"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 5 de abril de 2012

ENVELHECER COM VIDA...

TIRIRICA: VOCÊ SABE O QUE ELE FAZ?

Em perfil e entrevista exclusiva, a Revista Congresso em Foco mostra que o palhaço campeão de votos tornou-se o principal porta-voz da categoria circense no Congresso.
Tiririca foca seu mandato como representante do circo no Congresso Nacional - Foto: Victor Soares

Na sua campanha, o palhaço Tiririca confessava na propaganda eleitoral não saber o que fazia um deputado federal. E convidava o eleitor a votar nele, porque, uma vez eleito, então ele poderia contar como é. Na edição número 2 da Revista Congresso em Foco, que começou a circular na semana passada, Tiririca, em perfil e entrevista exclusivas, assinadas pelo editor Edson Sardinha, conta o que está fazendo como deputado.

E, segundo o seu depoimento e de vários representantes do universo circense, verifica-se que Tiririca encontrou um nicho importante para o seu trabalho: ele se tornou o principal representante do circo no Legislativo. “Pela primeira vez, temos um gabinete completamente aberto para nós. O Tiririca é uma bela surpresa que caiu do céu”, diz Alice Viveiros de Castro, representante do circo no Conselho Nacional de Política Cultural do Ministério da Cultura.

“Eu saí do circo. Mas o circo não saiu de mim. Devo tudo a ele”, diz o próprio Tiririca, à Revista Congresso em Foco.

Diz um ditado popular que “alegria de palhaço é ver o circo pegar fogo”. Para Francisco Everardo Silva, porém, essa foi a maior tristeza de sua vida. Um dia, uma macaca do circo mordeu a mão de uma criança, filha de um poderoso coronel da cidade em que o circo se apresentava. Como vingança, o coronel tocou fogo na lona do circo. Se a tragédia, porém, fez Francisco Everardo Silva perder seu circo, foi ali que o país começou a ganhar um artista popular que, a partir deste mandato de deputado federal, envereda pela política. Após o incêndio no circo, Francisco deixou a cidade em que estava – Peritoró, no Maranhão – e seguiu para Fortaleza, no Ceará. Ali, ele abandonou o nariz vermelho e a tradicional maquiagem de palhaço, vestiu roupas coloridas, botou uma peruca engraçada, e nasceu o palhaço Tiririca, do jeito que o Brasil inteiro mais tarde conheceu.

A política não era um desejo pessoal de Tiririca. Foi uma ideia do deputado Valdemar Costa Neto (SP), que imaginou conseguir, com a popularidade do palhaço, puxar votos para seu partido, o PR, e para outros candidatos. Se tal situação gerou uma desconfiança inicial quando Tiririca se tornou o deputado federal mais votado do país, isso não o intimidou. Aos poucos, ele foi encontrando seu nicho, exatamente no circo, a sua origem como artista popular.

Tiririca apresentou projetos de lei e empenha-se em outras iniciativas para direcionar recursos e ações para a atividade circense, que emprega no Brasil 30 mil pessoas diretamente e outras 120 mil indiretamente, por meio de 2,5 mil companhias. Um dos quatro projetos de lei apresentados por Tiririca visando à atividade circense prevê a criação de um programa de amparo social às pessoas que trabalham nos circos. A proposta garante a essas pessoas a inclusão na Lei Orgânica de Assistência Social. Na prática, assegura a elas o acesso ao Sistema Único de Saúde (SUS). Como essas pessoas não têm endereço fixo, o acesso é hoje dificultado.

Insone

Um dos 13 deputados que tiveram 100% de presença em 2011, de acordo com levantamento exclusivo do Congresso em Foco sobre a assiduidade dos parlamentares, Tiririca tem feito um esforço extra para garantir essa presença. Ele praticamente não dormiu desde que virou deputado.

Há três décadas, Tiririca adquiriu o hábito de trocar a noite pelo dia. Na época, ele precisava varar a madrugada vigiando seu circo. Na ocasião, ele conseguia dormir de dia, o que tornou-se impossível agora com sua nova rotina parlamentar. Assim, ele hoje só tem conseguido dormir duas horas por dia – das seis às oito da manhã. O restante do tempo, ele passa jogando videogame com o motorista de sua mulher, Nana Magalhães, e com seu filho, Antonio Everardo, de 16 anos.

“A política antes de Tiririca era uma coisa, tornou-se outra”, diz o deputado, numa autoavaliação. “As pessoas se veem em mim e pensam: ‘caramba, esse cara chegou lá, eu também posso chegar’.”

“Não prometi nada”, diz ele, a respeito da expectativa gerada quanto ao seu trabalho como deputado. “Se não cometer deslize ético, com o que tem aí, já está bom demais”.

A íntegra do perfil com Tiririca, assim como a sua entrevista exclusiva, você vai encontrar na edição número 2 da Revista Congresso em Foco, já nas bancas.

05 de abril de 2012
Rudolfo Lago

A HISTÓRIA DE UMA CRISE, EM CAPÍTULOS

Para entender os vários problemas de relacionamento da presidenta com seus aliados, leia abaixo os principais fatos que desgastaram essa relação

Os problemas de Dilma com os partidos da base, inclusive com o PT, se iniciaram ainda na campanha

CAPÍTULO 1

Dilma monta estrutura de campanha própria à margem do PT e compra briga com a cúpula do partido

Com a ajuda do hoje ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, seu companheiro dos tempos de combate à ditadura militar, Dilma Rousseff monta uma estrutura de sua confiança na campanha, que atuava à margem da cúpula do PT. A direção do PT reage ao “aparelho” de Dilma. Foi a partir dessa briga que surgiu a denúncia, publicada pela revista Veja, de que a campanha de Dilma contratara o jornalista Amaury Ribeiro Jr. para formar um núcleo de inteligência com a tarefa de preparar dossiês contra adversários.
Briga que gerou crise na base começou na campanha
Entenda toda a história da quebra de sigilo dos tucanos
Amaury Ribeiro Jr.: assim caminhou a privataria

CAPÍTULO 2

Rui Falcão não vem à posse de Dilma

Na avaliação de muitos, como reflexo da crise com o PT, Rui Falcão, presidente do partido, não comparece à posse da presidenta Dilma Rousseff como presidenta da República. A própria eleição de Rui Falcão é interpretada como uma reação para neutralizar a força do grupo mais próximo de Dilma, que começou a se formar na campanha.

CAPÍTULO 3


Marco Maia é eleito presidente da Câmara

Até o final do governo Lula, tudo caminhava para que o presidente da Câmara fosse o deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), então líder do governo. O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que é o atual líder do governo, disputava com ele a indicação. Inicia-se, porém, uma insatisfação nas bancadas de outros estados, que reclamavam que o ministério formado por Dilma era “paulista demais”, e que isso precisa ser corrigido na escolha para a Câmara. Chinaglia retira sua candidatura e seu grupo resolve apoiar a candidatura do gaúcho Marco Maia, também do PT. Marco Maia é eleito, Vaccarezza permanece líder do governo, mas fica a sequela da disputa.
Deputados reelegem Marco Maia presidente da Câmara

CAPÍTULO 4

Palocci pede demissão da Casa Civil

Após a denúncia de que seu patrimônio aumentara 20 vezes no período em que foi deputado federal, o ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, desgastado, pede demissão do Ministério da Casa Civil. A demissão de Palocci é o primeiro passo para o que se tornará regra durante o primeiro ano de governo: uma reação mais rápida de Dilma às denúncias de corrupção, afastando os envolvidos. Após a saída de Palocci, Dilma refaz um núcleo de sua confiança no Palácio do Planalto, levando a senadora Gleisi Hoffmann para a Casa Civil e movendo a então ministra da Pesca, Ideli Salvatti, para o Ministério das Relações Institucionais.
Palocci pede demissão do governo

CAPÍTULO 5

Governo perde na votação do Código Florestal


Com direito a desafios feitos pelo líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves, o governo perde feio na primeira votação do Código Florestal na Câmara. Os interesses do grupo ruralista sobressaem, e a orientação do governo é ignorada. Henrique Eduardo começa a se tornar um desafeto do Palácio do Planalto, que começa a trabalhar para enfraquecer o acordo feito entre o PT e o PMDB para que ele venha a ser o próximo presidente da Câmara. Por sua parte, Henrique começa a reagir também.
PMDB desafia Planalto no Código Florestal

CAPÍTULO 6

Cai o ministro Alfredo Nascimento


Os problemas começaram a ser identificados pelo próprio governo, pela ministra Gleisi Hoffmann, que percebeu superfaturamentos em obras rodoviárias. Numa reunião sem a presença do então ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, Dilma deu uma bronca no restante da equipe da pasta. Na sequência dessa reunião, a revista Veja publica reportagem que afirma que os superfaturamentos faziam parte de um esquema de propina no PR, partido de Nascimento. O ministro pede demissão, mas, a partir daí, nunca mais foram as mesmas as relações do governo com o partido. Num discurso no plenário do Senado, o ex-ministro reagiu, dizendo que não era “lixo”.
Alfredo Nascimento cai do Ministério dos Transportes
“Não sou lixo”, diz ministro demissionário Alfredo Nascimento

CAPÍTULO 7

Cai Pedro Novais do Ministério do Turismo

Uma operação da Polícia Federal, a Operação Voucher, leva para a cadeia a cúpula do Ministério do Turismo, por denúncias de irregularidades em convênios. A operação leva à queda de Pedro Novais do ministério, uma indicação do presidente do Senado, José Sarney. A queda de Novais faz eclodir outras crises no PMDB, a partir da insatisfação de parte da bancada de deputados, insatisfeita com Henrique Eduardo Alves. No meio da insatisfação, senadores reúnem-se na casa de José Sarney (ele nega a reunião, mas outros senadores a confirmam), e combinam que, na primeira oportunidade, darão um susto em Dilma.
Pedro Novais cai e PMDB se divide
PMDB planeja dar um “susto” em Dilma Rousseff

CAPÍTULO 8

Seis ministros demitidos por corrupção

No total, Dilma demite seis ministros como reação a denúncias de corrupção: Antonio Palocci (Casa Civil); Pedro Novais (Turismo); Alfredo Nascimento (Transportes); Wagner Rossi (Agricultura); Orlando Silva (Esporte), e Carlos Lupi (Trabalho). Cada uma das demissões gerou desgastes com os partidos da base. Já em 2012, Dilma demitiu também Mario Negromonte do Ministério das Cidades. Negromonte vinha tendo problemas de relacionamento com seu próprio partido, o PP.

