"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 10 de abril de 2012

HISTÓRIAS DO FOLCLORE POLÍTICO BRASILEIRO




RIO - Jacinto Benavente, espanhol, escritor, dramaturgo, foi à Argentina em 1922 e saiu de trem visitando cidades do interior, com a atriz Lola Membrives. Quando chegaram a Rufino, ela foi buscar sua correspondência na agencia dos Correios. Havia um telegrama para Benavente. Contava que Benavente havia ganho o Premio Nobel de Literatura. Lola comprou uma champanhe e foi acordar o escritor para comemorarem.

Benavente resolveu completar a excursão e só depois voltar para a Espanha. A noticia logo se espalhou. Em cada cidade, a primeira pergunta era sobre o que ele, agora famoso, achava da Argentina. Benavente não respondia.

Ninguem perguntava por que ganhou o Nobel. Ele ficava furioso.


BENAVENTE


Na hora de Benavente embarcar para a Europa, no porto, quando já estavam retirando a escadinha do navio, as perguntas sobre a Argentina eram ainda mais insistentes. O Premio Nobel não podia viajar sem dizer o que tinha achado da Argentina e dos argentinos. Ele afinal disse :

-“Formem a outra única palavra possivel com as letras que fazem a palavra “argentino”.

Deu adeus, entrou no navio, sumiu lá para dentro e o navio partiu. Os repórteres logo decifraram a charada. A outra única palavra que se pode formar com as letras de “argentino” é “ignorante”.


AGUINIS


Quem a conta essa historia não é nenhum inimigo. É um dos escritores mais lidos e respeitados na Argentina, Marcus Aguinis,ex-ministro da Cultura.

No fim de 2002, pouco antes da eleição de Kirchner, ele publicou um livro de muito sucesso, “El Atroz Encanto de Ser Argentino”, cuja edição brasileira foi prefaciada pelo então ministro Pedro Malan. (Livros anteriores dele: - “Carta Esperanzada a um General”, “Um Pais de Novela”, “Elogio de la Culpa”). Na abertura do “Atroz Encanto”, Aguinis disse :

- “Se tivesse escrito este livro décadas atrás, teria sido condenado como inimigo da Pátria. Meus compatriotas jamais me teriam perdoado. Hoje, é um livro que eles lêem, recomendam e debatem. Este é um dado que, por si só, constitui uma excelente noticia, porque demonstra que os argentinos começam a exercer a autocrítica. Para que a autocrítica exista, é preciso antes eliminar a arrogância. A Argentina encontra-se mergulhada no sofrimento e chora como nunca ao ritmo de seu tango erótico, descarnado e cruel”.


ARGENTINA


Na introdução à edição brasileira, ainda em 2002, depois dos desastres dos governos Menem e De la Rua e antes de Kirchner, Aguinis disse mais :

1. - “Se quiséssemos simplificar as diferenças entre Brasil e Argentina, entre brasileiros e argentinos, poderiamos dizer que os primeiros se divertem ao ritmo do samba e os segundos choram ao ritmo do tango. A alegria do Brasil contrasta com a melancolia da Argentina”.

2. – “Doem-nos a Argentina e seu povo. Por isso é atroz o nosso querer. Até apenas meio século atrás, A Argentina figurava entre os dez paises mais ricos do mundo. Agora, contudo, nossa Republica parece ter perdido o rumo. Pior ainda : está arruinada, maltratada e à beira da agonia. Tem-se a sensação de que ela escorregou para um labirinto onde reina a escuridão. Todo labirinto, não obstante, tem uma saída. É preciso continuar tentando”.

3. – “Naqueles tempos, contrastavamos com nossa mentalidade e surgia uma diabolica contradição. O comediante mexicano Cantinflas sintetizou-a numa frase brutal : - “A Argentina é formada por milhões de habitantes que querem afunda-la mas não conseguem”. Albert Einstein, quando nos visitou em 22, perguntou: -“Como é que um pais tão desorganizado pode progredir”? KIRCHNER

Poucos meses depois desse livro valente, a Argentina reagiu e elegeu Kirchner, um quase desconhecido governador saido lá das geleiras de sua Santa Cruz, nas bordas da Patagônia (“El Pinguino”), com seus esbugalhados olhos vesgos de peixe morto e seu rosto perplexo de foca encalhada.

Na campanha, em março de 2003, escrevi de lá que ele ia ganhar por ser o único candidato que mais claramente e vigorosamente denunciava as elites políticas e econômicas argentinas vendidas ao sistema financeiro, que durante dez anos haviam sustentado Menem e a entrega do pais à ladroagem internacional. A Argentina votou em Kirchner contra os bancos e o FMI.


LULA


Com o pais há tres anos crescendo a quase 10%, Kirchner e a Argentina desabafaram contra a traição de Lula, que rasgou os compromissos da campanha e das alianças sulamericanas, entregou-se ao jugo dos banqueiros internacionais, e, na hora da crise argentina, negou-se a dar-lhes qualquer tipo de apoio, nem sequer formal, quando da difícil e arriscada queda de braço em que, ao final, vitorioso, Kirchner derrotou e humilhou o FMI.

Depois, os Estados Unidos acintosamente pagaram a Lula a traição. Bush mandou sua pit-bull, a Condolezza Rice, com sua peruca cor de graúna, ao Brasil, Chile e Colômbia, pulando a Argentina. E até hoje o governo Lula, alienadamente, pergunta por que Kirchner e a Argentina ficaram irados.

10 de abril de 2012
sebastião nery

CURTO E GROSSO...

O Brasil tem disso: Pelé era Pelé, dentro de campo; fora de jogo era Edson Arantes do Nascimento. O presidente Lula, dentro do Palácio era cabo-eleitoral; fora de lá, também. Agora Tiririca fora da Câmara é palhaço; dentro do grande circo é só mais um.

10 de abril de 2012

MUITO A PROPÓSITO, NESSES TEMPOS DE QUEDA D'ÁGUA, CASCATAS, CACHOEIRAS...

O desvio do pedágio


Por um bom tempo, transportei o progresso pelo Brasil afora. Foi meu ciclo de caminhoneiro independente. Ainda sinto saudade da sensação de olhar de cima o chão dessa terra. Da boléia de um Volvo de grande tonelagem, o buraco é mais embaixo. E o horizonte não fica assim tão colado ao céu e à estrada.

Há façanhas incontáveis para contar. Mais que incontáveis, impublicáveis. Por isso não as conto. Não conto todas. Uma lá que outra, até me animo.

E para não ir mais longe - que o Diesel está mais caro que o tempo, vou tirar da minha carga pesada, apenas um singelo encontro que tive, num trevo estratégico no interior do Paraná, bem à margem daquilo que se conhece como a "rota do contrabando".

Aquele lugar, ermo, despovoado de moradores e viajantes, é um desvio alternativo para quem gosta de escapar dos pedágios. Muita gente já descobriu isso. E os guardas rodoviários, também.

Pois, naquele dia dei de cara com uma dupla de patrulheiros. Simpáticos, fala macia, gestos firmes e controlados, eles me fizeram parar:

- Bom dia, tá boa a viagem?
- Até aqui, tudo bem, meu mestre.
- Seus documentos...
- Pois não.
- Tudo em ordem. Mas, por favor, agora acione o freio traseiro... Isso, assim mesmo.
- OK. Tudo bem?
- Infelizmente, não. A sua lanterna esquerda não tá funcionando...

Nem contestei. Eu não teria como provar o contrário. Impossível para um motorista apertar no freio e verificar se o pisca-pisca está respondendo. Vi que a dupla tinha lido meu pensamento. Sua fala trazia um sorriso tão frio quanto simpático:

- Vamos ter que multá-lo.
- Tá bom, quanto é?
- Ora deixe disso. Essas coisas acontecem. Vá assim mesmo até à primeira oficina e mande arrumar isso aí.
- Muito obrigado, seu guarda...
- De nada, mas só pra gente fortalecer a amizade deixe aí uma coisinha qualquer para o lanche ali do meu parceiro...

Cara pra fora da janela da cabine, meti a mão no porta-luva, puxei uma nota solitária de R$ 20 e coloquei-a no bolso da camisa cáqui do patrulheiro:

- Tá bem assim?

O propineiro fazendo-se de simpático, me retrucou em tom de meia aprovação:

- Amigo, se você acha que tá bom assim... Então tá.
- Não, seu guarda, eu não acho que tá bom assim, não.

E enfiei dois dedos rapidos no seu bolso e retirei de lá as minhas vinte pratas. Nem lhe dei tempo para mais nada. Fiz o câmbio, engatei a primeira marcha e fui saíndo devagarinho:

- Brigado, amigo. Tenho ainda muito chão pela frente.

Estupefato ele se desarmou. E me deixou ir em paz. Parei na primeira oficina. Pedi para o mecânico olhar minha sinaleira traseira. Pisei no freio, enquanto o atendente verificava o sinal:

- Tudo em ordem, parceiro. Tá funcionando legal.
- Brigadão, amigo. Vou adiante que ainda tenho muito chão pela frente.

RODAPÉ - Na vida de caminhoneiro nem sempre você é atropelado por um veículo. Há sempre o risco de não conseguir desviar de um entulho de propina, de pedágio, ou coisa parecida.
10 de abril de 2012

DIÁRIO DA DILMA: EM RESTAURANTE QUE SERVE FAROFA NÃO TEM VENTILADOR

PUBLICADO NA EDIÇÃO DE ABRIL DA REVISTA PIAUÍ



1º DE MARÇO ─ Liguei para o Serginho Cabral para dar parabéns pelo aniversário do Rio, mas caiu na secretária eletrônica: “O governador está em Paris. Para assuntos relacionados à Copa e às Olimpíadas, tecle 1. UPP e UPA, tecle 2…” Desliguei.

