"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 20 de agosto de 2011

UMA PÁGINA DA HISTÓRIA RECENTE

">

UMA CABEÇA DESPOVOADA DE IDÉIAS

CANDIDATURA À PRESIDÊNCIA: “Olha, eu acho que é para qualquer pessoa, brasileiro ou brasileira, é algo muito… Primeiro, honroso”. (…) “Eu acho, para qualquer pessoa, estou falando do meu lado, do pessoal que está tocando o governo Lula, é uma honra. (…) É uma honra, é uma honra, sem sombra de dúvidas”.

Por Augusto Nunes - Veja Online
Algumas lembram uma redação de aluno de curso primário. outras parecem extraídas do diário de uma normalista de antigamente. Há as que reproduzem pensamentos de botequim e as que não dizem coisa com coisa. Somadas, as frases que vivem internando Dilma Rousseff no Sanatório Geral, anotadas na ficha da paciente, informam que se trata de uma freguesa de carteirinha da ala das cabeças despovoadas de ideias. No conteúdo, todas as declarações são mais rasas que um livro de José Sarney. Na forma, são tão confusas quanto um discurso de improviso do maranhense imortal.

Enquanto pôde, Dilma fantasiou-se de mulher de poucas palavras e muita ação. Só episodicamente o deserto intelectual era traído por retumbantes cretinices. “Isso é a espetacularização do nada”, recitou, por exemplo, quando pilhada em flagrante fabricando na Casa Civil dossiês que transformavam Fernando Henrique e Ruth Cardoso em perigosos perdulários. Promovida a candidata à Presidência, procurou refugiar-se em frases tão refinadas quanto a etiqueta do cangaço.

Disfarces, camuflagens e truques foram implodidos neste domingo pela entrevista concedida ao jornalista Valdo Cruz, da Folha de S. Paulo. Reproduzidas sem correções nem retoques, as declarações de Dilma Rousseff escancaram o que existe na cabeça: nada. Nenhuma opinião original, nenhuma ideia consistente, nenhuma tirada criativa. Nada que abrande a desoladora aridez reiteradamente sublinhada pelas colisões entre o sujeito e o predicado, pela inimizade entre o começo e o fim e pelo sumiço do raciocínio lógico. Tentem entender o que a primeira-ministra tem a dizer sobre alguns tópicos:

CRISE ECONÔMICA: “Eu acho que quem defendia que o mercado solucionava tudo, o mercado provê, é capaz de legislar e garantir, está contra a corrente e contra a realidade”.

PÁTRIA E NAÇÃO: “As acusações são de que o governo é eleitoreiro, estatizante, intervencionista e nacionalista. Têm algumas que a gente aceita. Nacionalista a gente aceita. Esse país não pode ter vergonha mais de ser patriota. Eu não vi um americano ter vergonha de ser patriota, nunca vi um francês. Que história é essa de nacionalista ser xingamento?”

CRÍTICAS DE LULA À VALE: “O presidente ficou chocado com empresas que demitiram bastante na crise sem ter consideração pelos empregos do país. (…) Se a Petrobras quiser o lucro dela só, vai fazer uma coisa monotônica. (…) Acho interessante essa história, os empresários podem falar o que quiserem que é democrático, o presidente não pode dar uma opiniãozinha que é intervencionista. Isso, diríamos assim, não é justo.”

VIDA: “A vida é mais desafiadora do que qualquer outra coisa. E tem de dar valor a isso, viver”.

GOVERNO LULA: “O presidente Lula tem um governo que não é só economia. É o social, o nacional e o internacional”.

GERAÇÃO DILMA: “A minha geração foi contra a pobreza, a favor dos trabalhadores, a favor do desenvolvimento do país, da riqueza do Brasil . (…) Então, essa experiência no governo Lula já foi avassaladora”.

CANDIDATURA À PRESIDÊNCIA: “Olha, eu acho que é para qualquer pessoa, brasileiro ou brasileira, é algo muito… Primeiro, honroso”. (…) “Eu acho, para qualquer pessoa, estou falando do meu lado, do pessoal que está tocando o governo Lula, é uma honra. (…) É uma honra, é uma honra, sem sombra de dúvidas”.


Há mais, muito mais. A entrevistada conta, por exemplo, que na infância queria ser bailarina quando crescesse. Mas a amostra basta para confirmar que, no Brasil, o que está péssimo pode piorar — e muito. Uma Dilma Rousseff seria demais até para o país que sobreviveu a Lula.

A VERDADE SOBRE A SUJEIRA DO GOVERNO LULA, COMEÇA A APARECER

Petistas temem que “faxina” de Dilma carimbe gestão de Lula como ”corrupta”
Por Vera Rosa, no Estadão

A “faxina” no governo da presidente Dilma Rousseff, que já derrubou quatro ministros em dois meses e doze dias, causa extremo desconforto no PT. Dirigentes do partido, senadores, deputados e até ministros temem que, com a escalada de escândalos revelados nos últimos meses - especialmente nas pastas dos Transportes, do Turismo e da Agricultura -, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva acabe carimbado como corrupto. Todos os abatidos na Esplanada foram herdados de Lula.
Em conversas a portas fechadas, petistas criticam o estilo de Dilma, a “descoordenação” na seara política e o que chamam de “jeito duro” da presidente. Uma das frases mais ouvidas nessas rodas é: “Temos de defender o nosso projeto e o Lula.” Mesmo os que não pregam abertamente a volta de Lula na eleição de 2014 dizem que Dilma está comprando brigas em todas as frentes - do Congresso ao movimento sindical -, sem perceber que, com sua atitude, alimenta o “insaciável leão” do noticiário e incentiva o tiroteio entre aliados.
Na avaliação de petistas, o poderoso PMDB - que na quarta-feira perdeu o ministro da Agricultura, Wagner Rossi - não é confiável e acabará dando o troco a qualquer momento.
Dilma chamou ministros e dirigentes do PT para uma conversa no domingo à noite, no Alvorada. A presidente pediu o encontro para ouvir a avaliação de auxiliares sobre a crise na base.
Ela contou ali sobre a reunião com Lula na semana anterior, admitiu a necessidade de se reaproximar dos partidos que compõem a coligação e avisou que teria um tête-à-tête no dia seguinte com o vice-presidente Michel Temer e com os líderes do PMDB na Câmara e no Senado. Àquela altura, a situação de Rossi era considerada complicada, mas ainda não havia sido divulgada a notícia do uso do jatinho de uma empresa que tem negócios com o governo pelo então ministro, afilhado de Temer.
Com receio da reação de Dilma - conhecida pelo temperamento explosivo -, alguns ministros pontuaram, com todo o cuidado, os problemas de relacionamento no Congresso após as demissões e citaram o PMDB e o PR. As alianças para as eleições municipais de 2012 também entraram na conversa. Diante de Dilma, no entanto, ninguém rasgou o verbo e muito menos criticou o estilo adotado por ela.
Um ministro disse ao Estado, sob a condição de anonimato, que, não fosse a pesquisa CNI/Ibope recém saída do forno - o levantamento fora divulgado na quarta-feira, quatro dias antes da reunião no Alvorada -, a presidente acharia que tudo estava bem. Naquela pesquisa, a avaliação favorável do governo Dilma caiu 8 pontos em relação à sondagem anterior, de março, quando 56% dos entrevistados consideraram o governo Dilma “ótimo ou bom”. Agora foram 48%.
Embora Dilma tenha falado sobre a necessidade de curar feridas em sua base de sustentação no Congresso, em nenhum momento ela mostrou arrependimento na forma como tem agido. Segundo relatos, a presidente disse que precisou fazer uma reformulação no Ministério dos Transportes, administrado pelo PR, por causa de irregularidades descobertas no setor. Mas não seria sua intenção recorrer a uma “faxina geral” na Esplanada, sem motivos concretos.
Uma mudança de estratégia, no entanto, foi acertada no Alvorada. Dilma concordou que o governo precisa divulgar melhor os seus programas e criar uma agenda positiva para reagir à crise. Não foi só: ela também garantiu aos petistas que viajará mais e dará mais entrevistas aos veículos de comunicação do interior. (estadão)

