"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sábado, 7 de julho de 2012

IZQUIERDA CAVIAR DE VISITA EM CARACAS

 

Entre los invitados especiales a los actos con motivo del 05 de julio, se encontraron prominentes figuras de la más refinada izquierda internacional participantes en el Foro de Sao Paulo reunido en Caracas.
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07 de julho de 2012

LULA ENTRA EN CAMPAÑA ELECTORAL VENEZOLANA




Ex presidente brasileño, en video presentado en Caracas, dijo que el Foro de Sao Paulo hoy en día gobierna "en un gran número de países". Ofreció el apoyo del partido PT a Chávez y aseguró que "tu victoria será nuestra victoria".
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07 de julho de 2012

OS ALIADOS OCIDENTAIS, OS JUDEUS E ISRAEL


          Artigos - Cultura  Em artigo anterior estudei as atitudes de Stalin, cabe agora ver como foram – e ainda são – as relações dos países supostamente aliados de Israel e seus vizinhos no Oriente Médio. A relação é também bastante perturbada. Há tempos venho abordando a ambigüidade americana e européia, principalmente após a posse de Obama, culminando no expressivo apoio à chamada “primavera árabe” que, como já se antevia desde os primeiros passos, está entregando o poder ao fundamentalismo islâmico e ao mais radical fanatismo judeófobo e anti-ocidental. Tomando-se em consideração o Egito, a Fraternidade Muçulmana é um movimento abertamente antijudaico, talvez o mais importante do mundo atualmente, desde seu apoio à Alemanha nazista. É inaceitável que possa ser considerado ‘moderado’.

Apesar de falar bonito, principalmente para audiências judaicas, nenhum outro presidente americano, Jimmy Carter incluso, foi tão desinteressado em relação a Israel e incapaz de entender sua verdadeira natureza e interesses. Os próprios líderes de Israel não confiam em Obama, embora para efeito externo digam que sim.

Numa excelente análise, Barry Rubin demonstra que mesmo as boas relações bilaterais, inclusive no que se refere a armamentos têm muito pouco a ver com Obama, pois o Congresso, o povo, as forças armadas americanas apóiam Israel e Obama está limitado em suas opções. Mesmo assim tentou o quanto pôde apoiar as pretensões ‘palestinas’ e pressionar Israel a aceitar suas exigências, mas sentiu-se forçado a recuar por total falta de reciprocidade. Rubin declara: “Note-se que nem mesmo com as repetidas humilhações a que foi submetido pelos árabes, nunca os criticou abertamente, nem o fez mudar sua política para a região ou apoiar Israel mais entusiasticamente”.

Suas atitudes em relação aos demais países anti-Israel, através da sua política regional de apaziguamento com os países árabes, o Irã e principalmente com a Turquia, bem como com os movimentos terroristas Hezbollah e Hamas só tem ajudado a fortalecer o antissemitismo endêmico no Oriente Médio.

Internamente, além de mentir descaradamente ao afirmar que o Islã teve forte influência na formação dos EUA, suas políticas estimulam professores universitários a ensinar uma falsa história de Israel e do Oriente Médio, como faz o professor de ciência política Farhad Malekafzali, da Universidade de Illinois: um entusiasta das falsas teses orientalistas de Edward Saïd mostra Israel como o malvado, que rotineiramente ataca os árabes, suas vítimas. Esta visão já é a predominante na maioria das universidades americanas.
Mas esta situação tem uma longa história, iniciada já quando do lançamento do movimento sionista. Oportunamente retornarei a estes primeiros tempos.

Durante os anos finais da II Guerra, quando já se conhecia muito bem o Holocausto, Stalin, Churchill e Roosevelt se reúnem na Conferência de Moscou de outubro de 1943. No documento que resultou deste encontro, a Declaration Concerning Atrocities, os judeus e o Holocausto sequer foram mencionados. Apesar dos líderes terem perfeita noção do extermínio em massa de judeus, o Holocausto foi tratado somente como mais um aspecto da ocupação alemã e nenhum deles o via como uma razão em si para guerrear contra a Alemanha nazista! Houve uma concordância tácita em sequer citar o morticínio seletivo, como se não tivessem sido os judeus os mais prejudicados.

A “questão judaica” não era apenas uma questão alemã ou soviética, mas também nos países aliados ocidentais a presença do anti-semitismo obstruiu o julgamento dos crimes de guerra. Parece ter havido uma concordância entre a necessidade comunista de ocultar suas políticas de extermínio, principalmente na Ucrânia, Polônia, Bielo-Rússia (hoje Belarus) e países do Báltico, e a onda de anti-semitismo que arrastou, durante a ocupação, França, Bélgica, Holanda e países da Europa Oriental tornando-os colaboradores voluntários dos nazistas na “Solução Final”, embora nominalmente inimigos da Alemanha. Esta distinção é importante: havia uma guerra entre países, mas uma tácita aliança anti-semita.

Nos documentos do Julgamento de Nüremberg, especialmente o Case nº 72 [1] vemos o degradante trecho:
“Alguns campos de concentração possuíam câmaras de gás e fornos crematórios para o extermínio em massa dos internados e queima dos corpos. Alguns deles eram de fato usados para o extermínio de judeus como parte da ‘solução final’ dos problemas judaicos. A maioria de não judeus eram submetidos a trabalhos forçados, embora as condições sob as quais trabalhavam tornavam trabalho e morte praticamente sinônimos. Os internados que adoeciam e ficavam incapazes de trabalhar, eram destruídos nas câmaras de gás ou enviados para enfermarias especiais onde recebiam tratamento inadequado, comida ainda pior do que para os que trabalhavam, e abandonados para morrer”. (United States Military Tribunal, Nüremberg, 30th December, 1947- 28th October 1948, Parte VI – [Crimes against Civilians])
É de ressaltar que a ‘solução final’ é tratada apenas como um assunto acessório e periférico.

PARTE II
Ao mesmo tempo em que aumentavam as tensões entre estados na virada do século, conflitos fundamentais vinham à superfície em virtualmente todas as áreas das ações e comportamentos humanos: nas artes, na moda, nos costumes sexuais, na política e no conflito de gerações.

 Modris Eksteins, na obra Rites of Spring

O surgimento do movimento modernista na Alemanha aumentou as tensões com a Inglaterra, a grande potência conservadora da época. O Império Britânico, ‘onde o sol nunca se punha’ e o longo reinado de Victoria (1837-1901) propiciaram ao Reino Unido a condição de Império ‘onde tudo tem lugar e cada coisa no seu lugar” (1).

Com o movimento modernista as coisas como que saíram dos seus lugares, além de que a Alemanha há pouco unificada, foi profundamente modificada pela Kulturkampf que opôs o nordeste, a Prússia Luterana, e a Baviera Católica, ao sul. Embora Bismarck tivesse que retroceder pela vitória nas eleições do Partido Católico de Centro, a Prússia tornou-se a verdadeira potência por suas tradições militares. Bismarck hesitava em implementar as pretensões do Kaiser Guilherme I no sentido de tornar a Alemanha uma potência mundial através da aquisição de colônias ("um lugar ao sol"). Bismarck desejava de todas as maneiras evitar tensões com as potências européias que ameaçassem a segurança da Alemanha. Mas quando, entre 1880 e 1885, o quadro internacional se mostrou auspicioso, acedeu, estabelecendo-se colônias ultramarinas na África (Tanganika, hoje Tanzânia pela união com Zanzibar, e África do Sudoeste, hoje Namíbia, e na Oceania, aumentando as ameaças sobre o Império Britânico. O sucessor de Victoria, Edward VII (1901-1910) reforçou os laços com a França criando um corpo expedicionário para se engajar do lado da França em caso de ataque alemão.

Portanto, estavam criadas as condições culturais e estratégicas para um conflito. Segundo Eksteins, se para a Alemanha era um conflito espiritual, para os ingleses era uma luta para preservar valores sociais, exatamente aqueles valores e ideais que a avant garde atacava: noções de justiça, dignidade, civilidade, contenção e ‘progresso’ sob o império das leis. Lloyd George viria a dizer em 1914: ‘Temos vivido por várias gerações num vale protegido. Temos vivido de forma muito confortável e auto-indulgente e a face dura dos fados nos castiga agora, forçando-nos a nos elevar para poder ver os grandes e eternos valores que interessam a uma nação – os valores elevados que esquecemos: a Honra, o Dever, o Patriotismo e o Sacrifício que aponta o duro caminho para o Céu’ (Eksteins, ibid.).