2 DE MARÇO ─ O Lula me mandou uns gráficos feitos pelo Zé Dirceu que provavam por A + B que bastava colocar o Crivella no Ministério da Pesca para elevar o PIB, manter meu topete estático e ganhar a Prefeitura de São Paulo. Sei não.
Tsunami monetário. Esse João Santana é bom mesmo.

3 DE MARÇO ─ Engulo sapos para provar que a mulher é forte, mas não houve jeito de conter as lágrimas durante a posse desse Crivella. Traí o comunismo, não tem mais como esconder.
Mamãe tentou me consolar. Como é Dia da Bulgária, abrimos um vinho produzido lá na Dunavska Raunina, ficamos de pilequinho e até ensaiamos uns passos de Sza Sza Tsi Dzi. Descomprimiu um pouco, mas como dói.

5 DE MARÇO ─ Adoro esses terninhos da Angela Merkel. Quando ela vier ao Brasil, vou convidá-la para a nossa mesa de tranca. A Eleonora Menicucci faz um Strudel que é uma beleza.
Ah é? Derrubaram uma barra de ferro no meu pé? Já falei com Guido: taxação pesada nas siderúrgicas.

6 DE MARÇO ─ Será que a Angela gosta de Mad Men? Aquele Don Draper é o maior macho alfa de todos os tempos. Os penteados da mulherada são impecáveis, e o que são aqueles vestidos acinturados? Vou deixar uns DVDs com ela.
Foi bom ver o Putin chorando. Se ele pode, eu também. Vou dizer: às vezes tenho inveja do sistema político de lá. Imagina a liberdade de poder oferecer uns sushizinhos radiativos para a base aliada…

7 DE MARÇO ─ Quem é esse Jérôme Valcke? Mandei a Gleisi demitir. Mas ela veio, toda fofinha, me dizer que o homem é da Fifa. Vou logo sapecar um mon chéri para esquentar aquela orelha suíça. Ou francesa, sei lá.

8 DE MARÇO ─ Vetaram o nome que indiquei para a ANTT bem no Dia Internacional da Mulher. Essa base aliada sabe como magoar. Pedi para o Gilbertinho me preparar um sal de frutas.

9 DE MARÇO ─ Estou há dias sem demitir ninguém. Tá dando coceira. Pedi para a Gleisinha levantar todos os ministérios que temos.
Acho que vou mudar o nome do país para Estados Unidos do Brasil só para ver o Serra perguntar de novo “Mudou?”. Virou bordão aqui no gabinete. Morro de rir com o Gilbertinho perguntando “Mudou?” para todo mundo.
Gleisi chegou com a lista. Esse Ministério do Desenvolvimento Agrário sempre existiu ou o PMDB criou sem meu consentimento? Por via das dúvidas, demiti o ministro. Senti uma coisa boa.

10 DE MARÇO ─ Já estou sentindo a onda chegar. Qualquer hora vão me pedir para vir de bicicleta para o Palácio. Esses verdes são insaciáveis. Não vou, não vou, não vou. Amassa o terninho e desloca o topete, sem falar no suador.

11 DE MARÇO ─ Gabrielzinho veio visitar a vovó. Fizemos a primeira aplicação de laquê naquele cabelinho. Ficou uma gracinha! É como dizia a prima Isifilina: neto de onça já nasce pintado.

12 DE MARÇO ─ Tirei o glúten da dieta. Vamos ver se faz diferença.
Aproveitei também para tirar o Romero Jucá da liderança do Senado. Menos um bigode. Espero que entendam o meu recado.
Anunciei os novos líderes da Câmara e do Senado. Não deu cinco minutos para o folgadão do Gilbertinho bater na porta: “Mudou?”

13 DE MARÇO ─ Aqui se faz, aqui se paga! Esse Ricardo Teixeira tomou o rumo dele. Eu lá sou mulher de dar guarida a malfeito? Com aquela múmia do Marin vai ser mais fácil. Vou mandar grudar tudo na mesa quando ele vier. Só falta ele embolsar minha coleção de apontador.
Direitinho esse moço, Braga, que botei de líder no Senado. Vamos ver no que vai dar!

14 DE MARÇO ─ Gente, não sabia que o limão ajudava a tirar a gordura dos vidros.

15 DE MARÇO ─ Estou gostando demais dessa minissérie do rei Davi. Sou louca por uma história bíblica! Cada pedaço de homem de saiote, cada pernão!

16 DE MARÇO ─ Não entendo essa fixação com bebida alcoólica nos estádios. É tão chato assim ver jogo da Seleção?

17 DE MARÇO ─ A Ideli e a Gleisi vieram me perguntar se não preciso de uma ajuda com a Fifa. Sei. Elas acham que não reparo como ficam coradas toda vez que esse Valcke vem aqui no Palácio. Outro dia a Ideli teve até febre.

18 DE MARÇO ─ Acho tão moderno o pessoal da Globo News conversando naqueles telões. Imagina fazer reunião ministerial sem sair do gabinete?
O Patriota está melhorando. Vou para a Índia.

19 DE MARÇO ─ Começou a dor de cabeça… minha prima de Minas quer um sári; titia, pulseiras de vidro; mamãe, um potão de curry; a Gleisi pediu um Ganesh para dar sorte. A Ideli, que não é boa de geografia, me pediu para trazer um chapéu… Com que país será que ela está confundindo a Índia?
Para mim eu quero perfume de patchuli verdadeiro. Usei muito quando era mocinha.

20 DE MARÇO ─ O pessoal mais maldoso já apelidou a irmã do Chico de Geni. Querem que eu demita a primeira mulher do governo Dilminha. Mandei o recado: em restaurante que serve farofa não tem ventilador. Por enquanto, ela fica.
Agora, se em duas semanas o Chico não me aparecer com uma canção cheia de rimas bem bonitas para “presidenta”, atiro a moça nas garras da Marilena Chauí e lavo as mãos.

21 DE MARÇO ─ Preciso me distrair mais. Ando muito tensa com essa base aliada. Liguei para a Gleisi e pedi para ela reavivar o cineminha do Alvorada.
Gente! Tem alguém vendo esse Big Brother? Aquela espanhola tomou banho pelada e a Globo exibiu tudinho! Tô passada! Liguei para o Itamaraty. Já tinha mandando barrar esses espanhóis na alfândega. O que houve?
Magenta, menta, polenta? Acho que vou dar mais um tempinho para o Chico.

22 DE MARÇO ─ Ontem fui num sambinha lá na Portela. Eis que o Sérgio Cabral aparece. Quando me dei conta, já estava com um pandeiro puxando “Toda vez que eu chego em casa, a barata da vizinha tá na minha cama”.
Gleisi foi rápida e já marcou uma sessão de cineminha para hoje. Mas escolheu filme nacional, ainda por cima com Selton Mello fazendo papel de palhaço. E eu esperando alguma coisa com o Sean Penn…
Lenta, pimenta, placenta. Arre!

23 DE MARÇO ─ PIB fraco??? É cada uma! Queria ver esse pessoal do IBGE sentar aqui e fazer alguma coisa! Chamei aqueles engomadinhos no Palácio e desci o pau! Não vai dar em nada, mas o João Santana diz que é bom para a imagem.

24 DE MARÇO ─ Não estou conseguindo acompanhar o final da novela e mamãe não sabe gravar nessa tevê digital. Às vezes eu me inspiro na Tereza Cristina, sabe. Preciso fazer benchmarking.
Passei a tarde trancada no gabinete vendo vídeos do Chico Anysio.

25 DE MARÇO ─ Mandei comprar um porta-retrato e pus minha fotografia da capa da Veja. Me senti uma estadista. Achei muito classuda aquela foto!
Vi O Artista. Nossa, dormi quase o filme inteiro. Bo-ring! Onde já se viu, filme mudo em 2012! O pessoal fica achando chique essa história de velharia ressuscitada e depois reclama quando o Sarney se diz moderno.

26 DE MARÇO ─ O Lula está novinho em folha e já avisou que vai voltar a fazer política. Xiii.

27 DE MARÇO ─ Minha cartada final: indiquei o Lobão para a presidência do Senado. Se ele não se tocar, desisto.

28 DE MARÇO ─ Surpreendenta!

MENSALÃO, O JULGAMENTO DO SÉCULO


No início da sessão que homenageou os juizes federais pelos 40 anos da AJUFE, o senador Alvaro Dias, que presidiu a homenagem, fez saudação especial ao ministro Carlos Ayres Brito, do STF, por dar garantias de celeridade ao julgamento do mensalão, quando assumir a presidência do Tribunal, daqui a algumas semanas. “Em entrevista para a revista Veja, o ministro Ayres Brito oferece alento e esperança à sociedade brasileira, cansada de tanta impunidade. Este será o julgamento do século, que poderá revitalizar o STF e as expectativas de todos na valorização de uma instituição onde estão fincados os alicerces básicos do estado de direito”, disse o senador, que homenageou os membros da Ajufe na figura de seu presidente, juiz federal Gabriel Wedy.
10 de abril de 2012

VIRTUDES NACIONAIS

Platão já observava que a degradação moral da sociedade não chega ao seu ponto mais abjeto quando as virtudes desapareceram do cenário público, mas quando a própria capacidade de concebê-las se extinguiu nas almas da geração mais nova. Trezentos jovens insultando duas dúzias de octogenários – eis a imagem daquilo que, no Brasil de hoje, se considera um exemplo de coragem cívica. É possível descer ainda mais baixo? É. Nenhum dos agressores se lembrou sequer de perguntar se algum daqueles velhos, a quem cobriam de cusparadas, xingamentos e ameaças, esteve pessoalmente envolvido nos episódios de tortura que lhes eram ali imputados, ou se o único crime deles não consistia em puro delito de opinião. Que eu saiba, nenhuma acusação de tortura pesa ou pesou jamais contra aqueles oficiais atacados na porta do Clube Militar. O único acusado, o Cel. Brilhante Ustra, não estava presente e foi queimado em efígie. Os outros pagaram pelo crime de achar que Ustra é inocente, que o governo militar foi melhor do que a alternativa cubana ou que as violências praticadas por aquele regime pesam menos do que as suas realizações. Por isso, e só por isso, foram chamados de assassinos e torturadores. Não apenas a “coragem” é o nome que hoje se dá à covardia mais sórdida, mas o “senso de justiça” consiste em acusar a esmo, sem ter em conta a diferença que vai entre aplaudir um regime extinto e ter praticado crimes em nome dele.

