"A verdade será sempre um escândalo". (In Adriano, M. Yourcenar)

"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o soberno estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade."
Alexis de Tocqueville (1805-1859)



quarta-feira, 14 de novembro de 2012

O AMANTE DE MINHA MULHER OU O CASO DE AMOR QUE DERRUBOU O CHEFÃO DA CIA


O furo mais sensacional do New York Times nos últimos dias apareceu não nas páginas de política ou de economia. Surgiu numa coluna que é um consultório sentimental. Um leitor mandou uma carta anônima cujo título era: "O Amante de Minha Mulher".

Nele, o homem enganado pedia conselho. Descobrira que sua mulher estava tendo um caso com um homem que estava fazendo um trabalho vital para o futuro do país – "e não existe exagero aí". Nas vezes em que se viram, disse o anônimo, o homem com quem sua mulher saía sempre o tratou muito bem, um sinal de que não sabia que ele sabia.

Que fazer? Repudiar a mulher? Esperar, como um estoicismo patriótico, o final da missão do grande homem?

Para encurtar: o autor da carta estava se referindo ao general David Petraues, diretor da CIA e a figura mais admirada, em muitos anos, das Forças Armadas americanas. Petraues, nos anos 1990, quando parecia que a hegemonia dos Estados Unidos era para sempre, chegou a ser cotado para concorrer a presidente.

Aos 60 anos, casado, dois filhos adultos, a carreira de Petraues chegou ao fim espetacularmente. Ele renunciou tão logo sua infidelidade se tornou pública, pouco depois da carta publicada no New York Times.

Petraues tinha um caso com a escritora que escreveu um livro sobre ele, a jornalista e escritora Paula Broadwell, 40 anos, dois filhos pequenos com o homem que recorreu ao consultório sentimental do jornal.

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DUAS AMANTES

Manter um caso secreto já é duro. O problema é que Petraues tinha dois, e foi aí que ele se enrolou. Ele se envolveu romanticamente também com uma militar lotada no Departamento de Estado, Jill Kelley, de 37 anos, igualmente casada.

Jill avisou ao FBI que estava recebendo emails ameaçadores de Paula. O FBI invadiu a caixa postal de Paula, e encontrou Petraues. A maior preocupação era com a possibilidade de Paula ter tido acesso a informações confidenciais.

Petraues foi absurdamente incensado pela mídia americana em duas guerras nas quais os Estados Unidos acabaram fracassando espetacularmente, a do Vietnã e a do Iraque. No Iraque, os jornalistas americanos, pela primeira vez, trabalharam acoplados – embedded – às tropas. Foi um caso antológico de promiscuidade.

A queda de Petraues vem se prestando a piadas de toda natureza. "Se o diretor da CIA não consegue manter um caso secreto, quem conseguirá?", zombou um comediante.

Foi também amplamente citado o título do livro escrito por Paula Broadwell: "All in". Era uma alusão ao tudo ou nada do pôquer. Mas passou a ser entendido literalmente, dada a situação. Tudo dentro. De Paula, e de Jill.

Todo império em seu declínio alterna momentos de drama com momentos cômicos, agonia e risos, crispação e gargalhadas. A maior contribuição que Petraues deu a seu país, e ao mundo, talvez tenha sido a comédia amorosa com a qual ele forneceu risos em escala mundial.

14 de novembro de 2012

Paulo Nogueira (Diário do Centro do Mundo)

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