"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 7 de abril de 2013

IMPACIÊNCIA COM INFLAÇÃO GANHA SÍMBOLO POPULAR, O TOMATE. MAU SINAL PARA O GOVERNO

                               Pisar no freio ou no tomate.


 
O POVO ainda parece feliz feito pinto no lixo e adora Dilma Rousseff, algo alienado que está nos efeitos de uma economia mal parada, ou que mal se move. Mas a inflação persistente tem seu primeiro símbolo mais ou menos popular, o tomate, que está caro para chuchu e se tornou motivo de conversa e chacota nas praças da internet, as ditas "redes sociais".

Não dá, claro, para explicar o preço do tomate pelos desarranjos macroeconômicos. Mas o fruto tornou-se o bode expiatório da alta geral dos preços da comida, com perdão pela dissonância biológica, e de certo cansaço com três anos de inflação rodando em torno de 6%.

Nos últimos 12 meses, o preço de comer em casa subiu quase 14%. Na média geral da economia, os preços subiram 6,3%. O preço dos alimentos não subia tanto assim em 12 meses desde 2008. A inflação da comida também tem sido maior que o aumento dos salários, o que também não ocorria fazia uns cinco anos.

Os aumentos de alguns produtos básicos talvez reforcem o mal-estar do tomate. O preço da comida pesa mais na memória e especialmente no bolso dos mais pobres.

Farinhas e massas ficaram 32% mais caras nos últimos 12 meses; batata e legumes, 69%; o grupo de arroz e feijão, 27%; o óleo, 18%. As carnes estão bem comportadas, abaixo da inflação média, mas aves e ovos subiram 21%.

Claro que nem todos os preços sobem assim. Bens duráveis estão mais baratos, carros e eletroeletrônicos, por exemplo. São importados ou enfrentam concorrência do mercado internacional (e tiveram uma mãozinha da redução de impostos).

O preço dos eletroeletrônicos caiu quase 1% em 12 meses. Serviços, como despesas pessoais, médicos e dentista, encarecem mais de 10%.

Os custos domésticos crescem, os salários vão atrás, a indústria nacional padece da carestia, fica menos competitiva, perde mercado, desanima e segura investimentos. E estamos assim algo encalacrados.

Outro sinal de consumo excessivo é o aumento do deficit externo (deficit em conta-corrente, a diferença do valor de bens e serviços que exportamos e importamos). Neste 2013, o deficit deve passar de 3% do PIB, depois de três anos flutuando em torno de 2,2% do PIB (2007 foi o último ano de uma série rara de anos de superavit).

Para piorar, estamos mais e mais financiando o deficit com dívida externa.

Os economistas do governo e adeptos acham que o preço da comida disparou devido a safras ruins pelo mundo e não tão boas no Brasil. O aumento grande do salário mínimo no ano passado teria colocado lenha na fogueira dos preços de comida e serviços (mais dinheiro, mais consumo, mais oportunidade de repasse de preços para o consumidor), coisa que não vai se repetir daqui por diante até 2014, pelo menos.

O problema é que há mais fogo sob a frigideira da inflação que em 2008. O nível de preços teria subido ainda mais agora não fossem controles artificiais como reduções de impostos, do preço da energia elétrica e do adiamento do reajuste da passagem de ônibus. Além do mais, tais medidas estimulam ainda mais o consumo.

Enfim, o mercado de trabalho está muito mais apertado agora do que em 2008.

07 de abril de 2013
Vinícius Torres Freire - Folha de São Paulo

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