A virada de século foi conturbada para todo o planeta. As duas primeiras décadas do século XX foram marcadas por diversas crises, entre as quais as mais importantes foram (2):1905 – I Crise do Marrocos, 1908 – Crise Bósnia, 1911 – Agadir e II Crise Marroquina, 1929 – A Guerra de Trípoli, 1912 – I Guerra dos Bálcãs, 1913 – II Guerra dos Bálcãs, 1913 - Crise da Albânia, 1913 – O Caso Liman Von Sanders (tenente-general alemão designado Inspetor Geral do Exército Turco, sob protestos da Rússia), 1914 – Sarajevo e I Guerra Mundial.
Acordos e tratados durante a guerra e pós-guerra imediato

Sem dúvida a maioria dos acordos diplomáticos durante o período de guerra dizia respeito à disposição dos territórios do Império Otomano logo após a prevista derrota. Desde o início do conflito, tanto Inglaterra e França, quanto a Alemanha, tentaram ganhar a simpatia das lideranças árabes e catalisar o crescente nacionalismo árabe sufocado pelo Império Otomano que explodiu durante a guerra. Os planos alemães foram frustrados por seu aliado otomano que não tinha a mínima intenção de aceitar nenhuma independência. A Inglaterra e a França encorajavam os árabes a se rebelarem contra a autoridade do Sultão, ou, ao menos se abster de apoiar suas campanhas.

Em 1915-16, o alto comissário inglês no Egito, Sir Henry McMahon entrou em negociações com o sheriff de Meca Hussein ibn Ali. A chamada Correspondência McMahon-Hussein garantia a independência dos territórios árabes desde que estes se aliassem à Inglaterra contra os turcos. Mas em 1916 britânicos e franceses firmam secretamente o Tratado Sykes-Picot no qual previam a divisão do Oriente Médio em: (1) áreas controladas diretamente por cada um dos dois países, (2) áreas de influência e (3) mandato misto na Palestina. Não haveria a menor chance de independência árabe. No entanto, o pano de fundo das relações franco-britânicas continuava sendo a desconfiança mútua que persistia desde as Guerras Napoleônicas. Ambos os países, e também a Rússia e a Alemanha, manobravam ainda em 1914 para conseguir influência nos Bálcãs e no Império Otomano que estava falido. Naquele mesmo ano a França emprestou ao Império a fundo perdido, milhões de francos de seus contribuintes. Enquanto a Alemanha e a Inglaterra brigavam pelos direitos de construção da Baghdad Railway (3).

A aliança franco-britânica, tão propalada pelos vencedores da guerra, vacilava quase ao início desta. Edward Grey, secretário para Negócios Estrangeiros afirmava perante o gabinete que ‘sob nenhuma circunstância a Inglaterra toleraria o esmagamento da França’, mas em 11 de junho, pouco tempo antes do início da guerra, afirmava na Câmara dos Comuns: ‘se começar um conflito entre as potências européias, não há nenhuma negociação secreta decidindo sem consulta ao Parlamento se a Inglaterra participará do conflito e, na minha opinião, não deveríamos participar’. Mentiu descaradamente, o que encorajou a Alemanha a aliar-se ao Império Austro-Húngaro (id. ibid.) e iniciarem o conflito.
Dois outros fatores foram importantes: (1) o clima generalizado de conflagração que tomou conta da Europa nestas primeiras décadas e (2) a Declaração Balfour de novembro de 1917.
Ambigüidades, indefinições e traições

Já comentei antes que a Declaração Balfour (4) foi extremamente ambígua ao não falar da criação de uma Pátria Judia, mas sim de um lugar onde os judeus poderiam regular sua convivência com as comunidades não judias da área. Deve-se ressaltar que ela não era nem um acordo, nem uma promessa de um estado Judeu na Palestina nem que a Palestina seria judia, mas somente uma declaração unilateral propondo um lar judeu na Palestina.

A Declaração deixou Hussein apreensivo, no que foi apaziguado pelo governo britânico de que ‘o assentamento judeu na Palestina somente ocorrerá se for consistente com a liberdade política e econômica da população árabe’ (5). Na Conferência de Paz de Paris, em 1919, ocorreu o primeiro encontro entre as lideranças sionista e árabe. Chaim Weizmann, que sucedera Theodor Herzl no comando do movimento Sionista, se reúne com o sucessor de Hussein e firmam o Tratado Weizmann-Faisal, no qual é reconhecida a ascendência comum e a necessidade dos dois povos viverem em paz. Hussein, com muita clarividência, condicionou o Tratado ao cumprimento, por parte dos britânicos, da correspondência McMahon-Hussein, o que já estava previsto que nunca aconteceria pelo Sykes-Picot, que lhe era desconhecido, mas de cujas intenções provavelmente desconfiava por conhecer bem a deslealdade de ingleses e franceses. Assim, a primeira grande chance de entendimento entre árabes e judeus foi perdida pela traição britânico-gaulesa.

Quando a Liga das Nações concede o Mandato para a formação de um estado judeu na Palestina, os ingleses logo disseram que a Declaração Balfour não era bem assim e a re-interpretaram.

A ambigüidade levou as próprias autoridades britânicas - signatárias dos tratados, inclusive o Tratado de Sèvres (6) fixando as novas fronteiras da Turquia -, impedissem o desembarque de navios de refugiados judeus que eram internados em campos provisórios em Chipre.

Na realidade, os diversos acordos, declarações e tratados eram tão incompatíveis entre si, além de ambíguos e indefinidos, que criaram uma imensa confusão em todos os participantes, sem dúvida muito maior nos que mais dependiam de seus resultados: judeus e árabes. As ambigüidades eram evidentes, segundo Quigley:

Existe um claro contraste entre a avareza imperialista dos acordos secretos como o Sykes-Picot e o tom altruísta das declarações públicas, há também um evidente contraste entre a forma dos britânicos negociarem as disposições na Palestina com os judeus e com os árabes, fazendo com que ambos se sentissem justificados em acreditar que a Inglaterra conduzia a seu favor as ambições naquela área. Esta crença, seja ela baseada em mal entendidos, ou em farsa deliberada, serviu posteriormente para desmoralizar os britânicos aos olhos de ambos os grupos. Como conseqüência, Hussein iniciou uma revolta contra a Turquia em 1916, recebendo um subsídio de £ 225.000 mensais dos britânicos.

Em minha opinião, baseado nestas negociações e na atitude britânica posterior (1938) em relação à Checoslováquia, o que houve foi farsa deliberada. Os árabes estavam desarticulados entre inúmeros sheiks, sendo os principais Hussein e Ibn Saud, fundador da dinastia saudita. Uma Comissão de Inquérito Americana, conhecida como Comissão King-Crane (1919), nomeada por Woodrow Wilson, sugeriu: (1) o abandono do apoio americano à causa sionista, (2) severa restrição à imigração judia e (3) um governo americano ou britânico para a Palestina. Finalmente, a Conferência de San Remo entre as grandes potências decidiu que o Reino Unido receberia o mandato da Palestina (inclusive a Transjordânia) e do Iraque, enquanto que a França ganhava o controle da Síria, inclusive o atual Líbano. Em linhas gerais, a conferência confirmou os termos do Acordo Sykes-Picot e contrariou a Declaração Balfour e as promessas de independência árabe. À ambigüidade e à mentira somava-se a imprecisão, pois as fronteiras entre aqueles territórios não foram especificadas.

Parte III

O Colonial Office, o Milner Group e os ‘White Papers’

O Milner Group foi derivado da Secret Society of Cecil Rhodes, o milionário explorador da África do Sul de cujo nome foi derivado Rodésia. O grupo dominou o The Times, fundou o The Round Table, seu porta-voz, teve grande influência na fundação da British Commonwealth of Nations e da Liga das Nações, fundou o Royal Institute of International Affairs (RIIA) e seu ramo americano, o Council on Foreing Relations (CFR) (7).