CAPÍTULO 9

Dilma põe Marcelo Crivella na Pesca e não avisa Michel Temer

Numa tática para ajudar a candidatura de Fernando Haddad (PT) à prefeitura de São Paulo e esvaziar a candidatura de Gabriel Chalita (PMDB), Dilma coloca Marcelo Crivella no Ministério da Pesca. O PRB, partido de Crivella, fechava apoio a Chalita em São Paulo. Dilma faz a troca, e o vice-presidente Michel Temer fica sabendo apenas pela televisão. O fato irrita todo o PMDB.
Temer soube de novo ministro da Pesca apenas pela TV

CAPÍTULO 10

Vem o “susto”: Senado derruba diretor da ANTT

O ano de 2012 se inicia, e os partidos continuam a reclamar da relação com Dilma. Dizem que o governo não atende a seus pleitos, não libera emendas orçamentárias, nem nomeia os nomes políticos indicados para os ministérios e outros cargos vagos. O troco acontece no Senado, ao vetar a recondução de Bernardo Figueiredo, nome indicado por Dilma, para a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
PMDB imprime derrota a Dilma no Senado

CAPÍTULO 11

Dilma não cede à chantagem e afasta Jucá da liderança do governo

Para surpresa dos políticos, Dilma resolve enfrentá-los. Em vez de ceder após o susto com Bernardo Figueiredo, ela resolve afastar Romero Jucá (PMDB-AP) da liderança do governo no Senado. Em seguida, afasta também Cândido Vaccarezza (PT-SP) da liderança na Câmara. Eles são substituídos por Eduardo Braga (PMDB-AM) e Arlindo Chinaglia (PT-SP), respectivamente. Empossado como líder, Eduardo Braga diz que chegaram ao fim as “velhas práticas”políticas.
Romero Jucá não é mais líder do governo
Vaccarezza não é mais líder do governo
Dilma manda recado à base: não aceita chantagem
“População não quer mais velhas práticas”, diz novo líder do governo

CAPÍTULO 12

Um dias de derrotas no Congresso

A base rebelada imprime uma série de derrotas a Dilma. A CCJ da Câmara aprova projeto que retira do Executivo os poderes de demarcar reservas indígenas e quilombolas. Adiaram as votações do Código Florestal e da Lei Geral da Copa. E ainda convocaram a ministra do Planejamento, Mirian Belchior, para explicar cortes no orçamento.

05 de abril de 2012
Rudolfo Lago e Mario Coelho
(25/03/2012)

A MAIORIA, A MINORIA E O IMPASSE NO CONGRESSO


“Hoje vivemos um verdadeiro ‘presidencialismo de cooptação’. A governabilidade é obtida pela gestão de verbas orçamentárias e cargos, com graves consequências em termos de perda de eficiência”


A maioria da população não entende o papel e a importância do Congresso Nacional para a vida do país e da democracia brasileira. A avaliação das pessoas sobre a imagem do parlamento brasileiro é sempre muito ruim. Sucessivas pesquisas demonstram que 75% do eleitorado não lembra, um ano depois das eleições, sequer o nome do deputado em quem votou. Quanto mais acompanhar e controlar a atuação dos parlamentares.

Nossa cultura política tem claros traços de um exacerbado personalismo, um viés marcado pela forte concentração de poderes nas mãos do presidente da República, uma incompreensão sobre a função fiscalizadora e legislativa do Congresso. Nosso sistema político, partidário e eleitoral, retroalimenta essa realidade ao promover um radical distanciamento entre sociedade e representação política e produzir um quadro partidário pulverizado, artificial, frágil e, na maior parte das vezes, sem nenhum conteúdo ideológico e programático.

Hoje vivemos um verdadeiro “presidencialismo de cooptação”. A governabilidade é obtida pela gestão de verbas orçamentárias e cargos, com graves consequências em termos de perda de eficiência, dado o loteamento partidário de espaços e o descompromisso com a profissionalização da máquina pública. A negociação é feita no varejo, sem dimensão estratégica, sendo objeto da tensão permanente entre chantagem, concessões e impasses.

Nas últimas semanas, vivemos um impasse e o Congresso pouco avançou nas votações. É preciso que toda a sociedade saiba que a paralisia não se instala a partir das oposições. Somos, quando muito, 90 deputados federais num total de 513. Somos 18 senadores num conjunto de 81. Portanto, o impasse nasce na relação do governo Dilma com sua base de apoio.

Uma presidente sem história, experiência e habilidade para liderar um projeto nacional. Uma base voraz alimentada pelo fisiologismo e pelo patrimonialismo. Ministros aliados entregues às feras, enquanto ministros do PT são blindados.
A hipocrisia de uma suposta faxina sobre a sujeira produzida em casa pelas próprias opções de Dilma e do PT, quando, em verdade, os malfeitos são desfeitos pela pressão da imprensa, das oposições e da sociedade organizada. Grosserias e indelicadezas como estilo de comando. Incapacidade para o diálogo e a negociação. Esse é o caldo de cultura sobre o qual se formou o atual clima no Congresso.

O PSDB e as oposições querem votar a Lei da Copa, o Código Florestal, a reforma política, os royalties do petróleo, as medidas contra a guerra fiscal, o veto que tirou dinheiro da saúde, a renegociação da dívida dos Estados. Não nos confundimos com as pressões para obtenção de cargos e verbas. Mas não queremos um retrocesso à “monarquia absoluta”, em que as prerrogativas, o papel e a autonomia do Congresso não são respeitados. Não é passando o “trator” que iremos destravar as discussões. Um pouco de humildade e capacidade de diálogo não fariam mal à presidente Dilma.

Marcus Pestana
05/04/2012

ÉPOCA: CACHOEIRA E DEMÓSTENES QUERIAM CHEGAR ATÉ DILMA

Em conversa captada pela PF e divulgada por revista, contraventor orienta senador a trocar o DEM pelo PMDB para se aproximar do Planalto. Diálogos também indicam tentativa de interferência no STF e proximidade com políticos tocantinenses

Demóstenes tinha pretensão de ser ministro do STF, segundo a revista Época -Geraldo Magela/Senado

O senador Demóstenes Torres (GO) foi orientado pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, a trocar o oposicionista DEM pelo governista PMDB para se aproximar do Palácio do Planalto na tentativa de fortalecer seus negócios. Diálogos obtidos pela revista Época mostram como Cachoeira interferia no mandato do senador, reeleito por 2,15 milhões de eleitores goianos em 2010.

“E fica bom demais se você for pro PMDB… Ela quer falar com você? A Dilma? A Dilma quer falar com você, não?”, pergunta Cachoeira. O senador responde: “Por debaixo, mas se eu decidir ela fala. Ela quer sentar comigo se eu for mesmo. Não é pra enrolar”. O contraventor incentiva o encontro: “Ah, então vai, uai, fala que vai, ela te chama lá”.

O diálogo, gravado com autorização judicial, ocorreu em abril de 2011, quando Demóstenes era líder do DEM no Senado e um dos principais opositores do governo Dilma no Congresso. O Planalto informou à revista que Dilma nunca recebeu o senador desde que assumiu a Presidência.

De acordo com a reportagem, de Andrei Meirelles e Murilo Ramos, Demóstenes negociava a mudança de partido com a cúpula do PMDB e já tinha até o aval do Planalto. Mas desistiu da ideia com receio de perder o mandato para o DEM por infidelidade partidária. Além da abertura de novo canal no governo, a troca tinha outro propósito, segundo a matéria: trilhar uma futura indicação de Demóstenes para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Pressionado e isolado, Demóstenes deixa o DEM

Tocantins

No mesmo diálogo, Cachoeira pede ao senador para tentar influenciar na decisão do ministro Luiz Fux, do STF, no julgamento de um recurso do ex-governador tocantinense Marcelo Miranda (PMDB), barrado inicialmente pela Lei da Ficha Limpa. Em 2010, Miranda foi o segundo mais votado na eleição para senador no estado. “Ele é um cara nosso”, disse o contraventor na conversa interceptada pela Polícia Federal.

Apesar de Demóstenes ter se comprometido a atender ao pedido de Cachoeira, a conversa com o ministro não ocorreu, segundo o próprio Fux. O ministro liberou a posse do senador eleito, mas voltou atrás dias depois, alegando que Miranda estava inelegível não pela Ficha Limpa, tornada sem efeito para 2010, mas por causa dos efeitos da condenação por abuso de poder econômico. O peemedebista nega ter qualquer relação com Cachoeira.

A primeira decisão de Fux chegou a ser comemorada por Cachoeira e Cláudio Abreu, um de seus sócios e diretor afastado da Delta Construções. “Chefia, o Marcelo Miranda é senador”, diz Cláudio. “O bom é que eu sei que ele vai ser procurador seu e meu, né?”

Os áudios divulgados por Época mostram, ainda, que Cachoeira também demonstrava influência sobre outra importante figura da política de Tocantins, o ex-senador Eduardo Siqueira Campos, atual secretário estadual de seu pai, o governador Siqueira Campos (PSDB). “Eduardo também é bom, Carlinhos. Não pode falar mal dele não, cara”, diz Abreu. “Ele mandou dar o negócio para nós lá: a inspeção veicular do Tocantins.” Eduardo Siqueira Campos também nega envolvimento com o contraventor e diz que não há definição sobre a exploração da inspeção veicular no estado.

Brasília

Cachoeira e Abreu também discutem, em outra conversa interceptada pela polícia, a possibilidade de a Delta conseguir um contrato de R$ 60 milhões para atuar no sistema automatizado de cobrança de passagem de ônibus. A construtora e o GDF dizem desconhecer o assunto.

Preso há um mês na Penitenciária de Mossoró, no Rio Grande do Norte, Cachoeira pediu ontem transferência para Brasília. Ele é acusado de comandar um esquema de jogo ilegal, com exploração de caça-níqueis, desbaratado pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo.

Edson Sardinha
05/04/2012

"O QUE DILMA FEZ COM O DINHEIRO QUE ROUBOU?"

Outra vez correndo risco de processo de cassação, o ex-militar reage agredindo a presidenta da República e insinuando que ela seria uma ladra

Bolsonaro questiona a honestidade da presidenta? "O que ela fez com o dinheiro que roubou?", pergunta ele - Rodolfo Stuckert/Câmara

Deputados do Psol,do PT, do PSB e do PPS protocolaram esta semana um requerimento junto à Mesa Diretora da Câmara dos Deputados pedindo abertura de processo disciplinar contra o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) por quebra de decoro parlamentar. Esta é a segunda representação contra o deputado proposta por seus pares nesta legislatura. E, outra vez, em entrevista ao Congresso em Foco, Bolsonaro reagiu à notícia à sua maneira. Ao responder sobre o episódio, o deputado ex-militar partiu contra a presidenta Dilma Rousseff, insinuando que ela é uma ladra. “Por que ninguém pergunta o que ela fez com o dinheiro que roubou quando era militante?”, perguntou Bolsonaro. É a segunda vez que Bolsonaro agride a presidenta. Em novembro, ele insinuou, em discurso no Plenário, que Dilma seria homossexual: “Dilma, pare de mentir. Se gosta de homossexual, assuma. Se o teu negócio é amor com homossexual, assuma. Mas não deixe que essa covardia entre nas escolas de primeiro grau”. Bolsonaro referia-se ao material sobre homofobia que seria distribuído nas escolas.

A reação contra Dilma veio em seguida a uma avaliação de que a Comissão da Verdade, instituída para esclarecer episódios obscuros ocorridos durante a ditadura militar, seria uma farsa. “Eles indicam só quem eles querem, estão garimpando as testemunhas. Nessa discussão não há espaço para o contraditório”, afirmou o deputado para quem a comissão só ouvirá críticos ao regime militar. “Esta é a comissão da mentira. É como na comissão nacional, em que a principal interessada nisso, a presidenta Dilma Rousseff, é quem escolherá os integrantes. E ela deveria ser a primeira a ir lá depor”.

A representação contra Bolsonaro, à qual ele respondeu com a agressão à presidenta da República, é consequência da acusação de que ele teria agredido verbalmente um funcionário da Câmara, o secretário da Comissão de Direitos Humanos, Márcio Araújo. De acordo com o documento, Bolsonaro tentou impedir a realização da primeira reunião de subcomissão da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara que visava recolher informações para contribuir com os trabalhos da Comissão Nacional da Verdade. Realizada na terça-feira (3), a comissão ouviu ex-integrantes do Exército brasileiro, que combateram guerrilheiros no Araguaia.

Os militares exigiram que a sessão fosse realizada em um espaço reservado e restrito aos parlamentares e assessores técnicos da Casa porque disseram estar sofrendo constantes ameaças. Segundo a representação, Bolsonaro, que não é membro da CDH e nem da Comissão da Verdade, atrapalhou a reunião saindo e entrando no plenário, “tentando atrair a imprensa, no claro intuito de mostrar sua inconformidade com a deliberação dos parlamentares em realizar aquela reunião”.