Se o simples fato de avaliar positivamente um governo suspeito de tortura faz do cidadão um torturador, então os arruaceiros reunidos na porta do Clube Militar, bem como o seu instigador, o cineasta Sílvio Tendler, são todos torturadores, e o são em muito maior escala do que qualquer militar brasileiro, pelo apoio risonho e cúmplice que, uns mais, outros menos, por ações e omissões, têm dado a regimes incomparavelmente mais cruéis do que jamais o foi a nossa ditadura.

Essa observação aplica-se especialmente, e da maneira mais literal possível, aos militantes do PC do B, a organização mais representada naquele espetáculo. É o partido maoísta, nascido e crescido no culto a um monstro genocida, estuprador e pedófilo, campeão absoluto de assassinatos em massa, que se zangou com a URSS por achar que o governo de Moscou não era violento e cruel à altura do que o exigiam os padrões da revolução mundial. Por todas as normas do direito internacional, a lealdade retroativa a um regime reconhecidamente genocida é crime contra a humanidade. A carga dessa culpa imensurável é a única autoridade moral com que a massa de jovens revoltadinhos se apresenta ante os oficiais das nossas Forças Armadas, acusando-os de crimes que talvez alguns de seus colegas de farda tenham cometido, mas que eles próprios jamais cometeram.

O sr. Silvio Tendler diz que sua mãe foi torturada. É possível. Mas isso dá a ele o direito de instigar uma multidão de cabeças ocas para que acusem de tortura qualquer saudosista do regime militar que encontrem pela frente? Não entende, esse pretenso intelectual, a diferença entre crime de tortura e delito de opinião?

Opinião por opinião, pergunto eu: os méritos e deméritos do regime militar brasileiro já foram examinados com isenção e honestidade, em comparação com a alternativa comunista que suas pretensas vítimas lutavam para implantar no Brasil?

Os brasileiros que, exilados ou por vontade própria, se colocaram a serviço dos regimes de Havana e de Pequim não se acumpliciaram com uma violência ditatorial incomparavelmente mais assassina do que aquela contra a qual agora esbravejam histericamente? Ou será que os cadáveres de cem mil cubanos, dez mil angolanos e setenta milhões de chineses, assassinados com o apoio dessa gente, pesam menos que os de algumas dezenas de terroristas brasileiros? Havana, é verdade, fica longe, Luanda fica ainda mais longe, a China então nem se fala, e o Doi-Codi fica logo ali. Mas desde quando a gravidade dos crimes é medida pela razão inversa da distância em que foram cometidos? Também é fato que os mortos de Cuba, de Angola e da China nunca foram manchete no Brasil, mas devemos acreditar, a sério, que a extensão do mal é determinada objetivamente pelo escarcéu jornalístico concedido a umas vítimas e negado a outras por simpatizantes ideológicos das primeiras?

Essas perguntas, bem sei, não se fazem. Não são de bom tom. Mas, na dissolução geral da própria idéia das virtudes, que senso do bom-tom poderia sobreviver num país cujo presidente se gaba, veraz ou falsamente, de haver tentado estuprar um companheiro de cela, e ainda diz ter saudades do tempo em que os meninos da sua região natal faziam sexo com cabritas e jumentas, se é que faziam mesmo e não foi ele próprio quem os inventou à imagem e semelhança da sua imaginação perversa? E será preciso lembrar que essa mesma criatura, indiciada em inquérito pelo maior esquema de corrupção de que já se teve notícia nesse país, reagiu com um sorriso cínico, alegando-se protegida não pela sua inocência, que nunca existiu, mas pela lentidão da Justiça?

Será exagero, será insulto criminoso chamar de cafajeste o homem capaz de fazer essas declarações em público? E será insana conjetura suspeitar que esses e outros tantos exemplos da cafajestada oficial, copiados por milhares de incelenças, louvados em prosa e verso por uma legião de sicofantas, repassados com orgulho do alto das cátedras, transfigurados por fim em “valores culturais” e aceitos com sorrisos de complacência entre paternal e servil pelas nossas “classes dominantes”, criaram o modelo de coragem e justiça que hoje inspira os bravos agressores de anciãos?
10 de abril de 2012
olavo de carvalho

VÍDEOS COMPROVAM QUE O AMIGO DE JOSÉ DIRCEU SABE QUANDO, COMO E ONDE A CACHOEIRA DE NEGOCIATAS COMEÇOU A JORRAR

A cachoeira malcheirosa localizada em Goiás é a cabeceira do caudaloso rio de negociatas que percorre o Estado inteiro, passa por Brasília e avança por regiões ainda não mapeadas. O PT planejou a instauração da CPI do Cachoeira mirando no DEM do senador Demóstenes Torres e no PSDB do governador Marconi Perillo.

Já acertou a testa de dois companheiros ─ Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal, e Rubens Otoni, deputado federal por Goiás. Pode acabar explodindo o próprio pé.
Não se pode prever como uma CPI vai terminar. Só é possível saber como começa. Assim será com a CPI do Cachoeira: terá de começar pelo episódio que tornou nacionalmente conhecida a figura hoje transformada na maior caixa-preta do Brasil.

 Como atestam os vídeos abaixo, Carlinhos Cachoeira virou celebridade depois da divulgação, em 2004, do vídeo em que contracena com o meliante Waldomiro Diniz, então assessor especial para Assuntos Parlamentares da Casa Civil chefiada por José Dirceu.

Amigo do guerrilheiro de festim, com quem dividira um apartamento em Brasília, Waldomiro foi filmado quando prosperava no governo fluminense acampado no guichê das loterias estaduais. As imagens gritam que Waldomiro Diniz merece abrir a lista de convocados pela CPI. Ele sabe como, quando e onde a cachoeira começou a jorrar.

http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=HCz_N2lDUIQ

http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=GQov5Zpi3kk

EM TRAMITAÇÃO CPI DO ESCÂNDALO CACHOEIRA

Maia e Sarney, da base do PT, acertaram esquema da CPI
Os presidentes da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), e do Senado, José Sarney (PMDB-AP), decidiram nesta terça-feira, 10, criar uma CPI mista para investigar as relações entre o empresário de jogos de azar Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, com parlamentares.
Ainda nesta terça, Sarney começará a conversar com os líderes dos partidos no Senado sobre o assunto e Marco Maia fará o mesmo na Câmara. Ficou decidido que será construído um texto conjunto que valerá tanto na Câmara como no Senado para tratar do tema.
"Não há necessidade de ter uma CPI lá e outra cá, pois uma CPI mista é que terá condições de investigar as ligações de Cachoeira com parlamentares, Executivo, Judiciário e parte da imprensa", disse.
Maia disse que a CPI de Cachoeira deve ser instalada no início da próxima semana, depois que seja feita a coleta de assinaturas dos parlamentares. É preciso obter, no mínimo, 171 assinaturas na Câmara e 27 no Senado. Questionado se não teme que as investigações cheguem ao governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, Maia afirmou: 
"Quem estava na lista de contatos deve estar muito preocupado. Mas a pessoa sabia do risco que corria".
Também nesta tarde o colégio de líderes da Câmara, que reúne todos os partidos na Casa, havia decidido pela instalação da CPI para investigar o envolvimento de políticos Cachoeira, preso na operação Monte Carlo da Polícia Federal.
Os líderes concordaram com Marco Maia de que o melhor caminho seria uma CPI mista, com deputados e senadores, para facilitar o trabalho e evitar disputas entre as duas comissões. "Há uma rara unanimidade aqui", afirmou o líder do PSOL, Chico Alencar (RJ), após a reunião.
O líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), defendeu pressa para a criação da CPI. Ele disse que a instalação tem de ocorrer logo para evitar que o calendário dos trabalhos da comissão atinja o período eleitoral. Do site do Estadão
10 de abril de 2012
aluizio amorim

DE SÓCRATES A JÚLIO LEMOS ( A FILOSOFIA E SEU INVERSO)

Artigos - Cultura        

O sr. Júlio Lemos, que não perde a oportunidade de puxar uma discussão, chama Sócrates de “chato-mor” por ter praticado o mesmo costume dois mil e quatrocentos anos atrás.[1] Mas aí cessa toda a semelhança. Entre outras inumeráveis diferenças, é notório que Sócrates chamava seus adversários pelos nomes, enquanto o sr. Lemos, ao criticar os vícios da filosofia circundante, deixa sempre ao leitor a incumbência de descobrir quem seriam os viciados, se é que eles existem fora da cabeça do articulista. Tão avesso é ele à menção de pessoas de carne e osso, que seus artigos de crítica deveriam vir precedidos do disclaimer: “Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência.” Os diálogos socráticos, ao contrário, sempre se travam com personagens reais da vida ateniense e tratam de problemas cuja presença na sociedade é patente aos olhos de todos. Sócrates combateu bravamente a corrupção da polis, ao passo que o sr. Lemos se mantém a uma prudente distância deste baixo mundo, consagrando seus talentos a especulações lógico-matemáticas – ou a discussões com filósofos hipotéticos -- que não ofendem as autoridades constituídas. Talvez ele se envergonhe um pouco disso no íntimo, mas em suas declarações públicas o que transparece é, ao contrário, aquela ostentação de superioridade distante, quase blasée, do profissional tarimbado que consente, por mera caridade, em dirigir umas palavrinhas ao amador intrometido.