SEREMOS ALGUM DIA JAPONESES?

O dinheiro e as barras de ouro estavam em cofres e carteiras de vítimas do tsunami no Japão. Em casas e empresas destruídas. Nas ruas, entre escombros e lixo. Ao todo, o equivalente a R$ 125 milhões. Dinheiro achado não tem dono. Certo? Para centenas ou milhares de japoneses que entregaram o que encontraram à polícia, a máxima de sua vida é outra: não fico com o que não é meu. E em quem eles confiaram? Na polícia, que localizou as pessoas em abrigos ou na casa de parentes e já conseguiu devolver 96% do dinheiro.

A reportagem foi do correspondente da TV Globo na Ásia, Roberto Kovalick. A história encantou. “Você viu o que os japoneses fizeram?” Natural a surpresa. Num país como o Brasil, onde a verba destinada às inundações na serra do Rio de Janeiro vai para o bolso de prefeitos, secretários e empresários, em vez de ajudar as vítimas que perderam tudo, esse exemplo de cidadania parece um conto de fadas. O que aconteceu em Teresópolis e Nova Friburgo não foi um mero e imoral desvio de dinheiro público. Foi covardia.

Político japonês não é santo. Mas digamos que, em alguns países, os valores da população são menos complacentes do que em nosso cordial patropi. E a impunidade não é regra. Em que instante a nossa malandragem deixa de ser folclórica e cultural e passa a ser crime de desonestidade? Por que a lei de tirar vantagem em tudo está incrustada na mente de tantos brasileiros? A tal ponto que os honestos passam a ser otários porque o mundo seria dos espertos?

A presidente Dilma Rousseff não parece fazer parte do time dos espertos. É o que tem atraído para ela um tsunami de simpatia popular. Você deve ter reparado. Ao discursar, Dilma não faz piada, não diz palavrão, nem comete analogias com o futebol. Ao contrário. Ela é a antítese do palanqueiro populista. Tem dificuldade em falar a linguagem do povão até quando coloca o chapéu das Margaridas, as trabalhadoras rurais. Promete “implantar, implementar, disponibilizar”.

Eles devolveram às vítimas do tsunami R$ 125 milhões. Precisamos – nós e a polícia – aprender a agir assim
Seu desconforto com o palco é evidente. Dilma lê. Não é bom para ela, porque os olhos baixam. A leitura torna o discurso mais frio e hesitante, porque há vírgulas. Ela tropeça nos travessões. Seu pensamento não flui. É pedir demais que ela se torne um dia uma oradora que arrebate multidões. Mas a ausência de carisma parece não importar ao brasileiro. O eleitor não aguenta mais a cambada que suga recursos de nossa Saúde, nossa Educação. Dilma parece um peixe fora do aquário de piranhas políticas. E por isso conquista.

“Quero reafirmar a importância concreta e simbólica do pacto que firmamos hoje. É o Brasil fazendo a faxina que tem que fazer, a faxina contra a miséria”, disse Dilma na sede do governo de São Paulo. Foi um discurso para calar quem tenta isolar a presidente. Ela quis mostrar que está acima das disputas palacianas e não está sozinha coisa nenhuma. O “pacto republicano” de Dilma é suprapartidário. As fotos do “flerte” com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso devem ter causado urticária ao PT. Onde está mesmo a “herança maldita”?

Leitores me pediram para encampar a campanha anticorrupção do gaúcho Pedro Simon. Esta coluna não precisa encampar nada. Simon disse: “A sociedade tem que liderar o movimento”. É patético o coro de “volta, Lula”, ensaiado pelos que comiam churrasco no Palácio da Alvorada e hoje se veem privados da picanha presidencial.

As redes sociais começam a se mobilizar. Cariocas marcaram para 20 de setembro um grande ato contra a corrupção, na Cinelândia, centro do Rio, onde 200 mil pediram em 1984 as Diretas Já. “Queremos evitar batuque, por isso não escolhemos a orla”, dizem os organizadores. Há a sensação de que o movimento precisa estar nas ruas para ganhar legitimidade.

Políticos incomodados tentam nos impingir o medo. Uma frente anticorrupção jogaria o país na anarquia ou na ditadura. Isso é conversa para brasileiro dormir. Um dia, todos precisaremos aprender que não se coloca no bolso, na bolsa, nas meias e nas cuecas um dinheiro que não nos pertence. É roubo.
Ruth de Aquino, colunista de Época

AMIGUINHOS DA ONÇA

Uma revanche de Ricardo Teixeira contra a Globo seria mais feia que briga de rua. E ninguém vai ser maluco de querer apartar briga de gângsteres. É um daqueles casos raros em que torcemos para que os dois lados percam.

Mas creio que está mais para bravata esta história de que o presidente da CBF ameaça divulgar gravações de diálogos comprometedores para o diretor da Globo Esportes, Marcelo Campos Pinto.

Segundo o jornalista Ricardo Feltrin, do UOL, há conversas gravadas que “revelariam como a Globo manipulou o horário de partidas de times e da seleção, para atender a seus próprios interesses”. E também demonstrariam a arrogância, prepotência e desprezo característicos do chefão global.

Essas gravações seriam usadas como retaliação pela recente reportagem do Jornal Nacional denunciando falcatruas do Teixeirão. Uma espécie de cala a boca senão eu grito.

