"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 9 de dezembro de 2012

GAROTINHO FALA SOBRE OS 25 MILHÕES DE EUROS DEPOSITADOS EM PORTUGAL

 

Da Tribuna da Câmara
Garotinho leva denúncia ao Plenário
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                                          flash
 
Conforme prometi subi à Tribuna da Câmara e relatei as providências que tomei sobre a informação de que a ex-chefe de gabinete da Presidência da República, Rosemary Noronha, em uma de suas viagens a Portugal, teria transportado 25 milhões de euros do Aeroporto Francisco de Sá Carneiro até a Agência Central do Banco do Espírito Santo, na cidade do Porto.

Encaminhei o ofício à Polícia Federal pedindo providências e relatando os fatos, e ainda ao Ministério das Relações Exteriores pedi informações sobre todas as viagens feitas a Portugal nos oitos anos do governo Lula, tanto pelo ex-presidente como seus acompanhantes.

Estranha foi a reação de diversos parlamentares ao meu discurso. Todos diziam que eu estava fazendo acusação muito séria contra Lula. Mas em nenhum momento aqui, como vocês poderão ver no vídeo acima com o meu discurso, afirmei que o depósito no banco estava em nome do ex-presidente. Sempre afirmei, desde a primeira postagem no meu blog, que o dinheiro havia sido depositado em nome de uma alta autoridade da República.

Isso não significa dizer que esta autoridade seja o ex-presidente. Essa é uma dedução precipitada dos deputados.

Será que sendo eu um representante eleito pelo povo e tendo sido informado de tais irregularidades deveria me calar ou fazer exatamente o que fiz: pedi providências à Polícia Federal para investigar o fato e fiz uma denúncia na Tribuna da Câmara para conhecimento de todos os brasileiros?

Senti que foi criada uma situação para tentar me intimidar a não fazer o meu discurso na manhã de hoje, mas o fiz com a total convicção de que estou contribuindo para a verdade.
09 de dezembro de 2012
in lilicarabina

E AGORA? COMO FICA A HISTÓRIA?

 

Garotinho fala sobre os 25 milhões de euros depositados em Portugal
Um dos aposentos do avião presidencial que teve suas fotos divulgadas na internet.
Pelas denúncias e declarações da Rose afirmando que era namorada do presidente podemos supor que esse "cômodo" pode ter servido de "sala de reuniões" para que o ex presisente e sua "secretária particular" discutissem assuntos relativos "à presidência" e, se for comprovada a denúnica de Garotinho, contavam os 25 milhões depositados em um banco em Portugal, e checar se o limite de gastos do cartão corporativo já havia sido atingido (será que tinha limites?).

Por que será que todas as viagens com a "secretária" a esposa do presidente não estava presente? Será por conta de uma estabilidade garantida depois doze anos de namoro?

A não tomada de providencias imediatas do Ministério Público e da Polícia Federal sobre esta denúncia (ratificada várias vezes pelo denunciante) confirmará, mais uma vez, a relativização da Justiça e a síndrome do rabo preso que ainda vigora no poder público com parte de sua estrutura apodrecida, subornada e corrompida pelas gangs comandadas pelo mais sórdido político da história do país que continua, impunimente, entendendo que não deve dar satisfações diretas à sociedade sobre graves denúncias sobre sua conduta.
 
Até quando a sociedade que trabalha para sustentar putas serviçais de lacaios do PT e todos esses políticos calhordas que já não disfarçam sem nenhum pudor suas associações com a corruptocracia petista em vigor no país, vai continuar covarde e omissa assistindo o país ser destruídos por todos esses FDP??

Já não temos adjetivos para qualificar os canalhas que proibiram a Polícia Federal de divulgar as 122 conversas telefônicas de Lula e sua declarada "namorada" Rose depois de ter vazado que as mesmas existiam.

De que essas fraudes de seres humanos têm medo? Da revolta popular, da prisão, ou do risco de perderem as boquinhas do suborno e da corrupção petista??

Se o STF não decretar a prisão imediata dos canalhas da gang dos 41 fica comprovada ainda a existência de poderosas influências de forças de corruptos e subornados que, absurdamente, tem togado de rabo preso servindo, descaradamente, de advogado de defesa desses bandidos que já deviam estar na cadeia fazendo companhia e servindo de noiva para todas as suas próprias vítimas.

Por mais sem vergonha que seja nossa sociedade - ESCLARECIDOS CANALHAS - como é possível tanta quietude dos que trabalham mais de cinco meses por ano para sustentar putas, ladrões, corruptos, mentirosos, e levianos, diante de tanta patifaria explícita. Será que Freud explica?

O povo brasileiro está próximo de ser agraciado com um honroso título oferecido por todos os reitores das universidades públicas do país: IMBECIS E IDIOTAS "HONORIS CAUSA"!

FALA SÉRIO MINHA GENTE! VAMOS PARAR COM ESSA SACANAGEM COM O NOSSO TRABALHO E COM O NOSSO DINHEIRO!

Por favor, divulguem sem restrições.

09 de dezembro de 2012
Geraldo Almendra

PT DESTRUINDO O BRASIL: FIM DE FESTA

                     
                             A FESTA ESTÁ ACABANDO.

Artigo escrito pela Dra. Elizabeth Rondelli, Doutora em Ciências Sociais, professora aposentada das Universidades Federais do Rio de Janeiro e Juiz de Fora:

 Tenho um amigo petista (pessoa incrível e honestíssima), que escreveu sobre o relatório da OIT - Organização Internacional do Trabalho, mostrando que a pobreza no Brasil caiu 36% em 6 anos, e dizendo que deve ter gente mordendo os cotovelos de tanta raiva. Não resisti e respondo publicamente.

 ‘Rir com dente é fácil’.

 Quero ver agora que o preço das commodities caiu, que o modelo de exploração de petróleo criado pela presidanta prova-se inviável, que a Petrobras não consegue mais segurar a inflação artificialmente baixa, que o pibinho petista não vai sequer chegar a 2%, que o Brasil começa a ser encarado como um país onde é difícil fazer negócio por tanta intervenção e achaques às empresas, que o prazo razoável de fazer as importantes reformas (previdenciária, tributária, fiscal, política…) já venceu, que não houve um mísero progresso nas variáveis que impactam o aumento da produtividade e da competitividade (infraestrutura, educação, ciência e tecnologia), que todos os esforços foram direcionados à anabolização dos números no curto prazo em detrimento da poupança e do investimento no longo, que os sete (eu disse SETE) pacotes lançados nos últimos meses para tentar ressuscitar o paciente moribundo mostraram-se tão patéticos quanto as pessoas que os maquinaram, que as famílias estão endividadas até o talo de tanto estímulo ao consumo, que a arrecadação já dá demonstração de queda (mesmo com o aumento das alíquotas, o que representa perda real em base tributável — ou atividade econômica)…

 Eu poderia continuar por mais uma semana elencando a sequência de burradas dos governos petistas. E olha que eu nem entrei no mérito moral — aí, é "capivara" mesmo, ficha policial!

 Com economia aquecida e uma carga tributária boçal (em ambos sentido: quantidade e qualidade), é fácil ter muito dinheiro para gastar. Distribuir aos pobres parece coisa de gente de bom coração. Renda na mão de pobre vira consumo e consumo conta para o PIB. E, na mão de petista, vira voto na certa.

 Mas agora que o dinheiro vai começar a rarear, quero ver onde vai estar o coração dessa gente. Ou vão cravar mais fundo os dentes no setor produtivo da sociedade ou vão ter que escolher o que deixa de receber recursos.
Tenho certeza de que o caixa 2 das campanhas eleitorais deles está garantido — até porque este parece ser (por mais surreal que possa parecer) o ÁLIBI dos 36 réus do mensalão.

 O fato é que, 10 anos depois, o pobre brasileiro pode ter ficado momentaneamente menos pobre na carteira, mas não se tornou um milímetro mais capaz de enfrentar os desafios do mundo moderno em que o país compete. Basta ver que os analfabetos funcionais das faculdades de gesso do Luladdad chegam a 38% (é inacreditável, mas é verdade).

