Deve cuidar-se o senador Aécio Neves. Quem assistiu esta semana o programa de propaganda partidária gratuita do PSDB e pertence ao bloco dos ingênuos terá desligado sua televisão impressionado com a unidade e a euforia dos tucanos. O novo presidente do partido, ainda que sem ter sua candidatura presidencial alardeada pelos colegas paulistas, surgiu como o aglutinador do partido, o D’Artagnan dos mosqueteiros José Serra, Geraldo Alckmin e Fernando Henrique. Nas telinhas, tudo pareceu encaminhar-se para a sagração posterior de Aécio como candidato.
Ledo engano. Athos, Portus e Aramis rejeitam o ex-governador mineiro. José Serra é candidatíssimo. Geraldo Alckmin trabalha com a hipótese de disputar o palácio do Planalto, oferecendo a Serra a candidatura a governador de São Paulo. E Fernando Henrique, tido como incentivador de Aécio, ainda há dias comentava com importante prócer do PT que o senador não vai mesmo fixar-se porque não tem estatura, continua pequeno…
A força dos paulistas é grande no ninho. A estratégia deles parece deixar que Aécio Neves apareça como candidato por conta própria e sabotá-lo mais ou menos como quem come mingau: pelas bordas. Deixar que ele percorra o país, como já prometeu mais de uma vez, mas sem respaldá-lo, até que no começo do ano que vem possam constrangidamente concluir que ele não emplacou e melhor seria concorrer ao governo de Minas, aguardando tempos presidenciais mais promissores.
É claro que de ingênuo o senador não tem nada. Conhece em detalhes a artimanha de seus companheiros e, mais ainda, a personalidade de cada um deles, que começou a acompanhar desde os tempos do avô, Tancredo Neves, que abominava Fernando Henrique, não confiava em Serra e desconhecia Alckmin. O importante para Aécio é evitar a impressão de uma guerra entre paulistas e mineiros, até porque, do seu lado da fronteira, conta apenas com os índios, sem nenhum cacique de peso.
Conseguiu eleger-se presidente do PSDB, ainda que hoje já desconfie de haver caído numa armadilha. Sabe da importância de tornar-se conhecido, mais do que já é, bem como da necessidade de cautela em seu confronto com os três mosqueteiros. O ideal seria dividi-los. Imprescindível também se torna buscar alianças, como com o governador Eduardo Campos, o candidato ideal para seu companheiro de chapa. Sem esquecer Sérgio Cabral.
Em suma, a escalada é íngreme e a montanha, escarpada, para Aécio Neves. Vitoriosa, porém, sua fixação como candidato deixaria clara a impossibilidade de os tucanos paulistas voarem alto.
JÁ FOI, NÃO É, MAS PODERÁ SER
Lá das entranhas do PT afloram evidências que os companheiros teimam em sufocar. Por exemplo: Lula só deixou de ser candidato às eleições de 2014 diante do impacto pessoal que sofreu com a descoberta de um câncer na garganta. Até então tinha como certo o seu pronto retorno ao poder, com a completa aquiescência de Dilma. Diante das incertezas do destino, optou pelo Plano B, da reeleição da sucessora, apesar da resistência de um razoável grupo de lideres petistas. Recuperado, não tinha como dar o dito pelo não dito, mas a janela continua aberta para o retorno à antiga pretensão.
Agora, o ex-presidente mantém-se fiel ao compromisso com Dilma, mas sabendo que fatos novos serão capazes de alterar a estratégia em curso. O agravamento da crise econômica. A queda nos índices de popularidade de Dilma. O aparecimento meteórico de um adversário até então desconhecido. A hipótese de haver segundo turno. A necessidade de recompor alianças hoje quase postas em frangalhos.
A conclusão, por enquanto, é de o PT empenhar-se no segundo mandato. Por enquanto…
APOIO FORMAL
Pelo telefone, a presidente Dilma cumprimentou o senador Renan Calheiros pela firmeza com que cumpriu a promessa de não colocar em votação medidas provisórias enviadas ao Senado sem o interregno de sete dias após sua votação na Câmara. Quem não gostou foi a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, através de duro diálogo com o presidente do Senado, que manteve-se firme.
O Palácio do Planalto encontrou uma solução para não ser derrotado: acrescentará o texto da medida provisória não votada em outra capaz de chegar antes dos sete dias. Tem gente brincando com coisa séria?
02 de junho de 2013
Carlos Chagas