Todos sabemos em que consiste essa superioridade: o sr. Lemos desempenha, no teatro imaginário que ele desejaria lotar de uma platéia real, o papel do argumentador rigoroso, científico, universitário, em contraste com os palpiteiros que “fazem filosofia de modo tosco, deixando de lado a especulação para inculcar nos ouvintes e leitores critérios morais, condenar comportamentos ou provocar a indignação”. Entre os culpados de semelhante descalabro, ele inclui Sócrates, Platão e Aristóteles, sempre ocupados em indicar aos incautos o caminho do bem, da sabedoria e da felicidade – tarefa que, segundo ele, cabe à “ética prática” ou às técnicas de “auto-ajuda”, pouco ou nada tendo a ver com a autêntica e séria filosofia, representada eminentemente, ao que tudo indica, pelo próprio sr. Júlio Lemos.

Em apoio das suas singelas pretensões, ele apela à autoridade do Bem-Aventurado Cardeal John Henry Newman, o qual, proclamando no Capítulo 5 de Idea of a University[2] que “o conhecimento é uma coisa, a virtude é outra” e que “a filosofia, por mais iluminada, não fornece nenhum comando sobre as paixões, nem motivações influentes, nem princípios vivificantes”, cita o exemplo de um personagem do romance Rasselas, Prince of Abissinia, de Samuel Johnson – um filósofo que, diante da filha morta, confessava não receber nenhum consolo da ética de autocontrole que havia ensinado a seus discípulos (o sr. Lemos, com o rigor que lhe é peculiar, conjetura que o homem é um pitagórico, quando com toda a evidência se trata de um estóico). O episódio antecipa o protesto lancinante de Franz Rosenzweig, que, espremido numa trincheira da I Guerra, entre pilhas de cadáveres, notava a perfeita impotência da filosofia acadêmica ante a carnificina mundializada.

Seria ótimo se o sr. Lemos, antes de usar um texto clássico como porrete, aprendesse a lê-lo. O trecho citado não contrasta a filosofia moralizante com a “filosofia científica” que o sr. Lemos tanto aprecia, mas com a fé cristã. Quando Newman sugere que o ensino da filosofia, em vez de fazer falsas promessas de salvação, deveria tratar mais modestamente de desenvolver no estudante as virtudes intelectuais, o sr. Lemos, tentando fazer do cardeal um apologista da escola analítica avant-la-lettre, insinua que essas virtudes consistem tão-somente em “precisão conceitual, clareza e rigor lógico”, isto é, as qualidades padronizadas da comunicação científica no sentido atual. Qualquer tentativa de ir um pouco acima disso é, segundo ele, pura superstição. Newman, no entanto deixa claro que não é nada disso. O que o ensino da filosofia pode e deve desenvolver, segundo ele, é “um intelecto cultivado, um gosto delicado, uma mente cândida, equitativa e desapaixonada, uma conduta nobre e cortês” (a cultivated intellect, a delicate taste, a candid, equitable, dispassionate mind, a noble and courteous bearing in the conduct of life). Quem, lendo essas palavras, pode falhar em compreender que as virtudes intelectuais a que o cardeal alude são, também e intrinsecamente, virtudes morais, precisamente aquelas que, segundo o sr. Lemos, a filosofia não pode ensinar de maneira alguma? Pois Newman, explicitamente, faz delas o objetivo mesmo do ensino da filosofia numa universidade (they are the objects of a University).

Só o que Newman acentua é que essas virtudes são inferiores às da santidade cristã. É o caso de exclamar, como o cidadão lisboeta a quem um turista perguntava se sabia a localização do Mosteiro dos Jerônimos: “Ó raios, e quem é que não sabe?” O cardeal esclarece, com toda a razão, que a educação filosófica “produz não o cristão, não o católico, mas o gentil-homem”. Ele está longe de desprezar as virtudes do gentil-homem; ao contrário, professa advogá-las e insistir na sua importância. Adverte, apenas, que elas não são garantia de santidade, nem mesmo de conscienciosidade; que podem mesmo estimular o pedantismo, a arrogância e o espírito de controvérsia. Tudo isso é de uma obviedade exemplar, mas só o sr. Lemos pode enxergar aí um apelo a que a filosofia se abstenha de todo ideal moral e se concentre na pura busca da exatidão lógica, tomada como um fim em si. Quando Newman fala de “estudo desinteressado”, ele está se referindo, ostensivamente, apenas à clássica distinção entre artes liberais e servis. Estas últimas visam a finalidades utilitárias, aquelas ao aperfeiçoamento da mente humana. Ao descrever esse aperfeiçamento como uma síntese de valores cognitivos, éticos, estéticos e sociais, condensando-a no símbolo do “gentil-homem”, ele exclui antecipadamente, e da maneira mais categórica possível, a interpretação que o sr. Lemos quer impingir às suas palavras. O “estudo desinteressado” desinteressa-se de suas aplicações técnicas, industriais e econômicas, não de seus efeitos psicológicos e morais na mente do estudante, que são, segundo Newman, sua própria razão de ser.

Também não escapará ao leitor atento o detalhe altamente significativo de que, como exemplos de falsos salvadores, Newman cita somente filósofos de segundo time, como Sêneca, Cícero e Catão, e também, por ironia, Lorde Francis Bacon, um dos precursores da “filosofia científica” do sr. Lemos (a menção passageira a Sócrates tem outro sentido, como veremos adiante). Nem uma palavra sobre (muito menos contra) a filosofia cristã de Sto. Tomás, de S. Boaventura, de Duns Scot, de Raimundo Lúlio, cujas finalidades edificantes e até catequéticas rebrilham a cada página desses autores. Quanto à filosofia antiga, da qual a cristã medieval deriva em linha direta, o cardeal, em vez de fazer troça de seus ideais morais ou de reduzir sua contribuição, como o desejaria o sr. Lemos, ao desenvolvimento da lógica, das matemáticas e das ciências físicas, faz dela um dos pilares da própria condição humana:
“Enquanto formos homens, não podemos escapar de ser, em grande medida, aristotélicos, pois... em muitos assuntos, pensar corretamente é pensar como Aristóteles; e somos seus discípulos querendo ou não, embora possamos não sabê-lo”. Um desses assuntos foi, decerto, a lógica, e o que Aristóteles pensou a respeito é que ela não é nem mesmo uma parte integrante da filosofia, e sim apenas um treinamento preliminar que, uma vez absorvido, pode ser esquecido no fundo e deixar espaço a modalidades menos formalizadas de investigação, mais compatíveis com a natureza esquiva de certas questões. Embora ensinando que a lógica é a forma por excelência da prova científica, Aristóteles adverte que em todas as investigações o problema fundamental não é a exata demonstração lógica, mas a descoberta das premissas, na qual a lógica é absolutamente impotente, devendo ceder lugar à dialética, à retórica e até à imaginação poética. Uma filosofia que pretendesse reduzir-se à lógica, ou mais ainda à lógica das ciências, seria no entender de Aristóteles-Newman a aberração das aberrações.

Newman, seguindo nisto a tradição das universidades medievais, divide os estudos em três níveis: as artes utilitárias, as artes liberais (que ele chama indiferentemente de “filosofia” ou “ciência”) e a religião cristã. Se o segundo nível não deve usurpar as prerrogativas do terceiro, também não deve rebaixar-se ao primeiro – o que, observo eu, aconteceria necessariamente se a filosofia se reduzisse à lógica e o aperfeiçoamento da mente à conquista da “precisão conceitual, clareza e rigor lógico”, fazendo abstração das qualidades éticas, estéticas e sociais que segundo Newman compõem a inteligência bem formada. Se a filosofia não assegura a salvação da alma, isso não significa que seja moralmente inócua ou que a única qualidade requerida na sua prática seja, como pretende o sr. Lemos – deformando nisto monstruosamente o pensamento de Newman --, o “amor aos estudos”. O amor aos estudos, sem o correspondente amor à verdade, é um convite àquele pedantismo, àquela presunção acadêmica que Newman condena com tanta veemência, e da qual as lições do sr. Lemos fornecem uma amostra indisfarçável. Pior ainda seria reduzir o amor à verdade a um simples conjunto de precauções lógico-técnicas, omitindo que sua conquista é uma luta constante de toda a alma, envolvendo sentimentos, hábitos, valores e, acima de tudo, o esforço de autoconhecimento sem o qual a “verdade” se torna uma fórmula oca, pronta para ser repetida no palco universitário ou numa tela de computador sem nenhum ato de consciência correspondente. Se, neste como em outros assuntos, “pensar corretamente é pensar como Aristóteles”, cabe lembrar que, segundo o Estagirita, a verdade não está nas proposições e sim no juízo, no ato interior da inteligência humana que as aprova ou desaprova. Esse ato só pode ser efetivado por um ser humano real: tudo o que a técnica lógica pode fazer é simbolizá-lo, no papel ou num HD, por um signo negativo ou positivo.