 Acabada a farra da gastança, voltaremos para a mesma estaca em que estávamos antes. Um pouco piores, na verdade, graças aos retrocessos que representam os constantes ataques às instituições da sociedade (a Justiça, a liberdade de imprensa, a independência dos poderes, o que restava de honradez no Congresso, a política externa que deixou de servir à nação para se dobrar a um projeto particular de poder…) e às bases da economia de mercado tão sólidas que os petistas herdaram de seus antecessores mais capazes (a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Bolsa Escola — este, sim, carregava uma contrapartida que produzia um efeito positivo no longo prazo em vez de boçalizar a população com esmola–, a autonomia do Banco Central, a confiabilidade dos dados oficiais, o modelo de privatização, o ordenamento jurídico que atraiu o investidor estrangeiro, a estabilidade econômica e de regras, a não-intervenção nos mercados…).
 Eu não mordo os cotovelos porque as pessoas estão menos pobres.
 Mordo de ver que o PT transformou em mais um vôo de galinha a maior oportunidade que o Brasil jamais teve de entrar definitivamente para a elite global.  Mordo de ver que gente inteligente como você não consegue perceber a destruição do nosso futuro que está sendo promovida dia após dia por gente que só quer se locupletar e perpetuar seu poder sobre a máquina estatal — cada dia maior e mais nefasta para a economia e, por extensão, à sociedade.  Mordo de ver que estamos abandonando as fontes que trouxeram riqueza para este país para nos alinharmos cada dia mais aos membros do Foro de São Paulo — do qual fazem parte o mais abominável ditador do século na América do Sul e o grupo narco-guerrilheiro que ele apóia no país vizinho.  Mordo de ver que gente do bem ainda se alinha com os maiores bandidos que já ocuparam o poder central deste país.  Mordo de pena. Mordo de tristeza. Mordo de desesperança. 09 de dezembro de 2012

ADEUS, LULA

 
O colunista de Veja, Augusto Nunes disse:

"Transcrevo o esplêndido artigo de MARCO ANTONIO VILLA publicado no Globo desta terça-feira. É um texto que eu gostaria de ter escrito.
A presença constante no noticiário de Luís Inácio Lula da Silva impõe a discussão sobre o papel que deveriam desempenhar os ex-presidentes. A democracia brasileira é muito jovem. Ainda não sabemos o que fazer institucionalmente com um ex-presidente. Dos quatros que estão vivos, somente um não tem participação política mais ativa. O ideal seria que após o mandato cada um fosse cuidar do seu legado. Também poderia fazer parte do Conselho da República, que foi criado pela Constituição de 1988, mas que foi abandonado pelos governos — e, por estranho que pareça, sem que ninguém reclamasse.

Exercer tão alto cargo é o ápice da carreira de qualquer brasileiro. Continuar na arena política diminui a sua importância histórica — mesmo sabendo que alguns têm estatura bem diminuta, como José Ribamar da Costa, vulgo José Sarney, ou Fernando Collor. No caso de Lula, o que chama a atenção é que ele não deseja simplesmente estar participando da política, o que já seria ruim. Não. Ele quer ser o dirigente máximo, uma espécie de guia genial dos povos do século XXI. É um misto de Moisés e Stalin, sem que tenhamos nenhum Mar Vermelho para atravessar e muito menos vivamos sob um regime totalitário.

As reuniões nestes quase dois anos com a presidente Dilma Rousseff são, no mínimo, constrangedoras. Lula fez questão de publicizar ao máximo todos os encontros. É um claro sinal de interferência. E Dilma? Aceita passivamente o jugo do seu criador. Os últimos acontecimentos envolvendo as eleições municipais e o julgamento do mensalão reforçam a tese de que o PT criou a presidência dupla: um, fica no Palácio do Planalto para despachar o expediente e cuidar da máquina administrativa, funções que Dilma já desempenhava quando era responsável pela Casa Civil; outro, permanece em São Bernardo do Campo, onde passa os dias dedicado ao que gosta, às articulações políticas, e agindo como se ainda estivesse no pleno gozo do cargo de presidente da República.

Lula ainda não percebeu que a presença constante no cotidiano político está, rapidamente, desgastando o seu capital político. Até seus aliados já estão cansados. Deve ser duro ter de achar graça das mesmas metáforas, das piadas chulas, dos exemplos grotescos, da fala desconexa. A cada dia o seu auditório é menor. Os comícios de São Paulo, Salvador, São Bernardo e Santo André, somados, não reuniram mais que 6 mil pessoas. Foram demonstrações inequívocas de que ele não mais arrebata multidões. E, em especial, o comício de Salvador é bem ilustrativo. Foram arrebanhadas — como gado — algumas centenas de espectadores para demonstrar apoio. Ninguém estava interessado em ouvi-lo. A indiferença era evidente. Os "militantes" estavam com fome, queriam comer o lanche que ganharam e receber os 25 reais de remuneração para assistir o ato — uma espécie de bolsa-comício, mais uma criação do PT. Foi patético.

O ex-presidente deveria parar de usar a coação para impor a sua vontade. É feio. Não faça isso. Veja que não pegou bem coagir: 1. Cinco partidos para assinar uma nota defendendo-o das acusações de Marcos Valério; 2. A presidente para que fizesse uma nota oficial somente para defendê-lo de um simples artigo de jornal; 3. Ministros do STF antes do início do julgamento do mensalão. Só porque os nomeou? O senhor não sabe que quem os nomeou não foi o senhor, mas o presidente da República? O senhor já leu a Constituição?

O ex-presidente não quer admitir que seu tempo já passou. Não reconhece que, como tudo na vida, o encanto acabou. O cansaço é geral. O que ele fala, não mais se realiza. Perdeu os poderes que acreditava serem mágicos e não produto de uma sociedade despolitizada, invertebrada e de um fugaz crescimento econômico. Claro que, para uma pessoa como Lula, com um ego inflado durante décadas por pretensos intelectuais, que o transformaram no primeiro em tudo (primeiro autêntico líder operário, líder do primeiro partido de trabalhadores etc. etc.), não deve ser nada fácil cair na real. Mas, como diria um velho locutor esportivo, "não adianta chorar". Agora suas palavras são recebidas com desdém e um sorriso irônico.

Lula foi, recentemente, chamado de deus pela então senadora Marta Suplicy. Nem na ditadura do Estado Novo alguém teve a ousadia de dizer que Getúlio Vargas era um deus. É desta forma que agem os aduladores do ex-presidente. E ele deve adorar, não? Reforça o desprezo que sempre nutriu pela política. Pois, se é deus, para que fazer política? Neste caso, com o perdão da ousadia, se ele é deus não poderia saber das frequentes reuniões, no quarto andar do Palácio do Planalto, entre José Dirceu e Marcos Valério?

Mas, falando sério, o tempo urge, ex-presidente. Note: "ex-presidente". Dê um tempo. Volte para São Bernardo e cumpra o que tinha prometido fazer e não fez. Lembra? O senhor disse que não via a hora de voltar para casa, descansar e organizar no domingo um churrasco reunindo os amigos. Faça isso. Deixe de se meter em questões que não são afeitas a um ex-presidente. Dê um bom exemplo. Pense em cuidar do seu legado, que, infelizmente para o senhor, deverá ficar maculado para sempre pelo mensalão. E lá, do alto do seu apartamento de cobertura, na Avenida Prestes Maia, poderá observar a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde sua história teve início. E, se o senhor me permitir um conselho, comece a fazer um balanço sincero da sua vida política. Esqueça os bajuladores. Coloque de lado a empáfia, a soberba. Pense em um encontro com a verdade. Fará bem ao senhor e ao Brasil.


09 de dezembro de 2012
 

"CAINDO A FICHA"

"Nada como uma safra de notícias negativas para que o governo comece a refletir um pouco mais sobre o que anda dando errado na economia brasileira, que deve crescer só 1% neste ano.

Depois do PIB "nada espetacular" do terceiro trimestre e da inflação ainda elevada de novembro, alguns assessores presidenciais começaram a enxergar problemas onde, até pouco tempo, só viam virtudes.

É o caso do sentimento refratário de investidores em relação ao estilo presidencial. No governo, reinava o discurso de que eles estão muito mal acostumados com a era do "almoço grátis" no país e terão de se adaptar aos novos tempos -de taxa de retornos bem menores.

A avaliação tem lá seu sentido e justificativa. Essa turma ganhou muito dinheiro fácil por aqui nos últimos anos. Só que o governo parece ter exagerado na sua autoconfiança e começou a distribuir sopapos de forma indiscriminada, sobrando até para quem não merecia.

Agora, com o investimento registrando a quinta queda consecutiva, alguns assessores passaram a admitir reservadamente que o tratamento nada amigável dispensado aos investidores teve sua influência no resultado ruim da economia.

Um conselheiro da presidente Dilma vai na mesma linha. Em sua opinião, ela vem tomando as medidas adequadas e corretas, mas seu governo erra nos detalhes e na forma como as negocia com o empresariado e investidores. Um tom de arrogância prepondera e cria ruídos.

Assessores e conselheiros acreditam que foi quebrada, em alguns casos, a relação de confiança entre governo e setor privado, paralisando investimentos. Alguns, inclusive, estão mudando de endereço e seguindo para países vizinhos.

Um dos assessores disse que, com jeitinho, iria repassar sua avaliação à presidente. Em sua opinião, é hora de ser mais suave no trato, sem perder a direção. Enfim, a ficha parece estar caindo. A conferir.

09 de dezembro de 2012
Valdo Cruz, Folha de São Paulo

"A DECISIVA SEGUNDA METADE"

Dilma Rousseff não contou, na primeira metade de seu mandato presidencial - e não contará na segunda -, com um contexto internacional favorável como contou Lula, embora o ex-presidente nunca tenha reconhecido o quanto dele se beneficiou. E se Lula preferiu "esquecer" esse fato, o governo Dilma viu-se obrigado a chamar a atenção - com insistência - para a crise no mundo desenvolvido, seu ministro da Fazenda chegando a afirmar que se não fosse a crise internacional o Brasil poderia estar crescendo em torno de 4,5% a 5% ao ano.

Mas o fato é que há países no mundo que estão respondendo bem à crise com que se defrontam os Estados Unidos, a Europa e o Japão. Para ficar apenas aqui, na América Latina, as taxas de crescimento no biênio 2011-2012 no Chile, na Colômbia, no Peru e no México são - em muito - superiores à brasileira. As taxas de inflação desses quatro países são - em muito - inferiores à brasileira. E as taxas de investimento desses mesmos quatro países estão na faixa dos 23% a 25%, ante os 18% a 19% do Brasil.