Os deputados presentes também informaram que Bolsonaro tentou, sem sucesso, obter a lista com os nomes dos depoentes da mesa da secretaria. Em seguida, o deputado agrediu verbalmente o secretário da comissão, Márcio Araújo. Quando ele tentou intervir: o deputado do PP respondeu: “A conversa não chegou ao chiqueiro”. De acordo com a representação, o secretário teria alertado Bolsonaro de que não era permitido fotografar a sessão, pois era fechada.

Gravação na TV

Em conversa com o Congresso em Foco, Bolsonaro confirmou a declaração, mas explicou que falou rispidamente com o secretário porque ele impediu que uma servidora da comissão entregasse a ele a relação dos depoentes. Após o episódio, Bolsonaro tentou fazer uma foto do servidor, que, segundo o parlamentar, o agrediu para tomar a câmera fotográfica de sua mão. “Quando ele proibiu a funcionária, deu vontade de ir atrás dele, mas eu ia ser acusado de agredi-lo. Então, pedi a um assessor que buscasse a máquina fotográfica para eu poder me defender. Foi aí que a confusão começou. Antes, estava tudo tranquilo”, explicou.

Para sua defesa, Bolsonaro afirmou que pedirá as gravações feitas pela TV Câmara, que segundo ele, mostram o momento em que o secretário da comissão negou o espelho da pauta ao parlamentar. “Pelo menos o áudio terá que ser repassado ao Conselho de Ética. Eu não posso ser julgado pelo que aconteceu em uma sessão secreta”, afirmou.

Para o deputado, o fato de a reunião ter sido filmada revela que a comissão não tem legitimidade. “Eu já fiquei indignado porque sessão secreta é para vocês da imprensa. Se é sessão secreta por que a câmera da TV Câmara estava com a ‘luzinha’ acesa?”, questionou ao Congresso em Foco.

Segundo o texto da representação, Bolsonaro infringiu o artigo 5º do Código de Ética e Decoro Parlamentar ao “pertubar a ordem das sessões da Câmara ou das reuniões das comissões, praticar atos que infrinjam as regras da boa conduta, praticar ofensas físicas ou morais nas dependências da Câmara e revelar conteúdo de debates ou deliberações que a Câmara ou comissão hajam resolvido ficar secretas”. A Corregedoria da Câmara analisará a representação e decidirá se encaminha ou não a representação ao Conselho de Ética da Casa, que pode pedir a abertura de processo por quebra de decoro contra Bolsonaro.

congresso em foco
05 de abril de 2012
Mariana Haubert

HORA DE JULGAR

A crise política em que se envolveu o senador Demóstenes Torres, agora sem partido, depois de se desfiliar do DEM para não ser expulso, está excitando a imaginação de uma ala dos governistas, que vê, na desgraça do oposicionista antigo paladino da ética na política, a negação de qualquer tipo de crítica aos famosos “malfeitos” dos aliados do governo, mesmo os mais antigos como o mensalão, que está para ser julgado pelo Supremo.

A coincidência dos dois fatos – a derrocada de Demóstenes e o julgamento do STF – seria uma boa notícia para os mensaleiros e leva a que esses governistas considerem que o enfraquecimento da oposição os fortalece no tribunal.

Nada mais absurdo. A tese geral de que um político que fazia o papel de ético se revelando um corrupto enfraquece as críticas oposicionistas à corrupção no governo só serve para os que querem igualar os contrários.

Se todos são ladrões, ninguém é ladrão, parecem raciocinar. Nada mais falso.

Os padrões éticos de fazer política continuarão valendo, e é por isso que o senador Demóstenes Torres corre o sério risco de perder seu mandato no Conselho de Ética do Senado.

É certo que o perderá apenas porque colecionou inimizades no papel de justiceiro que desempenhava com raro brilho, e agora receberá o troco dos adversários que um dia combateu, como os senadores Renan Calheiros e José Sarney.

Mas a base para a sua punição continuará sendo a conduta fora dos padrões considerados éticos e a quebra do decoro parlamentar ao mentir da Tribuna do Senado dizendo que não sabia o que todo mundo sabia, que Carlinhos Cachoeira era um contraventor.

Não importa que muitos outros, que quebraram o decoro ou mentiram, continuem incólumes no Congresso.

As gravações da Polícia Federal demonstram que Demóstenes tanto sabia o que seu amigo Carlinhos Cachoeira era que o flagraram aconselhando o bicheiro a não apoiar o projeto que criminalizava o jogo do bicho. ” E aí pega você”.

As circunstâncias estão levando o senador Demóstenes Torres para a cassação de seu mandato por caminhos tortos, mas razões corretas.

Cachoeira, que via mais longe, tranquilizou seu amigo: “Mas aí legaliza também, né?”

As circunstâncias estão levando o senador Demóstenes Torres para a cassação de seu mandato por caminhos tortos, mas razões corretas.

A tese específica de que foi o bicheiro Carlinhos Cachoeira quem armou a gravação que provocou a ira do então deputado federal Roberto Jefferson, originando sua denúncia sobre o mensalão, não justifica, como querem alguns, o enfraquecimento das denúncias contra os mensaleiros, em especial contra o ex-ministro José Dirceu, acusado pelo procurador-geral da República, Roberto Gurgel, de ser o chefe da quadrilha.

As imagens conseguidas pela revista “Veja” em que um diretor dos Correios, Maurício Marinho, recebe um suborno de R$ 3 mil, divulgadas no “Jornal Nacional” e que se tornaram um ícone do combate à corrupção, teriam sido gravadas, segundo a nova versão divulgada pelo jornalismo oficial, a mando do bicheiro Carlinhos Cachoeira para vingar seu amigo Demóstenes Torres.

Nessa versão novinha em folha, que surge agora às vésperas do julgamento do mensalão, para tentar misturar alhos com bugalhos, o senador goiano teria pleiteado ser nomeado secretário nacional de Justiça e foi vetado pelo então todo-poderoso chefe da Casa Civil José Dirceu.

A represália teria como objetivo criar um problema para o PTB, que indicara o diretor dos Correios, e provocar uma crise na base aliada.

Mas o que essa intrigalhada toda tem a ver com o mensalão?

Já se sabia há muito tempo que o vídeo da propina provocou a reação do presidente do PTB contra José Dirceu porque Jefferson considerou que ele havia sido feito a mando do PT para tirar do PTB uma fatia de poder dos Correios, a mesma disputa de bastidores, aliás, que se desenrola hoje entre o PT e partidos da base.

Se o vídeo foi feito por um empresário ligado ao Partido dos Trabalhadores, como se acreditava até recentemente, ou a mando do bicheiro Carlinhos Cachoeira, não importa.

O fato é que, sentindo-se traído por Dirceu, o então deputado Roberto Jefferson disparou sua metralhadora giratória, revelando o maior escândalo de corrupção política registrado no país nos anos recentes.

Não existisse o esquema, a reação de Roberto Jefferson seria outra, mas como existia – de acordo com o procurador-geral da República e o relator do processo no Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa – ele se vingou revelando o plano que fora concebido dentro da Casa Civil da Presidência da República.

Aliás, a existência desse mensalão já fora denunciada ao próprio presidente Lula pelo então governador de Goiás, Marconi Perillo.

Portanto, a nova versão em nada muda a essência da questão: o mensalão existiu e estará sendo julgado em breve pelo Supremo Tribunal Federal com base no que foi apurado em mais de sete anos de tramitação do processo.

Já é hora de uma decisão final da Justiça.

5 de abril de 2012
Merval Pereira
Fonte: O Globo

FUTURO EM RISCO

Tudo que o partido Democratas quer é se descolar da imagem do senador Demóstenes Torres, para interromper a sangria que as recentes revelações de suas relações promíscuas com o bicheiro Carlinhos Cachoeira têm provocado.

Nos últimos dias, prevendo o desfecho contrário às suas pretensões, o senador parecia estar “em estado de torpor, muito sem rumo”, e propôs acordos considerados “inexequíveis” pela maioria da direção partidária, que já avaliava sua situação definida a partir das novas revelações deste fim de semana.

Foi colocado para ele que sua presença no partido já não era aceitável, havia um clamor geral que não deixava alternativa a não ser sua desfiliação ou abertura de um processo sumário de expulsão.

O partido já aguentou o que podia aguentar, deu o tempo que podia dar, na avaliação de seu presidente, senador Agripino Maia, e o que não se quer agora é colocar em risco o futuro do partido, se é que ele ainda é viável depois de tantas baixas com a criação do PSD, mas, sobretudo, com dois de seus mais importantes líderes sendo apanhados em escândalos de corrupção que não deixam margem a dúvidas.

Não se fala de extinção do partido nem mesmo de sua fusão com o PSDB ou o PMDB, ou melhor, se fala, sim, mas tudo a depender do resultado das eleições municipais, que será, esse sim, o definidor dos caminhos.

Se o partido se sair razoavelmente bem das urnas, mostrando perspectiva de futuro, Agripino Maia e seus companheiros de direção partidária acham que conseguem segurar uma segunda debandada.

“Os valores que nós tínhamos para disputar as eleições municipais estão mantidos e fortalecidos pela decisão de cortar na carne”, avalia Maia. “Mais uma vez o partido será o único a tomar uma atitude radical, coisa que nenhum outro tomou”, frisa, lembrando que o Democratas já expulsara o ex-governador de Brasília José Roberto Arruda, enquanto partidos envolvidos em escândalos como o PT continuam mantendo em seus quadros, muito prestigiados, correligionários envolvidos no mensalão.

Se o partido toma uma posição correta, o discurso continua vivo, ressalta Maia, para lembrar que existem ainda candidatos fortes em seus quadros.

O partido hoje joga seu futuro em duas candidaturas de peso no Nordeste, ACM Neto, em Salvador, e João Alves, em Sergipe, além de tentar indicar o companheiro de chapa de José Serra em São Paulo.

Na avaliação de Agripino Maia, se ACM Neto vencer em Salvador, e Serra, em São Paulo, “a oposição terá se saído bem nesta eleição”.

As negociações com o PSDB na Bahia esbarram na insistência do ex-prefeito Antonio Imbassahy em concorrer, em que pese aparecer bem atrás de ACM Neto nas pesquisas eleitorais.

Mas o acordo parece bem encaminhado no sentido de ter o endosso do partido a ACM Neto, em troca de apoio em São Paulo a Serra.

Se bem que, de qualquer maneira, para o DEM estar acoplado à candidatura de Serra em São Paulo, é um trunfo político forte na luta pela sobrevivência, especialmente na situação atual.

Outro trunfo que o DEM pretende preservar é o tempo de televisão, que lhe dá força nas negociações políticas.

Ainda mais que existe a possibilidade clara de o PSD não conseguir ficar com o tempo dos seus filiados, tornando-se um parceiro sem grandes atrativos nesta eleição municipal.

Depois das eleições, eles pretendem repensar a estratégia futura “em função do que as urnas falarem”. A questão da fusão com o PSDB ou o PMDB, ou mesmo a dissolução da legenda, será discutida de acordo com o resultado das eleições municipais, e Agripino Maia acha que, mesmo para uma eventual negociação futura, o mais importante é “não perder o discurso”.

Maia, desde que assumiu a presidência do DEM em uma situação crítica, defende que o caminho é fazer de suas convicções seu carro-chefe. “Quanta gente no Brasil não quer um Estado inchado, quer ver a infraestrutura feita, e aceita que seja com capital privado, para ter aeroporto, estrada, porto, como muitos países fizeram. Brigar contra a alta carga tributária é brigar pela competitividade do país.”

