"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



segunda-feira, 28 de novembro de 2011

APROXIMAÇÃO DE 2012 PERTURBA O SONO DOS MENSALEIROS: VEM AÍ O BBB DA BANDIDAGEM

Em outubro de 2005, ao festejar o 50° aniversário no sítio em Goiás, o fora-da-lei Delúbio Soares presenteou-se com uma previsão debochada: “No futuro, o mensalão vai virar piada de salão”. Por enquanto, a profecia não se confirmou: o escândalo que escancarou a alma sombria do governo Lula desembocou no processo que será julgado no próximo semestre pelos ministros do Supremo Tribunal Federal. E pode dar cadeia, começa enfim a desconfiar “nosso Delúbio”, como costumava referir-se Lula ao companheiro ladrão.

Neste sábado, numa reunião com 40 sindicalistas em Brasília, o ex-tesoureiro do PT preferiu qualificar de “boato” o colossal balaio de maracutaias que, passados seis anos, já deveria ter virado anedota. Delúbio, em sua essência, não mudou: o cinismo repulsivo, o vocabulário cafajeste, a compulsão para a mentira e outros traços abjetos seguem confirmando que certos defeitos de fabricação não têm conserto. Mas o sumiço do sorriso desdenhoso e a multiplicação de vincos no rosto indicam que o gerente da roubalheira imensa já não se acha condenado à perpétua impunidade.

“Esse julgamento será o maior espetáculo midiático do Brasil”, previu Delúbio no fim de semana. Desta vez, o delinquente enquadrado por formação de quadrilha, corrupção ativa e lavagem de dinheiro acertou. Por mais de dois meses, uma cadeia gigantesca composta por emissoras de rádio e TV, jornais, revistas, sites e blogs vai transmitir ao vivo uma espécie de Big Brother Brasil da Bandidagem, primeiro reality show inspirado na corrupção engravatada. Os advogados dos mensaleiros tornarão a recitar que o mensalão não existiu. Serão confrontados com as incontáveis provas dos muitos crimes cometidos pela quadrilha.

O destino dos participantes será decidido pelos ministros. Mas os juízes votarão vigiados por milhões de testemunhas que saberão o que fez e o que merece cada personagem. Só se viu algo parecido em julho e agosto de 2005, quando as sessões da CPI do Mensalão alcançaram índices de audiência de novela da Globo. O país foi apresentado à face horrível da Era Lula, a popularidade do presidente desceu a temperaturas siberianas e o governo só escapou do naufrágio porque a oposição oficial decidiu socorrer a federação dos corruptos.

Como ocorreu há seis anos, o BBB da Bandidagem também vai começar sem roteiro definido. É impossível adivinhar o desfecho. Delúbio e o resto dos mensaleiros têm motivos para perder o sono. Ficarão muito mais inquietos se os brasileiros decentes abrirem os olhos imediatamente e enxergarem com nitidez o calendário político até agora subvertido pelo Planalto. Com a cumplicidade dos jornalistas federais, os réus e seus padrinhos fazem de conta que 2012 será o ano das eleições municipais. Mais uma vigarice: o que vem aí é o ano do julgamento do mensalão.

As urnas poderão melhorar ou piorar a vida de uma cidade. Só isso. As togas dirão se a lei vale para todos, se ainda há juízes no Supremo e se o Brasil tem jeito ou perdeu de vez a vergonha.

Austusto Nunes

ANISTIA SE INSTALA NA CASA-DA-MÃE-JOANA

O UOL noticia hoje (21/11) que a Anistia Internacional (AI) vai acompanhar de perto a situação da segurança pública nos Estados brasileiros, especialmente o fortalecimento das milícias no Rio de Janeiro, e monitorar o impacto das grandes obras para os megaeventos que o país vai receber em 2014, com a Copa do Mundo, e, em 2016, as Olimpíadas no Rio. Sediado no Rio de Janeiro, o novo escritório da AI ainda está em fase de estruturação, mas já tem iniciado conversas com membros da sociedade civil, setores públicos e privados para ouvir as demandas e queixas de diversos segmentos.

Segundo Átila Roque, o diretor do novo escritório da organização no Brasil, a organização vai enfocar a sua atuação nas questões de segurança pública, de direitos dos povos indígenas e de direitos à moradia, assim como a contínua falta de justiça para os abusos cometidos durante a ditadura militar.
“Teremos uma agenda da defesa de direitos, e, nesse sentido, grandes eixos de trabalho: uma agenda ampla de segurança pública envolvendo a situação prisional, a polícia, o Estado e a Justiça; a conexão entre desenvolvimento e direitos com reforma do espaço urbano acompanhando a agenda da Copa e Olimpíadas”, disse Roque.

No âmbito do desenvolvimento, o novo escritório da AI irá também acompanhar o impacto das grandes obras de desenvolvimento sobre as populações indígenas e rurais, como a construção de grandes hidrelétricas na Amazônia, como Santo Antônio, Jirau e Belo Monte. “São estas três áreas que sintetizam os assuntos domésticos que a Anistia vai se concentrar”, anunciou o novo diretor.

Onde estamos? Uma organização internacional se instala em um país soberano e pretende assumir as funções do governo? E ninguém diz nada. Nem o governo nem a imprensa. Após a decisão da Anistia Internacional, Dona Dilma, Judiciário, Legislativo, Ministério Público, Exército e polícia se tornam perfeitamente dispensáveis. Pelas declarações deste senhor, será a Anistia quem decidirá sobre a construção de hidrelétricas no país e demarcação de terras indígenas.

Ainda segundo o UOL, as milícias serão um dos pontos de grande atenção por parte dos membros da Anistia no Brasil. “É um assunto urgente. As milícias hoje são o assunto de segurança que mais desafia o Estado e a sociedade. O crime se organiza em torno de um impulso econômico que é bem mais volumoso, corrompe radicalmente o Estado por dentro, as estruturas da polícia, e tem vínculos no Legislativo. É o embrião do que pode ser considerado como uma máfia”, afirmou.

Ora, eu imaginava que o país tivesse uma polícia para tratar do assunto. Pelo que me consta, até o Exército está tentando impor a lei nas favelas. Ao que tudo indica, estas questões serão agora competência da Anistia Internacional.
Em qualquer país decente, a arrogância com que o representante da organização se dirige aos brasileiros seria motivo de expulsão sumária do território nacional. Em Pindorama, o tal de Roque anuncia serenamente suas intenções de governar o país.

Que país é este? Cineastas e roqueiros gringos, que sequer têm voz em seus países, sentem-se à vontade no Brasil para determinar qual será nossa política de águas, de energia, de territórios indígenas.

Ano passado, o diretor do estúpido filme Avatar, James Cameron, em visita ao Brasil, criticou nesta a construção da usina de Belo Monte, no Rio Xingu. O cineasta disse que iria pedir apoio de congressistas norte-americanos na luta contra o projeto. “Esta não é uma questão só do Brasil, mas do mundo todo.
Vou para Washington para conversar com senadores”, disse. Em junho passado, a Anistia Internacional também pediu a suspensão do projeto de construção, tendo encaminhado o pedido, no dia seguinte, ao Conselho de Direitos Humanos da ONU.

Em novembro de 2009, o cantor britânico Sting reuniu-se em São Paulo com os líderes caiapós Raoni e Megaron Txucarramae, para chamar atenção para a questão da construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
Sting Explicou que é estrangeiro, e que este é um “assunto brasileiro - mas de todos os brasileiros”. “Há razões econômicas para que seja construída e razões ambientais para que não seja. O povo de Raoni precisa ser parte do processo”, alertou.

Estrangeiro, mas dá seu pitaco em assuntos brasileiros. Não é de hoje que Sting mete sua colher torta em questões nossas. Depois do I Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, em Altamira (PA), em 1989, Sting fundou com sua mulher, Trudie, a Rainforest Foundation, que, entre outros projetos, apoiou o reconhecimento oficial de terras indígenas no Xingu.
A Rainforest passou a apoiar projetos no Parque Indígena do Xingu, entre eles o monitoramento dos limites do parque para prevenir invasões e o desenvolvimento de um sistema de educação bilíngue para 14 etnias que ali vivem.

Faça um esforço de imaginação, leitor. Imagine uma entidade brasileira pretendendo determinar a distribuição de territórios nos Estados Unidos ou Reino Unido. Só nesta casa-da-mãe-Joana para se admitir tais intervenções.
Há dois meses, eu comentava notícia sobre o cacique Raoni Metuktire, que recebeu o título de cidadão honorário de Paris.
A capital da França, como salientava o redator, supondo que os leitores contemporâneos já não mais saibam que Paris é a capital da França. Raoni estava no país em campanha pela suspensão das obras da Usina de Belo Monte, no Rio Xingu (PA).
A prefeitura de Paris informou que a escolha de Raoni foi feita baseada na atuação em defesa da Floresta Amazônica e dos povos indígenas do Brasil. Os franceses o consideram uma espécie de símbolo de luta pelos direitos humanos, pelo desenvolvimento sustentável e pela conservação da biodiversidade. Raoni é 12º cidadão honorário de Paris. Ao receber o título, Raoni usava trajes indígenas.

Raoni, se alguém não lembra, é aquele cacique que, nos anos 80, exibia orgulhosamente aos jornais a borduna com que matou onze peões de uma fazenda. Não só permaneceu impune, totalmente alheio à legislação brasileira, como foi recebido com honras de chefe de Estado na Europa.

O papa João Paulo II, François Mitterrand e os reis da Espanha, entre outros, o receberam como líder indígena. Raoni, com seus belfos, se deu inclusive ao luxo de expor sua pintura em Paris. Um dos quadros do assassino atingiu US$ 1.600 em uma lista de preços que começava a partir de mil dólares. No final do ano passado, Raoni recebeu o título de Dr. Honoris Causa pela UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso).

É este assassino, que se orgulha de seus feitos, que se insurge contra uma hidrelétrica no país. Usina que foi planejada de modo a não afetar territórios indígenas. É este bruto que recebe total apoio de artistas e estadistas estrangeiros.

Nada de espantar que a Anistia Internacional se sinta plenamente autorizada a determinar qual será a política nacional, em termos de polícia, segurança ou territórios e até mesmo da organização da Copa.

Janer Cristaldo

THE NEW YORK TIMES, UM DOS MAIORES JORNAIS ESQUERDISTAS DOS EUA, FALA SOBRE SILAS MALAFAIA

Comentário de Julio Severo
Não gostei do tom debochador que o jornal esquerdista americano usou para falar de Malafaia, mas a mentalidade esquerdista é estreita e os impede de ver a realidade como ela é. O jornal erroneamente compara Malafaia a Pat Robertson, um conservador em outros tempos tão sólido que sugeriu que Hugo Chavez, o amigo de Dilma Rousseff e Lula, deveria ser morto.

Embora Malafaia tenha, sobre o aborto e a agenda gay, a mesma posição dos verdadeiros conservadores, suas inclinações políticas o distanciam do conservadorismo legítimo, e tal fato foi reconhecido na própria entrevista em que ele confessou ter votado em Lula duas vezes e não ter nada pessoalmente contra Rousseff. Se ela não apoiasse o aborto e o homossexualismo, estaria tudo ok? É evidente que não.
Além de um passado terrorista, ela não abre mão de sua ideologia socialista e de ligações com Hugo Chavez e Fidel Castro. Esse aspecto socialista repugnante não parece incomodar Malafaia. Eu continuarei, como escritor e blogueiro, apoiando Malafaia quando ele ataca a radical agenda do aborto e do homossexualismo.
Mas nunca poderei seguir suas desastrosas inclinações políticas. Afinal, se ele abomina tanto o aborto e o homossexualismo, por que apoiou publicamente os politicos mais abortistas e homossexualistas da historia do Brasil?
É uma pena que ele não tenha a metade das convicções políticas de Michele Bachmann, a candidata à presidência dos EUA que verdadeiramente é pentecostal e conservadora.