O Colonial Office era dominado por nomes ligados ao Milner Group, ao qual pertencia Lord Balfour e a maioria dos representantes britânicos na Conferência de Paz de 1919, assim como a cúpula do Partido Conservador, e de onde partira a idéia dos Mandatos. Era simpático aos judeus e às suas legítimas aspirações, mas seu contato maior era com os árabes, pelos quais se sentiam particularmente atraídos, embora nunca se inclinassem ao romantismo pró-árabe de T. E. Lawrence (Lawrence da Arábia).

Carroll Quigley (AAE) afirma que a declaração deveria ser chamada de Milner Declaration, e não Balfour, pois Milner era o verdadeiro redator e seu principal apoio no Gabinete de Guerra, fato que só veio a público através de um discurso de Ormsby-Gore nos Comuns: ‘a redação originalmente apresentada por Lord Balfour não era a redação final aprovada pelo Gabinete de Guerra (...) esta última foi a redação de Lord Milner que teve que ser (por razões de precedência) emitida em nome do Secretário dos Assuntos Estrangeiros’.

No entanto, havia certa relutância em apoiar a causa sionista mais concretamente, baseada, segundo Quigley (op. cit.), em dois fatores: (1) o sentimento de que não seria justo permitir que a minoria de sionistas viesse para a Palestina e expulsassem os árabes ou os levassem a uma posição social e econômica inferior e (2) o sentimento de que isto afastaria os árabes do ocidente, especialmente da cultura britânica, o que seria certo se os judeus obtivessem o controle do Mediterrâneo do Egito à Síria. E a intenção do Milner Group era ocidentalizar os árabes. John Dove (AAE) sugeria que a partição não deveria ser permanente e que os judeus deveriam se contentar em ser apenas parte de uma unidade potencial: ‘Eles não precisam temer serem absorvidos porque têm tudo a ganhar de uma Federação Árabe, como um campo maior para suas atividades’.

O White Paper de 1922 (8) uma tentativa de esclarecer a Declaração Balfour, trouxe ainda mais confusão e ambigüidade. Em linhas gerais, comentava as apreensões dos árabes com ‘certas interpretações exageradas’ baseadas na Declaração virem a favorecer um ‘Lar Nacional Judeu na Palestina’. Declarações ‘não autorizadas’ se referiam que o propósito britânico era criar uma Palestina totalmente judia, mas o paper afirma que ‘a Palestina não deveria ser judia, no mesmo sentido que a Inglaterra é Inglesa’: ‘o Governo de Sua Majestade considera qualquer expectativa neste sentido como impraticável e não tem esta finalidade em vista. Os termos da Declaração (Balfour) não contemplam que a Palestina como um todo possa ser convertida numa Pátria Nacional Judia (como haviam proposto Chaim Weizmann e Nahum Sokolow), mas que tal Lar poderia ser fundado ‘na Palestina’.

Ao mesmo tempo em que dizia que ‘o status de todos os cidadãos da Palestina deveria ser o de palestinos e jamais poderiam ter outro status jurídico’, reafirmava o compromisso com a população judia e garantia que ‘os receios dos judeus de perderem o apoio são infundados e que a Declaração (Balfour) estava reafirmada pela Conferência de San Remo e o Tratado de Sèvres, os quais não eram suscetíveis de modificações’. Considerava ainda o fato que durante as últimas duas ou três gerações os judeus haviam re-criado uma comunidade na Palestina, a qual contava na época 80 mil pessoas e que sua presença lá era de direito e não por permissão.

“Re-criavam” estaria se referindo ao fato de que o território era originalmente judeu e por isto estavam lá por direito? Parece que sim, porque na frase seguinte afirmava-se: ‘Esta é a razão pela qual é necessário que a existência da Pátria Nacional Judia deva ser internacionalmente garantida e reconhecida tendo em conta conexões históricas ancestrais’.

Porém o paper esclarecia que ‘as fronteiras da Palestina não foram definidas nem pela Declaração Balfour, nem pela Conferência de San Remo ou pelos Tratados de Sèvres e Lausanne, ou mesmo pelos termos do Mandato Britânico’.

Que Pátria é esta sem fronteiras definidas? E quem viria a defini-las e defendê-las?

Ficava estabelecido também que a comunidade judia poderia aumentar de número pela imigração, desde que não fosse tão maciça que excedesse a ‘capacidade econômica do território de absorver os recém-chegados’ e que imigrantes não deveriam ser um fardo para o povo palestino como um todo, nem privar os já estabelecidos de seus empregos’.

Neste mesmo ano a opinião pública e também a do governo inglês tinham-se tornado menos favoráveis à política sionista. Winston Churchill declarava: ‘Em ambas as Casas do Parlamento há um crescente movimento de hostilidade contra a política sionista na Palestina. Não dou grande importância a este movimento, mas está cada vez mais difícil contestar o argumento de que não é justo pedir ao contribuinte britânico, já sufocado com impostos, suportar o custo da uma política impopular na Palestina’.

Lord Milner, num discurso na Câmara dos Lordes em 27 de junho de 1923, comentou a Declaração Balfour e o White Paper, principalmente quanto à questão da imigração: ‘a agitação árabe que acreditamos ser devida, em grande parte, a estímulos externos, não nos deve afastar dos termos da Declaração. (...) Há espaço no território para uma grande população de imigrantes sem prejudicar de forma nenhuma a população árabe residente e a imigração (judia) pode ser inclusive benéfica para eles. (...) Sou, e sempre fui favorável às políticas pró-árabes e creio na independência dos países árabes. (...) Antevejo uma Federação Árabe e creio que eles cometeriam um grande erro se quisessem incluir a Palestina nesta Federação. Esta requer um mandato permanente e sob esta condição poderia ser um Lar Nacional para os Judeus, recebendo tantos imigrantes quantos o país pudesse economicamente suportar, mas jamais deverá se tornar um estado judeu’ (AAE). Esta foi a posição do governo Britânico até 1939.

Durante o restante da década de 20 e na de 30 ela se tornou insustentável devido a quatro fatores: (1) a permanente obstrução árabe, (2) a intenção sionista de obter controle político e soberania sobre seu território, o que implicaria em revogar o Mandato Britânico, (3) as pressões tanto sionistas quanto árabes durante a Grande Depressão de 1929 e (4) o surgimento de um novo motivo para a imigração: a necessidade de um refúgio para os judeus que escapavam da perseguição nazista.

O Partido Trabalhista, então no poder, emitiu o White Paper de 1930, elaborado por Sidney Webb, Lord Passfield (9), Secretário de Estado para as Colônias (posteriormente Assuntos dos Domínios) do governo de Ramsay MacDonald. Contrariando as reivindicações sionistas, estatuía que o desenvolvimento de uma Pátria Judia na Palestina não era assunto fundamental para o Mandato Britânico. Não obstante, esclarecia que a Inglaterra tinha a intenção de cumprir com suas obrigações com árabes e judeus e resolveria qualquer conflito como resultante de suas necessidades específicas. Apesar de não considerar fundamental para o Mandato comprometia-se a continuar o apoio de um Lar Nacional Judeu na Palestina. O tom, entretanto, era claramente anti-semita. Diversas instituições judias eram severamente criticadas, entre elas a Histradut (Federação Geral dos Trabalhadores) e a Agência Judaica, pois ambas contratavam apenas trabalhadores judeus. O Hope-Simpson Report concluíra que não havia terra suficiente para suportar a imigração contínua e os fazendeiros árabes estavam sofrendo dificuldades econômicas devido à política das organizações judias, e concluía recomendando a cessação da imigração até que novos métodos agrícolas fossem introduzidos no território. O White Paper confirmava esta posição, considerando que esta política era lesiva ao desenvolvimento econômico da população árabe.

O Milner Group protestou veementemente contra o White Paper de 1930, considerado contra os interesses judeus na Palestina, denunciando seu evidente anti-semitismo em artigos no The Times assinados por Jan Smuts e Sir John Simon.

(O assunto não está esgotado e continuará a ser abordado em textos futuros.)

Heitor De Paola
07 de julho de 2012

Notas:

1 - Samuel Smiles in Modris Eksteins, Rites of Spring, Mariner Books, NY, 1989

2 - Cf. Carroll Quigley, Tragedy & Hope: A History of the World in Our Times, Macmillan, London-NY, 1966. Passa a ser referido com T&ampH.