Há um quase consenso entre economistas brasileiros das mais variadas persuasões de que a chave para o nosso crescimento econômico sustentado é o aumento de nossa taxa de investimento dos atuais 18%-19% para níveis próximos dos desses quatro países latino-americanos citados acima (que já são abaixo dos asiáticos). Volto ao tema do artigo publicado neste espaço em junho deste ano (Urgências no gradualismo), agora com referência mais específica aos problemas do setor de petróleo e gás.

Em 7 de setembro de 2009 a então chefe da Casa Civil e óbvia candidata à Presidência da República concedeu ao jornal Financial Times longa e detalhada entrevista sobre o tema. A primeira e natural pergunta do jornalista foi: "Por que mudar o regime de concessão para o de partilha?".

Dilma Rousseff foi muito clara ao apresentar, e reiterar, ao longo da importante entrevista as suas três razões básicas: baixo risco exploratório no pré-sal, alta taxa de retorno sobre o investimento na área e reservas potenciais de petróleo e gás que poderiam chegar a dezenas de bilhões de barris de petróleo equivalente. A conclusão ou o corolário natural que a então ministra defendeu com convicção: "Nós (governo) queremos uma fatia maior das receitas deste petróleo".

Daí a decisão de mudança do regime de concessões para partilha. (A propósito, acaba de sair um bom livro sobre esse tema, editado por Fabio Giambiagi e Luiz Paulo Velloso Lucas.)

Deixemos de lado uma pergunta fundamental: era mesmo preciso mudar totalmente a Lei do Petróleo de 1997 apenas para aumentar a fatia do governo? (Algo que o regime de concessões, adaptado, já permitiria, dizem especialistas, por meio do aumento da "participação especial" para os novos campos do pré-sal.) A questão relevante, no entanto, após a controvertida decisão da mudança de regime, passou a ser a viabilização dos investimentos para a empreitada, principalmente com a Petrobrás tendo de assumir a posição de operadora, com pelo menos 30% de todos os campos do pré-sal a serem explorados.

Em entrevista a este jornal há exatos três anos (2/12/2009, Economia, página B3), Sergio Gabrielli, então presidente da Petrobrás, diz o seguinte: "Hoje, a Petrobrás tem um plano de investimentos de US$ 174 bilhões para cinco anos (2009-13), que vai aumentar. Quanto eu não sei ainda. Mas, com certeza, é maior. US$ 174 bilhões em cinco anos significa cerca de US$ 35 bilhões por ano". E acrescenta: "A companhia não é capaz de gerar caixa livre para fazer esse investimento".

Em 2009 a Petrobrás levantou US$ 31 bilhões de dívida nova (fato muito enfatizado pela ministra-chefe da Casa Civil na entrevista de 7 de setembro, supondo que captações adicionais não seriam problema, dadas as suas três razões básicas já mencionadas).

Mas Gabrielli nota que a Petrobrás tem de respeitar certos limites na relação dívida/capital próprio. E que seria necessária uma capitalização da empresa - como veio a ser feito. Sobre a capacidade de endividamento futuro da empresa, Gabrielli refere-se ao "potencial de produção" de quatro campos, diz que em outros quatro não se sabe qual o volume e que "das áreas não concedidas ninguém sabe nada". Como continuamos não sabendo, porque não há leilões nem para o pré-sal nem para nenhuma outra área, inclusive em terra, desde dezembro de 2008 - quatro anos atrás. Tempo precioso.

A pergunta fundamental continua sendo: a mudança de regime de concessão para o de partilha aumentou os incentivos ao investimento, público e privado (doméstico e internacional) no setor de petróleo e gás e em sua cadeia? Em outras palavras: para a mesma expectativa quanto às possibilidades de produção potencial do pré-sal, o ambiente de negócios melhora, piora ou é indiferente no que se refere ao regime escolhido?

Os casos do petróleo - e da energia elétrica - não são isolados. As mesmas controvérsias sobre os papéis relativos do Estado, de empresas públicas e do setor privado existem em outras áreas, como portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, trens-bala, saneamento, abastecimento de água. A convivência de diferentes visões por vezes levou a paralisias decisórias, que a presidente Dilma vem, à sua maneira, procurando enfrentar.

Vale concluir com pertinente observação de Felipe González, ex-primeiro ministro da Espanha: "Paradoxalmente, o grande problema da ideologia é que ela obscurece o debate de ideias sobre a ação do poder público ao tratar como grandes questões políticas e morais problemas específicos que deveriam ser enfrentados como questões de eficiência operacional do setor público, quando não há diferenças de vulto sobre os objetivos a alcançar, e sim sobre as formas mais eficazes de fazê-lo".

Até 2014 teremos, talvez, alguma indicação adicional sobre essa questão.

Até lá, um feliz Natal e um próspero ano-novo a todos!

09 de dezembro de 2012
Pedro Malan, O Estado de São Paulo

"PIBINHO MOSTRA AMBIENTE AZEDO E DILMA PERDIDA"

Azedou e levantou poeira
Pibinho não disse coisa nova sobre a economia, mas ambiente ficou azedo e Dilma parece perdida
DILMA ROUSSEFF disse que jamais viu jornal propor demissão de ministro. A presidente indignava-se de responder à sugestão da revista britânica "The Economist", que na semana passada avacalhou o Brasil e pediu a cabeça do ministro da Fazenda.

A presidente poderia ter se poupado do vexame duplo que foi responder à sugestão e dizer bobagem ao fazê-lo. Aqui e alhures, a imprensa não apenas pede a cabeça de ministros e presidentes como ajuda a derrubá-los. No mínimo, a presidente deve saber quem foi Carlos Lacerda, brilhante articulista de golpes nos anos 1950 e 1960, que pedia a cabeça e o fígado de presidentes. Mas passemos.

Como Dilma lê jornais e livros, é provável que o tropeção se deva ao fato de a presidente estar "hecatombada pela vaga da ressaca", como diz o verso de Mário Faustino, fora de si por causa do resultado muito ruim do PIB, de fato um ressacão, nos vários sentidos da palavra.

Em português mais corrente, Dilma ainda pergunta se anotaram a placa do caminhão que atropelou o devaneio inaugural da sua presidência, de crescimento médio de quase 6% no seu mandato, em vez do 1,8% da primeira metade de seu governo.

Sim, o clima azedou na semana que se seguiu à divulgação do Pibinho. Nem era para tanto, mas azedou. Se no terceiro trimestre a economia tivesse crescido o esperado, o desempenho ainda seria muito ruim, de crescimento anual em torno de 1%.

Sim, a ressaca lavou a esperança de crescimento maior em 2013, mas também não muito. Mais importante, o número pífio do PIB destampou e deu mais legitimidade às críticas engasgadas na garganta de muita gente, em especial economistas ditos "liberais".

Porém, Dilma é apenas em parte responsável pelo mau resultado de agora. Se continuar a insistir em algumas políticas, pode legar coisa ainda pior a seu sucessor(a). Decerto tem ajudado a atrapalhar.

Seu governo não tinha projeto. Intervém onde não deve na economia. Aceitou o pacote de ministros e agregados proposto por Lula, gente muita vez incompetente, enrolada ou corrupta mesmo.

A quizumba promovida por essa gente ajudou a derrubar o investimento do governo e a desorientar normas que pautam a atividade econômica, veja-se a miséria das agências reguladoras.

Em termos macroeconômicos, seu governo não vai mal. A dívida pública cai, os juros caíram muito. A inflação vai alta, mas nem tanto agora. Mas Dilma acredita que pode fazer a economia andar controlando preços, lucros e apenas dando dinheiro a empresários.

A presidente dá alguns sinais de que as coisas podem melhorar no futuro, mas em seguida nubla o ambiente, levanta poeira batendo o pé em vez de negociar e obter resultados. Veja-se o caso da redução do custo da energia elétrica ou da enrolada privatização de obras e serviços de infraestrutura (aeroportos, estradas, portos etc.). Perde seu tempo com projetos megalômanos, como o do trem-bala.

Dilma não oferece esperança de que a economia será menos burocrática e engessada (não promete "reformas"). Dedica-se a muitos remendos e intervenções que aumentam a confusão legal e microeconômica. Mexe muitos pauzinhos, mas não faz uma canoa.

09 de dezembro de 2012
Vinicius Torres Freire - Folha de São Paulo

"A GUERRA SEM BATALHAS"

Muito melhor do que enfrentar o inimigo no campo de batalha é solapar o moral de seus soldados

Falei aqui de uma China que, em pleno século 18, se julgava um império celestial, centro do mundo civilizado, e que considerava todos os demais povos como bárbaros. Isso está no livro de Henry Kissinger "Sobre a China". Mas se você continua lendo-o, tem outras surpresas, como se verá.

A civilização chinesa, diferentemente da ocidental, não criou uma religião que prometesse a salvação da humanidade, nem acreditava em vida após a morte. Guiou-se fundamentalmente pelo pensamento de um filósofo chamado Confúcio, cuja sabedoria estava voltada para a solução de problemas do mundo real.

Confúcio ensinava que o fundamental para cada um é conhecer seu lugar e buscar uma harmonia superior. Nesse sentido, o imperador era concebido como um soberano supremo da raça humana, a ligação entre o céu, a Terra e a humanidade. Se se desviasse do caminho da virtude, o mundo se tornaria um caos.