Acontece que, no fundo, tanto a denúncia do JN quanto o conteúdo das tais conversas são mixarias perto do que está realmente por trás dessa relação promíscua entre CBF e Globo.

UOL, Folha e Lance bateram bumbo meses sobre o caso, mostrando as ações criminosas que os envolvem. Mas só quando a Record entrou na briga, a Globo se viu em um beco sem saída. E cachorro louco acuado...

Por enquanto, o mais provável é que Marcelo Campos Pinto seja fritado. Esse é o modus operandi da família. Basta lembrar como outro grande aliado da Velha Senhora, Fernando Collor de Mello, foi abandonado em praça pública. Ou como, de repente, após meses de silêncio, o movimento das Diretas Já surgiu na telinha da Globo.

Nunca vi gângsteres morrerem abraçados. Nem ratos afogados no porão. O instinto de sobrevivência fala mais alto nessas horas.

Marco Antonio Araujo

A CRISE DE 2011 É A MAIS GRAVE DE TODAS

Artigo / Luiz Felipe Lampreia
20/08/2011
Espaço Aberto

Após o desmoronamento da URSS, o capitalismo emergiu, vitorioso, de 50 anos de guerra fria e parecia destinado a reinar absoluto dali por diante. Era a mensagem do fim da História, do grande pensador Francis Fukuyama.

Passados 20 anos, a aposta revelou-se parcialmente falsa. O capitalismo prevaleceu e não existe, nem sequer como utopia, uma alternativa que tenha a mínima credibilidade.

Com a crise de 2008, que representou um golpe duro no setor financeiro, principalmente, começou uma fragilização do sistema político/econômico, o que, por sua vez, conduziu à crise atual. Hoje a relativa incapacidade dos líderes políticos ficou patente. Eles são obrigados a manter os olhos postos nas pesquisas e governar por elas. Sua habilidade é meramente tática, os gigantes de visão estratégica, como Franklin Delano Roosevelt, Konrad Adenauer, Charles de Gaulle ou Felipe González, pertencem ao passado.

O sistema de governança global foi confrontado com uma situação que pôs a nu a sua precariedade, seja pelo incrível espetáculo que foi o recente cabo de guerra do orçamento e da dívida no Congresso americano, seja na cabra-cega de Bruxelas para resolver os problemas das dívidas dos Estados-membros. Tudo o que parecia sólido - a ascensão triunfal dos Brics incluída - se tornou questionável.

A única aposta certa entre os países ricos, hoje, é a Alemanha, com seu alto nível de renda, sua produtividade incomparável, sua homogeneidade social e seus talentos inatos, que permitiram que após a derrota violenta e total de 1945 o país apresentasse nos dez anos seguintes o maior exemplo de recuperação e criação de valor da História das nações.

Mas não é indiscutível que a Alemanha continuará a ser a coluna mestra da Europa e o banqueiro de todos os países que não possuem suas virtudes ou sua disciplina. Hoje ela é primus inter pares na Europa e cada vez mais exerce o poder que daí decorre sem as cautelas e os temores do passado. É óbvio que a Alemanha tem enorme interesse no construção europeia, da qual é a maior beneficiária. Mas as opiniões dos eleitores alemães não obedecem a análises apenas racionais e isso poderá obrigar os políticos seguirem os veredictos das urnas ou das sondagens, indicando que a Alemanha não está mais disposta a cobrir todos os excessos e a resgatar os naufrágios de seus sócios irresponsáveis, que se embriagaram de dívidas e de más políticas públicas, como se a União Europeia fosse uma festa interminável para todos.

Os Estados Unidos vivem um de seus piores momentos. Barack Obama mostrou-se muito mais fraco como presidente do que a imensa expectativa que gerou como candidato. O Congresso transformou-se numa arena de enfrentamentos em que inexiste clima para atitudes construtivas e compromissos sobre medidas que interessam a toda a nação. É como se para destruir Obama e os democratas os republicanos radicais do Tea Party fossem até capazes de atear fogo à Casa Branca.

Na recente discussão, o sistema político americano revelou-se disfuncional. John Micklethwaite, editor da grande revista inglesa The Economist, descreveu os partidos americanos como "duas placas tectônicas ideológicas que se movem em direções opostas, aumentam a distância entre si e causam abalos sísmicos". As guerras malsucedidas do Iraque e do Afeganistão representam a terceira ocasião, com o Vietnã, em que todo o imenso poder militar americano não consegue emergir vitorioso, malgrado os enormes custos e todos os meios empregados.

Está hoje patente que os Estados Unidos estão deslizando na ladeira do poder, onde já foram absolutos, embora nada indique que deixarão de ser uma superpotência ou que vão desmoronar como o sistema comunista. Ainda assim, as credenciais americanas persistem. A maior economia mundial, três vezes superior à segunda colocada, Forças Armadas como nunca houve na História, os Estados Unidos são e serão, por longo tempo, uma superpotência. Mas não possuem mais a faculdade de ser, na famosa frase de Madeleine Albright, a "nação indispensável" que dava sempre o tom nas relações internacionais.

Na China, o país hoje mais bem posicionado para desafiar a supremacia de Washington, já existe um questionamento - ainda incipiente, mas claro - quanto à supremacia do Partido Comunista. Em que ponto as atuais contestações - em sua maioria, protestos locais de todo tipo - tomarão volume? Ninguém pode prever, só se sabe que tem havido aumentos de efetivos militares em diversas províncias chinesas, em claro sinal de nervosismo de Pequim. Por outro lado, com a desaceleração econômica, haverá dificuldades para seguir absorvendo rapidamente os grandes contingentes de excluídos que ainda estão no interior do território chinês. Crescer a 10% ao ano não pode ser um moto perpétuo. A médio prazo, é difícil que se mantenha a combinação virtuosa de fatores que permitiu a espetacular emergência da China nos últimos 30 anos.

Não sou daqueles que veem os quatro cavaleiros da Apocalipse nos cantos do céu assim que se instala uma crise. Todos os povos acima mencionados passaram por situações muito mais graves - anos de depressão econômica, guerras, sofrimentos e perdas indizíveis - e terminaram por se recuperar.

A crise de 2011 é a mais grave de todas as que ocorreram nas últimas décadas. Mas o mundo sairá dela. É da essência do capitalismo que essas convulsões ocorram - trata-se do processo de destruição criativa de que falava o grande economista austríaco Joseph Schumpeter. Os fatores produtivos combinados das principais economias do mundo, entre as quais, obviamente, está o Brasil, representam uma força imbatível e acabarão por prevalecer. Até que sobrevenha nova crise mais adiante...

PROFESSOR DA ESPM RIO, FOI MINISTRO DAS RELAÇÕES EXTERIORES NO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO

O MENSALÃO REAPARECE NO MINISTÉRIO DAS CIDADES

Ministério das Cidades oferece mensalão a deputados

Em ritmo de catadupa, surgiu uma novidade na catarata de lodo que jorra da Esplanada dos Ministérios.