Ele rejeita a ideia de que o partido seja de direita, mas o classifica, sim, de “um partido moderno” e cita países da América do Sul que são dirigidos por partidos semelhantes, como Chile, Peru e Colômbia.

Seu sonho era fazer a massificação das ideias liberais do partido, não apenas durante as campanhas eleitorais. “Temos que colocar em prática nossas ideias”.

Esse sonho foi atropelado pelo prefeito paulistano, Gilberto Kassab, que criou o PSD a partir de uma base do DEM, e teve outro contratempo que parece intransponível com a derrocada de um de seus principais líderes, o senador Demóstenes Torres, justamente aquele que parecia disposto a vocalizar os valores conservadores defendidos pelo DEM.

A refundação programática do partido, numa posição que era classificada de “centro-humanista e reformadora”, não foi seguida da reformulação das bases partidárias, e os chamados cartórios eleitorais continuaram em vários estados.

A mudança programática já se desenhava desde uma reunião da Internacional Democrática de Centro (IDC) realizada no Rio em 2005. A IDC se contrapõe à Internacional Socialista, que reúne os partidos de esquerda e social-democratas no mundo.

O que os Democratas defendem é que está na hora de uma verdadeira experiência liberal, com uma reforma do pacto federativo para diminuir o tamanho do Estado e para conseguir também uma redução de impostos.

A vontade de ser um grande partido liberal, próximo especialmente da classe média, trabalhando questões que afetam seu dia a dia como meio ambiente, altos impostos, desemprego, apagão aéreo e insegurança pública, terá de ser mais uma vez adiada, enquanto tratam de uma realidade mais dura, a crise de credibilidade provocada pelas denúncias, aparentemente irrespondíveis, contra o senador Demóstenes Torres.

05 de abril de 2012
Merval Pereira
Fonte: O Globo

UM PESO, UMA MEDIDA

O foco era no ‘que’ foi dito, e não em ‘quem’ o disse

Não existe oposição liberal organizada no Brasil. Há uma clara hegemonia da esquerda entre os vários partidos.

Mas o DEM seria o mais próximo desta bandeira que prega menos intervenção estatal e mais liberdade econômica. E, dentro do DEM, o senador Demóstenes Torres tem sido uma das vozes mais firmes em defesa destes valores, assim como da ética.

Por isso é fundamental usar o escândalo envolvendo o senador e sua mais que suspeita amizade com um contraventor para marcar as diferenças entre a esquerda e os liberais, estes ainda sem representação política.

Quando os homens estão unidos por princípios claros, não há espaço para arbitrariedade. Os princípios servem como critério objetivo para julgar os atos. Em contrapartida, quando se trata de um grupo tribal, o seu membro será sempre tratado com complacência, enquanto os “de fora” serão duramente condenados.

O uso de dois pesos e duas medidas é característica comum a estes grupos, e vale tudo para salvar a pele do companheiro, por mais criminoso que tenha sido seu ato.

Aristóteles dizia que uma sociedade adequada é governada por leis, não por homens. Com isso ele queria dizer que devemos adotar um império de leis igualmente válidas para todos, em oposição ao poder arbitrário que aos amigos tudo dá, enquanto aos inimigos aplica o rigor das leis. Da mesma forma, uma associação adequada é unida por ideias, não por homens, e seus membros são leais às ideias, não ao grupo. A máfia, por exemplo, é o oposto de tal associação, pois seus membros devem lealdade aos demais membros, e não a valores objetivos.

Com esta distinção em mente, fica claro que boa parte da esquerda sempre adotou postura tribal ou mesmo mafiosa. Seus membros são tratados como “especiais”, detentores de um salvo-conduto para “malfeitos”.

O que falta em nossa política é um partido que rejeite esta visão predominante de que o governo é uma espécie de deus clarividente capaz de gerar progresso por decreto.

Os fins “nobres” sempre justificam os meios obscuros, e os crimes perpetrados por seus líderes nunca são crimes, ao contrário daqueles realizados pela oposição. São sempre dois pesos diferentes, para se obter duas medidas diametralmente opostas.

Foi assim que um assassino frio e cruel como Che Guevara chegou a se tornar herói, ou a mais longa e opressora ditadura do continente até hoje é defendida. Abro um parêntese para lembrar que tanto Mussolini como Hitler, apesar de tratados como os monstros que eram, porque são vistos como de “direita”, eram na verdade coletivistas antiliberais que nasceram na esquerda socialista e sempre condenaram o capitalismo.

Fecho o parêntese.

É com base na mesma lealdade mafiosa que alguns petistas sempre partem para a acusação de uma fantasiosa “mídia golpista” quando escândalos envolvendo seus aliados vêm à tona. Curiosamente, eles logo esquecem esta imprensa “golpista” quando o escândalo envolve a oposição. Dois pesos e duas medidas, a marca registrada da nossa esquerda. Para eles, o camarada não é um “homem comum”, mas sim alguém acima das leis. Não se importam com “o que” acontece, mas sim com “quem” acontece.

Os liberais não aceitam esta postura.

No final de 2011, escrevi para a revista “Época” algumas palavras em homenagem justamente a Demóstenes Torres. Não conheço o senador pessoalmente, mas acompanhei suas lutas no Senado. Esteve quase sempre do lado que julgo correto.

Condenou as cotas racistas, denunciou a doutrinação ideológica pelos órgãos estatais, pregou maior rigor penal para combater a criminalidade, atacou sempre o desvio de recursos públicos e defendeu a urgência de um partido que tenha a economia de mercado e sólidos valores morais como plataforma.

Não poderia concordar mais! O que falta em nossa política é um partido que rejeite esta visão predominante de que o governo é uma espécie de deus clarividente capaz de gerar progresso por decreto. Países com mais intervencionismo estatal invariavelmente acabam com menos riqueza e liberdade.

E nada mais absurdo do que combater o racismo com segregação racial.

Logo, Demóstenes mereceu cada elogio que fiz. Afinal, eu focava no “que” foi dito, e não em “quem” o disse. Da mesma forma, agora que gravações comprometedoras vieram a público, enorme decepção à parte, continuo focando no “que” mostram os fatos, não sobre “quem” eles recaem. Defendo uma investigação minuciosa e, se for o caso, a severa punição do senador. Sob meu ponto de vista, ele é apenas um homem comum, um indivíduo como qualquer outro, que deve respeitar as mesmas leis.

Infelizmente, isso é algo que a esquerda em geral e os petistas em particular parecem nunca compreender: a importância de se ter apenas um peso, e uma medida.

05 de abril de 2012
Rodrigo Constantino
Fonte: O Globo

SENADOR PETISTA IGNORA O ELEITOR, TRANSFORMA O SENADO EM CORETO DE QUINTA E DECLAMA POEMA DE AMOR...


Virou baderna- Não é de hoje que o Congresso Nacional é açoitado por uma lufada de descrédito, que tornou-se mais intensa com a corrupção e a permissividade que marcaram a era de Luiz Inácio da Silva, o messiânico Lula. Sempre dispostos a achincalhar o parlamento brasileiro, pois confiam cada vez mais na tese de que o fim justifica os meios, petistas nem de longe sabem o que significa uma Casa legislativa. Entendem, sim, que o parlamento é um balcão de negócio sempre pronto a favorecer apaniguados e a abafar escândalos protagonizados por “companheiros”.

Não bastasse os pífios espetáculos encenados pelo senador Eduardo Suplicy, a política agora descobre mais um gazeteiro com vocação teatral. No momento em que o Senado Federal é mais uma vez tomado por um imbróglio que arremessa a política nacional ao rés do chão, o senador Aníbal Diniz, do PT do Acre, encontrou espaço em seu discurso no plenário, proferido na tarde de quarta-feira (4), para homenagear a própria esposa, que fazia aniversário. Primeiro suplente do então senador Tião Viana, também do PT, que renunciou ao mandato para governar o Acre, uma espécie de feudo da família Viana, Aníbal Diniz é um abusado, pois sua esposa é uma ilustre desconhecida do povo brasileiro e seu aniversário interessa a ninguém.

Mesmo assim, Aníbal Diniz se derreteu na tribuna do Senado ao ler o “Soneto da Fidelidade” (De tudo ao meu amor serei atento / Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto / Que mesmo em face do maior encanto / Dele se encante mais meu pensamento…), de Vinícius de Moraes. Fidelidade, pois, que o PT há muito não cultiva em relação ao discurso do passado, quando colocava os corruptos na vala comum que hoje frequenta com largueza e intimidade.

É preciso que alguém explique a esse representante do Acre, estado que vive às voltas com as cheias dos rios, que o Congresso Nacional não é um coreto de praça de cidadezinha do interior, onde os apaixonados flertavam suas cobiçadas à sombra do casto trottoir do amor. Até porque, o contribuinte brasileiro não madruga para ver o seu suado dinheiro se transformar em declarações de amor, enquanto o País continua rebocado por suas mazelas.

Considerando que, assim como qualquer senador ou deputado federal, Aníbal Diniz custa mensalmente aos cofres públicos a bagatela de R$ 130 mil, certo estava o então presidente Lula quando lançou o bordão “nunca antes na história deste país”.

PS - Toda a arrala-miúda do Senado, gasta o dinheiro do contribuinte "RALEZANDO", cantando e recitando sua essência gelatinosa...Certa vez, a dona Ideli Salvatti soltou a VOZ, meu filho acordou assustado e pediu para que eu tirasse daquilo....MOVCC

05 de abril de 2012
ucho.info

POLÍBIO BRAGA FALA SOBRE A PASSAGEM DE DILMA PELA SECRETARIA DA FAZEDA DE PORTO ALEGRE



05 de abril de 2012

GOVERNO CAMUFLA INFLAÇÃO, OU DOIS DEDOS DE PROSA

Não há uma droga de notícia que diga que o Brasil está mergulhado numa perigosa onda de inflação. O custo de vida está pela hora da morte. O vilão continua sendo o tomate, a beterraba, o chuchu que se não é verdade, pelo menos é uma boa rima.

A consulta no meu médico otorrinolaringolgista que custava R$ 150 em janeiro, passou para R$ 200 neste glorioso abril; a diária nos hotéis três estrelas a pau e corda de São Paulo, Rio e Brasília custam o equivalente a cinco estrelas em Nova Iorque, Paris e Londres.

Agora mesmo, 30% das delegações da União Europeia desistiram de vir à Conferência Rio+20 que será realizada no Rio de Janeiro de 13 a 22 de junho, por causa dos preços abusivos dos hotéis.

Isso quer dizer, por baixo, por baixo, nada menos de 15 mil visitantes. Bota só este itenzinho no cálculo dos índices de inflação e você vai ver no que vai dar. Sim, sim, a Barbearia do Honofre - que frequento há 30 anos, na Asa Norte, em Brasília - acaba de me cobrar R$ 40 pela barba, cabelo e bigode. Em fevereiro, o mesmo serviço me custou R$ 30, mais de 30% a menos. Mas isso não entra na história oficial que está no pacote de Mantega que Dilma nos manda passar.

Entrementes, o fator previdenciário continua roubando dinheiro dos aposentado que ganham mais de um salário por mês.

Quem, dentre eles, se aposentou há dez anos com o equivalente a 10 salários, não recebe hoje nem mesmo quatro. Melhor seria que essa velharada tivesse montado uma banca de jogo de bicho, para receber do governo a atenção que merece.

Vendo esse pacote de Mantega o brasileiro vai acabar se sentindo um Marlon Brando em pleno Último Tango em Paris. Ah, como o brasileiro gosta de dois dedos de prosa.

05 de abril de 2012
sanatório da notícia

NO PAÍS DA PIADA PRONTA...