3 - Jim Powell, Wilson’s War: how Woodrow Wilson’s great blunder led to Hitler, Lenin, Stalin and WW II, Crown Forum, NY, 2005

4 - His Majestys Government view with favour the establishment in Palestine of a national home for the Jewish people, and will use their best endeavours to facilitate the achievement of this object, it being clearly understood that nothing shall be done which may prejudice the civil and religious rights of existing non-Jewish communities in Palestine, or the rights and political status enjoyed by Jews in any other country.

5 - Carroll Quigley, The Anglo-American Establishment: Rhodes to Cliveden, GSG & Associates, 1981. A partir de agora será referido como AAE.

6 - Com a revolução dos Jovens Turcos comandados por Mustafá Kemal Atatürk foi substituído pelo Tratado de Lausanne com vários territórios voltando à nação turca.

7 - Brevemente publicarei mais dados sobre estes grupos.

8 - Os “white papers” são publicados pelos governos para apresentar uma política ou propor uma linha de ação em um tema de preocupação atual ou esclarecer melhor tratados e convênios diplomáticos. Em diversas Nações, "white paper" é o nome informal de um documento que anuncia uma política governamental. O termo surgiu no Reino Unido, onde se aplica aos documentos governamentais, informes, anúncios ou esclarecimento de políticas. Durante o Mandato britânico da Palestina, publicaram-se três "white papers" que determinaram o futuro imediato do Mandato.

9 - Webb foi um dos fundadores em 1884 da Fabian Society, ligada à Marxist Social Democratic Federation, juntamente com sua mulher, Beatrice, George Bernard Shaw, Annie Besant (mais tarde convertida à Teosofia de Madame Blavatsky), H. G. Wells, Leonard e Virginia Woolf. Até a morte o casal Webb defendeu os métodos stalinistas de opressão, evidenciando a mentira de que há oposição entre socialistas e marxistas-leninistas.

MAGISTRADOS QUEREM BLINDAR SEUS DIREITOS E NÃO ACEITAM NOVA FORMA DE APOSENTADORIA


Na esperança de que exista uma razão louvável para emudecer nossa opinião sobre a conduta antissocal da magistratura brasileira, fomos pesquisar e encontramos questões pontuais que fortalecem a critica.

Tomamos como foco da blindagem dos direitos (mais benesses que direitos), eis que a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) ajuizou Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN n° 4803) no Supremo Tribunal Federal contra dispositivos das Emendas Constitucionais 20/98 e 41/03 sobre as aposentadorias de magistrados.

A AMB pede para excluir os membros da magistratura da reforma da previdência iniciada pela EC 20/98 e continuada pela EC 41/03. O pedido se sustenta em que (…) “submetem a magistratura ao regime geral de aposentadoria dos servidores públicos e, ainda, possibilita a extinção da paridade entre proventos e vencimentos, que é consequência inafastável da vitaliciedade conjugada com a irredutibilidade de vencimentos”.

Estamos vendo aqui, mais uma vez, que o juiz só pensa nele. Se o litigante está insatisfeito com os seus serviços, eis que nada fazem de fato para que isso se reverta, o quadro não muda. Na verdade, estamos diante de um dilema que nos faz lembrar o filósofo romano Sêneca: “Lutar com o igual é perigoso, com o mais forte é loucura; com o mais fraco é vergonhoso”.

07 de julho de 2012
Roberto Monteiro Pinho

A CRISE DA PREVIDÊNCIA ABERTA

A crise dos planos privados de previdência traz riscos aos segurados
O comentarista Paulo Peres, sempre atento, nos envia este artigo de Paulo César Régis de Souza, presidente da Associação dos Servidores da Previdência e da Seguridade Social, publicado pelo Jornal do Brasil Online, sobre os riscos dos investidores que optam pela previdência privada.

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Em diversas oportunidades escrevi sobre a Previdência Aberta, dos planos de previdência, apontando para os seus riscos, de única responsabilidade dos investidores neste tipo de seguro. Mostrei que a Superintendência de Seguros Privados, a tal Susep, não fiscaliza nada. Acho que nem fiscais tem. Mostrei que nem o Banco Central sabe onde estão aplicados os recursos, estimados hoje em R$ 130 bilhões, captados de uma massa de investidores de 12 a 13 milhões de pessoas. Deixei claro que os “planos de previdência” são produtos de um mercado financeiro, de alta volatilidade, que depende do “humor” das bolsas de valores, daqui e do mundo, e que suas aplicações estão atreladas ao comportamento das taxas Selic.

A farsa é que tais títulos são apresentados aos investidores como “planos de previdência” em um país que detonou a Previdência Social pública, por ordem do FMI, reduzindo seus benefícios a um salário mínimo. Cumprindo esta determinação em detrimento de nossa soberania, direcionou milhões de brasileiros para a busca de uma aposentadoria acima do mínimo, especialmente aqueles assalariados que ganham mais de dois mínimos. A massa de um mínimo foi descartada. É este o cenário de um INSS que já paga 80% de benefícios de um salário mínimo a quase 24 milhões de seus 30 milhões de beneficiários.

Os “planos de previdência” ganharam espaço e competitividade. Dimensionaram o mercado em 40 milhões de clientes e atacaram cobrando altas taxas de administração e carregamento. Enquanto a Selic esteve acima de 10% ao ano, foi possível aos bancos e seguradoras engordar seus ativos, com o governo, de forma escabrosa, estimulando com isenção do Imposto de Renda. O mesmo governo que cobra previdência dos inativos púbicos que não podem e aposentar de novo. Uma iniquidade e uma vilania.

O mercado nadou de braçada, o que não me impediu, através da Anasps, de alertar para os riscos que pegariam na frente os contribuintes. Neste momento, quando a Selic vai descendo a ladeira e a presidente Dilma insiste que o Brasil vai ter juros “decentes”, bancos e seguradoras vão apresentar a conta dos “planos de previdência” ao governo e aos investidores. Enfim, tornaram-se um mau negócio para bancos e seguradoras que chafurdam na lama da especulação financeira.

Resultado prático é que, como o governo ainda não disse se vai “desonerar” IR, IOF, compulsório etc, como vem generosamente fazendo com outros setores, não para beneficiar o incauto investidor mas bancos e seguradoras. Se o governo cruzar os braços, restará aos investidores pagar a conta. Os contratos serão rasgados, e o investidor terá que assinar um ajuste e sujeitar-se a uma nova contribuição maior.

O que eu quero deixar claro é que esperteza tem perna curta e que inegavelmente é curto o horizonte dos brasileiros que um dia sonharam em ter uma aposentadoria digna. A do INSS, com teto hoje inferior a cinco salários mínimos, francamente um disparate para quem ganha hoje R$ 6.220 mensais, dez mínimos.

Paulo César Régis de Souza
07 de julho de 2012

A CRISE DO EURO E A CRISE CARTORIAL

Li recentemente nas páginas amarelas da revista Veja uma entrevista com o primeiro Ministro italiano, Mário Monti (foto), em que o mesmo falava a respeito da crise do euro, mais especificamente sobre a Itália. Ora, é uma característica dos meus artigos, sempre que escrevo culpar o Estado como o grande responsavel pelas mazelas da sociedade, que no Brasil começa com as Bolsas e no mundo em um sentido mais geral com as guerras, que em sua grande maioria poderiam ser resolvidas numa mesa de negociação.Bom, mas e a entrevista do primeiro Ministro italiano é rica em informações para nós brasileiros. Vejamos o que ele disse em um dos pontos da entrevista: “o único desequilíbrio na Itália diz respeito  ao nível da dívida pública.


E sobre isso devemos falar para conter o nervosismo dos mercados, que aumentou os custos do refinanciamento do Estado”. Ora, quando acontecem baques econômicos do Estado logo vem o aumento da carga tributária para cobrir a irresponsabilidade dos governantes com o dinheiro público. A frase do primeiro Ministro cai como uma luva para o Brasil.