Se é indiscutível que a filosofia não fornece nem deve prometer a salvação da alma, menos convincente é a argumentação do cardeal contra os poderes consoladores da meditação filosófica nos instantes de perigo e sofrimento. Em primeiro lugar, ela faz caso omisso do precedente histórico de Boécio, que, condenado à morte, encontra na prisão a consolatione philosophiae. Em segundo lugar, passa, sem a menor justificativa, ao largo da conduta heróica de Sócrates diante do tribunal que o condenou (já veremos o que o sublime sr. Lemos tem a dizer a respeito). Em terceiro, omite que a síntese escolástica de fé e razão implica, quase que por necessidade intrínseca, o apelo auxiliar à razão como reforço da fé nos momentos difíceis da vida.

O exemplo a que Newman recorre – o filósofo de Rasselas – é ainda mais desastroso, em primeiro lugar por ser fictício, em segundo lugar por presumir que o pranto diante de uma filha morta seja um vício redibitório, um argumento fulminante contra as crenças de um pai sofredor. Se assim fosse, as lágrimas da Virgem Santíssima ante o cadáver de Nosso Senhor Jesus Cristo teriam dado cabo do cristianismo de uma vez para sempre. E, caso não chegassem a fazê-lo de maneira convincente, a debandada dos apóstolos, o grito de desespero do Filho abandonado no alto da Cruz e as três defecções de Pedro antes de o galo cantar completariam o serviço para Voltaire nenhum botar defeito.

Nenhum exemplo de fraqueza humana depõe jamais contra a dignidade de uma crença, religiosa ou filosófica, nem atenua o valor da mensagem que aparenta desmentir. Reconhece-o o próprio sr. Lemos, ao afirmar que, se um filósofo “entende mais de ética tomista que São Felipe Néri e privadamente age como um irresponsável, a culpa não será da ética filosófica, mas dele”. Infelizmente, o nosso professor de rigor lógico, após admitir essa obviedade, ainda imagina dizer algo de substantivo contra a filosofia como modo de vida ao alegar que “é muito comum que o moralismo filosófico ande de mãos dadas com a perversão privada”. À luz daquilo mesmo que ele disse na frase anterior, a resposta cabal a essa observação é: “E daí?”

Já expliquei mil vezes – pensando, nisto, como Aristóteles – que o argumentum ad hominem só tem validade cognitiva quando é também, e inseparavalmente, um exemplum in contrarium, o desmentido factual de uma generalização anterior, como por exemplo quando Hobbes, após proclamar que os seres humanos só agem por desejo de poder, professa escrever o Leviatã para o puro bem da humanidade sofredora, sem nenhuma ambição pessoal; ou quando Maquiavel, ensinando que o Príncipe deve matar seus colaboradores tão logo chegue ao poder, se omite de incluir nisso o principal dos colaboradores: o autor do plano, isto é, ele próprio; ou ainda quando o burguês Karl Marx, afirmando que só os proletários podem ter uma visão objetiva da história, passa a nos oferecer algo que ele jura ser a primeira visão objetiva da história. Fora desses casos, o argumentum ad hominem só vale como truque sujo ou, no melhor dos casos, como vaga sugestão de uma possibilidade a ser investigada.

Mesmo que todos os moralistas do mundo fossem imoralistas na prática, isso em nada deporia contra a dignidade ou a necessidade da moral, sem mesmo levar em conta a possibilidade de que as denúncias de imoralismo sejam obras de intrigantes mal intencionados. Nesse sentido, a observação de Newman, de que muitos filósofos foram ridicularizados como hipócritas, entre os quais Sócrates (nas Nuvens de Aristófanes), é o protótipo mesmo do argumento suicida, que se rebela contra o próprio argumentador, já que a literatura satírica voltada à denúncia da hipocrisia religiosa, desde os Carmina burana a Rabelais, de Bocaccio a Molière, de Diderot e Stendhal a Alessandro Manzoni e de Cervantes a James Joyce (sem contar os papas atirados ao Inferno de Dante), transcende infinitamente, em volume, qualidade e importância histórica, tudo o que os gozadores de todos os tempos escreveram contra os filósofos. E será preciso lembrar que ninguém no mundo foi (e é ainda) mais alvo de chacotas do que o próprio Cristo?

Um ponto que Newman não consegue esclarecer é o da relação exata que há entre a formação do gentil-homem e a educação para a fé cristã. Dizer que a primeira não basta para produzir a segunda é mais próprio do Conselheiro Acácio que de alguém que deseja elucidar o problema. Que, no entanto, toda educação liberal seja inútil na catequese da gente simples, do povão – coisa que o próprio Newman não afirma -- já é algo de bastante duvidoso, como se vê pelo fato de que os primeiros esforços de alfabetização universal partiram da Igreja mesma, no tempo de Carlos Magno, e de que as artes mecânicas, praticadas com afinco, terminarão por despertar na inteligência alguma curiosidade de ordem científica ou filosófica que elas mesmas não podem, por si, satisfazer. Mas e a formação religiosa do erudito, do professor, do sacerdote, do monge? Será a educação preliminar da alma nas virtudes mundanas do gentil-homem uma etapa dispensável ou então nada mais que um adestramento técnico sem nenhum peso moral em si mesmo?

A História responde, decididamente, que não. Newman inspira-se no exemplo da universidade medieval do século XIII, mas hoje sabemos, e ele na época não poderia saber, pois só a historiografia posterior o revelou, que aquela instituição, longe de representar o cume da educação na Idade Média, não constituiu senão a cristalização tardia, institucionalizada, mais formalizada e menos vigorosa, daquilo que se ensinava nas chamadas “escolas catedrais” dos séculos X a XII.[3] E o que nestas se ensinava eram precisamente as qualidades do gentil-homem – “um intelecto cultivado, um gosto delicado, uma mente cândida, equitativa e desapaixonada, uma conduta nobre e cortês” – como preparatórias à aquisição das virtudes cristãs, no mesmo sentido em que Clemente de Alexandria proclamara ser a filosofia “o pedagogo que conduz ao Cristo”. O ensino aí alcançou tais alturas, e tão visíveis eram os seus frutos de bondade e sabedoria, que se afirmava, na época, que os anjos mesmos o invejavam. Malgrado o seu fulgurante e breve prestígio intelectual, as universidades que vieram depois, com toda sua história de greves, arruaças e até morticínios e a sua queda posterior numa esterilidade deprimente, jamais mereceram nem mereceriam louvor semelhante. Não é injusto dizer que os Estatutos da Universidade de Paris em 1215, transformando a filosofia em profissão regulamentada e meio de ascensão social, muito contribuiram para a perda da inspiração recebida das escolas catedrais e para o afluxo de toda sorte de carreiristas ávidos de poder e prestígio, inflados de habilidade técnica e alheios aos ditames da moral religiosa e até mesmo secular. Não espanta que já em 1229 eclodissem ali motins estudantis que duraram dois anos e deixaram um rastro de cadáveres por toda parte.

Relevante, para a compreensão desse processo, é a seguinte diferença. Enquanto as universidades privilegiavam o ensino formalizado, baseado em textos e documentado em novos textos, criando os monumentos de exposição escrita que hoje representam para nós a figura visível do escolasticismo, as escolas catedrais faziam exatamente o oposto: de um lado, não visavam à produção de “obras filosóficas”, mas de personalidades humanas que se destacassem pela beleza, força, equilíbrio e pureza de intenções, sem a menor preocupação de deixar documentos que atestassem a sua passagem sobre a Terra; de outro lado, davam menos importância, na prática pedagógica, ao estudo dos textos ou à aquisição de técnicas do que à influência direta do mestre como exemplo vivo das virtudes intelectuais e morais a ser infundidas no discípulo.

Aproximavam-se notavelmente, sob esse aspecto, do círculo socrático e da Academia platônica originária. Os melhores intérpretes do platonismo – Paul Friedländer. A. E. Taylor, Paul Shorey, Julius Stenzel, Eric Voegelin e Giovanni Reale, entre outros – ensinam que jamais esteve nos propósitos de Platão criar uma doutrina formalizada, condensada num sistema de proposições que pudesse ser repassado, impessoalmente, a destinatários genéricos, como num tratado de química ou de lógica. Escreve Stenzel: “Ele não concebeu jamais o aprendizado como coisa de puro intelecto, mas sempre como uma influência total de homem a homem, como um ser formado e modelado pela íntima relação e sociedade com outro ser humano”[4] Mesmo no concernente aos aspectos mais aparentemente “impessoais” e “ científicos” do seu ensinamento o mestre não prescindia do exemplo pedagógico pessoal. Taylor: “Uma das convicções mais firmes de Platão era que nada que valesse a pena aprender podia ser aprendido por mera ‘instrução’: o único método de ‘aprender’ a ciência era engajar-se efetivamente, em companhia de uma mente mais avançada, na busca da verdade.”[5]

