"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



domingo, 21 de outubro de 2012

"É SUJO E AO BARRO VOLTARÁ"

 


A mudança no Regimento Interno da Câmara dos Deputados só oficializa uma prática inacreditável da Casa: a “semana de três dias”, pela qual as Excelências, embora recebam pela semana inteira, trabalham, quando o fazem, de terça a quinta. Mas oficializar uma prática nojenta, em vez corrigi-la, é também nojento.

O inconcebível presidente da Câmara, Marco Maia, do PT gaúcho, teve a ousadia de dizer que não há Parlamento no mundo que trabalhe como o nosso. É verdade: não há Parlamento no mundo que trabalhe como o nosso. Trabalha pouco, trabalha mal, trabalha sem olhar os custos – isso é coisa para o caro leitor e para este colunista, que têm de esticar o dinheiro até o fim do mês. E como custa caro!

Inúmeros prédios suntuosos, com grife de Oscar Niemeyer, muito mármore, muito granito, muitos carpetes, assessores que nem cabem nos gabinetes ─ e isso, a propósito, não causa problemas, porque boa parte nem aparece por lá. E mais assessores, ainda, para manter nas bases eleitorais, tudo por nossa conta.

Não devemos esquecer, claro, o sem-número de passagens aéreas à disposição de cada parlamentar, nem os magníficos salários complementares ─ auxílio-paletó, para que as Excelências possam renovar sempre seus guarda-roupas e aparecer bem na TV Câmara, salários extraordinários, ajudas de custo, apartamentos funcionais periodicamente reformados e com nova mobília – coisa fina!

Se os deputados oficializaram a semana curta, é claro que ninguém é de ferro. De que serão? A Bíblia responde: são de barro.
E na pior acepção do termo.

21 de outubro de 2012
PUBLICADO NA COLUNA DE CARLOS BRICKMANN

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