Dá, assim, para imaginar a responsabilidade que pesava sobre seus ombros. Por isso mesmo, o protocolo insistia no reconhecimento de sua condição soberana no

"kowtow" -um ato de completa prostração, a que todos estavam obrigados diante dele, tocando o chão três vezes com as costas, a cada reverência.

Essa mescla, que une a divinização do imperador e do próprio reino chinês a uma compreensão prática da vida e da política, é uma das surpreendentes originalidades da China. Tal visão pragmática decorre dos ensinamentos de Confúcio, que ajudaram a formar uma espécie de sacerdócio de funcionários -eruditos, selecionados por meio de exames realizados em todo o país e encarregados de manter a harmonia nos outros domínios do imperador.

Essa elite administrativa desenvolveu uma visão política que norteava as decisões do governo em face das questões que surgiam com os que lhe invadiam o território.

Em vez de tentar derrotar e submeter aqueles "bárbaros", tratava de dividi-los, e se aproveitava dessa divisão para jogá-los uns contra os outros. "Favorecemos um lado ou outro e deixemos que lutem entre si", escreveu um funcionário da dinastia Ming.

Como observa Kissinger, em raras ocasiões os estadistas chineses arriscaram o resultado de um conflito em uma única batalha de tudo ou nada. O seu estilo, pelo contrário, era usar de elaboradas manobras de longa duração. Não é por acaso que o jogo mais antigo da China é o "wei qi", que implica submeter o adversário a um cerco estratégico. Múltiplas batalhas são disputadas simultaneamente em diferentes pontos do tabuleiro. No final do jogo, o tabuleiro está repleto de domínios estratégicos parcialmente interligados e o vencedor nem sempre é fácil de identificar. É o contrário do jogo de xadrez jogado no ocidente, em que a vitória é total e óbvia.

A finalidade do jogo, aqui, é o xeque-mate. Disso resulta que, se o xadrez é uma batalha decisiva, o "wei qi" é uma campanha prolongada. Se o jogo de xadrez visa à vitória total, o "wei qi" busca a vantagem relativa. O jogador de "wei qi" precisa avaliar não só as pedras que estão no tabuleiro, como também os reforços que o adversário está em condições de mobilizar.

É um jogo que ensina a arte do cerco estratégico, e nisso se assemelha à teoria militar chinesa, que igualmente busca a vantagem psicológica e procura evitar o conflito direto, como ensina o célebre tratado "A Arte da Guerra", de Sun Tzu, escrito há mais de 2.000 anos.

Conforme observa Kissinger, o que distingue essa teoria militar da teoria ocidental é a ênfase nos elementos psicológicos e políticos, em vez dos puramente militares. Os estrategistas ocidentais testam suas convicções pelas vitórias nas batalhas, enquanto Sun Tzu as testa pelas vitórias em que as batalhas não foram necessárias.

Sun Tzu pergunta em que o estadista deve se mostrar prudente, e responde que a vitória não é simplesmente o triunfo das armas e, sim, a realização dos objetivos políticos que o conflito militar pretendia assegurar.

Por isso, muito melhor do que enfrentar o inimigo no campo de batalha é solapar o moral de seus soldados. No fundo, a estratégia militar, segundo ele, resolve-se em uma disputa psicológica. A suprema vitória consiste em vencer o inimigo sem travar qualquer combate.

09 de dezembro de 2012
Ferreira Gullar

BANDO DE ROSEMARY, CÚMPLICE DE LULA, USOU FIRMA DE FACHADA

 De fachada, literalmente...


Imóvel de fachada

Paulo Vieira era tão próximo de Rose Noronha que ele próprio foi o advogado do divórcio entre ela e o ex-marido, João Cláudio, em abril de 2010. O irmão de Paulo, Marcelo, foi testemunha. O divórcio foi registrado em Cruzeiro (SP), sabe-se lá porque.

A própria escritura diz que todos estavam “de passagem pela cidade”. Segundo o documento, o casal já estava separado de fato havia cinco anos.

Na partilha de bens, três imóveis: dois apartamentos – um em Santos e outro no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo — ficaram para ele. Outro, uma cobertura na Bela Vista, região da Avenida Paulista, ficou para Rose.

A propósito da cidade, as investigações da PF indicam também que parte do dinheiro movimentado pela quadrilha passava pelas contas da P1 Serviços Gerais, sediada em Cruzeiro.

Por ali, passarampelo pelo menos 140 000 reais em depósitos do advogado Marco Martorelli, contratado por Gilberto Miranda para ajudá-lo a transformar a ilha de Bagres, em Santos, em terminal portuário.

É literalmente uma empresa de fachada. No local, há apenas uma casa demolida, em que só resta a parede da frente.

09 de dezembro de 2012
Por Lauro Jardim - Radar - Veja Online

"DILMA NA HORA DA VERDADE"

Quando escolheu a ministra-chefe de seu Gabinete Civil, Dilma Rousseff, para disputar pelo PT a sua própria sucessão na Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva tratou logo de embalar a futura candidata com atributos de excepcional gestora da coisa pública, adornando-a com a obsequiosa qualificação de "Mãe do PAC".

No Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Lula depositava alentadas esperanças de se consagrar como o governante que teria feito tudo aquilo que ninguém jamais ousara ou tivera o descortino e a capacidade de fazer antes na história deste país. Ser "mãe do PAC", condição que obviamente implicava elevada capacidade administrativa, era - para usar a expressão que o lulopetismo popularizou - "mel na chupeta", fórmula infalível para garantir a vitória eleitoral. Tese que resultou provada, confirmando a enorme habilidade política de seu inventor.


O que resta a ser comprovado, quando a "mãe do PAC" está prestes a completar dois anos de governo, é sua tão decantada capacidade administrativa. Ninguém melhor do que Dilma Rousseff entende as dificuldades de governar nas condições consagradas pelas práticas habituais dos oito anos precedentes a sua ascensão ao Palácio do Planalto. Como também não ignora que manter incólume a imagem de governante competente é essencial para garantir a pretensão de se reeleger daqui a dois anos. E não é por outra razão que ela se tem mostrado obsessivamente empenhada em blindar sua imagem de gestora eficiente.

De fato, o desafio que Dilma tem pela frente não é brincadeira. Para começar, é preciso reconhecer que assumiu o governo em condições muito menos favoráveis do que aquelas em que seu padrinho navegou durante a maior parte dos oito anos de mandato: a estabilização monetária e o início da modernização do Estado, levados a bom termo nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique, ao que se somou uma conjuntura econômica internacional extremamente favorável pelo menos até 2008.

Dilma, por sua vez, chegou ao poder tendo pela frente desde logo três condições severamente adversas: a economia global em crise; uma estrutura governamental contaminada por oito anos de verdadeira farra do boi com as finanças públicas e com capacidade operacional seriamente prejudicada por um aparelhamento partidário sem precedentes; e a manifestação clara dos efeitos negativos da ineficiência de uma gestão pública marcada pelo fisiologismo e pelo aparelhamento político-partidário da máquina do Estado.

Mas o fato é que nada, senão um incorrigível dogmatismo ideológico e a vocação autoritária, justifica a insistência com que Dilma Rousseff tem metido os pés pelas mãos na tentativa de enveredar por atalhos desastrados para a solução de problemas importantes. Tomem-se como exemplo as medidas para baratear a energia elétrica. É muito fácil prometer ao País energia 20% mais barata e impingir a conta goela abaixo do Tesouro, dos governos estaduais e dos acionistas minoritários das empresas energéticas.

E ainda por cima acusar de "insensibilidade" os que se recusam a se submeter ao golpe. Equívocos como esse, que se somam à inoperância dos PACs, às indefinições do pré-sal, à ausência de resultados significativos nas áreas de saúde e saneamento, à sempre adiada transformação da Educação em prioridade básica, à absoluta incapacidade de inovar e avançar na área cultural - tudo isso, dois anos passados da posse na Presidência, coloca em xeque a imagem de competência gerencial de Dilma Rousseff que os marqueteiros petistas venderam para o público.

E não serão medidas paliativas ou lances de pura promoção pessoal que impedirão que os indicadores econômicos continuem se deteriorando a ponto de afetar o bolso da "nova classe média" e, em consequência, abalar a popularidade de Dilma Rousseff. E o que o governo faz para melhorar seu desempenho? Aperfeiçoa métodos de planejamento e gestão? Não. Manda instalar 170 câmeras de TV para que a presidente possa fiscalizar obras públicas em tempo real. É inútil fiscalizar o que não foi competentemente planejado.

09 de dezembro de 2012
Editorial do Estadâo

"CHAPÉU ALHEIO"

 

O tempo dirá do acerto ou não da revista inglesa The Economist ao sugerir que Dilma Rousseff mude sua equipe econômica se quiser encarar um novo mandato. Mas tudo leva a crer que a despropositada reação da presidente ao artigo seja mais do que uma corriqueira irritação.

O que a perturbou foi o tema: a quebra de confiança dos agentes econômicos, algo que seu governo, na ânsia de tapar buracos, alimenta de forma cada vez mais veloz e despudorada.

A cena foi patética. No Itamaraty, antes de um almoço com chefes de estado do Mercosul, Dilma saiu atirando na revista inglesa. Disse que não aceitaria o conselho para demitir o ministro da Fazenda Guido Mantega, e que não se deixaria influenciar por uma revista que não fosse brasileira.