Ainda de acordo com a entrevista, o primeiro Ministro italiano alerta que em seu país, mudou-se a idade mínima da aposentadoria para 67 anos. Ai ele lembra que a vida média na Itália são de 82 anos e afirma que eles vão flexibilizar os horários do comércio e permitir que as lojas de conveniência aumentem as ofertas de produtos pois assim gerarão novos empregos. Logo se conclui que eles estão fazendo uma reforma na burocracia para diminuir o tempo e o dinheiro gasto pelos italianos. Coisa bem diferente do nosso país.
Pela entrevista ficamos sabendo também que documentos como certidão do nascimento ou outros essenciais são tirados na Itália pela internet, quando no Brasil desde a época dos Impérios criamos os cartórios com o único objetivo de salvar os nobres arruinados, e com isso acabamos sendo transformados em uma república cartorial gerando uma burocracia que emperra e atrapalha a vida do cidadão comum.

A propósito, certa vez conversei com um nobre de verdade (pois é dono de um cartório aqui no país) e fui surpreendido quando ele me disse que a principal função dos cartórios era dar segurança jurídica ao país. Sinceramente fiquei estarrecido e diante da afirmação fiquei imaginando que a maior economia do mundo – os Estados Unidos da América – não tem cartório. Quem está errado, o Brasil ou os Estados Unidos?

Bom, mas baseado na afirmação do meu amigo “nobre” queria lembrar então como forma de aviso, aos natalenses que compraram apartamento nos EUA que procurem vendê-los rápidos porque lá não há segurança jurídica, já que não tem cartório e só terá quando os americanos criar os tais cartórios. Não é uma gracinha?

Mas, lá, eles têm de fato uma democracia e isso faz toda a diferença, enquanto aqui nós temos mesmo é uma ditadura cartorial e uma burocracia estupida e imensa. De qualquer forma aos compradores de apartamento nos Estados Unidos fica a lembrança e o cuidado. Falta de aviso da minha parte é que não foi.

Adauto Medeiros
07 de julho de 2012
(*) Engenheiro civil e empresário

CARTA ABERTA AO DR. MÁRCIO

CARTA ABERTA AO DR. MARCIO Todos os acusados tem direto à defesa, este é um princípio democrático que deve ser respeitado Todavia quem o defende deve ter a dignidade de não vender-se. Foi isso que fez o ex-ministro da Justiça (governo Lula) o advogado Marcio Thomaz Bastos, que se vendeu para defender o indiscutível bandido e corruptor Carlos Augusto de Almeida Ramos, vulgo “Carlinhos Cachoeira”.

Foi asquerosa a forma como o advogado e réu, orientado por ele, mangaram dos membros da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) e de todos os brasileiros de bem.

Thomaz Bastos, mostrou o quão indigno pode ser um advogado ao agir como um relés moleque de recados em prostíbulo. 

Leia abaixo a Carta Aberta, de autoria do também advogado Warley Pimentel (30/5).

“Dr. Marcio,
Foi com imensa vergonha, tristeza, decepção e indignação que pude assistir V.Sa. na “CPI do Cachoeira”, fazendo parte da mesa em acompanhamento ao Sr. Carlinhos Cachoeira, seu dileto contratante (?), contraventor, chefe de quadrilha, corruptor de políticos e figura das mais nocivas ao Estado Brasileiro.
O ilustríssimo e integro Dr. Marcio Thomaz Bastos, eminente Advogado, competente Professor, prestigiado Autor, combativo Ministro da JUSTIÇA e referência para todos os profissionais do Direito no País, apequenou-se e rebaixou-se ao nível dos porcos que constituem à rede criminosa de seu dileto cliente e comeu com eles seu farelo .
Como pode o Dr. Bastos atuar como advogado de um facínora, instruindo-o a não cooperar com o próprio Estado Brasileiro, onde exerceu galhardamente o cargo máximo de MINISTRO (ou falta) de JUSTIÇA ?

E não se trata da obrigação profissional de defender seu cliente, pois o Dr. Bastos sabe muito bem que, na CPI, a participação do Sr. Cachoeira seria para complementar a lista de bandidos ainda não investigados e que ainda fazem parte da camarilha de políticos corruptos que se instalou no Poder. Leia a íntegra em: Ex-Ministro da Justiça tomando banho de Cachoeira…

Giulio Sanmartini (carta enviada por Gil C. Paulo de Almeida)
07 de julho de 2012

REPUBLICANAGEM...


NO DESERTO
É comovente a interpretação de Cristo pregando no deserto que Demósfones Torres vem protagonizando na grande casa de tolerância nacional, no Planalto Central do Brasil. Vai acabar crucificado.

CUSTO LULA
Já é hora de parar com esses cálculos fajutos da inflação brasileira. O ponto de referência que mostra mesmo que a vida está pela hora da morte no Brasil é o custo Lula na boca do caixa em qualquer supermercado.

O JEOVÁ DO ZÉ
No processo do Mensalão, o Ministério Público é um verdadeiro Jeová para Zé Dirceu: está cheio de testemunhas.

RICAÇOS
Warren Buffett, terceiro homem mais rico do mundo, acaba de doar U$S 1,5 bilhão à fundação de Bill Gates. Alegou que se trata de somar fundos para filantropia. E o Eike Batista não se coça?!?

UNIDOS VENCEREMOS
Diante dos baixos índices de sintonia, a Globo já está pensando em juntar o programa de Fátima Bernardes como o de Pedro Bial.

DAS DUAS...
O que é mais engraçado a estas alturas no Brasil: ser convocado para a Seleção pelo Mano Menezes, ou pelos políticos para depôr na CPI do Cachoeira?

PATRIMÔNIO
Só o Rio de Janeiro está de bronca pela escolha da cidade como "patrimônio da humanidade". Quando não explode um boeiro, desaba um prédio, ou incendeia um hospital...

VASCO PAULISTA
O São Paulo anda mesmo numa teremenda maré baixa. Primeiro foi o Corinthians, conquistando a Libertadores; agora é o Palmeiras, à beira de ganhar a Copa do Brasil. Desse jeito, só vai sobrar algo de bom para o time do Morumbi se o Vasco, da Gama, tarado por vice-campeonatos, decidir disputar o Paulistão.


ALEGRIA DE POBRE
Pronto, acabou a alegria do Corinthians. O Palmeiras meteu 2 a 0 no Coritiba e caminha célere para conquistar a Copa do Brasil. Aí é um pulo para vencer a Libertadores e depois é só ir a Tóquio e em 2013 abocanhar o título mundial que estará com o Chelsea. Alegria de pobre dura pouco.

BOLA MURCHA
A Justiça cassou os passaportes diplomáticos dos filhos e aparentados de Luiz Erário da Silva. Para o Ministério Público do Distrito Federal a emissâo do documento foi ilegal. Agora mesmo é que ele vai ficar mais Lulalelé da Cuca. Nada a ver com o amargo regresso da parentalha ao lugar que abominam na reles sociedade dos comuns; tudo a ver com o orgulho ferido. O saque dos passaportes é mais um sinal da evidente queda de prestígio que vem sofrendo o antes poderoso proprietário do Brasil. Para usar a língua do futebol que ele tanto gosta, Lula tá com a bola murcha.

FACA NOS DENTES
A banda governista da CPI do Cachoeira teve que admitir a convocaçâo de Fernando Cavendish, de Paulo Preto da banda larga de Zé Serra e do prefeito de Palmas, Raul Filho, do PT. Engoliu também a chatice de ter que ouvir Luiz Antonio Pagot, aquele que foi varrido do Dnit que quer dizer tudo que sabe. E é aí que a porca torce o rabo. Cavendish, Preto e Raul Filho chegam abanando seus habeas, mas Antonio Pagot vem de faca nos dentes.

KID FAROFA
O pior de tudo nessa CPI de araque é que agora Carlinhos Cachoeira quer assumir o seu lado Kid Farofa e jogar tudo no ventilador. Mal pode esperar para se encontrar com os ínclitos inquisidores da CPI que lhe roubou o nome.

BRINCANDO DE MÉDICO

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A cena é velha. Lulalelé brinca de médico com Dilma Vana e ela banca a sua paciente. Já foi usada por Lulalelé no tempo em que ele era o criador e ela a criatura. Agora se repete, em S. Bernardo, só para dar apoio á candidatura de Paulo Marinho, o prefeito mais caro do Brasil. E o bolha do ministro Padilha, ao invés de ir pra casa, fica na turma do gargarejo. O que causa arrepios é que nenhum deles tem vergonha de brincar com a saúde pública do jeito que ela está.



