"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O TRÂNSITO BRASILEIRO - UMA GUERRA QUE MATA MAIS DO QUE BALA DE FUZIL

Pense comigo. Qual seria a sua opinião se o nosso país, o querido, animado e pacato Brasil resolvesse entrar em uma guerra nos moldes da Guerra do Vietnã, que gerasse um saldo de mortes de 50 mil mortos? Sinistro, não?

Pois é, o que poucos brasileiros sabem é que em cada dois anos uma nova Guerra do Vietnã é consumada dentro do território de nosso aparentemente pacífico país.
Explico, já que por ano morrem em torno de 25 mil brasileiros em decorrência dos 750 mil acidentes de trânsito que crescem e crescem à revelia das leis que são feitas para serem burladas.

Para quem tem medo de voar, é como se um Boeing lotado caísse a cada dois dias no nosso país. Isso sem contar os outros 400 mil casos anuais de lesões permanentes por conta dessa simplesmente insana e selvagem forma de dirigir do povo brasileiro.


Quem não se lembra do bêbado “risadinha”, que foi pego logo na primeira semana da implantação da hilária Lei Seca. Hilária, visto que após um acidente o cara foi pego completamente embriagado ao volante, de pijama, e gritava descaradamente ao quatro ventos: “bebi, bebi, bebi e bebi” ou “a lei não retarda” risonho como se tirasse um belo sarro da nossa justiça. Pasmem, o “risadinha” ainda tem em mãos a sua carteira de motorista.

Diga-se de passagem, esse mesmo cara foi preso mais duas vezes daquela data para cá, pelo mesmo crime, às vezes agindo de forma não tão animada. Na última delas, bradava que a polícia o “algemou como um marginal”. Pergunto-me, um cara desses, com o potencial deliberado de matar-se, e pior, matar, tem que ser chamado de quê? O fato deprimente e preocupante é que esse caso de prisão é raro – somente quando o estado do condutor é intoleravelmente notório, como o caso do pobre “risadinha” – e a Lei Seca hoje agoniza, graças à “criatividade” do povo brasileiro e às grandes falhas na nossa lei.
O povo tido como um dos mais criativos do mundo – para o bem e também para o mal – já inventou variadas formas de burlar a fiscalização policial e quando pego com a boca na botija, usa-se de um direito tosco de recusar-se a soprar o “bafômetro”. Ou seja, como de praxe e já bastante esperado, a lei caiu em ridículo desuso. Não é a primeira vez! Além disso, o povo está longe de se conscientizar.
Dessa maneira, pessoas, imitando um passado pouco distante, voltaram a perambular confiantes pelas ruas, completamente embriagadas e sem medo que qualquer punição. O tenebroso resultado fica evidenciado nos números supracitados.


Mais uma vez tenho que citar o exemplo europeu. Aqui, os cidadãos, muito mais educados e conscientes em questões de trânsito – basta dirigir aqui e logo notar a cortesia das pessoas –, conquistaram a confiança do governo e lhes é tolerado o equivalente a dois copos de cerveja e ainda assim podem dirigir. Os europeus em sua maioria cumprem a lei e a levam muitíssimo a sério. Caso contrário, é batata.
Foi pego dirigindo com limite de álcool no sangue acima do tolerado, sua carteira é confiscada e um processo é aberto contra o condutor. Além disso, ninguém tem a prerrogativa de se negar a fazer o teste do “bafômetro”.

Desse modo, os acidentes que aqui ocorrem podem ser literalmente chamados de acidente, uma vez que os europeus não são irresponsáveis como uma grande maioria de brasileiros, que simplesmente dão sorte ao azar.
Dirigem bêbados, loucos, achando-se os azes do volante, convictos de serem donos da perícia do saudoso Ayrton Senna, até serem surpreendidos pelo desastre, que mais dia menos dia sempre vem. Quando não desperdiçam suas próprias vidas, acontece o pior, arrancam a vida de um ou dois inocentes que por grande infortúnio estavam no lugar errado e na hora errada.


Além da falta de educação do povo brasileiro, temos que destinar uma outra grande parcela da culpa para o nosso governo, já conhecido pela sua incompetência e descaso – e nesse blog podemos encontrar inúmeros artigos a respeito.
Através do seu órgão “responsável” – se é que podemos defini-lo assim – pela gestão do nosso transito, o DNIT - Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes, o governo peca e muito em cumprir um papel digno, assim expondo de diversas maneiras a nossa população aos maiores perigos. Uso as palavras do político Indio da Costa que bem definem o real papel do DNIT: “buraco na pista, má sinalização, um trabalho que o DNIT devia está fazendo, e não faz, em especial porque está politizado”.
Pois é, o órgão, que é usado pelos nossos políticos – mafiosos – para pagar dívidas de campanha, põe para dentro um monte de porcaria, sem conhecimento técnico algum, apenas porque é apadrinhado de algum manda-chuva ou partido político, e depois quer que tudo funcione às mil maravilhas.
Se a infração da lei já começa na nomeação dos seus dirigentes, como é que se pode esperar que o brasileiro cumpra a lei? Que moral eles têm? Nenhuma, e olhe que conheço casos absurdos do lugar de onde nasci.


Falando em Salvador, aproveito para terminar esse texto lamentando profundamente um fato em especial que ocorreu no último final de semana e que tem muito a ver com tudo o que eu acabei de escrever. Expresso os meus sentimentos à família da jovem Carolina Menezes Cintra Santos, de 28 anos, soteropolitana a morar em São Paulo, advogada competente, e com uma vida cheia de objetivos e sonhos a realizar.

Pois é, senhores e senhoras, seus sonhos foram ceifados pela foice da morte, que montada em um caríssimo Porsche encontrou a pobre moça em um cruzamento errado, na hora errada e no momento errado. A morte, irresponsável, embriagada, e pasmem, a 150km/h, "velocidade estúpida", em uma rua de bairro da capital paulista, saiu do carro e a primeira frase que defensivamente proferiu foi “não bebi, só tomei uma ou duas taças de vinho”.
O falecimento brutal da moça para a morte era só um pequeno detalhe. O fato é que Carolina se foi, mais uma vítima do nosso Vietnã diário, e a morte ficou, e o que às vezes nem mais choca o nosso calejado bom senso, ao sair do hospital pagou fiança de R$ 300 mil e hoje perambula em liberdade pelas ruas de Sampa. Mais duas falhas do nosso inacreditável país, impunidade e favorecimento aos mais abastados, que através de caros advogados podem comprar, fazer e desfazer na lei do Brasil.
Mas fica o alerta, cuidado, a morte está viva e solta, e se depender do governo, maus políticos, DNIT, e etc, eu, você, nossos entes queridos podemos ser as próximas vítimas. Basta pôr o pé na rua.


Assim ficaram os carros envolvidos no acidente de Carolina.

Se quiser assistir o video do "Risadinha" clique




© Carlos Tourinho de Abreu

Nenhum comentário:

Postar um comentário