Roberto Carlos com cara de Tiririca é investigado pela Operação Detalhes
O Roberto Carlos baiano não é a cara do Tiririca?

O deputado estadual pela Bahia, Roberto Carlos (PDT), suspeito de desviar verba pública, informou em nota divulgada à imprensa que fará pronunciamento na Assembleia Legislativa da Bahia na próxima semana. Nesta terça-feira (3), durante a Operação “Detalhes” - que cumpriu 12 mandados de busca e apreensão no gabinete e em propriedades do deputado em Juazeiro - seis “funcionários fantasmas” disseram, em depoimento à Polícia Federal, que não trabalhavam na Assembleia e que seus salários eram sacados por outros indivíduos e depositados nas contas de familiares do deputado.
No total, oito pessoas participavam do esquema.



De acordo com a investigação, referente ao primeiro mandado do deputado (2008 a 2010), os salários ( de R$ 3 mil a R$ 8 mil) dos servidores fantasmas, contratados por ele, eram desviados para as contas de sua mulher e de um de seus filhos. O político, que também é presidente do clube de futebol Sociedade Desportiva Juazeirense, responderá por sonegação fiscal, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.

05 de abril de 2012
Ricardo Froes

NOTA AO PÉ DO TEXTO


ISSO É CASO DE CADEIA!
Ninguém te aguenta meu Brasil!
Alô... Alô... Terezinhaaaaaa!
Vocês querem bacalhau?
Roda... Roda... Roda...

m.americo

PT CENTRA FOGO EM DEMÓSTENES, MAS ESQUECE QUE CACHOEIRA FEZ CURRÍCULO NA CASA CIVIL, COM O AVAL DE ZÉ DIRCEU

Esticando a corda – O escândalo capitaneado por Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e que envolve o senador Demóstenes Torres (sem partido – GO) não deve acabar tão cedo, se o final depender do desejo do Partido dos Trabalhadores e do Palácio do Planalto.

Com petistas “cinco estrelas” cobrando punição exemplar aos investigados pela Polícia Federal na Operação Monte Carlo, o assunto parece ser o maior caso de corrupção de todos os tempos. Os culpados devem enfrentar as garras da lei, sim, mas enquanto a culpa for reconhecida pela Justiça nada pode ser feito pela sociedade, a não ser se entregar à indignação. Quando o ucho.info afirma que política é negócio dos bons e exclusividade de ínfima minoria, muitos são os políticos que torcem o nariz, mas vez por outra algum imbróglio surge no horizonte para ratificar a nossa tese.

A indignação popular diante de mais um escândalo é absolutamente justa, mas não pode tomar proporções descomunais a ponto de ofuscar a corrupção que grassa nas entranhas do governo do PT e que cresceu de forma assustadora desde a chegada de Lula ao poder. O oportunismo é figura constante no cenário político, mas não se pode esquecer que Carlinhos Cachoeira foi coadjuvante do primeiro escândalo de corrupção da era Lula da Silva, em conluio com Valdomiro Diniz e o endosso de José Dirceu de Oliveira e Silva, então chefe da Casa Civil.

Ou seja, os petistas que recolham as armas, pois tiro pela culatra é algo absolutamente possível quando quem as empunha é um franco atirador.

AS PERNAS CURTAS DA MENTIRA

Notícias Faltantes - Denúncias

Graça Salgueiro revela quem é Carlos Beltrão do Valle, o falso órfão que gritava histrionicamente “eles mataram meu pai!” durante a série de agressões cometidas contra militares da reserva, no dia 29, no Rio. A jornalista também traz informações sobre Luiz Felipe Monteiro Garcez, o “Pato”, petista de carteirinha que covardemente cuspiu no coronel-aviador Juarez Gomes.


No passado 29 de março, o País viu estarrecido uma manifestação grotesca, abjeta e vil, onde primaram o desrespeito e a falta de educação por parte de uma turba de aproximadamente 300 pessoas, a maioria jovens entre 16 e 20 e poucos anos, que agrediam com insultos e cusparadas a octogenários militares que entravam ou saíam do Clube Militar.

Chamou-me a atenção em particular a forma teatral como se manifestavam, sem perceber que serviam de idiotas úteis para interesses outros, desconhecidos deles. Não foi surpresa tomar conhecimento, depois, que os “manifestantes pela verdade” foram pagos para representar, não se sabe por quem, embora possamos imaginar. Um oficial que participou infiltrado entre os manifestantes viu e ouviu ao final da balbúrdia um homem de terno e gravata que telefonava para alguém e relatava sua satisfação com o “sucesso” do evento. Elogiava o “vigor” com que os manifestantes gritavam e mostravam ódio aos militares - embora sequer soubessem quem eles eram e muito menos quais seriam seus “feitos assassinos” - e pedia ao interlocutor que enviasse o dinheiro rapidamente para pagar pelos bons serviços prestados da turba delirante.


Coronel de Artilharia (R) Amerino Raposo Filho, integrante da Força Expedicionária Brasileira, é agredido verbalmente por "estudante" comunista que sequer sabe quem é e o que fez este herói nacional.

Na nota que escrevi antecedendo o artigo do Aluizio Amorim, me perguntava perplexa se não seria uma cena teatral aquele rapaz que aparece no vídeo deitado no chão, gritando para os policiais “eles mataram meu pai!”, uma vez que ele é muito jovem para que tal fato acontecesse no período em que os militares governaram. Com a ajuda de um grupo de amigos descobrimos que, de fato, tudo não passava de encenação. O jovem, supostamente órfão, chama-se Carlos Beltrão do Valle, tem 29 anos, cursa o mestrado de “Memória Social” e tem pai, além de uma irmã e um irmão, todos vivos, saudáveis e trabalhando.

Seu pai, o engenheiro Romildo Maranhão do Valle, foi membro do Partido Comunista Revolucionário Brasileiro (PCBR), uma dissidência guerrilheira do PCB fundada em 1964. Seu tio, Ramires Maranhão do Valle, também fazia parte da organização terrorista e foi morto em 27 de outubro de 1973, quando entrou em confronto com a Polícia, na Praça Combate, em Jacarepaguá. Ranúsia Alves Rodrigues havia sido presa naquela manhã e já no primeiro depoimento contou os vários assaltos que o bando havia praticado e que naquela noite haveria um “ponto” [1] no local acima citado. Na chegada ao ponto, Ranúsia e os policiais foram recebidos a bala, havendo o confronto no qual os quatro integrantes do Comando Central (Ranúsia, Ramires, Almir e Vitorino) morreram.

Portanto, "a família inteira assassinada pelo Regime Militar", por quem este rapaz clama no vídeo para justificar sua presença naquele ato de vandalismo, resume-se a um tio seu, que ele sequer conheceu, e que não era nenhum homem de bem, mas um terrorista morto em combate e que havia assassinado o delegado Octávio Gonçalves de Oliveira, covardemente pelas costas, numa ação conjunta com a ALN e a VAR-PALMARES, em 25 de fevereiro de 1973. Teria assassinado covardemente, também pelas costas, Salatiel Teixeira Rollins, ex-membro do Comando Central que havia saído da prisão um ano antes, em 22 de julho de 1973; participou do assalto ao Banco Francês-Brasileiro em Porto Alegre, em 14 de março de 1973; em 4 de junho, junto com a ALN e a VAR-PALMARES, do assalto ao “Bob’s” de Ipanema; e, em 29 de agosto do mesmo ano, do assalto a uma clínica médica em Botafogo, no Rio [2].

Quanto ao rapaz que desfere uma cusparada no coronel-aviador Juarez Gomes, quando saía do evento no Clube Militar, é um desocupado profissional, de 25 anos de idade, de nome Luiz Felipe Monteiro Garcez, cognome “Pato”, estudante do curso “Produção Cultural” do IFRJ desde 2010 e freqüentador do Diretório do PT no Rio de Janeiro. Seu último emprego foi um cargo comissionado de Assistente Executivo de Projetos Especiais no município de Maricá (RJ), nomeado pelo prefeito Washington Luiz Cardoso Siqueira, do PT.

Em seu blog “Pato” escreveu em 2008:

“Fiz parte do movimento estudantil secundarista. Hoje porém por culpa dos estudos acabei me afastando dele. Porém pretendo me engajar no movimento estudantil universitário” (sic). E ainda em seu mural do FaceBook ele admitiu orgulhoso, várias vezes, que cuspiu em um idoso indefeso e que sequer lhe dirigiu a palavra, e o faria de novo.

Desses dois elementos temos as fichas completas com riqueza de detalhes, mas o objetivo deste artigo é apenas demonstrar a farsa da dor dos que se manifestavam em honra de seus parentes, mortos ou desaparecidos pelos “assassinos” e “torturadores” militares que se encontravam naquele dia no Clube Militar, que, diga-se de passagem, não estavam ali para “comemorar” a data histórica de 31 de Março, mas para debater, junto com conferencistas civis, e levar ao público assistente a verdadeira história que a tal “Comissão da Verdade” quer omitir e que não são nem nunca foram acusados de crime algum.

E são dados como os citados acima que a tal comissão nega-se, peremptoriamente, não só a ouvir, mas permitir que o público tome conhecimento. Será que Carlos Beltrão conhece o passado desse seu tio, um criminoso covarde que assassinava pelas costas, sem qualquer chance de defesa, pessoas que ele considerava seus inimigos? E Luiz Felipe, conhece o que esta gente praticou e de que maneira morreu, ao defendê-las expelindo tanto ódio?

É isto que a tal “comissão” pretende: esconder a verdade dos fatos e usar, mais uma vez, jovens ignorantes e manipuláveis para servir de bucha de canhão para seus propósitos sórdidos, mas, como a mentira tem as pernas curtas, não podemos permitir que toda a população permaneça nessa ignorância defendendo bandidos sanguinários como se fossem vítimas imoladas no altar da liberdade e da democracia.



05 de abril de 2012
Graça Salgueiro

Notas:

[1] “Ponto” era o lugar combinado para os encontros, previamente acertado pelos terroristas.

[2] Conforme informações constantes do “O livro negro do terrorismo no Brasil”, pags. 767 e 768

PLANEJANDO O FUTURO DO BRASIL...

MAIS SOBRE O "EMBRULHO"

O governo lançou mais um plano de socorro à indústria, no momento em que o setor encontra-se na UTI. Mais uma vez, repete-se a sina de medidas pontuais, limitadas, sem um caráter estruturante ou capacidade de produzir algum salto relevante. O pacote tem coisas boas e novas:
infelizmente, o que é bom não é novo e o que é novo não é bom.

As medidas são a sexta tentativa, desde 2008, de ajudar a indústria a sair do poço profundo em que se encontra. A própria repetição do enredo já é capaz de sugerir que a estrada pela qual o governo petista persevera não leva a bom destino - apenas para ilustrar, a indústria já caiu 3,4% nos dois primeiros meses deste ano, informou ontem o IBGE.

Em suma, o que foi anunciado ontem pelo governo limita-se a desonerações tributárias, aumento e barateamento do crédito e incentivos a exportações. A cifra é portentosa: R$ 60,4 bilhões. Mas também enganosa: a maior parte serão novos aportes ao BNDES e uma ínfima parcela apenas, renúncia fiscal.

Para apoiar a indústria, o governo deixará de arrecadar R$ 3,1 bilhões neste ano. Parece muito? Não é: equivale a cerca de um dia de arrecadação do leão, de acordo com os números do primeiro bimestre. Não é capaz, portanto, nem de fazer cócegas. A carga tributária total continuará em alta - alguns tributos serão, inclusive, majorados agora, como o PIS/Cofins.