CAMPOS, O VICE

O quebra-quebra do PT com o PSB lá em Recife, com relâmpagos e trovoadas pelo Brasil afora e adentro, acaba no momento em que Dilma Vana anunciar que seu vice-presidente para 2014 será Eduardo Campos. Como Lulalelé da Cuca está no seu pé e quer porque quer de volta o lugar que já foi seu no Palácio do Planalto, Dilma ainda deixa Michel Temer pensar que pode ter chance de continuar de carona no poder.



NAS CANELAS DA DILMA

Com 77% de popularidade, a primeira-presidenta Dilma Vana é alvo-fixo do atirador das elites, Luiz Erário da Silva. Lulalelé, mais do que querer "estar vivo para ir ao Mundial" é gaviâo da fiel o bastante para querer morder as canelas de quem lhe aparecer pela frente.

CHÁVEZ É VALDÍVIA
O PSDB vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra a atitude do governo brasileiro admitindo a Venezuela do golpista Hugo Chávez no Mercosul. Cá pra nós, o que é mesmo que a Venezuela tem a ver com o cone sul do mundo? É como se o S. Paulo F. C. estivesse preocupado em escalar Lucas num jogo contra o Corinthians, porque o Valdívia foi expulso ontem contra o Coritiba. Chávez está para o Mercosul, como Valdívia está para o S. Paulo.

O PARAGUAIO
Já com ares de manda-chuva diante do BAU - Brasil, Argh!entina e Uruguai, Hugo Chávez diz que o Parguai pediru suborno para aceitar a Venezuela no Mercosul. Tensos, os guaranís negam a ofensa de que teriam feito barganha. A essas alturas, quem você acha que é mais paraguaio nessa história?!?

PASSAFORTE
Para a Justiça Federal do Distrito Federal, a emissão do passaporte diplomático para o filho de Lula foi ilegal. Além de Luís Cláudio Lula da Silva, outros seis parentes do ex-semideus do Brasil receberam o passaporte. Na verdade, aquilo nunca foi um passaporte, assim como Luizinho nunca foi diplomata. Aquele documento falso era só mais um passaforte conseguido em servil homenagem a quem podia tudo. E ninguém morreu de vergonha. Amorim, o que rima com Jobim, ainda é ministro nessa terra de Santa Cruz, credo.

APUPOS QUE ELES MERECEM

Montagem/247

Estudantes apupam Dilma e Lula em S. Bernardo

Vestidos de roupas pretas, alunos em greve da Universidade Federal do ABC protestaram do lado de fora de cerimônia de inauguração de uma UPA em São Bernardo do Campo. A paralisação nacional de servidores públicos ainda sem a devida providência do MEC e sem solução à vista, atrasa a vida de todos, mas chega a sensibilizar a quem tem ouvidos moucos e orelhas só para aplausos
07 de julho  de 2012
sanatório da notícia

VIAGEM A MOSCOU E PEQUIM DE UMA PROSTITUTA GAÚCHA

O leitor deve estar espantado com o título. Desde quando prostitutas viajam tão longe? Viajam sim, e muito.

Citei rapidamente em crônica passada, sem deter-me no assunto, As Muralhas de Jericó, do comunista gaúcho Josué Guimarães, que morreu em 1986. São relatos de sua viagem à União Soviética e China comunista em março-abril de 1952, como correspondente especial do jornal Última Hora, do Rio de Janeiro. O livro foi escrito em junho daquele ano e só publicado em 2001, doze anos após a queda do muro de Berlim e dez anos após o desmoronamento da União Soviética. Só agora fui ler o livro. É leitura atrasada, mas nem por isso inútil.

Se olharmos para o século passado, temos de concluir que foi o século que mais prostituiu escritores na História. A revolução de 17 constituía um marco de definição obrigatória para todo intelectual. O craque de 29, a ascensão do nazismo, a nova sociedade soviética da qual ainda não se conhecia os gulags, todos estes fatores levaram os homens de idéia a defender – ou pelo menos a simpatizar com – o socialismo pregado por Marx. No continente europeu, uma intensa agitação intelectual conduziu os escritores, artistas e pensadores à ação política. "Que homem generoso" –pergunta-se Sábato em Apologias y Rechazos –, que jovem idealista não se inclinaria a julgar como uma grande esperança aquele acontecimento histórico?"

Até aí, tudo muito compreensível. Ocorre que, mal instalada a revolução, Lênin já mostrou as garras, fuzilando oponentes. Como teve vida curta após 17, não pode matar muita gente. Stalin, seu sucessor, fez nada menos que 20 milhões de cadáveres. E o “homem generoso”, de que falava Sábato, continuou prestando seu apoio à revolução e mesmo negando que na União Soviética houvessem gulags, fuzilamentos sumários, tortura, miséria e fome. O regime de Stalin patrocinou então visitas a Moscou, cercando seus convivas de mordomias, para mostrar as excelências do socialismo.

Neste turismo ideológico embarcaram os mais reputados escritores do século. Entre nós, Jorge Amado, Graciliano Ramos e algumas dezenas de intelectuais menos conhecidos. No Rio Grande do Sul, a honraria coube a Josué Guimarães. Como ainda não havia se estabelecido o conflito sino-soviético, o escritor comunista estendeu sua viagem a Pequim.

Na apresentação do livro, Maria Luiza Ritzel Remédios afirma que o autor-narrador parece sentir-se como o Josué da Bíblia que, no comando dos israelitas, penetrou a citadela inexpugnável, pois ele está a alcançar a União Soviética até então separada do mundo ocidental. E aqui já vai um equívoco da prefaciadora. Os anos 50 constituíram talvez o auge da influência de Stalin no Ocidente. Escreve Josué:

“Este livro tem a pretensão de derrubar as muralhas que separam, praticamente, o Ocidente do Oriente, fazendo deste mundo um só. Para tanto faltam engenho e arte. Porém, se não tiver a força e a magia das trombetas do Profeta, se não for capaz de destruir as muralhas simbólicas que hoje têm o nome de Cortina de Ferro, que pelo menos sirva para tirar desse muro de indiferença uma única pedra. Só isto justificaria a veleidade de publicá-lo. Pois a fresta assim aberta daria para que duas mãos se apertassem, fraternalmente, iniciando uma era de compreensão e vontade, únicos sentimentos que ainda poderão devolver a Paz aos homens”.

No fundo, Josué quer absolver Stalin dos crimes tremendos de que, já na época, era acusado. Ao falar da Muralha da China, Josué a define como um símbolo de defesa de um povo que, até hoje, não encontrou segurança e que sabe que nenhuma barreira material será capaz de deter a ambição de outros povos, o desejo de destruição de outras gentes. Talvez seja a Muralha, nos dias de hoje, um símbolo muito vivo para os chineses. (...) está a ensinar-lhes que só uma coisa poderá deter uma agressão: é a união de todos, o trabalho de sol a sol e um sentimento de igualdade que lhes dê força e independência”.

Em 52, Mao estava plenamente empenhado na formidável tarefa de matar chineses. Mas nada disso interessa a Josué. Em seu turismo, o autor tem a ventura de ver o Grande Timoneiro na Praça Vermelha:

“Mao Tse-tung já chegou. Daqui se avista o presidente cercado de seus auxiliares e do general Chu Têh (...) Sou capaz de distinguir o seu famoso sorriso daqui de onde estou. Ambos já tiveram a cabeça a prêmio, na sede de vingança do exilado de Formosa. Pela de Mao Tse-tung, que, antes de mais nada, é um intelectual dos mais puros, foi oferecida a quantia de 250 mil dólares”.

O intelectual dos mais puros matou 65 milhões de compatriotas seus. Em Moscou, então, tudo é lindo.

“O nível cultural do povo soviético talvez seja hoje um dos mais elevados do mundo. Tive grande preocupação em observar este aspecto. (...) Uma tarde, a delegação brasileira, ao deixar o Hotel Nacional, teve a atenção de todos despertada para uma aglomeração à porta de uma livraria que nós havíamos visto várias vezes. Homens e mulheres disputavam a primazia na porta e muitos outros saíam de lá de dentro empunhando um livro qualquer. Fomos nos informar do que havia. E o espanto foi tanto, para nós, brasileiros, que ninguém comentou o sucedido depois, ruminando lá as suas incompreensões e engolindo seco seu espanto. Tratava-se, simplesmente, de mais uma edição de um livro sobre filosofia, disputado de tal maneira que me lembrou episódio igual, numa banca de São Paulo, no dia em que saiu uma edição nova da revista Grande Hotel, uma cretiníssima coleção de histórias de amores mal correspondidos de mistura com a vida secreta de Hollywood e conselhos sobre a melhor maneira de encontrar um marido.