Eis a entrevista completa


Silas Malafaia: “Deus me chamou para ser pastor, e não vou trocar isso por um cargo político.”

Líder evangélico ergue-se nas guerras culturais do Brasil

Simon Romero

Os livros de Silas Malafaia, que vendem aos milhões no Brasil, têm títulos como “Como Derrotar as Estratégias de Satanás” e “Lições de um Vencedor”. O jatinho particular Gulfstream em que ele voa tem “A Serviço de Deus”, em inglês, inscrito na lataria.

Como evangelista de televisão, o Sr. Malafaia alcança espectadores em dezenas de países, incluindo os Estados Unidos, onde Daystar e Trinity Broadcasting Network transmitem suas pregações dubladas. Em mais de 30 anos de atuação, o Sr. Malafaia, 53, reuniu igrejas e prósperas empresas em torno de sua pregação pentecostal.

Ainda assim, ele poderia ter atraído pouca atenção fora de seus próprios seguidores se ele não tivesse entrado na versão brasileira das guerras “culturais”. Afinal, o Brasil tem líderes evangélicos que comandam impérios maiores, como Edir Macedo, cuja Igreja Universal do Reino de Deus controla a Rede Record, uma das maiores redes de televisão do Brasil. Outros, como Romildo Ribeiro Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, são conhecidos por maior zelo missionário.

Mas é o Sr. Malafaia que recentemente atraiu a maior atenção, ao atacar verbalmente, de forma incisiva, uma ampla variedade de inimigos, incluindo os líderes do movimento de direitos homossexuais, os defensores do direito ao aborto e também apoiadores da descriminalização da maconha no Brasil.

Foto do New York Times: Silas Malafaia dá entrevista no quintal de um hotel antes de um evento

“Eu sou o inimigo público nº 1 do movimento gay no Brasil,” O Sr. Malafaia disse em uma entrevista neste mês aqui em Fortaleza, uma cidade no Nordeste do Brasil, onde ele chegou para dirigir um de seus eventos que ele descreve como “cruzada”, num episódio misturando Bíblia e música em frente de um público de aproximadamente 200.000 pessoas.

Lágrimas escorriam pelos rostos de alguns dos participantes comovidos, enquanto outros dançavam conforme a atuação que serviu para a abertura que ele fez.

Antes de subir ao púlpito, ele descreveu como ele se tornou cobiçado em programas de entrevista da televisão como a parte do programa que discute, como numa disputa de boxe, contra líderes gays.
Mas isso é apenas uma pequena parte de seu repertório, e a televisão é apenas um dos muitos meios de comunicação à disposição do Sr. Malafaia.
No Twitter, ele tem quase 250 mil seguidores, e em vídeos distribuídos no YouTube, ele não só desce o chicote em inimigos liberais, mas também em jornalistas e líderes evangélicos rivais.

O que não é de surpreender é que sua proeminência crescente fez dele uma fonte de admiração e desconforto. Ele mobilizou milhares de pessoas para se manifestar na capital, Brasília, neste ano, contra um projeto de lei que visa ampliar legislação anti-discriminação para incluir a orientação sexual.

“Ele é como Pat Robertson, no sentido de ser um pioneiro ao mover a direita evangélica do Brasil para a esfera política nacional”, disse Andrew Chesnut, especialista em religiões latino-americanas da Universidade Commonwealth da Virginia, comparando o Sr. Malafaia ao evangelista conservador da televisão americana.

A elite do Brasil está tentando entender a ascensão de uma figura tão polarizadora, e como ele poderá influenciar a política da nação. Piauí, uma revista que é o equivalente tosco da revista The New Yorker nos Estados Unidos, publicou um longo artigo neste ano sobre como o Sr. Malafaia se ergueu da obscuridade no Rio de Janeiro, onde ele cresceu numa família militar, para o poder que ele agora ostenta.

Além do Sr. Malafaia, a ampla expansão de religiões evangélicas, especialmente o pentecostalismo, nas últimas décadas está alterando a política do Brasil. (Embora o pentecostalismo varie muito, os seus princípios no Brasil incluem a cura pela fé, profecia e exorcismo.) Líderes em Brasília são agora forçados a consultar-se sobre uma série de questões com uma bancada evangélica de legisladores com influência sólida.

Estima-se que de cada quatro brasileiros, um faça parte de igrejas evangélicas, e pentecostais como o Sr. Malafaia estão na vanguarda desse crescimento. Numa notável transformação religiosa, estudiosos dizem que embora o Brasil ainda tenha o maior número de católicos romanos no mundo, o Brasil está agora também competindo com os Estados Unidos ao ter uma das maiores populações pentecostais.

Nem todo mundo no Brasil está entusiasmado com essa mudança.

Num artigo de novembro, o jornalista Eliane Brum escreveu sobre a intolerância para com os ateus que tem sido demonstrada no Brasil por alguns adeptos de religiões de pessoas que “nasceram de novo”, descrevendo o que ela chamou de “disputa cada vez mais agressiva para as cotas de mercado” entre as grandes igrejas.

Nesse artigo, a Sra. Brum desencadeou uma onda de reações de pentecostais. E as palavras do Sr. Malafaia estavam entre as mais cáusticas

Durante a entrevista aqui, ele chamou a Sra. Brum de “vagabunda”, e repetiu sua afirmação de que “os ateus comunistas” na antiga União Soviética, Camboja e Vietnã foram responsáveis por mais mortes do que "qualquer guerra produzida por questões religiosas.”

Quer por intenção ou falta de opção, a linguagem agressiva dele tem frequentemente se tornado um espetáculo.
Em novembro, reportagem da revista Época disse que o Sr. Malafaia, durante comentários acalorados sobre a possiblidade de adotar medidas legais contra Toni Reis, um proeminente defensor dos direitos homossexuais, disse que ele “fornicaria” Reis.

O Sr. Malafaia apresentou uma explicação de que ele tinha realmente dito que iria “funicar” o Sr. Reis. Embora os pesquisadores não tivessem conseguido encontrar a palavra do Sr. Malafaia em dicionários de referência, ele disse que era uma gíria que em termos gerais se traduzia como “repreender vigorosamente”.

A visibilidade que o Sr. Malafaia alcança com tais episódios está alimentando questionamentos sobre suas ambições políticas. Ele disse que não tinha vontade alguma de se candidatar a cargos políticos, pois isso poderia colocá-lo em obrigações com um partido político específico, limitando assim a visibilidade mais ampla que ele tem agora.

“Deus me chamou para ser pastor”, disse ele, “e não vou trocar isso por um cargo político.”

Mas a influência política é outra questão. O Sr. Malafaia disse que votou duas vezes no ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e durante anos teve acesso aos corredores do poder de Brasília. Mas ele também contou um fato curioso sobre a sucessora de Lula, a presidente Dilma Rousseff, que sugere como figuras evangélicas estão se tornando importantes nas eleições nacionais.

Ele disse que ela falou com ele por telefone durante 15 minutos durante a campanha presidencial do ano passado, tentando atrair o seu apoio. Mas ele disse que recusou por causa de diferenças ideológicas com aspectos do governo do Partido dos Trabalhadores do Sr. Lula, um ex-líder sindical, e da Sra. Rousseff, ex-agente de um grupo de guerrilha urbana.

“Eu disse a ela: ‘Não tenho nada pessoal contra você. Eu acho você uma mulher inteligente e qualificada’”, disse ele. “Mas como posso votar em você se eu passei quatro anos lutando contra a facção de seu partido que apoia um projeto de lei para beneficiar gays, assim me prejudicando?”

O Sr. Malafaia, enquanto gesticulava, com os dedos com anéis de ouro adornados com diamantes incrustados, como se estivesse atacando o ar com punhais, passa tais contos em português estrondoso com abundante sotaque carioca.

Sua imagem deu-lhe um status de quase estrela do rock entre alguns que o apoiam.

“Eu não o reconheci sem bigode”, disse Erineide Mendonça, 39, uma empregada do hotel de Fortaleza onde o Sr. Malafaia estava hospedado, referindo-se ao bigode que era a marca registrada dele e que ele não raspava há muito tempo. “Mas reconheci a voz dele”, disse ela, pedindo para ser fotografada com o evangelista que ela adora.

Tanto o Sr. Malafaia quanto sua esposa Elizete foram treinados como psicólogos, e quando ele sobe ao púlpito, sua voz ecoa nas pregações carregadas de aulas de autoajuda e perseverança.

Um tema favorito envolve o sucesso e como alcançá-lo. Embora afirme que ainda vive uma vida relativamente humilde e nem sequer seja um milionário, ele não se desculpa por sua própria ascensão material. Aliás, ele a celebra, elogiando demasiadamente, por exemplo, o seu Mercedes-Benz — um presente, ele explica, de um amigo próspero.

Depois, há o jatinho Gulfstream, adquirido de segunda mão nos Estados Unidos, disse ele, não por ele mas pela sua organização religiosa sem fins lucrativos a um preço razoável.

“O papa voa num avião a jato”, disse ele, referindo-se ao avião fretado da Alitalia que transporta o bispo de Roma, e irritando-se com o que ele via como a hipocrisia com a qual os líderes evangélicos em ascensão no Brasil estão sendo obrigados a lutar. “Mas se um pastor viaja em algum jato velho, ele é considerado um ladrão.”

DIRCEU: ALÉM DE SOLTO, DESENVOLTO!

O semanário português Expresso afirma em sua última edição que a Band está interessada na privatização da RTP, uma das duas redes de TV mais importantes do Portugal e afirma que José Dirceu estaria ajudando a rede Band na empreitada.

Dirceu, segundo o semanário, é “amigo” de Miguel Relvas, ministro dos Assuntos Parlamentares de Portugal.

Tem outra:

Dirceu é apontado no mercado como “o” homem, no Brasil, do grupo português Ongoing, que já é dono dos jornais “Brasil Econômico”, do qual o “chefe de quadrilha” é colunista, “O Dia”, “Meia Hora” e “Marca”. O grupo busca um jeito de investir em TV.

Qual é o truque? A Ejesa (Empresa Jornalística Econômico S.A.), que edita esses jornais, tem 70,1% de seu capital em nome de Maria Alexandra de Almeida Vasconcellos, brasileira, mas casada com Nuno Vasconcellos, presidente do Ongoing, dona dos outros 29,9%. Em Portugal, dá-se como certo que é o grupo que comanda esses veículos por aqui. No meio político, o “Brasil Econômico” é chamado “aquele jornal do Dirceu”. Evanise Santos, namorada do réu, é diretora de marketing institucional da Ejesa. O Ministério Público Federal de São Paulo abriu investigação para apurar a atuação do grupo português no Brasil.

E o calhorda ainda fica pregando “regulamentação da mídia”. Tem cabimento?

