a REDE de Marina Silva, contra as medidas de enfraquecimento do Ministério Público ou contra a CADEIA para os condenados pelo mensalão.

Neste caso, não iria aparecer NINGUÉM!).

16 de junho de 2013

REYNALDO ROCHA