Duas sessões secretas foram suficientes para dar visibilidade ao conflito que separa o governo e o maior partido da base aliada, o PT, em relação à CPI do Cachoeira - desde a iniciativa de sua criação até a condução manipuladora de seus líderes elegendo réus e alvos segundo os interesses de uma pauta própria.
Do pouco que se conseguiu apurar das quase 16 horas de depoimentos dos delegados responsáveis pelas operações Vegas e Monte Carlo sobressai o esforço vão do PT em sentar o Judiciário e a mídia no banco dos réus. Menos por convicção no êxito da causa e mais para, a ela dando curso, minar a credibilidade do primeiro e alimentar a tese inconstitucional de controle da segunda.
Ao dar caráter institucional à estratégia, o presidente do PT, Rui Falcão, entrou em rota de colisão com a presidente Dilma Rousseff, que não esconde sua contrariedade com a criação da CPI, com o discurso contra a liberdade de imprensa e com a guerra aberta ao Judiciário. A mais de um interlocutor, Dilma considerou que Falcão foi além de sua função de dirigente partidário passando a ideia de falar pelo governo.
A leitura expõe a frustração do PT com a inesperada autonomia da presidente Dilma Rousseff, cuja eleição criara em alas radicais do partido a expectativa de maior influência no seu governo do que na era Lula. Foi esse o discurso do ex-ministro José Dirceu, no sindicato dos Petroleiros, ao comemorar sua vitória nas urnas: 'Agora vai começar o verdadeiro governo do PT'.
A surpresa sobre a qual a presidente cala foi o estímulo ao ambiente de radicalismo pelo ex-presidente Lula, ao defender uma CPI com fins políticos.

13 de maio de 2012
JOÃO BOSCO RABELLO - Estadão