O grosso do pacote virá de aportes ao BNDES, para que o banco conceda financiamentos a custos menores. Serão mais R$ 45 bilhões. Com isso, subirá para R$ 285 bilhões o que a instituição recebeu do Tesouro desde 2009, de forma pouco transparente e a um custo fiscal completamente nebuloso.

Para disponibilizar estes recursos às empresas, o Tesouro os tomará no mercado a juros de quase 10% ao ano e irá repassá-los ao BNDES, que dará crédito a juro de 5,5% a 7,7%. "O plano peca por depender excessivamente do BNDES no financiamento das políticas, o que acaba sobrecarregando o Tesouro", comenta Julio Gomes de Almeida, do Iedi.

Há, como se percebe facilmente, um custo não desprezível na operação e a única forma de controlar estes gastos seria submeter ao Congresso a aprovação dos aportes ao banco - como, aliás, previa proposta do senador Aécio Neves vetada pela presidente Dilma Rousseff no ano passado.

Entre as medidas de ontem, o governo ressuscita câmaras setoriais, que, no passado, só serviram para atender lobbies, tanto de empresários quanto de trabalhadores. Também erige novas barreiras protecionistas no comércio exterior: o novo regime automotivo dará condição privilegiada às quatro mais tradicionais montadoras instaladas no país, em detrimento das demais. E permite compras governamentais com sobrepreços de até 25%.

O governo elegeu 11 dos 127 setores em que se decompõe o parque produtivo para receber os benefícios. Quem garante que escolheu os mais adequados? Mais: quem garante que não deixou de fora alguns que mais precisavam, mas cujo lobby em Brasília não foi tão eficiente?

Justamente para evitar esta arbitragem temerária, melhor seria se as medidas contemplassem toda a indústria, de forma a aumentar a combalida competitividade do setor - neste quesito, somos apenas a 53ª nação entre 142 pesquisadas pelo Banco Mundial.

"Os grandes gargalos que afetam a indústria brasileira só serão removidos com medidas horizontais, que atinjam todos os setores de forma abrangente. Nenhum país conseguiu se tornar desenvolvido sem garantir provisão satisfatória de infraestrutura, mão de obra qualificada e ambiente macroeconômico adequado", sintetiza Mauricio Canêdo Pinheiro, professor e pesquisador do Ibre/FGV, na Folha de S.Paulo.

Não será repetindo receitas carcomidas que o governo Dilma conseguirá ressuscitar a indústria brasileira, abatida por barbeiragens decorrentes das políticas adotadas pelo PT nos últimos anos. Só mudanças mais profundas, reformas estruturais, melhorias institucionais teriam o condão de catapultar, de fato, o ambiente produtivo no país. Com o que foi anunciado ontem, o voo deverá ser curto.

05 de abril de 2012
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Muito pouco para ressuscitar a indústria

ENTRE A CRUZ E O INFERNO

O PRIMEIRO GENOCÍDIO DO SÉCULO 20

A impunidade turca no genocídio armênio ajudou Hitler a justificar o Holocausto: “Quem lembra dos armênios?”, disse ele.

A Turquia segue sem reconhecer seu crime Ao entrarmos no mês de abril, a lembrança nos remete ao fatídico 24 de abril de 1915, consagrado como o dia de luto nacional para o povo armênio e seus descendentes. Essa é uma data tarjada com o sangue de 1,5 milhão de armênios chacinados pelos turcos-otomanos de então.

É preciso rememorar a perda irreparável dos mártires armênios, que representou essa hecatombe inenarrável da tragédia do genocídio de 1915, o primeiro do século 20. Os armênios foram forçados a abandonar seus lares diante da violência desumana e bárbara, executada com requintes de crueldade inimagináveis pela mente humana por ordens do governo turco-otomano.

O povo armênio, cujas raízes se estendem pelo mundo, disperso pela emigração a que fora obrigado, acabou em uma diáspora sem rumo e sem destino, ancorando nos portos dos países dispostos a acolhê-lo.

Esse genocídio, ainda impune, serviu de incentivo para que Hitler, de triste memória, ao invadir a Polônia, “justificasse” o holocausto judeu. “Quem se lembra dos massacres dos armênios?”, disse ele, em uma clara referência à impunidade dos genocidas turcos.

A atual Turquia, que deveria se redimir do crime praticado por seus antepassados, tenta falsear a verdade histórica fartamente comprovada. A Turquia é devedora do reconhecimento desse crime como reparação moral perante o mundo civilizado.

Entre os que testemunharam esse genocídio, estão abalizados diplomatas estrangeiros como o americano Henry Morgenthau, então na Turquia: “O turco julgava ter o direito de experimentar o fio de sua espada no pescoço de qualquer cristão. Os fatos ultrapassam as crueldade mais diabólicas nunca imaginadas na história do mundo”.

Morgenthau escreveu ainda que “as autoridades turcas deram uma sentença de morte para uma raça inteira. Eles entenderam isso bem e, em suas conversas comigo, não fizeram nenhuma tentativa particular de esconder o fato”.

Visconde James Bryce, da Câmara dos Lordes do Reino Unido, também escreveu sobre o assunto. “Não se registra outro fato na história, desde os tempos de Tamerlão, de crimes tão horrendos”.

Arnold Toynbee, proeminente historiador britânico, e Winston Churchill, foram outros que escreveram sobre o genocídio. Para Churchill, “não há dúvidas de que este crime foi planejado e executado por razões políticas. A oportunidade apresentou-se para eliminar do solo turco uma raça cristã”.

No Brasil, entre 70 mil e 100 mil armênios e seus descendentes, concentrados mais no Estado de São Paulo, aguardam o reconhecimento do genocídio pelo Brasil, a exemplo de Uruguai, Argentina, Rússia, França, Suécia, Vaticano, Itália, Alemanha, Venezuela, Chile e vários outros países.

A União Europeia inclusive condiciona a entrada da Turquia como membro ao reconhecimento do genocídio por ela. Na França, o Parlamento aprovou uma lei criminalizando a negação do genocídio armênio, que foi recentemente considerada inconstitucional pela Justiça do país. Esse tema foi abordado pelo professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, no artigo “A boa consciência da França”, expressando a sua infeliz opinião equivocada, que ofendeu a memória armênia ao fazer ilações irreais a favor do negacionismo. Ele deve uma retratação perante a opinião pública do país e, em especial, perante a comunidade armênia.

05 de abril de 2012
Simão Kerimian, advogado e jornalista, representa
o Conselho Nacional Armênio no Brasil.

BRASÍLIA ESTÁ DOIDA DEMAIS: 63% DAS VÍTIMAS DE ASSASSINATOS NA CAPITAL TINHAM USADO DROGAS

Reportagem de Saulo Araújo, no Correio Braziliense, revela que Brasília não é mais a Ilha da Fantasia. Ao contrário, tornou-se uma cidade como qualquer outra, violenta e cada vez mais desigual.

Um estudo detalhado do Instituto de Medicina Legal (IML) mostra que as drogas estão diretamente relacionadas aos assassinatos praticados no Distrito Federal. Exames toxicológicos apontam que 63% das pessoas mortas a tiros consumiram maconha, cocaína ou seus derivados, como o crack. O levantamento inédito, feito com base em mortes ocorridas em 2010 e divulgado agora, avaliou 369 laudos de autópsias, 79% do total de homicídios por arma de fogo naquele ano.

A análise surpreende mais ainda quando as vítimas são identificadas por faixa etária. Entre os jovens de 15 a 22 anos, 73% apresentaram traços de entorpecentes antes de serem executados, o que mostra o poder de destruição das drogas.

O trabalho revela principalmente a devastação provocada pelo crack na última década. No ano retrasado, mais da metade (53%) dos brasilienses baleados e que perderam a vida usaram substâncias ilícitas produzidas a partir da cocaína. Como a maioria era procedente de regiões carentes e violentas do DF, especialistas ouvidos pelo Correio Braziliense são enfáticos ao dizer que as pedras feitas a partir da pasta-base da coca estimulam a matança dos dependentes químicos.

No entanto, mesmo com o crack enraizado entre os mais pobres e sem instrução, é cada vez maior a incidência de viciados pertencentes à classe média. E a tendência é piorar.

05 de abril de 2012

OS MERCENÁRIOS QUE GUERREIAM NA SÍRIA

O Conselho Nacional da Síria (CNS), instituição que reúne os grupos contrários ao presidente Bashar Al-Assad, confirmou que os militares e insurretos que se rebelarem no país serão pagos com ajuda financeira de “nações ocidentais”. A decisão, tomada numa conferência realizada na Turquia no final de semana, comprova o que todos já sabiam: a interferência estrangeira neste conflito interno.

“O CNS vai se encarregar dos pagamentos dos salários fixos de todos os oficiais, soldados e outros que são membros do Exército Livre Sírio”, disse o presidente do Conselho, Burhan Ghalioun, na conferência. Segundo relato da BBC, “delegados da conferência afirmaram que os países árabes ricos do Golfo contribuiriam com milhões de dólares a cada mês para o fundo do CNS”.

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BRASIL É “OBSERVADOR”

Para o governo de Bashar Al-Assad, a conferência de Istambul reuniu os “inimigos da Síria”. Damasco garante que o levante está prestes a ser derrotado e que a ajuda externa visa dar sobrevida ao grupo rebelde. O governo sírio também criticou a ingerência dos EUA, e a secretária de Estado Hillary Clinton confirmou pela primeira vez que o governo ianque enviou equipamentos militares para os mercenários.

A conferência reuniu 83 países. Rússia, China e Irã, entre outros, não compareceram e criticaram suas decisões. Já o Brasil esteve presente como “observador”. Segundo a ONU, mais de 9 mil pessoas já morreram desde o início do conflito. As decisões da reunião na Turquia tendem a agravar ainda mais o conflito interno, elevando o número de mortos na Síria.

Para Elliott Abrams, ex-conselheiro de segurança da Casa Branca, “não há saída diplomática para a queda de Assad” e os EUA devem financiar os mercenários. Para ele, “armar os rebeldes terá também impacto político e psicológico, ajudando o moral dos rebeldes e ajudando a convencer muitos que estão em cima do muro de que realmente queremos derrubar Assad”.

05 de abril de 2012
Altamiro Borges
Transcrito do site Pátria Latina

O SISTEMA POLÍTICO BRASILEIRO, GROSSEIRAMENTE ALINHAVADO, É A CAUSA DE MUITOS DOS NOSSOS MALES

Com multipartidarismo exacerbado, voto obrigatório, voto proporcional, órgãos fiscalizadores (Tribunais de Contas da União e dos Estados, Conselho Nacional de Justiça, Advogacia-Geral da União, Procuradoria-Geral da República etc.) e o Poder Judiciário totalmente dependentes dos partidos políticos, com o Poder Executivo “refém” da base aliada etc., e principalmente existindo segundo turno, dentro do atual Sistema Político quem não pratica malfeitos e não junta dinheiro para manter os “partidos” e enfrentar as grandes despesas necessária para sua eleição?

Dentro desse Sistema, a eleição custa muito caro e quem for pego com a “boca na botija” não perde muito. Assim, a meu ver, a causa maior da impunidade do “malfeito” não é do eleitor, mas do péssimo Sistema Político vigente.

Tivéssemos um bipartidarismo, acabariam-se as bases aliadas e o tão “negociado” segundo turno, e assim o Executivo nunca ficaria “refém” de coalizões. O voto facultativo melhoraria 70% a qualidade do voto e dificultaria de 10 a 20 vezes a compra do voto. Com voto distrital puro para vereadores, deputado estadual e federal, seria muito mais barata a eleição no Distrito, e ninguém esqueceria em quem votou.