Se as revistas verde-amarelo podem comemorar a declaração, mais ainda pode fazer a The Economist, que teria acertado o alvo com precisão.

Dilma perdeu a chance de ficar calada. Mas uma coisa é verdade: ela deveria prestar mais atenção à imprensa nacional.



Faria bem levar a sério, por exemplo, os alertas quase diários do jornalista Rolf Kuntz, de O Estado de S. Paulo, ou a explicação cartesiana do jornalista Carlos Alberto Sardenberg, de O Globo, para a relação azeda entre o governo e o setor privado: “Há uma perversa combinação de hostilidade ideológica, negócios de compadres e corrupção. Nesse ambiente, só investe quem consegue um jeito de transferir o risco para o governo, obter financiamento e/ou subsídio e/ou acertar com funcionários na base da propina”.

Em bom português, os ingleses beliscaram o problema. Chegaram perto. Há mais do que quebra de confiança. Há um total descrédito. Regras que mudam durante o jogo, seletividade por setores e por empresários amigos, benefícios para uns e outros, corrupção à solta. E um galope rápido rumo à Argentina, à América Latina esquerdóide e populista.

A equação é complexa. Como atrair parceiros privados para investimentos bilionários na área portuária, como apelou Dilma na última quinta-feira, no mesmo momento em que o governo dá rasteiras em empresas de energia?

O conto marqueteiro de que as energéticas de São Paulo, Minas Gerais e Paraná não aceitaram mexer nos seus contratos por birra dos governadores do PSDB, impedindo que Dilma reduza a conta de luz em 20%, serve para eleição, mas espanta investidores que têm de manter seus negócios, distribuir dividendos, ter lucro.

Motivo de sobra para Dilma se aborrecer com o artigo dos ingleses. Ela sabe que a confiança dos investidores se quebrou. E que eles não mais serão os alheios a lhe fornecer o chapéu para as cortesias.

09 de dezembro de 2012
Mary Zaidan, Com Blog do Noblat - Globo Online

"EIS Q QUESTÃO"

A argumentação jurídica de Ricardo Lewandowski sobre a perda dos mandatos dos deputados condenados soou consistente, mas a questão levantada por Joaquim Barbosa foi definitiva porque disse respeito à vida: "É compatível com o mandato parlamentar alguém condenado a sete, oito, nove anos de prisão?".

Eis a pergunta que a Câmara precisará responder depois que os outros sete ministros do Supremo Tribunal Federal aptos ao voto no processo do mensalão se manifestarem sobre três deputados condenados.

A Casa deverá se posicionar em qualquer hipótese. Se o STF deixar com ela a última palavra ou se entender que a cassação é automática. Neste caso, se resolver reagir estará contratando um atrito inútil.

Poderá espernear, mas objetivamente nada restará além de devolver o assunto ao próprio STF, dono do veredito final gostem suas excelências ou não.

Mas, não nos antecipemos aos fatos e caminhemos por partes.

Não está em discussão o mérito, já que a condenação penal é causa prevista para a perda do mandato, mas a forma. A quem cabe o "cumpra-se", ao Legislativo ou ao Judiciário?

Depende do ponto de vista. O presidente da Câmara, Marco Maia, apoia-se em dispositivo constitucional que confere esse direito ao Parlamento, "por maioria absoluta e voto secreto".

A contar pelas manifestações até agora, o Legislativo não abre mão, ignorando desta vez a tese ali bastante celebrada de que a regra deveria ser mudada para transferir à Justiça o poder de interromper mandatos.

Muitos deputados e senadores se dizem constrangidos de julgar seus pares quando são examinadas propostas de cassação, alegando que esse tipo de processo não pode ser político. Tal argumento não aparece na atual discussão.

O ministro revisor adota a interpretação preferida da Câmara. Leva em conta um artigo da Constituição e ignora outro que impõe a suspensão de direitos políticos como decorrência da condenação penal. Se esta é decidida pela Justiça, estaria aí claro que a ordem de "cumpra-se" é do STF.

Parece ser essa a visão da maioria, a julgar pelas manifestações dos ministros durante a apresentação do voto de Lewandowski. Dessa maneira também pensam os dois ministros que deixaram a Corte no curso do julgamento, Cezar Peluso e Carlos Ayres Britto.

A despeito de toda fundamentação legal apresentada pelo revisor, o raciocínio dele peca mesmo é naquele ponto em que o pensamento do relator revela-se irrespondível: a lógica da vida como ela é.

Como compatibilizar o exercício de um mandato de representação popular com uma condenação penal, é a questão-chave de Joaquim Barbosa.

Ricardo Lewandowski não vê problema: "Nada impede que os réus exerçam atividade laboral fora do estabelecimento carcerário para, depois, voltarem para o repouso noturno".

O primeiro fala sob a perspectiva moral, indispensável ao ofício público, e o segundo usa a ótica factual, indiferente às peculiaridades do agente detentor de representação popular.

O cumprimento de um mandato não é uma "atividade laboral" como outra qualquer, muito menos a volta do trabalho para "repouso noturno" em "estabelecimento carcerário" pode ser vista como algo corriqueiro quando se trata de parlamentares.

Deles a Constituição exige decoro.

Pode haver falta de decoro maior que o cumprimento de um mandato de dentro de uma cela de penitenciária?

E se ainda fossem poucos os senões, há um obstáculo intransponível: cidadãos condenados por violarem as leis do País não podem continuar a fazer as leis desse mesmo País.

Uma contradição em termos, não fosse antes de tudo um disparate.

Palavreando. "Não estou surpreso", disse Lula a respeito da Operação Porto Seguro em declaração típica de quem diz qualquer coisa quando não pode dizer nada sem complicar mais as coisas.

09 de dezembro de 2012
DORA KRAMER - O Estado de S.Paulo

DE POLÍTICA, LENÇÓIS E OUTRAS CONSIDERAÇÕES

"Mantega opera economia virtual, mas não deve se meter com quem faz contas"
 
O levantador de PIB encrencou com o IBGE
 
O doutor Mantega pode operar numa economia virtual, mas não deve se meter com quem faz contas

Em novembro de 2003, metido numa discussão em torno do crescimento da economia, o então ministro do Planejamento, Guido Mantega, atribuiu-se um poder extraterreno: "Eu não derrubo, só levanto o PIB". Em dezembro do ano passado, colocado diante de uma previsão de que em 2012 a economia cresceria 3,5% contra a estimativa de 4,5% a 5% feita pela doutora Dilma, o levantador de PIB respondeu:

"Me fala quem é que eu mando embora. Você pode me dizer os nomes". Esclareceu que "estou brincando", mas arrematou: "A melhor analista é a presidente".

É nada. Neste ano o PIB fechará com um crescimento inferior a 2%. Em 2011 Mantega entrou na avenida prometendo uma taxa de 4,5%. Quando metade da escola havia desfilado, falava em 4%. Na praça da Apoteose o PIB ficou em 2,7%. Diante do mau resultado, o ministro incorpora o espírito do sambista e promete: "Este ano não vai ser igual àquele que passou". Nessa parolagem, o crescimento econômico de 2012 ficaria em pelo menos 4,5%. Não chegará à metade disso.

Deixe-se de lado o fato de que as medidas tomadas pelo governo para impulsionar a economia fracassaram, o que não é pouca coisa. O doutor Mantega atravessou o espelho quando, diante de um mau terceiro trimestre anunciado pelo IBGE, veio a público para dizer que pedira à instituição que refizesse suas contas. Tomou de volta uma nota oficial informando-o de que "não ocorreram mudanças metodológicas nem de fontes de informação no cálculo do PIB, para o qual são seguidas as recomendações internacionais".

O IBGE, como todas as instituições do gênero, revê rotineiramente seus cálculos. No primeiro trimestre deste ano anunciara um crescimento de 0,2% e corrigiu-o para 0,1%. No período seguinte, reviu seu número de 0,4% para 0,2%. Nos dois casos, Mantega ficou calado. O que ele fez agora foi lançar uma suspeita pública contra uma instituição que, na série histórica, diz mais verdades que mentiras, não se podendo afirmar o mesmo a respeito das estimativas dos sábios da ekipekonômica.


Monogamia

Os lençóis da República informam:

Desde 1930, quando Getúlio Vargas foi para o Palácio do Catete, o Brasil foi governado por apenas três presidentes suspeitos de terem se mantido monógamos durante seus matrimônios: Ernesto Geisel, Humberto Castello Branco e Eurico Gaspar Dutra.

Nos Estados Unidos é possível que de 14 titulares tenham sido 7 os monógamos em todos os seus casamentos: Barack Obama, George W. Bush, Jimmy Carter, Gerald Ford, Richard Nixon, Harry Truman e Herbert Hoover.

Na França só um: Charles De Gaulle.


Gracinha

Nas negociações com a Fifa combinou-se que seriam oferecidos 50 mil ingressos para os jogos da Copa das Confederações, a R$ 28 cada um, para torcedores jovens e pobres.

Como a Fifa exige que os beneficiados sejam sorteados a partir de um cadastro eletrônico, o comissariado decidiu que em janeiro os laboratórios de informática das escolas públicas serão abertos para atender aos interessados. Isso porque eles pensam que jovens pobres não conseguem achar um computador. Tudo bem. Afinal, por R$ 1,4 milhão, 50 mil torcedores poderão ver os jogos.