O que tornou ainda mais imprescindível essa influência direta de alma para alma foi a circunstância social mesma em que se originou o círculo socrático. Sócrates não entra em cena puxando discussão contra idéias quaisquer, nem muito menos, como o sr. Lemos, desafiando uma corrente minoritária (a filosofia como “norma de vida”) que ele mesmo declara ser alheia à filosofia “séria”. Ao contrário: Sócrates se volta contra tudo aquilo que, no meio ateniense, é opinião dominante, tida como respeitável e séria no mais alto grau. Graças ao próprio empenho de Sócrates e de Platão, a doxa ateniense nos aparece hoje coberta de ridículo, mas na época ela era tão respeitada que desafiá-la podia ser punido com a morte, como de fato o foi. É apenas um estereótipo escolar dizer que, contra essa constelação de crenças estabelecidas, Sócrates opunha o apelo à “razão”. Da razão faziam uso tanto ele quanto seus contendores, argumentando, silogizando e concluindo. Se Sócrates o fazia com mais destreza do que eles, a superioridade qualitativa não implica uma diferença de substância. A diferença específica de Sócrates reside num estrato mais profundo da experiência da discussão. Enquanto seus adversários repetem idéias correntes, apegando-se à segurança dos papéis sociais que lhes infundem a ilusão de estar certos por pensar de acordo com a maioria, ou com a classe dominante, Sócrates fala apenas como indivíduo humano, sem respaldo em qualquer autoridade externa. E não apenas faz isso, mas apela ao próprio testemunho íntimo de seus contendores, o que equivale a despi-los de suas identidades sociais e induzi-los à confissão direta, sincera, humana, de seus verdadeiros sentimentos. Um dos recursos de que ele se serve para isso é convidar cada um a imaginar sua própria morte e a vida no além-túmulo. A realidade da morte e a perspectiva do julgamento dissolvem as defesas sociais – as “racionalizações”, diria um psicanalista – e equalizam os seres humanos na consciência de seu destino concreto. O mero confronto de opiniões transfigura-se em diálogo entre as almas, culminando na periagoge, a virada de 180 graus na direção da consciência que abandona a miragem coletiva e, voltando-se para dentro, aí descobre as bases permanentes da sua existência.

Forçar os espectadores a despir-se de sua identidade civil e política para levá-los contemplar sem defesas a fragilidade da condição humana era já o objetivo da tragédia grega, que por isso mesmo escolhia como herói, com freqüência, o estrangeiro, o desconhecido, o rejeitado e marginalizado, de modo que todo senso de identificação nacional ou social cedesse lugar à humanidade nua e crua das experiências fundamentais. Daí que Nicole Loraux, num ensaio memorável, definisse a tragédia como “o gênero antipolítico” por excelência.[6]

Foi só quando a tragédia já ia perdendo eficácia como forma simbólica que uma nova modalidade mais diferenciada e explícita de apelo à humanidade profunda se tornou necessária e possível. Mais que pela sua técnica argumentativa, deficiente sob tantos pontos de vista, Sócrates é notável pela sua argúcia psicológica, ou psicopedagógica, da qual não encontramos similar antes de Montaigne (século XVI), de Pascal (século XVII) e do advento da novelística moderna no século XVIII. Ao longo de todos os diálogos socráticos, não se trata nunca de desmantelar argumentos simplesmente, mas de despertar o senso moral por meio de um aprofundamento cognitivo das experiências fundamentais. É impossível, aí, separar o que é “investigação filosófica” do que é “educação moral”, já que esta orienta aquela e recebe dela o seu fundamento experimental.

Acontece que nem sempre a operação é bem sucedida. Às vezes o ouvinte é tão apegado à sua identidade social que não pode imaginar-se desprovido dela, nu e indefeso, nem por um minuto. No afã de esquivar-se da experiência íntima, de furtar-se à periagoge, ele apela a todos os subterfúgios, que vão do raciocínio fantasioso[7] à chacota e às palavras ameaçadoras, ou então retira-se do diálogo. Aí a conclusão que se impõe é que estamos diante da inversão formal e paradigmática da figura do filósofo: o filodoxo, “amante da opinião”.

Essa oposição não é casual, nem mero artifício de retórica. A estrutura inteira da República e de outros diálogos está montada em cima de pares de opostos aos quais Platão dá um sentido estável e que se incorporam na sua linguagem técnica. Nem todos esses pares, no entanto, sobreviveram na história da filosofia: alguns conceitos separaram-se de seus opostos e adquiriram uma vida ficcional autônoma sob a forma de fetiches verbais consagrados. Explica Eric Voegelin:

“Platão criou seus pares de conceitos no curso da sua resistência à sociedade corrupta que o rodeava. Da luta concreta contra a corrupção circundante, no entanto, Platão emergiu vencedor com efetividade histórica mundial. Em conseqüência, o lado positivo dos seus pares tornou-se a ‘linguagem filosófica’ da civilização ocidental, enquanto o lado negativo perdeu seu status de vocabulário técnico... A perda da metade negativa destituiu a positiva do seu sabor de resistência e oposição, e deixou-a com uma qualidade de abstratismo que é profundamente alheia à concretude do pensamento platônico... A perda mostrou-se maximamente embaraçosa no par philosophos e philodoxos. Em inglês temos philosophers, mas não philodoxers. A perda é, neste caso, peculiarmente embaraçosa, porque, na realidade, temos uma abundância de filodoxos; e, como o termo platônico que os designava se perdeu, referimo-nos a eles como ‘filósofos’. No uso moderno, portanto, chamamos de filósofos precisamente as pessoas contra as quais, como filósofo, Platão se opunha. E uma compreensão da metade positiva do par se tornou hoje praticamente impossível, exceto para uns poucos eruditos, porque, quando falamos em ‘filósofos’, pensamos em filodoxos.”[8]

Newman, falando em “filósofos”, pensa precisamente em filodoxos, sem saber que o faz. Daí a ambigüidade um tanto constrangedora com que ele deprecia as ambições moralizantes dos filósofos ao mesmo tempo que se declara adepto e seguidor de uma filosofia tão obviamente moralizante como o é a de Aristóteles. Daí também a gafe monumental de acompanhar Samuel Johnson quando este faz troça das lágrimas de um pai diante do cadáver da filha.

Mas o filodoxo não se define só por sua oposição à pessoa do filósofo, e sim, ainda que sem percebê-lo, ao próprio fundamento último da filosofia platônica (e, por extensão, de toda a filosofia cristã): “Platão, explica Voegelin, fala do filodoxo como o homem que não pode suportar a idéia de que ‘o belo, ou o justo, ou o que quer que seja, sejam um e o mesmo.’”[9] Voegelin lembra a sentença de Xenófanes: “O Um é o Deus”. Podemos também evocar os “transcendentais” de Duns Scot, Unum, Verum, Bonum, que se convertem uns nos outros. Tanto em Platão quanto em Aristóteles ou em toda a filosofia escolástica, o Supremo Bem não é um “valor”, muito menos uma “criação cultural”, mas a realidade suprema, o ens realissimum, fundamento primeiro e objeto último de todo conhecimento.

A repulsa que isso causa à sensibilidade moderna é notória. Desde Kant, a separação abissal e intransponível entre “realidade” e “valor” consagrou-se como um dogma incontestável da mitologia universitária, sem que ninguém perceba que ela se auto-anula no momento em que, professando expressar um dado incontornável da realidade, se consagra como um valor cultural.

Max Weber, hipnotizado pela visão do abismo intransponível, mas ansiando por encontrar um fundamento moral que justificasse sua busca da verdade científica, chegou a cair numa crise de paralisia nervosa, ficando cinco anos inutilizado num sofá, por não conseguir escapar do engano trágico que fazia de uma situação histórica passageira um princípio fundante de todo conhecimento científico. A “independência entre as esferas de valores”, como ele a chamava, é o dogma central da filodoxia. Ela não resulta da natureza das coisas, mas do fato de que, apegados a suas identidades sociais de professores, de cientistas, de artistas ou de pregadores, muitos indivíduos, em certas épocas, se vêem incapacitados de descer à profundidade interior em que se revela a unidade da experiência humana: confundindo a incompatibilidade entre suas linguagens profissionais respectivas com uma separação ontológica objetiva entre os domínios da realidade, não têm sequer a hombridade weberiana de reconhecer que estão doentes. Realizam, assim, a profecia de Heráclito, segundo a qual os homens despertos vivem num mesmo mundo, ao passo que os adormecidos refluem para seus respectivos mundos mutuamente incomunicáveis. Vários sintomas assinalam essa patologia. Um deles é o que denomino “moral arbitrária”: o sujeito proclama que os valores morais não têm nenhuma base científica nem defesa racional possível, mas continua agindo exteriormente como se acreditasse no bem e na virtude, ou naquilo que ele assim denomina. Sugere, assim, que sua conduta ética, ou aparentemente ética, não deriva do Supremo Bem, mas da sua própria, misteriosa, arbitrária e inexplicável bondade pessoal. É a forma de autobeatificação mais querida dos intelectuais céticos e materialistas.