“E seriam intelectuais os que tanto esforço faziam para comprar um pesado livro sobre filosofia? A resposta é negativa e verdadeira. Talvez seja difícil para nossa mentalidade compreender o interesse do operário de uma fábrica qualquer por um assunto sério, de cultura. Ou o desejo da moça que dirige um trem elétrico subterrâneo – naquele esplêndido Metrô de Moscou – em comprar um livro que trata de problemas transcendentais, fora das coisas diárias ou das estórias de casamentos frustrados. Mas para eles isso é uma coisa natural e não representa nenhum esnobismo ou atitude”.

Nenhuma palavrinha sobre as prisões de intelectuais e dissidentes, que há muito vinham sendo enviados para os gulags. Este é o tom sempre baboso do livro. Tudo é grandioso, eficaz, inteligente, tudo é esperança no futuro e no homem novo, nas observações de Josué. Nenhuma palavrinha sobre a sufocação da literatura por Zdanov. Nenhuma menção ao desastre na agricultura provocado por Lyssenko.

Se na época os crimes de Mao eram pouco conhecidos, sobre os crimes de Stalin o autor não podia alegar desconhecimento. Pois três anos antes de sua viagem, havia estourado em Paris a chamada affaire Kravchenko, depois da qual não mais era permissível a uma pessoa informada ignorar o que ocorria na União Soviética. Já falei de Kravchenko. Falo de novo. Particularmente porque jamais li qualquer menção de algum autor gaúcho – e muito menos nacional – a este personagem.

Em 1949, Victor Kravchenko, alto funcionário soviético, denunciou em Paris os crimes de Stalin. Tendo trocado a URSS pelos Estados Unidos, relatou esta opção em Eu escolhi a liberdade, livro em que denunciava a miséria generalizada e os gulags do regime stalinista. O livro foi traduzido ao francês em 1947 e teve um sucesso fulminante. A revista Les Lettres Françaises publicou três artigos difamando Kravchenko, apresentando-o como um pequeno funcionário russo recrutado pelos serviços secretos americanos. Kravchenko processou a revista, no que foi considerado, na época, o julgamento do século. No banco dos réus estava nada menos que a Revolução Comunista.

Em seu testemunho, Kravchenko trouxe ao tribunal Margaret Buber-Neumann, mulher do dirigente comunista alemão Heinz Neumann, como também o ex-guerrilheiro antifranquista El Campesino, ambos aprisionados por Stalin em campos de concentração. Kravchenko, que perdeu toda sua fortuna produzindo provas no processo, teve ganho de causa. Recebeu da revista francesa, como indenização por danos e perdas ... um franco simbólico.

A história de Kravchenko é fascinante, envolve diversos países, desde a finada União Soviética até Estados Unidos, França, Alemanha, Espanha, e até hoje não houve cineasta que ousasse transpor sua odisséia para as telas. Seu livro rendeu-lhe boa fortuna. Levado à falência com os custos do processo, foi morar no Peru, onde investiu em minas de ouro e de novo enriqueceu. Acabou suicidando-se em um hotel em Nova York. A partir de seu processo, ninguém mais podia negar o universo concentracionário soviético. 1949 é a data limite para um homem que se pretenda honesto abandonar o marxismo. Três anos depois, Josué ainda louva a União Soviética de Stalin.

Há um detalhe curioso em As Muralhas de Jericó. Tendo sido escrito em 1952, permaneceu inédito por meio século, só tendo sido publicado postumamente em 2001. Ora, de 52 para cá, muita água correu sob o moinho da História. Em 1956, Nikita Kruschov denunciou, no XX Congresso do Partido Comunista da União Soviética, os crimes de Stalin. Não era a CIA, muito menos a imprensa capitalista ocidental que os denunciava, mas o mais alto dirigente soviético. Kravchenko era um dissidente, mas Kruschov era o secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética (PCUS). Se a affaire Kravchenko, apesar da farta abundância de provas, deixara alguma dúvida em comunistas mais testarudos, a partir do XX Congresso nenhuma dúvida mais era permissível.

Em 89 caiu o Muro e em 91 desmoronou o império tão amado por Josué. Seria mais que oportuno, para a imagem póstuma do escritor, que seu depoimento permanecesse inédito. Mas pelo jeito a viúva acreditou nas potocas do marido.

Aconselho vivamente os leitores a comprar o livro de Josué. Para ver quanto um escritor pode ser venal, a ponto de vender a alma por uma viagenzinha.

07 de julho de 2012
janer cristaldo

CPI DO CACHOEIRA: DESMORALIZAÇÃO INSTITUCIONAL DO CONGRESSO

Não há desserviço pior para a democracia que a desmoralização de suas instituições. A CPI, que, no passado recente, serviu de instrumento para o impeachment de um presidente da República e para a cassação de parlamentares corruptos, é hoje palco de espetáculos políticos.

A política do espetáculo não passa disto: um jogo de cena, em que nada é para valer, mas que transmite ao espectador desinformado – a maioria - a ideia de que algo de importante está em jogo, sobretudo quando não está.

Esta semana, a CPI do Cachoeira, depois de resistir durante seguidas sessões em convocar o presidente da Delta, Fernando Cavendish, detentor da maioria das obras do PAC e suspeito (vá lá) de estar atrelado ao esquema do contraventor, decidiu intimá-lo. Aparentemente, um gesto de rigor e isenção.

No duro, porém, um engodo. Outro. No mesmo dia em que a CPI aprovou a convocação de Cavendish, adotou, paralelamente, uma regrinha que autoriza o depoente que não quiser falar – e dispuser para tanto do aval do Supremo Tribunal Federal - a se retirar do recinto sem ser incomodado por ninguém.

Ou seja, Cavendish, que apelará à mesma regra que permitiu que Cachoeira zombasse em silêncio da CPI, será poupado de ouvir impropérios e perguntas incômodas.


Leia mais em CPI do Cachoeira: Desmoralização institucional do Congresso

MILHARES PODERÃO FICAR SEM INTERNET

 
Rede ficará inacessível para máquinas infectadas pelo vírus DNS Changer
 
Milhares de usuários de computadores ao redor do mundo, infectados com um vírus desde o ano passado, podem perder sua conexão com a internet na segunda-feira, com a expiração de uma rede de segurança elaborada pelas autoridades americanas, alertam especialistas.
O problema é gerado pelo vírus conhecido como DNS Changer, criado por crackers para redirecionar o tráfego da internet ao obter IPs pelo sistema de nomes de domínio de navegadores da web (DNS).
 
07 de julho de 2012

"REALISMO ATRASADO"

Mantega abandona otimismo despropositado com o PIB; não se vislumbra no Planalto, porém, nenhuma centelha de ousadia ou de criatividade

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, finalmente se rendeu: reconheceu que o país crescerá pouco no futuro próximo e que os impactos da crise global no Brasil serão mais intensos que o previsto.

Do lado externo, o crescimento continua a desacelerar-se -a alta inferior a 2% esperada para o PIB global no segundo trimestre representa o pior desempenho desde 2009. Em todas as principais regiões -EUA, Europa e China-, ações de estímulo parecem ter pouco efeito estimulador da demanda.

Internamente, as dificuldades se mantêm: crédito apertado, endividamento das famílias, baixa confiança empresarial e deficiência de competitividade industrial.

Há ações conjunturais que ajudam a reduzir os danos, nas quais o governo tem sido ativo. A queda dos juros, a pressão para redução do "spread" bancário e as desonerações seletivas de impostos certamente impulsionarão a economia nos próximos meses.

Tais medidas não serão capazes, porém, de romper as amarras estruturais para um crescimento sustentado. Sua derrubada depende de ações estratégicas, que ainda passam longe da pauta do governo.