Em cima disso, o Ministério do Esporte cogita lançar uma campanha publicitária para incentivar os jovens a se cadastrar.

Custo da campanha: R$ 14 milhões. Querem tomar da Viúva uma quantia dez vezes superior ao benefício, com o único propósito de fazer propaganda do comissariado às custas dos pobres que, em última análise, pagam a conta com seus impostos.


Registro

Para instruir o conhecimento da forma como o procurador Joaquim Barbosa foi convidado para o Supremo Tribunal Federal por Lula:

No início de 2003 ele encontrou-se acidentalmente com Frei Betto num saguão de edifício em Brasília. Os dois se conheciam por participarem da ONG Justiça Global. Betto disse-lhe que seria bom se ele fosse para o governo, pediu seu currículo e trocaram cartões.

Um mês depois Barbosa recebeu uma mensagem do chefe de gabinete do ministro da Justiça convidando-o para uma reunião com Márcio Thomaz Bastos. Na semana seguinte os dois tiveram uma longa conversa, e a hipótese do convite foi mencionada.

Bastos não o conhecia. O ministro discutiu a nomeação em pelo menos duas ocasiões com Lula, mencionando prós e contras, e ele resolveu indicá-lo.

Isso foi o que houve. Outras versões são produto da fantasia auricular de Brasília.


Mania de conselho

A nação petista adora criar fóruns, conferências e conselhos. Está em discussão a montagem de uma estrutura para amparar o Sistema de Cultura do Distrito Federal. Nele lida-se com três sistemas e subsistemas, dois fóruns e uma conferência. Os companheiros que gostam de reuniões terão o que fazer.

A novidade aparece com a proposta de criação de um Conselho de Políticas Culturais do Distrito Federal, com 30 membros.

O artigo 12 da proposta informa: "A função de membro do CPCDF será considerada prestação de relevante interesse público e poderá ser remunerada de acordo com o regulamento".

Cadê o regulamento? Fica para depois.


A presença brasileira em Washington

Pindorama ganhou uma posição de relevo na esplanada dos museus de Washington. Acaba de ser doada ao Museu de História Natural a água-marinha "D. Pedro", a maior pedra do gênero existente no mundo. É um obelisco de 35,6 centímetros de altura, pesando 2 kg, lapidada pelo joalheiro alemão Bernd Munsteiner. Peça de grande beleza, vai para a sala onde brilha um diamante azul indiano, famoso pelo tamanho e pelo peso que derramou sobre a vida de seus donos. Maria Antonieta foi guilhotinada, sua amiga princesa de Lamballe, que o usou, teve a cabeça espetada num chuço e outros 13 deram-se mal.

A "D. Pedro" teria saído do Brasil no final do século 20, mas não se sabe como. Numa vinheta histórica, a presença do Brasil nos museus de Washington está marcada pela camisa dez de Pelé (quando jogava no Cosmos) e brilha na galeria das joias.
Saíram de Pindorama 13 das pedras que estão entre os 54 itens de origem conhecida do museu. Muito provavelmente saiu de Minas Gerais o "Diamante Português".
É o maior da coleção, foi do Tesouro Real e acabou nas mãos de uma ex-dançarina da Ziegfield Follies.
São brasileiros os diamantes do colar que Napoleão deu à sua mulher Maria Luisa, provavelmente um capilé mandado por dom João 6º. Saíram de Minas Gerais três enormes topázios, um de 50 kg e outro de 32 kg.
Um terceiro, de 12 kg, foi lapidado e é uma maiores pedras trabalhadas do mundo.

Dos EUA vieram só três pedras.

09 de dezembro de 2012
Elio Gaspari, Folha de São Paulo

ALVO DE CRÍTICAS ATÉ FORA DO BRASIL, MINISTÉRIO DA FAZENDA NÃO TEM COMANDO


Três ministros, nenhum ministro. Críticos veem Fazenda como instituição de três cabeças, na qual nenhuma manda: quem conduz a política econômica é Dilma; aliados dizem que 'low profile' segura Mantega no cargo
 
Na berlinda após o desastroso crescimento do PIB (Produto Interno Bruto), o Ministério da Fazenda é hoje apontado como uma instituição de três cabeças em que ninguém manda de fato.

Interlocutores presidenciais veem um "triunvirato" na pasta, fórmula que ajuda a enfraquecer Guido Mantega, titular oficial do cargo.

Dividem com ele o foco dos refletores e do prestígio presidencial o chefe do Tesouro, Arno Augustin, e o secretário-executivo, Nelson Barbosa. Ambos possuem acesso direto e independente ao Palácio do Planalto, resultado da relação próxima com Dilma Rousseff, construída há anos.

Enquanto o primeiro auxiliar não só tem a chave do cofre da União como apita em todos os pacotes de infraestrutura, o segundo é tido como o formulador da mudança na poupança, do fundo de previdência para servidores públicos e da reforma em curso do ICMS.

Guido Mantega faz a interlocução com empresários e dedica muito de seu tempo a São Paulo, onde reside a nata do PIB. Desembarca em Brasília às segundas-feiras, na hora do almoço, e deixa a capital às quintas à tarde. Sua ausência regulamentar em Brasília neste ano de grande turbulência gera crítica interna e engrossa o "fogo amigo".

Os ataques velados se avolumaram desde a semana passada, quando o IBGE trouxe ao governo o resultado indigesto do PIB no terceiro trimestre: crescimento de apenas 0,6%. O indicador arremessou no colo do ministro um texto da renomada revista "The Economist" pedindo nada menos que sua cabeça.

Uma decepção, lembrou um interlocutor. Motivo: a publicação está entre as preferidas de Mantega.

Disse a revista: "Se a presidente é pragmática, deveria demitir Mantega, cujas previsões exageradamente otimistas perderam a confiança dos investidores".

Nos bastidores domésticos, a percepção sobre Guido Mantega afronta uma máxima atribuída ao ex-ministro Mario Henrique Simonsen: "Não há ministro da Fazenda fraco nem forte. Há ministro da Fazenda. E ponto".

Ninguém no Brasil, nem mesmo expoentes do mercado financeiro, ousou ensaiar sugestão parecida com a feita pela "The Economist".

Mas um fenômeno chama a atenção: nenhum outro ministro exibe um histórico tão frequente de confirmação no cargo como o de Guido Mantega. Não raro, uma nota oficial ou uma declaração da presidente da República sai do forno oficial para debelar rumores de demissão.

Em todos esses avolumados desmentidos, há uma avaliação consensual entre os assessores realmente próximos da presidente: o ministro só deixa o posto se quiser. Ela não só confia no auxiliar como aposta na melhora da economia no ano que vem.

Eis outro fator a amarrá-lo à cadeira, além da ambição de bater os oito anos de Pedro Malan, o titular mais longevo da pasta: a constatação de que, com ou sem triunvirato, quem de fato pilota a política econômica é Dilma Rousseff. E, nessa fórmula, um ministro voluntarioso ou muito forte não tem espaço.

Para alguns amigos do ministro ouvidos pela Folha, vem da aparente fraqueza a razão de sua existência, e permanência, no cargo.

É justamente a imagem de força que distancia Mantega de Pedro Malan. Interlocutores lembram que a influência do chefe da Fazenda durante os mandatos de FHC era grande o suficiente para derrubar colegas de Esplanada.

Em 3 de setembro de 1999, Clóvis Carvalho, à época titular do Desenvolvimento, fez críticas contundentes à política econômica "monocórdica" de Malan, tida como restritiva ao crescimento.

No dia seguinte, Carvalho se retrata, declara "adesão" ao colega da Fazenda e, poucas horas depois, deixa o cargo "a pedido" do presidente.

Um trecho de reportagem publicada pela Folha na ocasião traz outro flagrante: "Malan mostrara-se insatisfeito com a reação de FHC às críticas de Clóvis".

Algo assim hoje é tido como impensável. Até agora, ministro nenhum de Dilma mostrou-se "insatisfeito" por meio da imprensa.

EQUIPE

Integrantes do Executivo apontam outra diferença na equipe econômica em relação ao formato habitual (BC, Fazenda e Planejamento).

Na composição dilmista, o terceiro ministério praticamente desapareceu do debate macroeconômico, tampouco serve de contraponto às ideias da Fazenda.

A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, dedica-se hoje a tocar o PAC (Programa de Aceleração ao Crescimento) e o Orçamento.

Recentemente, recebeu da presidente a incumbência de tentar acelerar a execução de obras no Ministério dos Transportes, após a "faxina" do ano passado. Virou uma espécie de interventora e, não raro, tem de despachar da pasta hoje ocupada por Paulo Sérgio Passos.

Interlocutores dizem que o arranjo sem o Planejamento até diminui outro potencial foco de desgaste para Mantega, pois o livra de um eventual antagonismo. O Banco Central, por exemplo, já não rivaliza com a Fazenda como ocorria nos tempos de Lula.

Mesmo sem opositores públicos no governo, Mantega não se livra das maldades contadas reservadamente. Para colegas, ele é o "ministro fraco, mas que não cai".

