"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



sexta-feira, 15 de junho de 2012

ANOTAÇÕES POLÍTICAS DO JORNALISTA CARLOS CHAGAS


APESAR DE TUDO, CONDENADOS

Já contamos, vale repetir: Sobral Pinto, o maior dos advogados criminalistas do país de todos os tempos, foi contratado para defender um réu acusado de assassinato, numa cidade do interior. Fez a maior de suas performances de júri, como contava a seus alunos. Provou que o acusado não estava na cidade, no dia do crime, e foi aplaudido de pé quando concluiu a defesa. Na hora do veredicto, por unanimidade os jurados votaram pela condenação.

Tomando café num botequim, quando esperava o ônibus para voltar ao Rio, o magistral professor viu os jurados na mesa ao lado. Aproximou-se e soube que eles planejavam inaugurar sua fotografia, na sala de julgamento, em homenagem ao seu brilhantismo. “Mas como então vocês condenaram o réu? – perguntou.

E veio a resposta: “Matar alguém com um tiro bem entre os olhos, só mesmo ele…”
Assim os depoimentos dos governadores Marconi Perillo e Agnelo Queiroz. Ambos foram brilhantes, empolgaram a CPI e saíram aplaudidos. Mas não escapam da condenação, um, por haver vendido a terceiros luxuosa casa onde passou a morar Carlinhos Cachoeira. E outro, ao adquirir por 400 mil reais mansão que valia mais de um milhão…

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DESTRUÍRAM A MEMÓRIA

A um requerimento da Folha de S. Paulo informou o ministério da Defesa, com base no Serviço de Informação ao Cidadão, do Exército, ter sido destruída toda a documentação referente à Guerrilha do Araguaia. Um decreto de 1977, em plena ditadura, autorizava a destruição dos documentos e, mais, dos termos da destruição, ou seja, sobre quem destruiu e porque.

Não deixa de ser um forte obstáculo à Comissão da Verdade, sempre que ela se dirigir às Forças Armadas atrás de subsídios a respeito de práticas lesivas aos direitos humanos. O que espanta é esse tamanho desprezo pela memória nacional, por parte daqueles que imaginavam cumprir seu dever combatendo a subversão. No caso do Araguaia, continuam desaparecidos 60 guerrilheiros que pegaram em armas contra o regime. Foram julgados? Morreram em combate? Onde estão enterrados? Pelo jeito, essas perguntas continuarão sem resposta…
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DESPREZO INACEITÁVEL

Confirma-se que não virão ao Brasil para a reunião do Rio+20 os presidentes dos Estados Unidos, Rússia e China , além dos primeiros-ministros da Alemanha, Inglaterra e Índia. Entre muitas outras ausências, essas pareceriam significativas, indicando o desprezo das nações mais poderosas pelo debate sobre a sustentabilidade do planeta.

Aquecimento global, emissão de carbono, redução de áreas agricultáveis e quanta coisa a mais deixa de merecer a atenção das grandes potências? Não se poderá imaginar que tenham rejeitado os convites por discordância com a política externa da presidente Dilma Rousseff.

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DEMÓSTENES E O VOTO SECRETO

Nem por milagre o Senado aprovará o final do voto secreto nas sessões de votação de pedidos de cassação de senadores antes que seja examinado o processo relativo ao senador Demóstenes Torres. Traduzindo: ninguém saberá quem votou contra e quem votou a favor da permanência do representante de Goiás no exercício de seu mandato.

É nessa situação que Demóstenes joga, imaginando que por amizade, convicção, corporativismo ou espírito de classe a maioria de seus colegas venha a rejeitar sua cassação. Fosse o voto aberto já uma determinação e dificilmente ele escaparia da degola. A pergunta que fica é sobre a influência de fatores externos aos processos preparados pelo Conselho de Ética. Um bem ou um mal?

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