Dessa vez, foi às manchetes a pasta das Cidades, chefiada por Mário Negromonte (foto), deputado federal do PP da Bahia.

Em guerra para retomar o controle da bancada de deputados federais do PP, o ministro Negromonte teria convertido o ministério em bunker partidário.

Na última quarta-feira (17), informa a revista Veja, um grupo de deputados levou à ministra Ideli Salvatti uma denúncia cabeluda.

Informou-se à coordenadora política de Dilma Rousseff que Negromonte estaria oferecendo mesada de R$ 30 mil mensais a deputados que o apoiarem.

A central de cooptação monmetária funcionaria numa sala anexa ao gabinete do ministro. Ali foram instalados quatro deputados legais a Negromonte.

São eles: João Pizzolatti, Nelson Meurer, José Otávio Germano e Luiz Fernando Faria. Juntos, operam para persuader colegas a se alinharem ao ministro.

Negromonte mede forças com o antecessor Marcio Fortes, que ocupou a pasta das Cidades na gestão Lula.

Há duas semanas, o grupo ligado ao ex-ministro Fortes logrou destituir da liderança do PP na Câmara o líder Nelson Meurer.

No lugar de Meurer, leal a Negromonte, foi acomodado o deputado Aguinaldo Ribeiro, afinado com Fortes. Daí toda a arenga reação do ministro.

Ouvido sobre a denúncia mensaleira levada à sala de Ideli por colegas de seu partido, Negromonte disse o seguinte:

“Sei que há boatos de que pessoas vieram aqui para fazer isso e aquilo, da mesma forma que o pessoal estava dizendo que o Márcio Fortes foi lá na liderança fazer promessa, comprometer-se na tentativa de arranjar assinatura. Não me cabe ficar comentando boato”.

Procurado Márcio Fortes saiu-se com um comentário lacônico: “No dia 31 de dezembro, deixei o cargo de ministro e me afastei das atividades partidárias”.

O Ministério das Relações Institucionais, a pasta chefiada por Ideli, confirma ter recebido as denúncias de deputados do PP.

Diz-se que a batalha interna da legenda está sob monitoramento do Planalto. O diz-que-diz foi repassado a Dilma Rousseff.

No epicentro do novo quase-escândalo, o PP é o terceiro maior partido do condomínio governista. Soma 41 votos na Câmara e cinco no Senado.

Ideli e, sobretudo, Dilma Rousseff talvez devessem fazer algo mais além de apenas monitorar.

Ela Fiuza/ABr

A MAIOR CATÁSTROFE DOS NOSSOS TEMPOS

href="">

A Assombrosa Magnitude de Destruição de um Meltdown Nuclear
de Helen Caldicott http://www.helencaldicott.com/

Relatório Rasmussen de outubro de 1975, WASH-1400, atualizado pelo Sindicato de Cientistas Preocupados

O relatório afirma que no “pior cenário possível” - o derretimento do núcleo do reator nuclear - (onde se presumem 10 milhões de pessoas em risco), 3.300 pessoas morreriam de severas lesões por radiação em um prazo de vários dias; 10.000 a 100.000 pessoas desenvolveriam doença aguda da radiação em 2 a 6 semanas desde a exposição inicial.

45.000 desenvolveriam aguda insuficiência respiratória (falta de ar) dos intensos gases radioativos agindo sobre os pulmões; 240.000 outras desenvolveriam hipotireoidismo agudo com sintomas de perda de peso, lassidão, intensa suscetibilidade ao frio, perda de apetite, funções mentais lentas e prejudicadas, constipação, ausência de menstruação. 350.000 homens tornar-se-iam temporariamente estéreis devido à radiação gama sobre os espermatozóides, e de 40.000 a 200.000 mulheres cessariam de menstruar, muitas permanentemente.

Na população fetal, mais de 100.000 nenês se tornariam cretinos (deficiência mental) com retardo mental pela destruição das glândulas tireóide, 1.500 outros desenvolveriam microcefalia (cérebro pequeno), porque o desenvolvimento do cérebro é altamente suscetível aos efeitos deletérios da radiação. Haveriam 3.000 mortes in utero com abortamentos espontâneos. Cinco a sessenta anos mais tarde um câncer se desenvolveria em vários órgãos do corpo de 270.000 pessoas e haveriam 28.800 casos de câncer de tireóide.


Emissores Internos de Radiação – Invisíveis, Insípidos, Inodoros

Postado em 14 de julho de 2011 por Helen Caldicott (médica e ativista anti-nuclear e Prêmio Nobel da Paz em 1985 entre outros)

Grandes quantidades de elementos radioativos, mais do que alguém seja capaz de medir, têm sido continuamente liberadas no ar e na água desde os múltiplos meltdowns no Complexo Nuclear de Daiichi Fukushima desde 11 de março de 2011.

O acidente é enorme nas suas implicações médicas. Ele induzirá uma epidemias de casos de câncer como o mundo raramente teve experimentado, pelas pessoas inalarem elementos radioativos, comer vegetais radioativos, arroz, carne, leite e chás. A radiação da contaminação dos oceanos bio-acumula-se verticalmente na cadeia alimentar. Peixes radioativos serão apanhados a milhares de quilômetros das praias japonesas. Quando forem consumidos eles continuarão o ciclo de contaminação, provendo que não importa onde você esteja, todos os acidentes nucleares sejam locais.

Em 1986, um único meltdown em Chernobyl cobriu 40% das terras da Europa com elementos radioativos. Até agora, de acordo com um relatório de 2010 publicado na Academia de Ciências de Nova Iorque, quase 1.000.000 de pessoas morreram em resultado desta catástrofe, embora isto tenha sido apenas a ponta do iceberg.

Há confusão e mal-entendidos na mídia, e entre políticos e o público em geral acerca de acidentes nucleares, particularmente no acidente de Fukushima e suas implicações médicas. Será útil explicar como a radiação induz à doença e que tipo de material radioativo está contido em uma usina nuclear.

FATO NÚMERO 1

De acordo com cada versão do estudo BIER feito pela Academia Nacional de Ciências, até, e incluindo o estudo mais recente de 2007 – Os Efeitos Biológicos da Radiação Ionizante n. VII (Bier VII), nenhuma dose de radiação é segura. Toda dose recebida pelo corpo é cumulativa e acrescenta-se aos riscos de se desenvolver malignidades ou doenças genéticas.

FATO NÚMERO 2

As crianças são dez a vinte vezes mais vulneráveis aos efeitos carcinogênicos da radiação do que os adultos. Os fetos são milhares de vezes mais predispostos. Pacientes imuno-comprometidos e idosos são também altamente suscetíveis.