09 de dezembro de 2012
NATUZA NERY - Folha de São Paulo

AS MASSAS E O ESTADO EM ORTEGA Y GASSET

    
          Artigos - Cultura 
ortegaQual será a alternativa, meus senhores e minhas senhoras? Eu não sei. Sei apenas que, ficando como está, a humanidade transformará o Estado de instrumento de libertação em instrumento de escravidão e morte. Tudo contra o que Ortega y Gasset desesperadamente lutou.


Minhas Senhoras e meus Senhores,


Quero cumprimentar os organizadores desse evento e, ao fazê-lo, a todos os presentes. É uma honra para mim estar aqui nesta Casa dedicada ao grande Miguel de Cervantes, para falar da obra de um outro grande espanhol, José Ortega y Gasset.

Meu tema não poderia ser outro, eu que dediquei grande parte de minha atividade intelectual dos últimos tempos a estudar a obra de Ortega: o homem-massa e sua relação com o Estado na obra do filósofo celtibero. É o que pretendo comentar aqui.

No conjunto da obra de Ortega certamente esse tema é o mais difundido e é o maior triunfo científico de sua sociologia. Diante da sua filosofia não é o tema principal, todavia. O filósofo foi cirúrgico na sua análise e nas suas previsões nelas fundadas, daí ter encantado gerações de admiradores.
Ao chamar a atenção do mundo para esse fenômeno – a emergência do homem-massa – Ortega o fez como um desesperado, que tinha em mira a sua querida Espanha, que via como invertebrada, isenta de homens egrégios. É na obra ESPANHA INVERTEBRADA, do início dos anos vinte, que poderemos enxergar por inteiro o que ele olhou e pensou. E previu com muita acuidade. O famoso REBELIÃO DAS MASSAS virá depois como um refinamento dessa sua obsessão com a vida de Espanha, seu discurso para os não espanhóis.

E por que me interessei pelo tema? Tomo aqui as palavras do próprio Ortega, escritas em 1934 no prólogo à quarta edição do ESPANHA INVERTEBRADA: “Alguém em pleno deserto se sente enfermo, desesperadamente enfermo. O que fará?” A imagem é primorosa, é como eu me sinto nesses tempos tormentosos. Por me sentir assim é que eu venho aqui falar a vocês.
A minha alma sente o duplo efeito: a ameaça dos perigos dos tempos e a insuficiência de conhecimento alegada por Ortega, socraticamente, ele que era um grande mestre. Com mais rigor e propriedade faço minhas as suas palavras e lamento a minha própria ignorância.

O mundo hoje padece de crises e incertezas da maior envergadura, semelhantes àquelas vividas por Ortega no período em que escreveu o ESPANHA INVERTEBRADA e o A REBELIÃO DAS MASSAS. Novamente tempos de grandes perigos. “A história está novamente em movimento”, para usar a bela frase profética de Arnold Toynbee.
Isso nos deveria fazer quedar, sem ter o que fazer diante do inevitável? De forma alguma. No mínimo, temos que imitar o filósofo e falar nem que seja às estátuas, como o fez em Paris. Ou às almas bondosas que aqui estão. Falar é sempre um grande remédio para a alma desesperada.

Por isso a atualidade de suas reflexões. Quero aqui me debruçar sobre três conceitos: homem-massa, Estado e o poder, ou seja, “quem manda no mundo”. Creio que estão contidas nessas expressões as preocupações do filósofo e a investigação para compreender esses três temas é que lhe deu as chaves para a compreensão da dinâmica política atual.

Não posso aqui deixar de me referir à recente eleição de Barack Obama para a Presidência dos Estados Unidos. Em tudo e por tudo sua eleição está carregada de significados. Quem ouviu o primeiro discurso do presidente eleito em Chicago, diante da multidão prostrada, não pôde deixar de se admirar e de se apavorar. “Change”, gritavam. E também: “Yes, we can”.
Estamos aqui novamente diante de um líder de multidão que é ele mesmo a expressão do homem-massa tornado chefe de Estado. Sua característica principal, quando comparado com lideranças genuínas, é que chefes como Obama não lideram a multidão, são por elas liderados. Daí porque essas palavras-força hipnotizam e apavoram.

Obama só tem a oferecer às massas o poder de Estado posto a serviço de seus apetites e estes não são banais, são impossíveis de ser atendidos: suprimir a lei da escassez, eliminar a crise econômica por medida legislativa e unilateralmente impor a paz quando a guerra se faz necessária. E, a fracassar a paz, como no passado, fazer a guerra pela guerra, no ativismo bélico motivado por razões econômicas e ideológicas, e não pelos nobres e racionais motivos geopolíticos.

Em resumo, Obama é o exemplo mais completo e acabado de chefe de multidões erguido aos ombros pelos homens-massas desde que Hitler foi eleito, em 1933. Vimos como acabou aquela experiência histórica. Temos que decifrar o enigma atual e buscar o sentido das imorredouras palavras de Sófocles, na peça ÉDIPO REI:
Naufraga a polis – pode conferi-lo -;
a cabeça já não é capaz de erguê-la
por sobre o rubro vórtice salino:
morre no solo – cálices de frutas;
morre no gado, morre na agonia
do aborto”.

Eu não encontraria palavras mais poéticas e mais trágicas para descrever o teor da grave crise econômica mundial instalada e a carência de um governante sensato na condução do Estado, em período tão critico. A ideologia por excelência dos homens-massa é o socialismo.
E a causa da crise são as medidas socialistas tomadas no passado. E, quanto mais a crise se agrava, mais medidas socialistas são pedidas pela multidão ao governante, que é seu espelho. A causação circular gera uma espiral política infernal que há um século redundou na pira em que queimou o mundo e os homens na estupidez da guerra e na busca desesperada da solução existencial – a perfeição em vida – pela ação burocrática do Estado. O apogeu dessa loucura foram os fornos crematórios e a bomba atômica, de triste memória.


O que viu Ortega? O surgimento das multidões urbanas, átomos individualizados que herdaram o melhor da tradição ocidental, mas quais filhos pródigos de pais ricos, nada fizeram para dispor do que receberam.
E entre os muitos bens herdados dois se destacam especialmente: a técnica, originada da filosofia e da ciência empírica, que deu às multidões luxos jamais imaginados pelos ricos de outrora; e o Estado, esse portento agigantado pelos modernos administradores, poder comprimido posto nas mãos desses filhos das massas, homens notavelmente despreparados para seu autogoverno.

A ausência dos “melhores”

A primeira grande desgraça que Ortega viu nos novos tempos foi o que ele chamou de “a ausência dos melhores”. Ortega entendia que há uma hierarquia natural, em que a minoria “egrégia”, em tempos sadios, é aceita como a liderança espontânea, cabendo às massas copiar-lhe o exemplo vital e obedecê-la. Quem é essa elite?

Ao ler a obra orteguiana fica sempre a pergunta impertinente. Seria o “nobre” assemelhado ao filósofo platônico? É possível que possamos ver aqui esse parentesco. No entanto, precisamos qualificar o sentido, pois essa minoria egrégia não deve ser confundida, para Ortega, com uma classe letrada ou de verniz sacerdotal, “filósofa”.
Ortega repetidas vezes afirmou que é nobre aquele que dá mais de si, que se sacrifica, que supera as próprias restrições pessoais, pondo-se a serviço dos seus. É aquele que sabe das virtudes e as pratica. Não há, portanto, a idéia de uma aristocracia do conhecimento, mas do ser vital, que traz em si a história viva. Mesmo um homem simples pode ser um egrégio.

O homem nobre é o oposto do demagogo que vai à praça pública pregar facilidades para se tornar governante e que empresta sua oratória para dar voz aos vícios insaciáveis das massas.
Tampouco podemos falar de uma aristocracia de sangue.
O filósofo desdenha dessa idéia e deixa claro que nobreza não pode ser transmitida geneticamente, como diríamos hoje. Nobreza de sangue é apenas uma caricatura jurídica da verdadeira nobreza, a repetição mecânica e um reconhecimento tardio do valor de um ser nobre que viveu no passado.

Então, o que é? Penso que para ele são aquelas pessoas que têm o sentido da história e da tradição. São aqueles que carregam o ônus das virtudes consagradas no Ocidente. São aqueles que fazem da história – mais das vezes a de tradição oral – o seu presente, fundando nela suas ações. Seu viver expressa essa atualidade do antigo.
Fazem o dia a dia contemplando os milênios predecessores. Gente assim tinha ficado escassa no seu tempo, como escassa está atualmente. Os egrégios sumiram precisamente porque não há mais um passado vivo, mas a crença no presente eterno, que se perpetua.

Terá faltado a Ortega, por conta de seu agnosticismo, ligar esse “direito à continuidade” aos valores judaico-cristãos. Uma grande lacuna na sua produção teórica. A leitura atenta de sua obra, todavia, leva, de forma inescapável, a valorizar o cristianismo e colocá-lo, com o devido destaque, na coleção de requisitos para tornar alguém um ser egrégio.
Tem sido, o cristianismo, o veículo pelo qual a atualidade histórica tem sido transmitida nos dois últimos milênios e não podemos deixar de creditar à Igreja Católica o mérito de reconhecer na filosofia clássica seu outro Testamento, conforme a análise lúcida do então jovem teólogo Joseph Ratzinger, no seu INTRODUÇÃO AO CRISTIANISMO, de 1967.