Se os órgãos de fiscalização (eleitos uns, concursados outros) fossem todos verdadeiramente independentes dos dois partidos políticos, e os três Poderes realmente independentes e harmônicos entre si, tudo melhoraria ainda mais.

O Poder corrompe e o Poder Absoluto corrompe absolutamente, por isso deve ser o mais repartido possível. Em toda sala de reuniões da administração pública deveria ter uma placa: “Quem pratica ‘malfeito’ rouba da criança pobre brasileira”.

Cada povo tem sua História, seu jeito de ser, mas adaptando-se esse Sistema, hoje grosseiramente alinhavado, melhoraríamos muito a nossa triste situação política. Pense nisso.

05 de abril de 2012
Flavio José Bortolotto

MELHOROU, PORÉM POUCO...

Escrevo, há vários anos, que a principal razão de tanto jogo aéreo e da falta de troca de passes e de craques no meio-campo, no futebol brasileiro, foi a divisão que houve, nesse setor, entre os volantes, que marcam, e os meias de ligação, que atacam.

Desapareceram os grandes armadores, defensivos e ofensivos, que ocupavam todo o meio-campo, como Xavi, Cerezo, Falcão, Schweinsteiger e outros.

Como isso ocorreu? Com o fim dos pontas, os laterais passaram a atacar mais. A maioria corria e cruzava a bola na área. Para fazer a cobertura, os técnicos colocavam um volante de cada lado e mais um terceiro, o volante-zagueiro, brucutu, cão de guarda, para atuar na frente ou entre os zagueiros.

Como os volantes só marcavam, os adversários bloqueavam o avanço dos laterais e os meias ficavam muito à frente, não havia saída de bola da defesa para o ataque. A solução foram os chutões e os cruzamentos das laterais, mesmo do próprio campo. Aumentou também a simulação de faltas para se jogar a bola na área. O jogo ficou feio e ruim.

Aos poucos, isso tem mudado. Os treinadores perceberam o erro. No esquema atual, importado da Europa, com quatro defensores, dois volantes, três meias e um centroavante, as jogadas ofensivas, pelos lados, são feitas pelos meias, com o auxílio dos laterais. Antes de atacar, têm de marcar. Os volantes, como não precisam mais sair tanto na cobertura dos laterais, voltaram a jogar mais no meio-campo.

Os volantes estão reaprendendo a jogar futebol, a trocar passes, a driblar, a tocar a bola e a avançar para recebê-la na frente. Mesmo assim, ainda não foi suficiente para aparecer um craque na posição. Isso leva tempo. Terão de ser formados nas categorias de base.

No esquema tático adotado atualmente, há também problemas. O centroavante costuma ficar isolado, sem a ajuda de um segundo atacante, ponta de lança. Se os meias pelos lados não voltarem para marcar o avanço dos laterais, os volantes ficarão sobrecarregados. Se os armadores voltarem demais, podem não ter força para chegar ao ataque.

Há, no Brasil, ótimas promessas do meio para frente. Assim como um jogador que se destaca em um time pequeno precisa atuar muito bem em um grande para ser considerado ótimo, as jovens estrelas das principais equipes brasileiras, para serem chamadas de craques, precisam, jogando no Brasil ou fora, ser protagonistas, muitas vezes, contra as melhores seleções e times do mundo.

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EVOLUÇÃO MINEIRA

Mesmo contra fraquíssimos adversários no Estadual, dá para ver que Atlético e Cruzeiro estão melhores do que no Brasileirão 2011. As duas equipes têm uma maneira definida de jogar, com algumas variações. Os titulares e os principais reservas, que entram em todos os jogos, já são conhecidos.

No Atlético, é nítida a evolução de André e de Guilherme, que, aos poucos, voltam a jogar no bom nível que tinham, respectivamente, no Santos e no Cruzeiro. Os dois, com características diferentes, se completam. Guilherme é criativo e possui boa técnica. Falta a ele mais mobilidade. André sabe jogar nos pequenos espaços, perto e dentro da área. Finaliza muito bem, é rápido e usa, de forma eficiente, os pés e a cabeça.

05 de abril de 2012
Tostão
(Transcito do jornal O Tempo)

MAIS GENIALIDADE DE MILLÔR FERNANDES, O LIVRE-PENSADOR

Em boa hora, o comentarista Luis Paulo Azevedo nos envia mais pensamentos do genial Millôr Fernandes, um mestre multifacetado que está fazendo muita falta nesse deserto de homens e idéias em que o Brasil está se transformando.

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DICIONÁRIO DO MILLÔR

• Abacate: Com açúcar, é considerado a fruta mais doce do Brasil.

• Academia: Organização fundada, dizem, por Platão e seus amiguinhos filósofos, quando encontraram um jardim (de Academus, claro) onde podiam ensinar, sobretudo à garotada, altas ideias, e gostosas marginalidades. (Vide Sócrates. Ou não vide.)

• Ano: Trezentos e sessenta e cinco dias. E seis horas de lambuja.

• Antropometria: Se Protágoras estava certo quando dizia (num desvairado antropomorfismo) que o homem é a medida de todas as coisas, então o pênis dele era o sistema métrico.

• Crase: “A crase não foi feita pra humilhar ninguém.” (Ferreira Gullar) A crase não existe no Brasil. É uma invenção de gramáticos. Nunca ouvimos ninguém falando com crase.

• Descrente: Indivíduo que crê piamente na descrença.

• Especialista: O que sabe cada vez mais sobre cada vez menos. Com a descoberta da nanociência, infinitamente menos sobre infinitamente mais.

• Fé: Está bem que você acredite em Deus. Mas vai armado.

• Grafite: “Eu odeio grafites!” (Grafite em Roma)

• História: Uma coisa que não aconteceu contada por alguém que não estava lá.

• Ideologia: Bitola estreita para orientar o pensamento. Não existe pensador católico. Não existe pensador marxista. Existe pensador. Preso a nada. Pensa, a todo risco. A ideologia leva à idolatria, à feitura e adoração de mitos. E, finalmente, ao boquete ideológico.

• Justiça: Sistema de leis legalizando a injustiça.

• Lapidar: Verbo antigamente usado para atirar pedras em mulheres
adúlteras. Hoje, desmoralizado no ocidente como punição, serve como prêmio e alto elogio: “Teu artigo, escritor, é lapidar”. Também usado nos cemitérios (nas lápides) para elogios fúnebres. Não há canalhas nos cemitérios.

• Medida: “Todo homem nasce duas doses abaixo do normal.” (Humphrey Bogart)

• Meyer: Bairro do Rio de Janeiro. Quando nasci, o Meyer era o umbigo do mundo. Vivíamos com a consciência, inconsciente, de que nunca teríamos que abandonar o bairro e a cidade (como muito mais tarde eu iria aprender que era o normal na maior parte das cidades pobres e tristes do Brasil) para sobreviver.

• Ofensas: “O perdão às ofensas é uma grande virtude.” (Moralismo tedioso de Machado de Assis. Do livro Pensamentos e reflexões de Machado de Assis)

• Pão: O pão que o diabo amassou. Expressão incompreensível pois em nenhum lugar da Bíblia ou da História se diz que o Diabo era padeiro.

• Propaganda: A madrasta da prostituição.

• Televisão: Maravilha tequinológica que levou ao extremo o barateamento da popularidade. Criando a glória prêt-à-porter.

• Variante: O gay põe sempre o carro adiante dos boys.

05 de abril de 2012

MARTA SUPLICY SERÁ EMBAIXADORA DO BRASIL EM WASHINGTON

No Itamaraty ninguém gostou da notícia que circulava na noite de quarta-feira, em Brasília, sobre a próxima nomeação da Senadora Marta Suplicy para o cargo de Embaixadora do Brasil em Washington.

Ultimamente vinha sendo respeitada a regra da nomeação de diplomatas de carreira para nossas mais importantes missões no exterior. Mas parece que a presidente Dilma Rousseff gosta de surpreender.

“Fazer o quê?” – comentou, desolado um embaixador, no fim da noite em um celebrado restaurante da capital, enquando saboreava calmamente seu último whisky.

05 de abril de 2012
José Carlos Werneck

TERMINA HOJE O PRAZO PARA O MINISTRO FERNANDO PIMENTEL SE EXPLICAR NA COMISSÃO DE ÉTICA DO PLANALTO

Como dizia o genial publicitário e compositor Miguel Gustavo, “o suspense é de matar o Hitchcock”. Acaba hoje o prazo concedido pela Comissão de Ética Pública da Presidência para que o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, explique o faturamento recebido com consultorias a empresas e entidades, entre 2009 e 2010.

Como se sabe, essas “consultorias” podem configurar tráfico de influência, no melhor estilo do também “consultor” Antonio Palocci, que perdeu o cargo de ministro e a dignidade, por conta de determinadas “consultorias” mal explicadas.

A diferença entre os dois casos de tráfico de influência, é que Palocci sempre se recusou terminantemente a revelar quais eram as empresas às quais prestava a tal “consultoria”, enquanto Pimentel de pronto liberou essas informações, julgando que iria se livrar de investigações, mas se enganou redondamente, como se dizia tempos atrás.

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A DENÚNCIA

Em dezembro do ano passado, O Globo revelou que entre 2009 e 2010 Pimentel faturou R$ 2 milhões, com consultorias. Metade desse dinheiro foi pago pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), por serviços de consultoria na elaboração de projetos na área tributária e palestras nas dez regionais da entidade. As palestras nunca ocorreram. Pimentel simplesmente mentiu. E as demais consultorias jamais foram bem explicadas.

De lá para cá, o ministro vem fugindo da imprensa para tentar se manter no cargo, beneficiado pela estranha e questionável decisão da presidente Dilma Rousseff, que na época do escândalo resolveu preservá-lo, alegando que o governo não teria a ver com o procedimento de Pimentel antes de assumir o ministério, vejam a que ponto de desfaçatez chegamos.

Assim, tudo aparentemente corria bem para Pimentel, que vive pelo mundo participando de eventos relacionados ao comércio exterior. Até que na terça-feira da semana passada, surpreendentemente, a Comissão de Ética Pública da Presidência decidiu não somente investigar o caso de Pimentel, mas também pedir esclarecimentos diretamente ao ministro, a respeito de consultorias supostamente prestadas antes dele integrar o governo Dilma Rousseff.

A decisão da comissão foi apertada, com três conselheiros votando contra o pedido de esclarecimento – Américo Lacombe, Roberto Caldas e Padre Ernanne – e três a favor: Marília Murici, Fábio Coutinho e o presidente do colegiado, Sepúlveda Pertence. Diante do empate, Sepúlveda deu o voto de minerva, dando prosseguimento ao processo contra Pimentel.

A decisão de investigar Pimentel foi um espanto. Afinal, o que mudou nessa Comissão, que em decisões anteriores inocentou o então ministro Antonio Palocci e aplicou punição apenas simbólica à ex-ministra Erenice Guerra, que pode inclusive exercer cargo público?

“Decidiu-se, pelo meu voto de minerva, encaminhar pedido de informações e esclarecimentos ao ministro. Em síntese, embora correto, ao meu ver, o voto do conselheiro Roberto Caldas, de que em linha de princípio atos anteriores à investidura do ministério não são competência da Comissão de Ética, alude o próprio voto a situações excepcionalíssimas, em que atos anteriores possam comprometer a autoridade e exigir providências da Comissão de Ética, pelo menos no papel de conselheira da presidente da República”, explicou o presidente da Comissão, Sepulveda Pertence, que ao que parece está pretendo resgatar sua biografia.

Segundo Sepúlveda, a comissão ainda não entrou no mérito se as denúncias são procedentes ou não. O ministro Pimentel ganhou dez dias para dar explicações à Comissão, e o prazo termina hoje, Mas como diz a canção de Marino Pinto e Zé da Silva, Brasília tem razões que a própria razão desconhece, e hoje é véspera de feriado prolongado na Semana Santa.