Um chefe de quadrilha cassado que, além de solto, trafega na política e nos meios empresariais mais diversos, só aqui no Bananistão.
Por Ricardo Froes

HISTÓRIAS DA POLÍTICA

Não atrase, por favor

Fialho Pacheco era repórter de polícia do “Estado de Minas”, em Belo Horizonte, anos atrás. Escrevia bem e gostava de transformar os fatos mais duros do noticiário policial em textos literários, densos e tensos.

Uma tarde, um homem saltou para a morte do 22º andar do edifício Acaiaca, em plena Avenida Afonso Pena, no Centro da cidade, acima de nossa saudosa Faculdade de Filosofia da UFMG, que funcionava no 20º e no 21º andar.

Fialho escreveu um texto longo, dolorido, espremendo ao máximo a tragédia. O homem havia perdido tudo, emprego, mulher, filhos e amigos. Desesperou-se e pulou. O jornal deu a matéria com grande destaque, manchete e fotos.

***
FIALHO

No dia seguinte, de manhã, tocou o telefone na redação, chamando Fialho:

- Que beleza de coisas o senhor escreveu, seu Fialho. E não deve ter exagerado nada. Estou vivendo a mesma situação. Também perdi meu emprego, minha mulher me abandonou, meus filhos foram com ela, meus amigos não querem saber mais de mim, não tenho dinheiro para nada. Como ele, também vou me matar.

- Que maravilha! Também vai pular? De onde? E que hora vai ser?

O homem explicou tudo. Fialho ficou na maior empolgação:

- Então, está tudo combinado. Vou levar um fotógrafo para não perder nada. Na hora certa, estarei lá com ele. Mas, por favor, não atrase, ouviu? Não atrase!

O homem não atrasou. Pulou para a morte na hora marcada. Sem atraso nenhum. Fialho viu, fotografou tudo. E escreveu mais um texto sangrado, desesperado.

***
PARTIDOS CAMALEÕES

Os partidos que viraram camaleões para se salvarem na enxurrada do Mensalão (o PTB de Roberto Jefferson, o PP de Maluf, o PR de Valdemar Costa Neto, o PRB do “bispo” Macedo e os partidecos) ou são apenas paulistas ou existem nos estados como escritórios de representação de uma matriz paulista. Enquanto Lula e Dilma forem os editores do “Diario Oficial”, fazem o que eles mandarem.

O chamado “bloquinho” de pequenos partidos “de esquerda” (PSB, PDT, PC do B, PV etc.), que apóiam Lula e Dilma, é um punhado de banquinhas de camelô vendendo DVDs e CDs piratas. Não têm nenhum compromisso com o que existe lá dentro, gravado em seus programas políticos.

Cada “amostra de partido” desses (os camaleões, os do bloquinho etc.) vai ficar em 2014 com os candidatos melhor cotados na Bolsa de Futuro das eleições. Ou então vão se suicidar na frente do Fialho.

Sebastião Nery

POR ANO, A JUSTIÇA NÃO CONSEGUE RESOLVER 70% DAS AÇÕES


De acordo com o programa “Justiça em Números”, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a Justiça brasileira – Justiça Federal, do Trabalho e Justiça estadual – recebeu, no ano de 2009, 25,5 milhões de novos processos, 1,28% a mais do que em 2008. Somando-se ao estoque de ações ajuizadas em anos anteriores, tramitaram 86,6 milhões de processos nos três ramos da Justiça em 2009. De acordo com o programa, existem 16,1 mil magistrados e 312,5 mil servidores no judiciário brasileiro e, a taxa de congestionamento foi de 71% em 2009, este percentual vem se mantendo desde 2004, o resíduo chega a 71% dos processos não foram solucionados.

Em 2009, o Judiciário custou R$ 37,3 bilhões, 9% acima de 2008. Mais da metade do valor é aplicado pela Justiça dos estados. O fato é que nas ações trabalhistas (são 24 milhões o total de ações existentes), boa parte do resultado vai para a mão do governo (INSS, IR e custas), valor que fica na contramão do social. A ação trabalhista mantém uma centena de mil serventuários e juízes que representam 93% do total do orçamento anual do judiciário laboralem salários. E não existe contrapartida, o atendimento na JT é deprimente, a postura de pessoal é arrogante e a morosidade é uma constante, para tudo que se questiona, juízes e serventuários têm suas respostas, no caso evasivas.

Ocorre que na Justiça do Trabalho, o custo/processo é altíssimo. Analisando a partir de uma vara trabalhista, vamos constatar que cada Vara Trabalhista recebe em média 140 novas ações a cada mês, levando em conta o resíduo de 49% de congestionamento apontado pelo CNJ, temos o número médio de 125 processos resolvidos. A composição é de 12 serventuários para cada vara, estimando que cada um custe em média mensalmente R$ 10 mil aos cofres da União, temos o total de R$ 120 mil/mês, (custo social mais R$ 10 mil) que somados ao juiz R$ 21 mil (mais o custo social 100%), temos R$ 42, mil, e a média de um terço do grupo de juízes auxiliares, ao custo de médio de R$ 24, mil, perfazendo um total de R$ 326, mil/mês.

Levando em conta a seguinte equação, dos 240 processos, subtrai o resíduo, ficamos com 125 resolvidos, estima-se extra-oficialmente que cada ação custa aos cofres da União R$ 2 mil e 720/mês, e do total de ações, R$ 1 mil e 358/mês, sendo assim hipoteticamente falando, se a JT não existisse e o governo bancasse toda demanda trabalhista existente, dos 18, 5 milhões de ações existentes na JT, em menos de cinco anos o déficit trabalhista seria zerado. Recente a Lei nº 12.440, de 2011 criou a Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas, a promessa dos juízes com a sociedade, é de que vai solucionar o travamento das execuções.

Durante o 5° Encontro Nacional do Judiciário, promovido pelo CNJ, no dia 18 de novembroem Porto Alegre, foram definidas as novas metas do judiciário. O “milagre” esperado são os documentos virtuais, que vão eliminar os balcões das Varas. Vale lembrar que do orçamento total da JT, 93% é da sua folha de pagamento, isso equivale dizer que estamos diante de uma péssima administração do patrimônio público, financiando uma autêntica “Ilha da Fantasia”, com a utópica expectativa de que este judiciário é necessário para mediar às questões controvertidas das relações de trabalho, o que vem a ser uma mera hipótese, conforme os números negativos estão provando.

Na opinião do ministro do TST, Ives Gandra Martins Filho, o fato de que o processo trabalhista é “duro” no que diz respeito à despersonalização da pessoa jurídica, o que impõe mais uma dificuldade à execução processual. “Existe a proteção para garantia do direito de defesa, para ver o quanto que é devido. Mas, ao mesmo tempo, há muita fuga de capital das empresas”, salienta o ministro. Na área de terceirização as empresas simplesmente somem, não encontram os sócios nem dinheiro, a tomador, quando empresa pública recorre em todas as instâncias e na execução, embarga e recorre novamente, receber a ação é um suplicio para o trabalhador. Onde se concluiu que a Certidão Nacional de Débito Trabalhista, na logrará êxito.

Recente o CNJ teve sua principal meta aprovada no V Encontro para todo o Judiciário, a (Meta 1) que é o julgamento de uma quantidade maior de processos de conhecimento em 2012 em relação ao número de ações recebidas em2011. AMeta 2 delimita, para cada segmento da Justiça, o acervo de processos, em função do ano de entrada, para julgamento até o final de2012. AJustiça do Trabalho deverá julgar 80% dos processos distribuídos até 2008.

A Meta 3 determina que os tribunais publiquem na Internet o andamento atualizado de todos os processos e o conteúdo das decisões, à exceção dos casos de segredo de justiça. A Meta 4 prevê a designação de um juiz de cooperação, a quem caberá a interlocução entre os magistrados do próprio tribunal e de outros, para facilitar o cumprimento de medidas que esbarrem em questões burocráticas. A Meta 5 estabelece a implantação de sistema eletrônico para consulta e recolhimento de custas processuais pela internet, que facilitará a vida do usuário e reduzirá o trabalho de atendimento nos cartórios.

O ponto “G” do judiciário é a execução, onde está o mais frágil procedimento, tanto que para 2012, reconhecendo a debilidade, ficou estabelecida a Meta 18 – Aumentar em apenas 10% o quantitativo de execuções encerradas em relação a 2011.

Roberto Monteiro Pinho

CORRUPÇÃO SAQUEIA O BRASIL REPETINDO AÇÃO DOS CORSÁRIOS DO PASSADO

A excelente reportagem de Leandro Colón, O Estado de São Paulo de quinta-feira 24, iluminando para a opinião pública um incrível escândalo que explodiu no Ministério das Cidades, responsabilidade maior do titular da pasta, Mário Negromonte, acrescenta mais um episódio à sequência de corrupção que saqueia o Brasil. Impressionante como é tratado o dinheiro público. Só tem paralelo na ação dos corsários do século XVI que tinham base no Caribe e nas Antilhas.

Os corsários de hoje, como os de ontem, que inspiraram várias lendas, não respeitam limites. Roubam freneticamente e, com isso, desfecham bofetadas na face da população.A fraude homologada pelo ministro Mário Negromonte, referente a obras da Copa do Mundo em Cuiabá, eleva-se a 700 milhões de reais. Caso de demissão imediata de seus principais auxiliares.

Depois de Carlos Lupi, que balança, mas vai terminar caindo, Negromonte será o sétimo a ser demitido por corrupção. E o oitavo a sair da equipe da presidente Dilma Roussef, já que Nelson Jobim foi demitido por insubordinação. É demais? Sim. Mas isso só na esfera do Palácio do Planalto. Porque as fraudes proliferam de maneira incessante em quase todas as áreas, incluindo as estaduais e municipais.

Os cargos que possuem verbas altas são disputadas, não como instrumento de realização coletiva, sentido maior da política, mas sim como chave para o roubo e o assalto, passando pela farsa e atravessando o plano da chantagem, imunda por natureza. Chantagem sim. Porque o pretexto apresentado hipocritamente é o de tornar cada vez mais sólida a maioria parlamentar do governo no Congresso. Algo repugnante.

Nenhum dos desonestos consegue falar sobre seu verdadeiro papel na ópera que encenam e da qual se tornam personagem sombrios. Nem podem se olhar no espelho da demissão, pois como dizia Santiago Dantas, nenhuma posição é legítima se aquele que a ocupa não puder dizer seu verdadeiro nome.

Mais impressionante ainda é que os acusados tentam resistir à realidade das denúncias e custam a tomar a iniciativa de tomar o elevador para ir embora. Insensibilidade aí entra em cena. Pois Palocci, Wagner Rossi, Alfredo Nascimento, Pedro Novais, Orlando Silva e agora, no fim da escala, Carlos Lupi e Mário Negromonte, deviam pelo menos considerar a perspectiva de que a fonte de divulgação contra todos eles é uma só: o Palácio do Planalto.

Claro. Pois todas as reportagens partem de investigações da Polícia Federal, inclusive com base em escutas telefônicas com autorização judicial. Ora, a Polícia Federal está diretamente subordinada ao Ministério da Justiça. E o titular da pasta, Eduardo Cardoso, à presidente Dilma Roussef. Assim se jornais e jornalistas tiveram acesso e informações captadas pela PF, como esta não as passou antes, ao Planalto? Não pode ser. Não teria a menor lógica. Representaria até uma insubordinação a chefe do Poder Executivo ela tomar conhecimento pelos jornais e revistas de crimes de corrupção por ministros que desempenham cargos de sua confiança direta.