FATO NÚMERO 3

A radiação ionizante de elementos radioativos emitidos de máquinas de Rx e tomografias, lesiona as células vivas. Isto pode resultar em câncer.

Como? Falando simplesmente há um gen em cada célula chamado de gen regulador. Ele controla a taxa de divisão celular. Se esta seqüência específica de DNA for atingida por radiação a célula ou será morta, ou o gen regulador poderá ser bioquimicamente alterado. Isto se chama mutação. É impossível saber se este dano ocorrerá em seu corpo. A célula ficará silenciosa por muitos anos, até que um dia ao invés de se dividir controladamente, começará a se reproduzir fora de controle produzindo trilhões de células. Isto é o câncer. Uma única mutação em você poderá matá-lo. Este processo é mais acelerado em crianças.

FATO NÚMERO 4 – O período de latência da carcinogênese

O tempo de incubação para a leucemia é de 5 a 10 anos, mas para tumores sólidos (tais como câncer de mama, pulmão, tireóide, ossos, rim e cérebro) o período vai de 15 a 70 anos. Todos tipos de câncer podem ser induzidos por radiação.

FATO NÚMERO 5

As células reprodutivas do corpo, os óvulos e os espermatozóides são até mais importantes geneticamente do que as células do corpo. Cada óvulo e espermatozóide tem somente a metade dos gens de modo que eles ao se unirem produzem novas células normais, as quais se transformam em um embrião, depois um feto, e por fim um bebê totalmente formado. Cada gen em um óvulo ou espermatozóide é precioso porque estes gens controlam as características do novo indivíduo. Portanto, se gens normais são alterados por radiação o novo bebê poderá nascer com uma doença genética, ou portará gens anormais para doenças como doença fibrocística e diabetes, ou erros inatos do metabolismo, que serão passados às gerações futuras. Há mais de 2.600 doenças genéticas hoje descritas na literatura médica.

Nós todos portamos centenas de gens para doenças genéticas, mas a menos que nós cruzemos com alguém portador do mesmo gen (tal como a fibrose cística) a doença não se manifestará. Estes gens anormais foram formados há eons pela radiação de fundo (cósmica) do ambiente.

Na medida em que aumentamos a radiação de fundo no nosso ambiente a partir de procedimentos médicos, máquinas de Rx scaners em aeroportos, ou materiais radioativos continuamente escapando de reatores nucleares e de depósitos de restos nucleares, nós inevitavelmente aumentaremos a incidência de câncer assim com a incidência de doenças genéticas para as futuras gerações. Gens mutantes ou anormais são passados de geração para geração de forma perpétua.

FATO NÚMERO 6 – Há basicamente 5 tipos de radiação ionizante

1. Rx (usualmente gerados eletricamente), os quais não são partículas, e somente afetam você instantaneamente quando elas passam pelo seu corpo. Você não se torna radioativo, mas seus gens podem ser mutados.

2. Raios gama, parecidos com os Rx, emitidos por materiais radioativos gerados em reatores nucleares e de algumas fontes que ocorrem naturalmente de elementos radioativos do solo.

3. Radiação alfa, a qual é uma partícula, e composta de 2 prótons e 2 neutrons, emitidas de átomos de urânio e de fontes perigosas geradas em reatores (como o plutônio, amerício, cúrio, einstênio etc), todos conhecidos como emissores alfa. Partículas alga viajam a curtas distâncias no corpo humano. Elas não podem nem penetrar nas camadas da pele morta na epiderme para danificar células epiteliais vivas. Mas, se esses elementos radioativos alcançarem os pulmões ou o fígado, ossos ou outros órgãos, eles transferirão uma grande dose de radiação por um tempo muito longo a um pequeno número de células. A maioria dessas células morrerá, mas algumas no limite da margem radioativa, sobreviverão. Seus gens serão mutados, e o câncer poderá se desenvolver mais tarde. Emissores alfa estão entre os materiais carcinogênicos mais conhecidos da medicina.

4. A radiação beta, como a partícula alfa, é um eletron carregado de
elementos radioativos tais como o estrôncio 90, o césio 137, o Iodo 131, etc. A radiação beta tem massa desprezível e viaja mais além do que a partícula alfa. Também produz mutações.

5. A radiação de nêutrons é liberada nos processo de fissão em um reator ou em uma bomba. O reator 1 em Fukushima ainda periodicamente emite radiação de nêutrons quando as seções do núcleo derretido torna-se intermitentemente crítico. Nêutrons são partículas grandes que viajam muitos quilômetros, e passam por tudo, inclusive concreto, aço, etc. Não há como se esconder deles , e eles são altamente mutagênicos.

Assim, deixem-me descrever apenas quatro dos elementos radioativos que continuamente estão sendo liberados no ar e na água de Fukushima. Lembrem, entretanto, que há mais de 100 elementos, cada qual com sua característica e rotas no corpo humano. Todos são invisíveis, sem gosto e cheiro.

Césio 137 é um emissor beta com meia-vida de 30 anos. Isto significa que em cada 30 anos somente a metade de sua energia radioativa decai e leva outros 30 anos para decair a metade. Assim ele é detectável como um risco radioativo até por 600 anos. Para os primeiros 300 anos (o padrão 10 vezes a meia-vida) os níveis permanecem preocupantes, mas para os 300 anos subseqüentes a radiação ainda é detectável. Com não há dose segura, estes níveis ainda são perigosos. Quando ele atinge o solo ele se bio-acumula na grama, frutas e vegetais acima muitas vezes dos níveis de fundo. Ele então se bio-acumula de 10 a milhares de vezes mais na carne, no leite, quando os animais comem as frutas e a grama. Ele se concentra mais ainda no corpo, o topo da cadeia alimentar. O césio 137 é muito preocupante no corpo de crianças, e mais ainda no feto que está acima de todos na cadeia alimentar. Por se parecer com o potássio, o qual está presente em todas as células humanas, ele tende a se concentrar mais intensamente no cérebro, músculos, ovários e testículos. Ele pode causar câncer de cérebro, músculos (rabdomiosarcoma), nos ovários e testículos e, mais importantemente, mutar gens nós óvulos e espermatozóides causando doenças nas próximas gerações.

Estrôncio 90 é um beta-emissor, com meia-vida de 28 anos, radioativo por 600 anos. Como um análogo dos ossos, ele é conhecido como procurador de ossos. Ele se concentra na cadeia alimentar, especificamente no leite (incluindo leite materno), e se deposita nos ossos e dentes do corpo humano onde ele pode irradiar uma célula formadora de ossos (osteoblastos), causando câncer ósseo; ou mutar-se nas células sangüíneas brancas produzindo leucemia.