Portanto, pode ser que Pimentel ganhe tempo até segunda-feira, aproveitando para rezar bastante e se preparando para depois pedir perdão ao Papa por esse pecado capital chamado Cobiça.

05 de abril de 2012
Carlos Newton

SOBRE O CAPITAL-MOTEL

A presidente Dilma viaja domingo para os Estados Unidos. O contencioso é grande, mas, pelo jeito, sua conversa com o presidente Obama começará pela reclamação diante do capital-motel. Não dá para o Brasil continuar recebendo milhões de dólares de tarde, verificar que eles passam a noite e vão embora de manhã levando montes de juros, sem ter contribuído para criar um emprego nem forjar um parafuso. Como o americano certamente replicará que somos nós que mantemos os juros em patamares estratosféricos, além de depender apenas do Brasil exigir prazo para a permanência do capital estrangeiro entre nós, espera-se a tréplica da nossa representante.

Certamente Dilma dirá que os juros estão baixando e mais baixarão. Mas terá como participar a taxação dos dólares que nem imposto de renda pagam? Ou a decisão de que a partir de agora vamos exigir a permanência mínima do dinheiro especulativo?

A farra do capital-motel vem dos tempos de Fernando Henrique e não há sinal de sua interrupção. A equipe econômica sustenta que para continuarmos sendo a sexta economia do mundo, não podemos passar sem a colaboração dos especuladores.

Aguarda-se para saber como a presidente desatará esse nó. Em pleno século XXI seria anacrônico mandar fechar os motéis… Num aspecto Dilma e Obama concordarão: está no crescimento, não na recessão, a saída para a crise que assola a Europa, já chegou aos Estados Unidos e avidamente olha para o Brasil. Comprimir salários, interromper investimentos sociais e estimular o desemprego são fórmulas de banqueiros alemães.

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PEDRINHAS NA BOCA

Demóstenes, o da Grécia, era gago e padecia de outro tique nervoso que o fazia levantar subitamente o ombro direito, nas horas mais inesperadas. Para curar a gagueira, ensaiava seus discursos com algumas pedrinhas na boca. Para interromper o movimento no ombro, mandou pendurar no teto uma lança voltada para a cadeira onde costumava trabalhar. Depois de algumas espetadelas e de haver engolido umas tantas pedrinhas, ficou curado.

O Demóstenes de Goiás, agora sem partido, precisa encontrar rápido uma forma para evitar a cassação de seu mandato. Não dá para demonstrar que Carlinhos Cachoeira o vinha chantageando, muito menos provar serem falsas as gravações de suas conversas com o meliante. Inócuo seria jogar barro no ventilador e denunciar colegas senadores envolvidos em práticas semelhantes às suas. Subir à tribuna do Senado para reconhecer seus erros, sem negá-los, pode ser a melhor solução.

05 de abril de 2012
Carlos Chagas

DILMA DISPARA NO IBOPE: DERROTA O GOVERNO, A OPOSIÇÃO E ATÉ O PT

O título acima, a meu ver, é a síntese da realidade que a pesquisa do IBOPE-CNI descortinou na quinta-feira nas páginas de O Globo, Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo. Na noite da véspera, fora revelada nos pontos principais pelo Jornal Nacional e o da BAND. Ela atingiu aprovação pessoal da ordem de 77%. Acima da atribuída a seu próprio governo que ficou em 56 pontos. Que dirá em cotejo com a oposição? Esta, inclusive, com trágico episódio Demóstenes Torres, praticamente deixou de existir.

Que poderiam dizer os números relativamente ao PT? Principalmente quanto à corrente que se propõe a seguir a liderança de José Dirceu. Esta, os jornais publicaram, encontra-se no comando da campanha de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo.

O levantamento do IBOPE foi bem focalizado no Globo por André de Souza. No Estado de São Paulo por Andréa Viana e Ricardo Brito. Na FSP por Bruno Costa. No Globo, a foto que acompanha a matéria é de Gustavo Miranda.

Mas eu disse que a presidente da República superou, de uma vez só, três obstáculos. Sua projeção positiva (77%) é maior que a de seu governo, 56%. Arrasou a oposição e, por fim, demonstrou que o PT necessita mais dela do que ela do PT. Este aspecto é mais importante do que possa parecer à primeira vista. Possui implicações no julgamento do escândalo do mensalão cujo início está marcado para o próximo mês de maio. Está em cima.

Vamos lá. A pesquisa que o Instituto realizou para a Confederação Nacional da Indústria acentua a existência de insatisfação, e até reprovação, para setores essenciais da administração, como os de Saúde, Educação, Segurança Pública e o referente aos Impostos. Exceto quanto aos tributos, em relação aos quais todo mundo é contra, os demais são bem elucidativos.

Enquanto o governo venceu por 56 a 8, com 34% de neutros e 2% não opinando, a Educação obteve índice de 49 contra 46 pontos. As cartilhas editadas pelo MEC foram um descalabro. A pergunta a respeito da Saúde, vale frisar, dá margem a confusões, já que as respostas múltiplas abrangem naturalmente tanto a área federal, quanto as esferas estaduais e municipais.

No Hospital Salgado Filho, Prefeitura do Rio, morreram em 2010 quarenta por cento dos pacientes internados no CTI. Não vale a pena nem sublinhar este desastre. Poderão os leitores perguntar qual a explicação do êxito em torno de Dilma Rousseff. São aspectos bastante concretos. A taxa de desemprego, por exemplo. O desemprego está situado na escala de 5,7 pontos. Com FHC era de 12,65. Com Lula 7%. A mão de obra ativa do país é formada por 1000 milhões de pessoas.

A inflação. Recorremos à memória do IBGE: com FHC, oito anos, bateu 110%. Com Lula, grande leitor de Dilma, caiu para 56%. Com a atual presidente, em 2011, foi de 6,3. Não assustou. Os salários passaram a ser reajustados por esta tabela, sendo que o mínimo, este ano, por 14%.

A opinião pública – a pesquisa assinala – passou a sentir firmeza na presidente em sua disposição de governar, decidir e até demitir. O crédito, apesar de os juros do mercado estarem na estratosfera, foi e continua muito elástico e de acesso generalizado. São estes, para mim, os pontos que conduziram ao resultado positivo. Além da preocupação em fortalecer a mulher.

Mas eu disse, no início, que ela derrotou o próprio governo, a oposição e o PT. Claro. O Partido dos Trabalhadores, como legenda, perdeu para ela. E, por uma ação reflexa, o que é inevitável na política, proporcionou melhores condições do STF para julgar os réus do mensalão de 2005. Os números do IBOPE revelaram o que não é muito visível, mas é real. Dilma Rousseff não depende do PT para se firmar. Muito menos dos acusados pelo mensalão. Se estes forem condenados, politicamente melhor para ela.

05 de abril de 2012
Pedro do Coutto

HISTÓRIAS DO JORNALISTA SEBASTIÃO NERY

A estação de Ludmila
MOSCOU – Ludmila era interprete, jovem e bela. Falava espanhol e português, no Festival Mundial da Juventude, aqui em Moscou, em 1957. Tinha uma mãe em Moscou, um irmão em Praga e um avô no Cáucaso.

Acabado o Festival, onde a havia visto umas três vezes, mas muito rapidamente, destacaram-na para acompanhar-me como tradutora em debates e palestras em Moscou, na Universidade da Amizade dos Povos . No fim dos debates, almoçávamos ou jantávamos juntos. Cada dia mais debates, cada dia mais juntos. Falávamos de tudo, sobretudo de nós, que tínhamos exatamente os mesmos 25 anos e os mesmos sonhos. Quando eu passava para a política soviética, ela sorria um sorriso enigmático e calava. Estava profissionalmente impedida de avançar o sinal politico. Ela não avançava, avancei eu.

Já me desmanchando de encantos, depois de um doce jantar no restaurante do hotel “Ukraina”, para onde me transferiram depois do Festival, porque o hotel Zariá estava ocupado pelos estudantes da Universidade, pedi ao garçon duas vodcas e um bloco.

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PAPOULAS

Escrevi ali um poema, se é que podia chamar de poema. Era um beijo gráfico, quente e túmido como os beijos de amor : “Rosa de Moscou”. Falava dos jardins de papoulas que cobriam Moscou naquele outono: – “Papoula / flor do ópio / flor do amor / embriagas os deuses / mas nada / embriaga tanto / quanto / a rosa de Moscou”. Ficou com ela, não lembro o resto. Pediu para eu assinar, assinei : – “Para Ludmila, minha Rosa de Moscou”.

Ela não podia subir a meu apartamento, eu não podia ir à casa da mãe dela e dela. Mas nunca mais fomos os mesmos.

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STALIN

Numa outra noite mágica, caminhando depois do jantar no jardim de papoulas perto do hotel, Ludmila começou a cantar “Móscova Vétchera” (“Tardes de Moscou”) e pela primeira vez me levou à sua casa. O avô estava doente, sua mãe fôra para o Cáucaso. A casa, nos subúrbios de Moscou, pequena e ajardinada, era nossa para o fim de semana. E de metrô. Na sala, emoldurado e pendurado, meu “Rosa de Moscou” para ela. Ludmila não falava do pai. Eu perguntava, ela ficava calada, os grandes olhos caucasianos parados, longe. Insisti, disse apenas:

- Morreu. Era jornalista, como você.

E chorou devagarinho. De madrugada, já quietos de amor, forcei : – Seu pai morreu de que?

Ludmila passou a mão embaixo do queixo, como se fosse uma navalha, fez uma cara de horror e disse baixinho : – Stalin.

E dormiu chorando em meus braços a saudade do pai assassinado por Stalin. As lagrimas de Ludmila lavaram o que me restava de comunismo.

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O TREM

No fim de semana em Moscou, voltamos à casinha pequena e ajardinada. Pela terceira vez. O avô de Ludmila nunca mais voltou do Cáucaso. Morreu lá, sem ela revê-lo. Prometi jamais escrever-lhe nem falar em seu nome no que escrevesse ou publicasse. Perderia emprego, carreira, quem sabe a liberdade. Guardei minha “Rosa de Moscou” só para mim. Quando Ludmila apareceu no hotel de manhã, com o bilhete na mão, para levar-me até a estação ferroviária, meu coração vacilou. Sabia que ia perdâ-la para sempre. Aquele era um mundo que engolia as pessoas. Como poderia dar-lhe um beijo de despedida? Queria, mas não devia. Percebeu:

- Não fique triste assim, que ainda vai ser pior para mim do que já é. Não falta muito para eu perder você. Nunca pensei que aquele jantar, aquele poema, aquelas noites, fossem fazer comigo o que fizeram. Se eu pudesse, sumiria com você. Mas não vamos estragar nosso ultimo almoço. Marquei seu trem para o fim da tarde. Vamos almoçar em um restaurante pequeno, muito bonitinho, perto da ferroviária. Juro que não vou chorar.

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O BEIJO

E chorou. No fim, brindamos nossa devastadora e silenciosa dor como Stalin brindava com Churchill. Com um conhaque da Geórgia. Quando o trem deu o segundo aviso de partida, fraquejei : – Perdão, não resisto, vou lhe dar um beijo.

- Dê, meu amor, mas rápido. Aqui há olhos de todo lado.

Nunca mais a vi. Em 1990, Adido Cultural em Paris, vim a Moscou para tentar descobri-la. Impossível. Cada esquina continuou uma fantasia. Um pedaço de mim está até hoje naquela estação de Ludmila.

05 de abril de 2012
Sebastião Nery