Outros, como o próprio sr. Lemos, preferem consagrar a separação abissal entre fatos e valores como se fosse ela mesma o valor supremo, daí proclamando que a “ética prática” não tem nada a ver com a sua “filosofia séria”. O sr. Lemos, com toda a evidência, confunde filósofos com filodoxos porque ele mesmo é um destes últimos.
A fé inocente com que ele aceita como absoluto a intransponível o divórcio entre o real e o bem, tomando simples nomes atuais de profissões ou de disciplinas (“ética prática”, “auto-ajuda”, “ciência”, “filosofia” etc.) como se correspondessem a divisões objetivas e eternas na estrutura do cosmos, evidencia que ele não entende, nem muito menos assume como sua, a obrigação número um do filósofo, que é a busca da unidade para além e por cima de todos os abismos e dificuldades que a cultura – a doxa – pode ter espalhado ao longo do caminho. Separando o Verum e o Bonum, ou antes, aceitando acriticamente essa separação tão cara à doxa contemporânea como se fosse um dado inquestionável da realidade mesma e não a simples cristalização histórica de uma notória dificuldade de comunicação entre escolas e estilos de pensamento, ele toma a desordem da cultura como se fosse a ordem cósmica e, portanto, bloqueia – para si mesmo e para quem lhe dê ouvidos -- toda possibilidade de aspiração ao Unum. Se, depois disso, ele continua se apresentando como um porta-voz da “razão”, é evidente que ele jamais se perguntou o que pode haver ainda de “racional” num mundo de onde a unidade foi expulsa de uma vez para sempre e a divisão convencional do trabalho se tornou o único princípio metafísico restante. Ou seja: a “razão” de que ele se gaba é um estereótipo verbal apenas, não algo cuja experiência ele tenha jamais sondado em profundidade ou sequer imaginado que devesse sondar. Raramente se viu a devoção servil à doxa brilhar com tão obsceno esplendor.

Desde a posição existencial frágil e vacilante em que isso o coloca, é inevitável que ele não possa argumentar senão falsificando o sentido dos textos que cita e cometendo, sob a ostentação de “rigor lógico”, os ilogismos mais pueris e desengonçados. Como mesmo isso não baste para camuflar sua insegurança, ele parte para a psicose historiográfica e, como diria uma velha expressão popular francesa, pète plus haut que son cul: sem qualquer explicação, sem nos dar nem a mais mínima idéia do que pode havê-lo conduzido a tão inusitada opinião, ele declara peremptoriamente que o heroísmo de Sócrates antes os juízes foi “uma lenda”, e inclui o filósofo entre os que, como o personagem de Rasselas, “fracassaram na adversidade”. A tranqüilidade fria e como que desinteressada com que ele se dispensa de tentar justificar essa enormidade só pode explicar-se pela confiança absoluta que ele deposita naquilo em que crê, como se o houvesse testemunhado com seus próprios olhos. Não se preocupem, portanto: o sr. Lemos esteve lá, viu tudo, e nem todos os testemunhos do mundo o demoverão da certeza de que no momento decisivo, Sócrates, em vez de dar aos discípulos um exemplo de coragem, como o acreditam Platão e outros ingênuos, fez pipi nas calças.[10]

 Escrito por Olavo de Carvalho
Richmond, VA, 7 de abril de 2009

Notas:

[1] Júlio Lemos, “Sobre uma superstição”, em http://www.dicta.com.br/, 5 de abril de 2012.

[2] O texto completo encontra-se online em http://www.newmanreader.org/works/idea/.

[3] V. C. Stephen Jaeger, The Envy of the Angels. Cathedral Schools and Social Ideals In Medieval Europe, 950-1200, Philadelphia, University of Pennsylvania Press, 1994.

[4] Stenzel, Platone Educatore, trad. Francesco Gabrieli, Bari, Laterza, 1966, p. 17.

[5] A. E. Taylor, Plato: The Man and His Work (1926), Mineola, NY, Dover, 2001, p. 6.
[6] V. Nicole Loraux, The Mourning Voice: An Essay on Greek Tragedy, transl. Elizabeth Trapnell Rawlings. Cornell University Press. 2002.
[7] V. as observações argutas de Eric Voegelin sobre a “antropologia de sonho” que está na base das teorias contratualistas, em Plato and Aristotle. Order and History vol. III, Columbia and London, University of Missouri Press, pp. 129-131.

[8] Op. cit., pp. 119-120.

[9] Id., ibid.

[10] Mais tarde, na área de comentários, o sr. Lemos tentou justificar-se alegando que as fontes de Platão na Apologia de Sócrates são duvidosas. Com base nisso ele se acredita autorizado para afirmar categoricamente, sem fonte nenhuma, o contrário do que Platão diz. É esse o homem que quer dar lições de “rigor lógico” a um estupefato mundo. Ainda não aprendeu que entre uma dúvida e a certeza do contrário a distância é infinita.

GILMAR MENDES QUER QUE STF DÊ PRIORIDADE A PROCESSO DO MENSALÃO


O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, defendeu nesta terça-feira que a corte inicie o julgamento do mensalão ainda no primeiro semestre deste ano, para evitar o risco de prescrição de penas. “Se se quiser votar até este ano, tem que ser no primeiro semestre”, disse ele, na Câmara dos Deputados.
Mendes reconheceu que a pressão pelo julgamento é “muito grande” e sugeriu que, para agilizar a apreciação do tema, a pauta do Supremo seja suspensa.
Ele admitiu também que o STF já está atrasado: “De certa forma, sim. Precisa haver algum cuidado, mas tudo depende do relator (Joaquim Barbosa) e do revisor (Ricardo Lewandowski), que está preocupado com o Tribunal Superior Eleitoral”, disse Mendes.
Revisor do caso do mensalão, Ricardo Lewandowski está perto de deixar o comando do TSE. Será sucedido pela ministra Cármen Lúcia.
SegurançaO ministro Ayres Britto, que também esteve no Congresso nesta terça, reforçou o coro de Gilmar Mendes: “Como é ano eleitoral e há o risco de prescrição de algumas imputações, o conveniente seria apressar o julgamento sem perda da segurança”, defendeu o ministro, que disse confiar no trabalho de Lewandowski.
(…)

Por Gabriel Castro e Luciana Marques, na VEJA Online:
10 de abril de 2012

CONSELHO DE ÉTICA ABRE PROCESSO CONTRA DEMÓSTENES

O Conselho de Ética do Senado abriu na tarde desta terça-feira o processo por quebra do decoro parlamentar contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO). O novo presidente do colegiado, Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) tinha a prerrogativa de aceitar unilateralmente o pedido feito pelo PSOL contra o ex-integrante do DEM. Mas preferiu dividir a responsabilidade com os colegas e consultar a comissão. Ninguém se opôs.

A decisão foi tomada durante a primeira reunião do Conselho de Ética depois do surgimento das denúncias contra Demóstenes. Com isso, o senador não tem mais a possibilidade de renunciar sem ser punido pela Lei da Ficha Limpa, que o deixaria inelegível até 2027. Se tiver o mandato cassado, o senador perderá os direitos políticos até 2020. O relator do processo contra o parlamentar será escolhido na quinta-feira. Mas, já nesta terça, o conselho deu a Demóstenes o prazo de dez dias para que ele apresente sua defesa prévia.

Também nesta terça-feira, líderes dos principais partidos afirmaram apoiar a instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para analisar as relações de senadores e deputados com Cachoeira. Além de Demóstenes, os deputados Sandes Júnior (PP-GO), Carlos Alberto Lereia (PSDB-GO), Stepan Nercessian (PPS-RJ) e Rubens Otoni (PT-GO) devem ser alvo da investigação. Os apelos pela criação de uma CPI ganharam força depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) negou acesso do Conselho de Ética do Senado ao inquérito das investigações. A corte alegou que só poderia compartilhar esses dados caso houvesse uma Comissão Parlamentar de Inquérito instalada. Agora, a criação da CPMI é questão de tempo.

“Havia uma boataria de que nós não resolvíamos os problemas, que tudo ia esfriar e não sairia a indicação do presidente”, avaliou o senador Pedro Simon (PMDB-RS). Na visão dele, a decisão desta terça foi tomada por causa da pressão da opinião pública. Já o líder do PT na Casa, Walter Pinheiro (BA), diz que o próximo passo é a instalação da CPMI: “Nós estamos discutindo o texto com os partidos. Aí cada senador vai apresentar sua visão”, explica. Pinheiro quer que a CPMI tenha autonomia para investigar, de forma genérica, as atividades da quadrilha comandada por Cachoeira. outros parlamentares, como Pedro Taques (PDT-MT), querem que o texto do requerimento limite a atuação da comissão à relação do grupo com autoridades - de dentro e fora do Parlamento

Embora o requerimento para uma CPI exclusiva na Câmara já tenha reunido 181 assinaturas — dez a mais do que as necessárias –, o trabalho terá de ser refeito para que a CPMI saia do papel. No Senado, é necessário o apoio de 27 parlamentares.

Calvário

Demóstenes foi flagrado pela Polícia Federal negociando trocas de favores com o contraventor Carlinhos Cachoeira, que comandava a máfia dos caça-níqueis em Goiás. O senador, que deixou de comparecer ao Congresso e se mantém em silêncio desde que as denúncias se agravaram, deve perder o mandato.
(…)

Por Gabriel Castro, na VEJA Online:
10 de abril de 2012

CASUALIDADE... O HOMEM IA PASSANDO, SOLERTE, QUANDO O "LEVANTE POPULAR DA JUVENTUDE" ACONTECEU...

Será mesmo que Tarso Genro estava por acaso na bagunça promovida em frente ao Clube Militar? Vejam o que eu descobri, com foto e tudo! Ou: DAS VERGONHOSAS OMISSÕES DA IMPRENSA
Vejam esta foto.
levante-popular-7-tarso-genro

Aquele senhor sentado na primeira fileira, com a mão no rosto, com ar vetusto, é Tarso Genro (PT), governador do Rio Grande do Sul. O que ela faz ali? Vamos ver.

No dia 29 do mês passado, um bando de fascistoides cercou o Clube Militar. A turma xingou e agrediu militares da reserva que participavam de um seminário.

A foto de um rapaz dando uma cusparada num idoso tem de se tornar um emblema do que esses caras entendem por democracia e civilidade.

