"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 5 de fevereiro de 2012

A PANELA DE PRESSÃO DE DONA DILMA

Mandatária do país bate suas asas no momento em que a panela de pressão da política dos acertos partidários chega a seu ponto alto de fervura.

Como uma abelha rainha em voo nupcial, a mandatária do país bate suas asas no momento em que a panela de pressão da política dos acertos partidários chega a seu ponto alto de fervura. Estivesse Dona Dilma visitando parceiros comerciais importantes ainda se entenderia, mas uma viagenzinha dessas a Cuba e ao Haiti para estreitar “relações bilaterais” é de um duplo sentido digno de um forró-malícia – ainda mais quando o Planalto adotou o hábito de não revelar os nomes que integram suas comitivas – esta última palavra sem duplo sentido algum.

Dilma Rousseff deixou no colo da ministra-chefe da Casa Civil a demissão de um tal Doutor Elias, alçado pelo padrinho e líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves, ao cargo de diretor-geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs). Elias Fernandes foi acusado de pagar R$ 9,3 milhões por consultorias superfaturadas e chegou a publicar anúncio de três colunas nos principais jornais do país – com dinheiro público, naturalmente – para divulgar que foi um exemplo de correção. Logo em seguida, apresentou sua demissão ao ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra. Aqui cabe uma explicação: os demitidos por Dilma apresentam suas demissões, como se quisessem sair. Enquanto isso, a terra continua rachando nos sertões do Rio Grande do Norte, Alagoas e Bahia. O Nordeste não precisa de consultorias que chovem no molhado.

Nos bancos de escola, aprendemos que a seca é um grande mal que atinge aquela região do país – carente de recursos hídricos mas prolífera em políticos da pior estirpe. O tema se misturava ou se confundia com mitos como Lampião, Luiz Gonzaga, a caatinga, o mandacaru etc. Nossas professoras esqueceram de dizer – por ignorância ou censura prévia – que a seca é uma “indústria” que produz grandes riquezas para uma minoria privilegiada e elege o pior tipo de gente para altos cargos políticos. Gente que jamais vai resolver esse problema por um motivo simples: a seca gera fortunas e votos. Acabaram a Sudam e a Sudene mas não os benefícios que trouxeram às carreiras políticas de famílias inteiras daquelas regiões. Dnocs é a nova marca, uma chancela que permite desmandos e desvios.

Doutor Elias foi pra vala

Cabe lembrar que o ministro Bezerra também está sob fogo cruzado. É acusado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de repassar a merreca de R$ 6,7 milhões para a empresa de um aliado político, além de proteger a família – tio, irmão e filho – em negociatas irregulares. É neste cenário de seca e miséria que surgem as trovoadas: PSB, PMDB e até o PT estão sentindo o calor da fervura. Os peemedebistas – mais precisamente Henrique Alves e seus aliados – se mostram insatisfeitos e falam em paridade. Ou seja, Se o Doutor Elias foi “pra vala” é preciso investigar as denúncias contra figurões intocáveis do Governo, como o queridinho de Dilma, o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel. O PMDB ameaça levá-lo ao Congresso para explicar o inexplicável: como conseguiu faturar R$ 2 milhões em consultorias após deixar a prefeitura de Belo Horizonte. Esse mineirinho é um “come quieto” mesmo…

Obrigado por fumar, Doutor Bezerra

Seca de um lado, chuva do outro. Mas Bezerra fez de tudo para proteger seu estado – que não tem a tradição de enxurradas como o Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina ou Minas Gerais. Segundo o jornal O Estado de Minas, as verbas que ele repassou para Pernambuco são 110 vezes maiores que a destinada aos mineiros. A manchete dizia tudo: “Um mineiro vale R$ 1,46 e um pernambucano vale R$ 160,97 para a Integração Nacional”. Bezerra desconsiderou critérios técnicos para inundar seu curral eleitoral de dinheiro: foram R$ 98 milhões para Pernambuco e R$ 10 milhões para Minas Gerais. Deu no que deu. Para se defender diante de tamanho escândalo, ele adotou a estratégia da argumentação – adotada no filme “Obrigado por Fumar” – de inversão do foco da crítica. Bezerra bradou ao país inteiro que não tivesse preconceito contra Pernambuco – quando, na verdade, ele havia sido preconceituoso contra o país inteiro. Deu certo. Dona Dilma engoliu e a imprensa também. Ficou por isso mesmo.

Quando a expressão “desabamento” está na ordem do dia, a popular Dilma Rousseff visita dois países demolidos – um politicamente e outro naturalmente – e permite a crise que estremece a base que consolida seu Governo. PSB, PMDB e até o PT não querem deixar pedra sobre pedra…

Claudio Carneiro
27/01/2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário