"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



terça-feira, 12 de junho de 2012

O PASSADO QUE SE RECUSA A MORRER

Enquanto uns acumulam capital, eu acumulo conhecimento. É o meu deleite. Qual o valor disso? Do ponto de vista prático deu-me uma profissão, além de me proporcionar um imenso prazer pessoal. Dois luxos certamente, em um país cujo valor pelo conhecimento se pode medir pela qualidade dos nossos governantes.

E para quem gosta de uma visão mais global sobre a história humana, é fácil constatar que nos chamados países do primeiro mundo seja na Idade antiga ou na Idade média a preocupação do saber passou inevitavelmente pela discussão sobre a questão da ética. Na Idade moderna então essa discussão se afunila de uma forma irremediável.


Já no Brasil quando avançamos sobre a nossa história da educação o choque pela falta de aprofundamento nas discussões sobre a ética é algo estarrecedor. Além do que, no sentido menos especifico e mais geral, o que mais aparece e fica claro quando mergulhamos em estudar a história da educação no Brasil é justamente constatarmos a falta de educação.

Seja no Brasil colônia, nos dois reinados do Brasil império, na chamada Primeira República passando pelo Estado Novo até a chegada do período de reabertura política após o período de poder militar a sensação é única: educação nunca foi prioridade como forma de educação e cidadania de um povo. Nunca. É impressionante.
A falta de uma política voltada amplamente para a educação sempre foi a norma em nosso país. Aliás, no Brasil não há diferença entre passado e presente.
Um exemplo? Fiquemos nos três segmentos básicos, saúde, segurança e educação. Depois de limparmos os discursos meramente demagógicos e extrairmos uma ou outra postura mais nobre (do ponto de vista teórico apenas), a pergunta que cabe é: qual a diferença entre as posturas governamentais do Brasil colônia para cá?

Sinceramente é difícil uma resposta positiva. A conclusão é lamentável: o Brasil não passa de um projeto, ou se quiserem do ponto de vista rigorosamente político, não passa de promessas.
Talvez você pense que com minha linha de raciocínio eu seja um pessimista, unilateral e esteja colocando todos apressadamente em um mesmo saco. Pode ser, mas quando refletimos sobre os resultados, aí me desculpe, é difícil outra conclusão, pelo menos do ponto de vista do chamado poder público.

Ora, basta pensarmos que o Brasil talvez seja um dos países que mais coloque no mercado todos os anos advogados. E a instituição do direito tem como principio gerador e norteador o avanço na ética e, no entanto, não é isso que vemos, por exemplo, no campo da política. Aqui, a expertise, o fazer vistas grossas, o encobrir ou silenciar posturas desabonadoras para “ganhar” politicamente mostra ou demonstra de forma insofismável que a preocupação com a educação e a ética é uma postura rigorosamente falsa.

E é essa postura falsa permanente que impede que uma mudança de valores ocorra permanecendo o “mesmo”, entre governante saia governante. Temos um passado que se recusa a morrer, e um presente eterno glorificado em cinismo. Claro, porque a primeira condição que se exigiria para uma mudança de fato no plano ético e educacional de um país, é a autocrítica, coisa que não temos, coisa que nos falta.

Laurence Bittencourt,  Jornalista
12 de junho de 2012

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