Se tal processo fosse lógico, ela passaria, aí sim, a desconfiar do Ministério da Justiça e da própria Polícia Federal. Não pode haver outra interpretação. Os atores da corrupção, apanhados em flagrante, deveriam logo se demitir para que a presidente Dilma não seja obrigada a fazê-lo.Mas esta é outra questão.

No entanto, como esperar o mínimo de ética pelos antiéticos? Se não fossem antiéticos, não seriam corruptos. A corrupção, como os fatos revelam a cores firmes, assumiu entre nós, um caráter alarmante e sobretudo ameaçador como um maremoto. Sufoca e destrói os valores sociais e corroi a própria economia brasileira.

Falta dinheiro para a saúde, educação, transporte, segurança pública, exatamente pela transferência dos recursos pilhados. Em vez de irem para a sociedade, em forma de serviços, vão para as contas nacionais e internacionais dos ladrões.

Pedro do Coutto

OBSERVAÇÕES POLÍTICAS

Ainda sobre o tempo perdido

Insistir, às vezes, é preciso, como neste artigo que agora repetimos. Serão tempo desperdiçado esse restinho de novembro, dezembro inteiro e certamente a maior parte de janeiro. Por que, então, a presidente Dilma não antecipa para ontem a reforma do ministério? Se a decisão foi tomada, se ela pretende livrar-se de peças incômodas que lhe foram impostas, se seu projeto é dar mais eficiência e talvez menor tamanho à equipe ministerial, não dá para entender a perda de tempo.

Do lado de fora do palácio do Planalto a impressão é de estar terminando a temporada de loteamento de ministérios pelos partidos da base oficial. Claro que permanecerão ministros filiados às legendas que apóiam o governo, assim como serão recrutados ministros a elas pertencentes. A novidade parece vir da disposição da presidente em escolher, ela mesmo, dentro e fora dos partidos, as peças que melhor se encaixem em seu programa administrativo e político. Não mais deixar que caciques de cocares variados indiquem ministros e ocupem os ministérios como se fossem sua propriedade particular.

Há expectativa na Esplanada dos Ministérios, abrindo-se o risco de muita gente esperar demais e constatar de menos, quando a reforma vier. Inexistem sinais claros sobre quem sai e quem entra, mas não errará quem supuser estarem a um passo da demissão ministros que nem bissextamente entram no gabinete presidencial.

Haverá participação de líderes dos partidos, é óbvio, a começar pelo vice-presidente Michel Temer, mas dessa vez pesará muito mais a disposição de Dilma. Assim como desaparecerão os feudos, quer dizer, o ministério do Trabalho, por exemplo, não ficará necessariamente com o PDT.

A formação e a reforma dos ministérios costumam frustrar mais do que atender os anseios gerais. Jânio Quadros, por exemplo, eleito num dos mais formidáveis movimentos populares, escolheu um ministério mais para o pífio, desapontando seus seis milhões de eleitores. Gente desconhecida, provinciana, junto com gente sem a menor relação com as pastas oferecidas. João Goulart lançou-se num troca-troca sem registro anterior.

Os militares, se não deixaram os partidos de fora, buscaram neles quem bem entenderam. José Sarney engoliu por mais de um ano os ministros escolhidos por Tancredo Neves, mas terminou seu mandato botando em campo o time reserva, com as exceções de sempre. Fernando Collor enxugou o número de ministros mas só convocou uma equipe realmente excepcional quando não dava mais tempo de evitar a catástrofe. Itamar Franco bem que procurou formar um governo de união nacional, mesmo rejeitado pelo PT. Já Fernando Henrique ressuscitou o provincianismo paulista, imprimindo ao conjunto sua marca pessoal. Quanto ao Lula, quem se lembra da maioria de seus ministros?

A presidente Dilma dá a impressão de buscar um caminho próprio, depois de um ano tumultuado e meio perdido. Manterá uma parte de seus ministros, provavelmente aqueles indicados por ela mesmo, sem influência dos partidos. Certamente aproveitará alguns que não conhecia mas aprovou. Os outros, porém, boa viagem…

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DIFICULDADES

Não está fácil, no governo, a seleção dos sete membros da Comissão da Verdade. As exclusões são maiores do que as possíveis admissões. Militares, por exemplo, não poderão ser nomeados. Nem participantes da luta contra o regime militar. Companheiros do PT também não. Vale o mesmo para comunistas e penduricalhos. Tucanos e filiados do Dem, da mesma forma.

A Ordem dos Advogados talvez seja chamada a indicar um representante. Mais difícil será para a CNBB. A Academia Brasileira de Letras não teria motivos. Nos meios universitários, quem sabe, se forem encontrados professores isentos, jamais alunos.

Auxiliares da presidente Dilma tentam encontrar parâmetros, mas quais? Ministros certamente estão fora. Melhor aguardar.

Carlos Chagas

NOTAS POLÍTICAS


Ao investir contra os execráveis privilégios dos magistrados, a ministra Eliana Calmon demonstra uma coragem invulgar.

É uma briga extraordinária e desigual, como a de David contra Golias, ou uma história bela e comovente, como o conto de Hans Christian Andersen em que apenas um menino tem coragem de dizer que o rei estava nu, enquanto todos se calam, por temerem o poder do monarca.

É exatamente isso que está acontecendo com a corregedora do Conselho Nacional de Justiça, ministra Eliana Calmon, que não se cala, não se curva, não se amedronta, mesmo submetida a pressões fortíssimas, por estar atacando um dos maiores dogmas do país – os inaceitáveis privilégios dos magistrados, que se consideram uma classe à parte e cultivam um corporativismo que realmente chega a dar náuseas nas pessoas de bem.

Como se sabe, o presidente do Supremo e do Conselho Nacional de Justiça, Cezar Peluso, tenta de todas as maneiras cercear e calar a ministra Eliana Calmon, mas ela segue em frente. E não é nenhuma novidade que a ministra se comporte assim. Desde que foi nomeada para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), Eliana Calmon mantém um comportamento exemplar, tornando-se a única integrante de tribunais superiores a quebrar o corporativismo e denunciar irregularidades cometidas pelos próprios colegas.

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PENAS MAIS RIGOROSAS PARA JUIZES

Eliana Calmon não faz por menos e está defendendo que as penas contra juízes envolvidos em corrupção “têm de mexer no bolso deles”. A seu ver, as penalidades devem incluir multas e a devolução de valores que forem obtidos pelos juízes com a venda de sentenças ou outros atos ilegais.

Calmon defendeu a reformulação das punições para magistrados, após o encerramento da reunião anual da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro, semana passada, em Bento Gonçalves(RS). No seminário, ela afirmou que a Lei Orgânica da Magistratura, que regulamenta as penas contra os juízes, foi elaborada em 1979 e está totalmente defasada em relação à Constituição de 1988.

Atualmente, a pena máxima prevista é a aposentadoria compulsória. “Hoje em dia, aposentadoria não é mais punição”, denunciou a ministra, acrescentando que muitos juízes desonestos não somente continuam recebendo seus vencimentos integrais sem trabalhar, como ainda podem continuar atuando como advogados.

Eliana Calmon aproveitou para criticar a demora do Supremo em preparar o anteprojeto da nova Lei Orgânica da Magistratura, dizendo que é preciso criar “sanções novas, inclusive pecuniárias. Têm de mexer no bolso, como faz a Lei de Improbidade”.

Para ela, as penas contra os magistrados devem ser usadas para repor o que se desviou dos cofres públicos. “Se há um patrimônio incompatível com a renda, com a suspeita de receber um valor ‘x’ em um processo, devolva”, afirmou a corregedora, sobre a venda de sentenças.

E ao comentar a investigação do CNJ sobre a evolução patrimonial de 62 magistrados sob suspeita, ela disse: “Tenho certeza de que nesta semana eu deixei muito desembargador sem dormir direito”.

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POR QUE FÉRIAS EM DOBRO?

Outra denúncia da ministra Eliana Calmon é em relação às férias em dobro dos magistrados, defendendo a redução de 60 para 30 dias no ano, como todos os demais trabalhadores formais do país. Embora ela não tenha mencionado, na verdade os juízes tem muitas regalias no tocante a horário e dias de trabalho. É comum os tribunais enforcarem vésperas de feriados, criando fins de semana prolongados, os juízes pedem licenças médicas, é uma festa.

Imediatamente, a Associação dos Juízes Federais do Brasil) divulgou uma moção de repúdio à corregedora nacional de Justiça, em termos ofensivos, lembrando que a ministra Eliana Calmon, de 67 anos, está defendendo a tese no momento em que está a apenas três anos da aposentadoria compulsória.

“É inacreditável que uma juíza de carreira brilhante, nela ingressando em 1979, como juíza federal, [...], tenha tais ideias, sabendo, de ciência própria, que o cansaço mental do magistrado, sua preocupação diuturna para bem decidir, a falta de recursos materiais para bem desempenhar sua função, exijam um descanso maior, anualmente, para eliminar o cansaço cerebral”, diz a entidade na nota.

“Prestes a se despedir da magistratura, tendo gozado, durante mais trinta anos, de férias anuais de 60 dias, para melhor descansar e poder mais aprender, lendo, estudando, diga que o juiz não necessita de dois meses de férias, por ano”, prossegue a nota, acrescentando:

“Será que a ministra diz isso para agradar a imprensa, falada e escrita? Para agradar o povão? As ideias da nossa colega, hoje no Conselho Nacional de Justiça, na função de Corregedora Nacional de Justiça, merecem a nossa indignação, o nosso repúdio”, completa a nota, assinada pelo presidente em exercício da Associação, juiz Tourinho Neto.

(A bem da verdade, lembre-se que no ano passado o presidente do Supremo, Cezar Peluso, também defendeu a redução das férias, e a proposta foi duramente criticada pelas associações de juízes, que decididamente não aceitam perder os privilégios).

Bem diante de tudo isso, pode-se dizer que, entre os três podres poderes da União, o Judiciário é o mais apodrecido. Se ele realmente funcionasse a contento, os outros dois – Executivo e Legislativo – também atuariam melhor, porque a atual impunidade enfim diminuiria.

Carlos Newton

A CORRUPÇÃO NOS DETRANS. ALGUMA NOVIDADE NISSO?!

De repente, descobriram que há corrupção nos Detrans. Alguém se surpreende com isso?

No Brasil, determinadas verdades são absolutas. Por exemplo, a corrupção no Ministério dos Transportes. No tempo do DNER, era um verdadeiro festival. No governo FHC, mudaram o nome do Departamento, virou DNIT, mas a corrupção não diminuiu, muito pelo contrário.

Outra realidade imutável é a corrupção nos Detrans (Departamentos Estaduais de Trânsito). No Rio de Janeiro, como se fosse novidade haver irregularidades no governo Sergio Cabral, acabam de fazer uma pequeno devassa e descobriram até o envolvimento de deputados do PT. Nos outros Estados, o panorama não é diferente.

Uma operação que investiga um esquema de fraudes em licitações no Detran do Rio Grande do Norte terminou com 14 pessoas presas na semana passada. Segundo o Ministério Público, o esquema contava com a participação do ex-governador Iberê Ferreira e de sua antecessora Wilma de Faria (PSB), que não chegaram a ser presos, mas foram denunciados pelo Ministério Público como integrantes do esquema, que neste caso funcionou entre 2008 e 2010, período em que o Rio Grande do Norte foi governado pelos dois.