“Descobriu-se”, vejam que coincidência!, que ninguém menos do que Tarso Genro passava por ali, por acaso… O valente não teve dúvida: “encontrado” por jornalistas, concedeu uma entrevista e acusou de provocação… as vítimas!!!
A todos pareceu normal que um governador de estado estivesse passeando, solerte, pelas ruas da capital de um outro estado, topando, de súbito, com um protesto!!!
Pois é…

Aquela manifestação, a exemplo de outras que têm sido feitas em frente à casa de pessoas acusadas de colaborar com a tortura, foi convocada por um certo “Levante Popular da Juventude”. As ações obviamente ilegais do grupo têm merecido ampla cobertura do jornalismo — E SEMPRE EM TOM FAVORÁVEL! O que antes se chamava “grande imprensa” não se interessou nem sequer em saber quem é essa gente, de onde vem, o que pensa. No dia 27 de março, contei aqui quem são eles.

O tal “Levante” é só uma nova fachada do MST, que anda em baixa. João Pedro Stedile, o nosso leninista do capital alheio — já que seu movimento vive de dinheiro público — resolveu levar a sua “revolução” do campo para as cidades (afinal, ele é, reitero, um leninista).

A cobertura dos jornais tem sido asquerosa. Diz-se que o “Levante Popular da Juventude” luta apenas, que coisa bonita!, pela instalação da Comissão da Verdade. Enquanto isso, sai por aí xingando pessoas, cuspindo nelas, pichando as suas casas. Então agora volto à foto lá do alto.

Encontro

Entre os dias 1º e 5 de fevereiro, o grupo promoveu o “1º Acampamento do Levante Popular da Juventude”.Aconteceu em Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul, e reuniu, segundo os próprios organizadores, 1.200 pessoas, vindas de 17 estados. Isso explica, por exemplo, por que ações de vandalismo contra as respectivas casas de supostos torturadores aconteceram em vários estados, ao mesmo tempo, numa coordenação que a imprensa chamou de “surpreendente”. “Juventude” não é categoria social, política ou de pensamento. O “jovem” por trás do movimento é João Pedro Stedile — com suas ideias do fim do século 19.
Na fotos abaixo, ele aparece dando a sua “aula” de levante.
levante-popular-2-joao-pedro-stedile
Muito bem! Tarso Genro foi um dos convidados de honra do “acampamento”. É o que mostra aquela primeira foto. Isso significa que ele tem intimidade com o “Levante Popular da Juventude” e conhece, então, a sua agenda. Parece-me que o fato põe em dúvida a coincidência entre o protesto no clube militar e a sua estada no Rio — justamente nas imediações do Clube Militar.
Abaixo, seguem algumas fotos do evento. Ao fim de tudo, um vídeo que chega a ser engraçado de tão patético.
Aqui, em círculo, os camaradas expõem os seus anseios, numa espécie de dinâmica revolucionária de grupo
Aqui, em círculo, os camaradas expõem os seus anseios, numa espécie de dinâmica revolucionária de grupo
A revolução social requer preparo intelectual, né? Aqui, uma aula sobre os caminhos da libertação
A revolução social requer preparo intelectual, né? Aqui, uma aula sobre os caminhos da libertação
Também é preciso curtir a natureza: moças e moços da cidade conhecem os prazeres de uma vida mais agreste. É a burguesia conhecendo de perto o paraíso do povo
É preciso curtir a natureza: moças e moços da cidade conhecem os prazeres de uma vida mais agreste. É a burguesia experimentando o paraíso do povo
Também há espaço para a burguesia consciente se misturar ao povo e celebrar a cultura popular. É o que se chama "possibilidade de intercurso de classes"
Também há espaço para a burguesia consciente se misturar ao povo e celebrar a cultura popular. É o que se chama "possibilidade de intercurso de classes"
Agora vejam este vídeo, em que um sujeito, por assim dizer, canta um rap sobre as ocupações promovidas pelo MST. Volto para encerrar.
VolteiA apresentação foi feita durante a “II Feira e Festa da Agricultura e Agroindústria Camponesa”, evento paralelo ao 1º Acampamento Nacional do Levante Popular da Juventude. O refrão é claro: “Eu sou aquele que acredita em encarar o choque”.
É um conclamação em favor do confronto com as forças da legalidade.

O vídeo é um troço patético. Um coroa, com a máscara revolucionária — que tira ao menos para cantar — se fantasia de cantor de rap para passar mensagens revolucionárias…

Eis aí: revelado, agora com imagens, o grande mistério do “Levante Popular da Juventude”. É só o velho leninista João Pedro Stedile brincando de fazer revolução. Mas Tarso, um governador de Estado, assistiu a tudo atentamente, no acampamento e nas imediações do Clube Militar.
Que futuro nos aguarda quando um governador de estado participa de uma patuscada como essa? Não muito bom! De toda sorte, é um comportamento compatível com o ministro da Justiça que levou o Brasil a abrigar um assassino, condenado em seu país à prisão perpétua.

10 de abril de 2012
Reinaldo Azevedo

PPS QUER AUDITORIA EM CONVÊNIOS DO MINISTÉRIO DA PESCA, MAS ESCÂNDALO COM ONGs É ESPECIALIDADE DOS PETRALHAS



O líder do PPS na Câmara, o deputado federal Rubens Bueno (PR) apresentou na segunda-feira (9) pedido para que o Tribunal de Contas da União (TCU) realize devassa completa nos convênios entre o Ministério da Pesca e Ongs responsáveis pela implantação de projetos para o cultivo de pescado.

No requerimento, entregue na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, o parlamentar pede a realização de auditoria contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial nos contratos, convênios ou instrumentos congêneres firmados entre o Ministério da Pesca e organismos não governamentais entre 2007 e 2012.
A comissão é o órgão da Casa que tem a competência para requisitar ao tribunal que promova as investigações.

Denúncias

Reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo na última semana revela que o Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Integral da Natureza – Pró-Natureza, Ong comandada por um funcionário comissionado do governo de Agnelo Queiroz (PT-DF), recebeu R$ 769,9 mil do ministério para implantar, no entorno de Brasília, um projeto de criação de peixes que não saiu do papel.

“Esse é um exemplo escandaloso de malversação de recursos públicos federais e deve, portanto, ser fiscalizado pelo Poder Legislativo”, ressalta o líder do PPS na Proposta de Fiscalização e Controle (PFC) que será apreciada pela comissão.

Rubens Bueno lembra que, assim como no caso da compra de lanchas-patrulha, que rendeu uma doação de R$ 150 mil para a campanha ao governo de Santa Catarina da ex-ministra da Pesca e atual chefe da Pasta das Relações Institucionais, Ideli Salvatti, esses convênios com Ongs podem estar servindo de fachada para abastecer o caixa do PT. “O TCU precisa passar um pente-fino nestes contratos”.

O parlamentar ressalta ainda que o desvio de recursos de convênios para o caixa de partidos se tornou comum no governo do PT. “Temos os escândalos nos ministérios do Esporte, do Turismo, dos Transportes e vários outros casos. Agora o esquema se repete na Pesca. Nos casos anteriores os ministros caíram. Agora, no ministério que era comandado pelo PT, o governo trata o assunto como caso menor e trabalha para blindar a ministra Ideli, que chefiou a Pasta e comandou por muito tempo esse cardume”, critica Bueno.



O líder do PPS destaca também que, além dos convênios, o ministério desviou a finalidade de emendas parlamentares para garantir a compra de 28 lanchas-patrulha que até hoje estão fora de operação. Em troca, pediu para a empresa que forneceu os barcos uma doação de R$ 150 mil para a campanha de Ideli.
“O TCU já fez um belo trabalho ao apontar as irregularidades na aquisição das embarcações. Esperamos que agora promova uma investigação completa nos convênios e contratos com as Ongs para impedir novos desvios e desperdício de dinheiro público”, cobra o deputado.

Operação abafa

Os escândalos envolvendo as chamadas organizações não governamentais sempre preocuparam o ex-presidente Luiz Inácio da Silva. Quando o então senador Heráclito Fortes (DEM-PI) apresentou requerimento para a criação da CPI das Ongs, o Palácio do Planalto de pronto acionou sua tropa de choque, que acabou inviabilizando as investigações. Cumprindo ordens de Lula, a base aliada tratou de escolher o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) como relator da CPI. No rastro de muitas discussões e polêmicas, Arruda conseguiu, depois de muita insistência, finalizar um relatório classificado como pífio e vergonhoso, sem que qualquer recomendação de punição às Ongs ligadas ao governo.

O escândalo que tem no cardápio o Ministério da Pesca e o PT de Santa Catarina não é novidade para os que acompanham o cotidiano da política nacional. O primeiro imbróglio envolvendo uma Ong e o governo Lula aconteceu ainda em 2004, quando veio à tona o caso da Ágora, entidade criada pelo empresário Mário Dutra para o combate à fome e à pobreza.

Fabricante de computadores e fornecedor do governo federal à época, Mauro Dutra foi acusado de desviar cerca de R$ 900 mil do Fundo de Amparo ao Trabalhador. O dinheiro, R$ 7,5 milhões, foi entregue à ONG por meio de convênio firmado, em novembro de 2003, com o Ministério do Trabalho e deveria ser aplicado na qualificação de trabalhadores, mas jamais soube-se de fato quantas pessoas foram beneficiadas.
Lula, como sempre, se fez de desentendido e o caso simplesmente caiu na vala do esquecimento da imprensa nacional.

10 de abril de 2012
abobado
Ucho.info