O Iodo 131 radioativo é um emissor-beta com uma meia-vida de 8 dias. Assim ele é perigoso por 20 semanas. Ele se bio-acumula na cadeia alimentar, nos vegetais e leite, e especificamente se concentra na tireóide humana induzindo doenças da glândula ou câncer de tireóide.

Plutônio, um dos mais mortais elementos, é um emissor alfa. Tão tóxico que um milionésimo de grama induzirá câncer se inalado para o pulmão. Ele é transportado do pulmão para aos leucócitos. Então se deposita nos gânglios linfáticos onde produz o tumor de Hodgkin ou outros linfomas. Por conta de ser parecido com o ferro e combinar com ele, o plutônio se concentra no fígado onde causará câncer; na medula óssea e nas moléculas de hemoglobina, causa de câncer ósseo, leucemia, e mieloma múltiplo. Ele se concentra nos testículos e ovários. Ele é um dos poucos tóxicos que pode ultrapassar a barreira placentária que protege o embrião. Uma vez alojado dentro do embrião, a partícula alfa matará as células embriogênicas causando malformações, como a talidomida de alguns anos atrás.

A meia-vida do plutônio é 24.000 anos, assim ele causará danos por 500.000 anos; induzindo câncer, deformidades congênitas e doenças genéticas para todo o sempre, incluindo todas as formas vivas da natureza.

O plutônio é também combustível para armas atômicas. Três a oito kilogramas são capazes de pulverizar uma cidade. Cada reator faz 225 kilos por ano. Se diz que 350g, se adequadamente distribuída, poderia matar cada pessoa no planeta de câncer.

FATO NÚMERO 7

Em resumo, a contaminação radioativa e a chuva de partículas provenientes de reatores com defeitos terão ramificações médicas que nunca cessarão. Ela afetará as futuras gerações, e em termos humanos, para sempre.

Este é um momento pivot na história humana. Nós observamos a radiação cobrir todo o Japão, um país com 4 reatores danificados. Esse é o maior acidente da indústria da história, enfrentando um futuro incerto de terríveis efeitos sobre a saúde, e catastrófico para o ambiente. Nós observamos desesperançados como a chuva radioativa japonesa se transporta para o hemisfério norte, contaminado a nossa água, o nosso leite. Nós estamos vendo, e entendendo, que toda chuva radioativa é local.

-------------------------------

tradução de Charles London

BRIZOLA, LACERDA E A GELÉIA DA DILMA

Gaúcho de sangue quente e língua sem travas, Leonel de Moura Brizola, ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, faz falta na atual conjuntura brasileira pelo menos por um motivo. Ele era um mestre do fraseado e comparações críticas: armas ferinas, arrasadoras politicamente, às vezes capazes de produzir reflexões em momentos críticos e de baita confusão e tempo de geleia geral como este que o País experimenta em relação aos políticos e ao governo Dilma Rousseff, apenas oito meses depois de seu início.

Nessa arte, arma fundamental das oposições - qualquer oposição - o trabalhista Brizola era praticamente imbatível. Comparável em seu tempo apenas ao udenista Carlos Lacerda, também um demolidor nesse terreno movediço no qual o combatente caminha sempre na ponta da faca que separa a glória de uma frase de mestre e o ridículo de mero falastrão.

Tenho imaginado nestes últimos dias, o que diriam se vivos estivessem, esses autênticos gigantes do fraseado nacional, a propósito de pelo menos duas questões atuais nesta quadra confusa e complicada da política e da administração do País.

Dilma Rousseff, por exemplo, só está no poder desde janeiro deste ano, mas nos partidos governistas e de oposição praticamente não se pensa nem se fala de outra coisa além da sucessão presidencial em 2014.

Até mesmo um dos partidos da chamada "base de apoio do governo", o PR, finge entrega de cargos e recusa de favores oficiais, ao anunciar esta semana que está abandonando o atual barco do poder - os desafios da navegação mal começaram -, para dedicar-se livremente ao jogo de barganhas e busca de mais vantagens com especulações no mercado futuro em relação ao governo que vem.

O que pensaria Brizola diante da indicação pelo PMDB do novo ministro da Agricultura (um conterrâneo para substituir o paulista antigo que sai sob saraivada de denúncias de corrupção em sua pasta e desvios éticos de comportamento pessoal). Mas que em suas primeiras declarações públicas após a indicação faz questão de deixar claro, além dos apadrinhamentos, que mal conhece a diferença entre um limão e um alface?
Talvez o político gaúcho repetisse: "Essa reforma ministerial é um balaio de caranguejos. Uns caranguejos entrando, outros saindo." E o que diria Lacerda sobre o deputado federal Mendes Ribeiro (PMDB-RS) - figura aparentemente saída direto do poema "O Gaúcho", do genial Ascenso Ferreira -, para o Ministério da Agricultura do Brasil, que ele assume na segunda-feira? Responda quem souber e conhecer melhor o pensamento do falecido udenista carioca.

Os tucanos, atualmente, a começar pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, tentam ocupar o espaço vazio de herdeiros de uma das melhores tradições da política brasileira, que tem entre seus patronos a figura do baiano Octávio Mangabeira, autor de frases e pensamentos políticos antológicos. O mais imortal deles: "Pense em um absurdo, o maior de todos, e na Bahia tem precedente". Vale agora também para o País.

Olhando e comparando bem, é fácil constatar: FHC, bom frasista, e seus companheiros tucanos (ou aliados do DEM, herdeiros de Carlos Lacerda) se utilizam bastante desta preciosa arma de combate oposicionista, mas são fichinhas diante de gigantes do gênero no passado recente. Saudosismos à parte e a bem da verdade factual, todos eles juntos perdem feio para Lula (o "sapo barbudo" na histórica comparação de Brizola).

No particular, apesar da fama de língua presa, o ex-presidente da República e do PT demonstra claramente sua preferência pelo fraseado inspirado na escola ex-governador gaúcho. Quando vivo, nos famosos bafafás com Luiz Inácio e seus companheiros, Brizola alfinetava: "O PT é a UDN de tamanco e macacão".

Antes do ponto final nestas linhas, breve pausa para recordar experiência pessoal e profissional marcante: um dia que entrou madrugada adentro, nos anos 70, então repórter do Jornal do Brasil na sucursal da Bahia, de passagem pelo Uruguai, fui parar na estância de Brizola no povoado de Carmen, província de Durazno.

Isso pouco antes dele ser expulso do exílio uruguaio e buscar abrigo em New York, no governo do democrata Jimmy Carter.

A longa conversa (possível graças à interferência do bravo e incorruptível coronel Dagoberto Rodrigues, chefe dos Correios e Telégrafos no governo Jango, e do jornalista e querido amigo Paulo Cavalcante Valente, ambos no exílio em Montevidéu), se deu quando já rondava a Operação Condor que uniu chefes de ditaduras em vários países da América Latina para eliminar adversários como Allende, Jango e o próprio Brizola.