Entre os presos, o ex-deputado federal João Faustino (PSDB), atual suplente do senador e presidente do DEM, José Agripino. Faustino é acusado de fazer lobby para um consórcio envolvido no esquema.

Segundo a Promotoria, o esquema terceirizou funções do Detran e, em 2009, culminou na aprovação de uma lei que estabeleceu a inspeção veicular obrigatória, que acabou beneficiando o consórcio Inspar, liderado pelo empresário George Olímpio da Silveira, apontado como chefe do grupo que promoveu as fraudes.

Ainda segundo a Promotoria, o ex-governador Ferreira é suspeito de ter recebido propina do empresário. Já Wilma, ainda de acordo com a Promotoria, ela chegou a mandar a minuta da lei que estabeleceu a inspeção veicular para a apreciação de Silveira, antes mesmo da Assembleia Legislativa ter acesso ao projeto.

Segundo o Ministério Público, o nível de envolvimento do consórcio com o governo era tamanho que os empresários chegaram a elaborar o edital de licitação e até ditaram respostas que o governo deveria dar para os concorrentes derrotados.

Respondam francamente: há alguma novidade nisso?
Ou Detran, DNER, DNIT etc. não foram sempre sinônimo de corrupção?
Carlos Newton

AS PESSOAS DECENTES (E A MINISTRA ELIANA CALMON) QUEREM APENAS, QUE O PODER JUDICIÁRIO SEJA JUSTO.

A ministra Eliana Calmon, corregedora do Conselho Nacional de Justiça, é apenas uma lebre querendo combater o saque que a matilha de lobos permite que se faça ao país. Merece todo o apoio da imprensa, das pessoas de bem e de quem paga imposto nesta aldeia, pois, sendo ela parte do corpo que tenta purgar, representa a ruptura do próprio corporativismo e a opção pela ética.

Acende a esperança de que algo mude neste país, já que os outros casos de nudez que vemos por aí, embora úteis ao país, não passam de bandidos entregando bandidos.

Desde a saída dos militares do poder ocorreram mudanças nos poderes legislativo e executivo; pessoas foram apeadas, mas essa casta permaneceu intocada, mimada com cargos e status pelos chacais dos outros poderes siameses; recebendo uma espécie de “cala-boca”, feita às custas do sangue e da miséria de milhões de brasileiros.

São os únicos homens públicos que podem trabalhar a vida inteira para o crime organizado e, se forem flagrados, serão condenados a cumprir pena em algum paraíso fiscal ou ilha paradisíaca – com o salário garantido pelos otários pagadores de impostos!

Que tal, também, estender essa pena aos policiais corruptos? Como não conseguimos dar igualdade de tratamento aos cidadãos honestos, pelo menos poderíamos dar aos bandidos!

Talvez isso explique a aversão que têm pela palavra aposentadoria, pois, uma vez longe do poder, perderiam todo o paparico, todo o mimo e toda a servidão da CLASSE POLÍTICA e econômica dominante, já que esta NÃO OS ENXERGA COMO PESSOAS, apenas precisa dos cargos que ocupam para ganhar causas e dinheiro. No dia seguinte, seriam abandonados pelos mesmos canalhas que frequentam os seus gabinetes…

Além disso, trabalhando meio expediente, tirando dois meses de férias, gozando licenças a torto e a direito, emendando feriados, rodeados de bajuladores e com o poder de transformar água em pedra, quem precisa de aposentadoria??? Aposentar de quê? Para quê? Seria tédio ou depressão na certa!

Bem avisava Odorico Paraguaçu: os juízes fazem parte daquelas pessoas que usam saia, contra as quais ninguém deve comprar briga; quem o fizer correrá o risco de cair em desgraça ou desonra.

Os outros dois membros que usam saia são o padre e a prostituta. Bela tríade! O que a Ministra Eliana Calmon está tentando fazer é mudar alguma coisa, é tranformar esse trio em dupla.
Helio Fernandes

PAPAI NOEL?!

BOLSONARO, MAIA E O SAMBA-DO-POLITICAMENTE-CORRETO-DOIDO!!!

Ou ainda: Adversários de Bolsonaro parecem achar, sem querer, que ele está certo! Ou ainda: Onde foi que essa gente largou a lógica?

Os adversários do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) continuam a fazer uma espécie de propaganda política gratuita pra ele. Já escrevi um texto a respeito. Num discurso contra os chamados “kits gays” criados pelo Ministério da Educação — de fato, eram puro lixo pedagógico —, Bolsonaro sugeriu que a presidente Dilma pudesse ser homossexual. Ela não é, e todo mundo sabe disso. Leiam o que informa o Estadão Online. Volto depois.
*
O presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), condenou hoje as declarações do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), que questionou a sexualidade da presidente Dilma Rousseff na quinta-feira, 24, em plenário. “Ele não pode extrapolar da forma que ele extrapolou desta vez e mais uma vez”, criticou o petista. Maia avisou que se o processo por quebra de decoro parlamentar contra Bolsonaro chegar às suas mãos será encaminhado para a Corregedoria da Casa. Bolsonaro criou nova polêmica ao falar sobre a inclusão do combate à homofobia nos currículos escolares e acrescentar no discurso que “o kit gay não foi sepultado ainda. Dilma Rousseff, pare de mentir. Se gosta de homossexual, assume. Se o teu negócio é amor com homossexual, assuma. Mas não deixe que essa covardia entre nas escolas de 1º grau”.

Durante almoço-debate promovido pelo Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em São Paulo, Maia defendeu que o homem público tenha “o direito de falar o que pensa, mas cabe sempre passar o bom exemplo”. “Precisamos ter uma atuação afirmativa para termos boas práticas de convivência social. Toda prática de segregação tem que ser banida. E ele extrapolou e tem sido desrespeitoso com as pessoas, e agora com a presidenta Dilma Rousseff”.

Voltei
Estamos diante do que eu chamaria “Paradoxo do Orgulho Gay”. Se Dilma fosse, Bolsonaro não estaria dizendo, então, nenhum absurdo; como ela não é, resta a suposição de que ele, ao fazer tal ilação, tentou degradá-la. Mas os que vêem tal viés na fala do parlamentar são os mesmos que se dizem defensores dos gays, reafirmando justamente a sua condição não-degradante, causa de orgulho. Qual seria a saída para “punir” Bolsonaro?

Crime de calúnia, ele não cometeu. Ser gay não é ilegal e, pois, o deputado não inferiu que a presidente teria cometido um crime. Restaria “injúria” ou “difamação”, mas, nesse caso, o único discurso possível para condenar Bolsonaro é essencialmente hipócrita: “Nós achamos que ser gay não rebaixa ninguém, mas sabemos que Bolsonaro acha que sim! Pedimos, então, que ele seja punido em nome dos seus próprios valores, não em nome dos nossos. Afinal, somos aqueles que consideram que ser gay é motivo de orgulho”.

É o samba-do-politicamente-correto-doido. É provável que a própria presidente Dilma esteja a pensar: “Quanta bobagem!”

PS - Ah, sim: havendo falha lógica no que escrevo, gostaria de ser informado. Apenas me insultar não muda os fatos.
Por Reinaldo Azevedo

JINGLE BELL, ACABOU O PAPEL... DE LENÇOS FACIAIS.


"...na área social, o setor (Saúde)
foi o que mais perdeu na comparação com os demais."


Na Saúde, gastos em queda (o que não é novidade para quem acompanha o imbroglio que nos representa em Brasília

http://oglobo.globo.com/pais/na-area-da-saude-gastos-estao-em-queda-3336782.

Mas, em compensação ... o Senado gastou R$ 48,9 mil em luminárias, um dinheiro que poderia ser muito mais bem aproveitado se não estivéssemos acostumados a aceitar tanta mentira, tanta hipocrisia, tanta tapeação, tanta falta de caráter.

Enquanto isso, ... a Câmara dos Deputados comprou de 42 novos Tablet’s, ao custo total de R$ 78,7 mil, com tela de 9,7 polegadas de LED, com Wi-Fi e 3G. Calma, tem mais! Compraram também 50 pen-drives, no valor de quase R$ 1,5 mil . Não acabou ainda, não: a casa-da-mãe-joana - o conhecido puteiro nacional que se chama Congresso - ainda reservou R$ 5,2 mil para fornecer de refeições em restaurante ou churrascaria para um desses eventos não muito eventuais. Será que estarão tão presentes quanto costumam estar em seus únicos tres dias de 'trabalho'? Ou só comparecerão na hora do almoço para tirar fotos para os jornais, se divertir E RIR DA NOSSA CARA?
<>
Êpa! Peraí que ainda não acabou.
Veja a utilidade do NOSSO dinheiro: o STF gastou R$ 250 na aquisição de 100 caixas de lenços faciais de folha dupla. Fora R$ 1,8 mil para a compra de os 90 protetores para os seus pés (de Cinderela?)

Ora! Já sabemos o que dirão: esse dinheiro não era destinado à Saúde, mas a 'coisinhas' "extras" (ou extraordinárias?). Ou sabe-se lá qual será o termo usado pelas quengas de Brasília que quiserem justificar o injustificável.

Quem quiser ver seu dinheiro indo para o ralo, basta acompanhar o Contas Abertas

casa da mãe joana

A EMPULHAÇÃO DE CELSO MING

Muito longe de ter resolvido a crise de 1929, o New Deal, de inspiração keynesiana, a prolongou, tornou mais cruel o sofrimento dos cidadãos e contribuiu em grande medida para a eclosão da 2ª Guerra Mundial.

Em sua coluna no Estadão do dia 13 de novembro de 2011, o jornalista Celso Ming perfila tamanho rol de sandices no artigo “Apertar ou desapertar” que quase me vejo sem saber por onde começar a desmascará-las.

Como é que jornalistas feitos e famosos entregam-se à sabujice ideológica em detrimento do dever de dizer a verdade é uma daquelas perguntas dignas de serem feitas a um bom psiquiatra – ou a um bom detetive.

Em todo caso, se prosperam, não é por outro motivo que não um confortável senso de segurança, dada a ausência de perigo à exposição pública, por falta de quem em meio à multidão lhe aponte o dedo e diga em claro tom: - falastrão! Impostor! Falsário!

Todavia, os tempos estão mudando: embora a diferença brutal de leitores entre os figurões da grande mídia tradicional e articulistas voluntários como este que por ora se vos apresenta, pode-se dizer que algum efeito benéfico já se constata. Um viva à liberdade de expressão!

Assim ele começa :

“Por todos os cantos da Europa repete-se uma pergunta intrigante: se os programas de austeridade e de sacrifícios afundam ainda mais as economias nacionais na recessão, no desemprego e na queda de arrecadação, por que, então, insistir nessa receita idiota que, além de piorar as coisas, tende a provocar graves distúrbios políticos?”

Duvido que tal pergunta esteja de fato sendo proposta nestes exatos termos por todos os cantos da Europa. Parece-me mais tratar-se de questão levantada pelo próprio autor, que assim age estrategicamente para parecer isento. Ademais, seria cedo demais para as pessoas começarem a duvidar da eficácia de medidas de contenção cuja implementação mal teve início. Vamos adiante:

Questão subsequente: por que, em vez desses insuportáveis programas de arrocho e de desestabilização, não aproveitar a velha e bem-sucedida recomendação do maior economista do século 20, John Maynard Keynes, e incentivar despesas públicas que criem renda e impulsionem o consumo, a produção e o emprego?