Essa consciência história é o impregnar-se com as virtudes da tradição, a temperança, o senso de justiça, a tolerância. Virtudes assim podem ser praticadas sem que haja a aquisição de cultura livresca, bastando que não seja quebrado o fio da tradição. Por isso que Ortega insistia que um dos direitos mais importantes da pessoa humana era o da “continuidade”, precisamente o de se ter um passado e de se viver o presente, construindo o futuro, sem perder de vista o legado precioso das gerações anteriores.


O império do Homem-massa

O homem-massa de Ortega é o oposto do ser egrégio como antes definido. É homogêneo, desprovido de passado. É o senhorito satisfeito. E reside aqui nessa constatação sua reprovação mais desabonadora: um ser sem passado é um ser sem história, recriado como que vindo do nada a cada geração. Junte-se a isso a confiança de quem domina as técnicas, capazes de grandes maravilhas, e aí teremos o personagem mais arrogante de todos os tempos.

O mundo que se apresenta a partir da segunda metade do século XIX é o das multidões, apinhadas nas grandes cidades. O impacto dessas aglomerações não pode ser minimizado. O ser individual perde a identidade, torna-se uma mônada indiferenciada, uma gota perdida em um oceano de gentes. Em oposição, agiganta-se o grande organizador dessas massas, o Estado, cujo papel muda radicalmente desde então, como veremos a seguir.

Ortega estava preocupado com a Espanha e a Europa, mas acabou por se tornar um profeta dos graves problemas do nosso tempo. Um escritor para o século XXI, para usar a expressão empregada por Vargas Llosa ao falar da obra de Cervantes. Ortega mesmo frisou que os problemas políticos seriam epidérmicos se a sociedade estivesse sadia, se seu corpo (as massas) e sua cabeça (a elite egrégia) estivessem interagindo como deve ser.
Os fenômenos políticos, no entanto, podem ser elevados a alto grau de ameaça, a ponto de colocar a própria sobrevivência da humanidade em risco, se os tomadores de decisões de Estado foram meros representantes das massas insaciáveis. Os problemas políticos então deixam de ser epidérmicos e passam a ser o fator determinante para que a própria vida humana tenha continuidade. Os fornos crematórios de Hitler ainda não perderam de todo o calor, naquela loucura completa que foi o exercício do poder por um legítimo representante do homem-massa. Bombas atômicas estão prontas para uso em várias partes do planeta neste exato momento.

É nesse contexto que devemos tomar a célebre advertência de Ortega: “Eu sou eu e minha circunstância e se não a salvo, não salvo a mim mesmo”. Sábias e imorredouras palavras. Salvar as circunstâncias em política passou a ser um imperativo de nosso tempo. E salvar essas circunstância é resgatar o poder de Estado das mãos dos demagogos, dos chefes de multidão.

Os genocídios comunistas também não devem ser jamais esquecidos. O comunismo, assim como o nazismo, o fascismo e o progressismo, são expressões da política executada diretamente pelos homens-massa, que transformam rufiões oriundos da multidão em mandatários das nações.
Homens sem passado e sem escrúpulos, que pregam facilidade e fazem a apologia de um futuro perfeito, em delirante fuga da realidade. Não são apenas crimes que esses homens praticaram, eles transformaram o Estado, de ferramenta para o bem-comum, na máquina de matar gente em larga escala. Talvez não haja na língua um vocábulo capaz de traduzir a hediondez do que estamos a ver.

O que é o Estado?

Podemos olhar o Estado de muitos ângulos e o que menos nos interessa aqui é vê-lo pela ótica jurídica. Alguém já disse que o Estado é uma ficção. Mas ficção não mata, mas a loucura, sim. O Estado é uma realidade ou uma ferramenta, como definiu Ortega y Gasset. Essa ferramenta é muito importante e sempre foi perigosa, porque o Estado é, antes de tudo, violência concentrada, capacidade de matar, de tributar, de prender, de sujeitar os indivíduos.

O Estado, quando conduzido por gente moralmente inferior, torna-se o grande algoz da humanidade. É isso que temos visto desde então. A própria guerra, cuja natureza nobre sempre foi cultuada pelo melhores, nos tempos hodiernos muda de caráter, passando de instrumento para a recuperação do equilíbrio político e da afirmação da segurança coletiva para a ação de destruição pura e simples de comunidades diferentes.
O homem-massa anseia pela homogeneidade. A guerra passou a matar à escala industrial apenas para satisfazer ideologias cegas, motivadas pela falsa capacidade que teria de aperfeiçoar a humanidade. A busca da igualdade irracional motiva muitos dos morticínios contemporâneos.

O Estado, enquanto ferramenta, nos tempos antigos permitiu ao homem criar uma ordem e, a partir dela, deixar frutificar os seus engenhos, a própria liberdade ela mesma. Sem o Estado não haveria como construir um espaço de liberdade, em que o homem em geral pudesse construir seu próprio destino.
Ao contrário do que pensam aqueles de tendências anarquistas, a alternativa ao Estado não é haver mais liberdade, mas sim, o seu oposto, o caos, que é a escravidão da alma. Importa, pois, não substituir uma ilusão por outra, ou seja, o Estado gigante (ou Total, como costumo chamar), pela sua ausência, mas sim, domesticá-lo e trazê-lo para proporções humanas. Fazer novamente o criador dispor de sua criatura.

O Estado só pode ser benigno quando conduzido pela elite egrégia, que carrega a tradição e sabe da missão e das limitações do ente estatal. A elite sabedora de que o Estado precisa, necessariamente, ser “mínimo”, como defenderam os liberais clássicos. A maior das mentiras da modernidade foi recriar o antigo mito sofista da igualdade, sobrepondo-se à necessidade mais terrivelmente ameaçada de todos os tempos, a liberdade.
O homem-massa, quando alçado ao poder – e até mesmo para ser alçado ao poder – quer tornar o Estado o instrumento para a implantação da igualdade. Esse terrível engano está na raiz dos monstruosos crimes cometidos pelos coletivistas de todos os calibres.

O resultado dessa visão errônea é a estatização progressiva e inexorável da vida cotidiana. Tudo passou a depender do ente estatal. A moeda é do Estado, os regulamentos se multiplicam, a vida espontânea tende ao desaparecimento. Os homens são “coisificados”, tratados com seres incapazes de uma vida adulta e responsável.
É o Estado-mamãe, que tudo provê, mas que não permite o menor desvio de seus regulamentos. Afinal, as leis são inexoráveis e quando se legisla sobre a banalidade da vida torna-se a própria vida uma prisão infame.
Uma crítica à democracia

Trago aqui aos senhores essas reflexões finais, tomando o quadro político que se apresenta aos nossos olhos. Acompanhamos agora as campanhas eleitorais no Brasil e no nos EUA. Pudemos ter uma clareza muito grande como a política pode ser perigosa, um nefasto exercício de auto-engano.
O homem-massa eleitor é agora cortejado não para eleger os melhores partidos e as melhores pessoas para governar. Ele agora é chamado a escolher quem vai colocar “mais” e “melhor” o Estado a serviço de seus apetites, de suas idiossincrasias, de suas ilusões. “Change” e “Yes, we can” são mantras de mobilização de alto poder destrutivo, grávidos que estão de violência irracional.

Temos, pois, a resposta à terrível pergunta de Ortega: “Quem manda no mundo?” Os piores, os moralmente inferiores, os cegos, os potencialmente genocidas, são esses os que mandam no mundo. São os socialistas que mandam no mundo. Essa laia tem hoje nas mãos as rédeas do poder.

O discurso político de todo postulante aos votos parte do suposto da estupidez factual da maioria dos eleitores, que não compreende o Estado e nem os movimentos políticos, mas que julga ser seu “direito” ter todas as benesses que as classes políticas lhes prometem em troca do seu voto.
É crença estabelecida que o Estado tem a obrigação de prover as necessidades básicas, do emprego à escola, da saúde à aposentadoria. Essa crença decreta o fim da democracia, que supõe o indivíduo capaz de prover-se a si mesmo, mesmo que os sistemas eleitorais formais permaneçam funcionando. Estamos a ver o suicídio do sistema democrático e nada lembra mais um Estado policial do que a forma assumida pelos Estados contemporâneos, em todos os lugares.

Vimos nesses exemplos precisamente o esgotamento da experiência da democracia de massas, em que o voto universal não está condicionado por uma estrutura partidária que respeite e proteja a continuidade dos valores da democracia liberal. Do jeito que as instituições estão organizadas, tanto aqui como nos EUA ou em qualquer lugar do mundo, a demagogia da igualdade ou – o que é a mesma coisa – a demagogia de que o Estado teria uma função beneficente (para usar a deliciosa expressão empregada por Ortega em texto de 1953) triunfou. Posso dizer que é o triunfo do totalitarismo, do Estado Total.

Qual será a alternativa, meus senhores e minhas senhoras? Eu não sei. Sei apenas que, ficando como está, a humanidade transformará o Estado de instrumento de libertação em instrumento de escravidão e morte. Tudo contra o que Ortega y Gasset desesperadamente lutou, conforme o testemunho de sua obra. Tudo contra o que todos nós devemos lutar. Não podemos esquecer jamais que vivemos tempo de grandes perigos.

(Apresentação no Instituto Cervantes. Colóquio sobre Ortega y Gasset. 12 de novembro 2008)


09 de dezembro de 2012
Nivaldo Cordeiro