Foi uma aula de história do continente e da arte da prosa política. Guardei na memória algumas pérolas do rico fraseado, outras se esfumaçaram infelizmente, pois o autor não permitiu anotá-las.

Não esqueço da última, na despedida: "Baiano, tu vais ver: Portugal se livrará em menos de 30 anos das marcas de meio século do regime de Salazar. O Brasil levará mais de 50 para livrar-se do entulho deixado pela ditadura de 64."

Pelo visto nestes dias de agosto de 2011, quem duvida?

Vitor Hugo Soares é jornalista.

A FAXINA ANTI-CORRUPÇÃO



A Dra. Dilma e sua faxina anti-corrupção: será que já temos elementos para fazer um balanço?

A “faxina” anti-corrupção empreendida por Dilma Rousseff parece estar sendo compreendida e bem aceita pela sociedade. Não é ela o que explica os bons índices de aprovação da presidente, mas com certeza os reforça em alguma medida.

Como não poderia deixar de ser, muita gente permanece cética. Há quem veja as ações da presidente como encenação, e até como uma varredura destinada tão-somente a desalojar corruptos ligados a outros grupos para poder encaixar “os dela”. Outra reação perceptível a olho nu é a de que ela teria partido para cima de bagrinhos, deixando intocados os peixes grandes: leia-se, os indicados pelo PT e pelo PMDB. E há ainda o grupo dos resignados: aqueles para quem a corrupção nos ministérios se deve exclusiva e diretamente à montagem da base de apoio ao Executivo no Congresso; dado que a nossa estrutura de governo combina o presidencialismo com um sistema de partidos fragmentado até a beira do delírio, o problema não tem solução.

Há elementos valiosos em todas essas interpretações, mas neste texto eu gostaria de refletir sobre um ponto também importante e que até agora parece não ter sido abordado pela imprensa.

Salvo melhor juízo, as ações anti-corrupção da presidente vêm sendo encetadas de maneira reativa, e não com base numa visão mais estruturada e consistente do fenômeno da corrupção. Falta-lhes, se assim o posso dizer, uma base teórica e, por conseguinte, um mapa de suas implicações estratégicas.

Vou recorrer um pouco à caricatura, mas com todo respeito, apenas com o objetivo de facilitar a exposição. O diagnóstico subjacente às mencionadas ações parece ser o de que a corrupção se desenvolve em “focos” fisicamente delimitáveis, situados em um segmento específico da “população política”. Lembra – e não por acaso – uma antiga metáfora da corrupção como “gangrena”. Uma vez constatado o comprometimento de um órgão ou trecho de tecido, o que se há de fazer é evidentemente extirpar a área necrosada. Alguma coisa se perde, mas a corrupção não volta.

O entendimento da corrupção expresso nessa imagem não é raro na consciência popular. Muitos cidadãos representam os corruptos como uma parcela finita e palpável da população total.

O problema com essa metáfora são certas implicações perturbadoras que geralmente a acompanham. Os cidadãos a que venho de me referir freqüentemente se perguntam por que afinal o governo, a polícia ou quem de direito não prende e elimina de uma vez aquela sub-população, ou seja, aquela parte necrosada do corpo social. Não atinando com uma explicação satisfatória, eles ao final concluem que tais autoridades são molengas ou têm o rabo preso com os corruptos. E daí extraem mais uma conseqüência: se assim é, só quem pode resolver isso é o messias: um ditador enérgico, que lhes desça pura e simplesmente o cacete. Cumprida essa etapa, só restarão cidadãos honestos, haverá justiça e a sociedade poderá viver tranqüila para todo o sempre.

Fantasia para ninguém botar defeito, quanto a isso não há dúvida. Para o bem ou para o mal, as sociedades e governos não se parecem com a imagem acima.

Voltemos ao começo: ao momento em que um episódio de corrupção vem a público. A revista X informa que há corruptos deitando e rolando no ministério Y. Nesse momento, sim, a corrupção assume a aparência de um pedaço gangrenado de tecido; não há nada a fazer senão extirpá-la.

No entanto, a mesma gangrena estará aparecendo em muitos outros pontos, que ademais se interligam e se alimentam mutuamente. Como?! Existe então uma conspiração de corruptos? Alguma conspiração sempre há, sem dúvida, mas veja, caro leitor e cara leitora, o meu argumento não pára aí. É bem mais amplo. O a ele importa é que a corrupção vai aonde tudo vai; vai junto com o sangue, percorre todo o organismo, pode brotar em qualquer parte dele, e assoma quando menos se espera, onde quer que haja atividades relevantes e boas oportunidades de ganho. Trata-se de um processo sistêmico, para dizê-lo no jargão das ciências sociais.

E nós, diante disso, fazemos o quê? Vamos nos queixar ao bispo? Engolimos todos os sapos disponíveis na praça? Ao leitor que me pergunta isso, eu respondo: não exatamente. Digo-lhe que há três momentos a considerar.

No primeiro – e aqui Dilma tem razão-, só uma coisa importa: mostrar aos corruptos onde fica a porta da rua. Se necessário com estardalhaço, para dissuadir outros que estejam com a boca a pequena distância da botija. Tudo isso com cuidado – aqui me refiro à presidente – para que o sucesso momentâneo não lhe suba à cabeça.

No segundo momento, livre-se daquela ilusão que vimos ser tão comum: a de “extirpar” a corrupção em definitivo. Convença-se de que a corrupção pode ser reduzida e controlada, mas não liquidada de uma vez por todas. Certifique-se, portanto, de ter varrido de seu cérebro todo e qualquer fragmento da teoria da gangrena que porventura tenha nele se introduzido.

A corrupção reduzida e controlada – como? Este é o terceiro momento, o mais importante. Compenetrem-se, caros leitores e leitoras, de que o combate à corrupção – como qualquer outro aprimoramento que almejemos ver no Estado – só se consolidará no médio e no longo prazo se soubermos construir instituições eficazes, bem concebidas, com potencial de granjear o apoio de uma parcela substancial da sociedade para suas ações.

Poucos semanas atrás (11.07) o economista Edmar Bacha publicou em O Globo um artigo intitulado “Deputados versus Delegados”, que me pareceu seguir uma linha de raciocínio semelhante a esta que estou tentando expor. Segundo ele, a faxina no Ministério dos Transportes pode e deve ser um ponto de partida, mas com certeza não será o ponto de chegada. Comparando o IBGE de um quarto de século atrás com o Dnit de hoje, Bacha escreveu o seguinte:

“Lá atrás, só estava em jogo o prestígio dos políticos em fazer nomeações que podiam se contrapor ao princípio da eficiência na administração pública. Agora, ademais, há as gordas comissões das empreiteiras no meio do caminho. Não basta, pois, profissionalizar a administração superior do Dnit e assegurar que seus representantes nos Estados sejam funcionários de carreira [a exemplo do que foi feito no IBGE]. Isso ajuda, é claro. Mas a redemocratização do país continuará capenga se também não forem implantados novos mecanismos de licitação e de administração de obras, mais eficientes e menos sujeitos à corrupção do que os atuais”.