Essa última foi uma política anticíclica vitoriosa no New Deal acionado pelo então presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, que, a rigor, tirou a economia americana da Grande Depressão. E foi vitoriosa depois na Europa destruída pela 2.ª Guerra, quando os Estados Unidos providenciaram o Plano Marshall, que financiou a reconstrução e a retomada da atividade econômica no continente.

O autor pode se enganar a respeito da (d)eficiência do keynesianismo - confiro-lhe tal direito, mesmo tendo em conta que sua idade deveria lhe dotar de mais juízo. Não lhe estendo o benefício, porém, por vender peixe podre aos leitores, mediante o uso da mentira e da desfaçatez: como um experiente jornalista de economia fala uma monstruosidade dessas e omite do público o fato de que a moeda fiduciária de curso forçado, o sistema de bancos centrais e de reservas fracionárias, as políticas protecionistas e o welfare state constituem concepções rigorosamente de Keynes e da sociedade dos socialistas fabianos da qual ele fazia parte?

Só para ficar bem claro, uma das mentiras mais difundidas pela propaganda esquerdista por meio da mídia e dos livros escolares e acadêmicos é o de que o New Deal solucionou o problema da depressão de 1929. Coisa nenhuma! Roosevelt criou um sem-número de agências reguladoras que imobilizaram a economia americana, estabelecendo cotas de participação das empresas no mercado, tabelando preços ou criando preços mínimos e subsídios concedidos mediante extorsão eleitoreira para que empresas e fazendeiros, acreditem se puderem, não(!) produzissem. Além disso, praticou forte protecionismo, tendo imposto cotas de importação, barreiras tarifárias e quarentenas, o que criou enormes dificuldades para as balanças comerciais da Europa e do resto do mundo, inclusive do Brasil. Muito longe de ter resolvido a crise de 1929, o New Deal, de inspiração keynesiana, a prolongou, tornou mais cruel o sofrimento dos cidadãos e contribuiu em grande medida para a eclosão da 2ª Guerra Mundial.

Como dizem os italianos, “andiamo”:


Ao contrário do que diz muita gente que assimilou mal os ensinamentos de Keynes, esses programas não consistiam em expandir permanentemente despesas correntes dos governos, mas, sim, em estimular grandes investimentos, geralmente em obras de infraestrutura, que se encarregassem de gerar encomendas e de mobilizar capacidades ociosas, ou seja, de empregar mão de obra parada para criar renda e ajudar a colocar em marcha uma economia estagnada pela crise. Quando terminavam, esses projetos não eram retomados. Eram investimentos tipo once for all, como dizem os ingleses.

Como fã de carteirinha, Ming defende seu ídolo apresentando-o como um “incompreendido” e destaca que sua receita é de dose única, apenas o suficiente para “estimular grandes investimentos, geralmente em obras de infraestrutura”. Porém, como houve em seu texto de se fazer de bobo perante todo um histórico recorrente de expansões monetárias sem lastro protagonizadas pelos perdulários governos europeus, bem como à concessão estelionatária de créditos sem reservas pelos bancos com estes mancomunados?

O socialista da terceira via, pelo visto, desconhece a diferença entre “produzir” empregos e “gastar” empregos. O problema de toda cabeça contaminada pelo fungo do Iddiotismum marxistae tem sido justamente este, o que seja, imaginar que o julgamento de conveniência e oportunidade que os políticos fazem sobre tais inversões é melhor do que o dos particulares.

Ledo engano: empresários investem em seus negócios, ampliando-os e gerando novas frentes de trabalho, isto é, “produzindo” empregos, sendo que todas as suas ações sujeitam-se ao critério dos consumidores, estes sim os que decidem em última instância sobre o que é mais urgente e necessário produzir.

Os políticos, a revés, não dependem de consumidores, vez que os recursos com que se financiam são tomados à força por meio dos tributos, motivo pelo qual suas obras - que “gastam” empregos – não são decididas com a finalidade de obtenção de lucros, mas de votos, daí preferirem os empreendimentos mais ostentativos e supérfluos: aí estão o trem-bala e as obras para a Copa e para a Olimpíada, como exemplos cabais.

O keynesianismo é o ópio dos órfãos de Karl Marx: como uma verdadeira droga, a política fabiana de estímulo ao consumo provê uma sensação temporária de bonança e prosperidade, dado que se vê em todos os lugares rostos felizes comprando casas, carros e eletrodomésticos ou viajando a passeio. Todavia, quando os recursos acabam e a dívida generalizada e crescente exige sua satisfação, a falta de investimentos causada pela rapinagem da poupança requer a necessidade de mais injeções do papel pintado, daquele que os governos chamam de moeda e nos impõem o uso sob pena de prisão, mas que no entanto, provocam períodos de êxtase cada vez mais breves e depressões progressivamente mais profundas.

Nos últimos parágrafos, por fim, o periodista reconhece que não há mais espaço para que o plano infalível do britânico seja repetido, ao que apresenta uma possível saída: “Tudo indica que as coisas têm mesmo de começar com emissões de moeda pelo BCE para recomprar títulos públicos hoje rejeitados.”

Como assim? Mais expansão monetária? Será que Ming, por meio de tão infeliz afirmação, percebeu que tornou a recomendar Keynes em ato contínuo ao de tê-lo descartado? Será que desconhece que a Casa da Moeda é a incubadeira do dragão, e este, por sua vez, é o fiscal da Receita Federal, vestido à paisana?

Não há nada na economia de um país que divirja da de um lar, a não ser as proporções. Ludwig von Mises tinha a dona-de-casa como o modelo de economista por excelência. Ora, se uma família em crise precisa ajustar suas contas gastando menos dinheiro do que produz, porque alguém haveria de propor para uma nação o aumento do consumo e do endividamento? A resposta pode bem estar no estilo de vida pessoal que Lord John Maynard Keynes adotava, de modo que o horizonte de sua visão de futuro não lhe distasse mais que alguns anos, o que lhe permitiria dizer: “dane-se o mundo que não me chamo Raimundo”.

Para que não haja confusões conceituais, defendo que a crise europeia – assim como o Brasil, cujo destino seguirá o mesmo caminho se nada for feito – depende sim de austeridade fiscal dos governos, mas também da extinção do papel-moeda de curso forçado sem lastro, dos bancos centrais e do sistema bancário de reservas fracionárias; do alívio da carga tributária e da intervenção estatal sobre a atividade produtiva, e principalmente, do fim do estado previdenciário que gasta com empregos desnecessários e sustenta gordas aposentadorias e benefícios sem riqueza suficiente para mantê-los.

Uma luz no fim do túnel – luz não, um lampejo ou uma faísca - ouvi de um discurso recente da Primeira-Ministra Angela Merkel, no sentido de que as futuras gerações não podem ser sacrificadas por governos irresponsáveis e pródigos. Como diz o ditado, “a fome ensina a pescar...”.

Por fim, termino com uma recomendação ao Sr jornalista Celso Ming: - vá criar vergonha na cara!

PS: Para quem quiser conhecer um excelente trabalho sobre a vida e a obra de John Maynard Keynes, recomendo o excelente artigo “A teoria econômica de Lord Keynes e a ideologia triunfante do nosso tempo”.

Klauber Cristofen Pires, 28 Novembro 2011
O Estado de São Paulo

O MASSACRE DE SEQUESTRADOS PELAS FARC E A INÉPCIA DE SANTOS

Internacional - América Latina

O comunismo continua matando na América Latina.


Nota da tradutora:

O fato a que o autor se refere foi um massacre ocorrido neste sábado (26.11), em que as FARC fuzilaram três policiais e um sargento do Exército seqüestrados há 13 e 14 anos respectivamente, mandando-os deitar no chão e disparando contra suas cabeças. Um deles foi fuzilado pelas costas tentando fugir. As quatro vítimas levaram quase todos esses anos acorrentados em árvores, e no momento do covarde assassinato estavam acorrentados, pois encontrou-se junto aos corpos as correntes que os prendiam às árvores. O seqüestrado mais antigo em cativeiro, o sargento do Exército José Libio Martínez, completaria 14 anos de cativeiro em 21 de dezembro, e sequer chegou a conhecer seu único filho que nasceu depois do seqüestro.

No vídeo, matéria com o filho de José Libio Martínez.



Em reiteradas ocasiões especificamos que para ganhar a guerra contra o narcoterror comunista que assedia a Colômbia, é necessário conhecer o Plano Estratégico das FARC e, ao mesmo tempo, com infatigável trabalho dos soldados e policiais, fazer face com ações integrais nos campos político, econômico, social, diplomático e de justiça, tanto em nível nacional como internacional.

Em contraste, a soberba, a auto-suficiência e o egocentrismo de quem se imagina similar a Churchill como estadista e superior a Mac Arthur como estrategista militar, conduziram o presidente Santos a anunciar seu eterno desejo de poder, vanglória e culto à sua personalidade. Não importa o caos que há na Colômbia. Importam seus desejos “pastranistas” de figuração dentro e fora do país.

É tal o desconhecimento do governo e dos sucessivos ministros de relações internacionais em seu conjunto acerca do conteúdo estrutural do Plano Estratégico das FARC, que desde há mais de uma década as FARC têm posto como objeto mercantil a vida dos seqüestrados, para que os cúmplices do Foro de São Paulo e os mal chamados “colombianos pela paz” legitimem o grupo terrorista. E por desconhecer a intenção estratégica e objetivo das FARC, sucedem episódios lamentáveis como o de hoje [1] que, diga-se de passagem, não é a primeira vez que ocorre. E por desgraça poderá não ser a última, ao rítimo da ignorância e indiferença político-estratégica dos altos funcionários da administração Santos.

Com contadas e esporádicas ações individuais de algum cônsul, nenhum dos sucessivos governos desde 1982 até esta data, tiveram a intenção estratégica para desarticular ou opor-se à diplomacia paralela das FARC. Parece que ocupar uma embaixada ou um consulado colombiano no exterior equivale a estar no lugar ideal para viver a glória dourada do exílio diplomático de costas para a realidade do narco-terrorismo comunista que padecemos, os que pagamos os impostos para sustentar essas elites intocáveis do outro lado das fronteiras.

Sem que, ao que parece, estes personagens sui generis da política colombiana no exterior se inteirem do que acontece a seu lado, enquanto as FARC e seus alcoviteiros dão conferências nas universidades, têm contatos nos meios de comunicação, participam em foros políticos, distribuem propaganda e projetam a imagem de que são um grupo armado com supostas intenções políticas.

Ao mesmo tempo, sua porta-voz, chamada por eles de “Teodora de Bolívar”, promove a sinistra proposta de fazer um intercâmbio humanitário, enfocado em meio de obscuros artifícios para dar status de beligerância, embaixadas e apoio aberto às FARC por parte dos governos comunistas, na etapa final do ataque totalitarista contra a Colômbia.

É inconcebível, e que sendo do conhecimento de todos que os seqüestrados são a jóia da coroa desse perverso estratagema, a chancelaria e seus funcionários diplomáticos creditados no exterior com empolados títulos, ribombantes cargos e imerecidos salários, não tenham feito nada ou, em sua falta, fizeram muito pouco para que as cortes internacionais julguem Rafael Correa, Hugo Chávez, Daniel Ortega, a ditadura cubana e os demais delinqüentes de colarinho branco que aparecem comprometidos com as FARC nos computadores de Raúl Reyes.