Passados 18 meses da gestão da presidente Dilma Rousseff, é possível e necessário fazer uma avaliação mais crítica de sua política econômica. Os resultados são medíocres. Para que o investimento, de fato, passe a impulsionar o crescimento, seria preciso mais audácia, em especial no campo tributário.

As desonerações recentes na folha de pagamento, por exemplo, somam apenas R$ 7 bilhões. A desoneração total do INSS, para todos os setores, custaria aos cofres públicos R$ 97 bilhões (2,5% do PIB). Admita-se: não há espaço nas contas do governo para tanto, não, por certo, em prazo curto.

Mas por que não aproveitar a economia com a queda de juros e a contenção de gastos de custeio para lançar um programa continuado de cortes dos tributos? Tal anúncio certamente contribuiria para espicaçar o espírito animal dos empresários, como quer Mantega.

Do lado do investimento público, novamente se fala em destravar as parcerias com o setor privado e aumentar as concessões em portos, aeroportos e infraestrutura em geral. Seria algo para 2013, mas a lentidão agonizante nessa área não autoriza otimismo.

A presidente tem promovido no Congresso a agenda da reforma previdenciária. Aprovou a regulamentação dos fundos de pensão do funcionalismo. Agora, deixa claro que vetará qualquer tentativa de acabar com o fator previdenciário que não combata aposentadorias precoces no INSS.

Mais que isso, não se divisam centelhas de criatividade e ambição no governo. Os horizontes do Planalto permanecem anuviados.

Editorial da Folha
07 de julho de 2012

TEJU COLE: "QUIS FALAR DO 11 DE SETEMBRO DE UM JEITO SILENCIOSO. NÃO SE PODE FALAR ALTO".


Teju Cole é uma das últimas revelações da literatura contemporânea dos Estados Unidos. Elogiado pela crítica e comparada a autores como J. M. Coetzee, australiano Nobel de literatura, ele é um dos convidados da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) deste ano. Veio para lançar seu romance Cidade Aberta (Companhia das Letras, 320 páginas, R$ 49,00). Americano criado na Nigéria, ele anda pelas ruas com sua câmera – analógica – em punho, registrando os detalhes da cidade. “Fotografar com filme diminui meu ritmo. É a mesma coisa que busco fazer na minha literatura”, diz. Cole – chamado nas ruas de Paraty de Teju – recebeu ÉPOCA para uma conversa. Falou sobre a dificuldade de falar dos atentados de 11 de Setembro na literatura e se declarou fã de artistas brasileiros como Caetano Veloso e Gal Costa. O resultado da entrevista você confere abaixo:

Os atentados de 11 de Setembro são uma presença marcante no seu romance. Muitos autores acham difícil escrever sobre eles. Como você conseguiu e que tipo de dificuldade teve?

Acho que poucos autores se fazem essa pergunta. E é importante fazê-la. Por isso aparecem pessoas que querem fazer filmes de ação sobre os atentados. É muito difícil escrever sobre atrocidades, desastres e, principalmente, perdas de outras pessoas. Quando comecei a escrever o livro, me perguntei: como escrever sobre o sofrimento de outros, do ponto de vista histórico? A solução foi falar do assunto o mais indiretamente possível. Há uma moda de narrativas do Holocausto. Eu não quis escrever um romance sobre o Holocausto, ou escravidão, a guerra no Iraque, no Vietnã – nada do tipo. Precisamos nos dar conta que o que aconteceu em Nova York foi o horror verdadeiro. Por isso, temos que encontrar um jeito de escrever sobre algo que é impossível de ser dito. Deve haver relutância na escrita. Cidade Aberta é um livro pós-11 de Setembro sim. Mas busquei uma forma de não falar demais do assunto. Foi o método que encontrei e acredito. Quero levar meu leitor para um lugar tranquilo e fazê-lo pensar: estou aqui e, a algumas quadras, dois aviões chocaram-se contra duas torres, matando mais de três mil pessoas. Três mil pessoas. Quis falar de um jeito silencioso dos atentados, porque não se pode falar alto.

Cidade aberta, título do seu livro, também é um termo militar. Qual sentido você buscou para a expressão?

É um sentido parecido com o usado no filme Roma, Cidade Aberta. Mas acho que o filme tem um tratamento mais melodramático da expressão. No filme, cidade aberta se refere a um tempo militar mesmo. Cidade aberta era a cidade onde havia uma espécie de acordo entre seus moradores e o exército invasor, para que a cidade não fosse destruída pelos soldados. Eles poderiam comer a comida dos habitantes, usar suas casas – mas não destruiriam nada. Roma, Bruxelas e Paris, por exemplo, foram cidades abertas. É meio um pacto com o diabo, o que eu acho meio interessante (risos). Mas também uso o outro sentido, mais positivo: cidade aberta é um lugar onde você pode ir e vir, onde as pessoas vão para encontrar a si mesmas. Um lugar de mente e coração abertos.

Muitas pessoas diriam que Nova York é opressiva, o exato contrário disso…

De fato, há um paradoxo. Mas eu acho que Nova York é as duas coisas. Em certo sentido, todos fogem para lá buscando liberdade. Você pode praticar sua religião, amar quem você quiser. Mas há mesmo a sensação de que algo não está certo, algo abaixo da superfície. No caso de Nova York não é um problema militar, mas histórico e econômico. A cidade fez um pacto com a história. Isso deixa muitas pessoas desconfortáveis. O livro começou quando percebi esse paradoxo.

Você é americano, mas cresceu na Nigéria. Você se sente um estrangeiro na cidade?

Eu pertenço a qualquer lugar com Wi-fi e um plano de dados para o meu iPhone (risos). Mas falando sério: Nova York é minha casa. É lá que eu escrevo, fotografo e trabalho. E ninguém me olha como se eu fosse de fora. O interessante é que o simples fato de eu não ter uma identidade fixa é meu salvo-conduto para viver na cidade. É uma cidade cheia de tipos cosmopolitas. Também sou nigeriano, claro, falo iorubá. Só que lá eles me acham meio estranho. Não tem muita gente com cara de rapper como eu (risos).

Você também faz cinema e fotografa. Você vê alguma semelhança estética entre os dois e sua escrita?

Vejo. E começo a ver cada vez mais. Uso filme e digital, mas também o iPhone. Não acho tão importante a mídia que eu uso. Sempre tento dizer a mesma coisa (mostra uma foto que tirou em Paraty). Mas sempre prefiro a fotografia analógica, porque ela me força a diminuir o ritmo, a contemplar, pensar mais. Uma foto como esta (mostra outra foto), analógica, é como um pequeno poema. Algumas imagens eu jamais teria feito com o digital. E busco esse ritmo mais lento do analógico nos meus livros. Cidade Aberta é um livro devagar. E também que busca encontrar a ligação entre histórias diferentes e aparentemente desconectadas. Por isso meu livro não tem uma trama, mas várias pequenas tramas. Tenho cenas no livro vistas dos aviões que passam sobre a cidade. Só que a fotografia é mais óbvia que a literatura. Escrever é mais sutil.

Você escreve com bastante paixão sobre arte e música. Como esse interesse afeta sua escrita?

O estudo da arte me ensinou a ser muito paciente na escrita. Me ensinou a descrever. Quero mostrar para o leitor o que ele não vê. Não para fazê-lo visualizar, mas para diminuir seu ritmo e trazê-lo para dentro do romance comigo. Você lê os detalhes e logo os esquece. Mas você ficou comigo por duas páginas. Seu coração bate diferente. A vida é acelerada, o livro é meditativo. Sobre a música, meu personagem gosta de música clássica – eu também. Mas eu gosto de vários tipos de música, inclusive MPB, como Caetano, João Gilberto, Gal Costa. E até coisas mais modernas, como Seu Jorge.

A ausência de trama e outras características, fez alguns críticos considerarem você um autor experimentalista. Você concorda com essa visão?

Comparado ao Jonathan Franzen, que está aqui em Paraty, eu não sou nada experimentalista. Comparado a ficção realmente experimental, Cidade Aberta não é nada. Tento colocar coisas reais em vez de apenas personagens, o ir e vir da vida. É um pouco experimentalista sim. Gostaria de ser mais.

Foto: Teju Cole – Companhia das Letras/Divulgação
07 de julho de 2012
Maurício Ribeiro Meireles, de Paraty