Aí está: “novos mecanismos de licitação e de administração de obras”. Essa sugestão ilustra bem o que lá em cima eu designei como construção de instituições. Concordo em gênero, número e grau com o citado economista.
Bolívar Lamounier

CASSADO O PREFEITO DE CAMPINAS

Câmara Municipal de Campinas cassa o mandato do prefeito, amigão da doença chamada Lula




A Câmara Municipal de Campinas cassou o mandato do prefeito Hélio de Oliveira Santos, o Dr. Hélio (PDT), no final da madrugada deste sábado, 20, após mais de 44 horas ininterruptas de julgamento. Dr. Hélio foi cassado por 32 votos a 1 – o único voto contrário foi do vereador Sérgio Benassi (PCdoB).

O julgamento começou às 9h da manhã da quinta-feira, 18. Às 10h foi iniciada a leitura do processo, que tinha mais de mil páginas. Até pouco depois da meia noite deste sábado, os vereadores se revezaram na leitura do processo.

Até pouco depois da 1h, foi feita a leitura do relatório final, recomendando a cassação do prefeito. Entre 1h22 e 4h55, os vereadores revezaram-se na tribuna, para justificar seus votos. Depois, a Mesa concedeu 15 minutos para que o prefeito ou seu representante fizesse sua defesa. De acordo com o regimento, ele teria direito a duas horas para se defender.

Passado esse período, os vereadores votaram o pedido de impeachment do prefeito. A votação da primeira acusação aconteceu às 5h20, e isso já bastaria para cassar o mandato do prefeito. Cinco minutos depois, também pelo placar de 32 a 1, o prefeito era condenado pelas outras duas acusações.

O relatório final da Comissão Processante apresentado na terça-feira, 16, apontava as seguintes acusações contra o Dr. Hélio: omissão do prefeito em relação às infrações político-administrativas e atos de corrupção praticados por integrantes do primeiro escalão da administração na Sanasa, irresponsabilidade legal e política de Santos na defesa de bens no caso de parcelamento de solo e comportamento incompatível com a dignidade e decoro de seu cargo ao ignorar tráfico de influência na liberação de alvarás para instalação de antenas de celulares. A defesa do Dr. Hélio deve levar o caso à Justiça.

Com a queda do Dr. Hélio, quem assume é o vice-prefeito, Demétrio Vilagra (PT), acusado de ter recebido propina de empresários investigados pelo Ministério Público. Vilagra chegou a ser preso. O petista nega as acusações feitas contra ele.

Em entrevista ao Estadão, o vereador Artur Orsi, autor do pedido de impeachment contra o Dr. Hélio na Câmara Municipal, afirmou que a tendência é que o mesmo pedido seja feito contra Vilagra. “Você tem uma série de denúncias diretas contra ele”, afirma o vereador. O líder do PT na Câmara, Angelo Barreto, respondeu ao tucano e acusou o PSDB de tentar antecipar as eleições de 2012. Estadão Online

MINISTÉRIO DAS CIDADES OFERECE MESADA EM TROCA E APOIO

ROUBALHEIRA NO GOVERNO DO PT



Mário Negromonte: Em guerra para retomar o controle do PP, o ministro das Cidades ofereceu pagamentos de 30.000 reais a parlamentares da legenda

Revista Veja

Depois dos escândalos que derrubaram os ministros dos Transportes e da Agricultura, o radar do Palácio do Planalto está apontado desde a semana passada para o gabinete do ministro Mário Negromonte (PP), das Cidades. A edição de VEJA que chega às bancas neste sábado traz informações levadas à ministra das Relações Institucionais, Ideli Salvatti [a Fraquinha], por um grupo de parlamentares do PP. Em guerra aberta com uma parte da legenda pelo controle do partido, Negromonte estaria transformando o ministério num apêndice partidário e usando seu gabinete para tentar cooptar apoio. Segundo relatos dos deputados que foram convocados para reuniões na pasta, a ofertas em troca de apoio incluem uma mesada de 30.000 reais para quem aderir.

O PP é o terceiro maior partido da base aliada, com 41 deputados e cinco senadores. Controla há anos o Ministério da Cidade, que dispõe de um orçamento de 22 bilhões de reais e programas de forte apelo eleitoral em todos os cantos do país.
Na formação do governo Dilma, Negromonte foi indicado mais por suas relações com o PT da Bahia do que pelo trânsito junto aos colegas.

Uma parcela do PP queria manter Márcio Fortes, ministro por mais de cinco anos no governo Lula. Há duas semanas, o grupo ligado ao ex-ministro conseguiu destituir da liderança do partido o deputado Nelson Meurer, aliado de Negromonte. Colocou no lugar dele Aguinaldo Ribeiro, aliado de Márcio Fortes.

Ao perceber o poder se esvaindo, Negromonte contra-atacou montando um bunker numa sala anexa ao seu gabinete, onde quatro aliados de sua inteira confiança – os deputados João Pizzolatti, Nelson Meurer, José Otávio Germano e Luiz Fernando Faria – tentam persuadir os deputados a se alinhar novamente com o ministro.
Apenas na última terça-feira, doze parlamentares estiveram no ministério. Sob a condição do anonimato, três deles revelaram que ouviram a proposta da mesada de 30.000 reais.

Confrontado, o ministro atribui tudo a um jogo de intrigas e aponta o rival Márcio Fortes como responsável:
“Sei que há boatos de que pessoas vieram aqui para fazer isso e aquilo, da mesma forma que o pessoal estava dizendo que o Márcio Fortes foi lá na liderança fazer promessa, comprometer-se na tentativa de arranjar assinatura. Não me cabe ficar comentando boato”.
Fortes, por sua vez, rebate de maneira lacônica:
“No dia 31 de dezembro, deixei o cargo de ministro e me afastei das atividades partidárias”.

A compra de votos não de parlamentares não é algo novo na história do PP, um dos protagonistas do escândalo do mensalão – que, aliás, envolvia pagamento de mesada. Na ocasião, líderes da legenda receberam 4,1 milhões de reais em propina e quatro integrantes do partido estão denunciados no processo que tramita no Supremo Tribunal Federal.

O Ministério das Relações Institucionais confirma ter recebido as denúncias e está acompanhando a guerrilha do PP com muita atenção. A presidente Dilma Rousseff também já foi informada do problema.
postado por abobado, 20/08/2011