É inaceitável que todos esses brilhantes funcionários que nos representam no exterior, não tenham feito campanhas agressivas para que os governos democráticos, as organizações internacionais, as organizações não-governamentais, os intelectuais, as universidades e os meios de comunicação qualifiquem as FARC e seus padrinhos do Partido Comunista como terroristas. E em conseqüência, para que os persigam e impeçam-lhes, por exemplo, da vagabundagem que têm na Suécia com ANNCOL e outras organizações afins.

Tampouco se entende porque durante o governo Uribe os computadores de Reyes tiveram um manejo midiático excelente e um péssimo manejo jurídico, pois não foram levados às cortes internacionais. Para rematar, uma das salas da questionada Corte Suprema de Justiça proferiu a folclórica e descabida sentença de invalidar estas provas em processos contra os cúmplices das FARC, quando todo mundo sabia, ou pelos menos se a inteligência não lhes chega para isso, são os mesmos que por coincidência manipulam a dor das vítimas seqüestradas e de modo descarado pretendem legitimar as FARC, por meio de um calculado acordo humanitário.

Muito menos se entende o estranho silêncio do governo Santos e da justiça colombiana com os computadores do Mono Jojoy e Tirofijo apreendidos do primeiro. É óbvio que esses arquivos eletrônicos re-confirmam o que continham nos computadores de Raúl Reyes. E, óbvio, os computadores de Cano reafirmam pela segunda vez todo o anterior.

Porém... Qual é o estranho propósito de calar isto? A custa de que os grotescos e desrespeitosos governantes da Venezuela e Equador não se ofendam? Ou para que a camarada Dilma não perca seu status de mediadora em cada montagem de uma “libertação unilateral”?

Para completar, o presidente Santos chama Chávez de seu “novo melhor amigo”, em que pese que as evidências demonstrem que para a Colômbia este sujeito é o “velho pior inimigo”. Ao mesmo tempo, a chanceler Holguín se preocupa de que Chávez não vocifere nada contra Santos, mas parece que não lhe interessa, ou pelo menos não exterioriza, saber que Chávez tem mentalidade delinqüencial e que nunca renunciou a apoiar as FARC, pois fazem parte de seu projeto bolivariano imerso no socialismo do século XXI, e que continuam na Venezuela com escritórios e acampamentos na fronteira bi-nacional dentro do território venezuelano.

Em contraste, e sem fazer grandes coisas para defender a soberania nacional e evitar uma guerra posterior, pois para lá vai o país se não se submete Chávez e Correa à justiça internacional, a chanceler Holguín anda como agente de viagem pelo mundo fazendo ridicularias pagas pelo erário público, tais como alicerçar a paz entre israelenses e palestinos ou fazendo visitas protocolares à rainha da Inglaterra.

Presidente Santos, chanceler Holguín, magistrados das altas cortes, senadores da República, senhora Promotora Geral, meios de comunicação, universidades, o acontecido hoje com o massacre dos policiais e militares seqüestrados, é de suma gravidade e põe em evidência a mediocridade com que tem-se manejado o problema da guerra contra o narcoterror nos campos político e diplomático.

A Colômbia não espera reações insípidas nem frases de efeito, como por exemplo, o indignado reclamo do novato ministro Pinzón, cujas sentidas palavras contrastavam com seus gestos e semblante. A Colômbia necessita de ações judiciais fortes contra os cúmplices das FARC. Além disso, não mais palhaçadas e operas bufa em torno das libertações unilaterais calculadas, em consonância com os duvidosos interesse dos mal chamados “colombianos pela paz”.

E, claro, que a Chanceler suspenda o bate-pernas pelo mundo em busca de protagonismo midiático para Santos, e melhor: que se dedique a resolver primeiro os problemas nacionais, com ênfase em buscar a pressão internacional de condenação e obrigação para que as FARC libertem os seqüestrados sem nenhuma contra-partida, nem compromissos anti-patrióticos de regressar às mesas de conversação.

As FARC constituem um grupo armado composto por terroristas, narcotraficantes, sicários, ladrões, violadores de menores, extorsionistas e bandidos que só representam os interesses do Partido Comunista Colombiano, agrupamento que já está na hora de ser julgado e condenado penalmente por seu conchavo com o terrorismo e, ademais, obrigado a compensar todas as vítimas das atrocidades de seus co-partidários armados.

Escrito por Cel. Luis Alberto Villamarín Pulido, 28 Novembro 2011
Tradução: Graça Salgueiro

UMA ÉPOCA REVOLUCIONÁRIA

A reportagem da revista Época não passa, em última instância, de um grande desfile dos mitos e mentiras que, ao longo dos anos, foram meticulosamente construídos pela esquerda.

A revista Época dessa semana publicou duas matérias – "Os Arquivos Secretos da Marinha" e "Os Infiltrados da Ditadura" – sobre o regime militar. O objeto das matérias é um conjunto de documentos microfilmados do Centro de Informações da Marinha (Cenimar) que, de acordo com a revista, "revelam o submundo da repressão às organizações de esquerda durante a ditadura militar". O propósito da matéria, pode-se pensar, é o de expor a realidade do combate aos grupos terroristas de esquerda, que atuavam no Brasil desde o início da década de 1960; entretanto, essa esperança ingênua é deliberada e meticulosamente desconstruída em doze páginas de mentiras ruminadas e propaganda pró-esquerda. Abaixo, reproduzo alguns dos trechos mais enviesados da reportagem.

Reveladores, os papéis microfilmados divulgados por ÉPOCA antecipam alguns dos debates mais importantes previstos para a Comissão da Verdade, cuja lei de criação foi sancionada recentemente pela presidente Dilma Rousseff. Aprovada pelo Congresso, a comissão foi criada com o objetivo de esclarecer os abusos contra os direitos humanos cometidos, principalmente, durante a ditadura militar. Se investigar a fundo o que se passou nas entranhas do aparato repressivo, chegará à participação de militantes de esquerda nas ações que levaram à prisão, à morte e ao desaparecimento de antigos companheiros.

Os elementos do raciocínio que compõe o trecho acima são claros: 1) a comissão vai investigar abusos contra os direitos humanos; 2) tais abusos foram cometidos, em grande parte, durante o regime militar; 3) tais abusos, igualmente, foram cometidos exclusivamente pelo regime militar; 4) apenas os militantes de esquerda que colaboraram com o regime é que cometeram abusos contra os direitos humanos. Esses mesmos militantes, entretanto, não podem ser responsabilizados por quaisquer dos crimes contra os direitos humanos, pois, como afirma a própria reportagem, "foram recrutados pelos serviços secretos entre os esquerdistas, por pressão ou tortura." Trocando em miúdos: todo e qualquer crime potencial ou efetivamente danoso aos direitos humanos foi cometido exclusivamente pela ditadura militar.

Para compreender bem o confronto sangrento entre as Forças Armadas e as organizações de inspiração comunista, é necessário lembrar o contexto da época. O mundo vivia a Guerra Fria, período de polarização ideológica em que Estados Unidos e União Soviética disputavam o controle de regiões inteiras do planeta. O Brasil importou o conflito internacional. O governo militar tinha o apoio dos Estados Unidos, e parte da oposição aderiu aos regimes comunistas, com forte influência de Cuba e China. O PCB se dividiu em dezenas de siglas adotadas por grupos radicais que adotaram a luta armada como instrumento para a derrubada dos militares. O PCB defendia a via pacífica para a chegada ao poder. Nem assim escapou da perseguição do aparato repressivo e muitos de seus seguidores foram mortos e desapareceram com a participação direta da comunidade de informações.

O PCB (Partido Comunista Brasileiro), fundado em 1922, faz parte atualmente da base aliada do governo do PT. Recentemente, esse partido publicou nota oficial lamentando a morte do narcoterrorista colombiano Alfonso Cano, líder das FARC, morto recentemente em uma incursão do exército da Colômbia. Em um documento oficial do PCB sobre sua estratégia de ação, lê-se: "A luta pela hegemonia das ideias socialistas e comunistas compreende a utilização de todas as formas disponíveis e todos os espaços políticos aos quais tenhamos acesso para difundir e desenvolver as ideias políticas socialistas e comunistas e para promover a denúncia contumaz e radical do capitalismo." Durante o regime militar, o PCB fez jus à "utilização de todas as formas disponíveis" e serviu de manjedoura para grupos guerrilheiros cujas práticas envolviam assalto, seqüestro, tortura e assassinato – inclusive de seus próprios membros, sobretudo aqueles suspeitos de traição.

O Brasil não importou a Guerra Fria para o território nacional. Foi a ação dos grupos subversivos no País – que contavam com amplo apoio financeiro, logístico e de treinamento da União Soviética desde o governo Vargas – que não apenas ensejou a Revolução de 1964, como também a atuação constante dos serviços de segurança. Ao contrário do que afirma a reportagem, os terroristas não "adotaram a luta armada como instrumento para a derrubada dos militares": seu objetivo era a instauração de uma ditadura comunista no Brasil aos moldes do que se viu na União Soviética, em Cuba e na China, onde os governos se converteram em um gigantesco e horrendo moedor de carne humana. O foco não era derrubar os militares, mas instaurar um regime totalitário marxista.

Mais adiante, a reportagem a morte do estudante Edson Luiz, ocorrida em março de 1968, "foi um dos fatos mais marcantes daquele período, que culminou com o recrudescimento da repressão pelo regime militar e a implantação do Ato Institucional Número 5 (AI-5) no final de 1968". Mentira das mais desonestas! Antes da instauração do AI-5, foram cometidos 19 assassinatos por terroristas comunistas. Fora as vidas que foram tiradas, assaltos e seqüestros eram promovidos com freqüência. A instauração do AI-5 constituiu-se, portanto, em uma reação às atividades criminosas dos militantes de esquerda – ao contrário do que prega a esquerda, que justifica a ação armada como uma reação legítima ao endurecimento do regime.

Os papéis microfilmados constituem um valioso acervo para a compreensão dos métodos empregados pelos órgãos de repressão. Por razões óbvias, nos registros não constam as práticas mais hediondas, como tortura, prisões ilegais, assassinatos ou desaparecimento de pessoas. Mas eles têm o mérito de expor personagens e mostrar o roteiro das perseguições aos inimigos do regime.

Esse trecho em particular mostra, de maneira bastante ilustrativa, a negação hegeliana do princípio da não-contradição que reside no seio do pensamento revolucionário. Acompanhem: os documentos detalham os métodos que foram utilizados pelas forças de segurança; esses documentos não trazem nenhuma informação quanto às "práticas mais hediondas" que, propagandeia-se, foram uma verdadeira política de Estado do regime militar; nesse caso, a prova de que essas práticas existiram é, justamente, a ausência de quaisquer provas!

Além disso, enquanto os militares cometeram "assassinatos", os militantes de esquerda cometeram "execuções" e "justiçamentos". A palavra "execução" inspira uma morte limpa, rápida e, em certo sentido, misericordiosa, como um tiro na nuca; a palavra "justiçamento", por sua vez, evoca praticamente a manifestação da infalível Justiça Divina. O recurso neurolingüístico embutido na utilização desses termos é claro: conferir legitimidade e superioridade moral, de maneira sub-reptícia, às mortes provocadas pela esquerda. Poderia o bárbaro assassinato do tenente Alberto Mendes Jr., cuja cabeça foi esmigalhada a golpes de coronha de fuzil, poderia ser considerada, sob qualquer aspecto, uma morte limpa, rápida ou misericordiosa?

A reportagem da revista Época não passa, em última instância, de um grande desfile dos mitos e mentiras que, ao longo dos anos, foram meticulosamente construídos pela esquerda. Perpetua-se a ilusão de que aqueles que recorreram ao assassínio, ao roubo e ao seqüestro como forma de promover uma ideologia responsável por dezenas de milhões de mortes ao redor do mundo foram, na verdade, guerreiros impávidos movidos pelo mais puro amor à democracia e à liberdade. Fossem esses "cavaleiros da esperança" bem-sucedidos em sua luta, estaríamos hoje vivendo em um grande cemitério de mortos-vivos, todos reduzidos a engrenagens humanas de um Estado totalitário desprovido de Deus e entronado pela Morte.

Felipe Melo, 28 Novembro 2011

POLÊMICA EM TORNO DA ANISTIA PARA TRAFICA NTES

Utilizada por países como a Colômbia, proposta gera debates no Brasil.
Por Fernanda Dias, 28/11/2011

Em recente entrevista publicada na revista “Época”, o ex-chefão do tráfico da Rocinha, Antônio Bonfim Lopes, o Nem, defendeu a anistia como forma de se retirar bandidos da vida criminosa e de reintegrá-los à sociedade. A proposta é polêmica, mas já há quem a defenda e até países que adotam o modelo de perdão para quem quer largar as armas.

“Na Colômbia, eles tiraram do crime milhares de guerrilheiros das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) porque deram anistia e oportunidade para se integrarem à sociedade. Não peço anistia. Quero pagar minha dívida com a sociedade”, disse Nem à publicação.

Pelo menos desde 2004, a Colômbia vem concedendo indultos a guerrilheiros. Em 2007, o país aprovou uma proposta de anistia para recuperar armas mantidas ilegalmente por parte da população e pelos grupos paramilitares, como as Farc. Meses depois, o governo brasileiro divulgou uma nota em que destacava as manifestações do executivo colombiano no sentido de conceder anistia a guerrilheiros presos em troca da libertação dos sequestrados. Na ocasião, a ex-senadora colombiana Ingrid Betancourt ainda estava sob poder do bando.

O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que presidiu a CPI das Milícias e recentemente deixou o Brasil a convite da Anistia Internacional após receber ameaças de morte, se diz favorável ao projeto de anistia desde que ele seja bem elaborado e válido apenas para quem não tenha condenação:

“Hoje um preso custa R$ 1.500 por mês para o governo. A anistia tem sido uma solução bem sucedida em alguns lugares até porque é mais barato pensar nesta alternativa do que na privação da liberdade. Mas é preciso que seja feita uma proposta bem articulada entre judiciário e executivo”, afirma ele, lembrando que desde o final da década de 90 se debate alternativas ao atual sistema prisional brasileiro.

Outro defensor de um programa de anistia para traficantes é o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que em algumas entrevistas já expressou seu apoio à ideia. O coordenador do AfroReggae, José Júnior, também levanta constantemente essa bandeira e inclusive já produziu dois episódios do programa “Conexões Urbanas” sobre o tema. Um de seus argumentos é que é grande o número de jovens que querem largar o tráfico, mas precisam do estímulo de um instrumento jurídico.

A questão, no entanto, não é vista com bons olhos pelo governo federal. O ex-secretário Nacional de Justiça Pedro Abramovay irritou a presidência ao defender o fim da prisão para pequenos traficantes. Com isso, se tornou a primeira baixa importante da era Dilma. Em entrevista ao jornal “O Globo”, Abramovay disse que o governo deveria enviar ao Congresso um projeto que respalda o uso de penas alternativas para quem pode ser classificado entre usuário e traficante e é réu primário. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, logo descartou que o governo estivesse analisando algo do tipo e chegou a dizer que a proposta era oposta, com endurecimento da pena para quem participasse de organizações criminosas.

De fato, há mais de uma dezena de projetos de leis criados com propostas que vão do aumento da pena por tráfico, que passaria de 5 para 15 anos, à determinação do cumprimento da sentença integralmente em regime fechado.

O doutor em Ciências Sociais e professor do Instituto Universitário de Pesquisa Social do Rio de Janeiro (Iuperj) Rogério Ferreira de Souza faz coro pela emergência de um novo sistema prisional, mas é cauteloso na comparação entre o crime organizado no Brasil e as Farc. Ele explica que o soldado das Farc tem uma motivação e um discurso diferente dos traficantes de drogas no Brasil.

Segundo o especialista, no caso da Colômbia, os guerrilheiros são na sua maioria camponeses pobres ou moradores de áreas empobrecidas da cidade que buscam na organização uma vida melhor. Para o professor, à medida que o governo colombiano promova mudanças sociais, políticas e econômicas o próprio sentido da luta guerrilheira vai perdendo a sua legitimidade. Já no caso do Brasil, ele avalia que o processo é bem diferente, pois a ideologia que acompanha os traficantes é a do consumo e da busca pelo poder na sociedade:

“A perspectiva não é revolucionária e de mudança social. É uma perspectiva de ganhos materiais e de uma vida de prazer imediato. Os traficantes não veem em suas atitudes criminais uma busca de um país melhor e nem de uma sociedade mais justa. E, nesse sentido, a incorporação desses indivíduos na sociedade é um caminho mais longo e estrutural”.

Souza ressalta ainda que a anistia a traficantes delatores produz muito mais resultado na ação do estado no combate ao crime organizado e à corrupção de policiais: “É preciso muito mais. É preciso transformar o sistema prisional em um modelo em que trabalho remunerado e educação sejam oferecidos. É preciso diferenciar o grande traficante daqueles que atuam no tráfico como meio de sustento. É preciso oferecer oportunidade para os jovens pobres das cidades brasileiras. Enfim, é preciso fomentar um conjunto de valores e perspectivas de vida para todos os cidadãos”.

OS INFILTRADOS DA DITADURA

Há 40 anos eles guardam segredos. Eles fingiram ser militantes de esquerda. Agora, os documentos do Cenimar revelam quem eram os informantes da ditadura militar
LEONEL ROCHA

As organizações de esquerda passavam por grandes dificuldades no segundo semestre de 1969. Com a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5) no final do ano anterior, o governo militar ampliou os instrumentos legais de perseguição às organizações que combatiam a ditadura. As prisões de militantes levavam os grupos armados a tentar recrutar mais gente. Em outubro de 1969, um homem ofereceu serviços de bombeiro hidráulico na Administradora Bolívar, uma imobiliária de Copacabana. Disse chamar-se Luciano e conseguiu trabalho com a responsável pela empresa, Maria Nazareth Cunha da Rocha. Bom de conversa, falava de política enquanto fazia os consertos nos encanamentos. Nazareth gostou do sujeito. Mais ainda quando ele disse que estivera preso por ter participado de atividades contra o golpe militar.

Poucos dias depois, em tom confidencial, Nazareth perguntou se Luciano gostaria de fazer parte de uma organização de luta armada. A imobiliária Bolívar era, na verdade, uma espécie de condomínio de várias organizações da luta armada. Reunia a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e a Frente de Libertação Nacional (FLN). No topo, de acordo com Nazareth, estava Carlos Marighella, líder máximo da Ação Libertadora Nacional (ALN), que seria morto em São Paulo poucos dias depois, em novembro de 1969. Ela convidou Luciano a integrar um grupo de homens “dispostos a tudo”, para realizar operações de assalto e sabotagem. Sem titubear, Luciano respondeu que sim. Militante experiente, na faixa de 40 anos de idade, Maria Nazareth não sabia, ao fazer o convite, que era enganada. Luciano, o homem que se apresentou como bombeiro hidráulico, era um agente do Centro de Informações da Marinha, o Cenimar.

Na vida real, Luciano se chama Manoel Antonio Mendes Rodrigues. Uma ficha dos arquivos do Cenimar descreve Manoel Antonio, ou “Luciano”, como um agente remunerado que teve conexões com assaltos a banco e contatos em várias organizações da luta armada, como FLN, VPR e MR-8. No serviço secreto da Marinha, consta que ele mantinha contato com vários oficiais.

O Cenimar grampeou os telefones da Administradora Bolívar. Os informes da imobiliária eram transcritos à mão em “folhas de trabalho” do serviço secreto. A infiltração de Luciano nos grupos que operavam na Administradora Bolívar coincide com a prisão de vários militantes. Dos arquivos do Cenimar, é possível inferir que ela foi fundamental para a obtenção de informações que levaram a essas prisões.

Os arquivos secretos da Marinha


Um exemplo: em 26 de novembro de 1969, os espiões descobriram que o militante Salathiel Teixeira Rolim viajara do Rio para São Paulo e Curitiba num carro modelo JK, verde, placas GB Z0 5575. Ex-integrante do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Salathiel entrou para o radical PCBR no fim da década de 1960. Depois de rastreado pelo Cenimar, foi preso em janeiro de 1970. Torturado, deu informações que, na avaliação de antigos aliados, contribuíram para a captura de dirigentes do PCBR. Em 1973, depois de sair da cadeia, Salathiel foi morto por militantes do PCBR, sob a acusação de que traíra o partido na prisão.

A infiltração de Luciano resultou também na espionagem contra um dos mais importantes dirigentes da VPR, Juarez Guimarães de Brito. Juarez entrara em 1968 para o Comando de Libertação Nacional (Colina), organização a que pertenceu a presidente Dilma Rousseff. Em julho de 1969, integrava a VAR-Palmares, organização oriunda da fusão entre Colina e VPR. Foi Juarez quem comandou no Rio de Janeiro o assalto ao cofre de Ana Capriglione, amante do ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros. Trata-se do assalto mais bem-sucedido realizado por um grupo de esquerda durante a ditadura. Ele rendeu US$ 2,6 milhões aos assaltantes.

No dia 13 de abril de 1970, Luciano relatou aos chefes do Cenimar que estivera com Juarez num encontro com Maria Nazareth. Ele telefonou outra vez ao Cenimar no dia 16, para informar que Juarez tinha um encontro no dia 18 com outro militante da VPR, Wellington Moreira Diniz, na Rua Jardim Botânico, numa esquina com a rua que “tem a seta indicando Ipanema” (leia a reprodução abaixo).

(Foto: Arquivo Ag. O Globo)
Manoel Antonio Rodrigues
Bombeiro informante do Cenimar

Infiltrado num esconderijo da esquerda como encanador, ajudou a desmantelar organizações de esquerda como PCBR, MR-8, FLN e VPR

"Sempre fui ligado à esquerda e estive entre os militares que defenderam a posse de João Goulart depois da renúncia de Jânio Quadros. Eu era do Corpo de Bombeiros de Nilópolis. Fui preso e solto algumas vezes. Na última delas, em 1969, fiquei na Ilha das Flores, no Rio, onde fui barbaramente torturado durante dois meses. Fui espancado, enfiaram agulhas embaixo das minhas unhas e arrancaram unhas dos meus pés. Chegaram a ameaçar abrir meu crânio com talhadeira e marreta. Até um punhal enfiaram no meu ânus. Aceitei colaborar porque não suportava mais tanto sofrimento. Passei informações, revelei dados sem muita importância. Mantive contato com Carlos Lamarca e Carlos Marighella. Eu era da FLN quando fui torturado. Algumas vezes fui acusado de ser infiltrado, mas tinha avisado o (Joaquim) Cerveira (chefe dele na FLN) sobre minha situação, e ele me defendeu de ser justiçado."